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Temas Contemporâneos em
Negócios Internacionais
APOSTILA: ADMINISTRAÇÃO INTERNACIONAL
PAULA PORTO DE PONTES VALENTIM (MATERIAL DIDÁTICO SEM FINS LUCRATIVOS)
1
Sumário
Prefácio ........................................................................................................... 3
Temas contemporâneos em Negócios Internacionais ........................................ 4
Introdução ....................................................................................................... 4
Empreendedorismo Internacional .................................................................... 6
O papel do empreendedor ..................................................................................... 9
Effectuation ................................................................................................... 10
Teoria Effectuation ........................................................................................ 11
Effectuation e Internacionalização de Empresas ............................................. 16
A Perspectiva de Born Global e Empreendedorismo Internacional................... 19
Um novo tipo de organização internacional .......................................................... 19
Evolução da Perspectiva de Born Global ............................................................... 19
Empreendedorismo Social e Negócios Internacionais ...................................... 24
Born-Digital e Negócios Internacionais ........................................................... 26
ONGs e Negócios Internacionais..................................................................... 28
Bibliografia ................................................................................................... 32
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Prefácio
Estimados alunos e estimadas alunas.
Esta apostila foi feita para fins didáticos, sem fins lucrativos e para ser consultada
na disciplina de Administração Internacional ministrada na UFRJ e que, por ora,
está sendo ministrada pela prof. Ana Carolina Fonseca e por mim, a autora do
presente documento.
O conteúdo aqui apresentado foi estruturado de modo que a leitura possa ser
realizada de maneira fluida, ou seja, não foi utilizado o formato strictu de um
documento designado a publicação acadêmica e nesse sentido, as diversas
referências bibliográficas consultadas para que o conteúdo exposto tenha
fundamentação teórica não estão apresentadas ao longo do texto de maneira integral
nesta versão final da apostila.
Contudo, caso haja interesse do discente em buscar as referências ou aprofundar o
conhecimento em quaisquer temas apresentados, o documento original com toda a
bibliografia pode ser disponibilizado.
Esperamos que apreciem o material. Boa leitura!
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Temas contemporâneos em Negócios Internacionais
Introdução
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novas transações empresariais, como por exemplo, o crescimento de empresas
multinacionais de países emergentes. São empresas que ganharam vantagens
competitivas por terem sido negligenciadas por multinacionais de países
emergentes que mantinham liderança no comércio internacional. Exemplos de
multinacionais brasileiras: Marcopolo, Pandurata, Ambev, Totvs, BRFoods,
Marfrig e Alpargatas.
As chamadas EMNEs (Emergent Market Multinationals) são empresas que
desenvolveram seus próprios produtos, marcas, modelos de negócios, sistemas de
organização e coordenação, sistemas de produção e distribuição e são responsáveis
pelo crescimento de mais de 20% do fluxo internacional de investimentos diretos
(aporte financeiro por parte de países emergentes em outros mercados).
O fato mais interessante é que muitas empresas multinacionais advindas de
países emergentes ingressaram no mercado internacional sem qualquer experiência
pregressa e cresceram internacionalmente de maneira muito intensa e rápida apesar
do déficit de recursos e a falta de um conhecimento específico referente ao mercado
exterior, fato este muito similar ao comportamento de pequenas e médias empresas
(PME’s) que apresentam uma entrada acelerada no mercado internacional e nas
quais a literatura de negócios internacionais chamará de empreendedorismo
internacional. Dentro dessa área de conhecimento, os estudiosos estão buscando
compreender como esse processo de internacionalização ocorre, por que ocorre,
quem são os atores envolvidos, em qual velocidade ocorre e onde ocorre.
O desenvolvimento deste campo teórico é vasto e rico para aqueles que
desejam conhecer mais acerca de internacionalização de empresas pois perpassa
diferentes modelos de negócios (empreendimentos sociais, ONGs e negócios
digitais de diferentes portes), apresenta uma tipologia própria também denominada
Born-Global e atravessa conceitos antes estabelecidos, como por exemplo, através
da teoria effectuation (teoria da efetivação) desenvolvido no início dos anos 2000
por uma pesquisadora indiana chamada Sara Sarasvathy.
