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Monit orament o de lagoas de est abilização no t rat ament o de chorume: at erro da Muribeca
Janet e Magali Araujo
Alt ernat ivas de disposição de resíduos sólidos urbanos para pequenas comunidades
Armando Borges de Cast ilhos
VI Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental
Endereço(1): Rua Xingu 11-65, Vila Brunhari - Bauru - SP - CEP: 17040-044 - Brasil - Tel: (14) 227-9965 - e-mail:
fhcintra@hotmail.com
RESUMO
O aterro sanitário, encontra-se instalado sobre o solo caracteristicamente arenoso da região, não apresentando
formas eficientes de impermeabilização. Desta forma, boa parte do chorume infiltra-se no solo, representando
um potencial grande em termos de contaminação de aquíferos. O presente estudo visa avaliar a qualidade
deste chorume, parcialmente drenado e conduzido a um tanque na extremidade de jusante do aterro. A
qualidade desse chorume será avaliada ao longo do período de 6 meses. Também será analisado o decaimento
da carga orgânica diária para as amostras coletadas, durante uma semana, com o objetivo de avaliar a
biodegradabilidade natural ao longo desse período. Serão efetuadas análises de DBO5, DQO e pH. Essas
análises também serão correlacionadas ao regime de chuvas e às atividades de disposição de lixo no aterro.
INTRODUÇÃO
Chorume pode ser definido como a fase líquida da massa de lixo aterrada, que percola através desta
removendo materiais dissolvidos ou suspensos.
As principais fontes de chorume correspondem a: (a) água que entra pela face superior; (b) à umidade presente
no lixo doméstico; e (c) à umidade de lodo, se adicionado. As principais saídas são: (a) água que deixa o
aterro como gases formados (água usada na formação dos gases); (b) vapor de água saturado como um dos
componentes dos gases do aterro; e (c) como chorume.
Pouco se conhece acerca da qualidade do chorume proveniente dos aterros sanitários existentes no Brasil. Na
realidade, muito poucos sistemas de disposição de lixo podem ser denominados como aterros sanitários,
prevalecendo absolutamente os conhecidos “lixões” ou quando muito, aterros controlados.
Este fato, aliado à falta de pesquisas mais profundas sobre o tema no Brasil, implica no desconhecimento das
características qualitativas médias do chorume advindo dos sistemas típicos de disposição de lixo doméstico
existentes. Características estas, associadas também com o tipo de lixo doméstico gerado no país, bastante
diferente daquele produzido em países do primeiro mundo, onde os sistemas e os estudos são mais
consistentes.
OBJETIVO
O presente estudo, tem como objetivo principal contribuir para um melhor conhecimento das características do
chorume gerado por um aterro controlado de uma cidade brasileira de médio porte.
ALTERAÇÕES DO CHORUME
Para mostrar a dependência da qualidade do chorume às variáveis operacionais e de projeto, Lu et al. (1981)
desenvolveram curvas mostrando mudanças na concentração com o aumento da idade do aterro, empregando
dados de vários outros aterros de diferentes idades. Os autores mostraram que as concentrações de vários
componentes do chorume variavam consideravelmente. A idade do aterro foi considerada o fator mais
relevante na composição do chorume.
Os tipos, quantidades e taxas de produção de contaminantes do chorume de resíduos sólidos domésticos, são
influenciadas por vários fatores, incluindo tipo e composição do lixo, densidade, seqüência de disposição,
profundidade, umidade, temperatura, tempo e pré-tratamento. A quantificação mais precisa desses parâmetros
e seu impacto, é complexa devido à heterogeneidade do lixo encontrado nos aterros. Os mecanismos e o
alcance desses contaminantes liberados, assim como suas concentrações, não são de fácil previsão. Portanto é
de extrema importância a aquisição e análise de dados de diferentes aterros, para que tais experiências possam
ser aplicadas a novas situações.
Todavia, existem certas tendências para os níveis de concentração de contaminantes do chorume ao longo do
tempo. Lu et al. (1985) efetuaram uma revisão extensa de pesquisas que abordavam a produção do chorume e
respectivas concentrações de contaminantes. Os autores combinaram dados obtidos desses estudos, que
resultaram em curvas similares às da Figura 1, para DBO5, ferro(Fe), cloro(Cl), e nitrogênio amoniacal (N-
NH3).
