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XI Encontro de Estudos Organizacionais da ANPAD - EnEO 2022

On-line - 26 - 27 de mai de 2022


2177-2371

As Práticas de Espaço à Luz da Perspectiva Histórica: O Mercado de Ferro da Cidade

Autoria
Luma Louise Sousa Lopes - lumalouise@gmail.com

Ana Silvia Rocha Ipiranga - silvia.ipiranga@uece.br

Vanessa Pereira Pinheiro - vanessa.pereira@aluno.uece.br


PPGA - Programa de Pós-Graduação em Administração / Universidade Estadual do Ceará

Resumo
No campo dos estudos organizacionais, a cidade enquanto espaço de produção e reprodução
do cotidiano vem sendo debatida a partir de diversas lentes. No entanto, algumas pesquisas
não consideram que a história tenha um papel fundamental que possa influenciar o organizar
urbano. Nesse contexto, o objetivo deste artigo é discutir as práticas de espaço do Mercado
de Ferro da cidade de Fortaleza à luz da perspectiva histórica. Para tanto, desenvolvemos
uma pesquisa qualitativa baseada em uma ontoepistemologia processual, cuja estratégia
metodológica foi a etnografia de arquivos. Os principais resultados evidenciaram uma rede
de práticas identificadas como de controle, estéticas e desviantes, que atuaram de forma
entrelaçada para a organização do espaço do Mercado de Ferro da cidade. Concluiu-se que o
organizar da cidade é resultado das práticas constantes de atores que vivem em um equilíbrio
dinâmico, onde espaços e lugares são entrelaçados.
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As Práticas de Espaço à Luz da Perspectiva Histórica: O Mercado de Ferro da Cidade


Resumo
No campo dos estudos organizacionais, a cidade enquanto espaço de produção e reprodução do
cotidiano vem sendo debatida a partir de diversas lentes. No entanto, algumas pesquisas não
consideram que a história tenha um papel fundamental que possa influenciar o organizar
urbano. Nesse contexto, o objetivo deste artigo é discutir as práticas de espaço do Mercado de
Ferro da cidade de Fortaleza à luz da perspectiva histórica. Para tanto, desenvolvemos uma
pesquisa qualitativa baseada em uma ontoepistemologia processual, cuja estratégia
metodológica foi a etnografia de arquivos. Os principais resultados evidenciaram uma rede de
práticas identificadas como de controle, estéticas e desviantes, que atuaram de forma
entrelaçada para a organização do espaço do Mercado de Ferro da cidade. Concluiu-se que o
organizar da cidade é resultado das práticas constantes de atores que vivem em um equilíbrio
dinâmico, onde espaços e lugares são entrelaçados.
Palavras-chave: Prática. Espaço. História. Mercado de Ferro.
1. Introdução
No campo dos Estudos Organizacionais, a cidade enquanto um espaço de produção e
reprodução do cotidiano (Certeau, 2008) vem sendo debatida a partir de diversas lentes. Ao
considerarmos o espaço da cidade enquanto uma malha de práticas que organiza a vida
cotidiana, observamos que essa dinâmica estende a compreensão do espaço para além de uma
perspectiva cartesiana e revela também a mutualidade constitutiva existente entre prática e
espaço (Dale, 2005; Dale & Burrel, 2008; Certeau, 2008; Clegg & Kornberger, 2006).
As práticas podem ser consideradas como um conjunto de modos de fazer que performam
o cotidiano (Certeau, 2008). Na Administração há um número significativo de estudos que
discutem o espaço enquanto um processo organizado resultante da apropriação (e.g. Palhares,
Correia & Carrieri, 2020; Ipiranga & Lopes, 2017); produção (Granzow, 2017; Marins &
Ipiranga, 2017); (re)significação (Coimbra & Saraiva, 2014; Brulon & Peci, 2015; O’Doherty
et al., 2013); (re)constituição e (trans)formação dos espaços (e.g.Munro & Jordan, 2013;
Honorato & Saraiva, 2016; Ipiranga, 2010; Rodrigues & Ichikawa, 2015) pelas práticas. Há
também pesquisas que discutem o simbolismo na compreensão do espaço (e.g Kornberger &
Clegg, 2006; Peltonemm, 2011); espaços como produto das dinâmicas socio materiais (e.g.
Dale, 2005; Panayiotou, 2014; Carr & Hancock, 2006; Pimentel & Carrieri, 2011).
Todavia as discussões traçadas deixam de considerar que as práticas de espaço são
permeadas por múltiplas temporalidades, pressupondo que, de alguma forma, as histórias de
ontem, de hoje e do futuro se entrelaçam e, de forma conectada, são refletidas no organizar
urbano. As práticas de espaço configuram uma série de deslocamentos históricos que “estão
afixados em uma região que o passado organizou e lhes dá um papel determinante para a
construção de um saber esclarecido” (Certeau, 2008, pp. 135) e que são manifestos a partir do
momento em que os atores (re)performam essas práticas.
Nesse sentido, uma interpretação contemporânea do passado ao considerar que a história
observa relações contínuas no tempo, em forma de constelação, onde um fenômeno do passado
coincide com o presente, alcança uma cognoscibilidade (Benjamin, 2006; Snirvas, 2012;
Snirvas & Farias, 2015). O compromisso com a história se revela quando o passado assume
papel de “pathos da proximidade”, constituindo-se numa reviravolta dialética (Benjamin, 2006;
pp. 18).
Embora as discussões que conjuguem história e Administração tenham se proliferado nos
últimos anos (e.g. Rowlinson, 2013; Rowlinson, Hassard & Decker, 2014; Trindade & Costa,
2017; Costa & Pessôa, 2016; Barros & Carrieri, 2015 entre outros), é comum que, em certas
áreas da Administração as pesquisas ainda não possuam um engajamento com a história
(Srnivas & Faria, 2015), especialmente tendo o olhar histórico temporal como conector no
organizar urbano (Petani & Mengis, 2016; Vaujany & Vaast, 2013). Portanto, nosso objetivo é
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discutir as práticas do espaço do Mercado de Ferro da cidade de Fortaleza à luz da perspectiva


