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Resumo:

Visto a necessidade de relacionar Performance artistica e as novas


tecnologias, o presente trabalho busca relacionar arte, tecnologia e performance,
além de investigar o lugar do corpo [seja do espectador, seja do autor/performer]
num momento em que passa a ser atravessado, mediado, interfaceado por
tecnologias da informação, de transmissão e de comunicação. Para tanto,
tomaremos como base textos de conotação teórica referente ao assunto, além dos
textos utilizados como base teórica da disciplina de Arte, Mídia e Tecnologia.

O corpo sensível: Relações entre Arte, Tecnologia e Performance.

A arte tem a capacidade de fazer com que novas ferramentas e estratégias,


que abalariam as ideias tradicionais sobre nossa relação com a natureza, se
modifiquem. E para que isso ocorra desta maneira, a arte busca dentro da
tecnologia criar novas poéticas, descobrindo um lugar para o corpo sensível em
união a tecnologia. Esse corpo sensível se aproxima entre os conceitos do campo
geopolítico e do campo artístico, trazendo um sentido, e mostrando que são
sistemas dinâmicos envolvendo tempo e espaço, formados pela interação de um
grande número de indivíduos, lugares e contingências.
O território é feito da relação entre os seres humanos com as tecnologias e o
ambiente. Portanto, podemos nos referir a um território como um lugar específico
em um espaço geográfico delimitado, relacionado ao imaginário virtual, e dentro
desse território é possível obter semelhanças aos movimentos do mundo,
especificamente da natureza, fazendo relações sobre como os artistas utilizaram o
corpo como potencializador dessas intervenções artísticas, empreendendo em suas
performances as tecnologias tais como: o vídeo e a música, percorrendo desde os
primórdios da performance.
Segundo Johnson “ A interface tem um papel tão importante para a cultura
contemporânea quanto as catedrais para a idade média e o romance para a
sociedade moderna: são todas formas culturais que indicam modos de olhar o
mundo”
Ele ressalta que essa interface e esse imaginário do mundo é construído,
assim como também podemos relacionar a construção dessas performances, e da
utilização desse corpo como “ensaio”. Que esse corpo sensível que seria o corpo
que transcende e habita o momento, que sente através de seu imaginário as
sensações, o corpo ensaio, não é o corpo que precisa ser passado a limpo, é o
corpo que interage.
A título de exemplo trazemos a obra do artista Julian Hespenheide, onde o
artista cria essa experiência de movimento da natureza, sendo esse aparentemente
relacionado a algum movimento de vento ou redemoinho, que também se
assemelha ao movimento de onda, com esse fundo estreito e que está
gradualmente ficando mais largo até o topo.
O artista utilizando o espectador de forma intrigante como um corpo sensível,
que recebe a sensação construída pela tecnologia, ele cria através de códigos uma
interface imagética, que pode se modificar de varias maneiras, e em várias de suas
obras, ele explora esses códigos e movimentos, parte de uma programação criativa
e performática.

(A obra original pode ser encontrada no instragam do artista)

parameters:
grid=80x80 / tiles= 8px
String charSet = " ░▒▓█▄▀│┤╣║╚╔╗╝┐╩└╦╠┴═┬├╬─┼┘┌¦┼└┴┬├┐";
font=Courier New
length=00:47 seconds
looping=yes, perfect_loop=i guess
fps=60

A performance se cria a partir dos experienciamentos do corpo, e essas


experiências envolvem emoção, se dividindo em novas formas de experienciar e
criar, o lugar do corpo sensível dentro dessa dinâmica, acompanhando o fluxo de
informações da performance digital.
Assim, acredita-se que a partir do comportamento performativo, o ato de
inserir o corpo no processo de experiência/criação, faz com que o próprio
comportamento do corpo suscite a possibilidade de ação, por se dar nos domínios
da sensação e da cognição.
Anne Cauquelin em seu texto “Frequentar os Incorporais”, nos apresenta
uma visão distinta, definindo a interface virtual da seguinte maneira;

‘’No campo das artes midiáticas, geralmente definimos a interface como um


instrumento - computacional ou material - que estabelece o contato entre o usuário e
o computador ou entre dois ou vários computadores. É o instrumento de passagem,
que favorece a tradução de um sistema para outro. Toda obra interativa utiliza
interfaces, por exemplo, capacetes de visão, luvas ou um traje completo para captar
os movimentos de um corpo e traduzi-los para a máquina, que os processa e os
retransmite, seja diretamente para os sensores corporais para uma tela. A captura e
a tradução são as etapas técnicas da interatividade, e a interface é o momento
delicado disso, do qual depende o resultado; não apenas o resultado bruto [o fato de
que isso funciona], o que seria o primeiro grau da utilidade, mas também sua
poética, que se situa em outro nível’’ [CAUQUELIN, 2008].

