Semântica Argumentativa:
Estudos dos Sentidos para o
Ensino de Língua Portuguesa
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Mariana Ricken Barbosa
Priscila Pereira Silva
ISBN 978-85-522-0657-6
2018
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SUMÁRIO
Bons estudos!
1 Estudo
dos
significados
em língua
materna
Objetivos Específicos
• Delimitar o campo de estudo da semântica;
Introdução
Etimologicamente, a palavra semântica tem sua origem no grego, sēmantiká, o plural neutro
de semantikos, cujo sentido é igual a significativo e/ou marcado. Outra possível origem seria a pala-
vra grega semainein, verbo que significa mostrar e é derivada da palavra sema, que significa sinal e
é sinônima de semîon, que significa signo. Cabe considerar também que a semântica, enquanto área
de investigação da Linguística, caracteriza-se pelo estudo do significado dos signos linguísticos (1),
versa sobre o seu grau de realidade. É fato, pois, que este não constitui o objeto a que se refere, mas
é a representação psíquica deste, ou seja, uma imagem mental e simbólica, razão pelo qual reflete
Nesse campo de estudo, além de se estudar o significado de unidades linguísticas, são também
(2012). Essas transformações e nuances se dão pois a língua e seu uso estão submetidos a questões
de ordem situacional, relacional e contextual. A consideração desses fatores externos ao sistema lin-
guístico em um estudo semântico depende da perspectiva teórica à qual ele se filia, pois, em uma
perspectiva de ordem estruturalista ou de ordem referencialista, os fatores externos não são consi-
e/ou semiótica (2), cujo objeto de estudo, o signo, é a essência da representação de todo e qualquer
7
fenômeno físico, metafísico, biológico, quí-
semiótica: entre
dois reinos
distintos, mas interconectados
A exemplo de outras áreas, a Semântica também não possui vertente única e homogênea. Para
além dos pressupostos teóricos e conceituais presentes nos manuais didáticos, de acordo com
(FRANÇA, 2009), diferentes linhas de pesquisa de bases epistemológicas (3) distintas ora encontram
Aristóteles (Estagira, 384 a.C. – Atenas, 322), pai da Retórica, uma das
8
entre os seres e o meio, pelo qual a língua passa a ser entendida não como um composto de sons
Para Saussure (2012), a língua é um sistema de signos que exprime ideias, portanto, a concepção
de uma ciência que estude a semiose no bojo das práticas sociais está para além dos domínios da
semântica. O que denominou como Semiologia necessitaria interagir com a Psicologia Social e, por
9
campos semânticos. Essa abordagem, cujo
Ainda nessa perspectiva, do ponto de vista discursivo, a distinção entre semântica, sintaxe, prag-
entanto, na condição de método, a indissolubilidade é mister, posto que a sinergia entre unidades de
10
hipônimo, hiperônimo, campo lexical etc. –, é necessário considerar a existência de um contexto
mos linguísticos, expressões idiomáticas etc., por meio de um processo de concepção que decorre da
por meio das respectivas escolhas lexicais que o usuário da língua faz deste sistema sígnico, cuja
natureza é ideológica e, portanto, admitem significados que reportam a algo para além de si mesmo,
durante um processo dialógico discursivo em uma dada situação enunciativa, ratificando Bakhtin
O signo é criado por uma função ideológica precisa e permanece inseparável dela. A pala-
vra, ao contrário, é neutra em relação a qualquer função ideológica específica. Pode preen-
cher qualquer espécie de função ideológica: estética, científica, moral, religiosa.
nas instituições de Ensino Superior e Educação Básica, na maioria das vezes, é caracterizada por um
hiato intelectual. Os desafios rumo à construção de um modelo educacional inovador e que estimule
a criatividade diante das inovações tecnológicas e das novas práticas sociais mediadas por estas.
A semântica enquanto ciência não está restrita ao campo dos estudos linguísticos, embora seja natu-
ral deste. À guisa de exemplo, cita-se a web semântica (13) que, em colabora-
11
ensino de língua materna é mais que defender a priorização de uma área de estudos linguísticos em
detrimento de outra, na verdade, é assumir que os pressupostos teóricos dessa ciência estão enraizados
componentes de ensino de Língua Portuguesa (14) enquanto Língua Materna devem contemplar o
entendimento das transformações das práticas comunicativas motivadas pelas TDIC (15), das quais
assume-se a visão enunciativa-discursiva da linguagem sob o entendimento de que esta é uma ativi-
12
Em consonância com os propósitos teó-
texto no qual você apresente uma reflexão sobre como empregar esta ciência no ensino de Língua
13
Considerações Finais
• É importante considerar que há uma Para saber mais
O componente Língua Portuguesa da BNCC (BRA-
linha tênue entre os domínios da SIL, 2017, p. 65, on-line) dialoga com documen-
tos e orientações curriculares produzidos nas úl-
semântica e da semiótica, que por timas décadas, buscando atualizá-los em relação
às pesquisas recentes da área e às transformações
vezes promove enganos conceituais, das práticas de linguagem ocorridas neste século,
decorrentes, em grande parte, do desenvolvimento
epistemológicos e de finalidade. das tecnologias digitais da informação e comuni-
cação (TDIC). Assume-se aqui a perspectiva enun-
• A semântica não possui base teó- ciativo-discursiva de linguagem, já assumida em
outros documentos, como os Parâmetros Curricu-
rica homogênea, uma vez que seus
lares Nacionais (PCN), para os quais a linguagem é
“[...] uma forma de ação interindividual orientada
construtos epistemológicos são dis-
para uma finalidade específica; um processo de in-
tintos, sendo ora convergentes, ora terlocução que se realiza nas práticas sociais exis-
tentes numa sociedade, nos distintos momentos de
divergentes, e/ou mesmo mutua- sua história” (BRASIL, 1998, p. 20, on-line).
mente excludentes.
letradas digitais.
Glossário
Signo Linguístico: É uma unidade psíquica de duas faces, a união do conceito com a imagem acús-
tica. O primeiro, significante (plano da expressão - fonética), que é a parte sensível. O segundo, o
significado (ou ideia), é a representação mental de um objeto ou da realidade social em que nos situ-
amos, representação essa condicionada por nossa formação sociocultural (SAUSSURE, 2012, p.106).
14
Epistemologia: Significa discurso (logos) sobre a ciência (episteme). (Episteme + logos).
Epistemologia: é a ciência da ciência. Filosofia da ciência. É o estudo crítico dos princípios, das
hipóteses e dos resultados das diversas ciências. É a teoria do conhecimento (ESSER, 1994, on-line).
Semiose: Termo introduzido pelo filósofo e matemático norte-americano Charles Sanders Peirce,
Imanente: Que faz parte de maneira inseparável da essência de um ser ou de um objeto; ine-
rente. [Filosofia] que está contido na parte da experiência possível, fazendo com que a realidade
seja percebida através da utilização dos sentidos; segundo o Kantismo, diz respeito aos concei-
tos e/ou preceitos de teor cognitivo. [Filosofia] que se refere à comprovação empírica da realidade
Verificação de leitura
QUESTÃO 1-A semântica, entendida como a disciplina que estuda o significado, nas pers-
pectivas contextual e contextual-situacional, transcende a investigação da palavra para
elementos extralinguísticos tais como:
a) a natureza dos signos linguísticos.
15
QUESTÃO 2-Aristóteles postula que o signo é uma espécie de conector das representações
intrínsecas e extrínsecas, entre os seres e o meio. Nesse sentido, compreende-se que:
a) o signo é uma unidade estanque com sentido em si mesma.
b) I, II e IV.
c) I, III e IV.
d) I e II.
e) II e IV.
16
Referências Bibliográficas
BAKHTIN, M. M. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método
sociológico da linguagem. Tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira, com a cola-
boração de Lúcia Teixeira Wisnik e Carlos Henrique D. Chagas Cruz. 14. ed. São Paulo:
Hucitec, 2010.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 1998. 107p. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/portugues.pdf>. Acesso em: 07 maio 2018.
______. Base Nacional Curricular Comum. Brasília: MEC, 2017. 65p. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/index.php>. Acesso em: 28 jan. 2018.
BRÉAL, M. Ensaio de Semântica. Tradução de Aída Ferrás et al. São Paulo: Pontes, 1992.
FRANÇA, M. M. Retórica e discurso publicitário digital: semiose da trilogia Éthos, Lógos &
Páthos. 2015. 226 f. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) - Departamento
de Letras Clássicas e Vernáculas, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
GREIMAS, Algirdas J. (1967). Las Relaciones entre la lingüística estructural y la poética. In:
SAZBÓN, J. (org). Lingüística y communicación. Buenos Aires: Nueva Visión.
IMANENTE. In: Dicionário Online de Língua Portuguesa, 2018. Disponível em: <https://
www.dicio.com.br/imanente/>. Acesso em: 08 fev. 2018.
17
SIGNIFICADO DE TAXONOMIA. In: Significados, 2018. Disponível em: <https://www.signi-
ficados.com.br/taxonomia/>. Acesso em: 27 jan. 2018.
Gabarito
QUESTÃO 1-Alternativa D
Nas perspectivas contextual e contextual-situacional são considerados elementos extralinguísti-
QUESTÃO 2-Alternativa E
O signo é uma espécie de conector das representações intrínsecas e extrínsecas entre os seres e o
meio pelo qual a linguagem passa a ser entendida não apenas como um composto de sons aleatórios
QUESTÃO 3-Alternativa B
A semântica estrutural visa criar um conjunto analítico semelhante ao da Fonologia e ao da
18
2 As
diferentes
abordagens
semânticas
Objetivos Específicos
• Apresentar as diferentes vertentes semânticas e seus respectivos fundamentos;
Introdução
Conforme já foi visto no capítulo introdutório, a semântica é o estudo dos significados imanentes
das palavras, símbolos, imagens, frases, orações, enunciados, em linhas gerais, a investigação do
todo que compõem o texto. Você também já sabe que esse campo de pesquisa, do ponto de vista
Neste capítulo, você conhecerá um pouco mais sobre as diferentes correntes semânticas, seus
fundamentos teóricos e respectivos precursores. Será possível conhecer o objeto de estudo de cada
uma dessas abordagens e a forma como cada qual concebe o seu processo hermenêutico.
Esperamos que ao final dos estudos deste capítulo você tenha compreendido o porquê da exis-
tência de tantas vertentes no campo das pesquisas semânticas e que, principalmente, seja capaz de
Tais constatações permitirão fazer escolhas conscientes dentro do cabedal teórico à disposição,
abordagem empregada, com vistas ao processo de ensino de Língua Portuguesa e os aspectos que
níveis díspares, tornando-a uma disciplina ampla e fecunda enquanto instrumento de construção de
20
Nas diversas escolas de estudos semânticos, entre as principais correntes, podem ser destacadas:
cas que pudessem limitar a construção de sentido à análise do objeto, desconsiderando os elemen-
Nesse sentido, a frase é entendida como uma segmentação lógica, ao passo que o período é
entendido como uma fisiologia emocional. A dicotomia saussuriana – eixo paradigmático e sintag-
mático – contribui para relação entre as escolhas lexicais e a organização lógica constituída, com
rializa as intenções comunicativas do usuário à medida que este opta por uma determinada lógica
do conjunto sintagmático, razão pelo qual o significado, embora atrelado ao léxico (palavra/ signo),
21
verdadeiramente, emane da conjectura
Denominado como órganon (3), o conjunto lógico aristotélico constitui o alicerce dos princípios
da semântica lógica, na qual afirma-se que uma proposição é um complexo envolto em dois termos:
Ao aplicar a teoria de oposição e conversão, o ateniense investigava as relações entre duas proposi-
ções contendo os mesmos termos, o que resultou em uma de suas maiores contribuições aos estu-
22
A seguir, analisemos as próximas proposições à luz dos princípios, em especial, o da oposição/
3. Marivaldo mente. (Por quê?) Porque todo homem mente e Marivaldo é um homem.
Com base nos princípios destacados, pode-se inferir que a terceira proposição é verdadeira, pois
está fundamentada na premissa maior por contingência (Todos/ Marivaldo é parte do todo porque é
da mesma espécie) do sujeito e pelo jogo de oposições e conversões dos predicativos (homens men-
Em suma, a lógica tinha por objetivo codificar o entendimento sobre a linguagem de forma racional
cia com o contexto particular no qual se dá o processo comunicativo. Nesse sentido, a significado
não é determinado apenas pelos seus aspectos elementares de sua natureza sígnica, mas em um
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processo analítico concomitante ao uso da linguagem por parte dos sujeitos em um determinado
cenário, onde diferentes domínios da significação se evidenciam nos atos de fala, contingenciando
É comum, nos manuais didáticos de ensino de Língua Portuguesa, a presença de tópicos de estu-
hiperonímias/ hiponímias, polissemia, entre outros (FRANÇA, 2009, on-line), destacando que as
relações de significação, bem como os tipos de funções oriundas das interações entre elementos/
elementos, elementos/ conjuntos, conjuntos/ conjuntos, constituem nexo entre o composto signifi-
Para efeitos didáticos, pode ser sintetizada à fusão dos modelos conceituais e associativos: mag-
Significado conceitual ou
Conteúdo lógico, cognitivo ou denotativo
Sentido
Significado
afetivo comunica sentimentos/ atitudes do falante
associativo
24
– paradigma e sintagma. Ao passo que o
Contextual-Situacional
Fundada por Oswald Ducrot, alicerça-se no princípio de que a argumentação é o fator essencial
à construção do sentido, que presente na língua é manifestado por meio dos enunciados. Nesse
sentido, cabe recuperar o entendimento postulado pela Semântica Linguística, na qual a enuncia-
espaço, um evento que marca o próprio enunciado, fazendo com que a situação se torne resultado
do processo enunciativo.
cesso interpretativo, uma vez que o locutor se posiciona ideologicamente a partir do discurso. Por
extrai-se o substrato da ação enunciativa da linguagem, ou seja, as intenções marcadas nos pres-
supostos e subentendidos.
sistema, à medida que o segundo descreve a enunciação visando o enunciado, privilegiando o pro-
De acordo com Koch (2011), destaca-se o fato de que em 1978 ao revisar, ou melhor, apre-
sentar uma autocrítica sobre a oposição que estabeleceu entre pressuposto e subentendido, são
25
apresentadas algumas convenções sobre as seguintes terminologias: frase (7), enunciado (8), signi-
Somado ao conceito de polifonia (12), um dos principais pontos da teoria de Ducrot, por conse-
dido, que estabeleceu a significação da frase como propriedade do primeiro, enquanto o segundo ao
que o sentido de uma entidade linguística está na relação entre os elementos do sistema, motivo pelo
qual o sentido de um enunciado deve ser analisado em conformidade com os encadeamentos discur-
sivos em que ocorre argumentação, cuja natureza pode ser fragmentada em duas partes: retórica e
é um dos cofundadores da ciência cognitiva e o proponente de uma das mais polêmicas teorias filo-
sóficas da linguagem, denominada como semântica da linguagem natural, cuja essência nunca fora
Ao propor uma abordagem internalista para o estudo da linguagem, enfrentou grande resistên-
cia dos linguistas externalistas que defendiam a ideia de que todos os fatos semânticos devem ser
26
explicados a partir das interações entre os usuários da língua em um determinado contexto de prá-
ticas sociais, sem considerar, todavia, os processos mentais que operacionalizam a linguagem.
