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ERNESTO NATHAN ROGERS “PRETEXTOS PARA UMA CRITICA NÃO FORMALISTA”

(pág. 166 à 169) – DEPOIMENTO DE UMA GERAÇÃO, 2003.

“A arquitetura do Brasil tem sido muitas vezes objeto de criticas arbitrárias antagônicas e quase
sempre descabidas, uma vez que até mesmo entre os observadores mais capacitados há
quem não soube discernir as emoções que lhes despertava o repentino brotar de tantas
construções e certa prepotente novidade nas suas aparências.”

Ernesto N. Rogers depõem sobre as criticas destrutivas que muitas vezes foram analisadas
sob um ângulo particular, como o depoimento dos críticos suecos, que conduzem à arquitetura
brasileira, condenáveis polaridades da critica formalista, comparando obras com suas próprias
preferências, ou julgando determinados artistas e linhas de pensamentos, pelos seus
imitadores.

“Tal condescendência no julgar, normalmente tão inspirado do crítico suíço pode-se justificar,
neste caso, como reação a uma certa claustrofobia, que a arquitetura do seu país, enfim, tão
contida, pode ter suscitado em seu espirito. Mas contrariamente – e por uma idêntica
contradição dialética – outro suíço, Max Bill, artista rigorosíssimo e totalmente preocupado em
identificar suas criações com os valores objetivos da matemática e da geometria, não capacitou
o significado de uma arte completamente distinta da sua, nem naqueles casos em que esta
seja perfeitamente coerente com seus princípios e alcance resultados significativos”.

Remete à arquitetura de Oscar Niemeyer como uma arquitetura extrovertida e sensual,


reconhecendo o valor poético contido em suas obras, mesmo acusado diversas vezes pelo seu
formalismo, como a casa que construiu para si nas encostas do morro e voltado para o mar.
Que visita nesta obra, deixou clara a relação com a natureza que a casa propõe o fato de que
Niemeyer tenta inserir a arquitetura moderna e em particular, a mensagem de Le Corbusier, na
ordem dos fenômenos naturais.

Colocam cidades como Ouro Preto, como herança do estilo colônias, fontes diretas de Lucio
Costa, que remetem à Pedregulho como um amadurecimento da arquitetura brasileira.
GIULIO CARLO ARGAN “ARQUITETURA MODERNA NO BRASIL” (pág. 170 à 175) –
DEPOIMENTO DE UMA GERAÇÃO, 2003

A arquitetura moderna esteve presentes em diversos países, mas obteve seu foco principal no
Brasil, denominada como escola nacional, com a liderança de Le Corbusier, e que mesmo
atraindo a tantos, derivou de diversos problemas discutidos neste depoimento de Giulio Carlo
Argan.

Se esta nova arquitetura partiu do principio de uma cidade para o futuro, ou “polis ideal”, então
atinge uma expressão positiva de uma sociedade que enxerga a necessidade de adequar seu
modo de vida a uma condição de bem estar econômico. Quanto sua originalidade, não se pode
afirmar se esta foi de fato, uma arquitetura que propunha condição essencial de valor estético.

O fenômeno da arquitetura moderna, pós-visita de Le Corbusier, tomou dimensões imponentes,


marcando uma época importante ao desenvolvimento da arquitetura civil no Brasil, onde, esta
busca por um novo estilo foi aceita e abrigada aqui, talvez mais do que em seus países de
origem.

Entretanto, o desenvolvimento, apesar de ser positivo para o país e sua sociedade, acabou por
produzir profundas mudanças no estilo, já que as formas permaneciam basicamente o que
eram, mas sua aplicação se deram mediantes adaptações e mudanças de escala.

Um fato importante é, que se os arquitetos brasileiros após terem escolhido como exemplo
aquilo que julgavam o “tipicamente europeu”, o tomaram como guia para o desenvolvimento de
um programa construtivo e acabaram por não buscar uma nova inspiração. Compreenderam
que a arquitetura é um fato de cultura e desse modo manifestaram-se para fazer parte da
comunidade cultural europeia.

Hoje dizemos que a arquitetura brasileira apresenta-se como uma produção de caráter
quantitativo, não é apenas uma aplicação de Le Corbusier: “edifícios desenvolvidos em altura
em meio a grandes espaços livres, com um desejo de mesclar o funcional e o representativo”,
mas sim uma técnica que foi compreendida e a exaltação desta técnica. Uma superfície
arquitetônica levada ao extremo. Talvez fosse por isso que o país escolheu Le Corbusier como
líder, justamente porque sua arquitetura conciliava de uma técnica moderna com valores de
beleza.

Tornou-se fácil identificar o inimigo dos arquitetos modernos brasileiros, ele não era o
tradicionalismo acadêmico, mas sim, a especulação imobiliária, conduzindo a enorme
degradação de valores.

A arquitetura moderna que estava contra o conformismo agora tenta lutar com o formalismo
técnico. Hoje, fica claro que a renovação das formas arquitetônicas se deve orientar pela
conquista de uma consciência urbana, para uma relação com o planejamento urbano e
econômico a partir de uma sociedade complexa e nada equilibrada ou integrada, e só assim, a
arquitetura brasileira poderia conseguir não apenas uma inovação, mas uma originalidade
profunda e o mais importante, autêntica.

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