Nesse contexto, esta apostila escrita para fins didáticos, trata de alguns
temas contemporâneos em administração internacional e está organizada da
seguinte maneira. Primeiro será apresentado a teoria de Empreendedorismo
Internacional, na sequencia a Teoria Effectuation, em seguida, as Born-Globals.
Também serão apresentadas, de maneira sucinta, três tipos de organizações que
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ganharam destaque de uns anos para cá no contexto internacional:
empreendedorismo social, born-digitals e ONGs.
Empreendedorismo Internacional
6
O surgimento das INV’s pode ser explicado pelas mudanças nas condições
de mercado mundial. Esse surgimento ocorre basicamente por três motivos:
condições de mercado, desenvolvimento tecnológico nas áreas de transporte,
produção e comunicação e, por fim, maior desenvolvimento de capacidade dos
gestores à frente dos negócios. Esses fatores são determinantes na nova dinâmica
mundial, já que propiciam a diminuição dos custos operacionais da empresa.
Adicionalmente, há também a maior terceirização das atividades e a expansão das
redes de relacionamento como impulsionadores do fenômeno.
O modelo das INV’s aponta para quatro elementos necessários para sua
formação. Eles podem ser descritos da seguinte forma:
Elemento 1–Internalização de Algumas Transações: Quando a empresa
opta por reduzir custos ao executar operações ao invés de recorrer ao mercado.
Elemento 2–Estruturas de Governança Alternativas: Os novos
empreendimentos comumente têm falta de recursos para controlar e não possuem
todos os ativos necessários ao pleno desenvolvimento do seu negócio. O resultado
é que essas empresas tendem a internalizar uma pequena porção dos recursos
essenciais à sua sobrevivência. Assim, precisam desenvolver outras maneiras de
controlar seus ativos. Esse fato distingue os novos empreendimentos de outras
organizações. Por conseguinte, surgem estruturas hibridas, como as alianças
estratégicas, que funcionam como alternativas plausíveis para o controle interno e
o controle de mercado sobre os recursos.
Elemento 3–Vantagem da Localização Estrangeira: O elemento de
vantagem devido à localização é o que distingue as empresas internacionais das
domésticas. Organizações são internacionais porque encontram vantagens ao
transferir ou obter recursos (matéria prima, conhecimento, produtos) através das
fronteiras, de modo a combiná-los com recursos imóveis ou oportunidades.
Elemento 4 – Recursos Únicos: Os três primeiros elementos definem as
condições necessárias para a existência das INV’s: a internalização de algumas
transações, o uso extensivo de estruturas de governança alternativas e a detenção
de alguma vantagem sobre as firmas nativas devido à localização estrangeira.
Entretanto, essas condições não são suficientes para obter uma vantagem
competitiva sustentável, ou seja, significa dizer que a empresa deve saber extrair
vantagem competitiva a partir dos recursos disponíveis e torná-los recursos únicos
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que gerem e tenham valor de mercado, sejam raros, inimitáveis e insubstituíveis –
VRIO conforme a Visão Baseada em Recursos (Barney, 1991).
Além dos elementos propostos por Oviatt e McDougall (1994), as new
ventures internacionais podem ser classificadas em quatro tipos distintos, de acordo
com a intensidade relativas à coordenação das atividades internacionais e ao
número de países com os quais mantêm relações. Os quatro tipos são: Start-up
exportadores e importadores, Multinacionais, Start-up geográfica e Global Start-
up, conforme representado na Figura 1.
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Postura estratégica de Reativa: reação a pedidos de Pró-ativa: busca por novas
Internacionalização exportação. oportunidades
Natureza da oportunidade Demanda de mercado Política de estoque
empurrado
Objetivo da empresa Sobrevivência e rendimentos Criação de valor e
financeiros de longo prazo crescimento
Acesso e Controle dos Desenvolvidos dentro da Realizado através de
recursos firma networks
(Internalizados)
Locus de tomada de decisão Sistema empresarial para Empreendedor
tomada de decisão
Critério de escolha de Gerenciamento: pouca Oportunidade: maximizar o
mercado diferenca entre escopo da tamanho potencial de
firma e o mercado eleito mercado
Fonte: Adaptado de Autio (2005, p.17).