• A primeira língua de um falante é aprendida naturalmente, não havendo necessidade de ser ensinada.
• A semelhança entre os erros cometidos pelos aprendizes da língua, nas mais diferentes culturas.
• Frente à complexidade das estruturas das línguas naturais, o estímulo linguístico recebido é
Fundamentado por tais argumentos, Chomsky defende a tese de que as estruturas elementares
da linguagem estão assentadas em nosso aparato cognitivo, motivo pelo qual o filósofo propõe o
nativismo linguístico, baseado na presunção de que possuímos uma gramática universal inata, que
Nessa perspectiva, infere-se que a mente é um composto dividido em diferentes setores e/ ou áreas
interligadas que se responsabilizam por atividades díspares, sendo a faculdade da linguagem (deno-
minação Chomskyana) a responsável por executar e gerenciar tarefas como a de formulação e inter-
pretação de fonemas, compostos semânticos e estruturas gramaticais das mais simples às complexas.
De acordo com Chomsky (2000), nascemos dotados desse complexo sistema linguístico, tor-
universal que rege as línguas naturais, possibilitando que diferentes indivíduos as aprendam, visto
que em um nível elementar, todas as línguas estão alicerçadas sobre o mesmo princípio, o da facul-
dade da linguagem que pressupõe e operacionaliza esse compêndio, permitindo ao usuário modelar
Esse pensamento chomskyanos, culmina com a rejeição das teses de que a linguagem é um cons-
truto público, uma propriedade de comunidade e que as expressões da linguagem denotam coisas
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condiciona os eventos comunicativos entre os indivíduos.
Segundo Chomsky (2000, on-line), geramos os nossos próprios significados e consentimos que
os significados dos demais são como aos nossos. Resumindo, comunicamos aos outros os sentidos
cunhados em nossas próprias mentes, motivo pelo qual chega-se ao entendimento de que lingua-
gem não é usada para representar o mundo, e sim para exteriorizar nossas representações internas
as palavras possuem aspectos de duas naturezas: fonéticas (som) e semânticas (significado), cujo
papel é materializar e compartilhar as representações de um indivíduo com outro (os), pois a mente
características das diferentes vertentes semântica. Baseando-se nesses estudos, escolha duas entre
as apresentadas e construa um texto no qual apresente uma avaliação contrastiva entre ambas,
Considerações Finais
• A semântica estrutural desenvolveu-se baseada nos moldes analíticos e discricionários da
• A semântica lógica tem como base a lógica clássica aristotélica, que tinha por objetivo codificar
cesso comunicativo.
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• A semântica contextual-situacional é alicerçada no princípio de que a argumentação é o
ser ensinada; (2) a existência de semelhança entre os erros cometidos pelos aprendizes da
língua nas mais diferentes culturas; (3) ao fato que os aprendizes desenvolvem uma determi-
observada a complexidade das estruturas das línguas naturais, o estímulo linguístico recebido
Glossário
Órganon: Do grego organikos, relativo ou pertencente a um órgão/ instrumento relacionado a
thal, “juntar, concluir, chegar a uma premissa”, literalmente “pensar junto”, de syn, “junto”, mais
29
Verificação de leitura
QUESTÃO 1-Analise as afirmações a seguir com relação à semântica estrutural e responda:
I – É fundamentada em princípios dicotômicos saussurianos.
II – É baseada em moldes analíticos discricionários.
III – Pressupõe a concepção de um conjunto de categorias e classificações.
IV – A frase é compreendida como uma fisiologia lógica.
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QUESTÃO 3-Escolha a alternativa que apresenta a informação correta com relação à Se-
mântica Lógica.
a) A semântica lógica é fundamentada no princípio dicotômico saussuriano da língua/ fala.
b) A semântica lógica possui seu alicerce no conjunto lógico aristotélico, denominado órganon.
c) A semântica lógica concebe que o significado não é determinado apenas pelos aspectos
elementares de sua natureza sígnica.
d) A semântica lógica baseia-se nos processos semióticos, oriundos das relações sociais.
e) A semântica lógica é um desdobramento metodológico da semiótica greimasiana.
Referências Bibliográficas
CHOMSKY, N. New horizons in the study of language and mind. Cambridge: Cambridge
University Press, 2000. Disponível em: <https://academiaanalitica.files.wordpress.
com/2016/10/noam-chomsky-new-horizons-in-the-study-of-language-and-mind.pdf>.
Acesso em: 07 de fev. 2018.
DUCROT, O. Princípios de semântica linguística (dizer e não dizer). São Paulo: Cultrix, 1979.
31
ÓRGANON. In: Dicionário Informal, 2018. Disponível em: <https://www.dicionarioin-
formal.com.br/%C3%B3rganon/>. Acesso em: 07 de fev. 2018.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. 28. ed. São Paulo: Cultrix, 2012.
Gabarito
QUESTÃO 1-Alternativa A - A frase deve ser entendida como uma segmentação lógica, ao
passo que o período à fisiologia lógica.
32
3
Texto e
argumentação
Objetivos Específicos
• Apresentar as diferentes concepções entre texto, enunciado e discurso;
Introdução
À medida que avançamos em nossos estudos semânticos, você já deve ter percebido que as
e recursos teóricos, de uma vertente com relação à outra, tornam-se mais claros e perceptíveis, ao
passo que os processos investigativos que compõem seus respectivos conjuntos analíticos vão sendo
se pelo interesse nas relações entre a linguagem e o pensamento. A concepção de que a linguagem
é um mero instrumento de expressão dos nossos pensamentos é acrescida dos seguintes predicati-
vos: moldura e conectivo de ideias durante o processo de interpretação dos enunciados, por parte
dos interlocutores, o que permite conceber o significado como sendo o resultado da associação dos
elementos sígnicos da linguagem. A compreensão dos enunciados não é função exclusiva de um pro-
cesso analítico das estruturas linguísticas, a percepção da situação em que nos encontramos é fator
tura argumentativa do texto, ou seja, assimilar o contexto. É compreender, portanto, que o sentido
é construído a partir da análise das relações dialógicas manifestas nos processos de argumentação
cuja natureza repousa sobre os fenômenos polifônicos e de intertextualidade nos quais cada texto se
34
1. Texto, enunciado, discurso
Os linguistas, quando fazem referência às produções verbais, lançam mão de diferentes ter-
mos para exemplificação desses fenômenos comunicativos. Por vezes recorrem à palavra texto,
ora enunciado e/ ou discurso, embora esses recebam definições distintas entre si, e nesse cená-
rio podem assumir conotações semelhantes visto que são materializados por meio da linguagem
(MAINGUENEAU, 2005).
De acordo com Fontanille (2007), o texto é objeto de estudo da Linguística (a gramática de texto
Nesse sentido, a palavra texto deve ser empregada no sentido de produção verbal oral ou escrita,
estruturada e perpetuada para além de seu contexto original de produção. Em muitos casos, não é
produzido por um único locutor, podendo assumir diferentes categorias de hierarquização entre os
Ao recorrer ao termo enunciado, renuncia-se aos valores conceituais que esse possui e que o dife-
rencia dos demais. Em linha gerais, considerado como a marca linguística do ato enunciativo, pode
ser definido como uma unidade elementar da comunicação verbal, ao passo que ainda há àqueles
O termo enunciado também é empregado para representar uma estrutura verbal que compõe
uma unidade específica de comunicação plena, em uma determinada esfera discursiva, na qual a
orientação comunicativa a ela está atrelada, tornando seu entendimento semelhante ao conceito
de texto.
No que se refere à noção de discurso, em linhas gerais, o termo pode assumir diferentes acepções
como, por exemplo: enunciados solenes (o governador fez um discurso), sinônimo de falácias (O que
sai da boca dele é só discurso), ou mesmo para caracterizar o uso restritivo da língua (discurso jurí-
dico, publicitário, capitalista etc.). Nesse sentido, seu emprego é ambíguo visto que pode representar
35
tanto o sistema que permite a construção de um conjunto textual, bem como o composto resultante
produto da enunciação, estará sob enfoque das linguísticas textual e enunciativa, ou mesmo da
sentação de mundo dela constituída. Ao passo que a interação social dos indivíduos, na e pela lin-
É pela argumentatividade que a língua é aplicada na interação social, dotada de valores que per-
mitem ao homem julgar, avaliar, criticar, escolher, definir uma razão legitimada. Já o discurso tem,
na ação verbal, a negociação das intencionalidades dos interlocutores, promovendo a disputa das
Assim, a argumentação visa promover assentimento à adesão dos espíritos (2) e, portanto, pressu-
põe a existência de uma relação de natureza intelectual, pois o plano das interações sociais e processos
36
Para Bakhtin (1997), o signo não constitui uma entidade meramente linguística como para
O russo, ao fundar as bases do estudo em enunciação, efetiva o signo linguístico como um signo
37
a visão bakhtiniana (Bakhtin, 1979), servindo como instrumento comunicativo com propósi-
tos específicos (Swales, 1990) e como forma de a ação social (Miller 1984), é fácil, perceber
que um novo meio tecnológico, na medida que interfere nessas condições, deve também
interferir na natureza do gênero produzido.
Segundo Perelman (2014), grande parte dos textos dos gêneros de publicidades e propaganda
visa atrair a atenção do enunciatário em meio a sua indiferença, sendo essa uma condição indispen-
Para Charles Perelman, que foi filósofo do Direito, um dos mais importantes teóricos da Retórica
e da Nova Retórica e Argumentação no século XX, a persuasão constitui um ato diferente ao de con-
vencer. O primeiro busca o assentimento, o desejo do interlocutor por meio de argumentos plausí-
rio) particular. O segundo objetiva atingir a razão por meio do raciocínio lógico e provas objetivas de
A distinção entre o ato de persuadir e convencer instaura diferentes categorias e tipos de argu-
mentos, que visam estabelecer relações de certezas por meio de processos indutivos e os que con-
38
A autora ainda argumenta que um discurso, para ser bem estruturado, deve estar fundado sobre
o implícito e o explícito, sendo que os elementos indispensáveis a sua compreensão devem atender
relações dos signos entre si; a dimensão semântica, que diz respeito às relações entre os signos ou
complexos de signos e os objetos por eles designados; e a dimensão pragmática, que trata das rela-
A noção de texto, nessa abordagem, caracteriza-se pela textualidade (tessitura) que transcende
à junção estruturada das frases, rumo às redes de relações intertextuais que revelam a conexão
a essência da argumentação por meio de unidades semânticas, entendidas aqui como entidades de
a dimensão sintática da linguagem concernente às relações dos signos entre si; o nível semântico,
como instância das relações entre os signos ou complexos de signos e os objetos por eles designados;
e, por fim, o plano pragmático na qual as relações entre os signos e os seus usuários se materializam.