histórica. Esta pesquisa contribui ao ampliar a discussão sobre abordagem da prática de espaço,
em uma perspectiva histórica, cuja proposta teórica ainda é negligenciada na sua aplicação e
investigação do cotidiano organizacional e também endossar o esforço de pesquisa que vem
sendo construído com vistas a articular e engajar a dimensão histórica, enquanto discussão
esquecida na compreensão dos processos organizativos existentes (Clark & Rowlinson, 2004;
Üsdiken & Kieser, 2004; Napolitano & Pratten, 2007). A evocação do passado permite resistir
aos efeitos da análise fundamental, muitas vezes exclusiva, que procura descrever o agora de
forma estática (Certeau, 2008).
2. Práticas de espaço à luz da perspectiva histórica
O espaço nos Estudos Organizacionais é discutido de múltiplas formas (Dale & Burrel,
2008). De modo particular, a abordagem socio materialista do espaço (e. g. Beyes & Steyaert,
2011; Dale, 2005; Dale & Burrel; 2008; Vaujany & Mitey, 2013, entre outros) carrega uma
crítica às pesquisas que focalizam o espaço como “ambientes neutros, contêineres fixos, mortos
e imóveis” (Taylor & Spicer, 2007, pp. 325) e defende a existência de um entrelaçamento
constitutivo do social e do material, mediado pela prática, no processo de (re)constituição do
espaço (Certeau, 2008; Ward, 2001).
Para Beyes e Steyaret (2011), o espaço é um processo (spacing) performado por
elementos geradores e transbordantes, não apenas aqueles de natureza concreta (arquitetura,
decoração etc.), mas também as sensíveis, como o tato, a audição, a memória e a narração, que
refletem uma apreensão corpórea do espaço e do cotidiano. Esse entendimento nos propõe uma
reconfiguração de nossas suposições convencionais de materialidade para entender os
múltiplos, emergentes e mutáveis arranjos organizacionais do espaço (Vaujany & Mitey, 2013).
Já a abordagem dada ao espaço por Certeau (2008) está fundamentalmente alicerçada na
noção de prática proposta pelo autor. A prática é compreendida como um proceder da
criatividade cotidiana, pelos quais os usuários constroem e (re)apropriam o lugar organizado
pelas forças dominantes institucionalizadas (Certeau, 2008). Essa interação dinâmica entre
prática e espaço reforça a qualidade fugidia deste, que se transforma conforme as práticas que
o articulam, não admitindo estabilidade ou uma única interpretação (Certeau, 2008).
A dinâmica do processo de praticar o espaço é análoga ao funcionamento de figuras de
linguagem como a sinédoque, o assíndeto, a elipse e a metonímia (Certeau, 2008). O ponto em
comum de todas essas figuras é a alteração de sentido que seu uso provoca no discurso. Nessa
lógica, o praticante seleciona, fragmenta e (trans)forma os lugares e espaços percorridos,
evidenciando suas partes e omitindo outras, “as variações ou as improvisações [da prática]
privilegiam, mudam ou deixam de lado elementos espaciais” (Certeau, 2008, pp. 178)
Nesse contexto, o lugar é uma dimensão caracterizada pela ordem conforme a qual se
distribuem elementos que coexistem, sendo análogo ao espaço disciplinar, entendido a partir de
suas divisões ou elementos que nele estão distribuídos (Kornberger & Clegg, 2004; Certeau,
2008). Fundamentado na noção de estabilidade, no lugar cada coisa possui sua posição (física
e simbólica) e, por conseguinte, não pode ocupar o posicionamento de outra.
Assim, a cidade pode ser concebida como um lugar que é racionalmente organizado pelas
forças dominantes (leia-se, nesse contexto, as instituições públicas que administram a cidade),
pelo uso de uma série de estratégias que limitam ou reduzem a ação dos sujeitos (Certeau, 2008;
Certeau, Jameson & Lovitt, 1980). O propósito dessa organização racional é constituir a cidade
como um sujeito universal e anônimo, organizado por operações teorizadas e classificatórias,
por meio da mescla entre gestão e eliminação. Nesse arcabouço, há uma sistemática rejeição
daquilo que é considerado como embaraço, anormalidade, desvio ou doença, devendo ser
eliminado para garantir a constituição de um sujeito único e comum (Certeau, 2008; Dosse,
2013).
O espaço, por sua vez, é sinônimo de movimento, um lugar praticado, sujeito a
