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PREPARAÇÃO
REVISÃO
Juliana Caldas
CAPA
ILUSTRAÇÕES DE MIOLO
Fabiane Langona
DIAGRAMAÇÃO
Castello, Daniel
Transformação digital [livro eletrônico] : uma jornada que vai muito além da
tecnologia / Daniel Castello, Antonio Salvador. -- 1. ed. -- São Paulo : Atelier
de Conteúdo, 2020.
Epub
ISBN 978-65-992828-2-9
20-48921 CDD-658.5
INTRODUÇÃO
Agora ou nunca
Por que escrever este livro?
O que esperar nas próximas páginas
Aprenda com os inimigos
ENTENDENDO O PROBLEMA
Do que é feita a transformação digital
Estágios da transformação digital
Como as startups promovem a disrupção
Entregue valor sem aumentar o custo
Esqueça os disruptores: foque a disrupção
Por que é tão difícil se mexer?
Já vimos esse filme antes
Aja agora
ENCONTRE O SEU FOCO
Quem é você?
A pergunta-chave: “O que é inegociável?”
Vantagens competitivas e as pepitas de ouro
Quem é seu cliente?
Qual é o seu mercado?
É hora de agir
AS ESTRATÉGIAS
Estrutura #1: custo, experiência e plataforma
Estrutura #2: as quatro estratégias para lidar com a disrupção
Estrutura #3: Rápido ou nem tão rápido assim
Estrutura #4: Conviver ou isolar?
CULTURA E MINDSET
Hiperatenção ou “curiosidade crônica”
Diversidade, o pilar da inovação
Decisão baseada em dados
Cultura da experimentação
AGORA OU NUNCA
Em 2019, depois de Estados Unidos e China, o Brasil foi o país que mais gerou unicórnios –
startups avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares. Isso significa que muitos empreendedores
estavam surfando (e a grande maioria continua, apesar de alguns terem ficado pelo caminho) a
onda da inovação, oferecendo novos serviços ou atendendo a antigas necessidades dos clientes
com uma experiência melhor (e geralmente digital). Eram companhias como Loggi, de entregas,
Gympass, um serviço de assinatura de academias, e QuintoAndar, uma plataforma de aluguel
residencial.
Este, porém, não é um livro sobre unicórnios. É, sim, sobre empresas que estão tentando
sobreviver à ameaça deles. Na prática, está em curso uma competição à qual os participantes
chegam em condições bem diferentes. De um lado, há as startups, que às vezes se transformam
em scaleups. De outro, estão as empresas estabelecidas, que ainda contam com o benefício da
escala e do relacionamento já construído com os clientes. Dominam boa parte do mercado,
porém são menos ágeis, porque seus líderes e suas equipes não têm as mesmas competências e a
mesma mentalidade de quem está chegando. Possuem grandes marcas e produtos conhecidos,
mas não necessariamente adequados às novas necessidades. Têm processos estruturados e times
maiores, além do compromisso com os acionistas e da pressão do mercado de capitais para
entregar lucro no curto prazo – algo nem sempre cobrado das organizações mais jovens, apesar
de a pandemia ter diminuído a dose de paciência dos investidores.
A comparação entre esses dois mundos é constante. Geralmente, quando uma empresa digital
ameaça um mercado, os negócios tradicionais são questionados. Em 2017, quando a Amazon
começou a operar como marketplace de eletrodomésticos no Brasil, as ações das varejistas
nacionais, como B2W, Via Varejo e Magazine Luiza, despencaram2. O mesmo aconteceu dois
anos depois, quando a gigante norte-americana anunciou o lançamento do Amazon Prime, seu
programa de assinatura. No caso dos grandes bancos, apesar de seu valor de mercado ainda não
ter sido abalado, a pergunta que tem dominado a pauta de quem observa a competição é como se
posicionarão diante das fintechs. São companhias que criaram soluções de investimento, crédito
e meios de pagamento, com plataformas digitais e excepcional experiência para o usuário, que,
aos poucos, cercam os gigantes do mercado financeiro, lacerando seu negócio, mordida por
mordida. Em 2018, o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr., reconheceu durante evento
ENTENDENDO O PROBLEMA
QUANDO A GERDAU, a maior empresa produtora de aço do Brasil e uma das 30 maiores
do mundo20, começou a pensar em transformação digital, seus executivos encontraram poucas
referências de negócios industriais que haviam passado por esse processo. Observaram casos no
segmento de óleo e gás, que seriam similares ao setor em que atuavam, e conversaram com
algumas pessoas que diziam que o uso de novos processos poderia aumentar em 20% a geração
bruta de caixa por conta da eliminação de ineficiências. Era uma boa perspectiva, que justificaria
o investimento.
Incentivados pelo contexto e pelos números que encontraram, começaram a implantar
mudanças em várias áreas. As iniciativas se resumiam a novas tecnologias para a operação:
drones para conferir o estoque, sensores para monitorar a performance das máquinas e realidade
aumentada para fazer treinamentos.
Contudo, os executivos notaram que a “pirotecnia”, apesar de melhorar alguns processos da
rotina, não tinha impactado os números – portanto, havia algo errado naquela transformação
digital. Deram um passo para trás a fim de entender o que não estava funcionando. Voltaram
para o mercado. Conversaram com consultores, donos de startups e fundos de venture capital.
Visitaram mais empresas.
“No primeiro ano, tínhamos um entendimento equivocado de que transformação digital estava
relacionada à tecnologia. Avançamos, mas olhamos o balanço da empresa no final do ano e não
conseguimos ver nenhum ganho quantificável”, conta Gustavo Werneck, atual CEO e
protagonista das mudanças quando era líder da divisão de Aços Longos, o maior negócio da
empresa. “Entendemos que a tecnologia era só um dos pilares da transformação digital e o mais
simples”, diz.
Depois da primeira experiência, os executivos se deram conta de que qualquer um poderia
adquirir ferramentas e dispositivos eletrônicos e que os demais pilares, como cultura
organizacional e utilização de dados, é que seriam decisivos para de fato levar a companhia a um
nível de mudança mais profundo. Então, voltaram para a prancheta e começaram a desenhar um
roadmap digital e a estruturar o pensamento considerando esses outros fatores.
Sem dúvida, a tecnologia faz parte da transformação digital, mas, como a Gerdau percebeu, é
só um elemento dela. Certamente não foi a primeira nem será a última empresa a chegar a essa
conclusão. É comum que, na ânsia de se tornarem digitais, as companhias optem pelas soluções
mais apelativas e com implementação mais rápida – como um drone sobrevoando o estoque. No
entanto, o que realmente faz a diferença não é óbvio nem fácil de implementar.
Como resume David Rogers, as restrições da era pré-digital desapareceram, tornando novos
modelos de negócio, novas fontes de receita e novas possibilidades de vantagem competitiva não
apenas possíveis, como também mais baratos, rápidos e centrados no consumidor21.