Cabe ainda destacar que o componente que produz o significado diz respeito à semântica,
enquanto o significado final, à análise do significado literal, mais os fatores extralinguísticos, repou-
1.2 Intertextualidade
Materializado por meio das relações sociais, tanto o signo ideológico, quanto o linguístico, são
moldados pelas marcas culturais de uma época e de um grupo social determinado, estabelecendo
uma conexão direta entre as unidades imanentes das formações sociais, ideológicas e, por conse-
quência, das discursivas. Uma vez que os signos são criados por convenção social e consubstanciam
39
em si os valores compartilhados, atribuídos por um determinado grupo, toda atividade linguística é
Bakhtin (1997), em sua teoria da enunciação, propõe que a língua deve ser investigada em seus
amplos) e configurando os usos da linguagem ou enunciados, sendo que a situação social mais ime-
diata e o meio social mais amplo determinam a estrutura da enunciação. Isso porque os usos de lin-
guagem, sejam textos escritos ou orais, implicam essencialmente uma interação verbal, que pressu-
A natureza dialógica dos signos configura e reconfigura as relações sociais à construção de pro-
cessos subjetivos de interpretação, que interconectam textos e outros discursos produzidos e que
trópica tempo/ espaço e do seu papel na tessitura dos arranjos intertextuais polifonicamente entre-
Embora a enunciação seja um fenômeno singular, a cada novo enunciado há uma referência
implícita a discursos que foram internalizados no indivíduo, motivo pelo qual a enunciação é conce-
bida a partir da relação dos sujeitos consigo e com os demais membros de uma mesma sociedade,
ratificando a essência dialógica do texto manifesta entre os interlocutores e pelo diálogo com outros
textos.
dialógica, afasta-se da concepção de entidade abstrata, neutra e monológica, para assumir um sta-
tus de locus de múltiplas vozes, uma espécie de entidade intertextual e fundamentalmente polifônica.
40
FIGURA 1 - Intertextualidade no tempo/ espaço
1.2.1 Argumentação
O objetivo de toda argumentação é promover ou ampliar o assentimento e/ ou a adesão à tese apre-
sentada. É fato que, quando eficaz, o processo argumentativo conduz à persuasão ou mesmo à disposição
para ação que, em linhas gerais, sempre objetiva e modificar o estado de coisas preexistentes.
apreço à adesão do enunciatário à causa defendida de forma racional, promover a comunidade dos
espíritos com vista à valorização da liberdade dos juízos e o aceito dos pressupostos dialogicamente
41
Entre as premissas da argumentação repousa o fato de que é necessário haver um acordo entre
os interlocutores sobre o que pode ser aceito do ponto de vista do raciocínio, subsequentemente, a
interlocutores, cabe incluir os valores, as hierarquias e os lugares do preferível, a fim de que se possa
A concordância de um valor implica em aceitar a condições para que um objeto, ser ou ideia possa
Em linhas gerais, a argumentação baseada em valores pressupõe uma distinção entre os abstratos e os
concretos. O primeiro está à justiça e à veracidade, ao passo que o segundo ao caráter único e particular
derivado de uma experiência humana singular por excelência (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2014).
No que diz respeito às hierarquias, podem ser interpretadas sob dois aspectos característicos: as
concretas, expressas nas relações de capital entre os homens e os outros seres; e as abstratas, nas
comparações de superioridade entre o justo e o útil. Entre os princípios mais usuais hierarquizantes
está a quantificação de algo baseada na preferência concedida a um dos dois valores. Em oposição,
estão as hierarquias heterogêneas, cujos valores abstratos não implicam independência ou excluem
Por fim, à questão dos lugares, os Topoi, dos quais derivam os tópicos, ou tratados legitimados ao
raciocínio dialético (6), podem ser designados como categorias sobre as quais se podem classificar
os argumentos. Aristóteles distinguia os lugares comuns dos específicos, sendo que o primeiro pode-
ria atender a quaisquer ciências sem que houvesse relação de dependência; enquanto o segundo
42
1.2.2 Argumentação e Intertextualidade
Em linhas gerais, considerada como uma atividade estruturante do discurso, a argumentação
consiste na apresentação e organização dos argumentos e raciocínios por meio dos quais se objetiva
alcançar determinados resultados. Também entendida como um modo de interação humana, na qual
aquele que argumenta, visa interferir sobre as representações ou convicções do outro, buscando
A função argumentativa da linguagem tem sido explorada pela Semântica Argumentativa, que eviden-
cia as marcas nas estruturas dos enunciados como elementos de valor argumentativo, destacando que
uma frase não se refere apenas às informações que ela veicula, mas pode comportar signos e expressões
que orientam a argumentação como forma de ação que se inscreve sobre o outro e sobre o mundo.
gentes ou divergentes, que permitem aos interlocutores expressar-se, apresentando diferentes pon-
cada, presumindo sempre uma intenção e ressignificando a palavra do outro de novas signifi-
cações. Para Bakhtin (1981), o texto constitui-se sobre múltiplas relações dialógicas com outros
textos, congregando modalidades textuais, discursivas e polifônicas nas quais coexistem outras
vozes e consciências.
Em suma, a intertextualidade explicita a dinâmica relação dialógica de cada texto em relação aos
outros, no constante processo diálogo entre as obras e cada voz e/ ou novo conjunto de vozes que
da palavra do outro servir de argumento a uma determinada tese em questão. Seja qual forma a
modalidade de referencialidade - citação, alusão, paráfrase etc. - essas conjecturas sempre revelam
43
ou revelarão aspectos argumentativos do discurso e, sobretudo, auxiliam os interlocutores durante
você irá analisar o objeto a seguir à luz do escopo oferecido, articulando os pressupostos semânticos
argumentativos subentendidos. Elabore um pequeno texto que traduza a ideia vinculada à Figura 2
(Terras Tupiniquins).
FONTE: O autor, baseado em imagens disponíveis em: <https://goo.gl/yxESgL>. Acesso em: 14 de fev. 2018.
44
Considerações Finais
• Os termos texto, enunciado e discurso podem ser empregados como sinônimos quando não há
compromisso teórico específico que impeça que uso. Do contrário, faz-se necessário observar-
existência de uma relação de natureza intelectual, pois o plano das interações sociais e proces-
• A intertextualidade é construída por meio das relações sociais nas quais tanto o signo ideoló-
gico, quanto o linguístico, são moldados pelas marcas culturais de uma época e de um grupo
social determinado, estabelecendo uma conexão direta entre as unidades imanentes das for-
Glossário
Adesão dos espíritos: Conceito aristotélico relativo ao processo argumentativo no estudo da
Dialética: O termo grego designa igualmente a divisão lógica – sentido também platônico – que
propósito de Platão uma dialética ascendente (parte do concreto para chegar a uma ideia do bem)
Ressignificar: Mudar a estrutura de referência para lhe dar um novo significado, o mesmo que
remodelar e/ ou ressemiotizar.
45
Verificação de leitura
c) Quando em uma determinada esfera discursiva, na qual a enunciação a ela está atrelada.
d) Quando em uma determinada enunciação, na qual a esfera comunicativa a ela está atrelada.
46
QUESTÃO 3-Escolha a alternativa que apresenta a informação correta com relação ao
signo bakhtiniano.
a) Constitui-se como uma unidade de cunho estrutural.
Referências Bibliográficas
AS CHARGES e os contos de fadas. In: A magia das histórias infantis. 21 jan. 2013. Disponível
em: <http://amagiadashistoriasinfantiss.blogspot.com.br/2013/01/as-charges-e-os-contos-de-
DUROZOI, F.; ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. 5 ed. São Paulo: Papirus, 1990. Disponível em:
L. A. & XAVIER, A. C. (Orgs.) Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2004.
Fontes, 2014.
47
Gabarito
QUESTÃO 1-Alternativa D
À teoria da enunciação bakhtiniana, o texto é conjunto polifônico, no sentido de que congrega
QUESTÃO 2-Alternativa B
O termo enunciado também é empregado para representar uma estrutura verbal, que compõe uma
unidade específica de comunicação plena, em uma determinada esfera discursiva, na qual a orienta-
ção comunicativa a ela está atrelada, tornando seu entendimento semelhante ao conceito de texto.
QUESTÃO 3-Alternativa C
Para Bakhtin (1997), o signo não constitui uma entidade meramente linguística como para
Saussure (2012), o signo é construído de forma sócio-ideológica por meio das relações dialógicas.
48
4
Semântica
argumentativa
Objetivos Específicos
• Explorar os fundamentos da semântica argumentativa;
Introdução
A Semântica Argumentativa ou Teoria da Argumentação na Língua estuda o sentido construído
a partir do material linguístico presente em uma determinada frase e/ ou oração, motivo pelo qual
também pode ser denominada como Semântica Linguística e/ ou Linguística Textual. Essa aborda-
gem objetiva analisar os processos de construção de sentido no âmbito da língua, sem que sejam
como Teoria da Argumentação na Língua (ANL), foram iniciadas na década de 1970. Marcada pela
publicação do livro L’argumentation dans la langue, de Jean Claude Anscombre e Oswald Ducrot,
em 1983, é composta por três fases no seu desenvolvimento: a primeira, a forma standard (1983);
a segunda, a Teoria dos Topoi e a Teoria Polifônica da Enunciação (1990) e a fase atual, a Teoria dos
Blocos Semânticos (TBS), originada a partir da tese de Marion Carel, de 1992. Em linhas gerais, indi-
ferente do estágio de amadurecimento desta vertente semântica, o seu preceito fundamental reside
no fato de que o sentido do enunciado não está nele, tampouco em outro, mas na relação construída
entre estes. Argumentar, portanto, é conduzir o interlocutor à determinada continuação por meio de
tais relações, motivo pela qual a argumentação é essencial à linguagem e está inscrita na língua em
50
1. Do estruturalismo à argumentação
semântica
Desenvolvida na França, na École des Hautes Études en Sciences de Paris por Oswald Ducrot, a
semântica argumentativa iniciou-se com Jean-Claude Anscombre em conjunto com Ducrot, atual
continuador com a colaboração de Marion Carel, atualmente ainda no mesmo centro acadêmico.
Conhecedor da filosofia clássica e dos estudos de Saussure, Oswald Ducrot encontra na expla-
nação sobre valor linguístico apresentada no memorável título “Curso de linguística geral de
Semântica Argumentativa.
A relação estabelecida entre a noção de valor saussuriana e a clássica repousa sobre o estudo
platônico em que são tratadas as categorias fundamentais da realidade (1) cujas premissas são: o
Movimento, o Repouso, o Mesmo e o Ser, tendo sida acrescida uma quinta considerada o alicerce das
pectivos interlocutores.
tado do processo das relações sígnicas que por meio da palavra autorizam ou não a continuidade
51
e/ou necessidade de determinados enunciados, permitindo a emersão dos sentidos imanentes das
nos mais diversos contextos-situacionais e nas mais diferentes esferas do conhecimento, cons-
O sentido do enunciado não está nele, nem no outro, mas na relação que se estabelece
entre ele e o outro: a realidade linguística é sempre opositiva. Em vista disso, argumentar
é levar o Outro, ao locutário, a determinada continuação. Assim, a argumentação torna-se
fundamental na linguagem. Está inscrita na língua, é inerente a ela, está na própria natu-
reza da língua. Essa é a razão pela qual a Semântica Argumentativa é também denominada
Teoria da Argumentação na Língua (BARBISAN, 2013, p. 21).
belece-se nos domínios da língua, afastando-se das intervenções do material extralinguísticos e deter-
minando como propósito a investigação do sentido linguístico produzido pelo discurso por meio da língua.
A teoria ducrotiana evidencia dois tipos de relações essenciais ao discurso, o normativo e o trans-
gressivo, sendo o primeiro articulado pelos conectores “portanto”, “por isso”, “consequentemente” etc.,
e o segundo nas composições em que se emprega os síndetos (2) “no entanto”, “apesar de” e “mesmo
assim”, sob o argumento de que os dois tipos de argumentação resistem à descrição extralinguística,
com perdas a sua compreensão para além da relação entre os enunciados (BARBISAN, 2013).
Para Ducrot (1979), a semântica linguística enquanto abordagem teórica compreende que todo
intrínseca, que pode ser explicitada a partir da operacionalização da língua no processo de encade-
Em síntese, a essência desta teoria está justamente no fato de que o sentido deve ser explicado
a partir das relações decorrentes dos arranjos das palavras no emprego do sistema linguístico com
vista à construção de frases e enunciados que permitam a expressão discursiva. Portanto, legi-
tima-se enquanto semântica porque objetiva o estudo do sentido e explica sua construção por meio
52
das relações entre as entidades da língua,
titui uma entidade empírica. A língua, portanto, é um conjunto de palavras que constituem conjun-
tos de frases, ao passo que o discurso é uma conjectura de enunciados cujos sentidos emanam da
Isto posto, conclui-se que frase e enunciado são inseparáveis, visto que o segundo é a realização
do primeiro e se estrutura sobre o Este. Nesse entendimento, são também inseparáveis a concepção
Assim, ratifica-se o entendimento de que o sentido é produzido por meio do componente linguís-
tico, afastando-se dos fatores externos à linguagem e imprimindo a significação o status de entidade
tanto paradigmáticas quanto sintagmáticas, o que nos leva a concluir que as continuações permiti-
das podem ser múltiplas, desde que estejam linguisticamente previstas pelo sistema nas diferentes
53
em um discurso específico revelam-se por meio da orientação determinada pela significação, resul-
lógica da língua.
derando que há valores que estão expressos na frase, por conseguinte no enunciado, pode-se con-
cluir que os subentendidos gerados a partir dos pressupostos instaurados nas escolhas lexicais e
rumo à persuasão.