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transformações que os usuários podem imprimir nele e alheio a qualquer tipo de topologia
racionalista (Certeau, 2008). As práticas, na qualidade de ações envolvidas em uma troca
complexa de símbolos, abrem as portas para a ideia de espaço de operações (Ward, 2001). Nesse
sentido, Certeau (2008) defende que o espaço é organizado por práticas, ao invés do primeiro
configurar como uma arena onde as práticas apenas acontecem.
A cidade enquanto espaço desponta como uma arena que revela “movimentos
contraditórios que se combinam fora do poder”, onde inúmeras maneiras de fazer são
constantemente engajadas pelos atores, deslocando o sentido do lugar (Certeau, 2008, pp. 174).
As práticas performam desvios relativos ao sentido denotativo do lugar, geralmente
determinando pelo sistema dominante (no caso da cidade, o sistema urbanístico). Com isso, são
capazes de (re)organizar os significantes do lugar, que são deslocados pelos usos que as pessoas
fazem dele, gerando desvios que (re)arranjam um espaço singular (Certeau, 2008; Benjamin,
2006).
Nesse mote, o organizar da cidade é fruto de um processo constante de praticar,
perpetrado por atores em um contexto de equilíbrio dinâmico, onde espaços e lugares são
entrelaçados (Certeau, 2008; Dosse, 2013). Aqui, as práticas de espaço assumem um papel
protagonista ao permitir aos praticantes fazer “outras coisas com a mesma coisa e ultrapassar
os limites que as determinações do objeto fixavam para o seu uso” (Certeau, 2008, p. 178), bem
como detém um poder organizacional crítico, exercido por meio de uma rede heterogênea que
é estabelecida pela interação entre os atores, materiais e recursos (Beyes & Steyaert, 2011;
Certeau, 2008; Dale & Burrell, 2008; Vaujany & Vaast, 2011).
A existência de uma mutualidade constitutiva entre as práticas e os espaços, o que, em
dados momentos pode colocar este último na posição de agente (Certeau, 2008; Dale & Burrel,
2008; Schatzki, 2001; 2005; 2006; Kornberger & Clegg, 2004; Vince, 2011), permite à prática
assumir um caráter flexível (Rasche & Chia, 2007), bem como dos diversos nexos totalizadores
que também participam desse processo organizativo. Essa concepção concorda com a ideia do
espaço enquanto um lócus de negociações, disputas e barganhas, intermediadas pelas práticas
que refletem dimensões corpóreas, políticas, materiais, sociais e imaginárias (Certeau, 2008;
Dale & Burrel, 2008).
Considerando que as práticas e os espaços são dimensões indissociáveis (Cooper, 1976),
algumas recentes discussões (e.g. Beyes & Steyaert, 2011; Petani & Mengis, 2016; Vaujany &
Vaast, 2013) evidenciam a relevância da contextualização histórica na compreensão das
práticas enquanto base para uma (re)organização espacial. Nesse sentido, a mobilização do
tempo passado, por meio da história, implica na alteração do espaço, seja ele físico, material,
cultural e/ou social, já que uma das características das temporalidades é de ser “deslocável,
móvel, sem lugar fixo” (Certeau, 2008, pp. 162).
Além disso, enfatizamos a possibilidade de os processos de deslocamentos históricos,
atuarem no organizar de novas práticas de espaços (Certeau, 2008; Petani & Mengis, 2016).
Esses deslocamentos estabelecem entre si uma relação conectiva que se reflete na forma como
o lugar é praticado (Certeau, 2008), sugerindo assim que a história de um espaço possa vir a
atuar no planejamento de hoje e de futuros novos espaços, evidenciando a relação espaço-tempo
no organizar (Certeau, 2008; Petani & Mengis, 2016; Vaujany & Vaast, 2013).
3. Metodologia
Em nossa pesquisa qualitativa, descritiva e baseada em uma ontoepistemologia
processual (Cooper, 1976), utilizamos o método da etnografia de arquivos (Decker, 2013; 2014;
Rowlinson et al., 2014; Lopes & Ipiranga, 2021) operacionalizada através da imersão no campo
do material arquivado a fim de compreender as presenças e as ausências, bem como desvelar
os percursos e os desvios do espaço delineados pelas práticas à luz da perspectiva histórica.
Aqui consideramos os arquivos como sujeitos no processo de produção de conhecimento
(Decker, 2013; 2014; Stoler, 2009)
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O corpus da etnografia de arquivos foi constituído a partir do levantamento de 12 acervos,


