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20 Volume 53 | Maio 2022

Casos graves e óbitos por dengue no


Brasil, 2019 a 2022
Coordenação-Geral de Vigilância das Arboviroses do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde (CGARB/DEIDT/SVS);
Coordenação-Geral de Emergências em Saúde Pública do Departamento de Saúde Ambiental, do Trabalhador e Vigilância das Emergências em Saúde Pública
(CGEMSP/Dsaste/SVS).*

Apresentação
Sumário
A dengue é uma doença febril aguda, sistêmica e dinâmica, que pode apre-
1 Casos graves e óbitos por sentar um amplo espectro clínico e variar de casos assintomáticos a graves,
dengue no Brasil, 2019 a 2022 podendo evoluir à óbito. Ressalta-se que as arboviroses transmitidas pelo
Aedes aegypti são um dos principais problemas de saúde pública, sendo a
10 Vigilância epidemiológica do
dengue de maior relevância, principalmente no continente americano.
sarampo no Brasil – semanas
epidemiológicas 1 a 17 de 2022
Destaca-se que em 9 de maio de 2022 foi instalada a Sala de Situação Nacional
19 Mortalidade materna no Brasil, de Arboviroses Urbanas na Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da
2009 a 2020 Saúde (SVS/MS), com o objetivo principal de estabelecer estratégias para redu-
ção do número de casos graves de dengue e evitar óbitos por arboviroses urba-
30 Mortalidade por esquistossomose
nas. Trata-se de uma estrutura organizacional que busca promover a resposta
mansoni no Brasil, de 2015 a 2019
coordenada por meio da articulação e da integração dos atores envolvidos.

Como resultado das análises sobre o tema, este boletim apresenta o perfil
epidemiológico dos casos graves e óbitos por dengue registrados no Brasil
no período de 2019 até a Semana Epidemiológica (SE) 20 de 2022.

Casos graves e taxa de letalidade


No período de 2019 a 2022, foram registrados 45.283 casos graves de dengue no
Brasil. O ano de 2019 registrou o maior número de casos graves (21.016). Em 2022,
ocorreram 9.318 casos graves de dengue até a Semana Epidemiológica (SE) 20.
Quanto à letalidade registrada entre os casos graves, observa-se a maior taxa no
Ministério da Saúde ano de 2020 (5,7). A letalidade registrada em 2022 até a SE 20 foi de 4,1 (Figura 1).
Secretaria de Vigilância em Saúde
SRTVN Quadra 701, Via W5 – Lote D,
Edifício PO700, 7º andar Em 2022, até a SE 20, a unidade Federada com maior registro de casos graves
CEP: 70.719-040 – Brasília/DF foi Goiás (2.972), seguida de São Paulo (1.359) e Paraná (1.265). Entre os casos
E-mail: svs@saude.gov.br
Site: www.saude.gov.br/svs
graves registrados em Goiás, 94,7% corresponderam a dengue com sinais
de alarme e 5,2% dengue grave. Em São Paulo, 90,5% dengue com sinais de
Versão 1
alarme e 9,3% dengue grave. No Paraná, 95,4% dengue com sinais de alarme
27 de maio de 2022
e 4,5% dengue grave (Figura 2).
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

25.000 7

5,74 6
20.000
4,98
5

Taxa de letalidade
Casos graves (n)

4,00 4,10
15.000
4

3
10.000

2
5.000
1

0 0
2019 2020 2021 2022
Ano

Fonte: Sinan On-line (Dados atualizado até 23/05/2022). Sujeito a alterações.

Figura 1 Casos graves de dengue e letalidade segundo ano, Brasil, 2019 a 2022

Fonte: Sinan On-line (Dados atualizado até 23/05/2022). Sujeito a alterações.

Figura 2 Casos graves de dengue segundo unidade Federada, Brasil, SE 1 a 20 de 2022

Boletim Epidemiológico Editores responsáveis:


ISSN 9352-7864 Arnaldo Correia de Medeiros, Breno Leite Soares,
Cássia de Fátima Rangel Fernandes, Daniela Buosi Rohlfs, Gerson
©1969. Ministério da Saúde. Secretaria de Pereira, Giovanny Vinícius Araújo de França (SVS)
Vigilância em Saúde.
Produção:
É permitida a reprodução parcial ou total desta Área editorial GAB/SVS
obra, desde que citada a fonte e que não seja
para venda ou qualquer fim comercial. Revisão:
Samantha Nascimento, Erinaldo Macêdo (Área editorial GAB/SVS)
Projeto gráfico/diagramação:
Fred Lobo, Sabrina Lopes (Área editorial GAB/SVS)
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Óbitos e taxa de letalidade Quando analisada a distribuição de óbitos por semana


epidemiológica, observa-se incremento de 138,7%
No período de 2019 a 2022, foram confirmados 2.042 óbitos no número de óbitos confirmados em 2022, quando
por dengue no Brasil, destes, 41,2% ocorreram no ano de comparado ao mesmo período de 2021. Quando
2019 (840 registros). Em 2020 e 2021, observou-se redução comparado ao mesmo período de 2019, observa-se
das notificações com 574 e 244 óbitos, respectivamente. redução de 35% no número de óbitos notificados.
Em 2022, ocorreram 382 óbitos por dengue até a SE 20. Vale ressaltar que nas semanas epidemiológicas 12
e 13 de 2022 foi registrado maior número de óbitos
Quanto à letalidade registrada entre os casos prováveis confirmados no período analisado (Figura 4).
de dengue, observa-se a maior taxa no ano de 2020
(0,06%). A letalidade registrada em 2022 até a SE 20 foi
de 0,04% (Figura 3).

900 0,07

800 0,06
0,06
0,05
700
0,05
600 0,04
0,04
Nº de óbitos

% Letalidade
500 0,04

400 0,03

300
0,02
200
0,01
100

0 0
2019 2020 2021 2022

Fonte: Sinan On-line (Dados atualizado até 23/05/2022). Sujeito a alterações.

Figura 3 Óbitos por dengue e taxa de letalidade segundo ano, Brasil, 2019 a 2022

70

60
2019 2020 2021 2022
50
N.º de óbitos

40

30

20

10

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1011121314151617181920212223242526272829303132333435363738394041424344454647484950515253
Semana Epidemiológica

Fonte: Sinan On-line (Dados atualizado até 23/05/2022). Sujeito a alterações.

Figura 4 Óbitos por dengue segundo semana epidemiológica, Brasil, 2019 a 2022

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Incidência e óbitos Paulo (579 óbitos), Paraná (268 óbitos) e Minas Gerais
(219 óbitos) (Figuras 5 e 6).
Quanto a incidência acumulada de dengue e número
acumulado de óbitos no período de 2019 a 2022, por Em 2022, até a SE 20, as maiores taxas de incidência
UF de residência, observa-se que as maiores taxas ocorreram em Goiás (2001,2 casos/100 mil hab.),
de incidência ocorreram em Goiás (5.101,9 casos/100 seguido do Distrito Federal (1.462,2 casos/ 100 mil
mil hab.), seguido do Mato Grosso do Sul (4.898,6 hab.) e Tocantins (1.262,4 casos/100 mil hab.). Quanto
casos/100 mil hab.) e Distrito Federal (4.512,5 casos/100 ao número de óbitos por dengue no mesmo período,
mil hab.). Em relação ao número de óbitos por dengue destacam-se os estados de São Paulo (134), Santa
no mesmo período, destacam-se os estados de São Catarina (43) e Goiás (41) (Figura 6, Tabela 1).

Fonte: Sinan On-line (Dados atualizado até 23/05/2022). Sujeito a alterações.

Figura 5 Casos graves de dengue segundo unidade Federada, Brasil, SE 1 a 20 de 2022

Ressalta-se a existência de 349 óbitos em investiga- de encerramento da investigação dos óbitos em até
ção no Brasil, com destaque para os estados de Goiás 60 dias, verificou-se que em 2019 76,3% tiveram en-
(138), Minas Gerais e São Paulo (ambos com 42), Para- cerramento oportuno, em 2020 84,1%, em 2021 86,1% e
ná (31) e Distrito federal (25). Quanto à oportunidade 96,9% em 2022 (até a SE 20).

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Fonte: Sinan On-line (Dados atualizado até 23/05/2022). Sujeito a alterações.

Figura 5 Óbitos por dengue e taxa de incidência segundo unidade Federada, Brasil, SE 20 de 2022

Perfil dos óbitos um maior número de óbitos nas faixas etárias de


50 anos ou mais (Figura 7). Quanto a taxa de letalidade
No período de 2019 a 2022, os óbitos por dengue por faixa etária, as maiores registradas foram entre os
ocorreram em pessoas de ambos os sexos, com uma maiores de 60 anos, sendo 0,26 em 2019, 0,30 em 2020,
razão de sexos (M/F) de 1,04, ou seja, 104 casos do sexo 0,17 em 2021 e 0,15 em 2022 (até a SE 20).
masculino para cada 100 casos do sexo feminino e em
todas as faixas etárias, com destaque para os maiores Os sinais de alarme mais frequentes nos óbitos por
de 60 anos. dengue no período de 2019 a 2020 foram plaquetopenia
(53,7%), hipotensão (37,7%) e dor abdominal (35,7%).
Ao comparar o ano de 2022, é possível observar uma Os sinais de gravidade foram os sintomas relacionados
mudança na distribuição dos óbitos por sexo e faixa a extremidades frias (41,5%), alteração da consciência
etária, no qual houve uma redução no número de óbitos (38,8%), hipotensão tardia (36,9%) e taquicardia (36,7%)
nas faixas etárias abaixo de 49 anos e permanência de (Figura 8).

5
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2019 a 2022
Masculino Feminino

80 anos e mais
70 a 79 anos
60 a 69 anos
50 a 59 anos
40 a 49 anos
Faixa etária

30 a 39 anos
20 a 29 anos
15 a 19 anos
10 a 14 anos
5 a 9 anos
1 a 4 anos
Menor 1 ano
250 200 150 100 50 0 50 100 150 200 250
Óbitos (n)

2022
Masculino Feminino

80 anos e mais
70 a 79 anos
60 a 69 anos
50 a 59 anos
40 a 49 anos
Faixa etária

30 a 39 anos
20 a 29 anos
15 a 19 anos
10 a 14 anos
5 a 9 anos
1 a 4 anos
Menor 1 ano
60 40 20 0 20 40 60
Óbitos (n)

Fonte: Sinan On-line (Dados atualizado até 23/05/2022). Sujeito a alterações.

Figura 7 Óbitos por dengue segundo sexo e faixa etária, Brasil, 2019 a 2022 e 2022

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Outros orgãos

Fonte: Sinan On-line (Dados atualizado até 23/05/2022). Sujeito a alterações.

Figura 8 Sinais de alarme e de gravidade entre os óbitos por dengue, Brasil, 2019 a 2022

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As comorbidades mais frequentes entre os óbitos foi observada em 65,9% das pessoas com idade abaixo
de dengue, independente de grupos etários, foram a de 60 anos e em 31,6% das pessoas com idade maior ou
hipertensão e o diabetes. A ausência de comorbidades igual a 60 anos (Figura 9).

Sem comorbidades 66,0


31,6
19,3
Hipertensão
57,8
13,3
Diabetes
30,8
Comorbidades

3,5
Doença renal
9,2
4,6
Hepatopatia
3,2
4,2
Doença autoimune
3,1
3,7
Doença hematológica
2,4
0,9
Doença ácido-péptica
1,5

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Percentual
< 60 anos 60 anos

Fonte: Sinan On-line (Dados atualizado até 23/05/2022). Sujeito a alterações.