Para Ducrot (1979), o rumo argumentativo está grifado linguisticamente nos enunciados, reve-
lando pontos de vista que referenciam argumentos que levam à determinada conclusão, motivo pelo
À guisa de exemplo, destaca-se o conectivo “mas”, apontado pelo autor como sendo um opera-
dor argumentativo (4) e/ou contra argumentativo (4) por natureza, pois trabalha invertendo a dire-
ção argumentativa iniciada por um enunciado que orienta o encaminhamento proposto no segundo
54
Com esse olhar, todos os temas referen-
nido como o surgimento do enunciado criado por um ser de fala, o locutor, para seu alocutário.
radores argumentativos que fornecem a orientação discursiva pelo encadeamento dos enunciados,
e as imagens de reciprocidade (6) entre os interlocutores e suas representações. Por meio dessas
1.2 As pressuposições
55
Segundo Koch (2011), o trabalho de Frege (1848-1925) foi um dos primeiros a distinguir posto do
pressuposto ao estudar as referências das proposições, estabelece como máxima que toda proposi-
ção manterá o valor de verdade se esta mantiver a referência. Para tal, emprega critérios de nega-
ção e interrogação modificando os enunciados sem que haja alteração na estrutura referencial con-
(1a) Aquele que manteve sua fé não padeceu sem dor. (negativa)
A partir da exemplificação é possível concluir que nos três enunciados corroboram o mesmo pres-
suposto: há alguém que manteve a fé, ratificando o seu valor de verdade, todavia, se alguém pade-
ceu com dor, ou sem ela, essa é uma questão cuja análise do enunciado não é capaz de revelar.
entendido como uma condição a ser atendida para que se preencha a função a que se propõe, ou
mesmo ignorando-a, as pressuposições contidas nos enunciados ainda permanecem como condição
Segundo Koch (2011, p. 49 apud COLLINGWOOD, 1940), a pressuposição dos enunciados repre-
senta uma particularidade de um fenômeno muito mais amplo, cuja abrangência se dá em toda
56
questionamento presente em (1b), e que
1.3 Os operadores
argumentativos
Link
De acordo com Koch (2011), a tese defen- Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=5BEBz_ebEwk>. Acesso em: 20 de fev.
dida por Ducrot, Anscombre e Vogt propõe 2018.
que a argumentatividade está inscrita na
gias empregadas na codificação e decodificação dos enunciados, pelos quais se dão as atualizações
frasais, possibilitando a escolha das leituras possíveis de acordo com o percurso estabelecido.
Tais instruções codificadas são de natureza gramatical o que evidencia o valor argumentativo da
57
locutor e alocutário com vistas à construção dos argumentos e à orientação da sequência discursiva.
Toda língua possui em sua gramática diversas palavras que se ocupam da função conectiva. As
discursivos. É importante grifar que, em linhas gerais, tal papel é exercido pelos conectivos/conjun-
ções, entre outras possibilidades composicionais que não se enquadram em nenhuma das 10 clas-
ses gramaticais, podendo inclusive receber outras denominações tais como: palavras denotativas,
discursivos, em razão do valor que estes imprimem ao enunciado ao longo do processo de argumen-
entre os períodos, favorecendo o reconhecimento das estratégias discursivas realizadas pelo enun-
ciador. Nas gramáticas tradicionais, o estudo dos conectivos restringe-se à classificação das conjun-
ções coordenativas e subordinativas, abstendo-se de uma reflexão sobre a língua enquanto recurso
à atividade discursiva.
As relações constituídas por meio das conjunções transcendem a finalidade meramente sintática
de conectar orações e períodos, uma vez que permitem manter e/ou opor a orientação argumenta-
tiva elaborada pelo enunciador, permitindo a condução do argumento à conclusão que se objetiva
sentido à relação que estruturam, construindo percepções sobre os enunciados e suas respectivas
58
QUADRO 1 - Operadores argumentativos
59
semântica argumentativa e seus respectivos pressupostos teóricos e aplicabilidade. Baseando-se
nestes estudos, você irá analisar, à luz do escopo oferecido, destacando os operadores argumentati-
vos e a função desempenhada por este o poema “O amor, Meu amor” de Mia Couto, disponível em:
Bons estudos!
Considerações Finais
• A essência da teoria que fundamenta a semântica argumentativa repousa no fato de que
o sentido deve ser explicado a partir das relações decorrentes dos arranjos das palavras no
emprego do sistema linguístico com vista à construção de frases e enunciados que permitam
a expressão discursiva.
• O rumo argumentativo está grifado linguisticamente nos enunciados, revelado pontos de vista
que referenciam argumentos que levam à determinada conclusão, motivo pelo qual os ope-
Glossário
Síndeto: Conectivo – origem no grego syndeton.
Paralelismo: Palavras e expressões que apresentam entre si relações de semelhança que podem
(quando as construções das orações ou das frases são semelhantes) ou semanticamente (quando há
correspondência no sentido).
60
Verificação de leitura
QUESTÃO 1-Com base nos estudos relativos à semântica argumentativa, avalie as asser-
tivas a seguir:
61
d) os processos de construção de sentido no âmbito frasal, sem que sejam contemplados os
fatores extralinguísticos.
QUESTÃO 3-Com base nos estudos desenvolvidos sobre semântica argumentativa, aná-
lise o excerto a seguir e complete suas respectivas lacunas com a sequência de palavras
corretas à construção de sentido sobre o assunto em questão.
“O_________do ____________não está nele, nem no outro, mas na_______ que se es-
tabelece entre ele e o outro: a _____________linguística é sempre opositiva. Em vista
disso, argumentar é levar o Outro, ao___________, a determinada _____________. As-
sim, a argumentação torna-se fundamental na linguagem. Está inscrita na língua, é
______________a ela, está na própria ______________da língua. Essa é a razão pela qual
a Semântica Argumentativa é também denominada Teoria da Argumentação na Língua”
(BARBISAN, 2013, p. 21).
A alternativa que completa corretamente as lacunas do texto é:
a) Locutário, natureza, inerente, sentido, enunciado, continuação, realidade, relação.
Referências Bibliográficas
BARBISAN, Leci. Semântica Argumentativa. In: FERRAREZI JUNIOR, Celso; BASSO, Carlos
(Org.). Semântica, semânticas: uma introdução. São Paulo: Contexto, 2013. p. 19-30.
DUCROT, O. Princípios de semântica linguística (dizer e não dizer). São Paulo: Cultrix,
1979.
62
Gabarito
QUESTÃO 3-Alternativa E - “O sentido do enunciado não está nele, nem no outro, mas
na relação que se estabelece entre ele e o outro: a realidade linguística é sempre opositi-
va. Em vista disso, argumentar é levar o Outro, ao locutário, a determinada continuação.
Assim, a argumentação torna-se fundamental na linguagem. Está inscrita na língua, é
inerente a ela, está na própria natureza da língua. Essa é a razão pela qual a Semântica
Argumentativa é também denominada Teoria da Argumentação na Língua” (BARBISAN,
2013, p. 21).
63
5
Teoria da
polifonia
Objetivos Específicos
• Apresentar a noção de polifonia proposta na obra de Ducrot;
Introdução
A noção de polifonia em Ducrot é apresentada pela primeira vez no capítulo 1 de Les mots du dis-
cours (1980), sendo recuperada com alterações em Le dire et le dit (1984) e reformulada nas confe-
rências de Cali (1988). Após esse período, o autor retoma o tema em um artigo publicado pela revista
escandinava Polyphonie – linguistique et littéraire (2001), cujo título Quelques raisons de distinguer
polifonia refere a uma classe de disposição musical, organizada pela sobreposição de instrumentos e/
ou vozes, pelos quais diferentes mensagens e/ou ideias são concorrentes em um mesmo enunciado,
via de regra em ritmos e/ou contextos distintos. Ducrot ao lançar mão dessa palavra, emprega-a em
uma concepção mais livre que a assumida na literatura por Bakhtin à luz da linguística.
Nesse sentido, observa-se que enquanto Bakhtin concebe a polifonia dentro do universo enun-
ciativo de um texto, portanto no âmbito discursivo, Ducrot desenvolve o conceito no nível linguís-
como atuação de diferentes personagens em uma encenação. Em suma, cabe ainda destacar que a
65
1. Fundamentos da polifonia ducrotiana
Ducrot em sua obra Logique, strucuture, énonciation (1989), no capítulo VII, explica como encon-
trou alento para sua teoria linguística da polifonia, a partir da leitura de Linguistique générale et lin-
zação do pensamento, portanto sua comunicação ocorre por meio da palavra, argumento este que
também já se fazia presente na Gramática de Port-Royal, para quem a língua atende à necessidade
Ao confrontar as duas concepções, é possível constatar que para o primeiro a língua é entendida
entidade capaz de significar. Bally ainda defendia que o pensamento pode não ser, necessariamente,
o do sujeito falante, até porque há uma distinção entre pensamento e ideia, noções essas de grandes
Analisadas estas constatações, recai sobre Ducrot o entendimento de que todo pensamento con-
siste da reação a uma representação, que pode ser de natureza intelectual, afetiva ou volitiva (1),
podendo ainda ser decomposto em elementos ativo ou subjetivo (reação) e em passivo ou objetivo
deve ser analisado como um conjunto de decisões e vontades (elemento subjetivo), a respeito de
elo com a representação tradicional do pensamento, sobre os quais repousam a dissociação entre a
entidade objetiva (representação para Bally, proposição para Searle), e subjetiva (reação de Bally,
Cabe destacar que as concepções de Descartes, Port-Royal, Bally e, por conseguinte, a da teoria dos
atos de fala, constituem-se sobre raízes distintas. As de natureza cartesiana se fundamentam na análise
66
do pensamento, ao passo que Searle no ato comunicativo. Até porque, a força
teorias, pelas quais essa relação era dada por princípios gerais, que se estenderiam a todas a línguas.
Assim, afirmaram que, através das operações do espírito, o homem concebia, julgava e raciocinava.
Tais operações serviam ao aspecto interno da linguagem e, a partir delas, os homens utilizavam-se
dos sons e das vozes, ou seja, do aspecto externo da linguagem, para expressar o resultado daque-
Alguns princípios permitem que se atribua parentesco às diversas teorias enunciativas. Eles estão
da prioridade da ordem linguística. Um dos editores do Curso de Linguística Geral, Charles Bally, ao
criar uma estilística, constrói uma análise fundamentada na presença da enunciação no enunciado
Portanto, a relação entre força ilocutória e a reação relacionada à enunciação imprimem diferen-
tes consequências no que tange à identidade dos sujeitos. Resumindo, no ato ilocutório o sujeito é
o falante, na medida que não é constatada uma relação de identidade entre o sujeito falante e o da
A teoria polifônica de Ducrot eclode por meio a aceitação de que o sentido concerne à enuncia-
ção, conforme concebe a teoria dos atos de fala, mas é necessário considerar o fato de que o sentido
67
• Polifonia: primeira fase de teorização
Em sua obra Les mots du discours (1980), Ducrot faz a primeira menção ao conceito de polifonia,
vinculada ao argumento de que o enunciado veicula uma imagem de sua enunciação. O cerne da
questão desenvolvida pelo autor repousa do fato de que a descrição da enunciação deve ser distin-
efetivamente desenvolvida, com destaque à correção de alguns aspectos. A tese de que é neces-
sário distinguir locutor de enunciador é mantida, embora apresentada sob novos fundamentos. A
saber:
i. O locutor é entendido como alguém a quem se deve imputar a responsabilidade pelo enun-
68
ii. O locutor é distinguindo do autor empírico, elemento da experiência por se tratar de uma ação
iii. O locutor recebe duas representações diversas, sendo este responsável pela enunciação (A) (3)
e pela presença no mundo (B) (3), ou seja, constitui-se também enquanto indivíduo.
iv. A reformulação da noção de enunciador, que até então era concebida no acepção de que são
sujeitos dos atos ilocutórios elementares (afirmação, negação, pergunta), sendo aqueles a quem
dupla enunciação, na qual se inserem os relatos em estilo direto, constituem-se como uma
forma de polifonia, assim estabelecendo que a primeira e mais frequente ocorre no nível do
Nesse contexto, a distinção entre os três tipos sujeitos - autor/locutor/ enunciador, assume um
69
papel essencial neste processo de acepção dos dois tipos de polifonia. Para tal, basta considerar que
o autor que produz uma determinada história, não pertence, necessariamente, a ela, tampouco é o
Portanto, pode-se afirmar que há um fenômeno polifônico oriundo do relato em estilo direto
marcado pelo autor ou mesmo pelo locutor, e um outro nível que se manifesta no campo da enun-
ciação, produzido pelo enunciador ao estabelecer relações ideológicas com outros pensamentos por
meio da intertextualidade.
Cabe ainda destacar que a teoria polifônica da enunciação provoca mudanças significativas na
teoria ducrotiana da pressuposição e da argumentação, na qual a primeira passa a ser descrita como
posto e posto. Destarte, E1 é identificado na voz coletiva interior onde o locutor está localizado, ao
passo que sendo que E2 caracteriza o locutor. No que versa à argumentação, passa a explorar o con-
• Polifonia e Argumentação
em que se admite que os conteúdos são introduzidos em um enunciado por um determinado autor,
Também é necessário admitir que os conteúdos dos enunciados podem ser introduzidos de diversas
formas, que podem ser descritas a partir de dois princípios: (I) a atitude discursiva e o (II) pessoa. Na
primeira, o locutor indica o papel atribuído em seu discurso ao conteúdo apresentado, em outras pala-
vras, é a instância na qual é possível defender, ilustrar ou comentar o conteúdo, ou mesmo excluí-lo.
