Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O Inusitado é Atraente:
O Prêmio Ig Nobel enquanto Estratégia de Divulgação Científica
Rio de Janeiro
2022
Maurício Marques Soares Filho
O Inusitado é Atraente:
O Prêmio Ig Nobel enquanto Estratégia de Divulgação Científica
Rio de Janeiro
2022
Biblioteca de Educaçao e Divulgaçao Científica Iloni Seibel
Bibliografia: f. 104-110.
Elaborado pelo Sistema para Geração automática de ficha catalográfica para cursos de Pós-graduação da Casa de Oswaldo Cruz,
sob a responsabilidade de Beatriz Schwenck - CRB-7/5142.
Maurício Marques Soares Filho
O Inusitado é Atraente:
O Prêmio Ig Nobel enquanto Estratégia de Divulgação Científica
Banca Examinadora
________________________________________________________
Diego Vaz Bevilaqua, Doutor, Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz
________________________________________________________
Josina Oliveira do Nascimento, Doutora, Observatório Nacional - ON
O presente trabalho é dedicado à
memória de Loloano Claudionor da
Silva, colega de formação, militante
engajado politicamente por uma
realidade melhor para o povo, um
excelente divulgador e popularizador
da ciência, cuja carreira certamente
seria ainda mais prolífica se não nos
tivesse deixado tão cedo...
AGRADECIMENTOS
The theme and object of this monograph is the Ig Nobel Prize. This award rewards
“achievements that make people laugh and then think”: it is given to scientific
research considered by the academic community to be “unusual”, prioritizing the
power of imagination and inevitably drawing people's interest to science and
technology. It is given annually in September, at a ceremony at Harvard College, in
the USA, where many true Nobel laureates play the role of masters of ceremonies –
the event is open to 1100 guests and is broadcast over the internet. The Ig Nobel is
currently the responsibility of the Annals of Improbable Research, edited by
Improbable Research, Inc., which was first published in the USA in 1995 and aimed
at conveying “unusual facts” and scientific humor. The first awards ceremony took
place in 1991 and continues annually to this day without interruption. The research
question or problem is whether the aforementioned award can be considered or can
become, for which audiences and under what circumstances, a means of
disseminating and popularizing science. One of the reasons why this theme was
chosen as a monograph proposal for the Specialization Course in Dissemination and
Popularization of Science is the apparent paradox that is the dissemination of this
award in Brazil: few outside the scientific community have access to the details of the
Ig Nobel and, as far as scientists and academics are concerned, it is eminently an
“inside joke”. Is it possible to do better than that? Can we use this material to actually
make more people laugh and then think? Articles submitted for selection by
Improbable Research, Inc. for the Ig Nobel come from real scientific research – they
are “genuine science”: they apply the scientific method, present methodological and
bibliographic references, were published following the same procedural rules as any
other research. The trivial, as well as the unusual, have always had the potential to
trigger relevant scientific discoveries, results that are continually assimilated to
everyday events and demands, to the so-called "normal life". The award emphasizes
the imagination and originality essential when doing science. As a way to prove the
relevance of the Ig Nobel prize, we propose the project of a didactic workshop for
teachers, where scientific dissemination texts based on Ig Nobel winning articles, to
be used in the classroom, can be developed.
