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MEDIAÇÃO DE PRIMEIRA ORDEM E CAPITAL: RELAÇÃO COM A

EDUCAÇÃO

Yarla Maíck Santos Cardoso1

RESUMO: A mediação foi escolhida como tema desse trabalho para análise de suas
possibilidades da utilização da educação na lógica de uma mediação de primeira ordem,
fazendo uma crítica direta à educação enquanto método que visa formar indivíduos que
atendam apenas o interesse do Capital. Para tal, foi feito um levantamento bibliográfico no
site da Scielo, da Unesp e bibliografias trabalhadas durante o semestre para concretização do
pensamento. Dessa maneira, considerando os aspectos das mediações de primeira e segunda
ordem, é demonstrado no trabalho que a mediação de segunda ordem pode ser superada,
sendo substituída pela de primeira ordem.

Palavras chave: Mediação; Trabalho; Alienação; Racismo ambiental;.

MEDIAÇÃO DE PRIMEIRA ORDEM EM ISTVÁN MÉSZÁROS

“O homem, na concepção marxista, não é uma ‘dimensão da história’; ao contrário, a


história humana é uma dimensão do homem, ser objetivo, auto-mediador, da natureza”.
(MÉSZÁROS, 1981, p. 226). Essa citação de Mészáros nos leva a refletir a maneira com que
Marx e Engels descrevem a relação do ser humano com a natureza, onde, para satisfação de
sua necessidade ele se relaciona com ela e retira dela o necessário para satisfazer suas
carências físicas e para sobreviver. E é a partir do ato de suprir suas necessidades que este é
conduzido para novas necessidades, esse momento seria o que Marx e Engels (1991)
denominaram de primeiro ato histórico demonstrando uma relação dialética entre
natureza-homem em que numa espécie de mediação entre as partes e que na mesma medida
elas se tornam indissociáveis numa relação onde o homem transforma a natureza para o seu
vir a ser humano.
Essa passagem do pensamento marxista demonstra que se o homem não produz novas
necessidades, não haveria possibilidade de haver história, e é exatamente essa relação entre
homem e natureza que forma a mediação e automediação. A mediação seria então uma
relação na qual o homem, em primeiro momento não se apropria da natureza de maneira
imediata, e sim ocorre uma tensão onde o homem, a partir do que encontra na natureza a

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Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB. E-mail:
yarlasantos720@gmail.com
instrumentaliza e constrói modos para se desenvolver. E, na concepção de Marx, essa
mediação entre homem-natureza é realizada pelo trabalho.

a ‘mediação de primeira ordem’ – a atividade produtiva como tal – é um fator


ontológico absoluto da condição humana. (...) Absoluto porque o modo humano de
existência é inconcebível sem as transformações da natureza realizada pela
atividade produtiva. (MÉSZÁROS, 1981)

Aqui, o trabalho é colocado por Mészáros como mediação de primeira ordem,


sendo responsável por permitir que o homem se constitua como ser pleno de essencialidade
humana. Logo, podemos perceber que a mediação de primeira ordem é indispensável para
compreendermos os limites e as possibilidades humanas assim como as relações que o
homem estabelece entre a ele e a natureza, e logo após com a sociedade. Darcoleto (2009)
diz:
[...] a mediação de primeira ordem é a única forma possível de o homem se
relacionar com a natureza e com o próprio homem, transformando-a e construindo
uma “segunda natureza”, ou seja, a sociedade, de modo significativo e positivo. E,
ainda, a mediação de primeira ordem permite ao homem compreender o mundo em
que vive e entender o seu papel como agente transformador da história.

Dessa maneira, as mediações de primeira ordem podem ser compreendidas enquanto


funções que se amparam em um sistema de troca que apenas busca atender as necessidades
humanas.

MEDIAÇÃO DE PRIMEIRA E SEGUNDA ORDEM NA SOCIEDADE


CAPITALISTA

Na sociedade capitalista2 estabelecem-se rumos contrários aos da mediação de


primeira ordem, onde se tem como um dos elementos tratados por Mészáros “fetichismo da
produção objetivando a submissão da satisfação das necessidades humanas, para atender
cegamente a expansão e a acumulação do capital;” (Gonçalves, Jimenez; 2013) que se
referem às necessidades de reprodução do capital - perdurando o quadro de crise estrutural do
capital - e ressaltando sua lógica de acumulação e expansionista. Num contexto mais geral,
também não é possível falar de mediação sem passar pelo conceito de alienação, a alienação
é citada aqui para pontuar que nas sociedades capitalistas as mediações são alienadas.