Imagine, por exemplo, que os carros autônomos passem a disputar as ruas com os veículos
conduzidos por pessoas. Certamente será uma disrupção que impactará diversas indústrias. Com
uma taxa menor de acidentes em função dos sensores, que vão controlar a velocidade, antecipar
obstáculos ou forçar a parada do carro na presença de pessoas ou objetos próximos, as falhas
humanas diminuirão e as oficinas mecânicas ficarão mais vazias. Os motoristas particulares
talvez se tornem uma profissão em extinção. Os seguros contra acidente terão menos demanda,
considerando as estimativas de redução de fatalidades no trânsito em até 90%22? Como o
governo vai aplicar multas? Os passageiros que antes precisavam dirigir consumirão mais
entretenimento dentro do veículo? Todas as empresas que atuarem nesses mercados serão
afetadas e possivelmente precisarão adaptar o que oferecerem aos clientes. Além disso, o
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impacto do carro autônomo poderá se estender a muitos outros setores não visíveis a princípio,
alterando, por exemplo, a estrutura de mobilidade urbana, a oferta de entretenimento dentro dos
veículos, a arquitetura dos edifícios residenciais e corporativos e até a demanda por voos de curta
distância.
Enquanto a disrupção digital é um movimento de fora para dentro, da novidade externa que
gera impacto no ambiente interno, a transformação digital dos negócios ocorre de dentro para
fora, isto é, as empresas mudam de modo proativo e se ajustam ao novo cenário.
Nem toda disrupção é digital. Embora os dois termos estejam umbilicalmente reunidos,
existem outros fenômenos disruptivos potentes. Escrevemos este livro trancados em casa por
causa da covid-19 – um fenômeno de disrupção profunda para as mais diversas empresas.
Quando a pandemia passar, comportamentos terão sido alterados de maneira irreversível.
Pessoas que não faziam compras pela internet provavelmente terão incorporado esse hábito.
Empresas que jamais consideraram deixar seus funcionários trabalharem em casa repensarão esse
paradigma e, quando as atividades presenciais forem liberadas, vão se perguntar por que
precisam de tanto espaço próprio se as pessoas podem produzir tão bem em seus lares. Até uma
das organizações mais tradicionais do país, o Banco do Brasil (BB), decidiu devolver 19 dos 35
edifícios de escritórios que ocupava no país no primeiro semestre de 2020, acelerando sua
iniciativa de home office. Em entrevista à imprensa, o vice-presidente corporativo do BB, Mauro
Ribeiro Neto, afirmou que o banco se concentraria “nas lajes de maior porte, que permitem uma
aplicação maior do escritório de conceito aberto”23.
Fenômenos como a covid-19 ou o ataque às torres gêmeas em 11 de setembro de 2001 deixam
marcas profundas nas pessoas, que alteram a forma como percebem a realidade e como tomam
decisão em todas as esferas de sua vida. Para as empresas, entender de que modo disrupções
como essas alteram a mentalidade do consumidor e usar isso a seu favor é a essência de um
processo de transformação, digital ou não.
O Uber não produziu carros, o Airbnb não construiu hotéis, porém ambos repensaram a
experiência em seus mercados usando tecnologia. Se os anos 1990 ficaram marcados pela
tentativa das grandes empresas de ganhar eficiência por meio da especialização, agora o nome do
jogo é experiência do consumidor, com as startups e scaleups mais preocupadas em entregar a
melhor experiência, concorrendo em várias frentes com suas plataformas. Ser digital significa
transcender as barreiras dos setores e dos modelos de negócio tradicionais35.
O WhatsApp é um bom exemplo de disrupção que pode transformar o mercado de pagamentos
brasileiro em um futuro próximo. Em 2019, alcançou o posto de aplicativo mais popular do
mundo36. Por aqui, “só” envia e recebe mensagens de texto, fotos, vídeos e documentos,
enquanto na Índia já permite enviar e receber dinheiro. Em junho de 2020, a empresa tentou
entrar com o WhatsApp Pay no Brasil, porém a iniciativa foi suspensa pelo Banco Central para
que fosse submetida a análise e regulação. A liberação pode levar algum tempo, mas imagine o
impacto para os bancos quando o aplicativo possibilitar a transferência de dinheiro entre usuários
ou for capaz de aceitar pagamentos. Isso significa que o WhatsApp pode deixar de ser apenas
uma plataforma de mensagens para se tornar uma fintech. Por isso, considere sempre a cadeia
inteira na hora de prever a disrupção.
Segundo os autores do livro Digital Vortex, Jeff Loucks, James Macaulay, Andy Noronha e
Michael Wade, pesquisadores e professores da escola de negócios suíça Institute for
Management Development (IMD), uma única plataforma de inovação pode ser usada para
AJA AGORA
Apesar das semelhanças entre as ondas de mudanças no mundo corporativo, acreditamos que
duas peculiaridades diferenciam esse momento de transformação digital. A primeira delas, como
disse Iabrudi, é a velocidade. Um projeto de ERP que demora dois anos para ser implementado é
absolutamente impensável hoje. Foi em um período de dois anos que a Rappi, empresa de
QUEM É VOCÊ?
O Bar Lagoa é famoso no Rio de Janeiro pelos garçons mal-humorados. Para um carioca ser
bem atendido, precisa ser cliente fiel da casa. Apenas quem vai ao local com frequência
conquista o coração de seus funcionários. Esse seleto grupo de pessoas é recebido com todos os
mimos. Elas ganham abraços, beijos e um chope gelado assim que sentam na cadeira. Nem
precisam pedir a comida, porque o atendente já conhece seu prato preferido.
Os paulistas e outros turistas que se aventuram a conhecer o Bar Lagoa geralmente relatam
experiências terríveis. Os garçons dizem que não há lugar disponível, mesmo quando uma mesa
está vazia. Quem ousa sentar sem autorização descobre logo que não adianta brigar – os
funcionários retiram a mesa escolhida e a levam no muque para outro canto, para acomodar um
cliente fiel que acaba de chegar.
Os garçons do Bar Lagoa podem não ser os mais amados pelos forasteiros, mas o propósito é
claro. Para os consumidores fiéis, que pagam a conta do mês, eles oferecem a melhor experiência
e carinho. Isso faz com que frequentadores assíduos saibam que nunca disputarão a atenção com
os turistas, o que torna o local um refúgio para os moradores.
O Bar Lagoa jamais seria um case estudado por Harvard, porém gostamos de sua história,
porque acreditamos que as empresas, assim como os indivíduos, precisam ter consciência de
O modelo acima é um exemplo prático de como fazer esse exercício. Em uma cartolina ou um
quadro branco, a liderança deve fixar post-its, de um lado, com o que acredita que precisa ser
feito e, do outro, com o que não será feito. Geralmente, após a primeira rodada de reflexão, cada
lado fica com cerca de 20 post-its, em um total de 40 inegociáveis. É preciso, então, diminuir a
lista. O esforço é mover os post-its de dentro para fora, até que restem apenas três inegociáveis
de “vamos fazer” e três de “não vamos fazer”.
Esse diálogo serve também como um acordo de partida, para garantir que todos saibam quais
trilhas é possível seguir – uma espécie de manual para tomar decisões, sem que seja necessário
provar conceitos o tempo inteiro. No início da transformação digital no Grupo Pão de Açúcar,
por exemplo, havia dois aspectos que não seriam colocados em xeque. O primeiro era a
manutenção da loja – o ponto físico se transformaria, mas permaneceria como aspecto
fundamental do negócio –, e o segundo, bastante pragmatismo, típico do varejo, e a necessidade
de retorno de curto prazo – não adiantaria sonhar com projetos que precisassem de alto
investimento para entregar resultado em cinco anos. Esses seriam os balizadores.
