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Violet Winspear
Eve queria provar a si mesma que não era como as outras garotas, fúteis, cuja única
ambição era casar com homens ricos. Por isso, deixou de lado sua vida luxuosa e partiu
para a selva, numa missão religiosa. Mas quando chegou, todos estavam fugindo de uma
rebelião e não havia lugar no avião para ela. Foi quando um mercenário a obrigou a
atravessar a selva a pé... a única maneira de escapar. Havia alguma coisa naquele homem
estranho e violento que a atraía, mexia com sua sensualidade. Será que ela podia ficar à
mercê de Wade, dono de uma arma que a ameaçava e que talvez ele tivesse roubado.
CAPÍTULO I
Ele ficou surpreso com a inesperada ati tude da quela descon hecida.
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Sou sim. Mas não posso tolerar que um funcionariozinho peda nte
como você se acomode tran quilamente, enqua nto mulheres correm o risco
de vida.
Abando nou tu do para trab alhar na missão, sem receber nada em troca.
Não podia imaginar que a vida nas selvas fosse tão assustadora...
Recordou, então, que tiveram de se esconder em celeiros dura nte dias
inteiros, com falta de man timentos, até que apareceu o soldado mercenário
que as convenceu a se deslocarem para Tang a. Havia nele qual quer coisa
estranha. .. Informou-as de que, se chegassem ali ao aman hecer,
encontrariam um avião pronto para levá-las a um lugar mais seguro.
— Você se acha em con dições de camin har? — pergu ntou. Sua voz era
tão dura qua nto os traços do rosto bronzeado. — Caso mach uq ue o
tornozelo, não vou ter o menor prazer em carregá-la.
Eve pensou em lhe dar uma resposta à alt ura, mas lembrou-se de que
ele havia salvo a vida das freiras.
— Acomodou as missionárias?
— Por favor, pare com isso! — Senti u-se indefesa, quase a ponto de
chorar.
O avião decolou e gan hou alt ura. Na pista ficaram apen as os dois e
algumas malas. Duas delas eram de couro de porco com iniciais, uma
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— Parece que você está sem roupa para se trocar. Deve estar
precisando — disse o soldado.
Aos poucos, macacos começaram a saltar pelos galhos das árvores mais
próximas, enq uanto papa gaios tam bém faziam alarde de sua presença.
Aquele momen to parecia irreal. O perigo pairava no ar. Naquele rosto
másculo e grosseiro e na mão firme que seg urava o rifle, parecia se
esconder uma ameaça. Eve sabia que não era u ma arma militar, pois a
coronha era de madeira envernizada e na chapa de cobre nela fixada havia
um nome gravado. Imagi nou que ele a tivesse rou bado, embora a portasse
com ares de legítimo proprietário.
Acompa nhou-o com os olhos, enq uanto subia a escada do ban galô e
abria a porta de tela. Parecia um gato atento a q ualquer imprevisto. Espiou
com cuidado o interior da casa. Era alto e musculoso; fora dos pa drões
comuns. Perto dele, Eve sentia medo e necessidade de se defen der. Pela
primeira vez topava com um tipo assim. Um solda do mercenário que, de
repente, tin ha salvo a vida de um gr upo de mulheres.
— Major!
— Morren do!
— Coma pra valer — disse ele. — Você, deb uta nte, vai precisar de
mui ta energia para atravessar a selva. Se ho uver problemas além dos
comuns, os quarenta e oito quilômetros vão virar oitenta.
— Gostaria que não me chamasse de deb uta nte, ainda por cima com
esse tom de gozação. Meu nome é Eve.
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— Não, acho adequ ado a você, q ue anda por onde até os anjos
temeriam pôr o pé. Como devo chamá-lo?
— Imagino q ue faça par te do seu trab alho saquear os lug ares por onde
passa!
Wade encarou- a fixamente. Não disse na da. Seu olhar era penetrante.
Eve senti u medo. Compreendeu que estava à mercê daq uele desconhecido. A
irmã Mercy, com seu terço pend urado no pescoço, não estava mais ali para
protegê-la. Eve olhou-o desafiadoramente e viu que os lábios dele
esboçaram u m sorriso irônico.
— Sem champa nhe para acompa nhar? — ele observou, enq uanto lhe
passava um par de calças e u ma camisa de seda verde. — Não ten ho ideia
do rapaz que usava essas roupas, mas posso adivi nhar. De qual quer modo,
era magro, e elas cairão como uma luva em você. Olhe esse paletó
esporte... Seg ure!
Eve pegou as roupas e percebeu que eram finíssimas. Deviam ter sido
compradas provavelmente em alguma loja sofisticada de Londres.
— E não lamento isso! Fi que certa, minha cara debu tante, de que estou
tão ansioso q uan to você para começar nossa caminh ada.
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— Não seja por isso! Agora, você vai tirar esse uniforme, e vestir as
calças e a camisa e passar o repelente. — Passou-lhe o tu bo de creme. — Os
mosquitos vão se deliciar Com sua pele fina, por isso se proteja bem. Cubra
todas as partes do corpo... e pare de ficar aí, Como se o destino lhe tivesse
da do um soco no q ueixo! Posso não ser gentil, mas conheço a selva, e vou
fazer o impossível para levá-la até o litoral.
Eve foi para trás do sofá e trocou-se. Por sorte as calças e a camisa
caíram-lhe bem.
— Deixe-me ver seus sapatos. — Fez um a cara feia q uan do ela lhe
mostrou. — Olhe, aq ui há um par de san dálias mas eu acho que são muito
gra ndes. Em todo caso experimente.
— Como estão agora? — pergu ntou Wade, guarda ndo o facão na bainha
presa no cin turão.
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— Certos homens sabem ser gala nteadores. Eu n unca tive jeito para
essas coisas.
— Está bem. — Ele abriu a mochila e Eve notou que estava repleta de
enlata dos. Havia também um aparelho de barbear, um romance e um lenço
de seda. Não tin ha ideia do porquê dele ter ap anha do o lenço, a não ser que
fosse levado por uma irresistível sofisticação. Talvez por isso concordou que
ela levasse o caviar.
— Encheu o can til? — Eve fez questão de pergun tar para q ue ele
soubesse que estava atenta aos riscos e aos problemas q ue iam enfrentar.
Queria desfazer a todo custo aquela imagem de mulher frágil, voltada
apenas para futilidades.
— Sim, major.
— Que foi q ue disse? — Ele ten tava passar pela porta , atra palha do com
o rifle e a mochila. — Que foi que disse mesmo?
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Ao atin gir a floresta , ele se voltou para olhá-la de novo, com o mesmo
ar de ironia. Medi u-a mais u ma vez dos pés à cabeça. Wade era alto e forte,
corpo esguio. cabelos negros e espessos. Sua tez bronzeada e os olhos
claros acentuava m ainda mais seus inegá vel charme.
— Bravos! Para béns! Quan do voltar para casa será notícia de primeira
pá gina. Sugestão para a manchete: "Debu tante se ajoelha para trabalhar e
rezar! "
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CAPÍTULO II
Grande parte do terreno da missão ti nha sido desmaiado para o pla ntio
e a criação de animais domésticos. Agora, porém, Eve estava em plena
selva. Ali as trepa deiras agrestes emaranh avam-se nas árvores e a cada
insta nte preparava m arma dilhas para os incautos. A todo momento
desviavam-se das enormes folhas de ba naneiras e dos ba mbus cujos galhos
açoitavam como chicotes. Era exaustivo caminhar. Exi gia um movimento
contínuo do corpo, ora abaixa ndo ora se desviando das folha gens e arbustos
que, como seres vivos, davam a impressão de querer devorá-los.
O calor era intenso. Eve sentia as gotas de suor escorrendo pelo corpo
todo e empapa ndo sua roupa. Os mosquitos proliferavam na vegetação mais
rasteira e por entre as samambaias e parasitas que envolviam os troncos
gigantescos. Predominava um tom verde-escuro na maior parte da floresta.
O ruído dos insetos mesclava-se com o som das botas de Wade, abrindo
caminho pela mat a, preocupa do em fazer uma trilha para q ue Eve pudesse
se locomover com maior facilida de.
— A gen te vai para uma das aldeias. Ficam tão isoladas da zona
conflituada que é praticamente impossível os g uerrilheiros chegarem até lá.
Em geral, os ha bita ntes são amáveis e estão sempre pron tos a ajudar. Mas
por enquanto não ocupe seus pensamentos com essas coisas. Trate de andar
e de não perder a coragem.
— Estou tenta ndo. Você não tem a impressão de que estamos sendo
vigia dos o tempo todo?
Eve sorriu aliviada. Será que algum a coisa conseguiria aba ter o ânimo
desse homem, sempre tão indiferente a q uaisquer perigos? Seria tão
insensível a pon to de não se perturbar com na da?
Wade parou e a lâmina de seu facão brilhou ao cortar os cipós que lhe
tolhiam o caminho. De vez em quan do consultava a bússola, pou pando
assim Eve do medo de se perderem. Ele não era de fato o compa nheiro ideal
para uma viagem como essa, mas era seguro de si e seu corpo fazia as
vezes de um verda deiro escudo, protegendo-a con tra todas as ameaças.
— Acho q ue sim.
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— Então fiq ue exata mente onde está. Vou cortar uma vara de bamb u.
Eve seguia Wade e diva gava. Se seu pai não tivesse sido assassinado
quando tinha apenas três anos, certamente não estaria ali em plena selva,
enfrentando aquele calor terrível e vestindo aq uelas roupas masculinas.
Além disso, estava nas mãos de um mercenário e sob a ameaça de um grupo
de rebeldes que talvez p udessem atacá-los a q ualquer momento.
Meia hora depois, pararam jun to a uma árvore caída. Wade investigo u a
região, atento às cobras. Permitiu então que Eve se sentasse no tronco e
relaxasse..Passou-lhe o cantil e ela matou a sede com avidez.
— Melhor que vinho, não é? — ele pergu ntou após beber e tampar o
cantil. — Quer um ta blete de chocolate?
Wade não disse na da. Eve surpreendeu-se com a maneira corajosa com
que se dirigia a ele. Conti nuou a seu lado, mas sem encará-lo.
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— Cui dado com os mosq uitos! Eles atacam sem piedade — alertou-a. —
A picada não só irrita como também é dolorosa. Podem até provocar febre!
Quando acamparmos, vou lhe dar uma pastilha de q uinino.
— Quando acamparmos?
— Então foi um homem que a fez vir correndo para cá, para esfregar
chão e rezar!? Brigou com ele?
— Briguei — respon deu. O que não deixava de ser verda de. Não ha via
mal algum em contar àquele mercenário q ue rompera com o homem que a
amava , pois fora o que realmente acontecera. Embora ela gostasse de seu
tutor, discordara dele com veemência, pois insistiu que só se casaria com
quem amasse de fato.
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— Acha que valeu a pena viver esse tipo de experiência? — perg unto u
ele, alisando o rosto com a barba por fazer.
— Como pode ser assim tão cínico? Não consigo imagin ar que acredite
em outra coisa além de perseguições e mortes!
— Sei que seus pés estão doloridos e que seu ânimo está
enfraquecendo
— disse ele — mas não pode ser de outro jeito. De pé, cara deb uta nte!
— Segurou Eve pelos ombros e ajudou-a a se levan tar. Ela se afastou
bruscamente e calçou as sandálias de couro tão d uras quan to a alma dele!
— Pronta?
— Sim.
— Oh!
— Tropeçou ?
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Fazia bem olhar os macacos, pois a presença deles lhe dava a certeza de
que não estava sozinha na compan hia daq uele homem.
Divertiu-se dura nte alg um tempo, sentin do-se até mesmo segura. De
repente, alguma coisa ati ngiu-lhe as costas e ela deu um grito, assusta da.
Sentiu uma espécie de visgo na camisa. Wade aproximou-se dela.
— Droga !
Eve obedeceu. Não pôde evitar porém um arrepio qua ndo ele limpou
suas costas com um lenço. O gesto de Wade provocou-lhe uma sensação que
a assustou aind a mais do que o impacto provocado pela q ueda do ovo. E
estavam sozinhos na selva, o q ue tomava a situação mais alarma nte! Eve
lembrou-se de algum as histórias sobre mercenários q ue as m ulheres nativas
lhe contaram.