Figura 9 Comorbidades entre os óbitos por dengue segundo grupos etários, Brasil, 2019 a 2022

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Anexo

Tabela 1 Óbitos por dengue e letalidade segundo Região e unidade Federada de residência, Brasil, 2019 a 2022

2019 2020 2021 2022


Região/UF Óbitos Coef. de Óbitos Coef. de Óbitos Coef. de Óbitos Coef. de
confirmados Letalidade confirmados Letalidade confirmados Letalidade confirmados Letalidade
NORTE 15 0,00 17 0,07 20 0,05 14 0,04
Rondônia 0 0,00 3 0,08 2 0,09 8 0,13
Acre 4 0,04 4 0,05 4 0,03 0 0,00
Amazonas 0 0,00 7 0,12 8 0,09 1 0,05
Roraima 1 0,06 1 0,20 0 0,00 1 4,76
Pará 0 0,00 2 0,06 2 0,04 1 0,03
Amapá 1 0,56 0 0,00 0 0,00 0 0,00
Tocantis 9 0,07 0 0,00 4 0,03 3 0,02
NORDESTE 111 0,05 40 0,03 44 0,03 41 0,05
Maranhão 5 0,09 5 0,20 0 0,00 4 0,17
Piaui 3 0,04 0 0,00 0 0,00 10 0,13
Ceará 13 0,08 11 0,05 20 0,06 3 0,02
Rio Grande do Norte 12 0,04 8 0,12 1 0,02 1 0,01
Paraíba 9 0,05 4 0,06 2 0,01 0 0,00
Pernambuco 11 0,03 1 0,00 6 0,02 0 0,00
Alagoas 7 0,03 1 0,04 10 0,13 0 0,00
Sergipe 13 0,22 0 0,00 1 0,09 2 0,25
Bahia 38 0,06 10 0,01 4 0,02 21 0,11
SUDESTE 494 0,05 168 0,06 76 0,04 156 0,06
Minas Gerais 185 0,04 16 0,02 7 0,03 15 0,03
Espiríto Santo 35 0,05 1 0,01 2 0,02 1 0,03
Rio de Janeiro 1 0,00 7 0,16 4 0,14 6 0,17
São Paulo 273 0,06 144 0,07 63 0,04 134 0,07
SUL 33 0,07 200 0,07 47 0,07 109 0,06
Paraná 33 0,07 194 0,07 28 0,08 31 0,03
Santa Catarina 0 0,00 0 0,00 8 0,04 43 0,08
Rio Grande do Sul 0 0,00 6 0,15 11 0,11 35 0,08
CENTRO-OESTE 187 0,08 149 0,08 59 0,05 62 0,03
Mato Grosso do Sul 32 0,05 42 0,08 13 0,11 12 0,11
Mato Grosso 4 0,04 19 0,05 11 0,05 7 0,03
Goiás 91 0,08 45 0,07 24 0,04 41 0,03
Distrito Federal 60 0,16 43 0,09 11 0,07 2 0,01
BRASIL 840 0,05 574 0,06 246 0,04 382 0,05

Fonte: Sinan On-line (Dados atualizado até 23/05/2022). Sujeito a alterações.

*Coordenação-Geral de Vigilância de Arboviroses (DEIDT/SVS/MS): Cassio Roberto Leonel Peterka, Camila Ribeiro Silva, Danielle Bandeira
Costa de Sousa Freire, Eduardo Lana, José Braz Damas Padilha, Larissa Arruda Barbosa, Pablo Secato Fontoura, Sulamita Brandão Barbiratto.
Coordenação-Geral de Emergências em Saúde Pública (CGEMSP/DSASTE/SVS): Gabriel Muricy Cunha, Morgana de Freitas Caraciolo, Pedro de Alcântara Brito
Junior, Luis Antonio Alvarado Cabrera.

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Vigilância epidemiológica do sarampo


no Brasil – semanas epidemiológicas
1 a 17 de 2022
Coordenação-Geral do Programa Nacional de Imunizações do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde
(CGPNI/DEIDT/SVS); Coordenação-Geral de Laboratórios de Saúde Pública do Departamento de Articulação Estratégica de Vigilância em Saúde (CGLAB/Daevs/SVS).*

O sarampo é uma doença viral aguda e extremamente gra- confirmados 9.325 casos da doença. No ano de 2019,
ve, principalmente em crianças menores de 5 anos de ida- após um ano de circulação do vírus do mesmo ge-
de, pessoas desnutridas e imunodeprimidas. A transmissão nótipo, o País perdeu a certificação de “País livre do
do vírus ocorre de forma direta, por meio de secreções vírus do sarampo”, dando início a novos surtos, com
nasofaríngeas expelidas ao tossir, espirrar, falar ou respi- a confirmação de 20.901 casos da doença. Em 2020
rar próximo às pessoas sem imunidade contra o sarampo. foram confirmados 8.448 casos e, em 2021, 676* casos
Além disso, o contágio também pode ocorrer pela disper- de sarampo foram confirmados.
são de aerossóis com partículas virais no ar, em ambientes
fechados como escolas, creches, clínicas, entre outros. Entre a SE 1 a SE 17 de 2022, foram notificados 578 casos
suspeitos de sarampo; desses, 19 (3,3%) foram casos con-
firmados, todos por critério laboratorial. Foram descarta-
Situação epidemiológica dos 342 (59,2%) casos, e permanecem em investigação 217
do sarampo no Brasil (37,5%) (Figura 1).

Após os últimos casos da doença no ano de 2015, o Na curva epidêmica (Figura 1), observa-se maior confirma-
Brasil recebeu em 2016 a certificação da eliminação ção de casos nas semanas epidemiológicas 4, 5 e 9, e, a
do vírus. Nos anos de 2016 e 2017, não foram con- partir da SE 12, um expressivo número de casos suspeitos
firmados casos de sarampo no País. Em 2018 foram permanecem pendentes de encerramento.

60

50

40
N.° de casos

30

20

10

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
Semana epidemiológica da data do início do exantema

Confirmados por laboratório (19) Confirmados por clínico epidemiológico (0) Descartados (342) Em investigação (217)

Secretarias de Saúde das unidades da Federação.


a
Dados atualizados em 17/5/2022 e sujeitos a alterações.

Figura 1 Distribuição dos casos de sarampoa por semana epidemiológica do início do exantema e classificação final, Brasil, semanas
epidemiológicas 1 a 17 de 2022

Os casos de sarampo de 2021 foram reclassificados, portanto, houve a atualização do número de confirmados.
*

10
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No período avaliado – entre as SE 1 e 17 de 2022 – per- ainda nessa faixa etária, a maior ocorrência se deu no
manecem com casos confirmados de sarampo os esta- sexo masculino, com 6 (60,0%) casos (Tabela 2). Quando
dos: Amapá e São Paulo. O estado do Amapá segue com verificada a incidência por faixas etárias definidas nas es-
maior número de casos confirmados, com 17 (89,5%) tratégias de vacinação realizadas em 2019 e 2020, a maior
casos de sarampo, em 3 municípios, e a maior incidên- incidência é observada no grupo etário de menores de
cia (3,15 casos por 100 mil habitantes) (Tabela 1). 5 anos, com 1,90 caso por 100 mil habitantes (Tabela 2).

Crianças menores de um ano de idade apresentam o Em geral, na distribuição por sexo, o maior número de
maior número de casos confirmados (10), e o coeficiente casos foi registrado entre pessoas do sexo masculino,
de incidência foi de 5,38 casos por 100 mil habitantes, e, com 10 casos (52,6%) (Tabela 2).

Tabela 1 Distribuição dos casos confirmados de sarampoa, coeficiente de incidência e semanas transcorridas do último caso confirmado,
segundo unidade da Federação de residência, Brasil, SE 1 a 17 de 2022

Confirmadosa Semanas transcorridas do


ID UF Total de municípios Incidênciab
N.o % último caso confirmado

1 Amapá 17 89,5 3 3,15 0


2 São Paulo 2 10,5 2 0,02 8
Total 19 100,0 5 0,15

Fonte: Secretarias de Saúde das UF.


a
Dados atualizados em 17/5/2022 e sujeitos a alterações.
b
População dos municípios de residência dos casos por 100 mil habitantes.

Tabela 2 Distribuição dos casos confirmados de sarampoa e coeficiente de incidência dos estados com surto, segundo faixa etária e sexo,
Brasil, SE 1 a 17 de 2022

Coeficiente de Distribuição por sexod


Grupos incidênciab
Faixa etária Número Coeficiente
% de idade (por faixa etária
(em anos) de casosa de incidênciab
(em anos)c das estratégias Feminino % Masculino %
de vacinação)
<1 10 52,6 5,38 2 40,0 6 60,0
<5 1,90
1a4 6 31,6 0,91 1 20,0 4 40,0
5a9 1 5,3 0,12 0 0,0 0 0,0
10 a 14 0 0,0 0,00 5 a 19 0,04 0 0,0 0 0,0
15 a 19 0 0,0 0,00 0 0,0 0 0,0
20 a 29 2 10,5 0,09 2 40,0 0 0,0
30 a 39 0 0,0 0,00 20 a 49 0,03 0 0,0 0 0,0
40 a 49 0 0,0 0,00 0 0,0 0 0,0
50 a 59 0 0,0 0,00 0 0,0 0 0,0
> 50 0,00
> 60 0 0,0 0,00 0 0,0 0 0,0
Total 19 100 0,15   0,15 5 100,0 10 100,0

Fonte: SVS/MS.
a
Dados atualizados em 17/5/2022 e sujeitos a alterações.
b
População dos municípios de residência dos casos por 100 mil habitantes.
c
Estas faixas etárias foram definidas de acordo com as estratégias de vacinação realizadas em 2019 e 2020, para padronização da análise de dados.
d
Quatro casos sem informação de sexo.

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Óbitos do serviço de diagnóstico, a fim de garantir a eficiência


na assistência desde a solicitação dos exames até a
Entre a SE 1 a SE 17 de 2022, não ocorreram óbitos por liberação dos resultados e, assim, manter a capacidade
sarampo, no entanto, no ano de 2021, foram registrados de resposta dos Lacen como esperado.
dois óbitos pela doença, no estado do Amapá, em bebês
menores de um ano de idade. O diagnóstico laboratorial de sarampo adotada pelos
Lacen é o método de ensaio imunoenzimático ELISA.
Já o diagnóstico molecular por RT-PCR é realizado
Vigilância laboratorial para confirmação do diagnóstico e o sequenciamento
para identificação de genótipos e linhagens
Desde a reintrodução do vírus do sarampo no Brasil em circulantes no Laboratório de Referência Nacional de
2018, a rede de Laboratórios de Saúde Pública, adotou Vírus Respiratórios da Fiocruz/RJ. Além do critério
a Vigilância Laboratorial para sarampo como uma laboratorial para confirmação de um novo caso, sendo
das mais fortes estratégias para monitorar e mediar a este critério o ideal e o mais recomendado, os casos
tomada de decisões frente aos surtos. A identificação de podem também ser confirmados com critério de vínculo
um resultado de sorologia IgM reagente para sarampo epidemiológico. Esse critério é utilizado quando não
possibilita contatar diariamente as unidades da for possível realizar a coleta de exames laboratoriais
Federação (UF) para oportunizar as principais estratégias ou em situações epidêmicas que tenham muitos
para bloqueio e controle do agravo. Dentro desse casos em investigação e que excedam a capacidade
contexto, o Ministério da Saúde (MS) em parceria com os laboratorial. Os casos suspeitos que apresentam vínculo
Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen) e com a epidemiológico e que também tenham confirmação
Opas/OMS, através do Plano de Ação para Fortalecimento de exame oriundos dos laboratórios privados pelo
da Vigilância Laboratorial de Sarampo e Rubéola, iniciado ensaio imunoenzimático (ELISA) são orientados a serem
em outubro de 2020, apoia e acompanha a qualidade encerrados pelo critério laboratorial.