Nesse sentido, as atitudes do locutor são meramente discursivas e não psicológicas, validando o
papel argumentativo que o conteúdo desenvolverá no discurso. No que se refere à noção de pessoa,
esta deriva da acepção de enunciador na qual se entende que estes não são indivíduos particulares,
i. Indicativa do ângulo;
70
Em relação à primeira, expressões como: ao ver de, segundo, de acordo com, nas palavras de
etc., resultam em leituras atributivas pelo qual o locutor introduz sua perspectiva, relativizando os
conteúdos explicitados pelos enunciados que as transportam. Isto que significa atribuir-lhe o sentido
Ainda no que se refere à pessoa, também pode ser traduzida como doxa
sentido de duas proposições independentes entre si, de um mesmo enunciado, pode resultar num
distanciamento de sua unidade intuitiva. Tal constatação aponta para uma acepção argumentativa
do sentido, inaugurando uma descrição dos enunciados a partir do que mais tarde viria a ser deno-
Cabe destacar que a Teoria Argumentativa da Polifonia (TAP) agrega ao seu arsenal investigativo
a Teoria dos Blocos semânticos (TBS), pois a primeira se inscreve na linhagem das teorias que objeti-
vam a enunciação, na qual sua operacionalização, inicialmente, se dá por meio de indicações do tipo
falso, verdadeiro, necessário, provável etc., atribuindo-lhe um carácter negativo do ponto de vista
da análise do discurso. Ao passo que a segunda se ocupa do conteúdo, ou seja, daquilo que é mate-
71
essas unidades (blocos semânticos) constituem os processos argumentativos, conforme argumenta
A TAP propõe preservar a dicotomia dos sentidos entre um “conteúdo” e a “colocação desse
conteúdo em discurso” (la mise en dircours). Para manter essa dicotomia, a autora propõe
repartir as tarefas entre duas teorias: a TAP que é uma teoria da “colocação do conteúdo
em discurso”; a TBS que é uma teoria de “conteúdo”, quer dizer, uma teoria que se ocupa
daquilo que é colocado em discurso. Inscrita no quadro geral da Teoria da Argumentação na
Língua, a TBS descreve as palavras, os grupos de palavras, os enunciados pelos discursos
argumentativos que essas unidades evocam.
consonância com a Teoria da Argumentação na Língua (ANL), renuncia a hipótese dos estudos linguís-
ticos clássicos sob os quais se fundamentam os princípios analíticos de que o sentido de um enunciado
deve ser isolado em uma descrição lógica em termos de verdadeiro e falso, hipótese de que a enun-
ciação descreve o estado psicológico de um indivíduo, o sujeito falante ou outro, mais exatamente.
(ANL), ainda que de forma ensaística, possui elementos que podem contribuir à explicitação dos
conteúdos e à construção dos sentidos por eles produzidos, em meio à diversidade de enunciadores
Para tal, inicialmente, segundo Gomes (2016, p. 71), a descrição de enunciados pressupõe assu-
mir a coexistência de um locutor único responsável pelas atitudes frente aos conteúdos e aos enun-
ciadores evocados na produção de um enunciado, que, indiretamente, apropria-se da ideia seja con-
Nessa direção, de acordo com Barbisan e Teixeira (2002), o locutor coloca em cena enunciadores
e promove indicações sobre sua atitude em relação a eles, de onde se pode identificar o alocutário,
seja, no nível do sentido, que as instruções da significação conduzem a indicações mais explícitas e
72
concretas, na qual são apresentados os enunciadores do texto em relação uns com os outros, deter-
minado o papel discursivo que estes personagens desenvolvem na trama argumentativa e que o
a existência material do enunciado, ao passo que ao segundo o status de ser discursivo que indica a
forma de apresentação do conteúdo, assumindo sua função textual e permitindo uma análise cen-
Deste modo, por meio dessa trajetória reflexiva-teórica até aqui apresentada, revela-se o poten-
cial da Teoria da Argumentação Polifônica (TAP) como uma possibilidade instrumental à análise
sentido em uma análise discursiva, deve ser formulada a partir das relações estabelecidas as entre
palavras, as frases, os parágrafos e os textos, de modo que esse processo analítico permita a des-
Em suma, acreditamos que não seria um erro afirmar que obra de Ducrot e de seus colaborado-
res é um tema distante de esgotamento, até porque está em constante processo de reavaliação e
atualização de seus fundamentos e conceitos, sendo este material apenas um apanhado geral dos
princípios conceituais relativos a essa teoria, cujo objetivo único é o de contribuir para uma iniciação
73
Teoria da Argumentação Polifônica e seus respectivos pressupostos teóricos e possíveis aplicabili-
dade. Baseando-se nestes estudos, você irá construir um texto conciso apresentando o seu enten-
Bons estudos!
Considerações Finais
• Em primeira instância é importante destacar que Ducrot desenvolve o conceito de polifonia no
• A teoria polifônica de Ducrot eclode por meio a aceitação de que o sentido concerne à enun-
ciação, conforme concebe a teoria dos atos de fala, mas que é necessário considerar o fato de
fundamental estabelecer que há uma fronteira entre o conceito de polifonia e modalidades dis-
cursivas, pois o discurso relatado constitui-se como uma referencialidade marcada pelo locu-
tor, e não pelo locutário, o que mais tarde, após reavaliação, passa a ser reconhecido como um
tipo de polifonia.
mento da acepção dos dois tipos de polifonia. Em linhas gerais, basta considerar que o autor
que produz uma determinada história, não pertence, necessariamente, a ela, tampouco é o
locutor parte do sentido imanente do enunciado. Portanto, reportar o discurso do outro é tam-
bém uma forma de trazer sua voz ao texto como um tipo de argumento.
Glossário
Volitiva: Etimologia (origem da palavra volitivo). Do latim volitivus; volitio de voluntas. atis. Que
resulta da vontade; determinado pela vontade ou causado por ela; em que há intenção: ação volitiva
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(VOLITIVO, 2018, on-line).
Topos origem grega / topoi: são lugares comuns que as pessoas utilizam como ponto de partida
de uma argumentação. A tópica surgiu na Grécia antiga através de Aristóteles. Segundo ele perten-
ceria ao campo da lógica dialética, visto que “o raciocínio é dialético quando parte de opiniões geral-
mente aceitas” e estas são “aquelas que todo mundo admite, ou a maioria das pessoas, ou os filósofos
- em outras palavras: todos, ou a maioria das pessoas, ou os mais notáveis (RIBEIRO, 2018, on-line).
Doxa: é um termo referente a crença comum ou simplesmente opinião, enquanto que a episte-
mologia é um ramo da Filosofia que se preocupa com as questões fundamentais acerca do conheci-
conhecimento”, “como podemos conhecer algo” e “qual é a diferença entre crença (doxa ou opinião) e
uma manifestação psicológica do exercício da linguagem e o seu julgamento acerca de algo. Em outras
palavras, ela pode ser entendida como um conjunto de pensamentos que não necessitam de quaisquer
Verificação de leitura
QUESTÃO 1-Com base nos estudos de Teoria da Polifônica, avalie as assertivas a seguir:
I. A noção de polifonia em Ducrot é apresentada pela primeira vez no capítulo 1 de Les
mots du discours (1980), sendo recuperada com alterações em Le dire et le dit (1984) e
reformulada nas conferências de Cali (1988).
II. Originalmente, a palavra polifonia refere a uma classe de disposição musical, organiza-
da pela sobreposição de instrumentos e/ou vozes, pelos quais diferentes mensagens e/ou
ideias são concorrentes em um mesmo enunciado, via de regra em ritmos e/ou contextos
distintos.
III. A teoria polifônica, ao longo de seu desenvolvimento, permanece em constante modi-
ficação, reformulando argumentos à sustentação de suas ordenações.
IV. Ducrot em sua obra Logique, strucuture, énonciation (1989), no capítulo VII, explica
como encontrou alento para sua teoria linguística da polifonia, a partir da leitura de Lin-
guistique générale et linguistique française, Ferdinand Saussure (26 de nov de 1857 - 22 de
fev de 1913 - idade 55).
75
Após a avaliação é correto afirmar que:
a) Apenas I está errada.
“[...] a relação entre força ilocutória e a reação relacionada à enunciação, imprimem dife-
rentes consequências no que tange à identidade dos sujeitos. Resumindo, no ato ilocutório
o sujeito é o falante, na medida que não é constatada uma relação de identidade entre o
sujeito falante e o da reação à comunicação na concepção de Bally, [...].”
a) para quem essa dissociação é fundamental.
QUESTÃO 3-Com base nos estudos desenvolvidos sobre a Teoria da Polifonia, analise o
excerto a seguir e complete suas respectivas lacunas com a sequência de palavras corre-
tas à construção de sentido sobre o assunto em questão.
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“A teoria polifônica de Ducrot eclode por meio a___________de que o sentido concerne
à ____________, conforme concebe a_____________dos atos de fala, mas que é neces-
sário considerar o fato de que o ____________pode evidenciar outros sujeitos, alheio ao
sujeito falante.”
a) Enunciação, teoria, sentido, aceitação.
Referências Bibliográficas
ARNAULD, A.; LANCELOT, C. A gramática de Port-Royal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
DUCROT, Oswald. Esboço de uma teoria polifônica da enunciação. In: ___. O dizer e o
dito. Campinas, SP: Pontes, 1987. p. 161-218.
MACIEL, Willyans. René Descartes. In: Infoescola, 2018. Disponível em: <https://www.
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infoescola.com/filosofos/rene-descartes/>. Acesso em: 06 mar. 2018.
RIBEIRO, Lúcio Ronaldo Pereira. Comunicação docente e o uso dos topoi. In: Busca Legis,
2018. Disponível em: <http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/files/anexos/25064-
25066-1-PB.htm>. Acesso em: 28 fev. 2018.
Gabarito
78
6
Teoria dos
topoi
Objetivos Específicos
• Evidenciar as características da teoria dos topoi;
Introdução
A Teoria dos Topoi, versão mais recente da Teoria da Argumentação na Língua, desenvolvida por
no conceito de condições de verdade. Sobre os postulados dessa teoria, estão tópicos tais como a
lógicas e línguas naturais, a definição de sentido lexical e a traduzibilidade de sentidos lexicais não
definidos referencialmente. Envolve, portanto, uma série de hipóteses sobre o sentido lexical, con-
duzindo as pesquisas no campo da argumentação à formulação de uma teoria sobre o sentido lexi-
seus colaboradores ressignifica conceitos e definições. A saber, a definição de topoi como garantia
(garant) de inferências. Atualmente, entendida como fonte de discurso, como a garantia condução
que orienta, assegura e valida o fluxo de ideias que permite a movimentação do argumento à con-
inferencial, semelhante ao sentido atribuído por Aristóteles. Essa teoria suscita uma série de ques-
tões que merecem atenção, entre elas, destaca-se a relação entre a Teoria dos Topoi e outras teorias
do sentido não-logicistas, como a Teoria dos Protótipos; os efeitos para a teoria da tradução da defi-
nição do sentido lexical como um feixe de topoi e o paralelo entre os conceitos de implicação lógica
e de encadeamento discursivo.
80
1. Topoi argumentativos e tópicas
A dificuldade de manter o princípio de que a argumentação estava somente na língua, uma vez
que um mesmo operador argumentativo conduzia a conclusões distintas, permite a Ducrot evoluir à
noção de topos, pois a concepção de argumentação como um conjunto de conclusões possíveis para
Ao propor a noção de topos argumentativo e de formas tópicas, Ducrot (1989) dá início aos tra-
balhos com o topos (lugar comum argumentativo), cuja estrutura possui três propriedades:
empregada;
3. Gradualidade, a mais fundamental para essa teoria, pois a partir dela foi possível chegar ao
estudo das formas tópicas dos enunciados, relacionando duas escalas na qual a movimentação
(2007, p. 146) contribui para seu detalhamento, em especial no processo descritivo sob a qual
se estrutura a dinâmica das formas tópicas. Observe a seguinte orientação de sentido para os
seguintes enunciados:
81
Ducrot (1989) inaugura o estudo dos princípios da argumentação no interior do enunciado, arro-
e ou expressões que conectam frases e/ou enunciados) pode ser capaz de encadear conclusões
diferentes, pois o topos, por vezes não segue o mesmo encadeamento argumentativo, ou seja um
identificado ou não.
junto das conclusões às quais se pode chegar a partir desta análise. Este entendimento sobre a argu-
enunciado. A substituição de uma expressão por outra em um enunciado, conduz outras conclusões,
caracterizando assim natureza argumentativa dessas expressões, todavia não permite a descrição
82
1.1 Os topoi argumentativos
Embora seja considerada uma evolução no que se refere à construção de um arsenal teórico-
metodológico de análise de sentido, três fatores foram culminantes a algumas alterações na teoria,
pois a tentativa de se construir uma forma padrão à investigação se mostra insuficiente se conside-
ii. O fato de que é possível encontrar duplas de frases com o mesmo operador argumentativo,
iii. O fato de que é possível encontrar frases com operadores diferentes, e que podem conduzir à
mesma conclusão.
