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749/2012-7
RELATÓRIO
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.749/2012-7
subsequentes da obra não puderam evoluir, bem como porque teria ocorrido a desmobilização do próprio
Consórcio construtor e a suspensão da supervisão do DNIT.
I.3 – ANÁLISE
20. Nas suas manifestações, tanto o DNIT quanto o Consórcio OAS/Mendes Júnior procuraram
demonstrar que não teria ocorrido a abertura de frentes de serviços em proporção superior a capacidade de
prosseguimento contínuo nas etapas seguintes. Para tanto, apresentaram, basicamente, quatro argumentos,
que serão analisados a seguir, uma a um.
21. Argumento 1: Os problemas enfrentados nos processos de desapropriação teriam acarretado a
descontinuidade na execução das obras, em razão da presença de segmentos não liberados ao longo do trecho
a ser construído.
21.1. Quanto a esse argumento, vale lembrar que a irregularidade apontada na fiscalização não trata da
existência de segmentos não atacados ao longo do trecho. Repise-se que a irregularidade em questão
enfatiza, especificamente, a descontinuidade da execução de serviços nas frentes liberadas. Ou seja, em
frentes de serviço liberadas foi executada apenas a fase de terraplenagem ou de drenagem para transposição
de talvegues, sem que tempestivamente tivessem sido realizadas as fases subsequentes de pavimentação, de
drenagem superficial e de proteção dos taludes, deixando os aterros, os cortes e os bueiros executados
expostos às intempéries. Dessa forma, avalia-se que o argumento apresentado não serve para justificar a
irregularidade em exame.
22. Argumento 2: os serviços teriam sido executados em fases e com previsão de complementação e
finalização, ou no mínimo proteção contra as chuvas, intempéries e a fatores erosivos.
22.1. Em relação a esse argumento, cabe frisar que a situação das obras do Lote Único ao final do Contrato
104/2010 evidencia que o ataque às frentes de serviço liberadas foi equivocado, uma vez que depois de
executada as fases de terraplenagem ou de drenagem para transposição de talvegues não se verificou o início
das fases subsequentes na maior parte dos segmentos atacados. Diante disso, avalia-se que o fato de,
possivelmente, o Consórcio construtor e o DNIT terem planejado finalizar os serviços iniciados nas frentes
de serviço liberadas, ou no mínimo protegê-los contra as chuvas, intempéries e a fatores erosivos, não serve
para justificar a irregularidade apontada, uma vez que, na realidade das obras, esse planejamento não foi
posto em prática, tanto é que se verificou a deterioração de parte dos serviços executados.
23. Argumento 3: O dano financeiro estimado de R$ 4.160.756,19 (preços iniciais - 7/2009), teria como
causa a paralisação dos serviços, desde 24/10/2011, conforme Ordem de Paralisação emitida pelo DNIT.
23.1. A paralisação dos serviços, a partir de 24/10/2011, não pode servir para afastar a ocorrência da
irregularidade apontada. Tal assertiva encontra-se respaldada, sobretudo, nos registros constantes nos
relatórios periódicos de acompanhamento dos serviços, emitidos pelo Consórcio supervisor antes da
paralisação das obras. Nesses relatórios, o Consórcio supervisor já registrava a ocorrência de deterioração de
serviços em virtude das chuvas e solicitava providências para intensificar os trabalhos nas frentes de serviços
liberadas, como por exemplo no Relatório referente a Abril /2011 (peça 48):
Relatório – Abril/2011 (peça 48):
Por motivo do alto índice pluviométrico neste período, o consórcio OAS / Mendes Júnior só faturou R$
1.504.922,27, correspondendo a 0,74% do total do contrato PI, acumulando um total de R$
37.778.542,21 correspondendo a 26,60% do total do contrato PI. Até o período deste relatório o
Consórcio deveria de acordo com o cronograma físico-financeiro ter faturado R$ 107.985.552,29. Por
este motivo, solicitamos do Consórcio intensificar o ataque as frentes serviços já liberados para
terraplenagem, drenagem superficial, obras de arte corrente e pavimentação, a fim de recuperar o
cronograma físico-financeiro elaborado pela empresa.
Por motivo das fortes chuvas ocorridas no mês de abril/2011, alguns segmentos da rodovia tiveram
danificadas obras de arte correntes, drenagem superficial e erosões de corte e aterros.
Relacionamos abaixo essas obras:
- Bueiros:
BSCC – 1,50 x 1,50m, Estaca 1.150+16,20 – LD – Danificado
BSCC – 1,50 x 1,50m, Estaca 1.034+0,28 – LD – Descalçado
BSCC – 1,50 x 1,50m, Estaca 1.018+17,30 – LD – Tombado
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da obra.
24.3. Dessa forma, antes de iniciar os serviços em uma determinada frente de trabalho, o Consórcio
construtor e o DNIT deveriam avaliar se havia condição (operacional e financeira) de garantir a completude
do trecho iniciado, ou, no mínimo, sua proteção contra a exposição às intempéries. Não havendo certeza
quanto ao atendimento dessa condicionante, o Consórcio construtor não deveria iniciar o ataque na frente de
trabalho liberada e, por consequência, deveria propor a readequação do cronograma físico-financeiro do
empreendimento.
24.4. Tendo optado por atacar as frentes de serviço liberadas, independentemente da capacidade
(operacional ou financeira) de dar continuidade aos serviços ou de, pelo menos, protege-los contra à
exposição às intempéries, cabe aos responsáveis arcarem com os riscos inerentes à sua decisão.
24.5. Do exposto, verifica-se que o argumento apresentado não serve para descaracterizar a irregularidade
ou mesmo justificar sua ocorrência.
