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A memória é utópica, não está em lugar nenhum, é uma construção intelectual, seu
local são as imagens que lhe dão existência. [...] Os processos de rememoração
necessitam para se efetivarem de uma manifestação que pode ser de origem, visual,
olfativa ou qualquer outra. [...] O passado refaz-se constantemente num devir de
imagens. (BULHÕES, 2011, p.68-69).
Cada vez mais acessíveis, os computadores começam a ser utilizados por um amplo
espectro de artistas, impulsionando a arte computadorizada em obras que requerem o
envolvimento do participante através de comandos e movimentos, rotinas pré-programadas e
disponíveis ao usuário por meio de interfaces gráficas, um instrumento de comunicação que
fornece a interação humano-máquina, atuando “como uma espécie de tradutor, mediando
entre as duas partes, tornando uma sensível para outra”. (JOHNSON, 2002, p.17).
Neste novo cenário, segundo Bulhões (2011) há a exploração do mundo online por
artistas e instituições de arte, que utilizam a internet de duas principais formas: (I) como
veículo de divulgação de suas ações e projetos, como por exemplo na disseminação de
portfolios; (II) como um novo tipo de espaço no qual possam intervir artisticamente,
desviando a internet de seu modelo comercial e do entretenimento, e na produção de obras
que tiram proveito da interação comunicativa hipermidiática. Na web arte desenvolve-se uma
estética da transitoriedade, onde nenhuma imagem é permanente e está sempre em devir,
funcionando como fluxos de informação sempre em circulação e controlados pelo usuário.
Acerca da visualidade da produção em web arte, Rush (2008) aponta a existência de
duas importantes tipologias visuais, num regime visual híbrido: (I) as imagens desenvolvidas
fora do computador e posteriormente digitalizadas; (II) as imagens geradas pelo computador
através de seus recursos tecnológicos. Existe ainda um terceiro tipo, apontado por Bulhões
(2011) que são as interfaces gráficas, uma linguagem visual constituída de signos, como
palavras, botões e ícones que tratam e determinam a forma de navegação do participante. “Na
medida em que o usuário clica sobre eles, intercalam-se páginas e imagens. A leitura dessas
orientações surge como elemento essencial da comunicação na experiência interativa”.
(BULHÕES, 2011, p.45). O sujeito da web passa de espectador (puro consumidor de
imagens) a usuário (interagindo com as imagens através de comandos de computador),
inserindo-se no mundo virtual das imagens de terceira dimensão, que operam num espaço-
tempo simulado.
Autores como Santaella (2003) apontam que o termo ciberarte torna-se o mais correto
a ser adotado, sendo mais abrangente do que os demais (web art, net art, arte das redes) e o
adjetivo “interativo” o mais apropriado afim de caracterizar a arte na era digital, pois os
artistas interagem com máquinas para criar uma interação subsequente com seu público. Na
rede, meio de transmissão e palco de toda interatividade surgem também as instalações
interativas ou ciberinstalações (chamadas ainda de webinstalações) que levam ao limite as
hibridizações de meios que sempre foram a marca registradas do gênero instalação. “As
ciberinstalações hoje se constituem elas mesmas em redes encarnadas de sensores, câmeras e
computadores, estes interconectados às redes do ciberespaço”. (SANTAELLA, 2003, p.178).
A produção em web arte está ligada as suas especificidades técnicas onde, segundo
Nunes (2010), tal produção está calcada na efemeridade, já que a tecnologia permanece em
atualização constante, deixando os trabalhos sujeitos a especificidade de cada equipamento
receptor ou versão de programa de computador. Já quanto à participação do
espectador/usuário nestes espaços virtuais navegacionais:
A partir dos anos 1990, segundo Canton (2009), a memória, condição básica de nossa
humanidade, tornou-se uma das grandes molduras da produção artística contemporânea. E
graças ao desvio subjetivo de tecnologias comunicacionais como a internet, provocado pelos
artistas, a nova rede que ali nascia passou a apresentar-se de forma potencial como um infindo
livro de memórias, “um testemunho de riquezas afetivas que o artista oferece ou insinua ao
espectador, com a cumplicidade e a intimidade de quem abre um diário”. (CANTON, 2009,
p.21-22).
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
1
Licenças que permitem a cópia e compartilhamento com menos restrições que o tradicional todos direitos
reservados, mantidas e organizadas por uma organização não governamental sem fins lucrativos.
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