Com isso a autora sugere que a interação entre corpo/Performance


necessita de uma intermediação, não sendo uma interação direta, já que há a
necessidade da utilização de equipamentos eletrônicos para a realização da
Performance.

Em 1966 Robert Rauschenberg utilizava em Open Score [Bong] como


instrumentos de captura, câmeras de infravermelho para filmar e projetar em
grandes telas os movimentos rápidos e súbitos de artistas que jogavam tenis com
raquetes equipadas com rádios transmissores em um ambiente escuro e, tudo que
foi dado a ver ao público, foi a tradução de tais movimentos em imagens
infravermelhas. É justamente na década de 1960 que as tecnologias advindas do
vídeo começam a incorporar-se às práticas performativas. Entretanto, nesse
momento as possibilidades artísticas e a própria natureza dos trabalhos ficava
limitada ao espaço de que os performers dispunham.
No ano seguinte, Carolee Schneeman apresenta a intervenção Snows no
Teatro Martinique de Nova York. Para tanto, a artista contou com a colaboração de
engenheiros e instalou, em acentos escolhidos de maneira aleatória, microfones que
transmitiriam qualquer movimento de quem ocupasse esses lugares para um
sistema de chave retificadora que ativaria o sistema que, por sua vez, ativaria os
meios de comunicação de massa dos quais a performer se utilizava nesse trabalho.
Contudo, com o passar das décadas e a continuidade das pesquisas
científicas, a tecnologia chega, hoje, ao ponto de criar, através de Realidade Virtual,
espaços que proporcionam a quem os acessa através de alguns dispositivos
eletrônicos, incluídos os mencionados por Cauquelin ao definir o termo interface, a
experiência de adentrar um espaço completamente imersivo, que desconecta o
usuário dos estímulos externos do mundo real. Por outro lado, a Realidade
Aumentada possibilita ao artista performer se utilizar de recursos técnicos para
integrar imagem projetada e realidade, presença física e imagem digital.
Tal procedimento é evidenciado em body [2008], de Camila Hamdan,
performance na qual a artista se utiliza do recurso da RA para integrar pares de
asas aos corpos dos visitantes, num processo de modificação corporal que se
assemelha a tatuagem na medida em que requer o desenho de marcadores de RA
na pele do participante que possibilitam a integração entre corpo e imagem,
diminuindo assim a necessidade da utilização, por parte do público, de dispositivos
que o permitam se integrar a obra, como nos primeiros experimentos realizados
relacionando arte e tecnologia, em meados do século XX e criando um corpo
híbrido, constituído de carne e pixels. Nas palavras da própria artista;

‘’A performance artística consistiu na ação de desenhar marcadores de RA, com uso de
canetas e carimbos sobre a pele do público presente. Corpos foram submetidos a processos de
demarcação semelhante à realização de uma tatuagem. Nesse trabalho, corpos foram editados
por padrões simbólicos imagéticos próprios dos sistemas de RA e que, na ocasião, remeteram à
transformação dos sujeitos em produtos artísticos móveis, sob o efeito dialético da construção
da imagem corporal ampliada pela tecnologia, em um local de exposição e fruição artística’’
(Hamdan, 2015, p. 277).

Ao empregar a tecnologia de RA dessa forma, Hamdan subverte seu uso, que poderia
ser meramente utilitário, em poética, assim como re-significa também os próprios corpos
participantes da ação performática. Não se tratam mais de corpos constituídos apenas de carne
e humanidade, mas sim de objetos artísticos móveis imbuídos de poéticas e significados que o
deslocam de seu território originário, para um lugar constituído de performance e tecnologia.

Bibliografia

JOHNSON, Steven Cultura da interface - como o computador transforma nossa maneira de criar
e comunicar.

uma investigação performativa em arte, ciência, tecnologia e natureza Territórios Sensíveis

CAUQUELIN, Anne. Frequentar os incorporais; contribuição a uma teoria da arte


contemporânea. São Paulo; Martins, 2008

RUSU, Michael. Novas mídias na arte contemporanea. São Paulo; Martins Fontes, 2006

links das performances


open score https://vimeo.com/107488380

snows https://www.youtube.com/watch?v=jgVpZnxrQJs

https://www.julian-h.de/about/ (site com biografia do artista)

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