I.3.1 – ANÁLISE – VALOR DO DANO AO ERÁRIO
25. Considerando-se que os argumentos apresentados pelos defendentes não foram suficientes para
descaracterizar a irregularidade apontada e levando-se em conta que o Consórcio supervisor apresentou ao
DNIT um Relatório de Levantamento no qual consta uma estimativa do valor do possível prejuízo advindo
da deterioração de serviços executados ano âmbito do Contrato 104/2010, poderia ser aventada a
possibilidade de se propor a conversão destes autos em tomada de contas especial. Contudo, considerando-se
que os processos de ressarcimento de dano ao Erário devem pautar-se pelos princípios da racionalidade
administrativa, do devido processo legal, da economia processual, da celeridade, da ampla defesa e do
contraditório, avalia-se que antes de se adotar esse procedimento, cabe esclarecer se, de fato, o valor
estimado pelo Consórcio supervisor representa o prejuízo verificado no Contrato 104/2010, no momento de
sua finalização.
26. Isso porque o Consórcio supervisor realizou a sua estimativa em abril/2012, enquanto que a última
medição do Contrato 104/2010 refere-se ao período 3/9/2012 a 7/9/2012 (peça 129). Assim sendo, nesse
interregno, o Consórcio construtor pode ter realizado obras, às suas expensas, para corrigir os serviços
deteriorados, ou mesmo o DNIT pode não ter incluído quantitativos referentes a serviços deteriorados na
medição final do Contrato 104/2010.
27. Tal possibilidade é real, pois a planilha utilizada pelo Consórcio supervisor para calcular o valor dos
serviços deteriorados apresenta itens com quantitativo superior ao constante na medição final. Por exemplo,
o item ‘Hidrossemeadura’ está quantificado na planilha estimativa do Consórcio supervisor com 248.300,990
m2, já na 19ª medição do Contrato 104/2010 esse item tem o quantitativo de 97.695,474 m2.
28. Dada a incerteza em relação ao valor do possível dano ao Erário e considerando que nestes autos não
existem elementos que possam fundamentar a realização de uma nova estimativa desse possível dano;
considerando, ainda, que a autoridade competente deve adotar medidas administrativas para caracterização
ou elisão do dano; propõe-se, com fundamento nos art. 197 e 252 do Regimento Interno/TCU c/c o art. 3º da
Instrução Normativa – TCU nº 71, de 28/11/2012, determinar ao Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes - DNIT, na pessoa do seu Diretor de Infraestrutura Rodoviária, que, no prazo de 60 (sessenta
dias), apresente a este Tribunal a estimativa do possível dano ao Erário advindo da deterioração de serviços
medidos e pagos no Contrato 104/2010, ocorrida em função do avanço desproporcional das etapas de
serviço, praticado pelo Consórcio construtor, com anuência da fiscalização do DNIT.
29. Vale esclarecer que, conforme o art. 80 do Regimento Interno do DNIT, compete ao seu Diretor de
Infraestrutura Rodoviária zelar para que sejam atendidos em tempo hábil todos os acórdãos desta Corte de
Contas (art. 80, inciso XII), bem como promover o acompanhamento físico e financeiro das obras e serviços
sob sua jurisdição (art. 80, inciso VII). Em razão disso, direcionou-se a proposta de determinação, supra, ao
gestor ocupante desse cargo.
30. Por fim, nos termos do disposto na Portaria Segecex 27/2009, art. 4º, inciso III, cabe propor que seja
autuado um processo específico de monitoramento, no âmbito do qual deve ser realizado o exame técnico
dos documentos a serem encaminhados pelo DNIT relativos à estimativa do dano ao Erário, e avaliada a
possibilidade de se propor a conversão dos autos em tomada de contas especial.
II – OITIVAS - ACHADO 3.3.
31. No Achado 3.3 do Relatório de Fiscalização 213/2012, (peça 58), a equipe de auditoria apontou duas
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acostamentos do Lote 7-BR-101/PE. Para tomar essa decisão, o DNIT afiançou que considerou, sobretudo, o
alto custo da solução em pavimento rígido para os acostamentos (peça 124, p. 5). Também considerou que a
base em BGTC apresentaria vantagens estruturais em relação à base em BGS, como por exemplo a melhor
interação com o pavimento da pista de rolamento e o ganho de resistência para suportar os esforços aos quais
o acostamento seria submetido, como por exemplo sua utilização como terceira faixa (peça 75, p.4).
42. Conforme o Consórcio construtor, só depois dessa definição do DNIT é que foi apresentada a proposta
de revisão de projeto em fase de obras, contemplando a alteração do tipo de camada de base dos
acostamentos, de BGS para BGTC, o que foi aprovado pelo DNIT (peça 99, p. 13).
43. Por fim, ainda quanto à definição do tipo de base a ser empregado nos acostamentos, o DNIT
asseverou que (peça 124, p. 5-6):
Vale ressaltar que o processo dinâmico de aprendizado, em função da realização pelo DNIT de obras
dessa complexidade permitiram um significativo ganho qualitativo nos novos projetos, especificamente
no que diz respeito a utilização de pavimentos rígidos, o que já pode ser observado na própria
continuidade da duplicação do corredor nordeste, onde os projetos originais já preveem a execução do
acostamento também em pavimento rígido.
44. Quanto ao aparecimento precoce das fissuras transversais nos acostamentos do Lote 7- BR -101/PE, os
auditados reapresentaram os argumentos já disponibilizados à equipe de auditoria, fundamentados,
sobretudo, nas conclusões constantes do Relatório Final de Estudo elaborado pelo Exército Brasileiro.
Nesses argumentos, os auditados reafirmaram que seria de conhecimento amplo na engenharia rodoviária,
em todos os seus setores (projeto, agências viárias, construtoras, controladores tecnológicos, acadêmico,
etc.), que o emprego de bases cimentadas implicaria em fissuras de retração. Segundo os auditados, quanto
maior o consumo de cimento menor seria o espaçamento entre tais fissuras. Com base nessa avaliação, o
Consórcio construtor concluiu que a utilização da BGTC inevitavelmente ocasionaria a ocorrência de
fissuras nos acostamentos, mesmo que o processo de cura fosse realizado obedecendo todas as
recomendações estabelecidas em norma.