— Obriga da! — Eve corou dian te da facilida de, com q ue ele lera seus
pensamentos. Os homens, pensou Eve, costumam se sentir superiores
quando percebem que uma mulher se sente à mercê deles. Não ousou mais
levantar os olhos para Wade. Não queria nem pensar no que sentiria se ele
a tomasse em seus braços e a possuísse com toda aquela força e segurança
com que fazia tu do.
— Que está esperando? — pergun tou Wade. — Quer saber o que pode
irritar um homem valente e violento em plena selva?
Eve corou de novo, odian do-o por lhe dizer a verda de de maneira tão
crua.
— Raposin ha?
— Seu na morado grã-fino não lhe disse que seus cabelos se parecem
com os pelos da raposa qua ndo ela corre pelo campo perseg uida pelos cães
e pelos caçadores?
James não lhe teria di to isso! Eve duvi dava de q ue alguma vez ele
notasse qualquer coisa nela além do que vestia, do que falava e de como se
comportava.
— Sente-se mais calma agora? Podemos contin uar? Antes que você
perca sua energia e sinta fome, precisamos fazer pelo menos uns dois
quilômetros.
— Não sou nenh uma criança. Vou acompa nhá-lo, qu anto a isso não se
preocupe. Estou tão ansiosa qua nto você para chegarmos ao litoral.
— Ótimo. E da próxima vez q ue for atin gida por um ovo, por favor, não
assuste a floresta toda.
— Meus nervos são de aço, senhorita, mas alguém pode tê-la ouvido, e
um grito de mulher jamais será conf undi do com q ualquer outra coisa. Sabe
que é o som mais primitivo do mu ndo?
Ele camin hava pela selva com firmeza e destemor. Seu facão cortava
ruidosamente as folha gens que se in terp un ham como obstáculos. Os
arbustos espin hentos tom bavam ao chão numa ameaça aos tornozelos de
Eve. De vez em q uan do ele olha va para trás para ver como ela estava ou
então para lhe dizer algu ma coisa.
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— Não tem medo de ser assassina do? Isso não seria bom para o
menino.
— O que sua esposa diz a respeito do seu trabalho? Com certeza ela
deve discordar desse seu modo de gan har a vida.
— Ela não se importa com isso — replicou. — Meu filho Larry quer ser
médico. Quero fazer de t udo para que o consiga.
Esta foi a imagem que Eve fez da mul her q ue esperava por Wade
O'Mara na Ingla terra, enquan to ele arriscava perder a cabeça nas mãos dos
rebeldes só para gan har din heiro suficiente para fazer de seu filho um
médico. Eve pensou então nos homens do tipo do seu tutor e no di nheiro
que aplicavam em investimentos. Bastava apan har o telefone e instruir o
corretor para executar um negócio que envolvia milhares de libras. Mas o
homem que se empenha va em levá-la à costa de Tanga mat ava para poder
educar o filho!
Como seria ele de volta à Inglaterra, de volta à compan hia da mul her,
da mãe de seu filho? Eve tentou não se questionar mais, mas essas
perguntas afluíam obsessivamente.. . Seria ele um ama nte dedicado? Será
que sua mulher sabia que às vezes ele tinha de resgatar freiras de uma
missão ameaçad a e de se responsabilizar pela vida de uma moça sozinha
n uma longa camin hada pela selva? Ou será que Wade não falava com ela
sobre os perigos de seu trabalho? Ou sobre as ten tações que surgiam a sua
frente?
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— Droga !
— Nada... —respon deu. Mas era tal a dor que seus olhos lacrimejaram.
Por outro lado era impossível esconder q ue mancava. Wade não se moveu.
Quando ela se aproximou, agarrou-a pelo braço.
— Foi só um ma u jeito.
Eve olho u a mão dele em volta do seu tornozelo. Num instan te ele se
transformou num homem simpá tico. Ela fechou os olhos para impedir que as
lágrimas escorressem.
Um sorriso leve aflorou nos lábios de Wade. Por um segundo seus dedos
acariciaram o tornozelo delicado de Eve. Depois, calçou-lhe a sandália e
amarrou o cordão. Enq uan to Eve se apoiava em seus ombros, senti u o
coração bater descompassada mente.
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CAPÍTULO III
Logo depois que acampara m, o sol se pôs e a noite chegou rápida. Eve
olhou a sua volta e sentiu medo. As árvores mais altas pareciam tombar
sobre ela e os ruídos da mata torna vam-se ameaçadores.
Embora tivesse vivido por dois meses na missão, nu nca chegou a passar
uma noite na selva... ainda por cima com um homem. Sentia um misto de
medo e de fascínio, preocupa da com aquele homem ao seu lado, preocupa da
com os mistérios que aquela escuridão encerrava.
— Você precisa de um chá bem q uente e eu tam bém. Vou abrir uma lata
de carne e complemen tamos com biscoitos. Não poderia ser melhor,
concorda ?
— Bem... parece que você fez isso todas as noites de sua vida.
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Eve fez u ma pausa e ouviu o estalido dos gravetos nas mãos dele,
enquanto o fogo começava a crepitar. Ele não precisava ser tão cínico!
Sentia-se cansada demais para levar adian te aquela conversa.
— Não. Já é noite e não sei se dá para nadar lá. Espere até aman hã e
então eu lhe digo. Mas posso garan tir que as águas são barren tas.
— Não sou uma bobi nha român tica — replicou Eve. — Você se diverte às
minhas custas, só porque não lhe ofereço o que realmen te gostaria.
Eve encarou-o, enqu anto ele despejava um pu nha do de chá den tro da
chaleira.
— Desculpe pela falta de leite — disse ele — mas o chá estará bem
quente e vai fu ncionar como revigoran te.
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Ela fez que sim com a cabeça. Apesar daq uelas palavras horríveis, não
perdeu o apetite e aceitou o prato com carne e biscoitos que ele lhe
ofereceu.
— Minha jovem debuta nte, q uero lhe dizer uma coisa: não brinq ue de
beber e de comer como soldado.
Eve passou- lhe pron tamente a caneca e ele bebeu um pouco. Notou
então que Wade encostou a boca no mesmo lugar em q ue ela tin ha bebido.
Maravil hou-se ao perceber que havia um encanto masculino por trás de toda
aquela rudeza.
— Fui criado como tal. — Levou à boca um pedaço de carne. — Mas não
obedeço sempre os princípios religiosos, como pode ver pela roupa que uso.
Mas por que pergun ta?
— Eu não lhe pareço gentil, não é mesmo? — pergu ntou Wade sorrindo.
— Não tenha medo. Você não terá sequer tempo de ver q ue tipo de
arma estariam usando.
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— É que temos tanto que viver ain da, não acha ? Você tem seu filho e
eu... eu tenho minha vida na Inglaterra.
— Na compan hia do ilustre rapaz que permitiu que você viesse para cá
esfregar assoalhos e arriscar a perder o pescoço? Você o estava
experimentan do? Esperava q ue ele corresse atrás e a impedisse de entrar
no avião?
Eve tin ha uma amarga lembrança da úl tima vez que jantou com James
n um resta urante caro e depois foram ao teatro... Ela contou- lhe q ue estava
pensando em ir para a África, mas ele riu dela. "Não seja bobi nha" , disse
ele, ba tendo nas costas de sua mão, como se fosse u ma menina. "Que vai
fazer no meio do mato? Colher orquí deas?"
Queria dizer a Wade que desprezava James, mas achou melhor se calar
e sorriu. Um sorriso q ue lhe pareceu expressar sau dades e roman tismo.
— Quis provar a mim mesma que poderia ser útil. E acho que consegui.
— Pode ser, pode ser... Mas pelo menos tenho certeza do que me
impulsiona a fazer as coisas. Não justifico meus atos apelando para ideais
de sacrifício ou sofrimento embrul hados em papel de seda. Você se cansou
de seu ambiente, a borboleta cansou de voar no mesmo espaço fecha do e
abafa do, e então decidiu bater as asin has em um a região contur bada
politicamente. Só que percebeu q ue se tratava de um incêndio na selva e
não deu o braço a torcer por se meter com um bru to mal-cheiroso como eu.
Não é verdade? — In terrompeu-se e encarou- a em silêncio. — Passe-me o
prato. Ganhou um doce sem merecer ganhar. Mas agora é tarde demais para
levar uma sova.
Eve perg unta va-se se Wade, que agora se espreguiçava, nu nca sentira
medo em toda a vida. Ning uém man dava nele. Nem mesmo sua esposa. Ela
sim, sentia-se presa à vigilância do t utor, que lhe impusera um casamento
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no qual não tinha o menor interesse. Ela testava suas asas, mas não
reclamava das marcas que o passado deixara nelas. Quando Wade lhe
ofereceu o abacaxi em calda, aceitou-o, sem forças para agra decer-lhe com
palavras.
— Sinto não ter creme ou sorvete para acompa nhar a fruta — disse ele.
— Mas acho q ue esse seu olhar frio vai pelo menos conseguir gelá-la.
— Devo rir da piada? — Pegou uma fatia com a mão e achou delicioso
comê-la desse modo. Como estaria seu aspecto, com o cabelo despen teado.
usando calça larga e a camisa engord urada com o repelente? Com certeza,
seu tutor teria um ataque do coração e James desmaiaria se a vissem
da quele jeito.
— Pelo jeito sabe t udo a respeito das mul heres — provocou-o Eve,
lambendo a calda do abacaxi que escorria entre seus dedos. — Imagi no que
em todas suas viagens como mercenário tenha encontrado vários tipos de
pessoas... Sua esposa deve ser u ma mulher de mente aberta.
— Esperemos que não perca sua presa e não sinta nosso cheiro... Não
pretendo fazer uso do rifle, pois o estampi do seria ouvido a quilômetros de
distâ ncia.
— Não fique nervosa. Os leopardos são a última coisa com que devemos
nos preocupar. Nunca viu um deles?
— São seres encant adores... É uma pena que sejam mortos por causa
da pele...
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— Com cruelda de, sem dú vida — respon deu Eve, encaran do-o. — Você
n unca caçou um deles?
Eve olhou a sua volta e mais uma vez a floresta a intimidou. E nqua nto
dormissem podiam muito bem serem atacados por algum animal.
— O fato de você ser uma garota atraente não me diz muita coisa —
respondeu rispidamente. — Não tenho o hábito de seduzir moças que
podiam ser minhas filhas. Isso ameniza suas apreensões adolescen tes?
— Não quis dizer mesmo? Sou um soldado, luto nas g uerras, e toda vez
que tenho oportuni dade eu relaxo... com uma mul her. Não considero esta
situação relaxante. Aliás, daq ui a pouco vou lhe dar um sonífero. Assim
poderá sonhar com sua casa luxuosa e confortável, numa área muito grande
e com terras de sobra para serem cultivad as...
— Você fala como u m fazendeiro frustrado. Esse é seu gran de son ho?
— Acho q ue nasci com esse dom! Uma debuta nte não é necessariamente
inexperiente.
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— Claro. — Decididamen te, ele não era na da româ ntico, mas pelo
menos não a considerava um a boneca, que não precisasse fazer suas
necessidades. Agradeceu a tocha e ficou feliz por não estar diante de
James, que sempre ficava vermelho quan do u ma moça pedia licença para ir
ao toalete. Entre os arb ustos, Eve se esforçou para não pensar em cobras e
aranhas e imagi nou qu al seria a reação de James ao vê-la naq uele momento
exato. Voltou com um sorriso nos lábios.
— Não há nada de oficial entre nós — respon deu E ve. Seus olhos então
se firmaram sobre o mosquiteiro que ele puxa va de dentro da mochila.
— Mas é o que a espera qua ndo voltar? Uma união convenien te com um
jovem que lhe garan tirá o conforto material e o futuro, não é mesmo?
— Não vejo outra alternativa para você. Agora deve estar imagina ndo
que dividirá a mant a e o mosquiteiro comigo. Não é verdade?
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_— E com sua imagi nação, Eve, você foi um tanto lon ge demais e se
fixou na ideia de q ue o soldado bru to e cruel estava ansioso para chegar o
momento em que tocaria seu corpo casto e jovem. Isso poderia acontecer,
como poderiam acontecer outras ta ntas coisas antes que chegássemos a
Tanga . Mas você terá a oport unida de de escolher, assim como o fez ao dizer
ao piloto que se arriscaria a fazer o caminho a pé, saben do que eu não era
nenhum jovem aristocrata ...