O papel do empreendedor
Nesse contexto das INVs, o empreendedor tem o poder de alterar as
circunstâncias e entende que o empreendedor é aquele que tem habilidade de ver
novas combinações, convencer outros a investirem no negócio e agir de acordo com
um ponto de vista ao invés de ficar preso a cálculos racionais. Por entender que a
internacionalização é uma estratégia de mudança definida como ação
empreendedora, Andersson (2000) sugere que três níveis de análises sejam feitos:
a) nível macro que está relacionado com as variáveis do ambiente:
econômicas, sociais, culturais, demográficas, políticas, tecnológicas,
legais e ecológicas que impactam, por exemplo, a percepção de distância
psíquica do empreendedor;
b) nível meso que está relacionado aos stakeholders, por exemplo,
consumidores, competidores e networks;
c) nível micro que configura os aspectos da empresa, como por exemplo,
a estrutura organizacional, produtos, cultura e aprendizagem.
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negócio. Os empreendedores, de acordo com área em que podem inovar, podem ser
classificados em três tipos:
a) técnico: aquele que tem a capacidade de gerar novos produtos
mesmo que ainda não haja demanda;
b) estrutural: aquele que atua em setores maduros e age no sentido
de formar estruturas de governança corporativa alternativa;
c) mercado: aquele que é capaz de criar canais de distribuição
para alcançar clientes.
Effectuation
10
explicam os autores que, por representar uma alternativa paradigmática, a teoria
Effectuation, assim como tantas outras do campo de ciências sociais, exigirá um
tempo maior para se consolidar enquanto ciência devido à dificuldade de consenso
entre as opiniões dos pesquisadores.
Ao propor a teoria Effectuation, Sarasvathy (2001a) pensou criticamente
sobre a existência de um Universo pré-concebido e de mercados existentes e, propôs
uma alternativa filosófica na qual a ação do ser humano transforma a realidade em
novas possibilidades e, então, a ideia de obtenção de mercados foi sobrepujada pelo
paradigma de criação de novos mercados.
Teoria Effectuation
11
meios como dado e foca em selecionar entre possíveis resultados que podem ser
criados com esse dado conjunto de meios.”
Para ilustrar como o pensamento causal se difere da Effectuation,
Sarasvathy (2001a) coloca a seguinte situação: imagine que é solicitado a um chef
de cozinha que prepare um jantar. Existem duas maneiras para o jantar ser
executado: a primeira consiste em o chef receber das mãos do cliente um cardápio
onde o chef faz a lista dos ingredientes necessários, vai às compras e, por fim,
prepara as refeições. Este modo é denominado causal por que foi dado ao chef um
cardápio e ele teve que escolher entre diferentes meios para prepará-lo. A segunda
maneira consiste no cliente pedir ao chef que elabore um cardápio dado os
ingredientes, disponíveis na despensa. Este modo é denominado Effectuation
porque foi dado ao chef a possibilidade de imaginar o que fazer para o jantar. A
seguir, a figura 2 ilustra a diferença entre as lógicas.
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Assim que encontram pessoas que queiram participar da ação escolhida
(essa ação, entretanto, pode ser algo vago ou concreto, mas aberto a mudanças),
eles se movimentam com objetivo de firmar compromissos com esses parceiros.
Cada parceiro envolvido compromete-se em contribuir na constituição da visão de
futuro e, com as estratégias particulares que serão adotadas a fim de
alcançar/concretizar essa visão.
Essa relação de dependência, dos meios ou dos fins, é explicada através do
processo decisório delineado pelas diferentes lógicas. Sarasvathy (2001a) coloca
que existem dois grandes campos que estudam tomadas de decisão sob incerteza.
O primeiro destina-se a desenvolver teorias normativas e modelos racionais de
decisão e o segundo destina-se a realizar investigações empíricas associadas à
racionalidade dos reais tomadores de decisão. De uma maneira geral, ambos os
campos partem do princípio de que o tomador de decisão lida com uma perspectiva
de futuro. Esse futuro pode ter uma distribuição estatística com probabilidades
conhecidas ou pode ser passível de estimação (ou seja, determinístico). Na figura
3, observamos o ciclo de ação do empreendedor conforme descrito.
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de $50. Na visão Effectuation o decisor não ficará preso às estimativas, ele
simplesmente encontrará uma maneira de encher a urna de bolas vermelhas e
convencerá os parceiros a encherem a urna com bolas vermelhas e se, por acaso, só
existirem bolas verdes disponíveis para serem colocadas na urna, ele mudará as
regras do jogo.