45. Especificamente em relação a esse ponto, o Consórcio construtor assegurou que em momento algum a
Supervisora teria afirmado que a cura da BGTC teria sido realizada em desconformidade com o esperado. Na
sua avaliação, os registros da Supervisora tão somente serviriam para demonstrar que o processo de cura
teria sido acompanhado atentamente pela fiscalização e supervisão.
46. Quanto a esse aspecto, a Supervisora, na sua manifestação (peça 86), se restringiu a afirmar que teria
alertado o Consórcio construtor, durante a execução dos acostamentos, para os cuidados requeridos pelas
bases cimentadas e a necessidade da selagem, diante do ocorrido.
47. Buscando demonstrar a correção do processo de cura por ele empreendido, o Consórcio construtor
informou que na obra empregou o procedimento de cura estabelecido em projeto, qual seja: cura com
emulsão asfáltica. Também apresentou fotografias e registros da supervisora que comprovariam a efetiva
aplicação de ligante asfáltico (RR-2C) sobre a camada de BGTC, bem como resultados de ensaios de
umidade da camada de base (peça 99, p. 28-30).
48. Diante disso, o Consórcio construtor concluiu que:
Portanto, verifica-se o integral descabimento da conclusão de que o Consórcio seja responsável pelo
aparecimento das trincas em tela, quer seja porque tais ocorrências são consequência inevitável da
opção de projeto indicado pelo DNIT, quer seja por que não há provas ou elementos técnicos que
demonstrem que o contratado não tenha executado a cura ou, de forma diversa, viesse executando-a de
forma inadequada.
49. O DNIT, por sua vez, informou (peça 75) que diante da ocorrência das fissuras aplicou a penalidade de
advertência ao Consórcio construtor. Tal penalização teria sido aplicada, especialmente, com o objetivo de
dar celeridade na solução dos problemas apresentados, tendo sido esses corrigidos com a utilização de
selante, sem ônus para o DNIT. Por fim, a Autarquia lembra que, não tendo sido emitido o Termo de
Recebimento definitivo, o Consórcio construtor tem a responsabilidade pela solidez e segurança da obra por
cinco anos.
II.1.3 – ANÁLISE
50. Como já exposto, a equipe de auditoria relatou a ocorrência da irregularidade em exame
fundamentando-se principalmente em dois pressupostos:
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a) a utilização da base do tipo BGTC no Lote-BR-101/PE teria como origem uma proposta de revisão
de projeto em fase de obras, elaborada e encaminhada ao DNIT pelo próprio Consórcio construtor;
b) as falhas no processo de cura da base de BGTC, a cargo do Consórcio construtor, contribuíram para
a ocorrência da fissuração precoce do acostamento.
51. Quanto ao primeiro pressuposto, avalia-se que os elementos trazidos aos autos na manifestação dos
auditados não permitem concluir que a utilização de base com BGTC nos acostamentos do Lote 7 – BR-
101/PE foi idealizada pelo Consórcio construtor, apesar de ele ter apresentado para o DNIT a revisão do
projeto em fase de obras contemplando essa solução de engenharia.
51.1. Note-se que o próprio DNIT reconheceu que partiu dele a definição para que fosse adotada base de
BGTC nos acostamentos do Lote 7-BR-101/PE. A Autarquia, inclusive, apresentou os motivos pelos quais
tomou essa decisão: a experiência satisfatória com a utilização de BGTC nas obras do Lote 6-BR-101/PE; as
vantagens estruturais da base em BGTC em relação à base em BGS, originalmente prevista em projeto; e o
alto custo da substituição dos acostamentos em pavimento flexível com base em BGS para acostamentos em
pavimento rígido, essa, sim, a solução proposta pelo Consórcio construtor.
52. Quanto ao segundo pressuposto, tomando-se por base a comprovada ocorrência de fissuras no
acostamento do Lote 7-BR-101/PE, bem como o fato de o DNIT ter aplicado ao Consórcio construtor a
penalidade de advertência, tendo sido a ele garantido o contraditório e a ampla defesa, pode-se concluir que,
possivelmente, ocorreram falhas no processo de cura da camada de base em BGTC dos acostamentos do
Lote 7-BR-101/PE.
52.1. Em que pese essa conclusão, avalia-se que os elementos constantes nos autos não são suficientes para
viabilizar uma estimativa do dano ao Erário advindo dessa irregularidade (possíveis custos adicionais para
realização de futuras selagens de trincas), seja pela fragilidade dos dados constantes no processo que
culminou na aplicação da penalidade de advertência ao Consórcio construtor, que não permitem quantificar a
extensão das trincas advindas de falhas no processo de cura, seja por que as fissuras em camadas de base
executadas com BGTC podem ocorrer mesmo que se faça um rigoroso processo de cura, conforme
conclusão dos pareceres técnicos apresentados pelo Consórcio construtor.
53. Do exposto, mesmo admitindo que possam ter ocorrido falhas no processo de cura da camada de base
em BGTC do Lote 7 - BR-101/PE acarretando o aparecimento de fissuras nos acostamentos do Lote 7 – BR-
101/PE; considerando que, pelo menos, parte das trincas verificadas nesses acostamentos também podem ter
tido como origem as próprias características técnicas da BGTC; considerando que não se mostra viável
separar, com precisão, o quantitativo de trincas provenientes de possíveis falhas no processo de cura da base
de BGTC, do quantitativo de trincas naturalmente geradas pelas próprias características físico-químicas da
base em BGTC; considerando que o Consórcio construtor já recebeu uma penalização prevista em contrato
em razão de possivelmente ter cometido falhas durante o processo de cura da base em BGTC; considerando
que o Consórcio construtor procedeu a selagem das trincas, sem ônus para o DNIT; considerando que o
próprio DNIT reconheceu que partiu dele a definição para que fosse adotada base de BGTC nos
acostamentos do Lote 7 - BR-101/PE, levando em conta fatores técnicos e econômicos; considerando, por
fim, que mesmo de maneira intempestiva os gestores do DNIT adotaram providências para minimizar os
efeitos das fissuras verificadas nos acostamentos do Lote 7 – BR-101/PE; propõe-se desconsiderar a
irregularidade apontada.
