Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Traduções
Andre Benatti
Carin Louro
Claudia Sampaio
1ª edição
81 Say no more
(Carla Antolyna Valles)
115 Vacas
(Rogelio Orizondo)
251 Vacas
Rogelio Orizondo
81
Say no more
Carla Antolyna Valles
A autora
Carla nasceu em 1982, na cidade de Santiago do Chile. Dramaturga,
atriz, gestora cultural formada na Universidad Desarrollo, no Chile.
Uma das fundadoras da companhia “La Fulana Teatro”, com a qual
realizou trabalhos artísticos durante dez anos, impulsionando
movimentos culturais como o Festival Santiago OFF. Como
dramaturga, trabalhou no resgate e na pesquisa do patrimônio
imaterial e da tradição oral de seu país, plasmando-os em textos
como El séptimo urbano e Sazonar la última es-cena. Recebeu bolsas
como escritora na Argentina, no México e no Uruguai.
A tradutora
Claudia Dias Sampaio é pesquisadora e professora de literatura.
Doutora em Teoria Literária pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), atualmente, se dedica ao estudo da poesia
contemporânea e à tradução de autores hispano-americanos.
83
Tempo e espaço
É a noite de hoje, são várias noites de um hoje, um hoje parecido com
hoje repetido mil vezes; é o centro da cidade, um centro da cidade
parecido com os centros de todas as cidades que conheço, apertado,
claustrofóbico, sublimemente caótico, com um encanto sinfônico e
ensurdecedor. A ação acontece em um pequeno apartamento, rodeado
de pequenos apartamentos, em um nono andar, cuja vista se choca com
outros pequenos apartamentos de outros nonos andares do centro de
uma cidade. É inverno, às vezes chove, às vezes não, parecia que isso
não importava, mas nunca é o que parece. Sempre faz frio, não há
aquecimento, o único jeito é fechar as janelas da varanda para evitá-lo.
Um sofá. Uma televisão.
Personagens
Ele
Ela
O gato
84 P.E.R.I.F.É.R.I.C.O - dramaturgias latino-americanas
Say no more - Carla Antolyna Valles 85
Introdução
“Asesíname”
Entra Ela, a luz se acende, tudo parece estar em seu lugar, o som da chuva se
transforma no som do trânsito.
Silêncio. Passa uma noite, duas, três, cumprimenta, fecha a porta, cuidar do gato,
comer, computador, televisão, celular, quatro, cinco, seis, cumprimenta, fecha a porta,
comer, computador, televisão, celular, chove.
...Televisão, computador, celular, onze, doze, treze, cumprimenta, fecha a porta, cuida
do gato, comer, varanda.
Enquanto Ele e O gato a veem ir embora, se escuta na televisão: — Charly, como você
sabia que sobreviveria à queda de um nono andar? — Primeiro, joguei um gatinho de
madeira que estava no quarto e, quando ele caiu na piscina, entendi que eu também
poderia fazer.
90 P.E.R.I.F.É.R.I.C.O - dramaturgias latino-americanas
Track 1
“Soy un vicio mas”
Toca “Tu vicio”, de Charly García. Como se fosse um videoclipe, vemos Ele e O gato
em uma sequência de ações. Dois dias depois que Ela se foi.
Ele sai. O gato vai até a porta. Ele entra. O gato se esconde. Ele se senta, toma uma
cerveja. O gato vai à porta. Ele sai. O gato se esconde. Ele entra, dá voltas. O gato vai
à porta. Ele vai à varanda, fuma. O gato arranha a porta. Ele sai. O gato se esconde.
Ele entra, pega o celular. O gato vai até a porta. Ele dá voltas com o celular. O gato
chora na porta. Ele joga o celular no gato. O gato se esconde. Ele liga a TV.
Ele entra. O gato corre para se esconder. Ele tropeça na comida do gato, a derrama.