— Cristalino.
— Por favor!
Ele lhe passou uma caneca com água. Eve, sem dizer na da, engoliu o
comprimido. Sim, ela tinh a de confiar nele. Quem mais cuidaria dela
na quele momento? Percorreu ainda um a vez com os olhos a floresta escura
a sua volta e de onde vinha m aq ueles ruídos misteriosos. Um arrepio
percorreu seu corpo todo.
— Isso mesmo, como uma noiva orien tal, cobrindo-se da cabeça aos
pés. Vamos, faça o que estou dizendo. Vai conseg uir respirar direito e
nenhum bicho vai tocá-la.
— Tinha de ser tão explícito assim? Você vai se cobrir com quê? Ou não
tem medo dos bichinhos?
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— De onde tirou essa ideia? Sabe, Eve, não estou caduco ain da, mas já
tenho 39 anos. Não lhe pareço velho?
— Não...
— Ora, não me venha com essa. Tenho um filho q uase de sua ida de e
se não tenho barriga é porq ue sou soldado. Claro, sou chamado de
mercenário. Mas a maioria dos mercenários são ex-soldados e têm um jeito
duro de ser. Por uma razão ou outra a gen te acaba se encon trando na selva,
luta ndo. Ou então no deserto. Não é pelo di nheiro que a gente gan ha, não.
Mas quando se passou a vida toda lutan do como soldado, é mais fácil
atender a u m chamado para entrar em ação do que ba ter ponto numa
fábrica. Três anos atrás estive em Belfast. Certa noite, q uatro de nós
ficamos feridos. Quan do saí do hospi tal me mandaram embora do exército.
Tentei trabal har como civil, mas não deu certo. E agora estou aq ui na selva,
com você. Não acha minha vida muito engraçada ?
Ela ficou quieta, imagi nando a reação de sua esposa ao vê-lo tirar o
traje civil e colocar de novo o uniforme. Nem mesmo o conforto do lar o
detinha.
— Como pode ter ta nta certeza? Faz u m dia q ue me conhece, mas fala
de mim como se me con hecesse há muito tempo, como se fôssemos...
velhos amigos.
— Obriga da!
— Muito bem, já está tal qual uma múmia. Não apertei muito no
pescoço, não é? O pescoço é a parte q ue eles mais gostam ... — Ele desviou
a atenção de Eve para o bolso da calça, de onde tirou um cordão q ue cortou
em dois. — Vou amarrar as barras da calça. As cobras sempre têm a ideia
de se acomodar dentro delas.
Eve sabia que Wade não tinha nen hum sentimento paternalista para
com ela. Suas brincadeiras eram maliciosas demais para isso. Por outro
lado, não era o tipo de homem q ue desem penhasse o papel de pai com
frequência, nem mesmo com seu filho.
— Inclusive você?
Eve mordeu os lábios, pergu ntan do-se por que ele a provocava tão
profundamen te, a ponto de despertar seus instintos. Seria a vida excitante
da selva? Ele parecia pertencer às forças da na tureza, tão perigosamente
primitivas.
Mas ao perceber sua excitação, Eve senti u medo dele... e dela mesma.
— Ótimo! — Por alg uns instan tes, ele olhou ao redor, atento a toda
espécie de bar ulho que lhe chegava aos ouvidos. Não ha via nada de
estranho. Ela ouviu então um ruído e percebeu que ele tin ha sacado o facão
da bainha para colocá-lo a seu lado. Em seguida, Wade deitou-se próximo a
ela. Entre os dois estava o rifle que, ela pensou , serviria para ele defendê-
la, como um príncipe defen de a princesa com sua espad a.
— Ning uém está aqui para olhar, a não ser os macacos! Eles não
poderão dizer com que parecemos. Só espero que seu homenzin ho não
pense bobagens por você ter dormido com um bru tamon tes como eu! Ele é
um sujeito sensato?
Eve tinha quase certeza de que James sentiria sua honra manchada ao
saber que havia dormido ao lado de um mercenário. Pensaria coisas
absur das. M as na verdade isso não tinha a menor importância. Afinal, nunca
tinha pretendi do se casar com ele... E agora, mais do q ue nu nca, a ideia era
ina dmissível.
— Não se preocu pe com isso. — Desta vez o major não tevê tempo de
ler os pensamentos dela, com certeza porq ue se deitou da ndo-lhe as costas.
— Assim que você voltar para lá, t udo isso parecerá um sonho. Invente
uma história. Ele vai engolir com a maior facilida de. Bom, boa noite.
— Boa noite.
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
CAPÍTULO IV
Para seu desespero, Eve imagi nou que alg um macaco tinha resolvido
brincar com ela. O que faria agora, n ua como estava? A não ser q ue, como
Eva , usasse uma folha grande para cobrir-se!
A cada segu ndo, a selva readq uiriu os ruídos estranhos do dia an terior.
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Sua tola! Saia daí imediatamente ou irei b uscá-la — gritou. Ela não
se moveu. A voz ecoou ain da mais forte.
— Que tem isso? Estou cansado de ver mul heres n uas! Não esqueça que
tenho idade para ser seu pai! Vamos, saia daí antes que os carang uejos a
ata quem.
Eve não viu outra alterna tiva senão obedecê-lo. E nvergonha da, saiu
apressadamente. Wade suspendeu-a nos braços, enqu anto os caran guejos
dav am ferroadas em suas botas. Em seguida , voltaram para o
acampamen to. Eve apoiava-se nos ombros doura dos de Wade e sentia-se
mais fraca e v ulnerável do q ue n unca em seus braços. Afinal estava
completamente nu a!
— Você merece uma surra. Devia tê-la deixado lá. Sairia brilhando de
limpeza, mas toda mordida. Seria um prato delicioso para os carang uejos!
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Exa tamente. — E a colocou sent ada sobre a man ta caq ui. — São as
coisas da vida.
Eve afastou o cabelo que cobria seu rosto e olhou para ele de relance.
Wade examinava com atenção seus cabelos úmidos e seus lábios trêmulos.
— Sei muito bem q ue não devo tratá-la como um recru ta, mas terá que
passar o repelen te desde a orelha até os dedos dos pés. E sem demora.
E nquanto isso, acendo o fogo e preparo um café com ling uiça.
— Linguiça?
— Minha camisa lhe caiu m uito bem, senhorita. Mas será que vai
conseguir an dar por algumas horas desse jeito, com os bamb us e os bichos
pela frente? Depois do café vou procurar suas roupas... Por causa de sua
irresponsabilida de, vamos perder pelo menos uma hora.
— Peço-lhe q ue me desculpe.
— Você prometeu...
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Assim frio?
— Não pode pôr a lata no fogo? — pergu ntou ela. — Seria tão bom se
estivesse quente!
— Acredito que sim! — concordou. Mas por dentro não se via assim.
Ainda usava a camisa de Wade sob o rou pão, enqua nto ele, de peito nu,
fazia o café na chaleira. Notou uma cicatriz embaixo do coração. Quis
perguntar-lhe como o acidente tinha ocorrido, mas logo ded uziu q ue teria
alguma relação com a época em que foi dispensado do exército.
— Mesmo assim não desiste de ser soldado e de con tinuar lon ge de casa
— disse ela ao mesmo tempo que visualizava o fragmento penetrando no
corpo de Wade. Ele era d urão, mas feito de carne e osso. Não compreendia
por que sua mulher nu nca insistiu para que ele deixasse de lado o uniforme.
Algum dia...
— Sim.
— Sabe, não havia nen huma outra razão para não deixar você entrar
na quela água. Não sou desmancha-prazeres e até aprecio as moças que
gostam de limpeza. Mas era possível que ap arecesse um leopardo, você
poderia não vê-lo. Essas criaturas são tão flexíveis q ue se esticam e se
achata m no chão, tornan do-se praticamente invisíveis entre as folhagens.
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Bom, pelo menos ele não fugiria de mim para tomar ban ho, nem
perderia a rou pa no caminho.
— Tenho de ser prá tico. Mas tem mais. Nosso man timento é escasso. —
E nquanto falava, com a aju da do facão colocou a lata dento do prato de
ága ta. Mais um a vez Eve teve de ad mitir que suas mãos grosseiras eram
basta nte há beis.
Comeram rapidamen te a lin guiça com gosto de fum aça e assim que
terminaram, Eve disse:
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Não encon trei a roupa íntima — disse ele. — Espero q ue não esteja
por aí, em alg um arbusto. Seria a mais clara evidência de q ue uma mul her
passou por aq ui.
Ele deu uma risada ao tocar nos fun dilhos da calça e perceber que
havia um rasgo.
— Claro.
— Faço q ualq uer coisa para agrad ar a uma mulher. — E deu meia-volta
como se estivesse numa parada, mas antes fez questão de observar os
movimentos dos lábios de Eve, q ue reconheceu ser absurdo tan to pudor
para vestir a calça, q uan do ele já a tinha visto completamente nua. Wade
começou então a cantarolar.
— É supersticioso?
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Ela se casou com o dono de uma fábrica de tecidos no Peru. Eles têm
filhos. Eu fui educada pelo meu padrin ho de batismo. Devo m uito a ele, não
posso negar.
— Você não deve ter visto os filmes de Hum phrey Bogart . Mas conhece
James Bond, não conhece?
Eve bala nçou a cabeça e ao mesmo tempo deixou-se atrair pelo brilho
dos olhos de Wade...
— Mas espero que a gente não tope com nenh um inimigo até chegarmos
a Tanga .
— Não há hotel q ue nos aceite nesse estado. Acha que temos cara de
grã-finos?
— Porque está no fim e você precisa mais do que eu. — Ele aproximou-
se dela e examinou os rasgos da camisa. — Os braços estão bem u ntados?
Eles adoram sangue novo!
— Você deve ficar irresistível n uma roupa de tênis, com uma daquelas
faixas prenden do os cabelos...
Eve não disse nada. Sentia-o tão perto dela q ue o coração começou a
ba ter acelerado.
— Depois de terminar sua parti da, você deve pôr um vesti do elega nte
para jantar, com uma pele de raposa acarician do seu pescoço e realçando
seu rosto. Mas está longe disso, não? Seu compan heiro não é mais o rapa-
zote de barba feita, de pele macia, mas um solda do maduro, treina do para
viver apenas com a aj uda de u m rifle e de um facão.
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Acho sim... — Wade soltou o braço de E ve. Mas onde seus dedos a
tocaram ficou uma energia vibrante que dali se irradiou por todo seu corpo.
Nada disso aconteceu qua ndo James a tocou pela primeira vez. Até então
Eve ainda não tomara consciência do que fosse um homem. Era uma pena
que chegassem a Tanga ain da na quele dia. Wade inspirava medo, mas o
perigo não estava no fato de ser mercenário e rude, mas em tê-la feito
sentir-se verdadeiramente mulher. Isso a alarmava . Havia a esposa dele e
Eve não queria complicar ainda mais as coisas.
Eve não queria cometer o mesmo engano. Seria melhor casar-se com
James do que se envolver com um homem q ue jamais seria apen as seu. Com
o casamento faria pelo menos a vont ade do tu tor. Viu-se então convencendo
James de que o major mercenário tinh a sido um cavalheiro perfeito...
— Que perdeu? — perg un tou Eve, nota ndo que, por alg um motivo,
estava ficando nervoso.
— Droga ! Devo tê-la perdido ao procurar suas roupas. Como vou saber
onde caiu? Sabe moça, acabei de fazer o que nenhum recru ta deveria fazer
a não ser que quisesse ter a líng ua corta da!
— E você precisa dela para podermos seguir viagem? Quer dizer que
sem ela nós nos perderemos?
Ela contemplou seu corpo forte. Não havia o menor sinal de medo em
seu rosto. Era a tranq uilidade em pessoa. Dava-lhe coragem, Eve teve a
certeza de q ue toda vez que ele arriscou sua tropa numa empreitada
conseguiu superar as dificul dades.
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Você sabe das coisas aqui mais do que eu. De qual quer modo,
ficarmos parados me parece tam bém perigoso.
— E isso aí — resmun gou. — A frase perfeita para a sit uação, não acha?
— Se nos perdermos, repito, a norma será a seguin te: ficar calma. Acha
que vai conseguir?
— Desculpe, major!
