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A Cultura nos anos 1960

- Os anos 60 podem ser sintetizados como a década da rebelião, da


contestação e da imaginação. Período de inconformismo com os esquemas
comerciais e com as imposições dos meios de comunicação de massa, de
críticas à sociedade de consumo, de recusa aos modelos anteriores e de busca
de maior liberdade temática, técnica ou de linguagem e, ainda, a intenção de
provocar a desacomodação ou a desalienação.
- No cinema, novos temas passam a ser tratados por Bergman ou Buñel, a
nouvelle vague francesa, rejeitando os padrões de Hollywood; no teatro, a
opção pela “estética da agressão e, na literatura, o movimento conhecido como
o nouveau roman, abolindo o enredo, a coerência de uma determinada lógica.
- É o período da “longa prosperidade do pós-guerra”, da new left, sob a
influência de H. Marcuse, negando-se a sociedade capitalista, discutindo-se um
modelo socialista diferente do stalinismo soviético que vinha sendo criticado já
na década anterior, a partir de Kruschev. No Congo, o primeiro-ministro Patrice
Lumumba (considerado mártir da luta anticolonialista) foi assassinado. O
Vietnã estava livre da dominação francesa, mas dividido: o norte, socialista,
sob a liderança de Ho-Chi-Minh, e o sul, com um governo capitalista apoiado
pelos EUA e várias oposições reunidas na Frente de Libertação Nacional e
apoiadas pela guerrilha dos Vietcong. Em 1964, os EUA atacaram o Vietnã do
Norte, iniciando a guerra.
- Intensificam-se os movimentos pelos direitos civis nos EUA. Os negros
liderados por M.L. King, Malcom X, Spike Lee, Rosa Parks, Ângela Davis e
outros organizam movimentos na luta contra a discriminação racial legalizada
em vários estados do país e apoiada pelo governo, pela sociedade e a Ku Klux
Klan, o Movimento Black Power, os Panteras Negras. As mulheres, sob a
influência da pílula anticoncepcional (anos 50), da inserção crescente no
mercado de trabalho, iniciam a Revolução Sexual e Feminista, passando a
lutar por direitos iguais, pelo respeito às diferenças sexuais, de gênero e de
opção e pelo direito de re-significar a sua existência ao pretender discutir o uso
e destino do seu corpo sem a obrigação de ser mãe, de se opor à violência
masculina. Segundo Norberto Bobbio, foi “a mais importante revolução do
século XX”.
- Sob a influência da obra O segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, o
feminismo passa a ser tratado como a outra face do humanismo, que prega o
despertar da pessoa humana, de uma pessoa humana biologicamente e
culturalmente sexuada.
- Neste contexto surgem outros movimentos: o underground, a contracultura, o
movimento hippie (nome derivado de YIP, Youth International Party, de Jerry
Rubin, líder estudantil de Berkeley); do psicodelismo com a “filosofia do Drop
Out” influenciado por Thimothy Leary, professor expulso de Harvard pelas suas
experiências com LSD.
- Em 1968, eclodem as barricadas de Paris, dos estudantes das universidades
de Sorbonne e de Nanterre, contra a proposta de Reforma Universitária de C.
De Gaulle, que em sua essência, visava transformar a universidade numa
máquina de produção de “quadros integrados ao sistema”. Em grafites em
Paris aparecem: “a obscenidade não é mais uma mulher nua que exibe o
púbis, mas o general que exibe a medalha ganha no Vietnã”. A Sorbonne é
ocupada pelos estudantes e denominada “soviete dos estudantes”. A imprensa
apresentava Daniel Cohn Bendit como líder da rebelião, com “Dany le Rouge”.
E surgem mais grafites: “aquele que fala de revolução sem mudar a vida
cotidiana tem na boca um cadáver”, “levemos a revolução a sério, mas não nos
levemos a sério”, “quanto mais eu faço amor, mas eu tenho vontade de fazer a
revolução, quanto mais eu faço a revolução, mais eu tenho vontade de fazer
amor”, “faça amor, não faça a guerra” nos protestos contra a Guerra do Vietnã.
- Todas essas manifestações eram embaladas ao som da música folk de Bob
Dylan (que adotou a guitarra elétrica, recebendo vaias numa atitude
preconceituosa da Nova Esquerda), de Joan Baez, Janis Joplin, Jimi Hendrix,
do The Mamas and the Papas com a música “San Francisco” cantada por Scott
Mackenzie; do Led Zeppelin; dos Rolling Stones e dos Beatles. Segundo Keith
Richards, eles descobriram muito tempo depois que a corporação que ganhava
rios de dinheiro à custa das músicas deles reinvestia seus lucros produzindo
armas para matar no Vietnã. Crescem os protestos contra a Guerra e pela
repressão soviética à “Primavera de Praga”.
- No Brasil: o Teatro de Arena, os CPC’s da UNE, o Cinema Novo, a música de
protesto, o Tropicalismo com Gilberto Gil (“domingo no Parque”), Caetano
Veloso (“Alegria, Alegria”), no III Festival de MPB da TV Record, os Beat Boys
e os Mutantes. No dia 21 de junho de 1968 ocorre a “sexta-feira sangrenta”, 10
horas de choques entre os estudantes da UFRJ e as tropas da polícia. Uma
semana depois, 26 de junho, na “passeata dos 100 mil”, liderada por
estudantes, as pessoas desfilaram na Avenida Rio Branco, da Cinelândia à
Candelária, aos brados de “abaixo a ditadura” ou “o povo unido jamais será
vencido”. O presidente Costa e Silva exclamava: “não permitirei que o Rio se
transforme numa nova Paris”.
- A direita católica radical volta à cena, com a TFP (Tradição, Família e
Propriedade) combatendo o que chamava de “infiltração comunista no clero” e
incentivando organizações paramilitares e suas operações terroristas, os CCC
(Comando de Caça aos Comunistas), o MAC (Movimento Anticomunista) e a
FAC (Frente Anticomunista). Essas organizações praticaram atentados às
peças teatrais Roda-Viva, em São Paulo, O Burguês Fidalgo, no Rio, e
explodiram o Teatro Opinião, também no Rio, e desencadearam com
provocações uma verdadeira guerra entre alunos da Universidade Mackenzie e
da Universidade de Filosofia da USP, em outubro de 1968. Nesse mesmo mês,
700 estudantes de quase todos os estados do país e toda a liderança do
movimento estudantil foram presos em Ibiúna (SP) durante a realização do
XXX Congresso da UNE.
- Em 1969, a Junta Militar que elegeu Médici edita uma nova Lei de Segurança
Nacional para combater a luta armada e a imprensa alternativa (O Pasquim,
Em Tempo, Binômio, O Sol e outros), e dois novos Atos Institucionais (13 e 14)
que estabeleceram a pena de banimento para brasileiros considerados
“perigosos” à Segurança Nacional e a pena de morte. Dessa forma, a ditadura
munia-se contra a esquerda armada.
Filme: Sol, Caminhando contra o vento, Tetê Moraes e Martha Alencar, 2006.
Bye bye Brasil, de Carlos Diegues, 1979.
Rio, 40 graus, de Nélson Pereira dos Santos, 1955.

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