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2022
RESUMO
Pretende-se no presente trabalho desde um olhar funcionalista da língua analisar o
processo de gramaticalização pelo qual atravessou o substantivo “gente”. À vista disto,
apresenta-se a nova função adquirida “a gente” como pronome pessoal de primeira
pessoa do discurso na língua portuguesa brasileira (LOPES, 2007).
PALAVRAS CHAVE:
Gramaticalização - gente> a gente –– funcionalismo
Vale ressaltar que a gramaticalização é um dos processos mais comuns que se tem
observado e estudado nas línguas em geral. Este processo leva a mudança de um item
lexical que passa a assumir um novo status como item gramatical, podendo mudar de
categoria sintática e também receber uma nova função na sentença, além disso, um item
pode sofrer alterações semânticas e fonológicas (LEITE GONÇALVES 2007).
NEVES (2000:03), diz que “a língua (e a gramática) não pode ser descrita como um
sistema autônomo, já que a gramática não pode ser entendida sem parâmetros como
cognição e comunicação, processamento mental, interação social e cultura, mudança e
variação, aquisição e evolução”.
A nova forma está cada vez mais presente no falar dos brasileiros colocando-se em
lugar do pronome “nós” (1° pessoa do singular); diante disso, LOPES, (2002) declara
que este processo refere-se a uma mudança tanto gramatical quanto pragmática bem
como mencionam os funcionalistas. Cabe ressaltar que “gente” significa ser humano
por oposição a um ser de outra espécie (Aulete Digital) ou mesmo “Quantidade não
determinada de pessoas; povo, multidão, população” (Aurélio Digital). À vista disso,
em seu processo de gramaticalização perdeu traço de número colocando-se “a gente” no
quadro dos pronomes pessoais e funcionando como “nós” aludindo a um falante mais
alguém. Veja-se nos seguinte corpus analisados;
[Corpus 1] Em: https://ar.pinterest.com/pin/774056254689035819/?
amp_client_id=CLIENT_ID(_)&mweb_unauth_id={{default.session}}&simplified=true
[Corpus 3] em:https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/eliane-brum-alegria-
de-estar-junto-e-instrumento-de-resistencia-poderoso/#page5.
Percebe-se como “gente” é utilizado (1) na terceira pessoa para referir-se a um grupo de
pessoas. Em (2) observa-se como “a gente” inclui a pessoa que começou o chat e Lucas
a quem foi enviada a mensagem (3° pessoa/ele). Com isto, observamos que a forma
gramaticalizada mantém de “gente” o traço formal de 3° pessoa embora ela acione uma
interpretação semântico-discursiva de 1° pessoa (+EU).
Tanto “a gente” quanto “nós” são duas formas aceitáveis dependendo do contexto de
uso. A gramática tradicional não inclui formas como “você” ou “a gente”, portanto,
quando fazemos uso da norma culta ou mesmo em situações formais do uso da língua é
exigida a forma “nós”. Já em uma comunicação informal, o uso de “a gente” é muito
recorrente.
[Corpus: 3 em https://www.memecreator.org/meme/a-gente-sai-da-faculdade-no-
feriado-mas-a-faculdade-no-sai-da-gente/ e corpus 4 em
https://makeameme.org/meme/a-gente-junto ]
[Corpus 5]
Por outro lado, a partir do contínuo uso de “a gente” observamos que tal uso é mais
frequente em contextos menos formais (memes). Quanto o uso de “nós” é possível
aparecer em contextos menos formais já que é o pronome mais recomendado de acordo
com a norma culta em relação a suas regras gramaticais, com isso, tem mais
formalidade. Portanto, as duas formas convivem no sistema do português brasileiro
embora a forma inovadora venha ganhando espaço no português informal do Brasil.
Outra observação remete-se ao caráter dêitico da nova função que se oporia ao caráter
simbólico/representativo de “gente”. Isto pode ser explicado porque o uso dos pronomes
pessoais na cena de interação linguística é usado com função dêitica quer dizer, referem
às pessoas que participam no discurso (sujeitos) quanto o uso simbólico/representativo,
o substantivo nomeia uma generalidade. (genérico) > nome genérico > pronome
sujeito+indefinido. Em outras palavras, o caráter dêitico de “a gente” significa que o
pronome pessoal indica as pessoas que participam no discurso (eu+alguém) dentre a
conversa de uma maneira explicitada pelo contexto, a sua vez, esse caráter dêitico se vê
reflexado/mencionado através de um adverbio de tempo como na seguinte oração: “A
gente vai comer hoje”. Caso contrário acontece com o substantivo gente já que nomeia
pessoas em geral sem especificações, como no caso de; “tem que sair a conhecer gente”
(pessoas qualquer, sem especificação, generalidade).
Com base nessa definição, “a gente” com estrutura de artigo definido + substantivo
serve para fazer referência a um interlocutor já conhecido pelo locutor mesmo,
incluindo-se porque como foi verificado, embora seu uso seja conjugado em 3° pessoa
do singular adiciona como 1° pessoa do plural, em razão disto, o artigo definido a
acompanha a conjugação verbal da 3° pessoa em número após substantivo. Quanto ao
gênero, o substantivo “gente” é feminino e singular concordando assim com o artigo
anteposto.
Em resumo, estes dois termos são utilizados em diferentes contextos e para fazer
menção a diferentes pessoas do discurso, ou seja, “agente” designa o sujeito da ação e
“a gente” se relaciona com um conjunto de pessoas incluído o “eu” da enunciação.
Além disso, nos exemplos que constroem nosso corpus foram memes utilizados com o
propósito de entender as regularidades linguísticas que produzem as variadas estruturas
sintáticas. Como resultado, observou-se como a inovação do sistema pronominal leva
aos falantes da língua portuguesa brasileira a utilizarem diferentes estratégias no uso de
a gente e nós como equivalentes, dado que a língua se adapta às necessidades cognitivas
e comunicativas dos falantes, salientando que a nova categoria “a gente” tem um uso
mais frequente em contextos menos formais entendo que “nós” é um pronome
regularizado pela norma culta e, portanto é utilizado na fala/escrita formal (gramática
normativa).
Referencial bibliográfico