— Estou bem, estou bem. Major, tive uma ideia. Podemos ir procura ndo
a bússola pelo camin ho até chegarmos ao riacho.
Eve faria figa com os dedos dos pés se pu desse! Mas, para tristeza
dela, a bússola não foi encontra da. Além do mais, era difícil locomover-se
na quele lugar, cheio de insetos e caranguejos, que Wade atirava para longe
aos chutes. Finalmente ele sacudiu os ombros num sinal de desistência.
— Sim.
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Oh, não!
— E quem disse que estou preocupa do com você? — retrucou Wade com
ironia.
— Não brinq ue comigo, menin a. Quem entra para meu batal hão tem de
ser forte para po der sobreviver. E u seria duro com qualq uer pessoa que
estivesse comigo. Até mesmo uma raposinha cor-de-rosa.
— Tenho a impressão de que ning uém conseg uiu ler seus pensamentos
— provocou-o. — Aposto que joga pôquer muito bem!
— Bravo! Bravo!
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
CAPÍTULO V
Wade pediu a Eve para ficar de fora e, de arma em pun ho, entrou de
choupana em choupa na. Mui tas tin ham sido destruídas pelo fogo e
continuavam de pé apenas as vigas de sustentação.
— Eve, o problema é que vai chover. Já caíram alg uns pingos, você não
sentiu? Quando chove aqui, as coisas se complicam. Vamos ficar ensopados
em questão de segundos. Será melhor passarmos a noite aq ui dentro.
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
Eve senti u-se mal ao entrar na choupa na. Seu nariz não suportava mais
o cheiro de fumaça, de barro úmido e de vegetação apodrecida. Wade
depositou a mochila no chão e examinou alguns objetos: lanças com pontas
envenenadas, uma cabaça com um líqui do dentro, um cesto de ba mbu para
pescaria e enormes pedras fazen do as vezes de um fogão. Wade fixou os
olhos no cesto, examinando-o com atenção.
— Vai beber?
— Não com você comigo. Depois, não q uero ficar com ressaca. Eu gosto
mesmo é de uma boa cerveja gelada!
— Oh, ainda bem! — E ve ainda não tinh a se acost umado com a ideia de
passar a noite ali den tro, e nem queria pensar no que aconteceria com Wade
bêba do a seu lado!
— Sabe, major, mais do que nu nca estou certa de que nada o coloca
fora do sério.
— Não e não há nada de cínico em min has palavras. Só vejo bom senso.
Não posso acreditar q ue alimente ilusões nas mul heres!
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
lutar contra a curiosida de que ele ha via despertado nela... Existia u m outro
lado nele, que não tin ha na da a ver com o solda do.
— Não creio que num a sit uação normal falaríamos assim um com o
outro. Exat amente nesse momento, você estaria comparecendo a um
encontro num restaura nte elegan te, muito bem vestida, ou então estaria
preocupada com o que usar. Em vez disso, você está aqui com essa
aparência de boneca cansada , à beira do esgotamen to total. Está aqui em
minha compa nhia, respon de a minhas provocações, quan do deveria me bater
na cara por ter perdido a bússola. Onde aprendeu a ser tão corajosa e
resistente?
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Opor? Se uma mul her se casa com um solda do, é porque o aceita
sem restrições.
— Vamos nos acomodar — propôs. — Vou ferver água para fazer chá
antes que a chuva comece a cair. Estenda a ma nta e veja o que sobrou das
latarias. Acho que há um a de carne de porco. É melhor nos apressarmos. E
eu que prometi levá-la a Tan ga! Sou mesmo um imbecil!
— A disciplina feminin a não tem nada a ver com a masculina. Não posso
esperar que reaja como u m recruta treina do... Você é m ulher demais para
isso!
— Certamente... até quebrar seus dentes de leite. Foi sorte você topar
comigo — um pai q ue conhece as inq uietações dos adolescentes... Você vai
gostar de meu filho, Eve. É um garotão parecido com min ha mãe.
Wade saiu para b uscar madeira seca para o fogo. Eve exul tava de
felicidade, pois concluíra que fora bom encontrar de repente um homem
mais velho com o vigor e a experiência de Wade. Ele tin ha matado, tinha
ama do, sabia o que era ser pai. Eve percebeu a necessidade de lutar contra
a atração que ele exercia sobre ela; mas como conseguiria, se estavam ali
juntos em pleno coração da selva africana ?
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
arranhão na testa feito por um galho, olhos cansa dos e vermelhos, cheios
de inda gações e de incertezas. Quanto às roupas... prontas para o lixo! Mas
eram as únicas que tinha . Restava-lhe pren der os cabelos antes de se
sentar para comer.
Eve olhou para a trouxa e viu o desodorante que apa nhara n uma das
malas, embora Wade tivesse dito que não se sobrecarregasse com objetos
inúteis. Mas decidida mente o major Wade O'Mara não era uma mulher!
Mas que tola! Ning uém teria sequestrado Wade, pois teria ouvido
bar ulho de luta. Naturalmente se afastou à procura de lenha, ou então
investigava a região, para se certificar do q uan to estariam seguros naquela
noite. A chuva agora começava a cair mais forte. Eve achava agra dável
sentir os pin gos d'ág ua baten do contra a pele. Olhou para o céu e para sua
surpresa ainda pô de ver algum as estrelas. Em poucos insta ntes, porém, o
céu cobriu-se de nuvens. De repente, Eve ouviu um ruído vindo dos arbustos
atrás da chou pana .
— Wade?
— Não se mova!
Era Wade, que pela primeira vez falava macio e baixo. Mas aquilo era
uma ordem. Eve o obedeceu , para ndo estática. Wade veio caminha ndo
lentamente, a arma em p un ho e pron ta para atirar.
Ele gargal hou e baixou o rifle. Inclino u-se em seguida para ela e
cheirou-lhe os ombros.
— Eve, não me venha com artiman has. Não estamos sozin hos nos
jardi ns do paraíso. Somos seres h umanos, de carne e osso, mas não
devemos esquecer q ue a situação equivale a uma operação de resgate.
Assim ninguém ficará chateado um com o outro. En tende o que quero dizer?
Eve estava ensopa da, a chuva escorrendo pelo rosto. Era ridículo
continuar ali, molhando-se sem motivo. Voltou então para dentro, onde o
aroma do chá se confu ndia com o da carne de porco.
— Por que discutimos tanto? — perg unto u Wade, sugerindo que ela se
sentasse sobre a ma nta. — Ora, vamos. Pra onde é que foi aquele sorriso
boni to?
— Parece que perdi! — respon deu, sentan do-se o mais longe possível
dele.
— Sei disso — respon deu friamen te. — Mas não tive a intenção de
provocá-lo. Eu me sentia suja demais, e então resolvi passar o perfume.
Quando os ba nhos não eram tão populares, costuma va-se fazer isso.
Eve não olhava para ele, mas sentiu que era observada.
Ela não respon deu, concen trando sua atenção no barulho da chuva. De
repente, um arrepio percorreu seu corpo. Sem dizer nada , levanto u-se e
tam pou a entra da da chou pana com uma espécie de esteira. Apesar de
primitiva, servia para impedir a correnteza de ar q ue aumentava o frio.
Ela o observou soltar uma baforada. Agora sim, sentiu von tade de
comer as nozes q ue ele lhe tin ha oferecido, mas acabo u desistin do. Em
seguida, deitou-se calmamente sobre a ma nta. Quan do Wade se aproximou
e ficou de pé dian te dela, sentiu que começava a ficar tensa.
Ela fez que sim com a cabeça enqua nto pensava na razão por q ue não
concordaria com a sugestão... Ela seria tão ruim assim? Wade estaria
pla nejando deixá-la ali para procurar sozinho um camin ho q ue os levasse à
civilização?
— Sei que eu atrapal ho você, com essas sandálias. — Eve apoiou-se nos
joelhos e olho u-o suplicante. — Mas não me aban done aq ui, por favor! Eu
morreria...
— Mas o que está dizen do? — Ajoelhou-se diante dela e fitou seu
rostinho espan tado. — Aba ndoná-la aqui? Não se trata disso, Eve. As
árvores estão caindo, e a maioria delas é oca. Mi nha sugestão é a segui nte:
se ho uver alg um rio por perto po deremos seguir viagem n um bote.
— Um bote?
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Muito sério. E, para ser franco, garota, não acredito que você
consiga sobreviver à selva. O repelente vai acabar e as sandálias vão
arruinar seus pés. Com a canoa, viajará sentad a, comendo peixe-gato, que
tem uma cara feia mas carne saborosa... Bem, que me diz? Concorda?
— Não, nen huma. Para sua tristeza, só a min ha ideia parecerá sensata.
— Nunca reza?
— Eu? — pergu ntou, apa gan do o cigarro no prato vazio. — Os anjos não
escutam pecadores como eu.
— Meu Deus!
Eve cobriu o rosto com as mãos, mas não de medo do rato. Estava
surpresa com sua reação. Era uma mul her que nunca se apavorou diante de
ratos ou morcegos, pois ti nha nascido no campo. Com preendeu o quanto
seus nervos estavam em fran galhos. Era impossível parar de tremer. Wade
puxou-a para si e encostou a cabeça dela em seu ombro.
— Calma, garota. Pela primeira vez na vida está passando por uma
situação dessas. Está indo muito bem, sabe? Os ratos não são bonitos,
concordo com você, mas são menos perigosos que os leopardos.
— Não costu mo reagir assim, Wade... Oh, você me deve achar uma
idiota!
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Ela aceitou e bebeu. Não sentiu o gosto, que era forte, pois queria
apenas pôr fim aos tremores do corpo. Passou a caneca a Wade.
— Você parece u m valentão. Fico imagina ndo como você é sem bar ba.
— Não seja por isso. Amanhã logo cedo vou lhe dar esse prazer. —
Fechou a garrafa, g uardou-a na mochila e pôs-se a arrumar a manta. —
Amanhã vamos à zona inexplorada para ver o que tem a nos oferecer. Torça
para que eu esteja certo q uanto ao rio. Em todo caso, é comum os povoados
ficarem próximos de água corren te. Mas não se esqueça de rezar!
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CAPÍTULO VI
Quando Eve acordou, notou que a chou pana estava vazia. Livrou-se das
roupas, levanto u-se e começou a entrar em pânico qu ando, de repente,
sentiu cheiro de ma deira q ueimada. Deduzi u que Wade provavelmente
preparava o café da man hã. Bocejou, espreguiçou-se e foi ver o que estava
acontecendo. A chaleira estava no fogo e Wade ensaboava o rosto, sem
camisa, as calças bem justas no corpo firme e bronzeado.
— Não me torture, por favor! Pelo jeito vamos abrir u ma lata de feijão.
— Eve, você não reparou que temos água na chaleira? Não notou que
ontem o cantil estava vazio e q ue agora está cheio...?
O lugar oferecia van tagens e não faria mal acamparem ali por alguns
dias, desde que esquecessem a existência dos rebeldes e a possibilidade de
surgirem de repen te. Talvez Wade não tivesse tempo de apan har o rifle!
La nçou-lhe um olhar rápido e viu que termina va de barbear-se. O rifle
estava apoiado na árvore em que depend urara o espelho.
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— Cuida do! — exclamou ele diverti do. — Fico contente por ter-se
recuperado. É bom que não se deixe desanimar.
— Não faria de você uma adversária nessa jornada , mas parece que
está me pondo à prova e erradamen te.
Wade tinha providenciado água para que Eve lavasse o rosto e as mãos.
Depois disso, aplicou o repelente. Wade lavou a camisa nu m pote de ferro e
a pôs para secar nu m arbusto.
tarde, ambos deram uma espiada nas demais chou panas, mas não
encontraram nada de útil. Ficaram porém satisfeitos ao descobrirem
pla ntações de bata ta-doce, espinafre e milho.
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
Wade olhou para Eve e disse-lhe baixin ho que não se mexesse, para
não espa ntá-lo. E ntão, num salto rápi do, agarrou o bicho pelo pescoço. A
ave se deba teu enqua nto ele a estrangula va. Eve deu-lhe as costas, pois
não queria vê-lo matar o peru. Lembrou-se então q ue Wade tinha mata do
dezenas de seres h umanos, com a mesma facilidade e ha bilidade.
— Não quer me levar até o rio enq uanto faz isso? — perg un tou ela, com
as mãos cheias de espinafre e espigas de milho. — Perto do rio o ar é mais
fresco.