1 Introdução ................................................................................................................ 13
2 O Prêmio Ig Nobel .................................................................................................. 16
2.1 História do Prêmio Ig Nobel ......................................................................... 16
2.2 Alguns Estudos Bibliométricos do Prêmio Ig Nobel ............................. 17
2.2.1 Quem são os Premiados do Ig Nobel e Pelo Quê? ..................................... 18
2.2.2 Qual é o Papel do Humor na Promoção da Ciência? ................................. 21
2.2.3 Análise de Tópicos no Prêmio Ig Nobel através de Machine Learning . 23
2.2.4 Como as Organizações de Pesquisa Respondem ao Recebimento do
Prêmio Ig Nobel? ............................................................................................................ 25
2.3 Apresentação dos Artigos a Serem Estudados ...................................... 28
2.4 Breve Análise de Matérias Jornalísticas .................................................. 35
2.4.1 Jornalismo: Notícias e Linguagem .................................................................. 35
2.4.2 Como o Prêmio Ig Nobel é apresentado pela Superinteressante? ......... 37
3 Sobre a Divulgação Científica e Outros Termos ............................................ 40
3.1 Conceitos de Divulgação Científica e sua Crítica .................................. 40
3.2 DC enquanto Gênero de Discurso ............................................................. 45
3.3 Breve Revisão sobre Nomenclatura .......................................................... 49
3.3.1 Vulgarização da Ciência ..................................................................................... 49
3.3.2 Alfabetização Científica ...................................................................................... 50
3.3.3 Divulgação Científica .......................................................................................... 51
3.3.4 Popularização da Ciência ................................................................................... 52
3.4 Uso de Textos de DC como Estratégia Didática: Breves
Apontamentos ........................................................................................................ 53
3.5 Uma Reflexão sobre a História das Ciências .......................................... 55
4 Teorias da Motivação ............................................................................................ 61
4.1 Motivação Intrínseca e Extrínseca ............................................................. 62
4.2 Teoria de Metas de Realização .................................................................... 65
4.3 Autoeficácia ...................................................................................................... 66
4.4 Do Ambiente Escolar e do Mundo Interior do Estudante .................... 67
5 Oficinas de Formação Inicial e Continuada .................................................... 72
5.1 A Formação Continuada de Professores.................................................. 72
5.2 Oficinas: O que é? Como se faz? ............................................................... 79
5.3 Ensino Colaborativo ....................................................................................... 85
5.4 Parcerias entre Museus e Instituições de Ensino Superior na
Formação de Professores ................................................................................... 89
6 Proposta de Produto: Oficina ............................................................................. 92
6.1 Uso de Artigos Acadêmicos na Alfabetização Científica ..................... 93
6.2 A Motivação do Participante Reflete-se na do Futuro Aluno .............. 95
6.3 O Trabalho num Grupo Heterogêneo ........................................................ 97
6.4 Desenho da Oficina “O Método Científico através do Ig Nobel” ....... 98
7 Conclusão .............................................................................................................. 102
Bibliografia ................................................................................................................ 104
13
1 Introdução
Todos nós temos temas ou assuntos que nos intrigam, que nos fazem
pensar sobre os limites do que conhecemos ou duvidar das “verdades
estabelecidas” de nossas tão breves vidas. E se nós tivermos sorte,
enfrentaremos muitos desses desafios ao longo de nossa existência: eles nos
permitem pensar de uma maneira não habitual, ensejam a reflexão e talvez o
debate e, quem sabe, crescimento pessoal e profissional.
Foi em 2006, durante o meu bacharelado em Física, por ocasião da VI
Escola do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (um evento bianual de duas
semanas onde há palestras e cursos para graduandos e pós-graduandos, e
que dá a oportunidade de estudantes de Física e afins se conhecerem e
criarem uma rede de contatos - e amizades, com um pouco mais de esforço)
que ouvi falar pela primeira vez no Prêmio Ig Nobel, e automaticamente percebi
que seria, para mim, um desses tópicos desafiadores que citei no primeiro
parágrafo.
Lembro ter rido muito, eu e meus amigos, com a lista de artigos
ganhadores do Ig Nobel até aquele ano: era de fato surpreendente que tais
temáticas tivessem sido motivo de publicação, eu pensava. “Como um prêmio
para ciência ‘de brincadeira’, ‘inútil’?” – essa foi, não duvido minha primeira
indagação. Minha pergunta não podia estar num caminho mais equivocado.
Eu estava apenas no segundo ano da graduação, e confesso que
pensar sobre a natureza da ciência ainda não tinha se tornado hábito ainda
para mim. Em breve descobri que nenhuma pergunta é “inútil” em termos
científicos, tudo pode colaborar para uma nova descoberta, que vai ensejar
uma nova teoria ou fazer ruir outra, nesse eterno devir que é a ciência – tanto é
que se atribuiu até um nome para esses esforços que não são imediatamente
voltados à produtos: ciência pura (que por incrível que pareça costumam gerar
produtos incríveis a longo prazo e expandir as fronteiras teóricas e
experimentais conhecidas até então). Outro elemento que eu subestimada
nesta história era a “brincadeira”: a produção científica tem muito de ludicidade
(afinal, se fosse uma atividade excruciante ninguém toparia fazer), há um
prazer intelectual enorme no processo da descoberta – e o lúdico também é
necessário na empreitada da docência (ao se criar um meio efetivo de se
14
2 O Prêmio Ig Nobel
são organizações. A cada ano o número de prêmios por tema concedidos varia
de 9 a 13, e os campos abrangidos podem variar, mas usualmente vão para
Química, Medicina e Física (25 anos cada). Os prêmios pela paz, que são os
próximos mais comuns, foram dados em 23 anos do período estudado,
seguidos por Biologia (21 anos), Literatura (21 anos) e Economia (20 anos).