A concepção até então empregada mostra-se ainda insuficiente, uma vez que se admite que há
a possibilidade de duas frases distintas, com mesmo operador argumentativo, conduzirem a conclu-
sões, sem necessariamente distinguirem-se com relação aos fatos enunciados por ambas. Observe
os exemplos a seguir.
promove uma orientação positiva, isto é, dizer “é quase uma hora” é dizer que uma determinada par-
cela de tempo decorreu, que se está próximo da uma hora. Entretanto, é possível a partir do mesmo
enunciado chegar a conclusões distintas, nesse caso, em (1) é possível inferir que uma parcela de
tempo já foi contemplada, frente a um espaço temporal, restando pouco à sua completude. Em (2)
pode-se inferir que em razão do espaço temporal já passado, resta pouco tempo à realização de
Outro aspecto relevante contra a definição de potencial argumentativo dos operadores enquanto
propulsor de conjunto de conclusões possíveis reside no fato de que, apesar de um par de expres-
sões como “muito” e “um pouco” manifestarem valores argumentativos contrários, ao mesmo tempo
83
podem conduzir a uma mesma conclusão,
e/ou resultado satisfatório à aprovação, e nesse caso, embora “um pouco”, mesmo assim ele se pre-
parou, o que dessa perspectiva não inviabiliza a sua conquista, podendo também ser o contrário, ou
seja, já que estudou “um pouco”, está mal preparado, logo reprovará.
Note que, apesar das frases permitirem construir conclusões diferentes, também não inviabilizam
tação na língua que defende a análise e valoração argumentativa a partir do conjunto de conclusões
Nesse sentido, enquanto solução à questão, é concebida a ideia de que a possibilidade de conclu-
sões diferentes serem extraídas de uma mesma frase, não seria um princípio interno, mas externo à
Outro aspecto fundamental com relação à forma padrão da teoria repousa sobre o fato de que
até então, a argumentação era descrita com base nos enunciados, visando à definição do ato argu-
mentativo. Na teoria dos topoi, em contrapartida, a descrição é feita a partir dos enunciadores,
tam no enunciado.
84
Nesse sentido, o valor argumentativo dos enunciados submete-se à necessidade de aceitação da
premissa de que há um enunciador que argumenta, esteja ele em consonância com o locutor, ou
não, o que pressupõe duas condições para que o ponto de vista de um enunciador seja considerado
A primeira é que ele sirva para justificar uma determinada conclusão, que pode estar explí-
cita ou implícita no enunciado e pode ser assumida ou não pelo locutor. A segunda condição
postula a noção de topos, fundamental nessa fase da teoria. O valor argumentativo passa a
ser entendido como parte constitutiva do enunciado: o princípio argumentativo, designado
de topos, é o responsável pela orientação do enunciado em direção à conclusão; é o inter-
mediário entre o argumento e a conclusão.
Em síntese, pode-se considerar que deste ponto de vista, o valor argumentativo deve ser con-
templado como uma face constitutiva do enunciado, conduzindo o entendimento sobre a teoria do
a. são concebidos como “universais”, não que de fato o sejam, todavia estão presentes no enun-
ciado como se fossem compartilhados por uma coletividade, sendo familiar ao enunciador e
ao destinatário;
b. são gerais, uma vez que podem ser aplicados à inúmeras de situações argumentativas, para
c. são graduais, portanto, permitem a orientação à conclusão, relacionando duas escalas, na qual
uma condiciona a direção do movimento da outra. Ou seja, quando o valor de uma das escalas
Nesse sentido, a argumentação deixa de ser analisada por meio de um conjunto das conclusões
possíveis com relação à frase e passa a ter uma conexão direta com os topoi escolhidos, pois o vín-
culo estabelecido pelo topos entre as propriedades graduais também é essencialmente gradual.
85
Para sustentar a tese da gradualidade do
também na outra, sendo recíproco e válido o processo inverso, gerando o entendimento de que cada
Em (I), observa-se um topos que indica: “quanto maior a crescente na escala P, maior será na
escala Q”, por conseguinte, obtém-se duas formas tópicas que estabelecem duas formas de recipro-
Em (II), o topos é concebido de forma inversa: “quanto maior o crescimento na escala P, menor
o crescimento na escala Q”, constituindo formas tópicas que também são recíprocas e contrárias às
anteriores: “quanto mais P, menos Q” e “quanto menos P, mais Q”. Em síntese, Campos (2007, p.
146) afirma que quando há duas escalas graduais como P e Q, pode-se constituir dois topoi contrá-
rios conforme exemplo descrito. Cabendo ainda destacar em que cada um dos topoi serão constitu-
Ainda segundo Campos (2007, p. 146/7), esta discussão é diretamente responsável pelo aprimo-
1ª. o valor argumentativo dos enunciados, assim como os pontos de vista neles expressados estão
86
3ª. o valor argumentativo dos pontos de vista dos enunciadores corresponde à convocação por
5ª. os operadores argumentativos são os responsáveis pela natureza das formas tópicas utilizadas.
Tal discussão também proporcionou outras conclusões de natureza mais genérica, todavia não
b. não é da competência da língua quais sejam os topoi, mas apenas o fato de que eles existem;
c. algumas palavras não só indicam como utilizar os topoi, como os contêm nelas mesmas.
Resumindo, na teoria dos topoi argumentativos, o foco está especificamente nos enunciados,
sendo o topos entendido como o elemento que permite que se extraiam diferentes conclusões de
uma mesma frase por meio do princípio da gradualidade das escalas, constituídas a partir das rela-
cursos, mesmo que sejam comumente qualificados de ‘argumentativos’, não correspondem a nada
Nesse sentido, os trabalhos desenvolvidos à luz da teoria dos topoi argumentativos não consegui-
ram se desvincular dos estudos retóricos, pois a teoria dos topoi inseria na argumentação um terceiro
termo, externo à linguagem, tratando a argumentação como entrelaçado de enunciados que condu-
De acordo com Campos (2007, p. 148), no princípio os estudos ducrotiano estavam situados em
uma tradição [de Aristóteles a Perelman, Grize e Eggs], tendo como original a relação entre a essên-
qual pensava-se encontrar a partir das palavras a causa ou o sinal da natureza retórica, ou como dito
87
palavras, além de não autorizarem a demonstração, também não permitem representar a argumen-
tação de forma degradada por esse modelo de demonstração até então concebido.
signo como entidade capaz de ser valorada semanticamente, entretanto, destaca-se o fato de que o
elemento até então contemplado como signo era a frase, portanto era a ela que se atribuía um signi-
Concluindo, segundo Campos (2007, p. 148), a proposta de um terceiro termo (o topos) e o lapso
entre o argumento e a conclusão são opções teóricas que não se afastam de uma abordagem retó-
rica do discurso, cuja essência está em revelar as ações desencadeadas por meio da linguagem, des-
crevendo os atos de argumentação manifestos pela linguagem, que neste cenário é concebida como
Teoria dos topoi e seus respectivos pressupostos teóricos e possíveis aplicabilidade. Baseando-se
nestes estudos, você irá construir um texto conciso apresentando o seu entendimento sobre o per-
Considerações Finais
• Ao propor a noção de topos argumentativo e de formas tópicas, Ducrot (1989) dá início aos
trabalhos com o topos (lugar comum argumentativo), cuja estrutura possui três propriedades:
• O princípio de que a argumentação se dá pela língua é mantido na teoria dos topoi argumenta-
tem como referência o local do qual provém o ato argumentativo, pois o valor argumentativo
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dos enunciados pressupõe a existência de um enunciador a argumentar, identificado ou não.
• Um aspecto fundamental com relação à forma padrão da teoria, repousa sobre o fato de que
até então, a argumentação era descrita com base nos enunciados, visando à definição do ato
argumentativo. Na teoria dos topoi, em contrapartida, a descrição é feita a partir dos enuncia-
se apresentam no enunciado.
concepção de signo como entidade capaz de ser valorada semanticamente, entretanto destaca-
se o fato de que o elemento até então contemplado como signo era a frase, portanto era a ela
Glossário
Logicistas: Relativo à lógica, estudo sobre lógica e/ou aquele que a pratica.
Verificação de leitura
QUESTÃO 1-Com base nos estudos de Teoria dos Topoi, avalie as assertivas a seguir:
I - A Teoria dos Topoi pode ser considerada uma versão mais recente da Teoria da Argu-
mentação na Língua.
II – A definição de topoi repousa sobre a ideia de como (garant) de inferências.
III – A noção de topos nasce pela dificuldade de manter o princípio de que a argumentação
estava somente na língua, uma vez que um mesmo operador argumentativo conduzia a
conclusões distintas.
IV - Ao propor a noção de topos argumentativo e de formas tópicas, Ducrot (1989) dá iní-
cio aos trabalhos com o topos (lugar comum argumentativo), cuja estrutura possui quatro
propriedades: universalidade, generalidade, argumentatividade e gradualidade.
Após a avaliação é correto afirmar que:
89
a) Apenas I está errada.
b) pois o topos, por vezes, não segue o mesmo encadeamento argumentativo, ou seja, um
mesmo lugar comum.
d) pois o topos, por vezes, não segue o mesmo encadeamento argumentativo, ou seja, con-
duz a lugares diferentes.
e) pois o topos, por vezes, segue encadeamentos argumentativos distintos que levam a um
mesmo lugar comum.
90
QUESTÃO 3-Com base nos estudos desenvolvidos sobre a Teoria da polifonia, analise o
excerto a seguir e complete suas respectivas lacunas com a sequência de palavras corre-
tas à construção de sentido sobre o assunto em questão.
Referências Bibliográficas
CAMPOS, Claudia M. O percurso de Ducrot na Teoria da Argumentação na Língua. Revista
da ABRALIN, v.6, n.2, p. 139-169, jul./dez. 2007. Disponível em: <http://www.abralin.
org/site/data/uploads/revistas/2007-vol-6-n-2/07-claudia-mendes-campos1.pdf>.
Acesso em: 08 de mar. 2018.
91
<http://www.seer.ufrgs.br/cadernosdoil/>. Acesso em: 08 de mar 2018.
Gabarito
92
7
Blocos
semânticos
Objetivos Específicos
• Apresentar a teoria dos blocos semânticos e seus pressupostos;
• Expor suas relações com as teorias com a antecederam e que culminaram em seu desdobramento;
Introdução
O percurso da evolução teórica da obra de Ducrot, desde a sua interlocução com as teorias lógi-
co-referencialistas, está presente nos primeiros textos (1966 - 1973) nos quais os princípios embrio-
nários de sua teoria começam a ser desenhados. Destaca-se também a influência que seus estudos
ria da polifonia (1980,1987/ [1984], 1990). Nesse constante processo evolutivo, chega-se à teoria
dos topoi, enquanto lugar comum argumentativo (1995, 1999), cuja perspectiva fora abandonada
Semânticos (TBS), é defendida a noção de que não há sentido fora do encadeamento discursivo, ou
seja, que o argumento só tem sentido na sua relação com a conclusão; e a conclusão só tem sen-
tido na sua relação com o argumento. Em síntese, esse entendimento conduz à exclusão da noção
de topos da teoria ducrotiana, em razão dos princípios da retórica subjacente (1) a ela. A partir dessa
fase, pressupõe-se que o texto é um bloco semântico inscrito no nível teórico da produção e reali-
zado pelo encadeamento argumentativo complexo denominado como discurso, orientado argumen-
tativamente pelo uso de conectores de natureza normativa e transgressiva. Esse movimento argu-
por conseguinte dos blocos semânticos, que são interconectados e interdependentes nas relações de
94
1. A teoria dos blocos semânticos
Tomando como referencial a Teoria da Argumentação na Língua (ANL) em sua fase atual, a Teoria
dos Blocos Semânticos é desenvolvida por Oswald Ducrot, em colaboração com Marion Carel, apre-
Inicialmente elaborada por Oswald Ducrot, em cooperação com Jean-Claude Anscombre (1983), a
mais amplos. Ao propor que o enunciado é unidade de sentido, produzida por um locutor posicio-
nado entre o que diz e a outros discursos, dirigidos ao seu interlocutor, é inaugurada uma perspec-
Todavia, é a partir das reflexões de Marion Carel que a Teoria da Argumentação na Língua sofre
não exprimem atos argumentativos. Atualmente, a TBS entende que é a interdependência entre os
semântica de seus dois segmentos diferencia-se, na versão atual da teoria, por constituírem-se
sobre duas estruturas básicas de argumentação: (I) a normativa em donc; (II) a transgressiva em
pourtant. De modo que se constata que dois tipos elementares de argumentação fundamentam o
Ainda nesse percurso evolutivo, a Teoria dos Blocos Semânticos ainda amplia mais uma vez os
como um terceiro elemento, responsável por articular a relação entre o argumento e a conclusão.
95
Resumindo, essa teoria orienta-nos a uma
dentemente um do outro.
Para a TBS, não é possível aceitar que um argumento conduz à conclusão por estarem ligados um
ao outro por um topos para garantir o movimento do argumento para a conclusão. Pelo contrário, o
que é proposto é que a relação entre argumento e conclusão constitui um bloco semântico, ou seja,
são representações unitárias que juntas constroem o sentido dos encadeamentos argumentativos.
Nessa perspectiva, o sentido só pode ser concebido a partir da fusão entre os dois segmentos de
determina o sentido da conclusão, bem como o sentido da conclusão define o sentido do argumento.