Porém, as concentrações dos diversos componentes não se alteram com a mesma taxa para diferentes lugares,
pois o tempo é apenas um dos fatores relevantes (o outro é a infiltração). Uma alternativa é utilizar o fluxo de
entrada de umidade como a variável preponderante. Determinando-se as infiltrações de água, através de um
modelo de balanço hídrico, é possível estimar a concentração dos contaminantes. Uma vez que as infiltrações
transformam-se no chorume pela lixiviação, as concentrações desses compostos diminuem com o tempo.
Além disso um aterro é composto por múltiplas células em diferentes estágios de degradação, o uso dessas
curvas deve levar em conta que para cada célula seja considerado o tempo a partir do momento em que a
mesma foi preenchida.
METODOLOGIA
As amostragens foram efetuadas da seguinte forma: (a) no tanque de acumulação e sucção foram coletadas as
amostras de chorume através do acionamento da bomba de recirculação, (b) essas amostras foram
encaminhadas para o Laboratório de Análises de Águas Residuárias do convênio DAE-FE/UNESP, (c) em
seguida foram efetuadas as determinações dos parâmetros pertinentes.
O chorume coletado foi avaliado semanalmente em termos de DBO5, DQO e pH no período de 6 meses. Para
algumas amostras também foram determinadas as respectivas condutividades elétricas. Em todas as coletas,
foram anotadas as condições operacionais do aterro e os parâmetros climatológicos: temperatura e
precipitação pluviométrica.
As análises de DQO e pH e a DBO5 foram efetuadas, através dos equipamentos mostrados na Figura 8, do
Laboratório de Análises de Águas Residuárias do convênio UNESP-DAE e no Laboratório do Grupo de
Estudos de Resíduos Sólidos da UNESP de Bauru, instalados no Campus de Bauru, junto à Faculdade de
Engenharia.
RESULTADOS
Na Tabela 1 são apresentados os resultados das análises efetuadas com as amostras de chorume coletadas nos
diversos dias do período proposto.
Tabela 1: Análises efetuadas com o chorume do aterro controlado de Bauru, no período de julho a
dezembro de 2000
Data da Data da Temperatura Relação Condutividade
pH DBO5 (mg/l) DQO (mg/l)
Coleta Análise (ºC) DBO5/DQO (us)
19/jul 19/jul -- -- 1.400 3.940 0,36 --
19/jul 26/jul -- -- 1.050 4.860 0,22 --
26/jul 26/jul -- -- 1.210 5.730 0,21 --
10/ago 10/ago -- 7,1 1.116 4.920 0,23 20.700
22/set 22/set 21,3 7,6 5.400 9.800 0,55 14.500
29/set 29/set 23,2 6,7 9.020 20.580 0,44 14.080
06/out 06/out 23,4 6,9 15.080 29.920 0,50 13.250
06/out 13/out 22,3 6,5 18.320 29.600 0,62 12.400
27/out 27/out 26,3 6,1 14.840 29.960 0,50 9.770
17/nov 17/nov 22,6 7,6 4.080 6.920 0,59 8.350
24/nov 24/nov 26,2 7,5 2.800 4.840 0,58 5.030
29/nov 30/nov 20,3 7,3 5.640 8.060 0,70 5.200
08/dez 08/dez 25,8 7,7 8.480 14.880 0,57 6.720
14/dez 15/dez 23,9 7,7 4.560 8.860 0,51 5.420
Em linhas gerais, os parâmetros analisados sofreram uma variação significativa ao longo do período.
Para as amostragens de chorume efetuados no período de 19/07 a 14/12 a DBO5 variou de 1.050 mg/l a
18.320 mg/l, como mostrado na Figura 4. Portanto, houve uma variação expressiva da DBO5, acima de
1000%, ao longo do período e estas estiveram correlacionadas aos índices pluviométricos.
Da mesma forma a DQO sofreu uma grande variação no mesmo período, com valores entre 3.940 mg/l e
29.920 mg/l, como mostrado na Figura 5. Portanto também houve uma variação expressiva da DQO, acima de
500%, ao longo do tempo.
Outro dado relevante foi a queda do pH como resultado dos período de entrada das chuvas mais intensas,
como mostrado na Figura 3. A redução dos valores de pH pode ser também correlacionada com o aumento da
DBO5 e da DQO.
Nessas análises, como mostrado na Tabela 1, verificou-se que a variação da qualidade do chorume é muito
grande ao longo do ano, sendo dependente fundamentalmente das chuvas e da posição da frente de disposição,
nas proximidades do tanque de coleta. Além disso os sistemas de contenção e de drenagem do aterro são
muito precários, permitindo a infiltração do chorume no solo.