Em quase metade do período houve prêmios em Psicologia (12 anos) e Saúde
Pública (10 anos), sendo menos comuns prêmios em matemática (7 anos),
nutrição (6 anos), engenharia (5 anos) e arte (3 anos). Dez categorias
adicionais foram oferecidas em dois anos ao todo e 29 categorias foram
oferecidas exclusivamente por apenas um ano.
Utilizando o agrupamento disciplinar usual proposto pela Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para os campos de
ciência e tecnologia, constata-se que 38% do total de premiações vão para as
ciências naturais, 20% são concedidos a área de medicina e saúde (cujo
aumento em período mais recente foi a maior mudança do prêmio ao longo dos
anos), 16% destinam-se às ciências sociais, 11% são designados para as
humanidades, 20% para reconhecer “esforços pela paz” e 18% são dados a
estudos na área de engenharia e tecnologia. Chegamos aqui a uma conclusão
dos autores citados em epígrafe que é interessante para este trabalho: a
maioria dos prêmios, embora não todos, são para trabalhos acadêmicos – 74%
fazem referência a um artigo acadêmico, enquanto o restante se refere a
artigos de notícias (9%), livros (7%), patentes (5%), relatórios (3%) ou outros
documentos (e.g., artefatos, relatórios, teses, filmes, mandatos ou software).
Artigos científicos estão tomando cada vez mais o protagonismo do prêmio Ig
Nobel: entre 1991 e 1999, foram 60% dos premiados; entre 2000 e 2007, 71%;
entre 2008 e 2015, 88% dos prêmios faziam referência a artigos científicos.
20
9%
74%
Figura 1: Gráfico que mostra os trabalhos que foram fontes do Prêmio Ig Nobel ao longo dos
anos. Fonte: os autores (2022).
pesquisa ou a uma entidade. Dos 267 prêmios, 158 foram associados a pelo
menos uma publicação acadêmica: os autores não vêm essa informação com
surpresa, dado o fato de que alguns prêmios são selecionados puramente com
base em sua natureza humorística, e não em suas contribuições acadêmicas.
Desses 158 prêmios, foram identificadas 188 publicações acadêmicas únicas.
Com o fito de delinear subáreas científicas, os autores restringem sua amostra
a 108 publicações indexadas pelo PubMed, sendo o número médio de artigos
dentro de cada subárea cerca de 90 – em seguida compararam os artigos
selecionados com os marcadores da Web of Science e recuperaram suas
informações de citação.
A parte seguinte do estudo empreendido pelos autores foi analisar a taxa
de publicações, verificando quem contribui e de onde vem a pesquisa de alto
impacto nas subáreas em momentos anteriores e posteriores à concessão do
prêmio Ig Nobel – de maneira mais atenta, rastrearam as atividades de
publicação dos vencedores do prêmio Ig Nobel e seus colaboradores
comparadas com as de não-colaboradores, e mediram as contribuições e
impactos relativos de colaboradores e não-colaboradores com base em número
de citações. O fato de o prêmio Ig Nobel ser multidisciplinar e já contar com
uma longa duração permitiu levantar as diferenças na dinâmica entre as áreas
ao longo do tempo. Por fim, os autores demonstram a robustez de seu conjunto
de dados comparando-os com uma amostra correspondente (de áreas com
características semelhantes) mas de não agraciados com o prêmio Ig Nobel.
Concluindo, os autores asseveram que, ao observar o impacto dos
prêmios Ig Nobel em subáreas das ciências, eles foram capazes de “capturar a
microdinâmica da evolução científica”: os resultados alcançados teriam
implicações em políticas públicas ao fornecer mais diversas opções em
potencial para influenciar o rumo das áreas da ciência através de prêmios e
incentivos – principalmente, os resultados indicam que incentivos não
materiais, mas que proveem os cientistas de atenção pública e dinamizam sua
influência, como é o caso do Ig Nobel, podem ser tão efetivos quanto incentivos
materiais no que se refere ao incentivo à produção científica.