Portanto, encadeamentos argumentativos são duas entidades discursivas consecutivas que estabe-
lecem uma interdependência semântica, ou seja, uma unidade de sentido inseparável denominada
bloco semântico.
res de sentido. Esses encadeamentos devem ser entendidos, sintaticamente, como continuação
96
manifesta por meio de duas estruturas básicas de encadeamentos, com conectores do tipo geral de
com a natureza das coisas, uma vez que elas estão a serviço do processo de categorização e refle-
Em sua essência, a Teoria dos Blocos Semânticos pode ser condensada à luz dos respetivos tópicos:
i. apenas o discurso é doador de sentido e da totalidade dos discursos, sendo que a TBS consi-
conjecturas;
tação única;
por meio das relações estabelecidas entre os blocos semânticos, sobretudo porque são encadea-
97
Destarte, os encadeamentos com donc e
mente, argumentativos.
uma dimensão estruturalista, uma vez que tudo na língua é percebido em relação ao que o próprio
sistema possibilita. Pode ser considerada de natureza saussuriana no que se refere às reflexões sobre
o signo, língua, sistema, relações sintagmáticas e valor linguístico. Na essência dos estudos ducro-
tianos, tais princípio permitiram ao pesquisador opor-se a concepções como condições de verdade,
fatos enquanto justificativas para conclusões, demonstrações e acepção da língua como um instru-
todo enunciado é parafraseável por aspectos em donc e pourtant. Na etapa de revisão, nota-se que
existem palavras/significações em que seus aspectos são apresentados de modo intermediário, uma
Considerada ainda uma fase experimental, diz respeito ao período atual da TBS, da qual emerge
Esse entendimento de que uma palavra possui a alternativa de apresentar dois aspectos, e não
apenas um dos dois aspectos, pode ser notada em discursos polêmicos conforme aponta Machado
98
• (1) Recebi uma boa quantia de dinheiro
este mês.
esta possibilidade, pois até então a interpretação deveria ser efetivada em uma das duas direções:
intermediário é incorporado à teoria por meio do conceito técnico de quase-bloco, que para além
da exatidão prevê a alternativa à descrição da língua e à enunciação, evidenciando que alguém tem
dinheiro, e que neste caso tê-lo implica duas alternativas contrárias: gastá-lo e guardá-lo.
• (X DC Y) ou (X PT NEG-Y) = exatidão
• (X DC Y + X PT NEG-Y) = alternativa
De acordo com Machado (2017), na revisão teórica da noção de bloco percebe-se que a trans-
gressividade passa adentrar a normatividade, por meio da noção de quase-bloco, passando a ser
parênteses (----) representam o segmento sobre o qual se sustenta a afirmação + negação, inerente
99
ao quase-bloco. Nesse sentido, a TBS pressupõe a partir da revisão bloco/quase-bloco, três moda-
lidades esquemáticas e procedimentais de análise: (DC), (PT) e (DC + PT) ou seja (Portanto), (no
turação de seu cabedal teórico. Considerando que a TBS visa estabelecer que a teoria é submissa à
• (A1) Se Pedro está diante de algo perigoso por fazer, (DC) (C1) ele renunciará a fazê-lo.
• (A2) Se Pedro está diante de algo perigoso por fazer, (DC) (C2) ele se precipitará por fazê-lo.
Para chegar à diferença entre os dois blocos semânticos, é necessário parafraseá-los por encade-
A explicação à distinção de sentido deve considerar que a relação, portanto/no entanto, aqui não
se faz presente, uma vez que o processo enunciativo se dá por meio da relação, portanto/portanto,
constituindo um paradoxo na fase de consolidação teórica (de oposição entre doxa e paradoxo) e um
Em um primeiro momento, a explicação seria de que os enunciados anteriores (A1) (A2) são blo-
cos contrários. Os dois enunciados não pertencem ao mesmo bloco: um sentido prediz a desistência
diante do perigo:
• (A1): Pedro está diante do perigo, portanto desistirá); e o outro pressupõe a não-desistência
diante do perigo
100
Diante desta questão, pode-se dizer que o encadeamento de (A1) está para o bloco de prudente,
e que o encadeamento de (A2) do bloco de audacioso. São, portanto, dois blocos díspares. Segundo
Machado (2017) não se trata aqui de um processo enunciativo de transgressão (PT), uma vez que
transgredir os encadeamentos acima, iria nos conduzir aos seus respectivos correlatos:
• (A1): Pedro está diante do perigo, no entanto, não desistirá. (um prudente que se portaria de
modo audacioso).
• (A2): Pedro está diante do perigo, no entanto desistirá. (um audacioso que se portaria de modo
prudente).
Não que seja uma máxima, mas ao apreciar os enunciados fica mais clara e aceitável a ideia de
que, com relação ao perigo, em linhas gerais, qualquer indivíduo busca evitá-lo (A1), como sempre
se evitam lugares ermos, escuros e de pouca circulação de pessoas, sites e links desconhecidos etc.
Todavia, é plausível considerar que qualquer visão contrária à doxa pode ser sustentada no fato
de que a própria segurança é um estado imaginário, uma vez que o acaso não é previsível, nem
tampouco pré-definido. À luz de uma perspectiva analítica fundamentada nos aspectos linguísticos,
embora a reflexão filosófica e social que integra as significações e sentidos devam ser consideradas
no processo interpretativo, Machado (2017) argumenta que no processo evolutivo da (ANL) e seu
modelo atual, os pesquisadores Carel e Ducrot propuseram pesquisar esta relação de significâncias
Deste modo, (ibidi) o padrão analítico proposto pelos pesquisadores ao primeiro bloco (A1) =
(Perigo DC Desistir) a recebe a classificação de bloco doxal, e o segundo (A2) = (perigo DC neg-
desistir) a de bloco paradoxal. Da perspectiva da linguística, um bloco paradoxal tem por finalidade
contradizer um bloco anterior doxal, seria esse o entendimento consolidado na primeira fase desen-
101
FIGURA 1 - Esquema Doxal/Paradoxal em oposição
nas como uma noção relacional entre blocos (A1 versus A2), não uma relação dentro do mesmo
bloco (portanto versus no entanto, entre outras possibilidades). De acordo com Machado (2017, p.
1954): “Trata-se, então, apenas de um sentido relacional, isto é, o paradoxal só existe em corre-
lação com o doxal. Nesta fase, localiza-se um bloco paradoxal para Carel se se localiza um bloco
102
Questão para reflexão
Após todo estudo compartilhando neste material, você pôde conhecer um pouco mais sobre a
Teoria dos Blocos Semânticos e a noção de quase-bloco, bem como seus respectivos pressupostos
teóricos e possíveis aplicabilidades. Baseando-se nestes estudos, você irá desenvolver um processo
analítico ensaístico nos enunciados a seguir. Aplique a noção de Doxal/Paradoxal. Bons estudos!
Considerações Finais
• É uma teoria que nos orienta a uma descrição semântica lexical, por meio da lexicalização
mentação, ampliando o entendimento para sua natureza interna e externa, e sua forma
normativa e transgressiva.
• Para a TBS, não é possível aceitar que um argumento conduz à conclusão por estarem ligados
um ao outro por um topos para garantir o movimento do argumento para a conclusão. Pelo
contrário, o que é proposto é que a relação entre argumento e conclusão constituem um bloco
semântico, ou seja, são representações unitárias que juntas, constroem o sentido dos encade-
amentos argumentativos.
• O grande atributo da TBS, na primeira fase de construção teórica, foi o entendimento de que
todo enunciado é parafraseável por aspectos em donc e pourtant. Na etapa de revisão, nota-
se que existem palavras/significações em que seus aspectos são apresentados de modo inter-
mediário, uma espécie de adição entre normativo (DC) + transgressivo (PT), surgindo assim a
noção de quase-bloco.
103
• A noção de paradoxo constitui outro ponto de impacto na revisão da TBS, contribuindo à reestru-
turação de seu cabedal teórico. Considerando que a TBS visa estabelecer que a teoria é submissa
de significâncias mais óbvias/menos óbvias, respectivamente, como bloco doxal e bloco paradoxal.
Glossário
Subjacente = que vem de ou por baixo, que não se manifesta claramente, ficando encoberto ou
implícito.
Verificação de leitura
QUESTÃO 1-Com base nos estudos de Teoria dos Blocos Semânticos, avalie as assertivas
a seguir:
I - No quadro teórico da (TBS), é defendida a noção de que não há sentido fora do enca-
deamento discursivo.
II - Atualmente, a (TBS) entende que é a interdependência entre os segmentos (argumento
e conclusão) do discurso que constitui a argumentação.
III - A teoria dos topoi e a teoria dos blocos semânticos servem igualmente ao quadro geral
da (ANL) em momentos distintos.
IV – Entre as teorias dos topoi e dos blocos semânticos, a primeira é uma extensão da
(ANL), ao passo que a segunda é uma negação da primeira teoria.
Após a avaliação, é correto afirmar que:
104
QUESTÃO 2-Escolha entre as alternativas a seguir a que melhor completa o argumento
apresentado no excerto:
“Para a TBS, não é possível aceitar que um argumento conduz à conclusão por estarem
ligados um ao outro por um topoi para garantir o movimento do argumento para a con-
clusão. Pelo contrário, o que é proposto é que a relação entre argumento e conclusão
constituem um bloco semântico, (...)”.
a) ou seja, são representações binárias que juntas constroem o sentido dos encadeamentos
argumentativos.
b) ou seja, são representações unitárias que juntas constroem o sentido dos encadeamentos
argumentativos.
c) ou seja, são representações secundárias que juntas constroem o sentido dos encadea-
mentos argumentativos.
d) ou seja, são representações subjacentes que juntas constroem o sentido dos encadea-
mentos argumentativos.
e) ou seja, são representações constitutivas que juntas constroem o sentido dos encadea-
mentos argumentativos.
QUESTÃO 3-Com base nos estudos desenvolvidos sobre a Teoria dos blocos Semânticos,
analise o excerto a seguir e complete suas respectivas lacunas com a sequência de pala-
vras corretas à construção de sentido sobre o assunto em questão.
105
Referências Bibliográficas
CAREL, Marion. L’argumentation dans le discours: argumenter n’est pas justifier. Letras
de Hoje, Porto Alegre: EDIPUCRS, v. 32, n. 1, p. 23–40, março 1997.
Gabarito
QUESTÃO 1-Alternativa E - Tanto a teoria dos topoi como a dos blocos semânticos são
pertencentes ao quadro da ANL e constituem-se como processo evolutivos desta.
QUESTÃO 2-Alternativa B - Para a TBS, não é possível aceitar que um argumento conduz
à conclusão por estarem ligados um ao outro por um topoi para garantir o movimento do
argumento para a conclusão. Pelo contrário, o que é proposto é que a relação entre argu-
mento e conclusão constituem um bloco semântico, ou seja, são representações unitárias
que juntas constroem o sentido dos encadeamentos argumentativos.
106
QUESTÃO 3-Alternativa C - Em resumo, a TBS fundamenta-se em uma dimensão estrutu-
ralista, uma vez que tudo na língua é percebido em relação ao que o próprio sistema possi-
bilita. Pode ser considerada de natureza saussuriana no que se refere às reflexões sobre o
signo, língua, sistema, relações sintagmáticas e valor linguístico. Na essência dos estudos
ducrotianos, tais princípio permitiram ao pesquisador opor-se a concepções como condi-
ções de verdade, fatos enquanto justificativas para conclusões, demonstrações e acepção
da língua como um instrumento de representação de mundo.
107
8 Semântica
no ensino
de língua
portuguesa
Objetivos Específicos
• Apresentar as duas principais abordagens dos estudos linguísticos empregadas no processo de
ensino-aprendizagem de línguas;
• Refletir sobre o contexto atual de ensino de Língua Portuguesa no Brasil em meio a diferentes
teorias semânticas;
Introdução
Os estudos desenvolvidos ao longo de todo esse percurso investigativo sobre as diferentes verten-
tes semânticas possibilitaram ampliar o entendimento do papel dessa disciplina no processo inter-
pretativo, consequentemente, a construção de sentido. Foi possível notar que cada escola e seus
abordagens de análise discursiva. Do estruturalismo saussuriano à teoria dos blocos semânticos pro-
posta por Ducrot, Carel e colaboradores, estabeleceu-se um percurso elucidativo, porém sintético
Linguísticos e da Semântica enquanto disciplina de seu arcabouço. É fato que essa trajetória permi-
tiu-nos constatar limitações e fragilidades, bem como também notar a eficácia de alguns procedi-
mentos analíticos e suas respectivas abordagens semânticas, entretanto é importante destacar que,
de ambas as situações, é possível absorver suas respectivas noções e padrões operacionais à extra-
todo o sentido, ou mesmo como dependente de elementos extralinguísticos e/ou de relações lógi-
cas, há um aspecto convergente entre todas as escolas estudadas: o sentido é objeto de investiga-
ção da semântica e está inscrito na língua por meio de práticas e convenções sociais que de forma
109
direta, ou indireta atuam no processo de construção de sentido, portanto nas relações humanas
Deste modo, no atual cenário educacional dá-se vazão ao entendimento de que o estudo da
Língua Portuguesa deve ser conduzido com vista à construção de sentido por meio da investigação
das relações dialógicas, dos processos polifônicos e intertextuais, considerando sobretudo o conte-
údo enunciado, deixando em segundo plano a forma e suas respectivas classificações e categoriza-
1. A Linguística no processo de
ensino-aprendizagem da língua
A linguística contemporânea é constituída a partir de diferentes vertentes teóricas que emergiram
ao longo do século XX e que se consolidaram no início do século XXI. O vasto cabedal teórico desen-
que se refere ao estudo da linguagem enquanto campo científico, estabelecendo em especial, duas
Desenvolvidos do ponto de vista cronológico quase que de forma concomitante, as duas verten-
tes sintetizam as duas principais abordagens de análise da linguagem, sendo que uma é fundamen-
tada no primado da forma linguística, portanto está ligada às unidades estruturais da língua, e a
Cabe ainda destacar que entre os expoentes do formalismo linguístico estão os linguistas vincu-
lados à corrente estruturalista norte-americana, tais como Leonard Bloomfield, Fries, Harris, além
de outros pesquisadores não tão renomados, mas que também contribuíram ao desenvolvimento do
oriundos do estruturalismo europeu, especificamente, das Escolas de Genebra, tendo como maio-
res expoentes respectivamente, Saussure e Martinet, e de Praga com destaque para Trubetzkoy,
110
Jakobson e Danes. Posteriormente, ressig-
111
funcionais porque, ao fundamentar-se na lógica e na filosofia, acabam por desenvolver uma orien-
grafia, são paradigmáticas. Ou seja, a abordagem formalista valoriza a relação entre os sintagmas
como forma de análise e construção de sentido, enquanto a funcionalista evidencia a relevância das
112
Faz-ser com o uso de
Faz-se com a ajuda de um input
propriedades inatas, com base
6 Aquisição da linguagem extenso e estruturado de dados
em um input restrito e não
apresentado no contexto natural
estruturado de dado
Explicados em função de
Propriedades inatas do restrições: comunicativas:
7 Universais linguísticos
organismo humano biológicas ou psicológicas;
contextuais
A sintaxe é autônoma em A pragmática é o quadro dentro
relação à semântica; as duas do qual a semântica e a sintaxe
Relação entre a sintaxe, a
8 são autônomas em rrelação à devem ser estudadas; as
semêntica e a pragmática
pragmática; as prioridades vão prioridades vão da pragmática à
da sintaxe sintaxe, via semântica
FONTE: Baseado em (C. S. Dik, 1978, p. 5, retomado e explicitado em 1989, p. 2-7. Adaptação de M. H. M. Neves).