— O problema, Eve, é que perto da água você perde a cabeça, para não
falar nas roupas... Vai se comportar direito? Posso confiar em você? Os rios
às vezes são perigosos e não quero vê-la afogada .
— Prometo ser boazi nha. Ficarei lendo o livro que você guar dou na
mochila. Pode fazer seu trabal ho sossega do.
— Combina do.
Wade atirou- lhe o livro e Eve o apanho u no ar. Ele então se aproximou
e colocou em suas mãos um pacote de nozes e passas.
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Isso é para manter sua vitalida de. — Parou dian te dela, olhou-a e,
n um impulso, afastou os fios de cabelo que lhe caíam pela testa. — Eve,
você por acaso compreende mesmo que estamos no meio de uma rebelião e
que, a qualq uer momen to, posso fazer com um homem o q ue acabo de fazer
com o peru? Sempre há algum rebelde que se separa dos grupos, ou para
pilhar ou para fugir e tentar voltar para a família. Pois bem, um desses pode
aparecer. Fique atenta. Preferiria q ue ficasse perto de mim, para não perdê-
la de vista.
— Fique tran quilo. Não quero pensar nas coisas ruins, porque me
deixam nervosa.
— Está bem. Vou me afastar de você umas duas horas no máximo, pois
tenho de fazer uma corda para puxar a árvore até o rio. Mas prometo
trabalhar depressa. Levo o facão e deixo o rifle com você. Tome, segure-o.
Não é muito pesado.
Ela sorriu e viu-se de novo atin gida por aq uela sensação de isolamento
do mundo civilizado. Sua vida na In glaterra tinha um sabor de irrealidade....
Os almoços com as amigas n um restauran te da moda, uma visita a uma
galeria de arte ou uma partida de tênis, nada disso tin ha a ver com a vida
na selva, ou mais precisamente com aq uela situação inédit a: du as pessoas
sozinhas luta ndo pela sobrevivência, enfrentan do perigos inesperados.
O rio era largo, mas a correnteza era forte. Eve esten deu o rou pão à
sombra de uma fig ueira.
— Enten di.
— O quanto puder.
— Bem, vou trabalhar — disse ele, segura ndo o facão com firmeza. —
Foi sorte ter aprendido carpin taria no orfan ato. Ser carpinteiro e mata dor,
esses eram os req uisitos dos velhos desbrava dores. É assim q ue me sinto
agora: um desbrava dor que ao mesmo tempo se exercita um pouco da
economia doméstica.
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Eve senti u uma profunda solidão. Masti gou uma noz e contemplou o rio,
ao mesmo tempo q ue ouvia o can to dos pássaros... Aos poucos seu coração
se acalmou.
Era uma verda de forte demais. Aceitou-a apenas por algu ns momentos
e depois se esforçou para afastá-la da mente, concentran do-se no livro,
cuja história se passava em Lon dres nos dias que antecederam a última
guerra mun dial. Não levou muito tem po para se deixar absorver pela
narrativa ... Mas a quietude do lugar começou a preocu pá-la. Um arrepio
percorreu-lhe a espinh a.
Quando, afinal, teve forças para voltar-se, segurou firme o rifle com as
mãos suadas.
— Não soube atirar... — disse ela, com voz trêmula. — Mas graças a
Deus você ouviu o tiro!
— Ele veio para cima de mim como um anim al. Foi tão rápido que mal
pude apertar o gatilho. A bala se perdeu. Oh, Wade, tu do o que pu de ver foi
seu rosto horrível e selvagem. Ele me teria cortado a cabeça fora.
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— Não precisa fazer isso — disse rispida mente. — Tenho de tirar esse
homem da qui an tes q ue os insetos cheguem aos ban dos.
— Não sou tão covarde assim! — protestou , ansiosa por par tir. — Você
sabe o que é melhor para nós!
— Eve, será melhor para você viajar de canoa. Teremos mais facilidade
para nos alimentarmos. Podemos estocar comida e além disso há muitas
árvores frutíferas. Posso também deixar você na dar qua ndo o sol não
estiver muito quente.
Eve não respon deu, limitan do-se a encará-lo, ainda chocada com tudo
aquilo, mas ciente de que matar era para ele uma tarefa diária.
Wade foi até a margem do rio, agachan do-se para lavar as mãos. Ficou
ali até que secassem ao sol.
— Peixe-gato?
— Não quero esq uecer o menor detalhe — protestou. — E não acho que
você seja tão rude assim!
— Pode ironizar qua nto quiser, Wade, mas não poderá me impedir de
agra decer-lhe. Nunca compreen derá a que estado de pânico eu cheg uei!
— Casa de árvores?
— A selva, com seu telha do vivo, formado pelas copas entrelaçadas das
árvores! Não somos Tarzan e Jane. Nunca se esqueça disso. Não fiz nen hum
pla no de viver na selva com uma garota grã-fina.
Eve estava decidida a não perder a parada. Contin uava viva graças a
ele e o modo como falava indicava que ele tinha um código de honra que o
tomava ainda mais heroico a seus olhos. Seu coração batia acelerado,
provando o qua nto Wade lhe significava. A convivência terminaria assim que
chegassem a Tan ga. De lá, cada um tomaria seu caminho.
— Nunca faço planos. Um soldado nu nca joga da dos com os deuses. Ele
só espera que não haja uma bala com seu nome gravado.
Uma profund a tristeza se abateu sobre ela. O que mais desejava era
poder abraçá-lo bem apertado e ser a mulher que o faria desistir de ser
soldado.
— Mas deve ter algu m sonho que dê um significado maior a sua vida...
Todos desejam algum a coisa, todos desejam realizar algu ma coisa que os
faça felizes, que lhes dê paz, prazer e segurança. Aposto q ue gosta de
fazenda ! Um lugarzi nho no campo, u ns dois cavalos no estáb ulo, alguns
porcos no chiq ueiro, e alguns alqueires de plan tação. Ora, vamos, Wade.
Não venha me dizer que estou errada!
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Você tem seu filho, sua esposa... — respo ndeu calmamen te. — Não
gostaria de estar em casa junto deles o tempo todo?
— Não, na da disso. — Pôs a mão no ombro dela, aperta ndo com força
seus ossos frágeis. — Pode vir comigo, se prometer não me crivar de
perguntas. Minha vida privada pertence só a mim e não devo explicações a
ninguém. Não se esqueça disso, enqua nto estivermos jun tos.
— Vou ficar aqui — disse ela, livrando-se da mão dele. — A chou pana
precisa de uma boa limpeza, já q ue ficaremos aqui por mais u ns dias.
— Que sabe de homens se con heceu apenas aquele estúpi do com q uem
pretendia se casar? Bem, controle os nervos e da próxima vez atire direito
no que aparecer. Não hesite um segundo. Nessa joga da, Eve, não há
escolha: ou nós ou eles. Até mais tarde.
Eve ficou sozinha. Duran te alg uns momentos não teve condições de se
acalmar. Os olhos passeavam pelas choupa nas, pelas ruínas, indo se deter
na sombra das árvores. Ouviu o barulho dos macacos e o canto dos pássaros
no topo das árvores. Cada ruído provocado por um animal lhe dava a
certeza de q ue nen hum ser huma no rondava as matas. Apesar disso, custou
a afastar a lembrança do incidente da manhã , à margem do rio.
Projeto Revisoras
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
Wade era um homem irritan te e irrita diço, mas não havia dú vidas de
que sabia como lidar com aq uele mu ndo agreste e ameaçador. Eve sento u-
se na trouxa e sorriu ao apan har uma das bana nas para comer. Sentiu sede,
mas antes de beber era preciso ferver a água, e o fogo estava apaga do.
Surpreen deu-se olha ndo para a mochila de Wade, q ue ela depend urou
no gal ho de uma árvore. Talvez haja tempo de sobra, pensou , para ver a
carteira de couro de crocodilo que ele g uarda den tro da mochila! Refletiu
um pouco e concluiu que não era justo bisbilhotar as coisas alheias. M as sua
curiosida de era enorme! Não só queria ver a fotografia do filho, mas
tam bém a da mul her! De repente.-apan hou a mochila, enfiou a mão
rapida mente e localizou a carteira. Abriu-a e os dedos tatearam seu interior.
Ela tremia. Sentiu as bordas de um a fotografia e puxou- a. Oh, sim, aq uele
era Larry! Bem-apessoado, bonito, cabelo negros, olhar penetran te, rosto
delga do e sério...
— Meu filho é a melhor metade de mim... que mais queria ver? A foto
de minha mulher?
Projeto Revisoras
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Wade, cometi um erro. Não devia ter mexido na carteira. Não sei o
que me levou a fazer isso.
Wade puxou-a então contra seu corpo. Eve sentiu então a outra mão em
suas costas, aperta ndo-a e erguen do sua blusa ao mesmo tempo. Abraçou-a
mais forte e procurou seus lábios. Foi um beijo lon go como jamais Eve tinha
experimentado! E tão caloroso q ue lhe deu a impressão de que seus lábios
iam se derreter tal o calor q ue irradiava da boca de Wade! Seus sentimentos
se conf undiram por instantes e depois foi toma da por uma tal excitação que
acabou por envolvê-lo com os braços.
Wade parecia ignorar todo e qualq uer perigo, agora que a tin ha nos
braços. Eve deixou-se domin ar por completo, sem escon der nada do que
sentia por ele.
Uma energia vibra nte ainda percorria seu corpo. Esquecera-se do tempo
e uma sensação deliciosa persistia em seus poros. Seus lábios ardiam.. .
— Porque estava me pedi ndo e eu não sou de ferro! Agora sabe o que
pode lhe acontecer, por isso desista de se meter em minha vida !
lado de quem possa crescer, que você possa sempre encarar, sem precisar
saber o que aconteceu em seu passado. Não me peça para roubar do rapa z
sua melhor doação. E u po deria fazê-lo, Eve. Mas então você iria saber o que
é o inferno! Con heceria de perto o desgosto e a tristeza!
— Pode apan har madeira seca para fazermos o fogo? — pergun tou.
— É sim, obrigado.
Por que se pren dia àquela m ulher se não a amava? Ah, se pudesse ficar
com aquele homem, rude e forte! Perto dele James simplesmen te não
existia!
Projeto Revisoras
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
CAPÍTULO VII
Dia após dia, Eve ficava cada vez mais admira da com a destreza de
Wade, até q ue a admiração se transformou numa idolatria alarma nte. Pela
primeira vez viu-se dia nte de um homem da quela natureza.. . Nunca pu dera
supor que um tronco de árvore pu desse servir para a construção de uma
canoa.
Eve não estava disposta a aceitar esse futuro. E se tivesse que dizer
adeus a Wade, como ia esq uecer os momentos incríveis q ue passou a seu
lado em plena selva? De vez em qu ando recordava o primeiro encontro com
ele, tão duro e impiedoso, e o modo com que con duzira as missionárias
através da vegetação até chegarem ao ba ngalô. Não sentiu nada por ele, a
não ser antipatia .
Eve con tinuav a a divagar. Às vezes parecia que pensava e amava como
a heroína de um romance român tico. Nunca acreditou nesse tipo de amor,
mas agora tin ha descoberto que ele de fato existia. Mas procurou guar dá-lo,
escondê-lo. Por isso se comportava, ou se esforçava para se comportar,
como um rapaz, n unca se q ueixando do calor enerva nte, sempre às ordens
de Wade, como um solda do a seu coman do. Isso o deixava contente, mas às
vezes Eve not ava uma certa preocupação em seu rosto ao fazer brincadeiras
sobre seu estado físico. Ela tin ha emagrecido bastante com a dieta de peixe,
frutas e a constan te tensão, o consta nte estado de alerta para qual quer
sinal de perigo.
Não sabiam se Tan ga tin ha caído nas mãos dos rebeldes, e cada
quilômetro percorrido os levava para mais perto do destino.
Quando surgiam águas mais calmas, Wade passava-lhe o remo por uns
insta ntes. Era um modo de fazê-la se exercitar.
Quando olhava para ele, porém, sabia que tin ha de ser tu do ou na da.
Não poderia entregar-se a ele e depois desistir de t udo com um sorriso doce
de sacrifício. Mas se não soubesse o que era estar em seus braços é claro
que conseguiria suportar uma separação. Foi difícil perceber isso, ainda
mais que ansiava por beijá-lo de novo, ser acariciada por suas mãos, sentir
seu corpo contra o dele...
