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cólera é uma doença intestinal infecciosa aguda causada por uma bactéria, cuja transmissão


ocorre principalmente pela água. É uma infecção muito grave, pois pode levar o doente a óbito em
poucas horas, como decorrência de forte desidratação.
→ Agente causador
A cólera é causada por uma bactéria gram-negativa, o Vibrio cholerae (vibrião colérico). Existem
dois biotipos do Vibrio cholerae, o clássico e o El Tor. O clássico está mais associado aos casos
graves da doença, e o El Tor está associado aos casos assintomáticos da doença ou
com sintomas leves.
→ Transmissão
A principal forma de transmissão da cólera é pela água, podendo ser transmitida também na
ingestão de água ou alimentos contaminados, crus ou malcozidos. O doente pode transmitir a
doença pelo vômito e pelas fezes. O tempo de incubação da doença pode ser de horas até cinco
dias, e a sua transmissibilidade pode durar até 20 dias.
→ Sintomas
Após a contaminação, o vibrião instala-se na parede do intestino, onde se multiplicará. O vibrião
produz uma toxina, a toxina colérica (CT), a qual causa forte diarreia, em que as fezes ficam
esbranquiçadas e aquosas, sendo comparadas a “água de arroz”, o que constitui o principal
sintoma da doença. No entanto, alguns pacientes são assintomáticos, apresentando, muitas vezes,
apenas uma diarreia branda.
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Os demais sintomas da cólera são:

 Cólicas abdominais;
 Náuseas e vômitos;
 Dores no corpo;
 Rápida desidratação.
A desidratação fará com que o doente sinta sede, apresente cãibras, pele ressecada, entre outros
sintomas. Como o doente perde cerca de 2 litros de líquido por hora, ele poderá apresentar diversas
complicações, como uma insuficiência renal e ir a óbito em poucas horas, se não tratado
adequadamente.
→ Tratamento
Assim que aparecerem os sintomas, deve-se procurar um médico para uma melhor avaliação e
iniciar a reidratação e tratamento com antibióticos.
→ Profilaxia
A principal forma de prevenir e erradicar a cólera é manter boas medidas de
higiene e saneamento básico:
 Ingerir apenas água tratada, filtrada ou fervida;
 Lavar com produtos à base de cloro os alimentos que serão ingeridos crus, como frutas, verduras e
legumes;
 Lavar bem as mãos antes de preparar e ingerir alimentos;
 Tratamento adequado de dejetos, entre outros.
Existe também uma vacina, no entanto, seu efeito dura poucos meses e apresenta baixa eficácia na
imunização.
Por Helivania Sardinha dos Santos

Casos de cólera foram registrados em Moçambique desde dezembro passado, mas a


epidemia se expandiu rapidamente no mês de fevereiro, infectando cerca de 3.500
pessoas e matando 37. Na província ocidental de Tete, atual foco da epidemia, a
situação é preocupante. Ruggero Giuliani, coordenador médico da organização
humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) no país, explica o caso.

Qual é a dimensão da atual epidemia de cólera em Moçambique?

Das três províncias afetadas pela cólera, Nampula, Niassa e Tete, a situação em Tete é a
mais preocupante: maior número de casos (1.826 do total de 3.500), maior número de
mortes (24 de um total de 37), e progressão mais rápida do número de casos. Um fator
agravante é que Tete, ao contrário de outras províncias, não vivenciava um surto de
cólera desde 2009, o que significa que uma grande quantidade de pessoas não tem
resistência natural à bactéria e, por isso, o risco de ficarem doentes é maior.

Existe o risco de uma repetição da epidemia de cólera de 2008, que contemplou


toda a região?

Tete é um centro regional de viagens. As pessoas se movimentam muito,


compartilhando línguas e culturas entre as fronteiras de Moçambique, Malauí e
Zimbábue, assim como também buscam oportunidades econômicas que surgiram com
o recente boom da mineração em Tete e seus arredores. Essa alta mobilidade aumenta o
risco da epidemia “viajar” com as pessoas. Foram registrados 30 casos no Malauí,
aparentemente de trabalhadores retornando de Moçambique. Dois desses casos foram
fatais.

No entanto, não estamos nem perto da escala do surto de 2008, que matou mais de 4
mil pessoas na região. Medidas concretas devem ser implementadas rapidamente para
minimizar o risco de propagação, sendo a primeira delas a estruturação de um sistema
de monitoramento com bom funcionamento que avalie onde e como a doença está se
espalhando. 

Como os pacientes de cólera são tratados?

A maioria dos casos de cólera são tratados com sucesso por meio da reidratação do
paciente, via oral para a maioria dos casos e por perfusão intravenosa para os mais
graves.  

MSF construiu e coadministra em conjunto com o Ministério da Saúde de Moçambique


dois grandes centros de tratamento de cólera em Tete (150 leitos) e Moatize (45 leitos),
ambos atualmente operando com capacidade máxima. Também é importante
descentralizar o tratamento da cólera para perto das comunidades mais afetadas, para
permitir diagnóstico e tratamento mais rápidos dos casos mais leves, o que é essencial
para reduzir a gravidade da doença em pacientes individuais. Entretanto, essa
descentralização do tratamento ainda não começou, em parte devido à dificuldade de
encontrar recursos humanos suficientes para ter profissionais trabalhando nos centros, e
o tratamento continua acessível apenas em locais relativamente distantes dos focos do
surto.
O que está sendo feito como prevenção?

As medidas preventivas são tão importantes quanto o tratamento, já que elas têm
impacto direto na duração e na gravidade da epidemia. Normalmente, um surto de
cólera dura de um a três meses. A doença é transmitida por meio da água contaminada,
motivo pelo qual as comunidades mais afetadas são, geralmente, as de pessoas mais
vulneráveis, com acesso precário a saneamento. Com saneamento adequado, uma
epidemia de cólera não é muito provável. Mas em Moçambique, apenas 84% da
população urbana e 37% da população rural têm acesso a melhores fontes de água.

Atualmente, em Tete, os focos da doença são as favelas localizadas ao longo do rio. Mas
na medida em que foram construídas em terreno rochoso, é muito difícil construir
latrinas, um processo fundamental, já que a bactéria se espalha por fezes contaminadas.
MSF está apoiando as equipes do Ministério da Saúde na sensibilização sobre a cólera e
as formas de evitá-la, na busca ativa por casos nas comunidades e na desinfecção com
cloro e cloração da água utilizando balde próximo aos pontos de suprimento.

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