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SEQUÊNCIA DIDÁTICA

Maria Julia Procópio de Souza


Tema: Estudo de gênero textual: Poesia social
Proposta de estudo do gênero textual poema com foco em poesia engajada
socialmente.
Público alvo: Alunos do 1º ano do Ensino Médio.
Textos: Foram escolhidos 2 textos para integrar a sequência didática (Anexos)
- “Canção infantil” Cesar MC e parte. Cristal
- “Vozes- Mulheres” Conceição Evaristo

*Sequência didática de 9 aulas

Organização:

Aula 1 e 2: Introdução à Poesia Social Engajada e observação de elementos


extra textuais

Objetivos: Apresentar os conceitos de poesia social engajada, explorar os objetivos


e a importância desse gênero textual na sociedade. A partir do texto 1 e do debate
sobre a produção em questão (sem explicitar que o poema em questão se trata de
uma canção), serão evidenciados os temas, sentimentos e questões sociais
abordados no texto. Após isso, a partir do direcionamento do professor, os alunos
irão identificar elementos extratexto que compõem o poema e, através de uma
pesquisa na internet, registrar cada referência encontrada.

Esta aula focará em explorar habilidades de leitura e interpretação textual.

Aula 3 e 4: Retomada, conceito de poesia Social e análise linguística.

O professor irá construir com os alunos o conceito de poesia socialmente engajada


a partir dos elementos vistos na aula anterior e propor a análise linguística do texto
1, observando forma, métrica, se há ritmo, recursos linguísticos e os efeitos de
sentido que esses recursos possuem. Após isso, será iniciado o texto 2 e em duplas
ou trios os alunos responderão perguntas sobre as primeiras impressões, de que se
trata o texto, se há aspectos de poesia social no poema, o que o diferencia e
assemelha ao primeiro texto. Depois de finalizada essa atividade, o professor irá
escutar as respostas dos alunos, aproximar o contexto histórico social retratado por
ambas as produções e chamar a atenção para a identificação de diversidade étnica
encontrada nas produções, influência cultural e desigualdade. Ao final da aula os
alunos farão uma atividade de produção a partir de toda a discussão feita em sala
de aula, realizando em forma uma pequena ficha de leitura direcionada aos alunos
do 7º ano relatando como procedeu toda a análise linguística e formal do poema 2,
que características foram observadas, o contexto histórico, a síntese do poema e
uma avaliação pessoal.

Essa aula focará em explorar habilidades de leitura, análise linguística

5 e 6: Diversidade e variação linguística-Linguagem oral e linguagem padrão

Explorar o tema da diversidade e variação linguística a partir dos textos 1 e 2


desenvolvendo uma aula que analise como esses textos representam diferentes
variedades linguísticas, discutindo sobre as diferentes maneiras como as pessoas
falam em seu dia a dia. O professor irá pedir aos alunos para compartilharem
exemplos de variação linguística que encontram em suas interações diárias, depois
irá ler em voz alta partes dos textos 1 e 2 que contenham características de
variação linguística (dialetos, gírias, regionalismos…) explorar como essas
variações linguísticas contribuem para a compreensão dos personagens e do
contexto dos textos e como devem ser respeitadas todas as variações linguísticas,
contribuindo para uma sociedade livre de preconceitos.

7 e 8: Produzindo a própria poesia socialmente engajada

Os alunos colocarão em prática o que aprenderam acerca da poesia social e


em duplas ou trios produzirão um poema a respeito de um ou mais problemas
sociais que identificam na sociedade que será apresentado ao restante da sala em
forma de cartaz, vídeo ou áudio, em forma de paródia (encaixando a poesia em
alguma produção musical preexistente), os alunos podem também criar a própria
melodia musical ou apenas recitar o poema feito. Além da apresentação, os alunos
deverão entregar uma atividade escrita analisando linguísticamente o poema criado,
observando a linguagem empregada, elementos de oralização, forma e referências
extra-textuais.
Aula 9: Apresentações e encerramento da sequência didática

O professor fará uma breve revisão das aulas anteriores, destacando os


principais conceitos e temas que foram discutidos, como poesia socialmente
engajada, variação linguística, diversidade étnica. Após, os alunos apresentarão os
trabalhos realizados e farão a entrega da parte escrita.

Para concluir, o professor irá conduzir uma discussão após as


apresentações, incentivando os alunos a refletir sobre o que aprenderam, quais os
desafios encontrados na produção dos poemas, o que descobriram sobre os temas
escolhidos, como se sentem em relação à poesia socialmente engajada e seu
impacto na sociedade. Esta última aula não só permitirá que os alunos demonstrem
o que aprenderam, mas também os levará a refletir sobre a importância da poesia
socialmente engajada e como ela pode ser uma ferramenta para abordar questões
sociais. Além disso, fornece um espaço para que os alunos expressem suas vozes
e sejam ouvidos pela comunidade escolar.