Nem sempre os inegociáveis são racionais para quem olha de fora. Nesse processo, podem
surgir parâmetros que só fazem sentido para quem está na organização, mas essa é a ideia de
trazê-los à tona, para que pelo menos haja uma consciência sobre quais limitadores estão na
mesa. Fazer esse mapeamento é como um exercício de autoconhecimento corporativo.
Um de nós – Daniel – trabalhou com uma empresa de software cujo time adorava a atividade
de desenvolvimento. Durante uma discussão da estratégia surgiu a intenção de buscar escala.
Portanto, faria sentido criar um produto formatado, que pudesse ser vendido de maneira
repetitiva para vários clientes simultaneamente, em formato SaaS (Software as a Service, ou
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software como serviço). Porém a ideia foi refutada. Não havia dúvida de que a equipe
rapidamente se frustraria, pois o que movia o negócio eram o desafio e a customização caso a
caso. Se fosse para padronizar produtos, talvez perdesse o sentido existir, pelo menos para aquela
composição de pessoas. Os investidores não ficaram nem um pouco felizes com essa percepção.
Não é raro os inegociáveis aparecerem no meio da transformação. Há alguns a princípio
invisíveis, que só são reconhecidos quando desafiados. Assim que as mudanças começam a ser
implementadas, parâmetros operacionais antigos e conjuntos de crenças profundamente
arraigadas podem emergir e atrapalhar os planos. Nesse momento é fundamental não ser
retrógrado e pensar: o que é razoável manter e o que está na hora de abrir mão?
Não dá para ser escravo dos acordos. A pandemia do coronavírus provou isso de maneira
violenta. Muitas companhias que jamais pensaram em colocar os funcionários para trabalhar de
casa – o varejo e outros setores de serviço com grande contato com o público sempre resistiram a
essa ideia – tiveram de se adaptar. Descobriram que fazer videoconferência e operação remota
não impede que tudo continue funcionando bem. Crises colocam inegociáveis contra a parede e
obrigam a revisitar conceitos. Se for relevante mudar rápido, faça isso sem saudosismo.
Saber quem a empresa é também passa por ter clareza sobre seus pontos fortes. Em um
cenário de competição acirrada, com novas entrantes pensando mais no valor que entregam para
o mundo do que respeitando a cadeia de valor tradicional, é preciso usar todas as potências
disponíveis para sobreviver.
Trabalhar com varejo ensinou a um de nós – Antonio – uma lição importante, que vale para
todos nesse momento: não conserte o que não está quebrado. Não comece uma transformação
pelo que está funcionando bem. Isso ajuda a não perder o foco e proteger o que já existe de bom.
Ouvir o cliente é fundamental para que as organizações definam seu foco e tomem decisões.
Elas precisam reavaliar a todo momento o valor que entregam e questionar: “Por que esse
negócio existe? A qual necessidade ele atende?”62.
Entender as demandas e a mudança de hábitos dos clientes pode apontar os caminhos da
transformação digital, isto é, onde a empresa deve concentrar seus esforços para continuar
relevante e quais competências não pode dispensar.
É HORA DE AGIR
O sucesso de uma transformação digital é sair melhor e mais competitivo do outro lado.
Consciente de qual é a essência de sua empresa, de que cliente você vai atender e do contexto em
que você compete, será possível fazer as mudanças que lhe permitirão jogar bem o jogo que você
escolheu. Use a tecnologia como meio para prestar um serviço ainda melhor, que seja coerente
com a demanda do mundo e com as próprias prioridades de sua empresa.
Se um negócio simplesmente se agarrar ao que existe, com a mentalidade de “vamos continuar
fazendo isso aqui até morrer”, ele com certeza morrerá cedo. Contudo, se usar o que tem de mais
valioso, prestando atenção às demandas externas, poderá construir uma resposta estratégica para
continuar sendo protagonista em seus mercados.
AS ESTRATÉGIAS
ENTENDENDO AS PLATAFORMAS
Uma vez que os negócios que mais cresceram no início do século 21 adotam o modelo de
plataforma, não há como falar de transformação sem passar por essa estratégia. É a nova forma
de estar no mundo digital. Segundo Geoffrey Parker, Marshall van Alstyne e Sangeet Paul
Choudary, autores do livro Plataforma: a revolução da estratégia, a estratégia evoluiu do controle
de recursos internos exclusivos para a orquestração de recursos externos; passou do
estabelecimento de barreiras competitivas para a conquista de comunidades vibrantes74.
Nem todas as empresas podem se converter em plataformas, mas eventualmente considerarão
esse caminho, se associarão a alguma já existente ou enfrentarão sua concorrência. Portanto, é
fundamental entender a lógica com a qual operam.
No livro, Parker, Van Alstyne e Choudary listam três características que estão permitindo às
plataformas transformar o cenário empresarial. A primeira delas é a dissociação entre ativos e
valor. Um exemplo: hospitais que possuem equipamentos de custo altíssimo, como aparelhos de
ressonância magnética, possivelmente não os utilizam 100% do tempo. Para gerar valor,
poderiam distribuir o tempo ocioso das máquinas (seu ativo) para clínicas que não dispõem do
equipamento e cobrar uma taxa por isso. A segunda característica é a reintermediação, que é a
substituição de intermediários ineficientes e não escaláveis por sistemas e ferramentas
automatizados. Foi o que aconteceu com as agências de viagem, parcialmente substituídas por
plataformas que integram a reserva de voos, hotéis e aluguel de carros em um único site. A
terceira característica é a agregação de mercado, centralizando serviços que antes estavam
dispersos – como a frota de táxis da cidade de São Paulo, que passou a se concentrar em dois ou
três aplicativos.
Criar uma plataforma rentável envolve alguns desafios. Um deles, nada trivial, é desenvolver
um modelo de remuneração, ou seja, garantir que todos os participantes enxerguem o benefício
de fazer parte da rede e que o proprietário dela opere no positivo. O próprio Uber, grande
exemplo de plataforma, reportou um prejuízo de 8,5 bilhões de dólares em 201975; apesar de sua
popularidade, a empresa ainda não faz dinheiro. Já o Facebook se tornou um exemplo de
monetização da rede, principalmente por meio dos posts patrocinados, que hoje compõem
praticamente toda a sua receita.
As plataformas também precisam adquirir clientes, fazer com que eles se tornem fiéis e buscar
a maior fatia possível de seu mercado. No caso dos aplicativos de delivery de comida, como
Rappi, iFood e Uber Eats, a distribuição de cupons e anúncios de promoção nada mais são do
que tentativas de conquistar o público que pode estar comprando do concorrente.
É possível resumir em quatro os fatores críticos de sucesso para a criação de uma plataforma
poderosa e lucrativa:
O efeito de rede não é uma novidade trazida pela transformação digital. Há cem anos, já fazia
sentido olhar sob essa perspectiva para os usuários de telefone, por exemplo. Quanto mais casas
com uma linha ativa, mais pessoas viam a necessidade de aderir à tecnologia. O valor está no
fato de mais gente usar o mesmo serviço; a diferença é a velocidade. Enquanto o telefone
demorou meio século para alcançar 50 milhões de usuários, o jogo Pokémon Go, lançado pela
Nintendo, fez o mesmo em apenas 19 dias. Qualquer pessoa com um celular podia baixar o jogo
e sair caçando os bichos virtuais pelas ruas. A digitalização, portanto, permite escalar uma
plataforma rapidamente.