entre físicos e digitais, dos quais 8 foram consultadas para a consecução desta pesquisa. Os
critérios para identificar os acervos elegíveis a consulta foram a existência de documentos
relevantes, o estado de conservação dos documentos e a existência de mecanismos mínimos de
pesquisa (aqui considerados os sistemas de busca disponíveis nos acervos) a semelhança dos
utilizados/prescritos por Coraiola (2012), Decker (2014) e Rowlinson et al. (2014).
Nos acervos consultados foram levantados 2.243 documentos, dos quais 218 passaram a
integrar o acervo desta pesquisa (Decker, 2013; 2014). O período de realização de todo processo
da etnografia de arquivos foi entre os anos de 2018 e 2019. Já o período considerado para
selecionar os documentos foram os anos 1830 a 1989. De forma adjacente, foram elaboradas
notas de campo para registro das nossas impressões durante as etapas de levantamento;
constituição e consulta do acervo próprio da pesquisa, bem como durante a imersão no material
arquivado.
A análise consistiu na elaboração de uma contextualização histórica densa baseada na
historiografia das práticas de espaço e no seu entrelaçamento com o presente (Certeau, 2011;
Decker, 2013; 2014; Rowlinson et al., 2014). O fio condutor utilizado foi o conjunto de práticas
de espaço historicamente identificadas e categorizadas por intermédio do software MaxQDA.
Essa categorização buscou mapear as práticas de espaços e atores refletidos pelos documentos
e notas de campo. Assim, nos debruçamos sobre esse material e deles buscamos levantar os
percursos, presenças e ausências delineados pelas práticas. Durante esse processo, se
considerou que este conjunto de prática de espaço identificado muitas vezes possui múltiplos
sentidos, em diferentes períodos históricos, mas estão ligados entre si (Certeau, 2011).
4. Contextualizando o Mercado de Ferro da Cidade de Fortaleza
A arquitetura de ferro se constituiu em um símbolo positivista, refletindo a dominação
política e econômica estabelecida no período entre as nações industrializadas e as chamadas
dependentes, em sua maioria situadas na América do Sul, na África e na Ásia (Carvalho Neto,
Ferreira Neto & Duarte Júnior, 2007). No Brasil, a arquitetura de ferro chegou como um
subproduto europeu que foi amplamente difundido e considerado como um símbolo de
modernidade e progresso (Benjamin, 2006; Carvalho Neto et al., 2007).
Em Fortaleza, Ceará, a instalação da arquitetura de ferro ocorreu na segunda metade do
século XIX e início do século XX, período conhecido como Belle Époque. O Theatro José de
Alencar (1896), a Igreja do Pequeno Grande (1896) e o Mercado de Ferro (1897) foram alguns
dos prédios construídos com base nessa arquitetura na cidade. Focamos nossa análise no
Mercado de Ferro pois ele é uma organização de referência histórica para o entendimento do
organizar das práticas de espaço na cidade. É, ao mesmo tempo, um lugar de passagens, do
comércio e feiras, do turismo e de festas, inclusive gastronômicas, entre as pequenas e as
grandes permutas urbanas. Além disso, carrega uma contribuição atual para o cenário social e
econômico local por meio das atividades comerciais nele desenvolvidas.
O percurso histórico do Mercado de Ferro da cidade se inicia em 10 de julho de 1808 com
o estabelecimento da primeira feira livre da Villa de Fortaleza de N. S. Assumpção “Não havia
até então um mercado público. A pequena e grande permuta eram feitas em lojas e vendas, que
se encontravam na antiga Rua dos Mercadores (hoje Senna Madureira) e na Rua do Rosário”
(Revista Trimestral do Instituto do Ceará, nº 9, pp. 179, 1895). Em 15 de junho de 1809, em
virtude do aumento da demanda pelos serviços da feira o então governador Barba Alardo (1808
a 1811) determina a construção de um mercado público, em alvenaria. Os principais objetivos
deste espaço eram a) organizar a venda dos gêneros alimentícios; b) evitar um possível
monopólio da venda de produtos locais, como a farinha e c) servir como fonte de renda, por
meio dos impostos cobrados, conforme expressou a Câmara (Revisa Trimestral do Instituto do
Ceará, n. 9, pp. 179, 1895).
Em 2 de janeiro de 1810 a Câmara Municipal estabelece a construção deste mercado, mas
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somente em 2 de abril 1814 são formalizados os empréstimo e doações para realização da obra