O gato aparece. Ele vai recolher a comida e derrama a água. O gato vai à porta. Ele
procura algo para limpar, só encontra Confort.1 O gato arranha a porta, Ele joga o
Confort no gato. O gato se esconde. Ele procura comida, encontra uma lata de atum,
O gato aparece, Ele senta no sofá com a lata e uma cerveja, O gato se aproxima, Ele
lhe joga um pedaço de atum, O gato chega, cheira o atum, vai à porta, chora. Ele lhe
joga uma garrafa de cerveja. O gato se esconde, Ele liga a TV.
O gato está sozinho entre garrafas de cervejas e latas de atum, a televisão está ligada. Ele
entra bêbado beijando uma mulher bêbada, O gato se esconde. Ele e a mulher se beijam
no sofá. O gato chora ao lado de uma lata vazia de atum. Ele joga qualquer coisa no gato.
O gato continua chorando, Ele procura uma lata nova de atum. O gato o segue. A
mulher bêbada dorme no sofá. Ele tenta acordar a mulher. O gato come seu atum, ao
lado deles, a mulher ronca. Ele vai à porta. Chora. O gato o segue.
Ele e O gato estão sentados no sofá, cada um com uma lata de atum vendo a TV. Se
escuta: “Quanto mede a piscina?”, gritou Charly García ao jovem banhista do terraço
do hotel Aconcágua. “Três metros de profundidade...”, respondeu Lucas Rodríguez,
sete andares mais abaixo. E García se jogou sem escutar o final da frase do banhista:
“... mas ainda estão começando a enchê-la...”.
Penélope na estação,
isso que você parece, gato inútil!
ELE: Já decidi:
vou matar o gato,
será este meu contrato
para me vingar do abandono.
Dois meses, duas semanas e dois dias desde que Ela se foi.
Track 2
“Pasajera en trance”
Aeroporto.
colecionando lembranças
que me aqueçam o vazio.
Sempre acho que confio
demais na minha boa sorte.
Sempre imagino minha morte
cheia de sangue e violência,
na rua e sem consciência,
esfaqueada, frágil, inerte.
Me assusta ser vulnerável
e me assusta a escuridão,
caminhar sozinha na cidade
é insuportável.
Por isso, foi inevitável
sentir amor quando o vi
sozinho, confuso, ali
num lugar tão bizarro,
molhado, cheio de lama,
tão triste, tão igual a mim.
Um gato no aeroporto.
Perdido ou abandonado?
Me olhou desesperado
com solidão desértica.
Aí vêm os guardas! Aviso.
Já pra minha loja, pra dentro!
Fica quieto, por favor!
E entre discos de Violeta,
souvenirs e maletas,
começamos nosso amor.
Track 3
“Demoliendo hoteles”
Dois meses, duas semanas, dois dias e duas horas antes que Charly pulasse da varanda.
Ela e O gato estão molhados na beira da porta. Ele vê televisão, Ela espirra, O gato
também. Ele aumenta o volume da TV. Ela lhe joga a carteira. Ele se esquiva. Ela
desliga a TV. Ele lhe joga uma almofada, Ela se esquiva. Ele tenta ligar a TV. Ela não
deixa. O gato entra e urina no sofá.
Dois meses, duas semanas e dois dias antes que Charly pulasse da varanda.
Ela chora no sofá enquanto seca o cabelo. Ele tenta limpar o sofá. O gato chora
trancado na varanda.
Chove. O gato grita na varanda. Ela corre para abrir e deixá-lo entrar. Ele a impede.
Ela chora no sofá. Ele pega o secador e seca o sofá.
O gato está preso na varanda, agora tem um prato de comida, água e uma caixa. Ela
espera impaciente. Ele aparece com uma jaqueta. Ela faz uma cara feia. Ele aparece
com outra jaqueta. Ela fica com a cara mais feia. Ele aparece com outra jaqueta.