O segredo do molho de uma rede é o engajamento dos usuários. De nada adianta muita gente
se cadastrar na plataforma se não a utiliza com frequência nem enxerga nela uma vantagem ou a
resolução de um problema, tampouco investir milhões de reais em mídia paga para conquistar
novos usuários que acessam por uma semana e depois abandonam a ideia. O valor está na
frequência, no consumidor que retorna e se apega ao serviço. Daí a guerra dos cupons entre os
aplicativos de delivery de comida.
Em adição a esses quatro pontos, e talvez o mais importante, deve-se considerar quem será o
dono dos dados dos consumidores.
Foi buscando novas formas de gerar valor para o cliente que a multinacional brasileira
Votorantim Cimentos começou seu programa de fidelidade B2B (business to business, ou de
empresa para empresa), logo convertido em uma plataforma. O executivo Antonio Serrano havia
chegado recentemente à empresa como gerente-geral, após uma carreira na consultoria de
estratégia Bain&Co. Analisando o mercado, percebeu que a rotatividade de lojas de material de
construção que compravam os produtos da Votorantim Cimentos com regularidade era alta. A
cada ano, a empresa perdia muitos clientes e compensava conquistando tantos outros. Além
disso, as lojas com mais frequência de compra não necessariamente recebiam da Votorantim
Cimentos uma contrapartida, como premiações.
Para aumentar a fidelidade, a equipe criou, em 2014, o programa de pontos Juntos Somos
Mais. Quanto mais as lojas comprassem, tanto em volume como em mix de produtos, mais
pontos ganhariam. No resgate, poderiam trocar por prêmios que ajudariam a desenvolver o
negócio, como cursos, consultorias, uniformização da equipe e materiais de informática.
Programa de pontos não era novidade no mercado. O diferencial do Juntos Somos Mais foi
perceber a possibilidade de construir uma plataforma a partir disso e desenvolver novos negócios
criando o efeito de rede.
Os resultados apareceram rápido. Por isso, o projeto foi mantido durante a crise que o setor de
construção enfrentou em 2015 e 2016. Então, em 2017, com o mercado menos turbulento, a
organização percebeu que poderia expandir o programa, agregando empresas parceiras. A ideia
era formar uma coalizão de companhias que forneciam material de construção.
Outras duas gigantes do setor, a fabricante de materiais hidráulicos Tigre e a produtora de aço
Gerdau, mostraram interesse em se tornar sócias do negócio. Ambas já possuíam programas de
capacitação voltados para o varejo de construção e profissionais de obra, que poderiam se
integrar ao Juntos Somos Mais. A liderança da Votorantim Cimentos entendeu que só tinha a
ganhar com a entrada delas. Mais empresas âncoras tornariam o programa mais forte. Em
setembro de 2018, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a joint
venture e, dois meses depois, nascia a empresa independente Juntos Somos Mais. Em 2020, o
programa já contava com 20 companhias participantes além das fundadoras, como Suvinil e
Bosch, e 80 mil lojas cadastradas.
Segundo Serrano, a ideia é ser muito mais do que o maior programa de fidelidade do setor.
“Estamos nos posicionando como um ecossistema que ajuda a cumprir nosso propósito:
fortalecer o varejo de material de construção e transformar a vida dos profissionais que
constroem sonhos”, diz.
Cerca de dois terços das mais de 140 mil lojas de material de construção espalhadas pelo
Brasil são pequenos negócios. Esse público muitas vezes precisa de apoio para se desenvolver e
se profissionalizar. Por isso, se os donos e vendedores das lojas assistem a vídeos de capacitação,
também ganham pontos. Isso se tornou uma ferramenta de marketing para as empresas do Junto
Somos Mais. Se antes, a cada lançamento, era preciso treinar e mandar vendedores para explicar
os produtos, agora as explicações ficam disponíveis na plataforma on-line.
2. COLHER RESULTADOS
A segunda estratégia defensiva nada mais é do que continuar ordenhando as vacas que ainda
estão saudáveis no rebanho, de preferência maximizando os resultados. É melhorar a
3. PROVOCAR A DISRUPÇÃO
Uma organização tradicional pode, sim, transformar-se e surpreender o mercado, usando suas
vantagens competitivas para isso. O objetivo dessa estratégia ofensiva é gerar valor a partir de
um espaço que ainda não está ocupado. Pode ser de uma forma complementar ao negócio já
existente ou uma inovação que no longo prazo talvez destrua o modelo da empresa. Um grande
obstáculo para a disrupção, portanto, é que a liderança muitas vezes não está disposta a começar
ela própria a destruição do valor da companhia. Mas não seria melhor fazer isso de maneira
consciente antes que alguém de fora tente ou uma crise sem precedentes como a que estamos
vivendo se instale? Na imprevisibilidade imposta pelos movimentos do mercado, é preferível
começar dentro de casa.
4. OCUPAR
A quarta estratégia, também ofensiva, é ocupar. Uma vez feita a disrupção, é preciso sustentar
os ganhos competitivos associados a ela. Ocupar um espaço estratégico e conquistá-lo requer
esforço consciente e constante. Oportunidades de mercado são sempre altamente disputadas e a
concorrência vive à espreita. Portanto, para que a transformação realizada continue relevante, a
empresa precisa fincar uma bandeira no território escolhido. Eventualmente, conforme o
mercado amadurece, o que começou como uma estratégia de disrupção passa a ser uma estratégia
de ocupação para depois se tornar apenas colheita de resultados.
Algumas perguntas sobre essa estratégia: como diferenciar a oferta disruptiva e ampliá-la para
os clientes? Como escalar? O próximo passo é construir, comprar ou fazer parceria para ocupar
novas oportunidades de mercado? Como inibir os concorrentes a entrar no espaço criado com a
disrupção? A oportunidade de mercado está atingindo a maturidade, tornando necessário fazer a
transição para colher resultados? Que aprendizados podem ser obtidos para gerar novos negócios
(ou seja, oportunidades de mercado adicionais)?
Estratégia não é uma ciência precisa e muitas vezes essas quatro maneiras de se posicionar se
misturam. O Fleury, no caso do Campana, usou a disrupção para ocupar um espaço novo para
CULTURA E MINDSET
CULTURA DA EXPERIMENTAÇÃO
Antes da era digital, fazer testes custava caro, demorava, era arriscado e envolvia uma
complexidade logística, pois o cliente normalmente não estava a um clique de distância. As
decisões eram tomadas dentro das empresas e o feedback só vinha quando o produto chegava às
prateleiras, depois de meses de pesquisa e desenvolvimento. Se não caísse no gosto do
consumidor, significava perda de muito tempo e muito dinheiro. Agora, com o uso de tecnologia
e dados e a possibilidade de monitorar o comportamento das pessoas em tempo real, é possível
experimentar mais, de maneira muito barata e com menos risco, e descobrir o que melhor atende
EXECUÇÃO RÁPIDA
“Corro atrás do tempo / Vim de não sei onde / Devagar é que não se vai longe.” Assim canta
Chico Buarque em “Bom conselho”, canção que compôs em 1972. Os versos seguem atuais
como nunca em tempos de transformação digital. A execução rápida é uma competência que as
empresas tradicionais devem desenvolver, pois permite que estejam sempre prontas para mudar e
agir.