— Suas mãos estão doen do? — pergun tou Wade de repente, enqua nto
remava.
Eve olho u para elas e sorriu. Estav am queima das, sujas e com as u nhas
quebradas. Peq uenos calos começavam a aparecer.
— Acho q ue ain da estão por aqui. E nq uanto houver quem precise delas,
continuarão se arriscando.
Eve não quis contestá-lo dizen do que estava engana do e que resistiria à
imposição do t utor. Talvez entrasse para um convento è depois retornasse à
África, para trabalhar com a irmã Mercy o resto de sua vida . Por que não?
Parecia-lhe mais acertado do que viver ao lado de um homem que não
amava .
— Não vou rir, não — replicou Eve, passeando os olhos pelo corpo de
Wade até se deter nos ombros rígidos. — Sabe, andei pensan do em entrar
n uma missão...
— Sim, mas não tem nada a ver com você — disse ele em tom de
desprezo.
— Ora, Eve. Pare com essas bo bagens. Não é a sua e você sabe
perfeita mente disso. Esq ueça esse absurdo e faça aquilo que o desti no
manda.
— E o q ue é que ele man da? Sair de u m baile de debu tan tes para entrar
n uma casa cheia de crianças, com uma cozinha coman dada por um
cozinheiro eficiente, q ue vai me expulsar de lá o tempo todo!
— Seu destino não é esse. Você é bastan te inteligente para não aceitar
um casamento desse tipo. Procure alguém a q uem ame de verda de, mesmo
que seja um homem pobre. Assim vai aprender logo a fritar um ovo.
— Mais uma vez, obriga da. Imagino que esteja fazen do esse discurso
porque estamos próximos de Tanga .
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Aceitou, Eve. Aman hã tomará um avião que a levará para casa. Quer
dizer, se tudo correr bem e se Tang a estiver em paz.
— E se não estiver?
Eve estava agitada e sentiu uma dor profun da q ue vinha de den tro do
peito. Era como se os laços q ue a uniam a Wade começassem a se romper...
Ele alimentou o fogo enq uanto Eve assava o peixe tem peran do com
limão e cortava um pepino em fatias. Comeram coco como sobremesa.
E nquanto tra balhava, ela não po dia deixar de comparar Wade a um tipo de
homem como o seu tutor, que tinha a idade de Wade e q ue, no entan to, era
frágil e dependia demais dos outros. Morreria de fome na selva, perderia a
cabeça e não saberia disting uir um vespeiro de uma fruta. Homens como ele
sentiam-se importantes atrás de um a mesa de escritório e consideravam
Wade um bárbaro selvagem. Um bár baro adorável, pensou ela, q ue valia mil
homens daq ueles que estava para encontrar em Londres. Como explicaria
tudo aquilo a seu tu tor que a tinha educado, q ue a tinha permiti do viajar
para o exterior para ama durecer, para se preparar para um bom casamento?
Como convencê-lo de que não se casaria com o homem escolhido por ele?
Oh, não ! Voltariam a discutir, e tin ha o pressentimento de q ue da próxima
vez não suportaria e estouraria em lágrimas. E, na verda de, estaria
chorando pelo homem que tin ha deixado na África.
Junto à clareira em que acamp aram, muito próximo deles, um papa gaio
parecia observá-los. Moveu-se para a pon ta do gal ho e emitiu um som que
soou como: "Jantar... jantar" !
— Nosso jan tar... — Eve murm urou. — É uma pena que as batatas
tenham acabado. Eram deliciosas.
— Em pouco tempo você estará janta ndo n um resta urante m uito chique,
saboreando um prato finíssimo.
— Como pode ter ta nta certeza de que vou retomar a minha vida
anterior? — pergu ntou ela, sentada ao lado do fogo segura ndo os joelhos
com os braços.
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Devo entender isso como um elogio? — pergu ntou ela, mastiga ndo a
barra e bebendo u m gole q uente de uma bebida q ue Wade fez com sementes
silvestres torradas e moídas entre d uas pedras. — Você não come?
sempre considerados heróis, pensou ela. Não era a primeira vez q ue isso
acontecia a Wade, mas a ela sim. E Eve começou a vislu mbrar um futuro
terrível... Seria absolu tamente necessário esquecê-lo!
— Há muitos anos que levo esta vida — respon deu ele, atiran do o toco
de cigarro dentro do fogo. — Quando estiver velho e decrépito, talvez me
ofereçam um leito num hospital.
— Oh, Wade! — exclamou Eve, com um lamen to que não pôde evitar. —
Sinto vontade de chorar q uan do fala assim... como se sua família...
— Está bem, está bem. É uma brincadeira. Vamos nad ar? A lua está
linda e sinto vontade de mergulh ar... uma espécie de despedida pagã à
na tureza. Está disposta ?
Eve não esperou um segu ndo convite. Apan haram a toalha, o sabonete
e o rifle e caminharam em direção ao rio, cujas ág uas cintilavam sob o luar.
— Vamos lá, sedutora — disse Wade num tom de voz malicioso. Eve foi
para trás de um a árvore e se desn udou . Pend urou cuidadosamente as
roupas num gal ho e correu para dentro da ág ua.
Quando seus dedos tocaram Wade, percebeu que o corpo dele vibrou. ..
Ele deu um a cambalhota, o corpo prateado sob a luz da lua. Seus cabelos
roçaram o corpo dela embaixo d' água . Depois seus braços a envolveram...
Era inacreditavelmente sensual! Sentiu-se fora de órbita qua ndo as mãos de
Wade deslizaram pelas curvas de seu corpo.
— Não é preciso fazer sexo com você para que se lembre de mim.—
Tomou-a então nos braços, saiu da ág ua e colocou-a de pé na margem do
rio. Deu-lhe uma leve palmada nas nádegas e acrescentou: — Pare de
ba ncar a fácil e comporte-se. Pela primeira vez na minha vida inglória, agi
com você como um cavalheiro. Não q uero estragar tu do.
— Sei o q ue quer dizer... — respon deu ela com a voz rouca. — Estou
pronta para enfrentar as consequências!
— Não diga boba gens! É apenas um pouco mais velha q ue meu Larry,
uma menini nha com uma longa vida pela frente. Acha que vou estragar a
sua vida ? A minha foi dura e me fez d uro. Fiz coisas que não ouso contar.
Mas nunca ab usei de uma menina, e estouraria os miolos de q uem o fizesse.
Sabe do que sou capaz, Eve, não sabe? Pois então ponha a rou pa e faça com
que meu san gue pare de ferver!
fogo que pareciam acender ain da mais o amor q ue crescia dentro dela pondo
fim a seu recato, a seu org ulho. Estremeceu ao ter certeza de que nem
mesmo agora conseguiria vencer a inflexibilidade de Wade. Ele apertava
seus pulsos com força e seus olhos brilhavam cheios de sensualidade.
Ele a soltou... O tempo pareceu parar! Wade olhou fixamente para ela à
espera de um movimento. A emoção latejava entre eles tal q ual a selva com
seus exóticos perfumes...
Quando foi apan har a toalha, que tin ha atirado sobre u m arbusto,
sentiu uma dor no polegar. Um espin ho penetrou-lhe o dedo, espetan do-a
até a unha. A dor foi tão agu da que ela não consegui u evitar as lágrimas.
— Estou com sede — respondeu ela, sabendo que não dormiria para
ficar pensando nele.
Sento u-se e contemplou o fogo. Era bem melhor que fossem corteses
um com o outro e evitassem todo conta to pessoal. Não se importa va por ter
posto de lado o org ulho e revelado o q ue sentia por ele. Mas de algum modo
precisava encontrar coragem para se afastar dele quan do chegasse o
momento. Mas agora não tinh a a menor força, pois ao menor sinal de
simpatia ela cairia em pran to, o que o deixaria exasperado. Homens como
ele odiavam as lágrimas, e não queria que Wade guardasse dela essa
imagem sentimentalóide.
Eve ficou tensa. Wade levantou- se, virou a cabeça para o lado de onde
veio o ruído e manteve-se atento. O coração de Eve pulsou mais forte e o
cheiro penetrante da fumaça do fogo entrou em suas nari nas. Wade apanhou
o rifle e moveu-se sem fazer o menor ruído. Ergueu a arma e preparou-a.
Com passos leves, andou em direção à mata . Eve qu ase lhe disse para não
ir, mas conteve-se, tão aten ta q uanto ele.
— Não é nada — disse Wade despreocu pado. — Não senti cheiro nem de
ga to. Talvez ten ha sido um porco selvagem.
Eve não pôde dizer nada . Cerrou os dentes e não conseguiu relaxar.
Wade inclinou-se e pôs um a das mãos no ombro dela. O corpo de Eve vibrou
inteiro!
— Escu te aqui, não fiq ue assim tão nervosa só por causa de um porco.
— Mas e se fosse uma pessoa? Como pode ter certeza de que era um
porco? Nós podemos estar cercados por dezenas deles!
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Pare! Não continue.. . — Ela abraçou-o com força. — Não fale comigo
como se fosse uma colegial que ainda não cresceu. Se não cresci antes de
encontrá-lo, saiba que isso acaba de acontecer. E como isso dói, Wade,
como dói!
Mais tarde, dormindo de costas para ele, Eve deixou que as lágrimas
rolassem silenciosamen te. E a dor? Diminuiria mesmo quan do voltasse para
a Ingla terra? O corpo e a voz de Wade desapareceriam grad ualmente de sua
memória? Ele era casado e ela é quem precisava se afastar, mesmo sabendo
que não amava sua mul her. Esse era o único consolo de Eve.
Ela acordou logo que aman heceu com uma dor ag uda na mão. Sentou-
se na manta e olhou para Wade que dormia de bruços, o rifle preso na mão
direita. Era vulnerável apenas naquele estado. Eve examinou-o por um
longo tempo. Era a última vez q ue ao acordar ele estaria dormindo ao lado
dela. Amava esse ru de mercenário q ue soube tratá- la com cavalheirismo e
de quem se lembraria com carin ho pelo resto da vida.
Não, não contaria a ele, pois já o tinha aborrecido demais. Aquele era o
último dia e sabia q ue Wade estava ansioso por chegar a Tan ga antes do
anoitecer. Queria livrar-se dela. Mas quase q ue torcia para que Tanga
estivesse sob o ju go dos rebeldes, pois assim permaneceria mais algum
tempo com o homem que amava.
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Deve comer alg uma coisa. Depois que entrarmos na canoa não
faremos mais nenh uma para da.
Ele concordou mas era visível sua preocupação, enqua nto comia o
peixe. Arrum aram as coisas e carregaram, a canoa. Eve sentou-se no banco
e pôs na cabeça o chapéu que ele lhe fez com palha e folhas secas. Estava
mal feito, mas servia para sombrear o rosto. Ainda tin ha a van tagem de
proteger os olhos, escon dendo assim as emoções q ue porventura se
estampassem neles. Wade remava energicamente. A camisa tinha
desbotado, e o tecido se desgastara.
Naquele dia Wade não lhe passaria o remo, e ela também não o pediria,
pois sua mão esquerda estava em péssimo estado. A dor começava a subir
até o pulso. O calor pesava sobre seus ombros como se levasse u m fardo.
Era por volta do meio-dia qua ndo sentiu sua cabeça mais leve. Quando
Wade lhe falava, a voz parecia vir do outro lado do rio. A garga nta estava
seca. Tento u pegar o cantil mas ele escorregou de suas mãos. Atrap alhada ,
estendeu o braço e até alcançá-lo agitou-se como se mal soubesse onde
estava. Seus lábios tremeram ao tocarem a boca do cantil para beber a
água. Eve tra nspirava demais.
O coração começou então a bater descomp assada mente e ela senti u que
ia desmaiar. Oh, Deus, será q ue estava com febre? Era possível. Não, não
podia ser, pois justamen te hoje Wade pretendia chegar a Tan ga para livrar-
se dela de uma vez por todas.
Ela tinha que disfarçar aquele mal-estar. Não queria mais incomodá- lo.
— Está se senti ndo bem, Eve? — perg un tou Wade e de novo sua voz
pareceu vir de m uito lon ge.