Nesse sentido, duas frases escritas por Sarasvathy (2001a, p.251) resumem
a maneira como ocorre o pensamento de um tomador de decisão que segue a lógica
causal: “À medida que podemos prever o futuro, podemos controlá-lo”, enquanto
que os que seguem a lógica Effectuation é descrito da seguinte forma: “À medida
que controlamos o futuro, não precisamos prevê-lo”. A lógica Effectuation é
classificada, em termos de controle e previsibilidade, como transformativa porque
apresenta alto nível de controle sem chamar de previsibilidade (vide figura 4). É
sugerido então a existência de uma lógica particular de controle que distingue-se da
proposição causal em razão de três princípios:
• Perdas aceitáveis ao invés de retornos esperados: a lógica causal
visa o maior retorno utilizando estratégias ótimas, enquanto, na lógica
Effectuation, o valor de perda é predeterminado e verifica-se quais
estratégias são possivéis;
• Parceiros ao invés de competição: na teoria causal, utilizam-se as
ferramentas estratégicas (por exemplo, de Michael Porter) para uma análise
competitiva. Na teoria Effectuation, constrói-se o compromisso com os
stakeholders para que sejam minimizadas as incertezas e as barreiras de
entrada;
• Alavancar contingências ao invés de evitá-las: pode ser descrita
como a adaptação à circunstâncias não previstas sem que haja,
necessariamente, uma base de conhecimento prévio para lidar com alguma
contingência..
14
Figura 4: Classificação da lógica Effectual em termos de previsão e controle.
15
Fonte: Adaptado de SARASVATHY (2001a pg. 253).
16
Fonte: Adaptado de JONES et al.(2011, pg. 636).
17
Em outro estudo, Galkina e Chetty (2011) buscaram entender como
ocorreram as escolhas de parceiros em networks. Como referencial teórico para
pesquisa, os autores fazem uso da teoria de Networks e do Modelo de Uppsala
revisitado com base no artigo escrito por Johanson e Vahlne (2009) e, sugerem que
a perspectiva da teoria Effectuation pode contribuir para os estudos de
internacionalização de empresas.
Para tanto, os autores realizaram um estudo de caso múltiplo com oito
pequenas empresas e verificaram que a lógica Effectual pode contribuir nos
seguintes temas:
• lógica em contraste com a racionalidade limitada: observou-se que seis
empresas do estudo construíram suas atividades em rede (network), de
modo natural e subjetivo e, sem um objetivo final idealizado;
• confiança: na lógica Effectuation a confiança não se aplica devido à
espontaneidade dos relacionamentos. Entretanto, segundo os entrevistados,
à medida que o tempo passava ambas as partes co-criavam os objetivos e as
ações estratégicas, tornando o relacionamento mais confiável;
• perdas possíveis ao invés de calcular os riscos da rede: os informantes
afirmaram que os custos não foram passíveis de serem calculados e as
possíveis perdas seriam o tempo de dedicação que poderia ser utilizado em
outra ação;
• potencialidade das possibilidades ao invés de redução de risco: as
relações não previstas durante o processo de internacionalização foram
percebidas como oportunidades;
• co-criação de relacionamentos em oposição à coordenação como opção
deliberada: relacionamentos foram construídos de maneira livre e
espontânea, o que possibilitou os integrantes da rede gerarem novas
parcerias e criarem novas oportunidades inesperadas.
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A Perspectiva de Born Global e Empreendedorismo
Internacional
No decorrer da década de 1990, estudos empíricos detectaram o
aparecimento de um novo tipo de empresa, em diversos países e indústrias, que
diferia das empresas tradicionais por sua internacionalização em uma fase inicial
do ciclo de vida. Estes estudos foram realizados por pesquisadores nas áreas de
Marketing Internacional e Empreendedorismo, de forma bastante independente. As
duas correntes – a perspectiva Born Global e a de Empreendedorismo Internacional
– evoluíram de forma simultânea e posteriormente se uniram, sendo as empresas
Born Global consideradas um caso particular dos chamados novos
empreendimentos internacionais.