A execução rápida é composta por um conjunto de práticas, como organização de times e
automação, que tornam mais dinâmicos os aspectos normalmente rígidos, como recursos (físicos
e humanos) e processos. Para criar essa nova velocidade, a companhia precisa adquirir,
implantar, gerenciar e alocar recursos de acordo com as necessidades do negócio, ser ágil para
aproveitar novas ideias que se mostram promissoras ou desengajar times que cuidam de
atividades em declínio.
Então, como usar os recursos de maneira rápida? Como reduzir áreas que não são produtivas?
Como aumentar, organicamente ou não, a capacidade das que serão produtivas? Durante a
pandemia do novo coronavírus, o varejo de alimentos foi um dos setores cuja demanda
aumentou, por conta dos restaurantes fechados. As pessoas passaram a comprar mais alimentos,
bebidas e produtos de limpeza para consumir em casa, e os supermercados tiveram de se adaptar
a novos hábitos: primeiro, garantir a segurança dos trabalhadores que permaneceram na linha de
frente do atendimento ao público, como caixas e estoquistas; depois, reforçar as operações de
delivery e e-commerce para os consumidores com medo de sair de casa. Esses dois desafios
exigiram reorganizar as equipes, alocar os recursos de maneira diferente e reestruturar o espaço
físico das lojas em poucos dias. Se tomar decisões e agir rapidamente já era importante antes,
tornou-se questão de sobrevivência durante a crise. Por outro lado, algumas empresas viram seus
negócios terem receita perto de zero, como lojas de shopping. Para elas, foi fundamental tomar
decisões rápidas de ajuste de pessoal, investir em novos canais de comunicação com o
consumidor ou mesmo lançar produtos com base nas competências existentes.
A colaboração beneficia a execução rápida. Em muitos casos, a probabilidade de avançar mais
rápido agindo coletivamente é maior do que cuidando sozinho. Isso significa trabalhar em equipe
para pensar junto e somar competências; confiar no outro, concentrando-se naquilo que cada
indivíduo tem de melhor para contribuir para o todo. Não dá tempo de uma única pessoa
aprender tudo o que precisa saber para navegar em um mercado dinâmico e complexo. É preciso
fazer arranjos que combinem o conhecimento, inclusive com outras empresas. O processo de
inovação aberta, por exemplo, é o compartilhamento de projetos, processos e pesquisas entre
indústrias para acelerar a inovação.
Em momentos de crise, fica ainda mais evidente a necessidade de mudar a mentalidade e o
comportamento dos funcionários, e as empresas devem considerar como podem dar suporte ao
ESCUTA E EMPATIA
Falamos sobre a necessidade de desenvolver a hiperatenção ou “curiosidade crônica” e de
estar com os radares ligados para as informações que chegam; sobre a colaboração, relevante
para a inovação em modelos ágeis; e sobre a importância da diversidade, que traz pontos de vista
diferentes e evita o risco de um grupo homogêneo. Há duas competências transversais a todas
elas e fundamentais para sustentar os novos comportamentos no contexto de transformação
digital: a escuta e a empatia, algo realmente desafiador em um mundo cada vez mais dividido.
Em um momento de desconstrução e aprendizado, os profissionais precisam ouvir mais do que
falar – ouvir o cliente, os colegas, as pessoas que têm mais experiência, o dono da empresa, os
concorrentes, os especialistas; reconhecer que ninguém tem todas as respostas e aceitar ouvir
críticas; prestar atenção não apenas a quem tem as mesmas vivências e a mesma opinião, mas ter
a tranquilidade para considerar o diferente e o contrário. Por isso, a empatia também é importante
– a capacidade de colocar-se no lugar do outro e entender outros pontos de vista sem julgar.
Não é um desafio fácil, considerando que a polarização parece ser cada vez mais a regra na
sociedade. Como criar um ambiente em que os chamados “coxinhas”, “mortadelas” e neutros117
possam se respeitar e contribuir com seu ponto de vista? Um local onde as pessoas se sintam
seguras para discordar, apontar erros e analisar as questões por outro ângulo?
A resposta começa pela liderança. Empresários ou gestores que reclamam do descompromisso
das gerações mais jovens, que têm dificuldade de enxergar o mundo além da própria realidade ou
que resistem à descentralização do poder e do conhecimento provavelmente não incentivarão
ninguém a promover a escuta, a empatia e a diversidade de pensamento. É preciso dar o
exemplo. Esse é o tema da última competência necessária para atravessar a transformação digital.
LIDERANÇA
Para fomentar um ambiente em que essas novas competências floresçam, as empresas
precisam repensar o modelo de gestão “comando e controle”, ou seja, a crença de que as pessoas
no topo da hierarquia tomam as melhores decisões e que suas ordens devem ser desdobradas por
todas as áreas – manda quem pode, obedece quem está embaixo. Esse modelo funciona bem para
a execução em massa, mas, quanto mais dependente de inovação e criatividade, mais
colaborativo e autônomo precisa ser o ambiente. Com as organizações tendo cada vez mais de
conhecer profundamente os consumidores, atendendo a necessidades regionais e públicos
específicos, é preciso desenvolver diferentes pontos de inteligência espalhados e uma
comunicação de duas vias: falar e escutar.
Companhias no contexto de transformação digital não podem ter meia dúzia de profissionais
que pensam e milhares de outros que só executam. A inteligência não pode vir apenas de cima ou
de pequenos grupos específicos. Todos devem ser capazes de questionar, criar, inovar e se
comunicar o funcionário do escritório ou aquele que vai para a rua; o analista ou o vice-
NA PRÁTICA
A NECESSÁRIA JORNADA DA transformação digital é muito bonita na teoria e
inspiradora quando transposta para a prática. As empresas que estabelecem uma nova
mentalidade tendem a sair na frente nessa corrida. No entanto, muitas delas com frequência se
descobrem sem tempo para uma adaptação em etapas. Com a necessidade de se reinventar
batendo à porta, não conseguem repensar a cultura primeiro para, a partir daí, planejar as ações e
criar um novo posicionamento. É “tudo-ao-mesmo-tempo-agora”: reorganizar equipes, treinar
pessoas, fazer novos planos de incentivo, abrir novos canais de distribuição e relacionamento,
repensar a relação com fornecedores, engajar clientes, adquirir tecnologia e reforçar a
infraestrutura de tecnologia da informação (TI) – descontinuar, colher resultados, provocar a
disrupção e ocupar.
No mundo real, a competência de gestão da mudança é essencial – o conjunto de processos,
ferramentas e técnicas para que as pessoas passem pelo momento de transição e adaptação. Além
do exercício contínuo de foco, todas as tarefas acontecerão de maneira simultânea, e é preciso
escolher como gerir os meses agitados que a companhia viverá quando o processo de
transformação digital começar. A liderança de uma empresa de segurança da informação que
acompanhamos sentiu na pele essa dificuldade. Uma mudança aparentemente pontual no
negócio, com a oferta de um novo produto, acabou promovendo discussões em várias áreas e
obrigando a organização a mexer em muito mais do que apenas em um processo de venda.