(Revista Trimestral do Instituto do Ceará, nº 9, p. 179, 1895) e em 19 de dezembro de 1814 foi
recebida a primeira planta da cidade que incluía o mercado vindouro e no ano de 1815 as obras
foram iniciadas (Revista Trimestral do Instituto do Ceará, nº 10, p. 403-404, 1896). O mercado
finalmente foi entregue à população de 12 de setembro de 1818, que poderia alugar os quartos
(espaços para estabelecimento dos comerciantes) mediante contrato com a câmara municipal
(Annaes da Assembleia Legislativa do Ceará, 12 de julho de 1887).
No ano de 1873 houve a demanda por um novo mercado público, fortemente motivada
pelas queixas recebidas pelas questões de higiene (A República, 17 de junho de 1892) e
organização das ruas do entorno do mercado (Libertador, 20 de abril de 1887). Depois de um
processo de tomada de crédito, o novo galpão para o mercado foi inaugurado em 18 de fevereiro
de 1894, com a presença dos então intendente municipal e presidente da província (A
República, 17 de fevereiro de 1894). O galpão foi denominado Nictheroy “[...] em honra á
valorosa cidade, a moderna Sparta, que há quase 6 mezes lucta com heroísmo indiscriptível
contra as bordas de piratas que infestam a formosa bahia do Guanabara.” (A República: Fusão
do Libertador e Estado do Ceará, 19 de fevereiro de 1894). O novo espaço foi considerado “[...]
muito elegante e planejado de acordo com as condições climatológicas da terra [...], de
construção leve, [...] porém de necessária solidez, lectados de elegantes telhas de zinco puro”
(A República, 17 de fevereiro de 1894).
Entretanto, a ideia de construir um mercado em ferro na cidade não havia morrido. Em
16 de agosto de 1894 o intendente Guilherme Rocha solicita a contratação de um empréstimo
à Câmara Municipal (A República, 20 de agosto de 1894) para a construção de um mercado em
ferro, sob os argumentos a) do aumento quantitativo da população, que implicava na
necessidade de um espaço maior para as trocas comerciais; b) as ênfases das práticas de higiene
e; c) a “[...] marcha paralela da civilização [...]” (A República, 20 de agosto de 1894). Assim,
era premente a necessidade de um novo espaço, “[...] feito com toda a arte que venha satisfazer
o grande interesse do município [...]” (A República, 17 de fevereiro de 1894), pois “[...] para se
promover o engrandecimento do Estado, é preciso garantir a vida da collectividade por meio de
todos os melhoramentos defensivos que tragam, de modo directo ou indirecto, a saúde pública
e o consequente bem estar geral – synthese da hygiene social. [...]” (A República, 20 de agosto
de 1894).
Em 18 de abril de 1987 foi então inaugurado o Mercado de Ferro da cidade. Com uma
estrutura importada da França, o objetivo do espaço era comercializar gêneros alimentícios,
como a carne, o peixe e a farinha (A República, 19 de abril de 1897). Em face do
enfraquecimento do Mercado de Ferro enquanto organização responsável pelo abastecimento
da cidade e dos planos institucionais de (re)organizar o Centro de Fortaleza, em 1937 foi
autorizado o desmonte e deslocamento da estrutura do Mercado de Ferro. Atualmente, parte da
estrutura foi restaurada estando instalada na Praça Visconde de Pelotas, no Centro de Fortaleza.
5. As práticas de espaço no e do Mercado de Ferro da cidade de Fortaleza
O Mercado de Ferro era um cenário bastante diverso em termos de atores praticantes. Os
arquivos dão conta de vários trabalhadores do Mercado, como vendedores de peixe, frutas e
verduras (estes por vezes ambulantes), magarefes, carreteiros, entre outros. Havia também a
presença de consumidores em geral, muitas senhoras, senhores, das mais diversas classes
sociais. Isso faz sentido se pensarmos que o Mercado, no período da sua inauguração, era uma
um centro de compras voltado para as classes mais abastadas de Fortaleza.
Atores institucionais relacionados com a então administração municipal da época, como
a guarda cívica, por vezes considerada sanguinária ou inexperiente; o fiscal que, conforme os
arquivos, representou o papel de grande vilão, inimigo dos comerciantes, também eram
encontrados praticando o espaço do Mercado. Também emergiram dos arquivos outros tantos
atores anônimos, porém reconhecidos por características que, em muitas das vezes, também se
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associavam de forma pejorativa à suas práticas: o bêbado, o ladrão, o estelionatário, a prostituta,