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Jolly et al. (1992) identificaram quatro empresas do setor de tecnologia que
se internacionalizaram cerca de três anos após sua fundação. Os autores destacaram
como características distintivas deste tipo de organização a visão global do
fundador, a tecnologia agregada ao produto, o sucesso de produtos padronizados
em mercados líderes, o rápido acesso aos mercados via redes de contatos, a seleção
de mercados para penetração, o rastreamento de produtos e a criação de uma rede
global organizada. Denominado pelos autores por high technology start ups, tais
organizações penetravam no mercado internacional logo que o produto era
fabricado. Os autores comentam que a decisão do gestor em entrar no mercado
internacional distinguia-se da decisão acerca do modo de entrada e do tipo de
investimento no mercado internacional. Em termos organizacionais, poucas
unidades respondiam pelo gerenciamento e controle de atividades espalhadas pelo
mundo. Portanto, os autores definem o padrão de internacionalização observado
como o de uma “rede global funcionalmente especializada” (Jolly et al., 1992, p.
80).
Rasmussen & Madsen (2002) apontam que o termo born global foi
inicialmente utilizado por Rennie (1993) para designar um tipo especifico de
organização. Rennie (1993) destacou que o crescimento e o sucesso da born global
poderiam ser explicados pela sua atuação em nichos de mercados, pelos avanços
tecnológicos que permitiriam a diminuição do custo e proveria melhorias na
qualidade da produção, devido ao aperfeiçoamento nos meios de comunicação e,
finalmente, pelo encurtamento dos ciclos de vida dos produtos, aos quais as
pequenas empresas conseguiriam adaptar-se com mais facilidade, resultando em
vantagem competitiva.
O Quadro 2 apresenta o perfil da Born Global em comparação às empresas
tradicionais, de acordo com Rennie (1993).
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Quadro 2: Perfil das organizações de acordo com Rennie (1993)
Born Global
Busca por
posição
Transição no
internacional Limite do Nicho
gerenciamento
(Pró-
atividade)
Baixo Recursos
Desenvolvimento Início das Lucro:
percentual Credibilidade financeiro,
de produtos e exportações: até 100
de vendas e Recursos representação
processos 2 anos milhões
domésticas financeiros internacional e
Inovação: novo
habilidades.
produto
Ampliação
Informação sobre
da
o mercado
perspectiva
internacional
internacional
Tradicional
Comprometimento Limite
Crescimento
internacional do Nicho
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A BG apresenta vantagem competitiva relacionada a tecnologia, preço, profundo
conhecimento das necessidades dos clientes, grau de monitoramento da etapa pós-vendas,
conhecimento dos diversos canais de distribuição no exterior e mercado exportador como
catalisador dos índices de lucratividade. Sendo a principal competência de uma BG a agilidade em
adaptar produtos a mercados segmentados com necessidades específicas, nos quais os gestores
focam seus esforços na diferenciação simultânea de diversas dimensões do produto para obter
maior margem de lucro. Portanto, a BG distingue-se das organizações tradicionais com relação ao
comprometimento internacional, ao buscar mercados segmentados para alcançar uma posição de
liderança junto aos clientes potenciais.
Nesse contexto, a inserção no mercado internacional é a estratégia utilizada para alcançar
vantagem competitiva, no qual os empreendedores vislumbram janelas de oportunidades e adotam
uma postura proativa. Tal postura proativa em direção ao mercado internacional deriva do perfil
do fundador que tem uma perspectiva global e geocêntrica. Nesse sentido, a BG e as empresas
tradicionais não são necessariamente diferentes, mas as condições do mercado e perfil do
empreendedor podem dar uma tônica diferente à perspectiva evolutiva do processo.
As empresas classificadas como born globals são aquelas que seguem um padrão de
internacionalização particularmente rápido. Suas características usuais são:
Médias ou pequenas empresas (PMEs).