Say no more - Carla Antolyna Valles 99
Ela tira dele e desaparece com a jaqueta. Ele vai verificar a janela da varanda. Ela
aparece com uma jaqueta na mão. Ele faz cara feia. Ela coloca a jaqueta nele, o
abraça, o beija. Ele faz cara de contente. Saem. Ele para, se olha no reflexo da janela.
Saem. Ela volta, abre a porta da varanda. Sai. O gato entra, urina no sofá.
Ela e O gato veem TV no sofá. Ele fuma na varanda. Ela acaricia o gato. O gato
ronrona. Ele fecha a janela da varanda.
Ele vê TV no sofá. Ela fuma na varanda. O gato passeia entre as pernas dela. Ele ri do
que está vendo. Ela acaricia o gato. Ele ri mais alto. Ela acaricia o gato. Ele ri muito
mais alto. Ela fecha a janela da varanda.
Ele come vendo TV no sofá. Ela está recostada ao lado dele. O gato come na varanda.
Ela esfrega a cabeça no corpo dele. Ele tenta comer. Ela se aproxima mais. Ele tenta
comer. Ela lhe dá um beijo. A comida dele cai no sofá. Ela ri. Ele fica furioso. Ela tenta
fazê-lo rir.
O gato ronrona no colo dela enquanto tenta alcançar a comida derramada no sofá.
Aeroporto.
100 P.E.R.I.F.É.R.I.C.O - dramaturgias latino-americanas
ELA: Olá.
Sim, sei que é você.
O que aconteceu?
Vou pra lá.
Track 4
“Influencia”
Dois meses, duas semanas e dois dias desde que Ela se foi.
Ele dorme no chão, apoiado na porta. O gato tenta acordá-lo. Ele dorme no chão,
apoiado na porta, O gato arranha a porta. Ele dorme no chão, apoiado na porta, O
gato vai pra varanda, a janela está fechada. Ele dorme no chão, apoiado na porta,
O gato arranha a janela da varanda. Ele dorme no chão, apoiado na porta, O gato
mia. Ele dorme no chão, apoiado na porta, O gato grita. Ele dorme no chão, apoiado
na porta, O gato o arranha. Ele dorme no chão, apoiado na porta, O gato ronrona.
Ele dorme no chão, apoiado na porta, O gato se joga contra a janela da varanda.
Ele dorme no chão, apoiado na porta, O gato se joga novamente contra a janela
da varanda. Ele dorme no chão, apoiado na porta, O gato se joga contra a porta.
Ele dorme no chão, apoiado na porta, O gato se joga novamente contra a porta.
Ele dorme no chão, apoiado na porta, O gato cai. Ele dorme no chão, apoiado na
Say no more - Carla Antolyna Valles 101
porta, O gato sangra. Ele dorme no chão, apoiado na porta, O gato grita. Ele dorme
no chão, apoiado na porta, O gato se joga contra as paredes. Ele dorme no chão,
apoiado na porta, O gato se joga em cima dele. Ele dorme no chão, apoiado na porta,
O gato chora. Ele dorme no chão, apoiado na porta, O gato cai. Ela abre a porta. Ele
dorme no chão, apoiado na porta, Ela abre a porta com mais força. Ele leva uma
porrada da porta, Ela consegue abrir a porta. Ele sangra, Ela corre pra ver O gato.
Silêncio
Silêncio.
Ela oferece a mão para ele ficar em pé. Ele fica em pé sozinho.
Da TV, se escuta: “...Desde menino sempre quis voar, mas a lei da gravidade me
impediu. Mas pratiquei muito em um sítio onde havia muitos pinheiros. Comecei a
praticar ali. Tive de ir construindo trampolins cada vez mais altos...”
Track 5
Seminare Quilmes Rock
Silêncio.
ELE: Sim.
ELA: Onde? Que parte dói?
ELE: Tudo.
Silêncio.
Silêncio.