ANEXOS:

TEXTO 1: “Canção infantil” Cesar MC e parte. Cristal

Era uma casa não muito engraçada Se o Mengão jogar, pode até parcelar

Por falta de afeto, não tinha nada Vai ter carne, cerveja, refri e carvão

Até tinha teto, piscina, arquiteto As moeda contada, a luz sempre cortada

Só não deu pra comprar aquilo que faltava Mas fé não faltava, tinham gratidão

Bem estruturada, às vezes lotada

Mas memo lotada, uma solidão Mas era tão perto do céu

Dizia o poeta, o que é feito de ego Mas era tão perto do céu

Na rua dos tolos gera frustração

Como era doce o sono ali

Yeah, havia outra casa, canto da quebrada (Como era doce o sono ali)

Sem rua asfaltada, fora do padrão Mesmo não tendo a melhor condição

Eternit furada, pequena, apertada (Mesmo não tendo a melhor condição)

Mas se for colar tem água pro feijão Todos podiam dormir ali
(Todos podiam dormir ali) Sem droga, flagrante, desgraça nenhuma

Mesmo só tendo um velho colchão A polícia engatilhou: Pá, pá, pá, pá

(Mesmo só tendo um velho colchão) Mas nenhum, nenhum deles voltaram de lá

Foram mais de cem disparos nesse conto sem


moral
Mas era feita com muito amor
Já nem sei se era mito essa história de lobo
Mas era feita com muito amor mau

A vida é uma canção infantil Diretamente do fundo do caos

É sério Procuro meu cais no mundo de cães

Pensa, viu? Humanos são maus, no fundo

Belas e feras, castelos e celas A maldade resulta da escolha que temos nas
mãos
Princesas, Pinóquios, mocinhos e
Uma canção infantil, à vera

Mas lamento, velho, aqui a bela não fica com


É, eu não sei se isso é bom ou mal a fera

Alguém me explica o que nesse mundo é real Também pudera, é cada um no seu espaço

O tiroteio na escola, a camisa no varal Sapatos de cristal pisam em pés descalços

O vilão que tá na história ou aquele do jornal

Diz por que descobertas são letais? A Rapunzel é linda sim, com os dreads no
terraço
Os monstros se tornaram literais
Mas se a lebre vim de Juliet,
Eu brincava de polícia e ladrão um tempo
atrás até a tartaruga aperta o passo

Hoje ninguém mais brinca Porque é sim tão difícil de explicar

Ficou realista demais

E na ciranda, cirandinha, a sirene vem me


enquadrar
As balas ficaram reais, perfurando a Eternit
Me mandando dar meia volta sem ao menos
Brincar nós ainda quer, mas o sangue melou o me explicar
pique
De Costa Barros a Guadalupe, um milhão de
O final do conto é triste quando o mal não vai enredos
embora
Como explicar para uma criança que a
O bicho papão existe, não ouse brincar lá fora, segurança dá medo?
pois
Como explicar que oitenta tiros foi engano?
Cinco meninos foram passear
Oitenta tiros, oitenta tiros, ah

Tá tudo do avesso, falhamos no berço

Carrossel de horrores, tudo te faz refém Nosso final feliz tem a ver com o começo

Motivos pra chorar, até a bailarina tem Somente o começo, somente o começo

O início já é o fim da trilha Pro plantio ser livre, a colheita é o preço

Até a Alice percebeu que não era uma A vida é uma canção infantil, veja você
maravilha mesmo

Somos Pinóquios plantando mentiras

Tem algo errado com o mundo E botando a culpa no Gepeto

Não tire os olhos da ampulheta Precisamos voltar pra casa

O ser humano, em resumo, é o câncer do


planeta
Onde era feita com muito amor
A sociedade é doentia e julga a cura careta
Onde era feita com muito amor
Deus escreve planos de paz, mas também
nos dá a caneta

E nós, nós escrevemos a vida, iphones, a (Mesmo só tendo um velho colchão)


fome, a seca
Mas era feita com muito amor
Os homi, os drone, a inveja e a mágoa
Mas era feita com muito amor
O dinheiro, a disputa, o sangue, o gatilho

Sucrilhos, mansões, condomínios e guetos

Texto 2: VOZES-MULHERES (CONCEIÇÃO EVARISTO)

A voz de minha bisavó ecoou


criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
No fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.

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