23
1
No processamento de linguagem natural, a Alocação Latente de Dirichlet (LDA) é um modelo
estatístico generativo. Ele permite que conjuntos de observações sejam explicados por
variáveis latentes que explicam por que algumas partes dos dados são semelhantes. Por
exemplo, se as observações são palavras coletadas em documentos, ele postula que cada
documento é uma mistura de um pequeno número de tópicos e que a presença de cada
palavra é atribuível a um dos tópicos do documento. O LDA é um exemplo de modelo de
tópicos e pertence às ferramentas principais do campo do aprendizado de máquinas e, em
sentido mais amplo, às ferramentas de inteligência artificial. (disponível em
https://pt.wikipedia.org/wiki/Aloca%C3%A7%C3%A3o_latente_de_Dirichlet, acessado em
12/09/2021).
24
dois níveis do LDA o torna superior a outros modelos, como Latent Semantic
Indexing (LSI) ou Probabilistic Latent Semantic Indexing (PLSI). A suposição
por trás dos modelos de tópicos de LDA é que os documentos são uma mistura
de tópicos; o algoritmo busca detectar esses tópicos latentes subjacentes em
uma coleção de documentos: o tópico é percebido como uma distribuição sobre
um vocabulário de palavras.
O estudo apresentado na Annual Conference on Science and Innovation
Policy de 2017 foi uma análise baseada em textos de apresentação e
homenagem, coletados no próprio site do Ig Nobel
(http://www.improbable.com/ig/winners/), de 262 artigos vencedores, no período
entre 1991 e 2016. Como diz a autora, palavras são consideradas como um
proxy que descreve os tópicos emergentes do conjunto de dados. Dez tópicos
de 35 foram selecionados para fins de demonstração. Por exemplo, “tópico 1 é
sobre casca de banana”, “tópico 3 é sobre métodos de captura de
sequestradores de avião”, “tópico 4 descreve um despertador provavelmente
feito de wasabi”, “tópico 9 aparece como a relação entre besouros de esterco e
a Via Láctea!" (a triagem manual do documento associado ao tópico 9 mostra
que o artigo era sobre besouros de esterco perdidos que podem encontrar o
caminho certo usando a Via Láctea). Os tópicos 19, 32 e 21 são tópicos mais
gerais sobre economia, vida e drogas ilegais. O tópico 17 representa uma
relação entre a roupa íntima do marido e a infidelidade. A palavra “fisherman”
também está neste tópico, refletindo a relação semântica entre “marido” e
“homem”. Isso sugere que documentos que discutem personagens masculinos
podem estar associados a este tópico. Em resumo, diz a autora, os tópicos
sugerem um papel distinto para dimensões de conteúdo da vida cotidiana,
como comportamento animal, comportamento ilegal/de risco e atividades de
vida e morte na pesquisa homenageada no site do Ig Nobel.
A autora reconhece as limitações desse experimento de pesquisa: o
resultado apresentado é aquele de um estudo sobre um pequeno conjunto de
dados tomados de predicados contidos nos textos oficiais sobre os vencedores
do prêmio Ig Nobel disponíveis no site da premiação, que são, ademais,
constituídos de frases muito curtas. Mesmo assim, esse experimento sobre um
pequeno conjunto de dados mostra tópicos promissores e interpretáveis (como
visto no parágrafo anterior) e demonstra ser possível remover o fardo da
25
2. Campeão de 2012:
“Shape of a Ponytail and the Statistical Physics of Hair Fiber Bundles”,
de autoria de Raymond E. Goldstein, Patrick B. Warren, e Robin C. Ball,
e “Ponytail Motion” de autoria de Joseph B. Keller.
O prêmio de 2012, que foi dividido entre dois artigos, foi dado pelo
cálculo do equilíbrio de forças que moldam e movem o cabelo em um
rabo de cavalo humano. O primeiro artigo desenvolve uma teoria geral
de meios contínuos para a distribuição dos fios de cabelo em um feixe,
que é usada para se propor uma “equação de estado” para um rabo de
cavalo e, a partir disso, identifica-se o equilíbrio de forças em várias
regiões do sistema. O segundo artigo mostra que o movimento
horizontal não intencional do rabo de cavalo de um corredor se dá
porque seu movimento vertical (que acompanha o da cabeça da pessoa)
é instável e sujeito a perturbações laterais.