Ela tenta pegar O gato do chão. Ele a olha. Ela não consegue. Ele a olha. Ela não
consegue. Ele a olha. Ela não consegue. Ele a olha. Ela não consegue. Ele a olha. Ela
não consegue. Ela o olha. Ele oferece sua mão para colocá-la de pé. Ela fica em pé
sozinha. Ele a olha. Ela vai pra varanda. Ele pega O gato e o coloca no sofá. Ela o olha.
Ele traz água e limpa as feridas do gato. Ela o olha.
Silêncio.
Silêncio.
Silêncio.
Silêncio.
ELE: Materialista!
Ela chora.
Ele ri. Ela ri. Ele a abraça. Ela limpa as feridas dele. Ele chora como um menino.
Ela o olha.
106 P.E.R.I.F.É.R.I.C.O - dramaturgias latino-americanas
Track 6
“Me tire por vos”
Ela dá água ao gato com uma colher. Ele cozinha algo com atum.
Silêncio.
O gato vomita no sofá. Ele vai com um pano.
Ela pega O gato. O gato continua vomitando.
Silêncio.
Ela fica em pé, sai, bate a porta. Ele liga a TV. Se vê Charly em sua atuação cantando
“Me tiré por vos” - https://www.youtube.com/watch?v=PUeZBVsquS4>.
Ela entra novamente. Ele a olha. Ela sai de novo. Ele vai pra varanda. Ela entra
de novo, tenta tirar o gato do sofá. Ele a impede. O gato reclama. Ela sacode O
gato. Ele sacode o gato. O gato reclama com mais força. Ela sacode mais forte O
gato. Ele o joga com mais força em cima dela. O gato a arranha. Ela solta O gato.
Ele a ajuda com o arranhão. O gato foge e se esconde. Ela o beija. Ele acaricia
seu arranhão. Ela o beija novamente. Ele a beija. Começam a sentir um cheiro de
queimado. Eles caem no sofá.
Track 7
“I’m not in love” / Acústico
Silêncio. Ela fica em pé, começa a procurar sua roupa, se dá conta de que falta algo.
ELA: E o gato?
Ele procura O gato. Ela procura O gato. Ele procura O gato. Ela procura O gato.
Ele procura O gato. Ela procura O gato. Ele procura O gato. Ela procura O gato. Ele
procura O gato. Ela procura O gato. Ele procura O gato…
Pause II
Silêncio
Duas horas depois…
Ele esperando no sofá. Ela esperando na varanda. O gato não está. Começa a amanhecer.
Silêncio.
Silêncio.
Say no more - Carla Antolyna Valles 111
Eles riem.
Silêncio.
Ele sai. Ela pega suas coisas. Ele aparece com um guarda-chuva na mão.
Silêncio.
Ela ri. Ele a olha. Ela vai à porta. Ele vai pra varanda.
A TV é ligada, se escuta: “ Charly, como você sabia que iria sobreviver da queda de
um nono andar? – Primeiro, joguei um gatinho de madeira que havia no meu quarto
e, quando caiu na piscina, entendi que eu também poderia fazê-lo.
Chove.
Escuro.
Bônus track
“Alguien en el mundo piensa en mí”
O GATO: “ ...A coisa era assim: achei que tinha uns 70 por cento de possibilidades de
cair na piscina e uns 30 de me matar. A verdade é que não sei qual foi o detonador...”
Ri, liga a TV, aparece Charly cantando “Alguien en el mundo piensa en mi”, en Luna
Park: <https://www.youtube.com/watch?v=Wivu4bBkJjw>. O gato pega impulso
para pular da varanda, para, sobe no sofá, urina. Corre até a varanda. Desaparece.
Sobe a música. A luz se vai.