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Para explanação mais completa o conceito de alienação é brevemente citado para contextualizar e, de maneira
mais breve, chegar na relação de mediação e racismo ambiental.
O trabalho na sociedade capitalista está permeada por uma relação completamente
alienadora, onde as mediações de segunda ordem se sobrepõem às de primeira, podendo ser
compreendidas como mediações que se sobrepõem aos próprios seres humanos. Essa relação
de alienação provocada pelas mediações de segunda ordem cumprem papel no qual o
indivíduo, engendrado a lógica do capital tem em sua atividade vital - o trabalho - a
desumanização o subordinando ao principal de ter, fazendo com que a lógica seja a de
trabalhar para ter as coisas subestimando o papel do ser, colocando o trabalhador no lugar de
mercadoria.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: MEDIAÇÃO DE SEGUNDA ORDEM E COMO ESTA


AFETA O PROCESSO DE EDUCAÇÃO DO INDIVÍDUO

Levando em consideração o fato de que a mediação é intrínseca ao ser humano e a


sociedade, podemos compreender também que sua essência mostra que ela se manifesta de
acordo com o modo de produção e reprodução do metabolismo se criando e recriando de
acordo com as relações de produção. O modo de produção capitalista, que produz além do
necessário, cria um círculo vicioso da abundância em contraposição com a escassez, nesse
sentido, o que Mészáros traz para a discussão é o fato de que a maior parte do que é
produzido é consumido pela menor parcela da população, quando, em contraposição, a maior
parte dos indivíduos consome apenas o que é suficiente para sobreviver.
Considerando então a importância de se construir uma educação orientada para a
cidadania, e que, de acordo com a proposta de Freire pretende que indivíduo seja capaz de
trilhar seu próprio caminho, distante das categorias de alienação da sociedade, acredito que só
se pode haver um ser humano com total potencialidade do seu ser se este participar dos
processos educativos. Dessa forma, Mészáros (1981) aponta:

Nenhuma sociedade pode perdurar sem seu sistema de educação próprio. Mencionar
apenas os mecanismos de produção e troca para explicar o funcionamento real da
sociedade capitalista é procedimento inadequado. As sociedades existem através
dos atos dos indivíduos, que buscam realizar seus próprios fins. Em consequência, a
questão crucial, para qualquer sociedade, é a reprodução bem-sucedida desses
indivíduos (...). Assim, além da reprodução, numa escala ampliada, das múltiplas
habilidades sem as quais a atividade produtiva não poderia ser realizada, o
complexo sistema educacional da sociedade é também responsável pela produção e
reprodução da estrutura de valores dentro da qual os indivíduos definem seus
próprios objetivos e fins específicos.
Dessa forma, pode se julgar que a educação é uma mediação e é capaz de transmitir a
cultura produzida na história da humanidade para novas gerações, tendo também o caráter de
formar seres humanos de acordo com as necessidades e interesses sociais. Numa sociedade
em que a educação está intimamente ligada ao trabalho, como a nossa, podemos afirmar que
o trabalho interfere diretamente na educação. O que de fato busco fazer aqui, é criar uma
linha de pensamento em que sejamos críticos a hegemonia da ideologia dominante, que
internaliza no indivíduo as acepções capitalistas de que os valores do capital são seus
próprios valores e que o lugar que ocupamos na sociedade é natural. Nessa lógica, estamos
fadados a assimilar que a formação que buscamos deverá apenas funcionar numa lógica de
servidão e manutenção do capital. Nesse cenário, a educação aparece enquanto uma
mediação de segunda ordem, pois não garante que o ser humano se forme enquanto figura
emancipação e consciente de si, coisa que só seria possível em um cenário em que a
educação aparecesse enquanto uma mediação de primeira ordem, longe do conceito de
alienação.
Nesse sentido, a educação incorporada à lógica do capital - mediação de segunda
ordem -, serve para amparar o discurso de que o trabalhador deve estar em constante estado
de aprendizado, não para emancipação, mas para servir os interesses do mercado de trabalho,
uma vez que mais que nunca o trabalhador precisa se adequar ao mecanismo geradores de
mudanças devendo sempre ser produtivo. Esse discurso, por sua vez, apenas escancara o
desemprego provocado pela lógica capitalista. Mas o que de fato pretendo aqui é demonstrar,
a partir do conceito de mediação de primeira e segunda ordem, a necessidade da superação
da lógica de que a educação deve servir aos interesses econômicos, não apenas por criar
critérios irreais, mas também porque ao contrário do que se prega no capitalismo, o
desemprego também atinge trabalhadores qualificados. Por fim, quando colocamos a
educação no plano de uma mediação de primeira ordem, voltamos para a concepção de
Mészáros na qual o mesmo acredita que “a aprendizagem é a nossa própria vida”, mas que
temos que reivindicar uma educação plena para toda a vida, de maneira que esta sirva para
desafiar as formas dominantes de internalização consolidadas a favor do capital pelo próprio
sistema educacional (MÉSZÁROS, 2005).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DARCOLETO, Carina Alves da Silva Educação e Mediação: limites e possibilidades da


educação escolar a partir da categoria da mediação em István Mészáros/ Carina Alves da
Silva Darcoleto. – 2009.

GONÇALVES, R M. JIMENEZ, S V. Relações antagônicas entre sentido e significado do


trabalho na capital: uma análise na perspectiva ontológica. < Dísponível em:
https://www.scielo.br/j/psoc/a/4Vtg4gMNkSmvB9YHpTKfs8k/?lang=pt >
Acesso em 18 de julho de 2022

MARX, Karl. e ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã (I – Feuerbach). São Paulo:


HUCITEC, 1991. (8ª ed.).Tradução de José Carlos Bruni e Marco Aurélio Nogueira.

MÉSZÁROS, István. Marx: A teoria da Alienação. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. Tradução de
Waltensir Dutra.

MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2005. Tradução
de Isa Tavares.

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