Tudo começou com a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD)118. Ficou claro que em um futuro próximo as companhias brasileiras estariam
demandando sistemas que as ajudassem a cumprir as regras. Havia uma oportunidade para essa
empresa se preparar e criar produtos para atender o novo mercado. A melhor solução encontrada
foi fazer uma parceria com um fornecedor estrangeiro com histórico de sucesso no mercado
europeu, que passara por uma mudança de legislação similar.
O acordo parecia promissor. No entanto, esses potenciais novos produtos tinham como
público-alvo clientes diferentes dos que a empresa brasileira costumava atender. Eram outra
persona, outro tíquete médio, outra estratégia de vendas. A saída foi criar um squad dedicado à
nova iniciativa, além de um processo comercial e uma área de marketing digital exclusivos. Em
algum momento, o time percebeu que era importante fazer parceria com escritórios de advocacia,
que ajudariam a indicar o produto para seus clientes preocupados com a adequação à LGPD.
Contudo, no meio desse processo, a empresa concluiu que seu departamento jurídico não tinha
experiência em fazer contratos com parceiros comerciais no formato requerido para esse
negócio; o de recursos humanos (RH) não sabia descrever as posições das pessoas que seriam
contratadas para o squad; e o financeiro estava com dificuldade de fazer a modelagem do novo
negócio. Era como puxar o fio de um novelo, que a cada nó desfeito revelava outros tantos. Para
O ano de 2018 estava começando. Eu era vice-presidente do Grupo Pão de Açúcar (GPA),
o maior varejista do país, e cuidava das áreas de recursos humanos, sustentabilidade e
tecnologia. Naquele momento, no time de gestão, conversávamos com frequência sobre a
necessidade de acelerar o processo de transformação. Era claro para nós que o varejo
estava mudando rápido, e um grupo que sempre foi inovador tinha, mais uma vez, de se
reinventar.
Os consumidores demonstravam o desejo de uma nova experiência de compra. Os jovens
cada vez mais evitavam passar tempo nas lojas, concentrando a maior parte de suas compras
no canal on-line, além de buscar alternativas de consumo mais saudáveis. Ao mesmo tempo,
com milhões de clientes cadastrados nos programas de fidelidade e milhares de usuários
comprando no site, sabíamos que tínhamos um “petróleo bruto” de dados. As informações
poderiam tanto ser usadas para, internamente, tomar decisões mais assertivas de
investimento e abordagem ao consumidor como compartilhadas com a indústria de bens de
consumo – de maneira anônima, claro, mas que mostrasse, para empresas de todos os
tamanhos, o que o consumidor buscava. Havia ainda um movimento de expansão do varejo
entrando em outros mercados, como serviços financeiros, com carteiras virtuais e programas
de cashback.
Já competíamos por custo, com as marcas de atacarejo e os hipermercados, e por
experiência, com as lojas premium, mas nos faltava reforçar a experiência digital, que
pudesse pavimentar um crescimento exponencial a partir das nossas fortalezas e criar a
estrutura de plataforma. Como alavancar mais de 15 mil fornecedores com quem tínhamos
relacionamento e mais de 20 milhões de clientes sobre os quais tínhamos informação? Como
usar esses dados para sermos mais relevante para as pessoas e estarmos mais presentes na
vida delas?
O caso do GPA ilustra os desafios da transformação digital na prática. Cada empresa que
passar por mudanças tão relevantes quanto essas certamente terá experiências e aprendizados
diferentes de todas as outras. No entanto, há algumas lições que reunimos nos últimos anos sobre
como conduzir o processo. Elas podem ser úteis para os líderes que pretendem se lançar nessa
jornada.
COMUNICAÇÃO
Se no dia a dia já é importante, durante o processo de transformação, comunicação nunca é
demais. Em momentos de transição para uma nova realidade, é comum que haja confusão, o que
pode criar resistência nas pessoas. Falar sobre o que está acontecendo dá transparência ao
processo, em todos os níveis. Garante que o time responsável pela inovação esteja alinhado, que
as demais áreas da organização entendam as mudanças em curso, que os clientes conheçam as
novas ofertas e que investidores e acionistas tenham visibilidade de todas as iniciativas e saibam
o valor que cada uma agrega.
Marcelo Tas, especialista em comunicação, decidiu criar em 2015 seu canal no YouTube e
produzir vídeos com o mote #Descomplicado, falando sobre diversos aspectos da transformação
pela qual a sociedade está passando em uma linguagem acessível. Com esse trabalho, descobriu
que havia uma enorme demanda das empresas por iniciativas como essa. Começou a ser
procurado por marcas como o banco Bradesco, a gigante de tecnologia IBM e a farmacêutica
Libbs para que as ajudasse a explicar temas aparentemente complicados, como inteligência
artificial, mas que estavam cada vez mais na rotina das pessoas. Seu foco passou a ser melhorar a
qualidade do entendimento do que estava acontecendo, tanto dentro das organizações como de
modo independente. “Vivemos em um mundo em que, se não conversarmos de maneira
colaborativa, não vamos entender o que está acontecendo”, diz.
Em um processo de transformação digital não é diferente. Gastar tempo e energia com
comunicação permite resolver dúvidas e diminuir o bloqueio em relação ao novo. Quando as
pessoas conhecem a estratégia que guia as decisões e a direção que a empresa está seguindo,
tendem a se sentir mais seguras. Elaborar uma narrativa que esclareça a visão de futuro e detalhe
os caminhos que serão explorados nos meses seguintes contribui para criar engajamento.
Uma das maneiras de cuidar da comunicação é estabelecer rotinas e criar momentos que
funcionem como pontos de encontro para falar sobre a transformação em curso. No caso do
GPA, a necessidade mais evidente foi a de um diálogo profundo entre os líderes responsáveis
pelas iniciativas digitais. Como a experiência mostrou, um canal aberto para os executivos
compartilharem suas hesitações e dificuldades aumentou a cooperação entre os times. Por sua
vez, a pessoa encarregada de definir as prioridades da transformação digital precisa estabelecer
METODOLOGIAS DE TRABALHO
Na esteira da transformação digital vieram também novas metodologias para organizar
equipes, gerenciar projetos e medir resultados. O mundo corporativo foi invadido por palavras
em inglês que pouca gente sabe traduzir ou explicar: agile, inbound marketing, customer
experience, design thinking, business model canvas e tantas outras.
Claro que conhecer mais sobre esses métodos e entender como cada um deles funciona pode
gerar insights e orientar mudanças relevantes dentro das empresas. No entanto, é importante não
perder de vista os objetivos da organização, a nova cultura que se deseja construir e as
CAPACITAÇÃO DE PESSOAS
Como o processo de transformação digital geralmente demanda profissionais com
competências técnicas escassas no mercado ou que exigem salários acima do orçamento das
empresas, a saída pode ser treinar o time que já existe. Se é possível fazer uma mudança de
cultura, disseminando uma nova mentalidade e novos comportamentos dentro das companhias, o
que as impede de capacitar os colaboradores com novos conhecimentos?