Nº de exames solorogicos (IgM) positivos e Solicitações por data de coleta e por semana epidemiológica, B rasil, ano 2022, ate 30/04
260 260 Legenda
242 IgM R eagente
240 240

220 220

200 200

180 180
167

160 160
N de Pos it ivos
Nº de E xa mes

140 140

123
120 114 114 120

101
100 95 100

80 80
68 66 66
65
60 55 60
47 49
44 42
40 38 40
26
19 21 19
20 13 13 23 20
10
6 5 21
9 17 17 15
0 12 13 0
2 0 2 2 -1 7
2 0 2 2 -1 6
2 0 2 2 -1 5
2 0 2 2 -1 4
2 0 2 2 -1 3
2 0 2 2 -1 2
2 0 2 2 -1 1
2 0 2 2 -1 0
2 0 2 2 -8

2 0 2 2 -9
2 0 2 2 -6

2 0 2 2 -7
2 0 2 2 -4

2 0 2 2 -5
2 0 2 2 -1

2 0 2 2 -2

2 0 2 2 -3

Fonte: GAL/SVS/MS. Data de Atualização 10/5/2022.

Figura 2 Número de exames sorológicos (IgM) reagente e solicitações por data de coleta e por semanas epidemiológicas, Brasil SE 1 a 17
de 2022

12
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

Ao longo das semanas epidemiológicas (SE) 1 a 17/2022, Os resultados de exames para sorologia IgM solicita-
período representado pela Figura 2, pode-se observar dos entre as SE 1 e 17/2022 são apresentados na
oscilações de 38 (SE 5/2022) a 242 (SE 17/2022) solicitações Figura 3, estratificados por UF de residência do pa-
de exames totais (IgG, IgM e RT-PCR) para o diagnóstico do ciente. Observa-se que as amostras reagentes estão
sarampo. Desse total de solicitações, observa-se maior nú- presentes em 19 UF, destacando que os estados de
mero de amostras IgM reagentes (26 exames IgM reagen- São Paulo (117), Bahia (32) e Amapá (31) apresentaram
tes) para sarampo durante a SE 12/2022 e um menor nú- o maior número de exames IgM reagentes durante
mero na SE 6/2022 (5 exames IgM reagentes). Vale ressaltar esse período. Esta análise de exames nos permite
que o número de exames com sorologia IgM reagentes não monitorar os estados que ainda estão em surto ativo
necessariamente significa casos confirmados e nem total ou ainda aqueles que podem estar iniciando uma
de casos com resultados positivos, pois pode existir mais nova cadeia de transmissão não identificada.
de um exame solicitado para um mesmo paciente.

Fonte: GAL/SVS/MS. Data de Atualização 10/5/2022.

Figura 3 Número de exames sorológicos (IgM) reagentes para sarampo, por UF de residência do paciente, Brasil, SE 1 a 17 de 2022

Conforme os dados referentes as SE 1 a 17/2022 apre- devido à presença de não conformidades (como
sentados na Tabela 3, 396 municípios, o correspon- coleta e transporte inadequado, presença de hemó-
dente a 7,1% do total brasileiro, solicitaram exames lise, quantidade insuficiente de amostra) que impos-
sorológicos (IgM) para o diagnóstico de sarampo e, sibilitam o processamento dessas. Tal observância
desses, foram identificados 109 (27,5%) municípios corrobora a importância dos treinamentos propostos
que tiveram pelo menos um exame IgM positivo dentro do Plano de Ação para Fortalecimento da
(Tabela 3). Foi solicitado um total de 1.413 exames e, Vigilância Laboratorial realizados nos últimos meses,
desses, 211 (14,9%) encontram-se em triagem, 1.120 uma vez que os temas abordados tinham como obje-
(79,26%) foram liberados e 356 amostras, correspon- tivo o aprimoramento da fase pré-analítica. Espera-
dendo a 25%, não foram realizadas (Tabela 4). Dos -se que o percentual de não conformidades reduza
exames liberados, 279 (24,9%) tiveram IgM reagente gradativamente a longo prazo, conforme a replicação
para sarampo. A não realização de exames ocorre das informações ofertadas nos treinamentos.

13
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

Em situação específica de municípios em surto de os critérios descritos na Figura 4 e na identificação


sarampo com grande volume de solicitação de exames, das amostras na ficha de notificação e na etiqueta da
para identificar e monitorar a circulação dos genótipos e amostra deve ser indicado qual critério determinou a
linhagens circulantes do vírus, com objetivo de otimizar solicitação. Para municípios com baixa circulação ou
o uso de insumos e manter a capacidade de resposta casos esporádicos, permanece a regra de coleta de
laboratorial oportuna, orienta-se a coleta de amostras amostras sorológicas (sangue) e para biologia molecular
de orofaringe, nasofaringe (swab) e urina para análise (orofaringe e nasofaringe – swab e urina), e posterior
por RT-PCR, em tempo real, que deve acontecer sempre envio de amostra para diagnóstico molecular, para todos
no primeiro contato com o paciente, considerando-se os casos, como descrito no Guia de Vigilância em Saúde.

Tabela 3 Distribuição por UF dos exames laboratoriais para diagnóstico de sarampo, de acordo com municípios totais, municípios
solicitantes, e resultado IgM positivo por municípios de residência da UF, Brasil, SE 1 a 17 de 2022

Municípios
Total de Percentual Positividade (% de
solicitantes Municípios com
UF municípios de municípios municipios com IgM+ em
(por residência IgM positivo
por UF solicitantes (%) relação aos solicitantes)
do paciente)
Acre 22 3 13,0 1 33,3
Alagoas 102 1 1,0 0 NA
Amazonas 62 4 6,3 1 25,0
Amapá 16 9 52,9 6 66,7
Bahia 417 31 7,4 10 32,3
Ceará 184 33 17,8 5 15,2
Distrito Federal 1 2 3,4 2 100,0
Espírito Santo 78 8 10,1 0 NA
Goiás 246 16 5,2 1 6,2
Maranhão 217 2 0,9 0 NA
Minas Gerais 853 31 3,6 5 16,1
Mato Grosso do Sul 79 6 7,5 1 16,7
Mato Grosso 141 2 1,4 0 NA
Pará 144 41 28,3 12 29,3
Paraíba 223 11 4,9 4 36,4
Pernambuco 185 21 11,3 7 33,3
Piauí 224 5 2,2 2 40,0
Paraná 399 26 6,5 4 15,4
Rio de Janeiro 92 12 12,9 4 33,3
Rio Grande do Norte 167 2 1,2 1 50,0
Rondônia 52 4 7,5 4 100,0
Roraima 15 2 12,5 1 50,0
Rio Grande do Sul 497 17 3,4 1 5,9
Santa Catarina 295 13 4,4 0 NA
Sergipe 75 2 2,6 0 NA
São Paulo 645 90 13,9 36 40,0
Tocantins 139 2 1,4 1 50,0
Total Geral 5.570 396 7,1 109 27,5

Fonte: GAL/SVS/MS. Dados atualizados em 10/5/2022.


NA: não se aplica.

14
Tabela 4 Distribuição dos exames sorológicos (IgM) para diagnóstico de sarampo, segundo, o total de exames (solicitados, em triagem, em análise, liberados, positivos, negativos e inconclusivos) e
a oportunidade de diagnóstico (tempo oportuno de liberação de resultado, mediana de liberação dos resultados a partir do recebimento da amostra no laboratório e positividade do diagnóstico),
por UF de residência, Brasil, SE 1 a 17 de 2022

Total de Exames IgM Oportunidade de diagnóstico


UF (por residência
do paciente) a b c d Não e f g MEDIANA (dias) Positividade (%) =
Solicitados Em triagem Em análise Liberados Positivos Negativos Inconclusivos % Exames oportunos
realizados liberação – recebimento positivos/liberadosh
Acre 4 1 0 3 1 2 0 100% 0 33,3
Alagoas 0 0 0 0 1 0 0 0 NA
Amazonas 17 1 3 13 2 1 10 2 100% 1 7,7
Amapá 96 21 5 70 7 32 30 8 90% 2 45,7
Bahia 104 4 0 100 25 34 60 6 98% 1 34,0
Ceará 87 17 3 67 81 7 59 1 88% 2 10,4
Distrito Federal 26 0 4 22 3 6 12 4 91% 1 27,3
Espírito Santo 20 1 1 17 0 17 0 100% 0 0,0
Goiás 21 1 0 20 1 18 1 90% 3 5,0
Maranhão 5 0 0 5 0 3 0 100% 1 0,0
Minas Gerais 70 13 1 56 33 6 43 7 95% 2 10,7
Mato Grosso do Sul 8 2 0 6 3 1 5 0 100% 1,5 16,7
Mato Grosso 2 0 2 0 0 0 0 NA
Pará 160 37 7 116 15 18 91 7 94% 2 15,5
Paraíba 32 2 4 26 14 6 18 2 100% 1 23,1

15
Pernambuco 47 7 0 40 10 9 28 3 70% 3 22,5
Piauí 12 5 3 4 2 2 1 1 100% 1 50,0
Paraná 43 0 3 40 13 5 35 0 80% 3 12,5
Rio de Janeiro 99 13 2 84 82 15 60 9 86% 2 17,9
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde

Rio Grande do Norte 2 0 0 2 1 1 0 0 100% 3,5 50,0


Rondônia 17 0 4 13 1 7 5 1 100% 0 53,8
Roraima 25 6 4 15 5 4 5 6 100% 2 26,7
Rio Grande do Sul 25 1 1 23 1 1 17 5 100% 1 4,3
Santa Catarina 18 1 2 15 8 0 13 0 73% 2 0,0
Sergipe 1 0 0 1 1 0 1 0 100% 3 0,0
São Paulo 457 71 32 354 48 118 229 7 85% 3 33,3
Tocantins 15 7 0 8 4 3 1 38% 12 50,0
Total Geral 1413 211 81 1120 356 279 765 71 89% 2,0 24,9
Fonte: GAL/SVS/MS. Dados atualizados em 10/5/2022.
a
Total de exames IgM solicitados no período: soma os exames em triagem, em análise e liberados no período, pois os exames solicitados são selecionados com base na data de solicitação e os exames liberados têm como base a data de liberação; e não
foram contabilizados exames descartados e cancelados.
b
Total de exames IgM em triagem: exames cadastrados pelos serviços municipais e que estão em trânsito do município para o Lacen ou que estão em triagem no setor de recebimento de amostras do Lacen; esse número pode variar considerando que
exames em triagem e podem ser cancelados.
c
Total de exames IgM em análise: exames que estão em análise na bancada do Lacen.
d
Total de exames IgM liberados: total de exames com resultados liberados no período.
e
Total de exames IgM positivos: total de exames com resultados reagentes no período.
f
Negativos: total de exames com resultados negativos;
g
Inconclusivos: total de exames inconclusivos;
h
Positividade das amostras: porcentagem de resultados positivos por total de exames liberados.
Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

NA: não se aplica.


Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

Sorologia RT-PCR
(ELISA) (Critérios para envio de amostras para Fiocruz)

¡¡ Resultado de sorologia IgM Reagente para sarampo: ¡¡ Enviar amostras dos 3 primeiros casos supeitos
confirmar o caso. que estão diretamente relacionados ao caso índice.
¡¡ Resultado de IgG Reagente para sarampo: caso ¡¡ Enviar amostras dos 3 casos suspeitos que
não tenha histórico de vacinação, coletar S2 e ocorreram em uma nova localidade ou municipio.
avaliar o aumento de títulos de IgG por pareamento ¡¡ A cada dois meses, enviar 3 novas amostras de
das amostras. casos da mesma localidade ou município onde os
casos que iniciaram o surto foram confirmados.