Eve não se lembrava do major Wade O'M ara, e por um bom tempo não
se lembraria.. . Selva, febre, tra uma, cansaço... Estava ali deita da e tinha a
impressão de que se recuperava de uma doença de infância. A enfermeira
que entrava e saía do q uarto de paredes altas não fez o menor esforço para
que ela compreendesse que estava ali há cinco semanas, desde que a
retiraram do último avião a deixar Tanga, antes que a cida de fosse
devasta da pelas forças rebeldes.
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CAPÍTULO VIII
— Com prazer!
Juntou- se a ela fora da qua dra e camin haram lado a lado pelo gramado
em direção a Lakeside, uma das casas mais elega ntes e agra dáveis naquela
parte de Essex. Nos fun dos da casa de telhado vermelho, havia um lago e
um mirante, e um jardim com rosas de todas as cores.
Estavam no verão, um dos mais quen tes que a In glaterra já con hecera,
por isso Eve jogava tênis com mais freq uência, ten do sempre um ou dois
amigos como parceiros.
— Eve, é inacredit ável! Mais ainda é o jeito como joga tênis! Chego a
duvidar que tenha q uase perdi do o braço. Seus braços são lindos!
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
vezes chegou a discutir com seu tutor sobre o modo com q ue o país vinha
sendo governado.
— É difícil sufocar uma rebelião depois que estoura — tin ha dito numa
certa noite. — Isso poderia acontecer na In glaterra, assim como aconteceu
em outros países.
Eve sorriu consigo mesma ao notar o olhar que seu tutor lançou sobre o
estuda nte de medicina . Depois que cedeu à insistência de Eve em recusar o
casamento com James, Derringto n começou a ver u m possível noivo em cada
jovem que visitava La keside. Há dezoito meses atrás alarmou-se com a
doença de Eve e desde então ficou menos au toritário. Eve era t udo o que
ele tinha. C harles Derrington n unca preten deu se casar, e desde aq ueles
dias e noites de febre alta e dor sua afeição por Eve pareceu au mentar.
Larry contin uou movendo seu polegar contra a pele da mão de Eve.
Com firmeza, mas sem agressivida de, ela afastou-se dele. Gostava de Larry
e senti u prazer ao conhecê-lo no baile do St. Saviour, onde trabalha va como
auxiliar de enfermagem, mas não o amava... Não sabia porque, mas não
sentia vonta de de se apaixonar. Queria apenas ser útil e desfru tar as horas
de descanso com compa nhias agra dáveis.
— Está ótimo, Hilda — disse ela à criada. Havia san duíches de pepi no,
bolinhos e torta de morango. — Obriga da.
— Ca da vez que ven ho a Lakeside me sinto volta ndo aos anos 30. Acho
que foi nessa época que seu tutor resolveu parar o relógio.
— Veio de Cou nty Mayo e ainda tem sotaq ue. Guard a uma mistura do
charme e do tem peramen to enérgico dos irlandeses. Acho que ten ho um
pouco disso ta mbém, pois adoro uma discussão com seu t utor.
— Deve ter sido assustador! O que a levou a ir para lá? Sabia que a
região estava cont urbada politicamen te, não sabia?
— Sim... Foi por causa de um homem — respon deu gargalha ndo. — Não
queria me casar com ele e então fu gi. Não é engraçado?
— Não queria porque não o amava , é isso? Você precisa amar e ser
ama da, loucamente.
— Você fala com muita amar gura! Fala por experiência própria?
— Não sei — respon deu ela. — Desde que fiquei doente minha memória
tem falha do. E por isso que às vezes me pergun to se é possível esquecer um
amor, se ele foi vivido. Que acha disso?
— Se o amor só lhe trouxe dor, então deve ser esquecido. Não terá sido
assim?
— Tem razão, talvez tenha sido assim. É provável que eu não tenha
sido correspon dida. Mas de qualq uer maneira é irrita nte não poder me
lembrar.
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— Estou fazendo o trabal ho que sempre desejei fazer e tive uma sorte
tremenda em conhecer você. Está sempre me convida ndo para vir a
Lakeside e agora quero lhe convidar para conhecer min ha família. Moramos
perto de Regent's Gate, em Londres, e eles vão ficar conten tes em conhecê-
la.
— Diga que virá comigo — insistiu Larry. — Olhe, no domingo que vem
vou ter a tarde livre. Será um passeio gostoso, se fizer um tempo como o de
hoje. Sabe, meu carro não é muito ruim. Comprei-o com um dinheiro que
ga nhei de aniversário e q ue me foi manda do diretamente do Marrocos.
Ele fez que sim e seus olhos se encheram de um orgul ho adolescen te.
— Acho q ue vou adorar conhecer sua família, Larry — Eve disse, como
se de repente tivesse tomado outra decisão. — Quero conhecer seus pais,
sempre me senti fascinad a pelos condu tores de trem.
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— Uma combin ação in teressan te — disse ela com meig uice. Num
impulso, tomou a mão de Larry, mas retrocedeu qua ndo ele fez menção de
beijá-la. Eve meneou a cabeça.
— Não devemos misturar sentimentos, Larry. Por enq uan to, somos
apenas amigos.
— Nenh uma se ig uala a você — disse ele. — Você tem algo diferente,
um ar de mistério, que me fascina.
Eve riu, levantou-se e foi até o piano. Tocou uma música que pareceu
surgir de um passado esquecido... Eve não sabia por que essa música a
perseguia. Deu um sorriso e passou a tocar uma música moderna. Voltou-se
então para Larry e disse:
Ela virou-se para Larry e noto u que o cabelo lhe caía na testa. Alguma
coisa no rosto dele a intrigava !
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
Sobreveio um silêncio profu ndo. Eve passou a esmo pelo jardim, onde
as rosas luziam sob a luz do sol. Senti u uma leve depressão. O aroma das
flores parecia q ue acrescenta va um sentimento de... não, não sabia de que
sentimento se tra tava. Deteve-se, tocou u ma rosa e as pétalas começaram a
cair. Contemplou as pétalas caídas. O amor se parecia com elas, pensou.
Por instantes brilha e depois se perde na memória.
Perambulou pelo lago, que refletia um céu avermelha do, pois o sol
declinava. Encostou-se contra uma árvore e esfregou o indicador sobre a
cicatriz do polegar.
Queria trazer à memória o que lhe tinh a acon tecido na África, pois tudo
o que sabia tinha sido dito pelo tu tor, informado pelos tripulan tes do avião
que a trouxe para a I nglaterra. Um solda do a tinha carrega do pelas ruas
incendiadas de Tan ga e depois de colocá-la a salvo den tro do avião
desapareceu. Ele ha via prendido um bilhete à camisa dela, com seu nome e
endereço. Nada mais sabia a respeito dele. Gostaria de encontrá-lo de novo
para poder agradecer-lhe. Quan do procurou entrar em conta to com a irmã
Mercy e as demais missionárias, foi informada de q ue tin ham morrido com a
explosão de um a bomba na missão em Tanga.
Por que, Eve pergu ntou-se com os olhos fixos nas ág uas do lago, a
bondade e a solidariedade tin ham de ser retribuídas com tant a cruelda de?
Ou seria verdade q ue os puros de espírito encon travam sua recompensa
depois da morte? Deveria ser verda de, mas talvez o soldado desconhecido
ainda estivesse vivo...
— Eve, até q ue enfim apareceu. Onde estava? Joga ndo tênis? E ntre e
cumprimente Stephen Carlisle, que veio de Nova York para comprar uns
quadros na galeria Christie. Já conhece Tyler, naturalmen te.
— Olá, Tyler — disse ela, sorrindo para um dos mais velhos amigos de
C harles e, em segui da, cumprimentou o americano, q ue não ficou insensível
a sua beleza.
— Encanta do, srta. Derring ton. E se digo encanta do, q uero dizer
exatamente isso.
Charles gargal hou e ao dar uma baforada, estam pou-se em seu rosto
uma expressão de satisfação. Ah, pensou Eve, o americano deve ser rico e
C harles tem suas pretensões... Mas não daria certo, pois decidiu q ue se
tivesse que amar, melhor seria deixar que a amizade com Larry Mitchell
evoluísse para uma aproximação maior. Larry a intri gava... Quanto mais o
via, mais se sentia atraída por ele. Claro q ue preferiria q ue fosse mais
velho, mas tinh am tempo de sobra pela frente e ela tin ha certeza q ue seria
uma boa companheira para ele.
Stephen Carlisle era um tipo de homem que olhava uma mul her como
olhava os qua dros q ue comprava , isto é, um objeto para ser possuí do e
admira do, mas cujas opiniões seriam totalmente ignora das.
Eve puxo u a mão com firmeza e noto u que ele franziu a testa. Estava
claro o que ele era: arroga nte, mal-humorado e certo de que o dinheiro o
tomava atraente.
— Devo descul pas por não poder jantar com os senhores — disse ela a
C harles. — Tenho um encontro no Beach Club.
— Não pode adiá-lo? Se for com Larry Mi tchell, ten ho certeza de que
ele a entenderá.
— Meu querido C harles — disse ela rindo —, quem o ouve falar assim
vai pensar q ue andei atrás de todos os avós da região! Larry é um rapaz...
Eve esperou pela resposta, para da na soleira da porta , o rosto pega ndo
fogo, os olhos desafiadores. Durante mui to tempo não precisara agir assim.
Mas naquele momen to C harles contava com Carlisle e tinha a intenção de
impressioná-lo.
— Muito bem.
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— Mas não posso falhar com Larry no domin go — disse ela. — Vou
almoçar com os pais dele, pois ten ho muita vontade de conhecê-los.
Eve tomou um ban ho e enq uanto se vestia procurou uma resposta para
o mistério. Era horrível ter um vazio na memória e sentir que era vital
preenchê-lo!
Eve levou as mãos ao rosto ao ouvir aq uela frase perturba dora q ue não
sabia de onde vin ha!
Mas tudo que viu foi seu q uarto decorado com bom gosto: a cama de
dossel, as espreguiçadeiras acolchoad as, a estan te de livros que ocu pava
dois ângulos da parede e as janelas altas forradas com cortinas de brocado
que iam até o chão carpetado.
Um quarto encant ador e tra nquiliza nte, onde apenas dois homens
entraram, seu t utor e o médico. O fantasma que a atormentava não tinha
nenhuma relação com ele, com a casa ou qual quer lugar de La keside.
Desceu para a sala de ja ntar e jun tou-se aos três homens. Escutou
polidamente a conversa e ignorou as insinuações q ue os olhos de Carlisle
deixavam transp arecer. Comeram lagostas recheadas com cebola, cogumelo,
e queijo ralado, como entrada , depois galinha defuma da com melão e
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— Uma refeição excelen te, sr. Derrin gton! — comentou Carlisle. Devia
estar estufa do de tanto comer, pensou Eve.
Eve desejou fu gir e adia ntou-se. Mas antes que chegasse à porta a mão
de Stephen Carlisle segurou-lhe o cotovelo. Eve correria o risco de parecer
indelicada, caso tentasse escapar, por isso não esboçou nenhu m gesto de
recusa.
— Não vai precisar de um agasalho, não é?— perg un tou ele. — A noite
está quente e você iria tirar-me o prazer de admirar u m vestido tão bonito.
— Isso deve deixá-lo org ulhoso! — exclamou ela. — Mas acontece que
conheço um rapaz q ue dá d uro para sobreviver e que não gostaria nem um
pouco que eu desse a impressão de que estou livre.
— Seus olhos soltam faíscas qua ndo se irrita — murm urou ele. —
Parece engraçado, mas não gostaria de tê-la em meus braços
imediatamen te. Quando u m homem é rico, sabe, não lhe faltam mulheres...
Eve, você me intrig a. De fato, deixou claro que prefere um médico pobretão
a um homem de recursos consideráveis... O que é você? Uma mulher
romântica?
Eve abriu a porta do armário no vestíb ulo onde guar davam agasalhos.
Procurava pela capa de veludo negro com capu z e enq uan to o fazia senti u
que Stephen Carlisle a observava com olhos maliciosos. Envolveu-se com a
capa e cobriu a cabeça com o capu z.
Eve ignorou a pergu nta com desdém e dirigiu- se para a pequen a escada
circular que cond uzia ao mirante. Abriu a porta de vidro que dava para o
mirante e parou no para peito curvo.