Um estudo divulgado pela plataforma de análise de dados Qlik, que ouviu 604 profissionais
em posições de liderança de organizações com mais de 500 funcionários dos Estados Unidos, da
Europa e da Ásia, mostrou que a maioria (63%) procura ativamente candidatos que possam
demonstrar sua capacidade de usar, trabalhar e analisar dados. No entanto, quando não
encontram, poucas conseguem oferecer treinamento para os próprios colaboradores; apenas 34%
das empresas disseram ter programas de capacitação127.
Como descreveu Gustavo Werneck, da Gerdau, a procura por profissionais com habilidades
raras acaba se tornando um jogo de rouba-monte entre as companhias. Eles ficam empregados
em um lugar até receber uma proposta financeiramente melhor e migrar para outro. Foi dessa
conclusão que surgiu a ideia de criar uma escola de cientistas de dados. “Convidamos
profissionais com facilidade para ciências exatas e temos alguns cientistas de dados experientes
que trabalham em um programa de um ano para formar uma nova turma”, conta o CEO. Além
disso, a empresa tem quatro programas de formação para disseminar a mentalidade ágil,
incluindo um para estagiários e um para gestores.
No entanto, ainda que sejamos a favor dos esforços de digitalização, de automação de
processos e de treinamento de funcionários para ocuparem novas (e mais complexas) funções,
sabemos que a transformação digital pode deixar pelo caminho muitas pessoas sem formação ou
competências para navegar nesse mundo mais complexo. Imagine que aquela assistente virtual
apresentada pelo CEO do Google, além de fazer a ligação pelo usuário que precisa de um corte
de cabelo, possa também assumir o papel de recepcionista no salão de beleza e que todas as
recepcionistas do planeta sejam substituídas por robôs. É uma perspectiva amedrontadora para os
trabalhadores que executam tarefas que podem ser automatizadas no curto prazo. Portanto, por
mais entusiastas da tecnologia que sejamos, sabemos que não dá para ignorar a pauta do futuro
do trabalho. Tão urgente quanto promover transformações digitais é discutir como cuidaremos
DESIGUALDADE ESCANCARADA
Para Valéria Brandini, antropóloga empresarial, a internet ampliou a abrangência da
transformação e deu a ela uma velocidade inédita. Uma das consequências foi a mudança
estrutural do trabalho e da relação entre as empresas. Essa ruptura, porém, não é exatamente
novidade. “Todo esse espanto que a gente está tendo agora já tivemos no início da Revolução
Industrial, com a modificação nas relações de trabalho gerada pela tecnologia. Esse processo não
começou com a internet; ele se acelerou com a internet”, afirma.
Em organizações baseadas no uso da tecnologia, essa mudança, como todas as outras, tem o
potencial de excluir funções e precarizar algumas relações de trabalho, pois as mesmas tarefas
podem ser realizadas por um custo menor e com mais eficiência, o que adiciona mais valor ao
cliente final. De certa maneira, concretiza o princípio do economista austríaco Joseph
Schumpeter da “destruição criativa”, processo por meio do qual novos produtos destroem antigas
empresas e modelos de negócio, gerando inovação e crescimento econômico – e que Schumpeter
considera um elemento essencial do capitalismo.
A série espanhola As telefonistas, exibida pela Netflix, é um bom exemplo desse dilema.
Retrata a rotina de algumas mulheres na década de 1920 para as quais a companhia telefônica foi
uma porta de entrada para o mercado de trabalho. Em uma das temporadas, o surgimento de uma
central que automatiza as chamadas e que acabará com o trabalho das telefonistas revolta as
funcionárias. Há uma briga na liderança da empresa, que se vê diante de um dilema: implementar
a inovação e destruir empregos ou tentar sabotar a nova tecnologia. O final da história, na vida
real, é conhecido: a função de telefonista de fato desapareceu, substituída por tecnologia. No
entanto, o avanço no universo das telecomunicações criou muitas outras funções e nos levou em
direção a um mundo conectado por smartphones.
Conforme a tecnologia evolui, ela substitui atividades mais ou menos nessa sequência,
começando no nível 1 e indo em direção ao nível 4. Por exemplo, a adoção de tecnologias já
disseminadas, como chatbots de atendimento ou robot process automation (RPA), substituem
todas as atividades do nível 1. Isso significa que, quando o processo de trabalho for redesenhado,
incorporando a nova tecnologia, pessoas que só fazem atividades do nível 1 poderão ser
dispensadas imediatamente. Uma empresa que conhecemos em 2017 tinha um call center com
400 posições para realizar operações básicas, como incluir e excluir mensalmente beneficiários e
dependentes nos planos de saúde. Quando se implantou uma tecnologia de RPA que simula o
movimento humano, operando 24 horas por dia, sete dias por semana, a área passou a ter 20
pessoas. Aliás, há quem aposte na completa automação e no fim dos call centers como os
conhecemos hoje.
Ainda considerando a substituição de atividades do nível 1, as pessoas que trabalham dois
terços de seu tempo no nível 1 e o restante no 2 precisarão se desenvolver para trabalhar o tempo
inteiro no nível 2 e eventualmente algum tempo no 3. E o líder da área terá sua função alterada
de maneira proporcional, com exigências maiores. Em vez de passar horas monitorando a equipe
e ajustando procedimentos, ajudará a programar o algoritmo e analisar dados de satisfação do
cliente, além de auxiliar sua equipe a adquirir competências novas, que talvez ele não domine.
À MARGEM
Enquanto alguns trabalhadores se adaptam à gig economy, há pessoas excluídas pela
digitalização dos negócios que não conseguem encontrar novas funções nem se capacitar para
outras tarefas; não acompanham as mudanças e jamais estarão aptas para assumir qualquer nova
função.
Olhando para esse cenário, nós nos perguntamos que mundo estamos criando, como resolver
essa diferença social que a transformação digital está aumentando, e não diminuindo. No mundo
pós-pandemia, que gerou uma série de demissões até em empresas que nasceram digitais,
precisamos pensar em como acolher e incluir todas as pessoas no sistema.
Um dos desafios que temos de considerar é encontrar soluções para que ninguém passe ao
largo da transformação digital e todos possam ter acesso a condições de vida digna, porque é
preciso estar minimamente inserido na cadeia de valor para conseguir subir – nesse sentido,
apostamos na educação de qualidade para todos como resposta para a inclusão e a redução da
desigualdade.
HÁ ESPERANÇA
Apesar das evidências pessimistas, há fatores para acreditar que nem tudo está perdido, que a
tecnologia pode ser usada para equilibrar as forças e que as empresas estão olhando além do
próprio umbigo.
A maioria dos empresários e executivos que entrevistamos para este livro nos apresentou uma
visão otimista. Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, enxerga que as companhias estão cada vez
mais preocupadas com temas como diversidade e inclusão e que as grandes empresas têm
cobrado isso inclusive de seus fornecedores. Uma das iniciativas criadas pela Gerdau foi
contribuir para a reintegração de egressos do sistema penitenciário à sociedade.