o criminoso, o gatuno.
Essa pluralidade sinaliza uma rede de atores cujas relações, em diversos momentos, se
apresentaram de modo entrelaçado e, muitas das vezes, extrapolando a lógica comercial
primeira de um mercado. Certeau (2008) considera esses atores como históricos, na medida em
que seus movimentos e práticas associam, simultaneamente, o processo do organizar do espaço
ao seu processo histórico. Nesse sentido, as dimensões rede de atores, práticas de espaço e a
história do Mercado se apresentam de forma associada na constituição do Mercado de Ferro da
cidade enquanto uma organização.
Tal diversidade corrobora a ideia de que os mercados são espaços sociais repletos de
relações complexas que acontecem de forma concomitante e entremeada. Enquanto “salão de
rua” (Certeau, 2008, pp. 159), um local de encontro, onde esses múltiplos atores se relacionam
e, através dessa relação, as práticas de espaço são manifestas. A interação dos atores é um dos
aspectos importantes na compreensão sobre a constituição espaço do Mercado de Ferro,
enquanto um contexto composto por forças plurais (Beyes & Steyaert, 2011). Assim, o processo
de identificação das práticas de espaço baseou-se nesta dinâmica de sociabilidades construída
por esses atores e refletida, direta ou indiretamente, pelos arquivos. O espaço do Mercado de
Ferro era e é constantemente (re)organizado no limiar dessas relações históricas e espaciais.
O Mercado enquanto equipamento funcional da cidade era gerido pela intendência
municipal. No que diz respeito a esta administração, evidenciamos a partir dos arquivos a
realização de diversas práticas de controle como a) regulação da compra e da venda (A
República, 20 de agosto de 1894) e b) regulação comportamental, indicando como seus
trabalhadores deveriam se trajar e se portar (O Libertador, 13 de janeiro de 1890). Estas práticas
de tinham como objetivo a normatização e normalização do espaço do Mercado, de forma a
torná-lo um protagonista urbano e social, sob a perspectiva da intendência municipal (Certeau,
2008)
Conforme o relato dos documentos, esse protagonismo também era buscado do ponto de
vista estético. Havia uma constante preocupação com a díade beleza e feiura em relação ao
espaço da cidade e essa inquietação levava à intendência municipal a ações associadas a uma
prática estética que conduzissem a cidade a um embelezamento do qual era considerada digna.
Assim, era necessário combater tudo que “[...] feri[a] desagradavelmente a vista ou o olfacto
do transeunte [...]” (A República, 17 de junho de 1892).
As ações relacionadas a prática estética eram operadas, majoritariamente, pelos atores
institucionais e consistiam em adotar parâmetros de higiene físicos e sociais legitimados pela
alta sociedade fortalezense e espelhados em ideias europeus (A República, 18 de novembro de
1893; A Ordem, 13 de fevereiro de 1920). As práticas relacionadas ao embelezamento físico
do Mercado podiam ser detalhadamente encontradas no Código de Posturas Municipal, que
consistia em um conjunto de normas cujo objetivo era disciplinar urbanamente a cidade e dar
suporte para a fiscalização do cumprimento dessas ações (O Libertador, 11 de janeiro de 1890).
Já as práticas estéticas voltadas ao embelezamento social consistiam nas diversas
tentativas de banimento do entorno do Mercado de Ferro dos mais pobres e miseráveis,
pedintes, doentes e aqueles socialmente não aceitos, à época, como: bêbados, prostitutas,
menores abandonados (A Razão: Independente, Político e Noticioso, 22 de outubro de 1931; O
Ceará, 3 de setembro de 1928). À medida que estas práticas eram operadas o Mercado era
evocado enquanto um símbolo de beleza, higiene a serviço da aristocracia local. Além disso,
dentro do ideal progressista subjacente a tais práticas, a clamada higiene (precisamente a social)
era um passo importante de desenvolvimento urbano. Esse conjunto de práticas estéticas
possibilita a compreensão do espaço em uma ótica processual, onde a dimensão estética é
evidenciada como parte da dinâmica organizativa existente (Beyes & Steyaert, 2011).