Surgimento a partir de 1990, com o advento da globalização, dos avanços tecnológicos
Mais comuns em setores de alta tecnologia, embora não exclusivamente
Iniciaram suas atividades internacionais “logo após a fundação” (em geral, entendido
como “três anos após a fundação”)
Mais de 25% das vendas totais são originadas de atividades internacionais
O modo de entrada mais típico é ativo (e não reativo) como, por exemplo, o uso de
agente (embora também possa existir o atendimento de pedidos não solicitados); contudo,
outros modos de entrada também são observados
O número de países (escopo geográfico) e o número de atividades internacionais
coordenadas (escopo da cadeia de valor) variam consideravelmente
Adicionalmente, para entender o processo de internacionalização da BG, deve-se entender
a influência dos fatores endógenos – características do empreendedor e da firma, e exógenos –
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específicos do contexto e da indústria. Os fatores endógenos podem também ser definidos como
os recursos, a capacidade, a orientação estratégica, o tamanho, a idade e os objetivos
organizacionais. Já os fatores exógenos são caracterizados pelas características do mercado
doméstico, do mercado internacional e do ambiente. A seguir, o quadro 3 apresenta os fatores
endógenos e exógenos e os fenômenos associados.
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Indústria Atuam em variadas indústrias. Em
particular, de tecnoliga intensiva.
Redes Servem de canais de distribuição.
As redes constituídas no mercado
internacional permitem acesso a
recursos tangíveis e intangíveis.
Mudanças tecnológicas Desenvolvimento dos meios de
comunicação e a internet
propiciaram o surgimento dessas
empresas.
Fonte: Elaborado pela autora.
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carência identificada e obter lucro. O grande valor de uma empresa social é que esta tem como
foco a criação de valor social em detrimento do lucro, o que não significa dizer que o lucro seja
dispensável, pelo contrário, o lucro é fundamental, entretanto, as tomadas de decisão priorizam a
criação de valor social.
Os empreendimentos sociais são dedicados à promoção da riqueza social, que se refere a
uma comunidade ou o bem-estar geral da sociedade. Neste tipo de empresa, a riqueza é medida
através da qualidade dos insumos que utiliza (ou seja, se respeitam a natureza), da percepção dos
indivíduos que trabalham para a empresa ou que de alguma forma são impactados por ela (pode-
se avaliar a felicidade, o bem-estar, oportunidades de crescimento, etc...), a maneira como a
comunidade se congrega com relação ao empreendimento (observa-se a coesão, engajamento e
segurança da empresa dentro da comunidade) e se há uma cultura compartilhada (ou seja, uma
identificação com os valores, visão e missão empresariais e adesão às práticas difundidas pela
empresa).
Umas das características distintivas dos empreendimentos sociais é sua capacidade de
mudar o estado do ambiente, aliviando ou erradicando os efeitos negativos de uma determinada
disfuncionalidade encontrada. E o grande desafio é vencer as barreiras institucionais e obter auxílio
do governo, instituições de educação, ONGs, etc... Tal desafio decorre do fato de que cada
instituição (governo, ONGs, etc...) pode interpretar o problema a partir de sua perspectiva o que
dificultaria uma mudança paradigmática do problema encontrado. Assim, quanto mais
transformador for o objetivo do empreendimento, maior a necessidade de obter recursos e maior o
desafio de persuadir, orientar e incentivar as partes interessadas.
Nesse sentido, a chegada de um empreendimento social no exterior demandará a
participação de agentes locais ligadas ao governo e comunidade. Para que seja possível a
construção de relacionamentos consistentes e estabelecer compromisso e confiança, o
empreendimento terá que provar sua idoneidade. Para mitigar tais dificuldades, o valor do capital
social pode ser utilizado como referência de legitimidade da empresa.
Como se trata de um empreendimento que visa um engajamento social por parte de uma
determinada sociedade, ao internacionalizar-se, haverá a necessidade de um cuidado em como tais
melhorias sociais serão conduzidas de modo que não ameace os líderes locais, o que significa dizer
que, ao propor uma mudança, será necessário encontrar um equilíbrio na condução do processo e
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decidir quais práticas serão impostas e quais serão práticas conduzidas pelos líderes da comunidade
participante.
Essa habilidades e conhecimentos acerca do mercado, facilitam a penetração e aprimoram
o estabelecimento dos relacionamentos, pois são capazes de resolver conflitos. Tal condução
impactará na imagem da empresa, e o código de ética adotado pela empresa estará sendo posto em
avaliação pela comunidade local a cada transação.