Stop
213
Say no more
Personajes
El
Ella
El gato
214 P.E.R.I.F.É.R.I.C.O - dramaturgias latino-americanas
Tiempo y espacio
Es la noche de hoy, es varias noches de un hoy, un hoy parecido a hoy repetido
igual mil veces; es en el centro de la ciudad, un centro de la ciudad parecido
a los centros de todas las ciudades que conozco, apretado, claustrofóbico,
sublimemente caótico, con un encanto sinfónico y ensordecedor.
Es invierno, a veces llueve, a veces no, pareciera ser que no importa, pero nunca
es lo que parece.
Siempre hace frío, no hay estufa, sólo queda cerrar las ventanas del balcón
para evitarlo.
Intro
“Asesíname”
Silencio. Pasa una noche, dos, tres, saluda, cierra la puerta, atender al gato,
comer, computador, televisión, celular, cuatro, cinco, seis, saluda, cierra la
puerta, comer, computador, televisión, celular, llueve.
Silencio.
…Siete, ocho, nueve, saluda, cierra la puerta, atender al gato…
Silencio.
Desde entonces se puso zen,
silenciosa como almeja,
obediente como oveja.
Un día se olvidó del “no”,
del vocabulario lo borró,
a todo decía que “sí;
decir que “no” me tocó a mí.
¿Prendemos la televisión?
ELLA: No.
TRACK 1
“Soy un vicio mas”
EL sale
EL GATO va a la puerta
EL entra
EL GATO se esconde
EL se sienta, toma una cerveza
EL GATO va a la puerta
EL sale
EL GATO se esconde
EL entra, da vueltas
EL GATO va a la puerta
EL va al balcón, fuma
EL GATO rasguña la puerta
EL sale
EL GATO se esconde
Say no more - Carla Antolyna Valles 221
EL entra
EL GATO corre a esconderse
EL tropieza con la comida del gato, la derrama.
EL GATO se asoma
EL trata de recoger la comida, derrama el agua.
EL GATO va a la puerta.
EL busca algo para limpiar, solo encuentra confort.
EL GATO rasguña la puerta
EL le lanza el confort al gato
EL GATO se esconde
EL busca comida, encuentra una lata de atún
EL GATO se asoma
EL se sienta en el sillón con la lata y una cerveza
EL GATO se acerca
EL le lanza un trozo de atún
EL GATO se acerca, lo huele, va a la puerta, llora
EL le lanza la botella de cerveza.
EL GATO se esconde.
EL prende la tv.
222 P.E.R.I.F.É.R.I.C.O - dramaturgias latino-americanas
EL GATO esta solo entre botellas de cerveza y latas de atún, la televisión está
prendida.
EL entra borracho besándose con una mujer borracha
EL GATO se esconde
EL y la mujer se besan en el sillón
EL GATO llora al lado de una lata vacía de atún
EL le lanza cualquier cosa al gato
EL GATO sigue llorando
EL busca una lata nueva de atún
EL GATO lo sigue
La mujer borracha se duerme en el sillón
EL intenta despertar a la mujer
EL GATO come su atún al lado de ellos
La mujer ronca
EL va a la puerta. Llora.
EL GATO lo sigue.
Insomnio, televisión,
silencio, cigarro, café.
El gato me mira, yo también
¡Penélope en la estación,
eso parecis, gato hueón!
Ya lo tengo decidido:
Voy a matar al gato
será este mi contrato
pa`vengarme del olvido.
Café, cigarro encendido.
(más de dos meses, ni una llamada)
Lo odio, odio esa mirada,
odio que maúlle, que grite,
odio que la necesite,
que aún espere su llegada.
¡Y si me joden, te jodo!
Dos meses, dos semanas y dos días desde que ella se fue.
TRACK 2
“Pasajera en trance”
Aeropuerto.
Un gato en el aeropuerto
¿Perdido o abandonado?
me miró desesperado
con soledad de desierto.
¡vienen los guardias! Advierto.
¡a mi tienda! ¡al interior!
¡tate callao` porfavor!
Y entre discos de violeta,
souvenires y maletas
comenzamos nuestro amor.