No que se refere aos universais linguísticos, pelos formalistas são compreendidos como herança
linguística genética comum da espécie humana, enquanto que funcionalistas diluem a questão como
inata para aprender a linguagem, enquanto os funcionalistas argumentam ser o fenômeno de aquisição
Em síntese, pode-se afirmar que os formalistas estudam a linguagem como um sistema autônomo,
ao passo que os funcionalistas a estudam vislumbrando a sua função social. Apesar de serem pers-
pectivas teóricas com bases epistemológicas distintas, tanto o formalismo quanto o funcionalismo
tivo enquanto recursos ao desenvolvimento das ciências da linguagem. Tal oposição filosófica apenas
ratifica o caráter multifacetário linguagem, explicitando sua natureza formal e funcional, estrutural e
113
1.1 Semântica aplicada à leitura e produção textual em
língua portuguesa
Como dito anteriormente, a trajetória percorrida ao longo dos nossos estudos sobre semântica não
teve por objetivo classificar esta ou aquela vertente como melhor, ou mais eficaz etc. Nosso intuito
foi o de apresentar uma síntese do panorama geral das pesquisas nesse segmento da linguística.
Do ponto de vista científico, fica evidenciado o processo evolutivo pelo qual a semântica, enquanto
discurso, ora contemplando aspectos de natureza retórica, lógica, estrutural e pragmática, ora fler-
O cerne da questão é: seja qual for a vertente teórica e seu respectivo enfoque metodológico,
o objeto de estudo comum a toda e qualquer escola semântica é o sentido, seja ele observado e
extraído à luz do formalismo ou do funcionalismo e/ou outras vertentes possíveis, o foco permanece
iniciamos os estudos sobre semântica e ensino de língua portuguesa. Na ocasião destacamos que o
componente Língua Portuguesa da BNCC (2017, p. 65) dialoga com documentos e orientações curri-
culares produzidos nas últimas décadas, buscando atualizá-los em relação às pesquisas recentes da
área e às transformações das práticas de linguagem ocorridas neste século, devidas em grande parte
Motivo pelo qual somos convocados a assumir uma perspectiva enunciativo-discursiva de lin-
sob o entendimento de que a linguagem é “[...] uma forma de ação interindividual orientada para
uma finalidade específica; um processo de interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes
numa sociedade, nos distintos momentos de sua história” (BRASIL, 1998, p. 20).
Em outras palavras, a Base Nacional Curricular Comum (BNCC - 2017) e os outros documentos
oficiais Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) com os quais dialoga, orienta-nos a ressignificar
114
nossa prática docente no que se refere à abordagem empregada no ensino de Língua Portuguesa.
Em nosso entendimento não está sendo solicitado que sejam abandonados e/ou extintos os estudos
Na verdade, muito pelo contrário, o que se espera é o emprego desses saberes na construção
discursivamente o falante não sabe como interpretar os sentidos por detrás dessas escolhas por
parte do enunciador, ou mesmo empregar essas estruturas sintáticas classificadas com nomenclatu-
ras esdrúxulas na produção do seu próprio discurso nas práticas comunicativas diversas?
De que forma saber que um fonema possui timbres com aspectos de sonoridade aberta, fechada e redu-
zidas, oriundos das cavidades bucal e nasal etc. contribuirá para a realização da atividade comunicativa? Ou
mesmo estabelecer a distinção entre uma conjunção e uma preposição, de um adjetivo e um advérbio etc.?
A resposta a essas indagações é tão complexa quanto a própria área de estudo em que se enseja,
pois graças a todos os avanços obtidos nos estudos linguísticos ao longo dos séculos e, porque não
milênios, dispomos atualmente deste vasto arsenal descritivo à língua; sua relevância científica-his-
vez mais sincréticos e notoriamente investidos das características dos ambientes virtuais. A noção
de gênero enquanto forma de produção textual relativamente estável e atrelada a uma determinada
As crianças e jovens da chamada geração de nativos digitais não concebem mais o processo de
alfabetização e letramento como os indivíduos de outrora. O texto deixa de ser entendido como fruto
da escrita tradicional fundamentada em um determinado sistema, dando lugar a uma trama discur-
siva de natureza híbrida, na qual a tessitura argumentativa se perfaz por meio do sincretismo linguís-
tico que originalmente denominamos como gêneros emergentes (MARCUSCHI, 2004; FRANÇA, 2015).
115
Em outras palavras, o que se pretende evidenciar aqui é o fato de que a leitura e a produção tex-
Embora haja aqueles que contestem o papel das TDIC no processo evolutivo das práticas comuni-
cativas, alegando que as redes sociais e suas práticas promovem a inobservância das regras grama-
ticais na produção escrita por parte dos internautas, é necessário também considerar que:
1. Os indivíduos tidos como nativos digitais se apropriam dos códigos linguísticos e das práticas
letradas digitais de forma autônoma e autodidata. Antes mesmo de chegarem a idade escolar,
já são capazes de navegar na WEB e manusear smarth phones e similares com relativo domí-
nio e tranquilidade;
2. As práticas sociais digitais permitem uma maior exposição à leitura e, por conseguinte, à
escrita, pois não há como participar desses espaços de interação, a menos que se faça uso da
3. A maior parte dos serviços públicos (bancos, inscrição em concursos, reclamações, ocorrência
policial etc.) são prestados, previamente, por meio dos ambientes virtuais, logo a necessidade
Deste modo, ensinar e aprender língua portuguesa deixa de ser apenas uma mera operaciona-
lização dos mecanismos e estruturas linguísticas previstos neste sistema para tornar-se um pro-
cesso de investigação do sentido das coisas e da realidade ao entorno. Não aprendemos uma língua
qualquer finalidade que não está em si mesma. Em verdade, aprendemos sobre a língua em razão da
necessidade comunicativa intrínseca ao ser humano, que à medida que desenvolve sua competência
Nesse sentido, é importante considerar que o contexto atual requer um novo olhar sobre
116
o ensino-aprendizagem de Língua
mente, comunicativa.
2. Da teoria à Aplicação
Você pode estar se perguntando de que forma será possível aplicar conceitos e recursos de todas
essas escolas semânticas que foram apresentadas, sem contar que por razões epistemológicas,
algumas nem devem ser misturadas. Recuperado o objetivo central deste percurso de estudos -
parece-nos razoável afirmar que a relação entre conhecimento conceitual apresentado e o atitudinal
esperado seja justamente a capacidade de construir modelos investigativos do sentido presente nos
Ser capaz de articular os diferentes procedimentos descritivos e analíticos das teorias semânticas
tar, a criar, a inovar, portanto, é imperativo que nesse estágio o analista busque observar o texto
117
procurando reconhecer o conjunto argumentativo. Observar o todo, estabelecer relações dialógicas,
Nessa etapa também deve ser operacionalizado o arsenal linguístico estrutural de natureza for-
malista e funcionalista, desde que o objeto analisado permita tal emprego, que de alguma forma
ainda contribui hipoteticamente a uma abordagem TBS da qual os blocos e quase-blocos nascem de
Note que a ideia aqui proposta é a de hibridizar as bases teóricas e seus respectivos recursos, é
claro que para efeito de pesquisa é necessário que se respeite os limites epistemológicos que per-
mitem tais conexões, todavia enquanto conjunto de ferramentas, devem ser exploradas de acordo
com a demanda investigativa, o tipo de texto, contexto, entendimento, proposta, orientação prévia
ou não, o que realmente importa é a eficiência em extrair sentido das coisas, sobretudo em colaborar
para que o outro também o faça. Ou seja, aprimorar o processo comunicacional ao ensino-aprendi-
zagem de Língua Portuguesa, fornecendo ferramentas de interpretação e produção textual sob dife-
118
FIGURA 1 - Modelo descritivo-analítico semântico
119
Por fim, esperamos que você possa ter aprendido um pouco mais sobre cada Escola Semântica e
seus respectivos expoentes e construtos. Acreditamos também, que a partir do conhecimento desen-
volvido ao longo desse percurso de estudos, somado aos exemplos de aplicação teórica, você será
capaz de criar seus próprios modelos de construção de sentido, subsequentemente, suas próprias
Língua Portuguesa em consonância ao que pactua a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) .
3. Situação-problema
Após todo estudo compartilhando neste material, você pôde conhecer um pouco mais sobre as
nestes estudos, você irá desenvolver um processo descritivo-analítico no conjunto textual a seguir,
Conjunto textual
120
Questão para reflexão
Baseando-se em todos os estudos desenvolvidos ao longo dessa jornada sobre as diferentes ver-
forma objetiva e fundamentada uma reflexão sobre as contribuições desses estudos ao processo
comunicativo, com ênfase na construção de sentido para quem interpreta e produz texto.
Considerações Finais
• A linguística contemporânea é constituída a partir de diferentes vertentes teóricas que emergi-
ram ao longo do século XX e que se consolidaram no início do século XXI. O vasto cabedal teó-
• Em síntese, pode-se afirmar que os formalistas estudam a linguagem como um sistema autô-
• Seja qual for a vertente teórica e seu respectivo enfoque metodológico, o objeto de estudo
comum a toda e qualquer escola semântica é o sentido, seja ele observado e extraído à luz do
Glossário
• Multimodalizam: Várias modalidades (linguagem).
partes do texto.
121
Verificação de leitura
QUESTÃO 1-Com base nos estudos sobre semântica aplicada ao ensino de Língua Portu-
guesa, avalie as assertivas a seguir:
I - O atual cenário educacional dá vazão ao entendimento de que o estudo da Língua Por-
tuguesa deve ser conduzido com vista à construção de sentido.
II – O estudo sistematizado das classes e categorias funcionais de uma língua constituem
os alicerces da BNCC (2017).
III - A concepção semântica estruturalista compõe o eixo central de estudos da Língua
Portuguesa de acordo com BNCC (2017).
IV - O conteúdo enunciado deve ser valorizado em detrimento da forma e suas respectivas
classificações e categorizações, ou seja, um olhar atento para o sentido negociado entre
os interlocutores.
b) O Formalismo e o Funcionalismo.
122
d) O Formalismo e o Estruturalismo.
e) O Estruturalismo e o Gerativismo.
QUESTÃO 3-Com base nos estudos desenvolvidos sobre os estudos semânticos aplicados ao
ensino de Língua Portuguesa, analise o excerto a seguir e complete suas respectivas lacunas
com a sequência de palavras corretas à construção de sentido sobre o assunto em questão.
123
Referências Bibliográficas
BRASIL. Base Nacional Curricular Comum. Brasília: Mec, 2017. 65 p. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/index.php>. Acesso em: 28 jan. 2018.
NEVES, Maria H. Uma Visão Geral da Gramática Funcional. Alfa, São Paulo, 38:
p.109-127,1994.
124
Gabarito
QUESTÃO 1-Alternativa C - (II) O estudo deve ser focado no discurso, e não formas estru-
turais; (III) Não há predileção entre modelos semânticos A e B, o ponto-chave é a capaci-
dade de articular as diferentes concepções em busca do sentido.
QUESTÃO 3-Alternativa D - Para Neves (1994, p. 114 apud Halliday 1985), as gramáticas
formais se opõem às funcionais porque, ao fundamentar-se na lógica e na filosofia, aca-
bam por desenvolver uma orientação primariamente sintagmática. Ao passo que as fun-
cionais, alicerçadas na retórica e na etnografia, são paradigmáticas. Ou seja, a aborda-
gem formalista valoriza a relação entre os sintagmas como forma de análise e construção
de sentido, enquanto a funcionalista evidencia a relevância das combinações possíveis no
nível paradigmático e suas implicações.
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