Fonte: CGLAB/DAEVS/SVS.

Figura 4 Estratégias a serem adotadas em municípios com surto ativo para envio de amostras para o diagnóstico de sarampo

Ações desenvolvidas a fim de descentralizar o máximo possível a vacinação


para além das unidades básicas de saúde.
  Durante a SE 14/2022, foi realizada uma visita técnica
ao estado do Pará como uma das etapas do Plano Além disso, cada município deve estabelecer estratégias,
Operacional Unificado para interrupção do surto de considerando ampliar as coberturas vacinais, no intuito
sarampo no Brasil. Essa visita ocorreu com a inte- de atingir a meta de pelo menos 95% de cobertura para as
gração das 3 esferas (nacional, estadual e municipal) doses 1 e 2 da vacina tríplice viral, de forma homogênea.
incluindo profissionais da atenção primária, vigilân-
cia epidemiológica, imunização e laboratório. E para diminuir o risco da ocorrência de casos graves e
  Na SE 17/2022 ocorreu o primeiro dia “S”, em que os óbitos por sarampo, o MS adotou, em agosto de 2019,
profissionais dos Lacen foram orientados a realizar a estratégia da Dose Zero da vacina tríplice viral para
uma busca ativa laboratorial de possíveis casos crianças de 6 a 11 meses de idade. Ainda, a partir de 23
suspeitos para sarampo. de novembro de 2020, o MS suspendeu essa dose nos
locais que interromperam a circulação do vírus, manten-
do-a nos estados que continuam com a circulação do
Vacinação vírus do sarampo (Ofício Circular Nº 212/2020/SVS/MS).

Considerando a situação epidemiológica provocada pela Em 2022, no período de 4 de abril a 3 de junho, o


pandemia do coronavírus, e o fato de alguns estados ain- Ministério da Saúde realiza a 8ª Campanha de Segui-
da manterem a circulação do vírus do sarampo, o Ministé- mento contra o sarampo, que tem como público-alvo
rio da Saúde (MS) recomenda que as ações de vacinação as crianças de seis meses a menores de cinco anos de
na rotina sejam mantidas. O MS recomenda, ainda, que idade (4 anos, 11 meses e 29 dias), e a Vacinação de
os processos de trabalho das equipes sejam planejados Trabalhadores da Saúde. A ação ocorre de forma con-
de forma a vacinar o maior número de pessoas contra o comitante à campanha de vacinação contra a influenza,
sarampo, conforme orientações do Calendário Nacional de sendo desenvolvida em duas etapas:
Vacinação e, ao mesmo tempo, evitar aglomerações para
diminuir o risco de contágio pela covid-19.   Primeira etapa: de 4 a 30 de abril, com a vacinação
seletiva dos trabalhadores da saúde contra o sarampo.
Nesse sentido, a Secretaria Municipal de Saúde de cada   Segunda etapa: de 2 de maio a 3 de junho, será
município e a rede de serviços de Atenção Primária à realizada a campanha de seguimento contra o
Saúde/Estratégia Saúde da Família devem estabelecer sarampo, com a vacinação indiscriminada das crianças
parcerias locais com instituições públicas e privadas, de seis meses a menores de cinco anos.

16
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

Em 30 de abril foi realizado o dia de mobilização nacional Orientações e recomendações


de ambas as etapas e, a partir dessa data, a vacinação do Ministério da Saúde
contra o sarampo passa a ser ofertada para as crianças que
compõem o público–alvo da estratégia.   Após a fase aguda do sarampo, ausência de sinais e
sintomas, e coleta das amostras para confirmação
Essas ações são imprescindíveis para auxiliar o País na e/ou descarte do caso, seguir com a administração
interrupção da circulação do vírus do sarampo no território. da vacina tríplice ou tetra viral, conforme disponibili-
dade do imunobiológico, e orientação do Calendário
Nacional de Vacinação, considerando a imunização
Outras informações sobre para as demais doenças (rubéola e caxumba).
estratégias de vacinação   O bloqueio vacinal deve ser realizado em até 72 horas,
dada a ocorrência de um ou mais casos suspeitos, a fim
  É importante que todas as pessoas de 12 meses de interromper a cadeia de transmissão e, consequente-
até 59 anos de idade estejam vacinadas contra mente eliminar os suscetíveis em menor tempo possível.
o sarampo, de acordo com as indicações do   Passadas as 72 horas, tempo oportuno para o bloqueio,
Calendário Nacional de Vacinação. a ação de vacinação pode e deve ser realizada, mas
  Nos locais com circulação do vírus do sarampo, passa a ser uma ação de intensificação.
as crianças que receberem a dose zero da vacina   O diagnóstico laboratorial é realizado por meio de
tríplice viral entre 6 e 11 meses e 29 dias (dose não sorologia para detecção de anticorpos IgM específicos
válida para fins do Calendário Nacional de Vacinação) e soroconversão, ou aumento de anticorpos IgG
deverão manter o esquema previsto: aos 12 meses em amostras de sangue (soro), e a detecção viral
com a vacina tríplice viral; e aos 15 meses com a por meio de RT-PCR, com a coleta de amostras
vacina tetra viral, ou tríplice viral mais varicela, de secreção nasofaríngea, orofaríngea e urina.
respeitando o intervalo de 30 dias entre as doses. É imprescindível que a coleta de amostras para
  Os profissionais de saúde devem avaliar a caderne- realização de sorologias e RT-PCR de casos suspeitos,
ta de vacinação durante todas as oportunidades de seja realizada no primeiro contato com o paciente.
contato com as pessoas de 12 meses a 59 anos de   As amostras de sangue (soro) das S1 devem ser
idade, como em consultas, durante o retorno para coletadas entre o 1º ao 30º dia do aparecimento do
exames de rotina, nas visitas domiciliares etc., e exantema, e as S2 devem ser coletadas de 15 a 25 dias
recomendar a vacinação quando necessário. após a data da S1. As amostras de secreção nasofa-
  A identificação e o monitoramento de todas as ríngea, orofaríngea e urina para detecção viral devem
pessoas que tiveram contato com caso suspeito ser coletadas até o 7º dia, a partir da data de início
ou confirmado durante todo o período de do exantema.
transmissibilidade (seis dias antes e quatro dias   Fortalecer a capacidade dos sistemas de Vigilância
após o início do exantema) são determinantes para Epidemiológica do sarampo, e reforçar as equipes de
a adoção de medidas de controle que devem ser investigação de campo para garantir a investigação
realizadas de forma oportuna. oportuna e adequada dos casos notificados.
  Durante as ações de bloqueio vacinal dos   Produzir ampla estratégia midiática, nos diversos
contatos, recomenda-se vacinação seletiva, ou meios de comunicação, para informar profissionais de
seja, se houver comprovação vacinal de acordo saúde e a comunidade sobre o sarampo.
com o Calendário Nacional de Vacinação, não são   A vacina é a medida preventiva mais eficaz con-
necessárias doses adicionais. tra o sarampo. No entanto, se a pessoa é um caso
  As ações de manejo clínico e epidemiológico devem suspeito, é necessário reduzir o risco de espalhar
ser realizadas de forma integrada entre a Atenção à a infecção para outras pessoas. Para isso, é impor-
Saúde, a Imunização e as Vigilâncias Epidemiológica tante orientar que essa pessoa deve evitar a ida
e Laboratorial, oportunamente. ao trabalho ou escola por pelo menos 4 (quatro)
dias, a partir de quando desenvolveu o exantema,
além de evitar o contato com pessoas que são mais
vulneráveis à infecção, como crianças pequenas e
mulheres grávidas, enquanto estiver com a doença.

17
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

  Medidas de prevenção de doenças de transmissão 3. Centers for Disease Control and Prevention. Interim
respiratória também são válidas, e os profissionais Infection Prevention and Control Recommendations
devem orientar a população sobre: a limpeza for Measles in Healthcare Settings. [Atlanta]: CDC,
regular de superfícies, isolamento domiciliar para a 2019. [acesso em: 13 abr. 2022]. Disponível em:
pessoa que estiver com suspeita ou em período de https://bit.ly/2XXdy4Q.
transmissão de doença exantemática, medidas de
distanciamento social em locais de atendimento de 4. Centers for Disease Control and Prevention. 2007
pessoas com suspeita de doença exantemática, cobrir Guideline for Isolation Precautions: Preventing
a boca ao tossir ou espirrar, uso de lenços descartáveis Transmission of Infectious Agents in Healthcare
e higiene das mãos com água e sabão, e/ou álcool Settings. [Atlanta]: CDC, 2007. [acesso em: 13 abr.
em gel. Nos ambientes de saúde, ao identificar uma 2022]. Disponível em: https://bit.ly/34YyRVl.
pessoa com suspeita, é necessário o isolamento, além
de outras medidas de biossegurança individuais e 5. Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. Setor
coletivas, que estão descritas com maior detalhamento de Vigilância em Saúde e Segurança do Paciente.
no Guia de Vigilância em Saúde (2021). Medidas de Precaução para Prevenção de Infecção
  A circulação do vírus é considerada interrompida nos Hospitalar versão 1.0. [recurso eletrônico]. 1. ed.
estados, quando transcorridas 12 ou mais semanas Maceió: Ebserh, 2019. [acesso em: 13 abr. 2022].
consecutivas sem apresentar casos novos da mesma Disponível em: https://bit.ly/3reALKR.
cadeia de transmissão.
6. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de
Vigilância em Saúde. Departamento de Imunização
Importante: Não vacinar casos suspeitos de saram- e Doenças Transmissíveis. Coordenação-Geral
po, entre as coletas da primeira amostra (S1) e da do Programa Nacional de Imunizações. Informe
segunda amostra (S2), uma vez que a administração Técnico da 8ª Campanha Nacional de Seguimento
da vacina interfere diretamente no resultado labo- e Vacinação de Trabalhadores da Saúde contra o
ratorial e classificação final do caso! Sarampo. Brasília, 2022.

Referências
1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância
em Saúde. Coordenação-Geral de Desenvolvimento
da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância
em Saúde: volume único [recurso eletrônico].
3. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2019, p. 112-130.
[acesso em: 13 abr. 2022]. Disponível em: https://bit.
ly/3wXq5mS.

2. Centers for Disease Control and Prevention. Measles


cases and outbreaks. [Atlanta]: CDC, 2021. [acesso
em: 13 abr. 2022]. Disponível em: https://bit.
ly/3cFBLki.

*Coordenação-Geral do Programa Nacional de Imunizações do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis (CGPNI/DEIDT/SVS): Adriana Regina
Farias Pontes Lucena, Aline Ale Beraldo, Cintia Paula Vieira Carrero, Josafá do Nascimento Cavalcante, Maria Izabel Lopes, Nájla Soares Silva, Regina Célia
Mendes dos Santos Silva, Rita de Cássia Ferreira Lins. Coordenação-Geral de Laboratórios de Saúde Pública do Departamento de Articulação Estratégica de
Vigilância em Saúde (CGLAB/Daevs/SVS): Izabela Rosa Trindade, Leonardo Hermes Dutra, Marielly Reis Resende Sousa, Marliete Carvalho da Costa, Mayara
Jane Miranda da Silva, Rejane Valente Lima Dantas, Ronaldo de Jesus, Thiago Ferreira Guedes.