O primeiro artigo tem acesso pago, já o segundo apresenta
acesso livre. O “grau de inusitabilidade” de ambos é alto, uma vez que
os problemas propostos, bem como as modelagens feitas a partir deles,
são extremamente não imediatos e praticamente desconhecidos até sua
proposição. O conteúdo dos artigos tem nível de complexidade alto,
sendo usadas relações matemáticas mais comumente conhecidas por
estudantes de física dos dois últimos anos da graduação.
3. Campeão de 2013:
“Humans Running in Place on Water at Simulated Reduced Gravity”, de
autoria de Alberto E. Minetti, Yuri P. Ivanenko, Germana Cappellini,
Nadia Dominici e Francesco Lacquaniti.
30
4. Campeão de 2014:
“Frictional Coefficient under Banana Skin”, de autoria de Kiyoshi
Mabuchi, Kensei Tanaka, Daichi Uchijima e Rina Sakai.
O prêmio de 2014 foi dado aos cientistas listados por medirem a
quantidade de atrito entre um sapato e uma casca de banana, e entre
uma casca de banana e o chão, quando uma pessoa pisa em uma
casca de banana que está no chão. Chegou-se à conclusão que o
coeficiente de atrito entre a casca de banana e o chão é similar ao de
superfícies bem lubrificadas, e estimou-se, por observação
microscópica, que o gel folicular polissacarídeo exerce papel dominante
no efeito lubrificante da casca de banana após o esmagamento pela
pisada.
O artigo é de acesso livre. Seu “grau de inusitabilidade” é
mediano, pois é da sabedoria popular que não se deve pisar em casca
de banana sob o perigo de escorregar e cair, somente ninguém havia se
31
5. Campeão de 2015:
“Duration of Urination Does Not Change With Body Size”, de autoria de
Patricia J. Yang, Jonathan Pham, Jerome Choo, e David L. Hu.
O prêmio do ano de 2015 foi dado à equipe de profissionais que
testou o princípio biológico de que quase todos os mamíferos esvaziam
a bexiga em cerca de 21 segundos (com um desvio padrão de 13
segundos). Com a justificativa de que muitos estudos urológicos se
baseiam em modelos animais (como ratos ou porcos), mas que sua
relação com o sistema urinário humano é mal compreendida, os autores
elucidam a hidrodinâmica da micção em cinco ordens de magnitude de
massa corporal. Para tanto, usaram gravações em vídeo de alta
velocidade para medir a taxa de fluxo obtida nos mamíferos do zoológico
de Atlanta. Os autores esperam que estes resultados possam ser
usados para ajudar no diagnóstico de problemas urinários em animais, e
em projetos de sistemas hidrodinâmicos escaláveis baseados na
natureza.
O artigo é de acesso aberto. Seu “grau de inusitabilidade” é
mediano: problemas em modelar a realidade biológica humana a partir
de animais tidos como compatíveis ocorrem frequentemente, mas a
extensão do estudo do artigo e suas pretensões são novidade. O
trabalho possui considerações de caráter matemático que devem ser
familiares para alunos de nível superior em física nos seus dois
primeiros anos de estudo.
6. Campeão de 2016:
“An Unexpected Advantage of Whiteness in Horses: The Most Horsefly-
Proof Horse Has a Depolarizing White Coat”, de autoria de Gábor
Horváth, Miklós Blahó, György Kriska, Ramón Hegedüs, Balázs Gerics,
Róbert Farkas e Susanne Åkesson, e “Ecological Traps for Dragonflies
in a Cemetery: The Attraction of Sympetrum Species (Odonata:
32
7. Campeão de 2017:
“On the Rheology of Cats”, de autoria de Marc-Antoine Fardin.
O prêmio de 2017 foi dado ao pesquisador que usou a dinâmica
de fluidos para sondar a pergunta “um gato pode ser sólido e líquido?”.
O artigo é evidentemente uma brincadeira acadêmica que foi publicada
em homenagem a um colega pesquisador.
