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Faculdade de Direito
Maputo
Abril 2017
Avaliação do Módulo de HST Caldas Chemane
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chão”. Harrison Ford, que interpretava a personagem Han Solo, fraturou a perna esquerda e
teve de ser operado.
O procurador Andrew Marshall mencionou que o acidente “poderia ter provocado a morte de
uma ou duas pessoas”. Marshall leu ainda no tribunal parte da declaração de Harrison Ford,
que referia que “o protocolo não tinha sido seguido e que a cena foi feita de forma diferente
do que seria se fosse suposto a porta estar fechada”.
A porta tinha sido programada para poder ser fechada remotamente por um operador de
efeitos especiais. Logo após o acidente, os membros do staff agiram rapidamente no sentido
de travar o fecho da porta, conseguindo pará-la um pouco antes de se fechar completamente.
O juiz Francis Sheridan mencionou também que a produtora falhou na comunicação com o
ator e que este “devia ter sido alertado para os perigos que teria de evitar”.
Em dezembro do ano passado, no talk-show de Jonathan Ross, Harrison Ford referiu a
propósito do acidente que as portas hidráulicas da nave Millennium Falcon tiveram um
desenvolvimento considerável desde 1977, altura em que eram controladas com uma roldana
manual. “Agora temos muito dinheiro e tecnologia e por isso eles constroem portas
hidráulicas fantásticas que se fecham à velocidade da luz”, comentou então o ator.
Harrison Ford recuperou do incidente a tempo de concluir a sua personagem no mais recente
filme da saga.”
Fonte: Expresso, 12.10.2016 às 23h54, disponível
em http://expresso.sapo.pt/internacional/2016-10-12-Produtora-de-Star-Wars-multada-em-
17-milhoes-de-euros,
Comente o artigo, invocando qual seria o tratamento a dar ao evento em causa caso
Harrison Ford estivesse ao serviço de empresa moçambicana, em território nacional,
apreciando as eventuais obrigações das partes que poderão ter sido violadas, bem como
as consequências e responsabilidades existentes.
4 valores
3 - Um trabalhador que procedia a uma tarefa de reparação de uma avaria elétrica, sofreu
queimaduras de 1º e 2º graus após rebentamento de um cilindro de águas quentes que se
encontrava no mesmo local onde efetuava a reparação, mas que em nada se relacionava com a
mesma. O rebentamento terá ocorrido devido a um furo no cilindro, provocado por uma
sobrepressão decorrente de uma avaria da válvula de segurança.
De acordo com os dados apurados, constatou-se que aquela tarefa de reparação não estava
compreendida na categoria profissional do trabalhador e que este não teria tido formação
adequada para a realização da mesma.
Resultou também demonstrado que o trabalhador não dispunha de equipamentos de proteção
individual adequados à minimização dos riscos derivados da reparação, sendo que os mesmos
não lhe tinham sido fornecidos pelo empregador.
Identifique as normas legais a analisar na hipótese em apreço, entre elas os deveres e
direitos de empregador e trabalhador em matéria de segurança e saúde no trabalho,
concluindo pela eventual verificação, ou não, de uma contingência profissional, e, em caso
afirmativo, indicando quem seria responsável pela reparação dos danos decorrentes da
mesma.
5 valores
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Segundo o António, a empresa nada teria feito para impedir que os seus colegas de trabalho
fumassem no local de trabalho. Ademais, o médico do trabalho, aquando dos exames médicos
feitos à data de admissão na empresa, não teria detetado a sua doença, apesar de o ter
examinado há dois anos atrás.
Na sua contestação, a empresa, entre outros argumentos, alegou que o António tinha o dever
de zelar pela sua própria saúde, devendo ausentar-se dos locais com fumo, tendo ainda
defendido que pelas instalações da empresa estavam afixados vários avisos de proibição de
fumar. Além disto, a empresa indicou que sabia que o António tinha sido fumador, quando
jovem, durante cerca de 10 anos, pelo que nenhuma responsabilidade lhe poderia ser assacada.
4.1. Os argumentos do António têm fundamento legal? Se sim, qual? Que outros
argumentos poderia o António ter invocado?
2 valores
4.2. A argumentação da empresa tem cabimento legal? Se sim, qual? Que outros
argumentos poderia a empresa ter invocado?
2 valores
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Índice
Bibliografia ......................................................................................................................... 22
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As respostas abaixo estão suportadas pela legislação em vigor em Moçambique, com destaque
para a Lei n.º 23/2007 de 1 de Agosto, a Lei de Trabalho de Moçambique (LTM) e ainda o
Decreto n.º62/2013 De 04 de Dezembro, Regulamento que estabelece o Regime Jurídico de
Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais em Moçambique (RJAT)
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f) Um trabalhador que sofra Verdadeira De acordo com o artigo 224 nº 2, alínea e) da LTM
de uma doença decorrente são “consideradas doenças profissionais as
da exposição a amianto tem resultantes […] de exposição de fibras ou poeiras de
que demonstrar a relação amianto no ar ou poeiras de produtos contendo
dessa doença com o seu amianto”. A exposição ao amianto é também
trabalho para poder prevista no nº 2 do artigo 20 do RJAT como causa
beneficiar das prestações de doenças profissionais sobre as quais tem direito a
legais. prestações legais.