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Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

Mortalidade materna no Brasil, 2009 a 2020


Coordenação-Geral de Informações e Análise Epidemiológica do Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis da Secretaria de
Vigilância em Saúde (CGIAE/DASNT/SVS).*

Introdução Método
A vigilância da mortalidade materna, por meio do Este estudo descritivo foi realizado a partir de dados do
registro, da investigação e da classificação dos óbitos Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e
maternos, é um instrumento essencial para subsidiar do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), no
ações direcionadas para a redução desse que continua período de 2009 a 2020. Os dados do SIM e do Sinasc,
sendo um grande desafio da saúde e da equidade até o ano 2020, são considerados finalizados.
social, de gênero e de raça.
Para análise do Sinasc, no período de 2019 a 2020,
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram considerados o número de nascidos vivos,
foram lançados em 2015 e estabelecem uma série trimestre de início do pré-natal e número de consultas
de metas a serem atingidas no período de 15 anos, de pré-natal realizadas. O óbito materno, no SIM, foi
ou seja, até 2030. Entre os 17 ODS, os fatores diretos analisado segundo as causas de morte, faixa etária e
relacionados à saúde estão incluídos no ODS 3: raça/cor. De acordo com a 10ª Classificação Estatística
Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar Internacional de Doenças e Problemas Relacionados
para todas e todos, em quaisquer idades. A meta 3.1 é de com a Saúde (CID-10), o óbito materno é definido como
que a razão de mortalidade materna (RMM) global seja a morte de uma mulher, ocorrida durante ou até 42
inferior a 70 mortes por 100.000 nascidos vivos. O Brasil dias após a gestação, independentemente da duração
se comprometeu a reduzir para, no máximo, 30 mortes ou da localização da gravidez, e desde que seja por
maternas por 100.000 nascidos vivos até 20301. causa relacionada com ou agravada pela gravidez ou
por medidas ligadas a ela, mas não associada a causas
Em 2020, foi declarada a pandemia de doença causada acidentais ou incidentais3,4.
pelo coronavírus SARS-CoV-2, denominada covid-19.
A gravidez e o pós-parto, por si só, são importantes Para fins de avaliação da mortalidade materna,
fatores de risco para morte, complicações e admissão foram consideradas as mortes com causas básicas
na UTI em relação a mulheres diagnosticadas com classificadas no Capítulo XV da CID-10, com exceção
covid-19 em idade reprodutiva2. A covid-19 (CID10: B34.2) dos códigos O96 e O97 (Morte Materna Tardia e Morte
foi responsável por 212.706 óbitos em 2020, notificados por Sequela de Causa Obstétrica Direta). Algumas
ao Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), doenças que não constam no Capítulo XV também
o que, por sua vez, torna importante conhecer as foram ser consideradas: tétano obstétrico (cód. A34,
principais características dos óbitos maternos e Cap. I); osteomalácia puerperal (cód. M83.0, Cap. XII);
nascidos vivos, comparando os anos de 2019 a 2020, ano transtornos mentais e comportamentais associados
que marcou o início da pandemia de covid-19 no mundo. ao puerpério (cód. F53, Cap. V); necrose pós-parto da
hipófise (cód. E23.0, Cap. IV), mola hidatiforme maligna
Assim, neste Boletim, a mortalidade materna e as (cód. D39.2, Cap. II); doenças causadas pelo vírus da
características referentes aos nascimentos, como imunodeficiência humana (cód. B20 a B24, Cap. I). Nos
o início e o número de consultas de pré-natal, no últimos três casos, deve ficar comprovada a relação com
Brasil, em Grandes Regiões e unidades da Federação o estado gravídico-puerperal e o óbito deve ter ocorrido
(UF), foram estimadas para o período de 2009 a 2020, até 42 dias após o parto5.
com ênfase no ano 2020, marcado pela pandemia de
covid-19. Pela definição de morte materna estabelecida pela
Organização Mundial de Saúde, existem os seguintes
tipos de causas6,7:

19
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

Causas
   obstétricas diretas (Cód. O00-O08, A RMM Vigilância foi calculada a partir da aplicação de
O11-O23, O24.4, O26-O92, A34, D39.2, E23.0, F53 correções baseadas em indicadores da vigilância do
e M83.0): resultam de complicações obstétricas óbito de mulheres em idade fértil, sobre a RMM direta9.
na gravidez, parto ou puerpério atribuídas a
intervenções, omissões, tratamento incorreto ou a Todos os cálculos e gráficos foram realizados com o
uma cadeia de eventos resultantes de quaisquer software estatístico R versão 4.1.3.
dessas causas mencionadas.
Causas obstétricas indiretas (Cód. O10, O24 –
  
exceto O24.4, O25, O98-O99, A34 e B20-B24): Resultados
resultam de doenças existentes antes da gravidez
ou de doenças que se desenvolveram durante
a gravidez e que foram agravadas pelos efeitos
Natalidade
fisiológicos da gravidez, desde que excluídas as O Brasil apresentou uma queda na natalidade no ano
causas obstétricas diretas. de 2020, sendo que, em 2019 e em 2020, foram noti-
ficados 2.849.146 e 2.730.145 nascimentos ao Sinasc,
A seguir estão relacionados os códigos da CID-10 das respectivamente. Em 2020, observa-se em todas as
principais causas de morte materna: Hipertensão: regiões uma diminuição de nascimentos em relação a
O110-O119, O130-O169; Hemorragia: O200-O209, 2019 (Figura 1).
O440-O469, O670-O679, O710, O711, O720-O729; Infecção
puerperal: O850-O869; Aborto: O030-O079; Aids:
B200-B249; Doenças do aparelho circulatório: O994;
Consultas pré-natal e início do pré-natal
Doenças do aparelho respiratório: O995; Doenças No Brasil, em 2019, 72,4% dos nascidos vivos foram de
infecciosas e parasitárias maternas: O980-O9895. mulheres que realizaram sete ou mais consultas de
pré-natal em 2019. Em 2020, esse percentual diminuiu
Para a mortalidade materna atribuída à covid-19 foram para 71,0%. O percentual de nascidos vivos de mulheres
considerados os registros com causa básica de óbito que iniciaram o pré-natal no 1º trimestre gestacional
com os seguintes códigos da CID-10 para covid-19: O98.5 aumentou ligeiramente, de 78,4% em 2019 para 78,5%
+ U07.1 (covid-19 confirmada); O98.5 + U07.2 (covid-19 em 2020 (Figura 2).
suspeita); O98.5 + U09.9 (condição de saúde posterior
à covid-19); O99.8 + U10.9 (síndrome inflamatória Em 2020, 7,8% dos nascidos vivos foram de mulheres
multissistêmica pediátrica de 10 a 19 anos); O98.5 + U92.1 que realizaram até três consultas de pré-natal, com
(reincidência de covid-19)8. grandes diferenças regionais (18% na Região Norte
e 4% na Região Sul), conforme Figura 3. Não foram
Foram considerados não apenas os óbitos maternos observadas alterações importantes nesses percentuais
declarados pelo médico no momento da emissão no período de 2019 a 2020.
da Declaração de Óbito (DO), mas também os óbitos
de mulheres em idade fértil que foram investigados
e confirmados como óbito materno pelas equipes
Morte materna
de vigilância do óbito. Essa vigilância se inicia pela No Brasil, em 2019 e em 2020, foram notificados 1.576 e
investigação dos óbitos de mulheres em idade fértil 1.965 óbitos maternos ao SIM, respectivamente. Após
(10 a 49 anos), com o objetivo de identificar óbitos aplicação do fator de correção oriundo da RMM Vigilância,
maternos não declarados inicialmente, bem como estima-se que tenham ocorrido 1.655 e 2.039 óbitos
apontar as circunstâncias e fatores determinantes que maternos em 2019 e 2020, respectivamente (Figura 4).
ocasionaram as mortes5.

A Razão de Morte Materna (RMM) é o indicador utilizado


Razão de mortalidade materna
para mensurar a mortalidade materna, obtido a partir A Figura 5 apresenta as séries temporais da RMM de
da seguinte fórmula: 2009 a 2020, período que coincide com a vigilância
de óbitos, iniciada em 200910.O Brasil apresentou um
Número de óbitos de mulheres por causas aumento acentuado da RMM, variando de 57,9 óbitos
ligadas à gravidez, ao parto e ao puerpério maternos para cada 100 mil nascidos vivos em 2019 para
x 100.000 74,7 em 2020. Aumentos das RMM ocorreram também em
Número de nascidos vivos
todas as Regiões nos últimos três anos da série.

20
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

Brasil Norte Nordeste

860.000
2.750.000 2.850.000 2.950.000

315.000
Nascidos Vivos

Nascidos Vivos

Nascidos Vivos

820.000
305.000

780.000
2010 2012 2014 2016 2018 2020 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2010 2012 2014 2016 2018 2020

Ano Ano Ano

Sudeste Sul Centro−Oeste


1.180.000

240.000
Nascidos Vivos

Nascidos Vivos

Nascidos Vivos
390.000
1.120.000

230.000
370.000
1.060.000

220.000
2010 2012 2014 2016 2018 2020 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2010 2012 2014 2016 2018 2020

Ano Ano Ano

Fonte: Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

Figura 1 Nascidos vivos notificados ao Sinasc. Brasil e Grandes Regiões, 2009 a 2020
100

100

2019 2019
2020 2020
78.4 78.5
80

80

72.4 71
Nascidos Vivos (%)

Nascidos Vivos (%)


60

60
40

40

20.3 20.7
20

20

14.6 14.4

6.9 7.8
4.9 4.9
2.1 2.2
0

Até 3 4a6 7 e mais 1º trimeste 2º trimestre 3º trimestre Ignorado

Consultas pré−natal Início do pré−natal

Fonte: Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

Figura 2 Consultas pré-natal e início do pré-natal. Brasil, 2019 a 2020

21
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2019 2020
100

100
Norte Norte
Nordeste Nordeste
Sudeste 82
Sudeste
Sul Sul 81
79 78
80

80
Centro−Oeste Centro−Oeste
72 71
68
66
Nascidos Vivos (%)

Nascidos Vivos (%)


60

60
54
50
40

40
32 32

24 25
21 22
18
20

20
15 17 16
14 15
8 9
7 7
5 4 5 4
0

0
Até 3 4a6 7 e mais Até 3 4a6 7 e mais

Consultas pré−natal Consultas pré−natal

Fonte: Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

Figura 3 Consultas pré-natal. Regiões do Brasil, 2019 a 2020


2.000
1.500
Óbitos maternos

1.000
500

Direto do SIM − Sem fator de correção


Estimado − com fator de correção
0

2010 2012 2014 2016 2018 2020

Ano

Fonte: Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

Figura 4 Óbitos maternos notificados ao SIM e estimados. Brasil, 2009 a 2020

22
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Brasil Norte Nordeste


80 100

80 100

80 100
RMM

RMM

RMM
60

60

60
40

40

40
20

20

20
0

0
2010 2012 2014 2016 2018 2020 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2010 2012 2014 2016 2018 2020

Ano Ano Ano

Sudeste Sul Centro−Oeste


80 100

80 100

80 100
RMM

RMM

RMM
60

60

60
40

40

40
20

20

20
0

0
2010 2012 2014 2016 2018 2020 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2010 2012 2014 2016 2018 2020

Ano Ano Ano

Fonte: Sistemas de Informações sobre Nascidos Vivos e sobre Mortalidade (Sinasc e SIM).

Figura 5 Razão de mortalidade materna. Brasil e Regiões, 2009 a 2020

A RMM aumentou em praticamente todas as unidades nos para cada 100.000 nascidos vivos foram observadas
da Federação (UF) entre os anos de 2019 e 2020. Neste em Amazonas, Roraima, Pará, Amapá, Maranhão e Piauí
último, estimativas de RMM acima de 100 óbitos mater- (Figura 6 e Tabela 1).