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As práticas de controle observadas faziam emergir no mercado um lugar, ordenado,


totalizado, geométrico e funcional, sem considerar os aspectos organizacionais que o
perpassavam e que atuava como forma de organizar o cotidiano (Certeau, 2008; Certeau et al.,
1980; Dale, 2005). Nesse contexto, o Mercado pode ser considerado como um lugar disciplinar
(Clegg & Kornberger, 2004), uma utopia racional (Ward, 2001) a medida em que os atores e
artefatos são estritamente distribuídos. Estável, o lugar é (re)significado a partir da localização
pré-estabelecida de seus praticantes (Certeau, 2008; Ward, 2001).
Contudo, para além das práticas de controle e estéticas, os documentos dão conta de uma
rede de práticas desviantes, operacionalizadas por outros atores sociais ordinários que
construíam um espaço próprio (Certeau, 2008). Conforme os documentos, eram frequentes os
relatos de a) brigas, principalmente entre homens, no Mercado (A Razão: Independente,
Político e Noticioso, 22 de outubro de 1931; O Ceará, 3 de setembro de 1928; A República, 4
de maio de 1897); b) roubos (O Ceará, 04 de agosto de 1928; 26 de setembro de 1928; 15 de
dezembro de 1928); c) violências contra as minorias praticantes do espaço do Mercado (Jornal
do Ceará, 13 de outubro de 1911; O Ceará, 12 de setembro de 1904; 18 de setembro de 1928).
Esses fazeres se caracterizam como desvios que seguiam uma organização própria. Como
práticas desviantes não eram alcançados pelo nivelamento de ações proposto pela prefeitura.
Os fazeres desviantes combinavam ainda movimentos, nem sempre contraditórios, exercidos
por atores que se (re)apropriavam dos espaços da cidade, (re)significando-os e tornando-os
praticados (Certeau, 2008). Anônimos e cotidianos, estes atores produziam novos espaços que
extrapolavam àquele normatizado e normalizado pela intendência municipal.
Considerando esses processos, observamos um espaço plural onde determinadas maneiras
de fazer podiam ser empreendidas pelos praticantes com vistas a construir um espaço simbólico,
particular, que ampliava a ideia de Mercado até então existente e se manifestavam como uma
interferência na ordem dominante da intendência. Essas instrumentalidades escapavam ao
poder normatizador da administração municipal e formavam o cotidiano do espaço do Mercado
(Certeau, 2008).
A partir das performances das práticas identificadas, o Mercado de Ferro emerge como
um espaço que é constantemente (re)construído por maneiras de fazer resultantes da
conveniência estabelecia entre os atores e arranjos materiais (Certeau, 2008; Dosse, 2013;
Certeau et al., 1980; Josgrillberg, 2005; Benjamin, 2006). As instrumentalidades menores
reveladas pelas práticas astuciosas dos atores desvelam o Mercado como um espaço
improvisado, com uma organização própria, capaz de abrigar inúmeras táticas astuciosas em
um confronto constante com as normas gerencialmente planejadas (Certeau, 2008).
As práticas desviantes, nesse organizar particular, exercem função relacional quando
lançam luzes sobre a rede de relações que é constantemente (re)construída no espaço
(re)significado do Mercado de ferro (Vince, 2011; Certeau, 2008). Nesse cenário, era comum a
existência de um constante embate entre os atores institucionalizados que lutavam para a
permanência da ordem e esses atores cotidianos, cujas práticas eram consideradas como um
desvio que deveria ser eliminado (Certeau, 2008; Dosse, 2013). O confronto entre essas redes
de práticas mantinha a tensão existente e contribuíam para a construção de outros simbolismos
a respeito do espaço do Mercado para além do desenvolvimento e progresso urbano
(Josgrillberg, 2005; Munro & Jordan, 2013).
Assim, os conflitos percebidos entre as práticas enfatizam a existência de uma tensão
paradoxal no organizar das práticas de espaço do Mercado, que se manifesta na medida em que
os fazeres antagônicos são cotidianamente performados pelos atores envolvidos. Há um jogo
permanente onde normas e desvios são conjugados e fazem o Mercado emergir como espaço
organizado e organizador da cidade (Certeau, 2008). Esses processos reforçam o caráter
múltiplo, selvagem e paradoxal das práticas que em um jogo de diferentes e interferentes,
apresentavam interferia na vida organizada da cidade (Certeau, 2008; Schatzki, 2001).
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Considerando a mutualidade constitutiva existente entre as práticas e o espaço, o Mercado