II.2 - OCORRÊNCIA DE TALUDES SEM A DEVIDA COBERTURA VEGETAL OU DESMORONADOS – LOTES 7 E 8
II.2.1 - SÍNTESE DA IRREGULARIDADE APONTADA
54. Ao longo do segmento referente aos Lote 7 e 8 – BR-101/PE, verificaram-se taludes sem a devida
cobertura vegetal, taludes desmoronados, ou ainda, taludes com a cobertura vegetal rala ou inexistente.
II.2.2 – MANIFESTAÇÃO EM RESPOSTAS ÀS OITIVAS
55. De forma semelhante à irregularidade anterior, os elementos apresentados pelo DNIT (peças 75, 76 e
124), pelos consórcios construtores (Lote 7 - Consórcio Queiroz Galvão/Norberto Odebrecht/Andrade
Gutierrez/Barbosa Mello – peças 99 a 108 e Lote 8 – Consórcio OAS/Camargo Corrêa/Mendes Júnior – peça
98) e pela empresa supervisora das obras (JBR Engenharia Ltda. – peça 86) trazem, na sua essência, a
mesma linha de argumentação e podem ser considerados complementares. Diante disso, a manifestação deles
será apresentada, a seguir, em conjunto, de forma resumida.
II.2.2.1 – MANIFESTAÇÃO DOS AUDITADOS
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56. Os auditados confirmaram que, de fato, se verificou a existência de alguns cortes com proteção vegetal
deficiente e/ou com erosões localizadas, apesar de no projeto ter sido adotada uma solução que tenderia a
proporcionar uma maior estabilidade aos taludes (inclinação de 1H:1V, com escalonamento a cada oito
metros na vertical, em vez do talude utilizado comumente nos projetos rodoviários, ou seja 2H:3V).
57. Conforme os auditados, tais ocorrências teriam como causa características específicas presentes no
solo desses cortes, que requeriam uma abordagem não convencional na análise da estabilidade estrutural e
erosiva dos taludes. Para se empreender tal abordagem seriam necessários estudos muito mais complexos
que os previstos e efetivados na elaboração dos projetos, que teriam sido realizados por amostragem.
58. Ressaltaram que a necessidade desses estudos mais aprofundados, somente poderia ter sido detectada,
após a realização das obras e a exposição dos solos dos taludes de cortes às intempéries, sobretudo a
pluviometria acima das médias históricas ocorrida desde o início das obras, que teria contribuído para o
aparecimento das citadas deficiências.
59. Em contraponto à ocorrência dos problemas verificados, os auditados afirmaram que nas obras teriam
sido atendidas todas as exigências de projeto visando a estabilidade dos taludes, e que, além disso, teriam
sido realizadas intervenções adicionais, inicialmente não previstas, objetivando minorar as consequências das
falhas apontadas, como por exemplo o preenchimento das erosões com sacos contendo solo melhorado com
cimento e o refazimento da proteção vegetal dos taludes.
60. Nesse sentido, vale transcrever excerto do Relatório de Viagem, de 8/2/2012, elaborado por um
Analista de Infraestrutura de Transportes da Coordenação-Geral de Construção Rodoviária do DNIT/Sede,
sobre a situação das obras da BR-101/RN/PB/PE (peça 106, p. 10-17):
1.2 - Lote 7
Obras praticamente concluídas, incluindo as vias marginais de Escada. O Consórcio Q. Galvão/N.
Odebrecht/A. Gutierrez/B. Melo, está realizando os últimos serviços de reconstrução de placas de
concreto defeituosas, indicadas pela consultoria do Gerenciamento e demais serviços com vistas a
entrega das obras. (...)
De maneira geral, problemas relacionados à instabilidade de taludes estão acarretando a necessidade de
nova licitação, a ser providenciada pela Superinteridência/PE, para correção dos problemas. Os
mencionados taludes foram executados conforme previsto no Projeto Executivo. Num dos cortes, onde já
foi realizado um muro de peso com gabião, foram observadas movimentações que indicam um processo
de ruptura. Assim, a empresa executora está realizando serviços para estabilizar o referido corte, por
meio de execução de um reforço de solo assim como uma linha de micro-estacas no pé do talude (Figura
2 e Figura 3).
61. Ainda em relação aos problemas verificados em alguns taludes do Lote 7, o Consórcio construtor em
sua manifestação buscou demonstrar que não teria responsabilidade sobre tais ocorrências. Para tanto,
igualmente ao DNIT, assegurou que os taludes de corte teriam sido executados em estrita conformidade com
o projeto executivo aprovado e prescrito pela Autarquia.
62. Ademais, apresentou documentos (peça 108, p. 96-120) demonstrando que, desde o início da execução
contratual, teria alertado o DNIT para a necessidade de se rever o projeto dos taludes, encaminhando,
inclusive, um estudo específico da Geotech Engenharia sobre o tema.
63. Em relação aos taludes de corte referentes ao Lote 8, os auditados informaram que os
desmoronamentos teriam sido recuperados pelo Consórcio construtor daquele lote, e fizeram parte do
Relatório de Pendências, elaborado pela empresa supervisora e apresentado ao DNIT.
64. Quanto à existência de taludes de corte sem a proteção vegetal, o DNIT, no geral, reapresentou as
mesmas justificativas já encaminhadas à equipe de auditoria. De acordo com o DNIT, as falhas verificadas
em relação à proteção vegetal dos taludes de corte teriam como causa principal as queimadas realizadas nos
plantios de cana de açúcar, próximos ao limite da faixa de domínio. Essas queimadas teriam acarretado danos
a proteção vegetal dos taludes, executada por meio de hidrossemeadura. O DNIT informou, ainda, que, junto
com a Procuradoria Federal Especializada, estaria adotando providências para que fosse elaborado um Termo
de Ajuste de Conduta — TAC com os proprietários das usinas e engenhos para solução do problema.