230 P.E.R.I.F.É.R.I.C.O - dramaturgias latino-americanas
TRACK 3
“Demoliendo hoteles”
Dos meses, dos semanas y dos días antes que Charly saltara por el balcón.
Llueve
EL GATO grita en el balcón
ELLA corre a abrirle al gato
EL se lo impide
ELLA llora en el sillón
EL toma el secador y seca el sillón
ELLA: (le grita) ¡Materialista!
Salen
Salen
Sale
EL ve tv en el sillón
ELLA fuma en el balcón
EL GATO se pasea entre las piernas de ELLA
EL se ríe de lo que está viendo
ELLA acaricia al gato
EL se ríe más fuerte
ELLA acaricia al gato
EL se ríe mucho más fuerte
ELLA cierra la ventana del balcón
ELLA llora
EL GATO se acerca a ELLA
Aeropuerto.
ELLA: -Hola,
Si sé que eres tú
¿Qué paso?
Voy para allá.
TRACK 4
“Influencia”
Dos meses, dos semanas y dos días desde que ella se fue.
(Silencio)
EL: Te odio
ELLA: Y yo a ti… maricón.
Say no more - Carla Antolyna Valles 237
EL: Puta.
ELLA: Débil.
EL: Desertora.
ELLA: Egoísta.
EL: Traidora.
ELLA: Manipulador.
EL: Cobarde…
No me interesa tu alarde
de gran mujer decidida,
¡Cobarde! ¡Adicta a la huída!
(Silencio)
“…Desde chico siempre quise volar, pero me lo impidió la ley de gravedad. Pero
practiqué mucho, en una quinta había muchos pinos y empecé a practicar ahí.
Tuve que construirme trampolines cada vez más altos…”.
238 P.E.R.I.F.É.R.I.C.O - dramaturgias latino-americanas
TRACK 5
“Seminare” Quilmes Rock
EL fuma en el balcón
ELLA esta recostada en la puerta junto al gato
EL GATO respira con dificultad.
Silencio.
Silencio.
Silencio.
Llueve.
Silencio.
240 P.E.R.I.F.É.R.I.C.O - dramaturgias latino-americanas
Silencio.
Silencio.
ELLA: ¿Verdad?
Silencio.
TRACK 6
“Me tiré por vos”
Dos horas despues…
Se escucha en la tv:
pa`alegrarme la carrera.
Silencio.
Silencio
TRACK 7
“I’m not in love” / Acustico
Se escucha en la tv:
“…Y salió bien. No tuve miedo, no fue de rabia. Me vi fuerte, sentí mi pasado,
mi niñez, mi padre, mi casa de la infancia estilo Mirtha Legrand, y me dije:
”Los voy a joder”.
ELLOS están abrazados en ropa interior.
ELLOS comen atún pegado en un sartén.
Silencio.
EL: Yo no.
Silencio.
ELLA: ¿Y el gato?
EL se para rápido
ELLA busca al gato
EL busca al gato
ELLA busca al gato
EL busca al gato
ELLA busca al gato
EL busca al gato
ELLA busca al gato
EL busca al gato
ELLA busca al gato
EL busca al gato
ELLA busca al gato
EL busca al gato
ELLA busca al gato
EL busca al gato…
246 P.E.R.I.F.É.R.I.C.O - dramaturgias latino-americanas
PAUSE II
Silencio
EL esperando en el sillón
ELLA esperando en el balcón
EL GATO no está.
Comienza a amanecer.
Silencio.
ELLA: No te admiro.
Silencio.
ELLOS ríen.
Silencio.
EL: sale.
ELLA: recoge sus cosas.
EL: aparece con un paraguas en la mano.
EL: ¡Te deseo mucha suerte!.
Silencio.
ELLA se ríe
EL la mira
ELLA va a la puerta
EL va al balcón
ELLA sale
Silencio
EL está en el balcón.