Entretanto, nos termos do artigo 23, nºs 1 e 2 do
RJAT, de facto, cabe ao trabalhador demonstrar que
padece de alguma doença resultante da sua
exposição ao amianto no trabalho. Essa prova deve
ser sustentada através de um mapa passado pela
Junta Nacional de Saúde.
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2.1 Introdução
O comentário que se segue toma em conta a necessidade de invocar qual seria o tratamento a
dar ao acidente ocorrido com o Harrison Ford, se ele estivesse ao serviço de uma
empresa moçambicana, em território nacional, descrevendo as eventuais obrigações das partes
que poderão ter sido violadas, bem como as consequências e responsabilidades existentes, à
luz da legislação moçambicana.
O artigo descreve que o “actor Harrison Ford fraturou a perna esquerda depois de ter sido
atingido com uma porta da nave Millennium Falcon, durante as filmagens do mais recente
filme da saga de ´Star Wars´”.
Tendo em consideração a LTM, através do artigo 222 e conjugado com o RJAT, no seu artigo
9 nº 1, o descrito acima configura um acidente de trabalho, uma vez que tratou-se de um sinistro
que:
• se verificou, no local e durante o tempo do trabalho (durante as filmagens);
• resultou numa lesão directa (fractura da perna) no trabalhador (actor)
• Por consequência da perna fracturada, houve redução na capacidade de trabalho, tendo
retomado, após cura, a tempo de concluir as filmagens.
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Nos termos do artigo 19, nºs 1 e 2 do RJAT o empregador cumpriu com a responsabilidade de
reparação através da cirurgia e assistência médica. Porém, à luz do mesmo artigo, no nº 3 alínea
a), o trabalhador devia receber uma indemnização pela incapacidade temporária parcial
provocada pelo acidente de trabalho.
Quanto às consequências pela violação dos diferentes dispositivos legais prevê-se que:
• Nos termos da LTM, o artigo 267, nº 1 alíneas a) e b) estabelece multas pela violação
dos artigos 216 e 217 da LTM até um máximo de 10 salários mínimos do sector, por
cada trabalhador abrangido. Mesmo considerando o salário mínimo mais alto praticado
no País, não seria possível atingir o valor da multa de 1,7 milhões de Euros paga no
caso relatado;
• O artigo 50 do RJAT estabelece critérios para o cálculo das indeminizações com base
na remuneração diária do acidentado. Neste caso, se fosse conhecida a remuneração do
Sr Ford e os dias que ficou sem trabalhar por conta do acidente, seria possível calcular
o valor da indeminização multiplicando os dias pelo valor diário.
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3.1 Introdução
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Transcrito de B(2012:12)
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Transcrito de B(2012:12)
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Citação do artigo 9, nº 1 do RJAT
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3.3 Responsabilidades
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O trabalhador António, no geral, apresenta argumentos que têm cobertura legal em termos de
posicionamento, contudo alguns detalhes carecem de melhor enquadramento. De seguida são
destacados os principais aspectos da sua argumentação:
• O Sr António afirma que contraiu cancro como consequência do fumo de cigarros dos
colegas, como fumador passivo. O Instituto Brasileiro de Controle de Câncer escreve
na sua página web que “O tabaco presente nos cigarros apresenta mais de 4.700
substâncias químicas, das quais 43 são carcinogénicas” o que mostra que
cientificamente, é possível contrair cancro como consequência do fumo do cigarro.
Sendo que o António estava exposto a poluentes durante o dia de trabalho como se
estivesse também a fumar então ele foi afectado pela chamada poluição tabagística
ambiental. Segundo o documento da CIPA, “em um ambiente poluído por fumaça de
cigarro, os não-fumantes podem ter respirado o equivalente a 10 cigarros no decorrer
de um dia”. A doença apesar de não ser uma consequência directa do trabalho que
realizava, mas sim do ambiente do trabalho, fica legalmente coberto o pedido de
reparação que o trabalhador faz, nos termos do nº 3 do artigo 20 do RJAT, segundo a
qual “havendo uma relação entre a doença e o ambiente laboral, o médico assistente
deve comprovar a existência dessa relação, constituindo-se assim o trabalhador no
direito à reparação”4.