65. O DNIT também informou que o Consórcio construtor do Lote 8 teria feito a proteção vegetal de todos
os taludes de corte, conforme informação da Supervisora e do Fiscal do Contrato, e que, mesmo assim, os
cortes onde a proteção vegetal foi danificada fariam parte do Relatório de Pendências, que teria sido entregue
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ao Consórcio construtor.
66. O Consórcio construtor – Lote 8 informou (peça 98) que todas as providências para corrigir as falhas
verificadas na cobertura vegetal e no desmoronamento de taludes já teriam sido tomadas, sob a orientação da
empresa responsável pela fiscalização ambiental do contrato (Consórcio Skill/STE).
67. As correções teriam sido efetivadas com a realização dos serviços de covamento e hidrossemeadura,
necessários à recomposição da cobertura vegetal, e de serviços de rip rap, destinado a estabilizar os taludes.
Como forma de comprovar a realização desses serviços, o Consórcio construtor apresentou um relatório
fotográfico dos serviços executados e excertos do relatório elaborado, em julho/2012 (peça 98, p. 68-80),
pela empresa fiscalizadora, onde consta que a hirossemeadura teria sido realizada e que os taludes se
encontravam em fase de monitoramento das ações realizadas.
II.2.3 – ANÁLISE
68. Lote 8
68.1. O Consórcio construtor informou ter adotado providências para corrigir as falhas verificadas, seja na
cobertura vegetal, seja no desmoronamento de taludes, independentemente dos fatos que provocaram os
citados problemas.
68.2. Essa informação encontra respaldo no relatório elaborado pela empresa responsável pela fiscalização
ambiental do contrato - Consórcio Skill/STE - (peça 98, p. 68-80), conforme descrito no excerto a seguir:
As medidas de contenção empregadas para coibir o escorregamento contaram da execução de muros de
contenção a base de sacos como solo ensacado e aplicação de hidrossemeadura.
O monitoramento realizado pela Gestora Ambiental (Consórcio Skill/STE) observou que parte dos
taludes encontra-se em execução da recuperação com o solo ensacado e outra parte encontra-se em
monitoramento da estabilidade durante o período de chuvas, em face da aplicação da hidrossemeadura.
68.3. Dessa forma, sopesando-se que as falhas nos taludes do Lote 8 constaram da relação de pendências a
serem resolvidas para viabilizar a finalização do Contrato 0254/2006; que o Consórcio construtor do Lote 8
corrigiu as falhas verificadas nos taludes; e que as intervenções por ele realizadas foram monitoradas pela
empresa responsável pela fiscalização ambiental do contrato de execução das obras, pondera-se considerar
essa irregularidade saneada.
69. Lote 7
69.1. Os argumentos apresentados pelos auditados (DNIT, Empresa supervisora e Consórcio construtor),
apesar de confirmarem a ocorrência das irregularidades apontadas, buscaram demonstrar que não teria
ocorrido falhas de projeto, nem de execução. Para sustentar esse posicionamento os auditados apresentaram
os argumentos descritos a seguir, que serão analisados um a um.
69.1.1. Argumento 1: No projeto teria sido adotada uma solução que tenderia a proporcionar uma maior
estabilidade aos taludes (inclinação de 1H:1V, com escalonamento a cada 8 metros na vertical, em vez do
talude utilizado comumente nos projetos rodoviários, ou seja 2H:3V).
69.1.1.1. Conforme o Manual de Implantação Básica – DNIT/2010 – IPR742, p. 52, os taludes clássicos dos
cortes são, na prática, os seguintes: talude vertical - caso dos cortes em rochas; talude 3:2 (V:H) – caso dos
solos consistentes; talude 1:1 (V:H) – caso dos solos pouco consistentes. Esse mesmo manual, na sua página
53, ensina que os taludes escalonados são, em geral, altos, em que se praticam banquetas com vistas à
redução da velocidade das águas pluviais, para facilitar a drenagem e aumentar a estabilidade do maciço.
69.1.1.2. Dessa forma, levando-se em conta o disposto no Manual de Implantação Básica – DNIT/2010 –
IPR742, é razoável admitir que no projeto foi adotada uma solução considerada conservadora em relação às
opções comumente utilizadas em taludes de corte em rodovias. Contudo, apenas isso não é suficiente para
concluir que os estudos e as soluções adotadas para os taludes de corte do Lote 7 foram adequados e
suficientes para bem caracterizar o solo dos maciços e viabilizar sua estabilidade.
69.1.1.3. Tomando-se por base as análises constantes no Relatório de Fiscalização/CGU 237418 (peça 41),
transcritas, em parte, a seguir, pode-se concluir que os estudos de estabilidade de taludes constantes do
projeto do Lote 7-BR-101/PE são deficientes e contribuíram para a ocorrência da irregularidade apontada,
apesar de nesse projeto ter sido adotada uma solução que, aparentemente, poderia proporcionar uma melhor
estabilidade aos cortes do segmento.
De fato, o exame mais detalhado do estudo de estabilidade de taludes, adotado no projeto executivo,
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denuncia várias fragilidades comprometedoras dos resultados obtidos e, por conseguinte, da solução
adotada.
A primeira fragilidade encontrada é a adoção de valores médios dos parâmetros geotécnicos obtidos há
28 anos, em projeto executivo elaborado por outra consultora, qual seja ASTEP Engenharia Ltda.
Parâmetros como umidade natural do solo, coesão e ângulo de atrito, determinantes das soluções de
estabilidade dos taludes, sofrem variações em função das condições climáticas e de confinamento, não
sendo razoável a adoção de resultados de ensaios de 1976 em projeto executivo de 2004. A consultora
JBR Engenharia Ltda deveria ter feito os ensaios para obtenção dos parâmetros geotécnicos necessários
à correta definição dos taludes de corte.
(...)