emerge enquanto miríade socio material de prática que busca continuamente afirmar as
subjetividades dos atores sociais (Certeau, 2008; Courpasson, 2017). Conjugando múltiplas
temporalidades, o espaço do Mercado é constituído a partir de uma interação (des)organizada
das práticas no tempo por diversas práticas que são realizadas de forma entremeada, de modo
que, em alguns momentos, fica difícil distinguir uma da outra (Certeau, 2008; Schatzki, 2001;
2006; Cooper, 1976; Benjamin, 2006).
A análise a partir da perspectiva histórica do Mercado ilumina a existência de uma tensão
entre as práticas de espaço operacionalizadas. Essa tensão emerge do paradoxo existente entre
as maneiras de fazer. Desse modo, estas práticas se apresentam entrelaçadas a processos
históricos que são amplos e dão conta, inclusive, da constituição da própria cidade (Certeau,
2008). Na medida em que o tempo histórico e cronológico avança, essas práticas vão sendo
(re)adaptadas, em um processo contínuo e organizativo. Assim, é possível sinalizar que as
práticas estão organizadas, também, a partir dos processos históricos vivenciados por Fortaleza.
A constituição do espaço do Mercado está entrelaçada aos processos históricos que
também o conformam (Benjamin, 2006; Certeau, 2008; Petani & Mengis, 2016). Nesse sentido,
sustentamos a ideia de que há um passado organizador das práticas, com a existência de
múltiplas temporalidades imbricadas (Certeau, 2008; Carr & Hancock, 2006; Petani & Mengis,
2016). Estas discussões evidenciam a intervenção da história enquanto nexo organizador das
práticas de espaço do Mercado de Ferro. Para Certeau (2011) o conhecimento histórico é
reconhecido mais por sua capacidade de evidenciar os desvios em relação as construções
formais em um tempo presente e que se abrem para o futuro.
6. Considerações finais
O objetivo desta investigação foi discutir as práticas de espaço do Mercado de Ferro de
Fortaleza à luz da perspectiva histórica. Por meio da etnografia de arquivos identificamos uma
rede de práticas classificadas como de controle, estéticas e desviantes, que atuaram de forma
entrelaçada para a organização do espaço do Mercado no período de sua inauguração (1897)
até o momento do seu desmembramento em 1938. Identificamos ainda que na mutualidade
constitutiva que permeia o espaço, faz o Mercado emergir como uma miríade socio material
entrelaçada entre normatividades, subjetividades e arranjos. Tais processos lançam luzes sobre
uma tensão existente entre as maneiras de fazer que organizam os espaços do Mercado por meio
de um nexo histórico.
Como limitação, destacamos as dificuldades inerentes a abordagem da etnografia de
arquivos, como conservação e acesso a documentos históricos nos acervos consultados. Por
outro lado, reconhecemos que, em face do amplo material histórico coletado, certamente não o
abarcamos em sua totalidade, embora tenha sido feito um esforço de pesquisa nessa direção.
Outra limitação da pesquisa foi a restrição do campo, pois deixamos de considerar outros locais
da cidade com arquitetura em ferro que podem trazer contribuições para a compreensão da
história no organizar das práticas de espaço na cidade. Como sugestão para pesquisas futuras
pontuamos outras dimensões de discussão como a ética e a estética, de modo a ampliar as
compreensões acerca dos espaços organizacionais na urbe.
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