Outro ponto a ser levado em consideração é o de que a chegada de um empreendimento
com recursos para sanar uma deficiência local pode suscitar a crença de que os ricos estão querendo
impor seus valores sobre os menos favorecidos. Tal compreensão advém de uma memória histórica
das relações ocidentais colonizadoras mas tal compreensão pode ser revertida se o
empreendimento, além de ter como seu objetivo constitucional a melhoria social, trabalhar de
maneira genuína e preocupada com a comunidade além dos interesses pessoais. Geralmente, as
empresas sociais de países de economia emergente estabelecem-se no mercado doméstico, pois o
mercado doméstico apresenta muitas oportunidades para atuação, ou seja, é mais comum
observarmos empreendimentos sociais que venham de economias desenvolvidas prospectar em
mercados emergentes e não o contrário.
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• A empresa é constituída por uma infra-estrutura digital (presença online) e constrói sua
vantagem competitiva nesse ativo, pois sua cadeia de valor está inserida no ambiente
digital. O grau de digitalização pode variar de acordo com o modelo de negócio da
empresa, sendo algumas intensas e outras menos intensas.
• Através da estrutura digital que a empresa se comunica, colabora e gerencia suas
capacidades de criação e venda de produtos/serviços. O modelo de negócio é em essência
digital.
• Empresas com lojas físicas e que tenha digitalizado a maioria dos seus processos não se
caracterizam como uma empresa digital. Portanto, empresas que são naturalmente digitais
e distribuem via estes tipos de canais, são fundamentalmente digitais.
As Born-Digitals são aquelas que nasceram com estas características mencionadas, ou seja,
carregam desde a sua fundação o ambiente digital como essência nas suas operacionalizações,
diferentemente das empresas que nasceram com uma estrutura física e migraram para o ambiente
digital. São empresas que operam intensamente em ambiente virtual com o sistema de transmissão
de dados via datacenters através sistema de nuvem. Nesse sentido, a entrada dessas empresas no
mercado internacional é instantânea pois a penetração de mercado ocorre via internet e em poucos
segundos a empresa consegue oferecer seus produtos.
O processo de internacionalização de uma empresa digital pode acontecer de maneira não
intencional e sem qualquer planejamento. Os clientes independentemente da nacionalidade podem
chegar na plataforma da empresa e entrar em contato com o que está sendo ofertado para o
mercado. Obviamente, alguns fatores podem intensificar ou não a atuação desse tipo de
empreendimento no mercado digital e no relacionamento com os diferentes stakeholders. Fatores
relacionados às especificidades de cada país como língua, legislação, moeda, etc... podem impactar
no desempenho deste tipo de empreendimento.
Geralmente, essas empresas apresentam uma estrutura flexível e com escalabilidade.
Observa-se que estas empresas contratam executivos que tenham experiência em determinados
mercados para penetrarem mais facilmente em algumas redes de negócios e formar alianças
estratégicas. A entrada em redes, permite ao empreendedor acessar informações com relação à
execução da estratégia em determinados mercados e assim contornar determinadas dificuldades.
Por localizar-se em ambiente digital, a co-criação e a inovação acabam sendo compartilhadas
através da interface com os usuários, alguns exemplos são as plataformas de ensino como
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Coursera, Hotmart e Udemy. Este tipo de interação demanda dos empresários investimentos em
segurança para triagem de conteúdo mas permite maior proximidade e engajamento com o usuários
finais e há diminuição nas barreiras de entrada em relação à inovações tecnológicas.
Adicionalmente, o fluxo de dados fica mais intenso e permite-se que o aprendizado com o
mercado seja mais dinâmico e intenso. É possível, através desses mecanismos digitais, que as
empresas acessem dados mercadológicos por um custo relativamente baixo quando comparado às
pesquisas de mercado realizadas por empresas não digitalizadas.
Um ponto importante com relação a este tipo de empreendimento é de que seu crescimento
internacional está relacionado ao fator de confiabilidade, pois a ideia central é que os clientes
possam sentir confiança ao mesmo tempo que congregam menos dispêndio de recursos – tempo e
capital monetário. Outro fator de extrema relevância, é a possibilidade de interação entre os
usuários independentemente da sua nacionalidade. Os exemplos dessas interações são as empresas
LinkedIn e Research Gate que são born-digitals e reúnem pessoas do mundo inteiro. Esse controle
de operações frente a usuários de diferentes nacionalidades confere às empresas digitalizadas
internacionalizadas o traço de flexibilidade.
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lucro, diferentemente das ONGs que apesar de captarem recursos são organizações sem fins
lucrativos.