Outra fragilidade importante, determinante para obtenção de fatores de segurança equivocados, é a
adoção de coeficientes de estabilidade do método Bishop e Morgnstern, m e n, incoerentes com os dados
de entrada considerados no estudo da JBR. Esses coeficientes são obtidos a partir de ábacos de Bishop e
Morgnstem e variam em função do ângulo de inclinação do talude, ângulo de atrito do solo, relação c'/yh
e parâmetro de profundidade Df.
Uma evidência clara desse fato é que os ábacos usados para obtenção dos coeficientes m e n, integrante
do texto do projeto executivo da JBR (item 4.2.5.3 Vol I), não contêm, no eixo das abcissas, os ângulos de
inclinação 1(H):1(V) e l,5(H):1(V), considerados nas alternativas estudadas e, no caso do talude 1:1,
adotado como solução de talude estável pela projetista. Tais ábacos trazem as inclinações 2(H):I(V),
2,5:1, 3:1, 3,5:1,4:1,4,5:1, 5:1. Consequentemente, os valores de m e n adotados são superiores aos que
deveriam ser considerados, por se referirem a taludes mais abatidos, isto é, mais estáveis, gerando
fatores de segurança superiores aos obtidos para os taludes de 1(H):1(V) e l,5(H): I (V).
(...)
Pelo Método de Bishop e Morgenstern, a condição para estabilidade de um talude é o menor fator de
segurança ser maior ou igual a 1,5. Os fatores de segurança obtidos pela JBR são superiores a 1,5 para
todas as alternativas analisadas. Contudo, na análise feita por esta equipe de fiscalização, para cada
alternativa estudada, pelo menos um fator de segurança obtido é inferior a 1,5, indicando possibilidade
de ocorrência de ruptura para todas as alternativas estudadas. No caso específico da alternativa 1,
adotada como solução pela JBR, o menor FS é 1,582, indicando estabilidade. No entanto o valor obtido
por esta equipe de fiscalização é 0.820, indicativo de ruptura.
Portanto, fica caracterizada a imperícia por parte da projetista JBR Engenharia Ltda e a omissão da
área do DNER/DNIT, responsável pela análise e aprovação do projeto executivo em comento, por
permitir estudo de estabilidade de taludes de corte com dados defasados e inadequados, o qual culminou
em solução técnica que não contemplou o requisito de segurança exigido pelo inciso I do Art. 12 da lei
8.666/93.
69.1.1.4. Do exposto, o argumento apresentado pelos defendentes não merece prosperar.
69.1.2. Argumento 2: as falhas verificadas nos taludes teriam como causa características específicas
presentes no solo desses cortes, que requereriam estudos mais aprofundados com uma abordagem não
convencional na análise da estabilidade estrutural e erosiva dos taludes, muito mais complexa que a prevista
e efetivada na elaboração dos projetos, que teriam sido realizados por amostragem.
69.1.2.1. É possível que as características presentes nos solos dos taludes de corte do Lote 7 – BR -101/PE
requeressem uma abordagem não convencional na análise da estabilidade estrutural e erosiva desses
maciços. Ocorre que, caso imprescindível, tal abordagem deveria ter sido criteriosamente efetivada no
momento da realização dos estudos de estabilidade de taludes, durante a elaboração do projeto de engenharia
do Lote 7 – BR-101/PE, mesmo que por amostragem. Contudo, conforme se verifica nas análises constantes
no Relatório de Fiscalização/CGU 237418 (peça 41, p. 10-14), esse trabalho não foi corretamente realizado,
o que determinou a ocorrência de fragilidades nos resultados obtidos e, por conseguinte, da solução de
engenharia adotada.
69.1.2.2. Registre-se, ainda, que o fato de no projeto as análises terem sido feitas por amostragem, e antes da
execução dos taludes, não serve para justificar as falhas ocorridas. Note-se que na análise constante no
Relatório de Fiscalização/CGU 237418 (peça 41, p. 10-14) as fragilidades verificadas na solução de
engenharia dos taludes não são fruto da possível insuficiência de dados ou da ausência de estudos técnicos
12
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.749/2012-7
mais aprofundados para fundamentar a solução adotada. As fragilidades apontadas são fruto de uma série de
falhas verificadas nos estudos técnicos constantes do projeto, como por exemplo: ‘a adoção de valores
médios dos parâmetros geotécnicos obtidos há 28 anos, em projeto executivo elaborado por outra consultora,
qual seja Astep Engenharia Ltda’, e ‘a adoção de coeficientes de estabilidade do método Bishop e
Morgnstern, ‘m’ e ‘n’, incoerentes com os dados de entrada considerados no estudo da JBR’. Assim sendo, as
fragilidades apontadas independem da quantidade de amostras analisadas e da época em que os estudos
foram realizados, razão pela qual o argumento apresentado pelos defendentes não deve ser acolhido.
69.1.3. Argumento 3: As obras teriam sido executadas atendendo todas as exigências de projeto visando a
estabilidade dos taludes.
69.1.3.1. Nos documentos acostados a estes autos, inclusive no Relatório de Fiscalização 213/2012 (peça
58), não se verificou nenhum indício de que o Consórcio tenha executado os taludes contrariando às soluções
previstas em projeto. Contudo, esse fato não serve para elidir a irregularidade ou afastar a responsabilidade
dos construtores e projetistas, uma vez que, mesmo sendo executados conforme projeto, parte dos taludes de
corte desmoronou. No máximo, o fato de os taludes terem sido executados conforme projeto serve para
amenizar a responsabilidade do Consórcio construtor em relação à irregularidade apontada.
69.1.4. Argumento 4: O Consórcio construtor não teria responsabilidade sobre tais ocorrências, tendo, desde
o início da execução contratual, alertado o DNIT para a necessidade de se rever o projeto dos taludes
69.1.4.1. Com base nos documentos apresentados em sua manifestação (peças 99 a 108), pode-se concluir
que, realmente, o Consórcio Queiroz Galvão/Norberto Odebrecht/Andrade Gutierrez/Barbosa Mello alertou
o DNIT quanto à possibilidade de existirem falhas nos estudos de estabilidade dos taludes no Lote 7 – BR-
101/PE. Entretanto, tal fato, de maneira isolada, não é suficiente para afastar sua responsabilidade em relação
aos problemas ocorridos nos taludes do Lote 7 – BR-101/PE.