• O Sr António afirma também que a empresa não tem tomado qualquer acção para
penalizar os que violam os avisos de proibição de fumar no local de trabalho. Ele
assume, neste argumento, que é da responsabilidade da empresa criar condições de
trabalho sem possibilidade de intoxicação com fumo de cigarro. O seu argumento é
concordante com o artigo 7 da Convenção 148 da OIT, segundo a qual o empregador
deverá “obrigar os trabalhadores à observância das normas de segurança destinadas a
prevenir e a limitar os riscos profissionais devidos à contaminação do ar […] no local
de trabalho”. Adicionalmente, quando as medidas tomadas não reduzam a
contaminação do ar, a limites especificados de acordo com os limites de exposição
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O Instituto Brasileiro de Controle de Câncer descreve os vários perigos de cancro pelo fumo do cigarro na sua
página web consultada no dia 17-Abr-2017, http://www.ibcc.org.br/duvida/agentes-
cancerigenos/tabagismo/1/5/
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Além dos argumentos acima, o trabalhador António podia ter invocado também os seguintes
articulados que protegem os seus direitos para o caso em análise:
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Tradução do Artigo 10 da Convenção 148 da OIT
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No conjunto, a argumentação da empresa não tem base legal e, a parte prevista na lei está ferida
de uma interpretação incoerente. Nos parágrafos que se seguem é feita uma análise sugerindo
os aspectos legais que deviam ter sido respeitados pela empresa.
“Na sua contestação, a empresa, entre outros argumentos, alegou que o António tinha o dever
de zelar pela sua própria saúde, devendo ausentar-se dos locais com fumo”. Este argumento
apresenta uma interpretação incorrecta do artigo Artigo 7, nº2 da Convenção 148 da OIT que
se refere ao dever de contribuição do trabalhador para a sua segurança no trabalho e também
contraria o Artigo 4 do Decreto 11/2007 de 30 de Maio, que não prevê que o não-fumador se
afaste dos fumadores, mas sim a empresa deve criar espaços isolados para os fumadores não
fazerem o fumo passar para os restantes espaços do local de trabalho.
A empresa, ao defender que “pelas instalações da empresa estavam afixados vários avisos de
proibição de fumar” ignorou o prescrito no artigo 9 da Convenção 148 da OIT e no artigo 216,
nº 4 e o nº 5 da LTM, que obrigam o empregador a estabelecer e implementar “todas as
precauções adequadas” para que haja a segurança necessária para o trabalho em ambiente
seguro, não sendo por isso suficiente o simples facto de ter montado os avisos de proibição.
Além disto, a empresa indicou que sabia que o António tinha sido fumador, quando jovem,
durante cerca de 10 anos, pelo que nenhuma responsabilidade lhe poderia ser assacada. Se a
doença estava dormente, a poluição no local de trabalho poderá ter agravado e multiplicado o
risco de contrair o cancro. A empresa teria de provar que o Sr António, quando foi admitido
tinha a doença.
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• A Convenção 148, no seu Artigo 7, nº2 estabelece o direito dos trabalhadores ou seus
representantes apresentar propostas, receber informações e orientação, e a recorrer a
instâncias apropriadas, a fim de assegurar a proteção contra riscos profissionais devidos
à contaminação do ar entre outros riscos. A empresa podia ter argumentado que o Sr
António, ao ver-se exposto ao risco deveria ter exercido esse direito a tempo de evitar
que a sua exposição ao fumo acabasse por degenerar em cancro. Pelo texto, não há
evidências de que o Sr António, alguma vez se manifestara ou apresentara o caso em
instâncias apropriadas com vista a obrigar a empresa a proteger os não fumadores .
• O segundo argumento está assente nas circunstâncias em que foi feito o teste há dois
anos e nas que foi feito o último teste que detectou cancro. Embora o texto do caso seja
omisso em relação às circunstâncias, nos termos do artigo 7, nº 2, da LTM, pode ser
que o médico assistente não tenha comunicado nada sobre a doença pois a Lei lhe
proibia de fazê-lo, tratando-se de uma doença que, na altura do teste, provavelmente,
não teria implicação nas capacidades de realização das suas tarefas ou ainda os testes
realizados nessa altura podem não ter sido direccionados para a identificação do cancro;
• Por fim, nos termos do nº 3 do artigo 20 do RJAT, tratando-se de uma doença que não
consta directamente da lista nacional das doenças profissionais “quem deve provar o
nexo da doença com o ambiente de trabalho é o médico assistente. Só após essa prova
é que o trabalhador no direito à reparação, nos termos definidos no RJAT.
Adicionalmente, o trabalhador deve apresentar uma prova da junta médica que
corrobore com a alegação de que a doença é resultante da sua exposição ao fumo no
local de trabalho.
4.3 Conclusão
De forma conclusiva, o trabalhador António tem motivos legais para demandar a empresa de
modo a custear o tratamento do cancro, porém deverá assegurar que possui prova, passada pelo
médico assistente e corroborada pela junta médica sobre o nexo da doença com a actividade ou
com o ambiente laboral.
É inequívoco que a empresa violou a obrigação de criar uma área isolada para fumadores e não
esteve em conformidade com o dever de fazer cumprir as normas que proibiam que os colegas
de António fumassem no local de trabalho. Por essa violação, além da reparação do dano no Sr
António, terá que ser devidamente penalizada pela Inspecção Geral do Trabalho.
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