Carlos Miranda, CEO da X8 Investimentos, está animado com a preocupação das gerações
mais novas com o impacto social. Ele tem conhecido pessoas que juntaram um patrimônio
relevante ao longo da carreira e agora, por orientação dos filhos, estão direcionando parte do
dinheiro para negócios de impacto, ou, no termo mais recente, negócios ESG (com foco em meio
ambiente, impacto social e governança corporativa). Segundo Carlos, enquanto, no mundo, o
NÓS DOIS NOS CONHECEMOS há mais ou menos 20 anos, quando fomos convidados
por Fernando Lima para organizar um Fórum de Tecnologia para Recursos Humanos, na
Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH). O que nos manteve unidos, mais do que a
carioquice de humor ácido ou a visão de mundo tão convergente, foi um grupo de amigos que até
hoje se reúne regularmente para tomar vinho e bater papo. Fazem parte dessa turma conosco
Fernando Lima, Arthur Asnis, Cezar Tegon, Marcelo Fernandes, Marcos Nascimento e Marcos
Baumgartner. Sem eles provavelmente não teríamos mantido o vínculo e este livro não existiria.
Este livro é parte também de um projeto maior sobre o entendimento da transformação digital
no Brasil que desenvolvemos em parceria com nossos amigos da StartSe. Além deste conteúdo,
criamos um curso sobre o assunto para executivos e o podcast Gente Digital. Agradecemos em
especial a Maria Fernanda (Mafê) Neves, Tainá Freitas e José Eduardo Costa, que começou a
conversa.
Agradecemos imensamente a todos os entrevistados que gentilmente cederam algumas horas
para contar suas histórias e suas jornadas de transformação digital – Antonio Serrano, Carlos
Miranda, Caroline Carpenedo, Diego Barreto, Felipe Cerchiari, Gustavo Werneck, Jacques
Nasser, José Eduardo Pastore, Marcelo Tas, Marcus Hadade, Ricardo Patah, Ronaldo Iabrudi,
Simone Galante, Suzana Pamplona e Valéria Brandini – e ao César Souza, que aceitou nosso
convite para escrever o prefácio.
Por fim, este livro não seria possível sem o trabalho dedicado e brilhante da equipe do Atelier
de Conteúdo. Nosso profundo agradecimento a Marcela Bourroul e Ariane Abdallah, que
lideraram essa empreitada com a combinação letal de “mão de ferro” e sorrisos encantadores por
todos os passos do caminho. Nosso muito obrigado a Fabiane Langona pelas charges que
temperaram com humor carioca nosso livro e a Larissa Mazzoni pela capa e layout.
ANTONIO SALVADOR
Ao longo da minha vida profissional conheci vários mestres que tive a honra de chamar de
“chefe(a)”, “sócio(a)”, mas, principalmente, “amigo(a)”, em especial Regina Langsdorff (in
memoriam), Mauricio Luchetti, José Luiz Aromando, Antonio Martins, Mary Kay Vona, Enéas
Pestana, Peter Estermann e Ronaldo Iabrudi, que gentilmente colaborou com este livro.
Agradeço ainda aos membros dos times que tive o prazer de fazer parte ou liderar e com quem
aprendi muito sobre gestão de pessoas e transformação, seja na Brahma, na PwC, na IBM, na
Promon, na HP ou no GPA, sobretudo à equipe de transformação digital, cujos erros e acertos
compartilhei aqui.
DANIEL CASTELLO
Agradeço a Angelo Desiderio Netto, por ter me trazido para São Paulo; a Fernando Lima, por
ter percorrido todo o caminho sempre com um sorriso generoso e por ter aberto mais portas do
que consigo contar; a Rodrigo Rocha Loures e Ken O’Donnell, por acreditarem que eu era capaz
de ser um estrategista; a Luís Alexandre Chicani, por me abrir as portas da Endeavor; a Jean
Pasteur, Simone Galante e Arthur Asnis, por terem acreditado em mim quando eu mais precisei;
a Mali e Ciça, minhas duas irmãs, meus esteios; e a Pepe, meu irmão, por estar sempre a um
telefonema de distância.
Aprendi com a vida que funciono melhor em bando. Sou grato à ABRH e à Endeavor por
serem ecossistemas importantes na minha trajetória e terem colocado na minha vida as pessoas
mais interessantes que conheci.
Em especial, meu muito obrigado ao Salvador, por ter acreditado nesta parceria. Um sonho
realizado.
1
“The next outbreak? We’re not ready”, TED Talks, mar. 2015. https://bit.ly/33D9lWC
2
“Ações de varejo fecham em queda com ‘efeito Amazon’”, Valor Econômico, 13 out. 2017. https://glo.bo/3nuFEip.
3
“‘O Nubank é uma ameaça’, diz presidente do Bradesco”, Veja, 14 dez. 2018. https://bit.ly/2SC1ulZ
4
ROGERS, David L. The digital transformation playbook. New York: Columbia University Press, 2016.
5
“300 maiores empresas do varejo brasileiro SBVC 2019”, Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, 19 ago. 2019.
https://bit.ly/30N7PPU
6
Endeavor é uma organização global sem fins lucrativos que apoia o empreendedorismo e empreendedores de alto impacto.
Existe no Brasil desde 2000.
7
“Concentração de renda aumenta e Índice de Gini é o maior desde 2012, mostra pesquisa do IBGE”, O Globo, 16 out. 2019.
https://glo.bo/3lDOs3V
8
“Smartphone ownership is growing rapidly around the world, but not always equally”, Pew Research Center, 5 fev. 2019.
https://pewrsr.ch/2GPjHcO
9
“Brasil é o 5° país em ranking de uso diário de celulares no mundo”, Agência Brasil, 18 jan. 2019. https://bit.ly/3daexV2
10
“Brasil é 2° em ranking de países que passam mais tempo em redes sociais”, Época Negócios, 6 set. 2019.
https://glo.bo/2IbFj43
11
“Digital 2020: July Global Statshot”, Data Reportal, 21 jul. 2020. https://bit.ly/34A9mtL
12
“Compras pela internet disparam até 40% com impacto do novo coronavírus”, Exame, 20 mar. 2020. https://bit.ly/30HnjVB
13
“Big tech could emerge from coronavirus crisis stronger than ever”, The New York Times, 23 mar. 2020.
https://nyti.ms/3dcl1mm
14
TI: tecnologia da informação; CEO: chief executive officer; CTO: chief technology officer; agile: método de trabalho comum
em empresas digitais.
15
“A digitalização do mundo acelerou”. O Estado de S. Paulo, 26 mar. 2020. https://bit.ly/3jHQUpb
16
“Mundo será mais digital depois da crise, diz Lambranho”, Valor Econômico, 1 abr. 2020. https://glo.bo/2SAjMnD
17
“Digital 2020: July Global Statshot”, Data Reportal, 21 jul. 2020. https://bit.ly/34A9mtL
18
“Aplicativos como Uber e iFood são fonte de renda de quase 4 milhões de autônomos”, O Estado de S. Paulo, 28 abr. 2019.
https://bit.ly/2GJOBU6
19
“Magic Johnson and Larry Bird: a courtship of rivals basketball”, The NBA Historian, 2014. https://bit.ly/3jKhVZ5
20
“Top steel-producing companies 2019”, WorldSteel Association, jun. 2019. https://bit.ly/2IbP2Y7
21
ROGERS, David L. The digital transformation playbook. New York: Columbia University Press, 2016. p. 4.
22
“Self-driving cars could save 300,000 lives per decade in America”, The Atlantic, 29 set. 2015. https://bit.ly/33H9GYp
23
“Com home office, BB vai devolver 19 de 35 edifícios de escritórios no País”, O Estado de S. Paulo, 7 jul. 2020.
https://bit.ly/3dd3cmZ