69.1.4.2. Registre-se que o art. 618 do Código Civil atribui ao executor a responsabilidade pela solidez e
segurança do trabalho da obra, assim em razão dos materiais, como do solo, por um período de cinco anos.
69.1.4.3. Ademais, o art. 625, inciso II, do Código Civil, faculta ao executor a possibilidade de suspender a
execução da obra, quando, no decorrer dos serviços, se manifestarem dificuldades imprevisíveis de
execução, resultantes de causas geológicas ou hídricas, ou outras semelhantes, de modo que torne a
empreitada excessivamente onerosa, e o dono da obra se opuser ao reajuste do preço inerente ao projeto por
ele elaborado.
69.1.4.4. Tendo o Consórcio construtor detectado os problemas no projeto e não tendo o DNIT adotado as
providências necessárias e suficientes para corrigi-los, poderia o Consórcio construtor suspender a execução
dos serviços. Não tendo adotado essa providência e tendo continuado a realizar os serviços com base no
projeto por ele considerado deficiente, o Consórcio construtor assumiu os riscos inerentes à sua decisão,
dentre esses a responsabilidade pela solidez da obra.
69.1.4.5. Do exposto, avalia-se que o fato de o Consórcio construtor ter, desde o início da execução
contratual, alertado o DNIT para a necessidade de se rever o projeto dos taludes serve, no máximo, para
amenizar sua responsabilidade em relação aos problemas ocorridos nos taludes do Lote 7 – BR-101/PE.
69.1.5. Argumento 5: Teriam sido realizadas intervenções adicionais, inicialmente não previstas,
objetivando minorar as consequências das falhas apontadas, como por exemplo o preenchimento das erosões
com sacos contendo solo melhorado com cimento e o refazimento da proteção vegetal dos taludes.
69.1.5.1. As intervenções adicionais efetivadas pelo Consórcio construtor, em princípio, não foram
suficientes para corrigir completamente os problemas ocorridos nos taludes do Lote 7. Note-se que o próprio
DNIT informa, por meio de um dos seus analistas de infraestrutura de transportes, que os problemas
relacionados à instabilidade de taludes do Lote 7 – BR-101/PE estariam acarretando a necessidade de nova
licitação, com o objetivo de corrigi-los.
69.1.6. Dessa forma, em que pesem os esforços do Consórcio construtor para corrigir os problemas ocorridos
nos taludes do Lote 7, o fato de ele ter realizado intervenções adicionais, ou mesmo ter executado as obras
conforme especificado em projeto, não serve para elidir a irregularidade apontada ou afastar suas obrigações
em relação às consequências dos fatos ocorridos, haja vista sua responsabilidade objetiva no tocante à
solidez e a segurança da obra.
69.2. Lote 7 - Conclusão
69.2.1. Confirmada a irregularidade, resta esclarecer se os problemas averiguados acarretaram dano ao
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.749/2012-7
Erário. Contudo, os elementos constantes nos autos não permitem emitir um posicionamento conclusivo a
esse respeito, mesmo havendo evidências de que foram executados serviços adicionais e de que, à época, foi
prevista a necessidade de serem executados novos serviços, tudo para viabilizar a estabilização dos maciços
que sofreram escorregamentos.
69.2.2. Note-se que para estimar o possível dano ao Erário é imprescindível averiguar se a implementação de
uma nova solução de engenharia tecnicamente acertada provocaria a perda dos serviços executados conforme
projeto (cortes com talude 1H:1V), bem como dos serviços adicionais efetivados (preenchimento das erosões
com sacos contendo solo melhorado com cimento, refazimento da proteção vegetal dos taludes etc), na
tentativa de estabilizar os taludes. Isso porque o possível aproveitamento de todos os serviços já executados
pode conduzir à conclusão de não ter ocorrido dano ao Erário.
69.2.3. Outra questão que merece ser sopesada no momento de se estimar o possível dano ao Erário, diz
respeito à análise comparativa do custo total das seguintes soluções de engenharia:
a) Solução A: solução prevista no projeto executivo aprovado (talude 1H:1V), efetivamente
implementada em todos os cortes do Lote 7 – BR-101/PE, incluindo os serviços adicionais necessários para
proporcionar a estabilidade dos taludes que desmoronaram;
b) Solução B: solução tecnicamente adequada, que, à época, deveria ter sido adotada no projeto
executivo para todos os cortes do Lote 7 – BR-101/PE.
69.2.4. De posse dos custos dessas duas soluções, seria possível estimar o suposto dano ao Erário ocorrido,
caso o custo total da Solução A seja superior ao custo total da Solução B.
69.2.5. Do exposto, considerando a inviabilidade de no âmbito destes autos realizar a estimativa do possível
dano ao Erário, avalia-se que seja razoável determinar ao DNIT, na pessoa de seu Diretor de Infraestrutura
Rodoviária, que, no prazo de 60 (sessenta dias), apresente a este Tribunal a estimativa do possível dano ao
Erário advindo , das fragilidades verificadas na solução de engenharia adotada no projeto executivo e
efetivamente implementada nas obras do Lote 7 – BR-101/PE (cortes com talude 1H:1V).
69.2.6. Igualmente ao exame do Achado 3.2, nos termos do disposto na Portaria Segecex 27/2009, art. 4º,
inciso III, cabe propor que seja autuado um processo específico de monitoramento, no âmbito do qual deve
ser realizado o exame técnico dos documentos a serem encaminhados pelo DNIT relativos à estimativa do
dano ao Erário, e avaliada a possibilidade de se propor a conversão dos autos em tomada de contas especial.