— Seu t utor tem razão qua ndo fala do lago — disse ele. — É uma
pintura que jamais seria fielmente transposta para uma tela. Eve, di ga-me
uma coisa, ele nu nca se interessou em mandar retratá-la?
— Mas que tolice! Meu roma ntismo não chega a tal pon to, sr. Carlisle.
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
Eve senti u uma ponta da repen tina no coração. Por q ue aquelas palavras
lhe soavam tão familiares? Cabelos de raposa... Não, não era a primeira vez
que ouvia aquilo de um homem!
— Nenh um laço?
Puxou- a para si abr upta mente e ten tou forçá-la a beijá-lo, mas Eve
baixou a cabeça e os lábios dele tocaram o veludo do cap uz. Não o olhou,
mas ouviu-o se q ueixar.
— Deixe-me ir, sr. Carlisle, caso contrário vou gritar, vou con tar a meu
tutor que tento u me violentar! Nossas leis ainda são severas, principalmente
quando a vítima está sob a t utela de um magistra do importante!
— Você tem a líng ua bem afiada ! Precisa ser domada , este é seu
problema. Foi por isso que perdeu o primeiro homem e depois se envolveu
com esse rapazote? Fica assustada qua ndo um homem demonstra sua força!
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Qualq uer bruta montes pode fazê-lo! Quando uma mulher deseja ser
beijada , chega até mesmo a aceitar a força predominante do homem.. .
Seus olhos brilharam ao lembrar-se dos dias em que teve de lut ar para
não se casar com James. Oh, Deus, pensou ela exausta , como a gente se
enga na com aqueles que se dizem apaixona dos! Eve senti u q ue nem mesmo
seu tutor se importava realmen te com ela!
Com a porta fecha da, andou pelo quar to e por fim deitou-se, o rosto
enterrado no travesseiro. Não chorou, mas sentiu- se fraca e desam parada.
Queria amar, recuperar o amor perdido no outro lado do mun do, no outro
lado do paraíso. Sabia q ue tinha amado um homem ap aixonadamen te e que
jamais tornaria a vê-lo. Um homem q ue tinha cuidado dela e q ue se
importava com ela mais do que qual quer outra coisa. Apertou a colcha da
cama e concluiu que nin guém no mu ndo conseguiria amá-la sem egoísmo!
Como se chamav a? Oh, meu Deus! Por que não consigo me lembrar de seu
nome? Ou de como era? Só sei que me amou!
Sento u-se e pela janela aberta viu o luar. Seu coração ba tia acelerado.
Começou a ver as chamas que consumiam a cidade, ouviu os disparos
ininterruptos, sentiu a pressão dos braços do soldado que a carrego u pelas
ruas até o aeroporto. Um solda do inflexível e duro, disseram-lhe, que a
deixou aos cuidados das aeromoças e depois desapareceu.
Sim, ele estava morto. Não fosse assim, já a teria procurado, Eve
estava certa disso! Lá grimas quentes rolaram de seus olhos.
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Por que não morri com ele? — soluçou. — Por q ue fiq uei sozinha ?
— Eve, quem era esse homem? Por q ue não me falou nele antes?
— Se estivesse na g uerra, Charles, você tam bém não seria tosco, rude
ou como queira chamá-lo?
— Eve, você é jovem ainda e não deve falar desse jeito. Existe a
possibilidade de revê-lo, se não estiver morto. Aposto que q uan do o vir de
novo perceberá q ue as circu nstâncias perigosas da selva tornara m-no,
digamos, especial, como uma espécie de cavaleiro corajoso que se propôs a
salvá-la. A g uerra provoca tais sentimen tos nas pessoas. Ela engran dece as
emoções.
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Moram em Londres?
— Sim. Sua mãe nasceu em Coun ty Mayo. Pelo jeito, são pessoas
maravilhosas.
— Nunca mais?
— Nunca mais. Mas é uma pena que não seja o seu ti po. Ele tem
gra ndes proprieda des...
— Mas já experimentei.
Falou com um tom de voz tão baixo q ue Charles não pôde ouvi-la.
— Bom, Eve — disse ele, bocejan do — boa noite. Descanse, pois está
precisando. Amanhã cedo se sentirá mais disposta . Os fant asmas rondam
apenas à noite!
Eve concordo u com ele. Ao ter-se sozin ha, ficou sent ada na beirada da
cama, tenta ndo visualizar uma coisa q ue jamais se realizaria: o amor que
tinha conhecido na África. Estav a perdido em sua memória, mas algu m dia
se lembraria dele em todos seus detalhes, era o q ue lhe dizia o coração.
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CAPÍTULO IX
— Por isso é que gosto de carro conversível. Odeio ficar fechado. Você
não?
— É asfixiante!
— Farei t udo que pedir — disse ele sorrin do. — Mas queria dizer que,
não importa o q ue tenha feito, não importa que possa me ferir, pois sempre
sentirei um amor muito especial por você. Mesmo q ue nu nca a tenha , estará
sempre presente em meu coração.
Chegaram a casa dos pais de Larry an tes da uma hora. Sua mãe já os
esperava à porta.
— Mam ãe, esta é Eve. — Larry apresen tou-a. Seu rosto estava corado e
os cabelos em desalinho. Seu orgul ho era tão eviden te, q ue Eve não se
surpreendeu qua ndo a sra. Mi tchell olho u-a com ar de inda gação. Era a mãe
que de repente percebia que o filho se tomara um homem e que se
interessava impet uosamen te por uma mul her.
Ao esten der a mão para cumprimentá-la, Eve percebeu que sua mão
causou algum espanto a sra. Mi tchell como se ela esperasse por mãos
delicadas e bem trat adas.
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— Larry não lhe con tou que tra balho no mesmo hospital que ele? Sou
auxiliar de enfermagem.
— É muito acolhedora — respon deu Eve com sincerida de. — Oh, vejo
que tem um piano. Toca, sra. Mitchell?
Ela indicou o sofá. E nq uanto se senta va, Eve pressenti u o olhar da sra.
Mitc hell passean do pelo seu corpo. Estaria muito sofisticada? Como poderia
explicar-lhe que não a visitava como fut ura nora e sim como amiga de
Larry? Estav a pa tente que a sra. Mitchell a considerava compromissada com
o filho, e Eve sentiu necessidade de alertá-la para o fato.
— Faz muito bem a Larry ir a Lakeside. Pode usar a nossa qua dra de
tênis e assim se distrair um pouco, longe dos estudos e do tra balho duro de
todo dia. Além disso, se mantém em forma, não é? Deve se orgulhar dele,
sra. Mitchell. Charles e ele sempre jogam bilhar, ele lhe con tou? Dão-se
mui to bem. Aliás, somos gran des amigos.
— Não precisa se preocu par com ele — asseg urou-lhe. — Larry tem a
cabeça no lugar. Ten ho certeza de q ue vencerá, porque tem força de
vontade e determinação.
Eve olhou para ele e por uns insta ntes d uvidou que con hecesse
realmente sua personalida de. Que havia nele que lhe despertava a certeza
de que era forte, de q ue apreciaria os desafios e enfrentaria as
adversidades? Parecia-lhe tão jovem, ali sentado no ba nco do piano, com as
pernas esticadas e o corpo solto!
— Onde está o papai ? — pergun tou ele. — Não foi trabalhar, foi? Queria
que Eve o conhecesse.
— Foi uma ótima surpresa. Abri a porta e dei de cara com ele, forte,
moreno como um árabe! E trás boas notícias do advo gado!
— Minha mãe refere-se a meu tio... aq uele de quem lhe falei, que
cultiva frutas cítricas à beira do deserto. Faremos uma gran de festa. Ele vai
ficar para almoçar com a gente?
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Bianca 13 - Do outro lado do paraíso – Violet Winspear
— Mas é claro! Não resiste a minha comida. Oh, mas ele tem boas
notícias. O advogado confirmou q ue agora ele está absolutamen te livre
da quela mulher com q uem se casou. Parece que há u ns dez anos ela foi para
Las Vegas trabalhar. Lá conseguiu um divórcio e casou de novo. Três anos
mais tar de, q uan do tin ha uns trinta anos, fez u ma daquelas operações para
ficar mais jovem e se não me enga no horas depois morreu de uma embolia.
A m udança de nome é que atrapalhou o advogado. Mas agora deu t udo certo
e seu tio decidiu q ue vai fazer a maior farra aq ui em Londres.
— A senhorita me desculpe por estar falando desse jeito, mas todos nós
gostamos muito dele. Como ele nu nca mais viu aquela mulher, n unca teve
certeza se... bom, a senhorita sabe como são as coisas. É u m homem muito
jovial e agora está cuida ndo de uma fazen da. Acho que vai q uerer se casar
de novo... O primeiro casamento foi um desastre! Casou-se com uma mulher
infiel, incapaz de amar. Meu irmão não merecia isso.
— Ima gino — disse E ve. — Mas por que a senhora não me chama
simplesmente de Eve? Ficaríamos mais à von tade.
— Aceita uma xícara de chá, Eve? — perg unto u ela. — Ou prefere café?
— Não, não. — E ve riu. — Mas acho que me faz mal porq ue bebo café
com as rosquin has da canti na do hospital.
— Onde dói? — pergun tou Larry, inclina ndo-se sobre ela. — Mostre-me
onde dói.
— Seu bobo, não dói na da. É que estou sempre m uito tensa, nervosa,
como todo mun do. Estou em plena forma, Larry.
— Antes fosse assim! Mas deixa eu olhar você direito, rapaz. Está mais
magro e também um pouco bronzeado!
A voz aclarou tu do, girou a chave e libertou suas lembranças, cada uma
delas, em seus mínimos detalhes. Aos poucos, foi se levantan do e os olhos
deram com aquele corpo e aq uele rosto inconfu ndíveis. Wade O'Mara, irmão
de Moira Mitchell, a q uem Larry chamava de mãe.
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— Olá — Wade disse, suavemente. — E a jovem deb utan te, como tem
passado?
Ele caminhou em direção a ela, como se não existisse mais ning uém no
mundo. As paredes daq uela casa em Lon dres desaba vam ao redor de Eve.
Pôde sentir o aroma de selva e ouvir o can to dos pássaros e o ruído da água
chocando-se contra as pedras do leito do rio...
— Eve!
— Minha adorável e sedutora Eve! Pensou alg uma vez q ue nos veríamos
de novo? Sentiu sauda des minhas tan to q uanto senti de você? — Os olhos
de Wade brilhavam . — En tão, é assim q ue você é, minha garota, longe da
selva, sem as san dálias grandes e a camisa verde rasgad a... Gosto de
lembrar de você naq ueles dias. Foi um retrato que carreg uei esse tempo
todo.. .
— Oh, Wade, por que ficou lon ge de mim por ta nto tempo?
Wade voltou- se para o filho, o filho que não sabia q ue aquele homem
alto, de olhos acinzen tados, era seu pai, embora se parecessem muito.
— Amo esta moça — disse ele com simplicida de. — Uma moça adorável,
Larry. Não posso oferecer-lhe mais que um casamento. Durante anos não
tive notícias de minha mul her, e não sabia se estava viva ou morta.
Demorou muito para saber, e agora...
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— Mais feliz do que n unca. M as será que ao acordar você não terá
parti do?
— É o que pretendo. Não vou deixá-la nunca mais. Da última vez doeu
mui to!
Naquele momento, a sra. Mitchell entrou com a ban deja de chá segui da
de um homem magro e bem-h umorado.
Mais tarde, Moira Mitchell con tou a Eve q ue enquan to Wade estava na
Malásia sua esposa recusou o filho. Quan do Wade voltou à Ingla terra, se
separou dela, consegui u a custódia do filho e deixou-o aos cuida dos dela e
do marido. Pareceu-lhes melhor dar ao garoto o nome Mitchell e fazê-lo
acredi tar que eram seus pais. Os anos foram-se passando, até q ue chegou o
momento dele saber a verdade. Wade discordou . Larry amava e respeitava
sua irmã e seu cun hado q ue, por sua vez, acostum aram-se a chamá-lo de
filho. Wade não fez nada para alterar a situação e assim a vida seg uia seu
curso.
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Ela ficou bem junto dele e correu os dedos pelo rosto bronzeado.
— Não é necessário uma maçã para me deixar sedu zir por você!
Wade inclinou a cabeça de Eve para trás e seus lábios se tocaram num
beijo cuja doçura e avidez ela jamais esqueceria.
FIM
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