2020

2020

O L
Até 20
20 a 40
S 40 a 60
60 a 80
80 a 100
0 500 1000 km
100 ou mais

Fonte: Sistemas de Informações sobre Nascidos Vivos e sobre Mortalidade (Sinasc e SIM).
Nota: RMM com fator de correção para 2020.

Figura 6 Razão de mortalidade materna por unidades da Federação, Brasil, 2020

23
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Tabela 1 Razão de Mortalidade Materna (RMM). Brasil, Regiões e unidades da Federação, 2010 a 2020

Região/unidade da Federação 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Norte 78,4 74,7 73,2 83,8 93,6 76,0 84,5 88,9 80,8 82,5 98,9
Rondônia 83,2 58,3 64,1 94,2 87,7 57,7 56,4 87,3 47,8 59,6 78,1
Acre 48,8 33,7 53,9 58,6 46,7 58,9 69,7 48,9 54,4 49,1 33,0
Amazonas 119,5 84,6 85,0 81,6 120,8 78,8 84,7 75,6 108,4 84,8 101,8
Roraima 13,8 67,5 38,0 74,5 60,4 96,4 52,7 59,6 100,6 91,9 146,4
Pará 69,7 73,8 78,9 86,7 96,4 72,9 86,4 107,4 81,4 96,1 107,1
Amapá 26,8 53,3 54,1 119,7 66,0 110,8 141,7 45,5 88,3 32,6 102,5
Tocantins 76,8 112,6 53,3 61,2 60,1 85,6 92,2 96,3 31,6 71,4 79,2
Nordeste 83,3 77,9 72,7 82,4 77,9 75,3 78,0 73,2 67,1 63,6 91,8
Maranhão 133,7 109,8 96,1 123,8 100,9 116,5 122,2 101,8 90,6 80,6 108,9
Piauí 125,0 107,1 126,0 130,2 86,8 103,6 108,5 88,6 105,8 98,1 101,0
Ceará 70,6 68,4 69,4 74,5 65,3 49,1 63,4 65,7 68,4 58,1 97,6
Rio Grande do Norte 36,6 68,6 66,0 54,5 74,8 68,4 77,2 77,9 58,6 70,4 78,1
Paraíba 61,8 61,7 61,5 70,9 63,0 81,8 99,9 67,8 53,2 62,8 97,7
Pernambuco 61,9 57,5 56,0 64,3 63,4 67,6 58,1 63,3 59,2 48,0 70,8
Alagoas 74,4 66,8 56,3 71,6 104,1 59,1 51,9 37,7 49,5 58,2 82,7
Sergipe 71,1 83,0 70,4 67,2 66,9 51,6 55,9 56,1 58,8 36,7 97,5
Bahia 87,3 80,6 70,0 80,6 81,0 75,4 72,6 76,9 60,8 64,0 93,1
Sudeste 56,0 48,7 46,5 50,1 53,9 54,3 55,8 62,3 53,2 53,5 65,1
Minas Gerais 50,5 40,3 36,6 47,6 49,0 47,0 46,9 45,2 51,2 44,4 51,0
Espírito Santo 65,6 60,8 64,4 59,6 109,2 73,1 48,7 71,6 63,9 56,2 68,8
Rio de Janeiro 83,6 74,3 80,8 80,3 71,9 67,1 71,6 84,7 61,7 74,5 95,4
São Paulo 47,6 42,0 36,8 39,3 44,2 50,8 54,4 60,6 50,0 49,7 60,1
Sul 62,8 50,4 54,5 36,6 41,7 43,7 44,2 38,5 38,2 38,3 45,6
Paraná 65,4 52,7 38,4 41,7 41,3 51,7 50,3 31,7 38,4 45,5 52,6
Santa Catarina 38,1 30,7 45,4 31,4 30,2 30,9 31,5 40,7 35,1 30,6 31,7
Rio Grande do Sul 75,6 60,5 78,3 34,2 49,7 43,4 46,0 44,5 40,3 39,9 48,3
Centro-Oeste 77,2 68,2 64,3 62,5 60,2 65,9 67,3 56,9 64,9 59,0 77,0
Mato Grosso do Sul 113,8 92,4 73,1 66,7 79,3 88,2 80,1 60,3 84,9 64,5 48,8
Mato Grosso 76,9 83,9 58,5 71,6 63,7 82,9 78,5 61,1 58,0 64,6 91,8
Goiás 69,1 50,9 70,5 56,7 53,8 56,6 56,5 56,4 64,7 69,7 90,5
Distrito Federal 60,7 61,8 49,4 60,3 51,0 43,7 64,6 49,4 54,3 21,2 53,4
Brasil 68,9 61,8 59,3 62,1 63,8 62,0 64,4 64,5 59,1 57,9 74,7

Fonte: Sistemas de Informações sobre Nascidos Vivos e sobre Mortalidade (Sinasc e SIM).
Nota: RMM com fator de correção até 2020.

24
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

Causas de óbito materno Em 2020, entre as Causas Obstétricas Diretas,


predominaram a hipertensão (317 óbitos), hemorragia
Entre 2019 e 2020, houve um ligeiro aumento dos (195 óbitos) e infecção puerperal (76 óbitos) e aborto
óbitos maternos decorrentes de Causas Obstétricas (57 óbitos). Entre as Causas Obstétricas Indiretas,
Diretas (de 1.034 óbitos para 1.041 óbitos) e um elevado predominam as doenças do aparelho circulatório
aumento das Causas Obstétricas Indiretas (de 479 (111 óbitos), doenças do aparelho respiratório (54
óbitos para 843 óbitos), relativamente às quantidades óbitos) e doenças infecciosas e parasitárias maternas
registradas nos anos anteriores desde 2009, conforme (variando de 45 óbitos em 2019 a 476 óbitos em 2020),
mostrado na Figura 7. conforme a Figura 8.
1.200

Diretas
1.000
800
Óbitos maternos

Indiretas
600
400
200

Não especificadas
0

2010 2012 2014 2016 2018 2020

Ano

Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

Figura 7 Morte materna obstétrica. Brasil, 2009 a 2020

25
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

Causa Obstétrica Direta Causa Obstétrica Indireta


500

500
Hipertensão AIDS
Hemorragia Doenças do aparelho circulatório
Infecção puerperal Doenças do aparelho respiratório
Aborto Doenças infecciosas e parasitárias
400

400
Óbito Materno

Óbito Materno
300

300
H1N1
200

200
100

100
0

0
2010 2012 2014 2016 2018 2020 2010 2012 2014 2016 2018 2020

Ano Ano

Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

Figura 8 Principais causas de morte materna. Brasil, 2009 a 2020

Óbito materno associado à covid-19 No Brasil, com dados mensais a partir de janeiro
de 2020, os óbitos maternos associados à covid-19
Conforme apresentado na Figura 9, 17% (n=335) de alcançaram valores máximos nos meses de maio a
todos os óbitos maternos ocorridos no Brasil em 2020 agosto, popularmente designadas como uma “onda” de
tinham associação com a covid-19. A Região Sul foi a que mortes maternas associadas à covid-19. O pico dessa
apresentou o menor percentual (10%; n=16) de óbitos “onda” ocorreu em maio de 2020 (n= 74), conforme
maternos associados com a covid-19 em 2020. Figura 10.

2020
30
% Óbitos maternos associados à Covid−19

23
25

20
20

17 17
15
15

10
10
5
0

N NE SE S CO Brasil

Região

Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

Figura 9 Percentual de óbito materno associado à covid-19. Brasil e Regiões, 2020 e 2020

26
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

80

74

61
Óbitos maternos associados à Covid−19

60

51

42
40

28
23
19 18 19
20

0 0 0
0

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Mês do óbito

Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

Figura 10 Óbitos maternos associados à covid-19 segundo mês de ocorrência

Características dos óbitos maternos (n=1.284) dos óbitos maternos foram de mulheres
negras, 54% de pardas e 12% de pretas. Apenas 13%
Conforme apresentado na Figura 11, no Brasil, em das mulheres que faleceram por causas maternas
2020, 56% (n=1.101) dos óbitos maternos foram de possuíam 12 anos ou mais de escolaridade (n=262),
mulheres com 30 anos e mais. Nesse mesmo ano, 65% e 30% eram casadas (n=593).

27
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

Idade Raça/cor
10 20 30 40 50 60

10 20 30 40 50 60
53.7
% de Óbitos maternos

% de Óbitos maternos
30
25
19.9 21.9
16.2
9.1 11.7
7.5
0.4 0.5 1.5 2.7
0
0

0
10−14 15−19 20−24 25−29 30−34 35−39 40+ Ignorado Branca Preta Amarela Parda Indígena Ignorado

Idade (em anos) Raça/cor

Escolaridade Estado Civil


10 20 30 40 50 60

10 20 30 40 50 60
48.6
% de Óbitos maternos

% de Óbitos maternos
44.8

30.2

19.5
13.3 14.8 13.5
7.6 7.7
0

Até 3 4a7 8 a 11 12 e mais Ignorado Solteiro* Casado Outro Ignorado

Escolaridade (em anos) Estado Civil

Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).


Nota: *Solteira, viúva e separada judicialmente.

Figura 11 Características das mulheres que faleceram de morte materna. Brasil, 2020

Considerações finais às equipes de Estratégia Saúde da Família e Saúde Bucal


mediante o alcance de três indicadores para a atenção
Observou-se um aumento importante da RMM no Brasil ao pré-natal, sendo respectivamente: Proporção de
em 2020, em decorrência da epidemia de covid-19. Em gestantes com pelo menos 6 (seis) consultas pré-natal
especial, nos estados da Região Norte, em que se en- realizadas, sendo a 1ª (primeira) até a 12ª (décima
contram maiores as barreiras de acesso para atenção segunda) semana de gestação; Proporção de gestantes
ao pré-natal de risco habitual e pré-natal de alto risco, com realização de exames para sífilis e HIV; Proporção
parece possível que tal fato esteja associado aos des- de gestantes com atendimento odontológico realizado.
fechos desfavoráveis às gestantes, às puérperas e aos
recém-nascidos. Para qualificar as equipes da APS na Região Norte, a Se-
cretaria de Atenção Primária lançou o curso de Qualifica-
Vale considerar que a Atenção Primária à Saúde – ção das Equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) na
APS assume papel imprescindível como porta de Atenção ao Pré-natal de Baixo Risco, nomeado Iniciativa
entrada, articuladora do cuidado e promotora das Força Pré-Natal SUS. Está estruturado em grandes temas:
ações de saúde. Nesse viés, o pré-natal propicia o Manejo clínico da gestação; Diagnóstico, tratamento e
estabelecimento de vínculos com a equipe de saúde, acompanhamento da sífilis na gestação; Prevenção e con-
prevenção e detecção precoce de agravos, tanto trole do câncer de colo uterino; pré-natal odontológico e
maternos como fetais, desenvolvimento saudável do Intervenção no território, com foco nas práticas de gestão
bebê e redução dos riscos de complicações durante a do cuidado integral e compartilhado.
gestação, o parto e o puerpério.
No que se refere à Atenção Ambulatorial e à Atenção
Na perspectiva de apoiar os processos de trabalho e a Especializada, destaca-se a publicação da recente
gestão do cuidado, a Portaria GM/MS N.º 102, de 20 de Portaria GM/MS N.º 715, de 4 de abril de 2022, a Rede
janeiro de 2022, instituiu o pagamento por desempenho de Atenção Materna e Infantil, que amplia recursos