CONCLUSÃO
70. Nesta instrução examinaram-se as manifestações apresentadas pelo DNIT, pelo Consórcio
OAS/Camargo Corrêa/Mendes Júnior (executor do Lote 8 – BR-101/PE – Contrato 0254/2006), pelo
Consórcio OAS/Mendes Júnior (executor do Lote único – BR-101/PE - Contrato 104/2010), pelo Consórcio
Queiroz Galvão/Norberto Odebrecht/Andrade Gutierrez/Barbosa Mello (executor do Lote 7 – BR-101/PE -
Contrato 0252/2006), e pela JBR Engenharia Ltda (supervisora das obras do Lote 7 – BR-101/PE) em
resposta as oitivas autorizadas pela Exma. Relatora, por meio de despacho (peça 66), em razão das
irregularidades apontadas no Relatório de Fiscalização 213/2012 (peça 58).
71. Conforme Relatório de Fiscalização 213/2012 (peça 58), foram averiguadas as seguintes
irregularidades:
a) Achado 3.1 (Lote único - Contrato 104/2010) - Descumprimento de determinação exarada pelo
TCU, referente à retenção cautelar e à repactuação do contrato 104/2010 no tocante a 23 itens de serviço,
conforme despacho do relator datado de 21/3/2011 e Acórdãos 1.785/2011-TCU-Plenário e 982/2012-TCU-
Plenário (TC 019.731/2009-3), o que pode configurar prejuízo da ordem de R$ 2.203.585,76 (3/2010);
b) Achado 3.2 (Lote único - Contrato 104/2010) - Avanço desproporcional das etapas de serviço, em
razão da abertura de frentes de serviços no Lote Único em proporção superior à capacidade de
prosseguimento contínuo nas etapas seguintes, ensejando a exposição desses serviços, principalmente os
pertinentes à terraplenagem e às obras de arte correntes, mais afetados pelas chuvas, a intempéries e fatores
erosivos, com danos à administração estimados em R$ 4.234.971,31 (principal + reajustamento), decorrentes
da deterioração de vários serviços medidos e pagos pelo DNIT; e
c) Achado 3.3 (Lote 7 - Contrato 0252/2006 e Lote 8 – Contrato 0254/2006) - Inobservância das
normas legais, regulamentares e contratuais relativas à responsabilidade das empresas projetistas,
supervisoras e construtoras pela qualidade das obras, em especial quanto à reparação de defeitos ou à
devolução de valores pagos referentes às diversas fissuras transversais precoces no acostamento do Lote 7 e
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VOTO
ANA ARRAES
Relatora
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1. Processo TC 006.749/2012-7.
2. Grupo I – Classe V – Relatório de Auditoria.
3. Interessado/Responsáveis:
3.1. Interessado: Congresso Nacional.
3.2. Responsáveis: Consórcio OAS/Mendes Júnior (CNPJ 11.743.993/0001-08), Consórcio Queiroz
Galvão/Norberto Odebrecht/Andrade Gutierrez/Barbosa Mello (CNPJ 33.412.792/0119-52), JBR
Engenharia Ltda. (CNPJ 70.074.448/0001-35), Luis Munhoz Prosel Junior (CPF 459.516.676-15),
Luiz Antonio Pagot (CPF 435.102.567-00) e Rodrigo Makários (CPF 846.362.549-53).
4. Unidades: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – Dnit e Ministério dos
Transportes – MT.
5. Relatora: ministra Ana Arraes.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Rodoviária – SeinfraRodovias.
8. Representação legal: Alexandre Aroeira Salles (OAB/DF 28.10) e outros, representando o Consórcio
Queiroz Galvão/Norberto Odebrecht/Andrade Gutierrez/Barbosa Mello; Oscar Luís de Morais
(OAB/DF 4.300) e outros, representando a JBR Engenharia Ltda.
9. Acórdão:
VISTA, relatada e discutida a auditoria realizada, no âmbito do Fiscobras 2012, nas obras
de adequação da BR-101/PE, abrangendo trechos relativos aos lotes 6, 7, 8 e Único.
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário,
ante as razões expostas pela relatora e com fundamento nos artigos 169, inciso V, e 197 do Regimento
Interno; 3º da Instrução Normativa TCU 71/2012 e 4º, inciso III, da Portaria Segecex 27/2009, em:
9.1. determinar ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes que, no prazo
de 60 (sessenta) dias a contar da ciência desta deliberação, apresente a este Tribunal estimativa do
possível dano ao erário decorrente:
9.1.1. da deterioração de serviços medidos e pagos no contrato 104/2010 – BR-101/PE,
motivada pelo avanço desproporcional das etapas da obra, praticado pelo Consórcio OAS/Mendes
Júnior, com anuência da fiscalização da autarquia, contrariando os princípios da eficiência e da
economicidade (artigos 37, caput, e 70, da Constituição de 1988) e a jurisprudência do Tribunal
(subitem 9.3.3 do acórdão 585/2009 – Plenário, por exemplo); e
9.1.2. dos deslizamentos verificados nos taludes de corte da BR-101/PE – lote 7 (contrato
252/2006, firmado com o Consórcio Queiroz Galvão/Norberto Odebrecht/Andrade Gutierrez/Barbosa
Mello), causados, sobretudo, pelas fragilidades presentes na solução de engenharia adotada no projeto
executivo do empreendimento, em desacordo com o disposto no art. 12 da Lei 8.666/1993;
9.2. determinar à SeinfraRodovias que autue processo específico do tipo “monitoramento”
para verificar o cumprimento das medidas constantes do subitem anterior;
9.3. enviar ao Dnit, aos Consórcios OAS/Mendes Júnior, Queiroz Galvão/Norberto
Odebrecht/Andrade Gutierrez/Barbosa Mello e OAS/Camargo Corrêa/Mendes Júnior e à empresa JBR
Engenharia Ltda. cópia deste acórdão, acompanhado do relatório e do voto que o fundamentaram;
9.4. arquivar os presentes autos.
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Fui presente:
(Assinado Eletronicamente)
PAULO SOARES BUGARIN
Procurador-Geral
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