Na verdade, as ONGs atendem aos seus beneficiários, enquanto as organizações
empresariais atendem aos clientes. Além disso, nas ONGs a prestação de contas ocorre para as
várias partes interessadas como por exemplo: doadores e contribuintes, beneficiários, funcionários,
funcionários públicos e agências governamentais, enquanto que as organizações empresariais
prestam contas aos seus acionistas, clientes, colaboradores, fornecedores, governo e sociedade em
geral.
Martens (2002, p. 282) define ONGs como “organizações sociais formais (profissionais)
independentes, cujo foco principal é promover objetivos comuns (coletivos) em âmbitos nacional
ou internacional ”. Existem diversas classificações para as ONGs de acordo com o escopo de
atuação e muitas delas realizam atividades em diversos países e se tornaram globais e são
denominadas ONGs internacionais/transnacionais (INGOs) ou ONGs Globais.
Anheier e Themudo (2005, p. 103) conceituam as INGOs como “organizações sem fins
lucrativos que realizam operações dispendiosas no exterior e não se identificam como uma
organização que atua somente no mercado doméstico”. São organizações que em algum grau são
comparáveis às multinacionais tradicionais com relação a estrutura burocrática para executar suas
operações em outros países porque além das unidades administrativas de gerenciamento dependem
de financiamento e contribuições para manterem-se funcionais. A adoção de práticas típicas do
mundo corporativo trouxe para as INGOs o desenvolvimento de competências que proporcionaram
práticas operacionais mais eficientes e eficazes e resultaram em uma atuação legitima diante do
mercado.
É uma estrutura organizacional que se apresenta de maneira centralizada ou descentralizada
com relação aos seus afiliados, o que significa dizer que, as filiais estrangeiras podem ter um nível
maior ou menor de autonomia com relação às matrizes. Em especial, o percurso histórico de
formação de uma ONG influência nas decisões relacionadas as trajetórias de crescimento
internacional. Observa-se em ONGs internacionalizadas que as operações de arrecadação de
recursos são gerenciadas como atividades meio e as práticas de assistencialistas são as atividades
fins.
Um exemplo clássico e histórico de ONG internacionalizada é o Médicos Sem Fronteiras
(Médecins Sans Frontières). Em 2020, o MSF atendeu 74 países com projetos de emergência e
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suas equipes assistenciais estavam compostas por 67.000 membros de 150 países. Mais de 95% de
todos os fundos arrecadados pelo MSF (1,63 bilhões de euros em 2019) vieram de doações
privadas, que juntas mobilizaram 6,5 milhões de doadores individuais e de organizações privadas
(fundações e corporações). O MSF empregou esses fundos para cumprir sua missão (cerca de 81%
dos recursos são destinados para as atividades assistenciais), e destinou o restante para as
atividades de apoio (atividades relacionadas a arrecadação de fundos e despesas administrativas)
(MSF, 2020). O MSF internacional tem uma diretoria e um presidente, eleitos por uma assembleia
geral de representantes de 25 associações independentes. Cada associação também tem um
conselho de diretores e um presidente eleito por uma assembleia geral. As atividades mundiais são
coordenadas por cinco centros operacionais (Bélgica, França, Holanda, Espanha e Suíça). Além
disso, existem 21 seções do MSF, cada uma vinculada a uma associação, em que são responsáveis
pelo recrutamento, arrecadação de fundos e comunicação. Algumas seções têm filiais. Ademais,
organizações satélites são estabelecidas para apoiar o trabalho de campo relacionado a questões de
assistências médicas, de abastecimento e logística.
30
Figura 8: Mapa com os países onde MSF têm projetos.
Fonte: MSF – website (msf.org.br - acesso em ago/2017).
31
Costa do Marfim
1990
Liberia
Servia e
Rwanda Brasil
1991 Montenegro
Somalia Haiti
ANO AFRICA ASIA AMERICA EUROPA
Burundi Myanmar (Burma)
1992
Mali
1993 Tanzania
1994 Espanha
1995 Burkina Faso Coréia do Norte
1996 Nigeria Equador Luxemburgo
Benin Tajikistão
1997 República do Congo Uzbekistão Mexico Bulgaria
Morocco Indonesia
República
1998 Democrática do Honduras
Laos
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