28
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

de custeio para oferta de novos serviços como os Internacional de Doenças: décima revisão (CID-10). 4.
ambulatórios de gestação de alto risco, ambulatórios ed. v.2. São Paulo: Edusp; 1998.
de seguimento de recém-nascidos prematuros e as
maternidades de baixo risco. Essa nova portaria foi 5. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância
baseada na necessidade de atualização e ampliação da em Saúde. Departamento de Análise de Situação de
rede existente, trazendo os preceitos de segurança e Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica do Óbito
qualidade como pilares inerentes à humanização. Materno. Série A. Normas e Manuais Técnicos. Brasília:
Ministério da Saúde; 2009. Disponível em: https://bit.
Assim, os novos investimentos previstos na Rede de ly/3fUlTxx.
Atenção Materna e Infantil estão em consonância com o
compromisso assumido pelo Brasil e 192 países para a 6. Rede Interagencial de Informações para a Saúde.
redução das mortalidades materna e infantil na Agenda Fichas de Qualificação do Indicador Mortalidade
Global 2030, coordenada pelas Nações Unidas para o materna segundo tipo de causas - C.18 [Internet].
Desenvolvimento (PNUD).  Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; 2012.
Disponível em: https://bit.ly/3fXtID0.
Por fim, superar os desafios e avançar na qualificação
da atenção e da gestão em saúde materna requer forte 7. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância
decisão dos gestores do SUS, enquanto protagonistas em Saúde. Departamento de Análise de Situação de
do processo instituidor e organizador do sistema de Saúde. Boletim epidemiológico sobre mortalidade
saúde, com vistas à garantia dos investimentos e recur- materna no Brasil, 2009-2019. Brasília: Ministério da
sos necessários à mudança que potencialize a redução Saúde; 2021. Disponível em: https://bit.ly/3sFO4I5.
dos óbitos maternos no País.
8. Ministério da Saúde (BR). Orientações sobre novos
códigos de emergência para as causas de morte
Referências relacionadas a condições que ocorrem no contexto
da Covid-19. Brasília: Ministério da Saúde; 2021.
1. Ministério da Saúde (BR). Saúde Brasil 2017: Uma Disponível em: https://bit.ly/3Lm4DPE.
análise da situação de saúde e os desafios para o
alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 9. Ministério da Saúde (BR). Saúde Brasil 2017: Uma
[Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2009 [citado análise da situação de saúde e os desafios para
2022 mai]. Disponível em: https://bit.ly/3fSfjI3. o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde;
2. Gonçalves BMM, Franco RPV, Rodrigues AS. Maternal 2009 [citado 2022 mai]. Capítulo 2, Mortalidade
mortality associated with COVID-19 in Brazil in 2020 materna nas unidades da Federação, regiões e
and 2021: Comparison with non-pregnant women and no Brasil: uma análise de 2000 a 2015; p. 39-58.
men. PLoS ONE. 2021; 16 (12): e0261492. doi: 10.1371/ Disponível em: https://bit.ly/3fSfjI3.
journal.pone.0261492.
10. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria N.º 1.119, de 5 de
3. Rede Interagencial de Informações para a Saúde. junho de 2008. Regulamenta a Vigilância de Óbitos
Fichas de Qualificação do Indicador Razão de Maternos. Diário Oficial da União, Brasília (DF), 2008.
mortalidade materna - C.3 [Internet]. Brasília:
Organização Pan-Americana da Saúde; 2012.
Disponível em: https://bit.ly/3utkZO1.

4. Organização Mundial de Saúde. Classificação

*Departamento de Análise de Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis (DASNT/SVS): Giovanny Vinícius Araújo de França. Coordenação-Geral de
Informações e Análise Epidemiológica (CGIAE/DASNT/SVS): Marli Souza Rocha. Núcleo de Estatísticas e Indicadores: Denise Lopes Porto, Nahari de Faria
Marcos Terena. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas (Dapes/SAPS): Lana de Lourdes Aguiar Lima. Área técnica da Coordenação de Saúde das
Mulheres (Cosmu/CGCIVI/Dapes/SAPS): Camila Rosalia Antunes Baccin.

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Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

Mortalidade por esquistossomose mansoni


no Brasil, de 2015 a 2019
Coordenação-Geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis da Secretaria de
Vigilância em Saúde (CGZV/DEIDT/SVS); Coordenação-Geral de Emergências em Saúde Pública do Departamento de Saúde Ambiental, do Trabalhador e Vigilância
das Emergências em Saúde Pública (CGEMSP/DSASTE/SVS)*.

Introdução sangue nas fezes. Nos casos mais graves, o estado


geral do paciente piora bastante, com emagrecimento,
A esquistossomose mansoni é uma doença parasitá- fraqueza acentuada e aumento do volume do abdômen,
ria, diretamente relacionada ao saneamento precá- conhecido popularmente como barriga d’água. Se não
rio, que tem como agente etiológico o Schistosoma tratada adequadamente, a esquistossomose pode
mansoni (S.M.). É de ocorrência tropical, registrada evoluir para formas clínicas extremamente graves, que
em 54 países, principalmente na África, Leste do Me- podem levar a internações e óbitos.2,3
diterrâneo e América. Na América do Sul, destaca-se a
região do Caribe, Venezuela e Brasil. Alguns estudio- A fase crônica da esquistossomose é considerada
sos afirmam que o agente etiológico da esquistosso- após seis meses da infecção, podendo se estender
mose foi introduzido no Brasil a partir do tráfico de por anos. Surgem os sinais e sintomas gerando o
escravos africanos.1 comprometimento de vários órgãos, causando altos
níveis de gravidade. A localização do parasito no corpo e
A transmissão da esquistossomose dá-se a partir da a quantidade da carga parasitária pode influenciar nas
eliminação dos ovos por meio das fezes do hospedeiro manifestações clínicas, levando a doença a evoluir para
definitivo (homem). Ao serem lançados em um as formas intestinal, hepatointestinal, hepatoesplênica
sistema aquático (rios, riachos, lagoas, riachos, valetas e neurológica.4
etc.) os ovos do S.M. se transformam em uma larva
ciliada chamada miracídio, que, por sua vez, entra A esquistossomose afeta quase 240 milhões de pessoas
em contato com o caramujo do gênero Biomphalaria em todo o mundo, e mais de 700 milhões de pessoas
(glabrata; tenagophila e a straminea), considerado vivem em áreas endêmicas.5 O Ministério da Saúde
hospedeiro intermediário. Em seguida, os miracídios destacou que cerca e 1,5 milhão de pessoas vivem em
evoluem para a forma de esporocistos que produzem áreas sob o risco de contrair essa doença.3 Além disso,
as cercárias. As cercárias abandonam o caramujo no Brasil, a doença se espalha em áreas de transmissão
procurando novamente a água e penetram na pele das distribuídas na maior parte do território.2
pessoas quando estas têm contato (quando tomam
banho, lavam roupas etc.) transformando-se em As áreas consideradas de transmissão da
esquistossômulos (fase após a cercária perder a calda esquistossomose são classificadas como: área indene;
e penetrar no corpo humano). Após esse ciclo as larvas área vulnerável; área de foco e área endêmica. As áreas
são levadas pelo sangue e entram em contato com indenes são aquelas em que não existem registros de
alguns órgãos do corpo humano, como o pulmão, o casos de esquistossomose; a área vulnerável é aquela
fígado e as veias do intestino.1,2 considerada indene, porém que possui a presença do
caramujo podendo possibilitar a transmissão se este
O período de incubação da doença é de duas a seis entrar em contato com pessoas infectadas; a área
semanas após a infecção. É caracterizada como uma de foco é uma localização endêmica dentro de um
doença assintomática, para a maioria dos portadores. território considerado indene e que é afetada pelas
No entanto, na fase aguda, o paciente infectado por questões ambientais, socioeconômicas ou de migração
esquistossomose pode apresentar diversos sintomas, de pessoas que antes residiam em áreas endêmicas; e a
como: febre, dor de cabeça, calafrios, suores, fraqueza, área endêmica é caracterizada por possuir um conjunto
falta de apetite, dor muscular, tosse e diarreia. Na forma de regiões em que a transmissão da esquistossomose
crônica da doença, a diarreia se torna mais constante, está estabelecida, possuindo um padrão epidemiológico
alternando-se com prisão de ventre, e pode aparecer que envolve questões ambientais referentes ao

30
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

schistosoma mansoni, ao homem e ao caramujo.2 Método


No Brasil, a esquistossomose está presente em 19
unidades Federadas (UF), classificadas de acordo com Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem das
essas definições. caraterísticas epidemiológicas e sociodemográficas dos
óbitos por esquistossomose no período de 2015 a 2019
Os estados considerados endêmicos são: Alagoas, Bahia, no Brasil.
Maranhão, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba,
Sergipe, Espírito Santo e Minas Gerais. Já os estados Foram incluídos no estudo todos os óbitos de
caracterizados como focais são: Pará, Piauí, Ceará, residentes no Brasil, no referido período, que tinham
Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio a esquistossomose (B65) como causa básica registrada
Grande do Sul, Goiás e no Distrito Federal. 2 A Região na DO. Como fonte de dados, foram utilizadas as bases
Nordeste é aquela onde há a maior concentração do públicas do SIM, disponibilizadas pelo Ministério da
número de casos e óbitos.6 Saúde via acesso digital.9

Quanto à notificação dos óbitos, essa deve ser realizada As variáveis analisadas neste estudo foram: sexo
no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), (masculino e feminino), faixa etária (menor 1 ano, 1 a 4
criado em 1975, que alimenta as estatísticas nacionais anos, 5 a 9 anos, 10 a 14 anos, 15 a 19 anos, 20 a 29 anos,
e oficiais sobre o perfil de morte no Brasil. Os dados 30 a 39 anos, 40 a 49 anos, 50 a 59 anos, 60 a 69 anos,
do SIM são provenientes da Declaração de Óbito (DO), 70 a 79 anos, 80 anos e mais), raça/cor (branca, preta,
onde é registrada, pelo médico, a sequência de causas amarela, parda, indígena, sem informação), escolaridade
que provocaram o óbito. Essas causas são codificadas (nenhuma, de 1 a 3 anos, de 4 a 7 anos, de 8 a 11 anos,
utilizando-se a décima revisão da Classificação 12 anos e mais, ignorado), ano do óbito (2015 a 2019)
Estatística Internacional de Doenças e Problemas e local de residência. Foram utilizadas medidas de
Relacionados à Saúde (CID-10). Para notificação dos frequência absoluta e relativa.
óbitos por esquistossomose é utilizado o código B65.7
Foram calculadas taxas de mortalidade, pelo método
O governo brasileiro vem participando de vários direto, a partir dos dados do SIM. Calculou-se a
compromissos com a Organização Pan Americana da mortalidade específica por esquistossomose para os
Saúde (Opas) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) anos estudados, para as UF e grandes regiões (norte,
para eliminação da esquistossomose como problema nordeste, centro-oeste, sudeste e sul), por sexo e por
de saúde pública. Em Assembleia Mundial da Saúde, faixa etária, obtidas dividindo o número de óbitos
realizada em novembro de 2020, foi aprovado um por esquistossomose de residentes no Brasil pela
roteiro para prevenir, controlar, eliminar ou erradicar 20 população residente, conforme variáveis consideradas,
doenças negligenciadas, entre elas a esquistossomose, e multiplicando por 100 mil. Para os cálculos foram
até 2030, ou antes.8 A Secretaria de Vigilância em Saúde utilizadas as projeções populacionais do Instituto
(SVS), por meio da Coordenação-Geral de Vigilância Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).9
de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial
(CGZV), do Departamento de Imunização e Doenças Para o processamento e análises dos dados, foi utilizado
Transmissíveis (DEIDT), está conduzindo discussões que o software Epi Info™ 7.2.4.0, o QGIS® 2.18 foi utilizado
visam qualificar as ações de vigilância em saúde nessa para a construção de mapas, e o Excel® 2017, para a
perspectiva.3 construção de gráficos e tabelas.