A qualidade do chorume nos meses de julho e agosto, manteve-se bastante uniforme, o que permite concluir
que o mesmo resulta de sua estagnação ao longo dos meses de estiagem, atingindo relações DBO5/DQO
menores que 0,3, típicos de aterros antigos.
A estabilidade dos parâmetros DBO5 e DQO nesse período não é propriamente representativa de uma massa
nova de lixo, cujo chorume apresenta elevada concentração de material biodegradável.
Contudo com a chegada das chuvas nos meses de setembro e outubro, o sistema de drenagem passou a
capturar o chorume advindo da frente de disposição, que na época encontrava-se próximo ao poço de
recalque, na parte frontal do aterro, o que elevou significativamente os valores de DBO5, DQO e também a
relação DBO5/DQO.
Após essa elevação os valores de DBO5 e DQO reduziram-se gradativamente, como resultado da intensa
lixiviação ocorrida no início do período de chuvas e o pH se elevou concomitantemente.
80,0
70,0
60,0
50,0
mm de chuva
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
10-nov
17-nov
24-nov
3-nov
13-out
20-out
27-out
30-jun
1-set
8-set
15-set
22-set
29-set
6-out
14-jul
21-jul
28-jul
7-jul
11-ago
18-ago
25-ago
4-ago
1-dez
8-dez
15-dez
22-dez
29-dez
dias
10000
12000
14000
16000
18000
20000
2000
4000
6000
8000
4,5
5,5
6,5
7,5
0
8
30/06/00 30/06/00
07/07/00 07/07/00
14/07/00 14/07/00
21/07/00 21/07/00
28/07/00 28/07/00
04/08/00 04/08/00
11/08/00 11/08/00
18/08/00 18/08/00
25/08/00 25/08/00
01/09/00 01/09/00
08/09/00
08/09/00
15/09/00
15/09/00
22/09/00
22/09/00
dias
29/09/00
dias
29/09/00
06/10/00
06/10/00
13/10/00
13/10/00
20/10/00
20/10/00
27/10/00
27/10/00
03/11/00
03/11/00
10/11/00
10/11/00
17/11/00
17/11/00
24/11/00
24/11/00
01/12/00
01/12/00
08/12/00
08/12/00 15/12/00
15/12/00 22/12/00
22/12/00 29/12/00
29/12/00
5
DBO/DQO
30
DQO (mg/l)
/0
6/
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
00
07
/0
7/
0
5000
10000
15000
20000
25000
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35000
00
14
/0 30/06/00
7/
00
21
/0 07/07/00
7/
00
28
/0
7/
14/07/00
00
04
/0
8/
21/07/00
00
11
/0
8/
28/07/00
00
18
/0 04/08/00
8/
00
25 11/08/00
/0
8/
00
01 18/08/00
/0
9/
00
08
/0 25/08/00
9/
00
15
/0
01/09/00
9/
00
22
/0
08/09/00
9/
00
29 15/09/00
/0
Figura 5: Dados da DQO no período de 30/06 a 30/12
9/
00
06 22/09/00
/1
dias
0/
00
13 29/09/00
dias
/1
0/
00 06/10/00
20
/1
0/
00 13/10/00
27
/1
1/
24
00 10/11/00
/1
1/
00 17/11/00
01
/1
2/
00 24/11/00
08
/1
2/ 01/12/00
00
15
/1
2/
00 08/12/00
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/1
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00 15/12/00
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/1
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00 22/12/00
29/12/00
6
VI Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental
CONCLUSÕES
Os resultados mostraram variações da DBO5 de 1.050 mg/l a 18.320 mg/l, da DQO de 3.940 mg/l a 29.960
mg/l, do pH entre 6,1 e 7,7, e condutividade entre 5.030 e 20.700 µS, que estiveram estreitamente
relacionados com a variação do índice pluviométrico ao decorrer dos seis meses de estudo
O presente estudo sobre o chorume gerado no aterro sanitário, mostrou que a qualidade não depende somente
da vida útil do aterro, mas de eventos e atividades operacionais do aterro, tais como precipitação
pluviométrica e localização frente de descarga. Depende também da fatores como eficiência do sistema de
drenagem e da qualidade da impermeabilização da base.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Design. Prentice Hall, Inc. p. 521, ISBN 0-13-079187-3.
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