O objetivo deste estudo foi analisar a mortalidade por De acordo com a Resolução n.º 510, de 7 de abril de
esquistossomose no Brasil no período de 2015 a 2019. 2016, este estudo dispensa aprovação do comitê de
Tal análise contribui com informações para subsidiar ética em pesquisa por se tratar de análise que utilizou
o planejamento e o desenvolvimento de políticas exclusivamente dados secundários de domínio público,
públicas voltadas para a redução de mortes por esta que não permitem a identificação individual dos
doença, tendo em vista o atual empenho mundial em participantes do estudo.
fomentar o debate para o controle e a eliminação da
esquistossomose enquanto problema de saúde pública.

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Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

Resultados era do sexo masculino (n=1.292; 51,33%), possuía


raça/cor parda (n=1.402; 55,70%) e escolaridade de
No período de 2015 a 2019, foi registrado um total de 1 a 3 anos (n=731; 29,04%). Quanto à faixa etária com
2.517 óbitos por esquistossomose em residentes no maior percentual de óbitos, a de maior registro foi a
Brasil. A Tabela 1 ilustra a distribuição dos óbitos se- de 60 a 69 anos, (n= 684; 27,18%), seguida da de 70 a
gundo dados sociodemográficos. A maioria dos óbitos 79 anos, (n= 648; 25,74%).

Tabela 1 Características sociodemográficas dos óbitos por esquistossomose. Brasil, 2015-2019 (N=2517)

Sexo N %
Masculino 1292 51,33
Feminino 1225 48,67
Raça/Cor    
Branca 794 31,55
Preta 173 6,87
Amarela 4 0,16
Parda 1402 55,70
Indígena 8 0,32
Sem informação 136 5,40
Escolaridade
Nenhuma 533 21,18
de 1 a 3 anos 731 29,04
de 4 a 7 anos 400 15,89
de 8 a 11 anos 278 11,04
12 anos e mais 60 2,38
Ignorado 515 20,50
Faixa etária
Menor 1 ano 1 0,04
1 a 4 anos - -
5 a 9 anos 2 0,08
10 a 14 anos 2 0,08
15 a 19 anos 7 0,28
20 a 29 anos 28 1,11
30 a 39 anos 89 3,54
40 a 49 anos 193 7,67
50 a 59 anos 421 16,73
60 a 69 anos 684 27,18

70 a 79 anos 648 25,74


80 anos e mais 442 17,56

Fonte: Datasus.

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Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

É possível notar que a faixa etária que apresentou a 2017 (ano de pico). Foi observada redução de 17,29%
maior taxa de mortalidade nos anos estudados foi a de na taxa do Nordeste entre os anos de 2017 e 2019,
60 a 69 anos (4,61/100.000) anos, seguida da de 70 a 79 permanecendo, todavia, como região, com a maior
anos (4,37/100.000), conforme representado na Figura 1. mortalidade por esquistossomose no Brasil. Conforme
representado na Figura 3, os quatro estados do País
A taxa de mortalidade por esquistossomose, no Brasil, com as maiores taxas foram da Região Nordeste:
foi de 0,23/100.000 em 2015 e de 0,26/100.000 em Pernambuco (1,75/100.000), Alagoas (1,70/100.000),
2018, representando um aumento de 13,04%. Houve, Sergipe (1,03/100.000) e Bahia (0,43/100.000).
contudo, redução da taxa, em 2019, para 0,22/100.000,
ou seja, de 15,38% em relação a 2018. Esses dados estão A Região Sudeste apresentou a segunda maior
representados na Figura 2. taxa por alguns anos (em 2015: 0,17/100.000; 2017:
0,19/100.000; e 2019: 0,17/100.000), com queda de
Entre as Regiões do País, o Nordeste apresentou as 10,53% entre os anos de 2017 e 2019. Quanto à taxa de
maiores taxas de mortalidade nos três anos ilustrados mortalidade por estado, conforme representado na
na Tabela 3 (em 2015: 0,54/100.000; 2017: 0,64/100.000; Figura 3, Minas Gerais (0,38/100.000) e Espírito Santo
e 2019: 0,53/100.000), sendo 64 vezes maior que a do (0,31/100.000) foram os que apresentaram as maiores
Sul (0,01/100.000), região com a menor taxa no ano de taxas dessa Região.

10,00
9,00
8,00
Taxa de mortalidade

7,00
6,00
5,00
4,00
3,00
2,00
1,00
0,00
10 a 15 a 20 a 30 a 40 a 50 a 60 a 70 a 80
Menor 1 a 4 5a9
14 19 29 39 49 59 69 79 anos e
1 ano anos anos
anos anos anos anos anos anos anos anos mais
Taxa 0,01 0,00 0,01 0,01 0,05 0,19 0,60 1,30 2,84 4,61 4,37 2,98
Faixa etária

Fonte: Datasus.

Figura 1 Taxa de mortalidade por esquistossomose segundo faixa etária. Brasil, 2015 a 2019

33
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0,27

0,26
Taxa de mortalidade

0,25

0,24

0,23

0,22

0,21

0,20

0,19
2015 2016 2017 2018 2019
taxa 0,23 0,25 0,26 0,26 0,22
Ano

Fonte: Datasus.

Figura 2 Taxa de mortalidade específica por esquistossomose. Brasil, 2015 a 2019

Tabela 2 Taxa de mortalidade específica por esquistossomose segundo estados. Brasil 2015, 2017 e 2019

Ano Variação %
2017-2019
2015 2017 2019
Regiões
Norte 0,01 0,01 0,01 0,00
Nordeste 0,54 0,64 0,53 -17,19
Sul < 0,01* 0,01 0,01 0,00
Sudeste 0,17 0,19 0,17 -10,53
Centro-oeste 0,06 0,05 0,05 0,00

*Valor correspondente a um óbito (0,003/100.000)


Fonte: Datasus.

Na Figura 4, a razão de taxas superior a 1 mostra maior no ano de 2015 (0,44/100.000 mulheres e 0,46/100.000
risco de morte por esquistossomose entre os homens, homens); em 2016 (0,49/100.000 mulheres e 0,51/100.000
sendo, em média, 1,05 vez maior quando comparado homens); em 2017 (0,51/100.000 mulheres e 0,54/100.000
com o risco entre as mulheres. É possível observar homens); no ano de 2018 (0,51/100.000 mulheres e
que, ao longo dos anos, os homens tiveram uma maior 0,53/100.000 homens); e em 2019 (0,43/100.000 mulheres
mortalidade por esquistossomose que as mulheres: e 0,45/100.000 homens).

34
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

Fonte: Datasus.

Figura 3 Taxa de mortalidade específica por esquistossomose segundo estados, Brasil, 2015, 2017 e 2019

35
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0,60

0,50
Taxa de mortalidade

0,40

0,30

0,20

0,10

0,00
2015 2016 2017 2018 2019
Mulher 0,44 0,49 0,51 0,51 0,43
Homem 0,46 0,51 0,54 0,53 0,45
Razão de taxa 1,05 1,04 1,06 1,04 1,05
Ano

Fonte: Datasus.

Figura 4 Taxa de mortalidade por esquistossomose segundo sexo. Brasil, 2015 a 2019

Considerações finais tratamento da população afetada e às medidas de


prevenção adotadas pelos estados. Ferreira, et al. (2007),
A maioria dos óbitos registrados no período foram de já discutia essa redução em seu estudo realizado nos
indivíduos do sexo masculino, com escolaridade de um anos 1980-2003, em que a taxa de mortalidade nesse
a três anos, da raça/cor parda. A faixa etária com maior período foi reduzindo ao longo do tempo. Discutiu-se,
taxa de mortalidade foi a de 60 a 69 anos nos anos de ainda, que essa redução pode ter acontecido devido
2015 a 2019. O mesmo achado foi relatado em um es- às medidas de controle da doença, como o tratamento
tudo realizado no Brasil por Nascimento (2013), em que oportuno, o investimento em saneamento básico e
o perfil identificado abrangia raça/cor predominante questões socioeconômicas.12
parda, analfabeto, do sexo masculino, com mediana de
idade na ocorrência do óbito de 64, entre 9 a 97 anos.10 Em relação aos estados, Pernambuco, Alagoas, Sergipe,
Esses achados foram semelhantes em outro estudo, Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo foram os que
desenvolvido em Pernambuco no ano de 2005, em que o apresentaram as maiores taxas de mortalidade. Essas
sexo masculino foi o mais frequente, e o maior número localidades são endêmicas e, ao longo dos anos, vêm
de óbitos ocorreu na faixa etária de 60 anos e mais, re- ocupando os primeiros lugares no número de casos e
presentando 51,18% do total. Tem-se como hipótese que óbitos, e questões relacionadas à história natural da
essa faixa etária é mais afetada devido à fase crônica doença podem influenciar nessa elevação das taxas de
da doença, concordando com a literatura, que justifica mortalidade nesses locais.6 Alguns estudos referiram
esse percentual maior entre as idades mais avançadas, os mesmos estados com maior número de óbitos
podendo ter relação com os aspectos imunológicos e (Pernambuco, Bahia, Alagoas e Minas Gerais).13,12
fisiológicos característicos dessas faixas etárias, além
do aspecto crônico da doença.11 Levando em conta todas as informações aqui
levantadas, os óbitos por esquistossomose no País
Houve uma redução da taxa de mortalidade por ainda representam um grande problema, considerando
esquistossomose no Brasil, no período estudado. que essa é uma doença em eliminação. Para o
Apesar dessa redução, pôde-se observar um aumento enfrentamento desse problema de saúde pública os
nas taxas de mortalidade entre os anos de 2016 e 2018. estados e municípios devem fortalecer as medidas de
Essa diminuição pode ser devido ao investimento em prevenção e controle por meio de políticas públicas,

36
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

dando importância ao objetivo de reduzir a ocorrência 7. Brasil.Ministério da Saúde. A Declaração de Óbito


de formas graves e óbitos, conforme preconizado pela [Internet]. 2009. 38 p. Available at: http://svs.aids.gov.
diretriz técnica do programa de controle da doença.2 br/dantps/cgiae/sim/documentacao/a-declaracao-
de-obito-documento-necessario-e-importante.pdf.
É importante, também, o desenvolvimento de novos
estudos com essa temática, visando dimensionar a 8. Word Health Organization. Ending the neglect to
magnitude desse problema de saúde pública em todos attain the Sustainable Development Goals: a road
os aspectos que o envolvem e atualizar a literatura map for neglected tropical diseases 2021–2030.
sobre o assunto. Geneva: World Health Organization. [Internet]. Word
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www2.datasus.gov.br/datasus/index.php?area=0208. arttext&pid=S0037-86822019000100643&tlng=en.

*Coordenação-Geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial (CGZV/DEIDT/SVS): Sergio Murilo Coelho de Andrade, Ana Cláudia
Medeiros de Souza, Líbia Roberta de Oliveira Souza, Daniela Vaz Ferreira, Marcelo Yoshito Wada, Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior. Departamento
de Imunização e Doenças Transmissíveis (DEIDT/SVS/MS): Cássia de Fátima Rangel Fernandes. Coordenação-Geral de Emergências em Saúde Pública
(CGEMSP/DSASTE/SVS): Thayna Karoline Sousa Silva**, Igor Gonçalves Ribeiro.
**Profissional em treinamento do EpiSUS-Avançado.

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