O artigo é de acesso livre. Seu “grau de inusitabilidade” é
evidentemente alto, embora tutores de gatos domésticos conheçam
suas propriedades entre o sólido e o líquido. O texto do trabalho
apresenta conceitos simples de mecânica dos fluidos e desenho de
experimento, sendo apropriado para a leitura e compreensão de
estudantes do EM.
8. Campeão de 2018:
Infelizmente não houve premiação na área de física no ano de 2018.
9. Campeão de 2019:
“How Do Wombats Make Cubed Poo?”, de autoria de Patricia J. Yang,
Miles Chan, Scott Carver, e David L. Hu, e “Intestines of Non-Uniform
Stiffness Mold the Corners of Wombat Feces”, cujos autores são Patricia
J. Yang, Alexander B. Lee, Miles Chan, Michael Kowalski, Kelly Qiu,
Christopher Waid, Gabriel Cervantes Benjamin Magondu, Morgan
Biagioni, Larry Vogelnest, Alynn Martin, Ashley Edwards, Scott Carver, e
David L. Hu.
O prêmio de 2019 foi dado a uma equipe de pesquisadores que
investiram seu tempo estudando como e por que wombats fazem cocô
em forma de cubo. O primeiro trabalho não foi publicado na íntegra, até
onde se sabe, sendo apenas apresentado numa reunião anual de
dinâmica dos fluidos. O segundo artigo tratou de estudar como o
intestino mole do wombat (um marsupial australiano fossorial, herbívoro)
esculpe fezes achatadas e de cantos agudos: foi feito um estudo
34
Podemos ver que o conteúdo informacional de uma notícia vai além de juntar
2
“Além de informar, os relatos das notícias confirmam a confiança de quem ouve em quem
fala, legitimam papéis, realizam outros atos simultâneos desencadeados por efeitos de sentido
não necessariamente linguísticos” (MOTTA, 2006, p. 12). A despeito de não ser um tópico
deste trabalho, devemos perceber como a mídia precisa, para se justificar como fonte viável de
informação e manter um público cativo, legitimar constantemente suas posições pelo próprio
discurso: nele pessoas e instituições vão parecer como “boas” ou “más”, “úteis” ou “inúteis”,
“relevantes” ou “irrelevantes”, “feias” ou “bonitas”, “certas” ou “erradas”, e o discurso de
amanhã precisa reiterar essa posição ou justificar sua mudança, sempre marcando um espírito
de “isenção”, “serenidade” e “competência”, para que o pacto convencional, tácito entre
interlocutores (emissor e receptor, jornalista e leitor) que deve ser pautado pela relevância,
clareza, concisão e precisão não seja rompido.
37
(Idem, p. 311), isso não nos força a levantar uma crítica a uma “lógica contábil”
da DC (que promoveria uma cisão entre o conteúdo do conhecimento
produzido e a maneira como é retratado na divulgação)?
É de se concordar que o sentido do “prestar contas” pode variar
conforme a visão pessoal do profissional de ciências do seu próprio trabalho e
as condições dadas pelos veículos de informação que promovem a divulgação
científica como pauta, indo desde a apresentação das vantagens e
desvantagens de dado produto tecnológico a uma “narrativa ‘épica’ de uma
busca intelectual sem qualquer aplicação prática imediata” (Idem, p. 311), e daí
infere-se que a DC seria imiscuída de razões político-sociais, que
eventualmente definiriam o futuro (sucesso ou fracasso) de projetos e linhas de
pesquisa. O temor exposto nos autores Massola, Crochík e Svartman (2015, p.
312) é que, sendo a “sociedade” (que podemos entender como a grande
maioria leiga) o fórum de ajuizamento da atividade científica, privilegiar-se-ia
uma “ciência de resultados” (embora os autores mesmos admitam que já
testemunharam o oposto). É da opinião do autor desta monografia, diante de
depoimentos de diversos divulgadores da ciência (inclusive de José Reis, cujo
testemunho abre este capítulo), que o profissional de ciências precisa (para o
bem do tema de seu próprio ofício e para, sempre, contribuir com o letramento
científico da sociedade) saber falar de seu próprio trabalho em termos
inteligíveis, ou ao menos apreensíveis, a um leigo (que pode ser tanto um
jovem estudante quanto um capaz pesquisador de outra área do conhecimento,
além de, claro, um jornalista interessado) – isso é divulgar ciência e mesmo
“prestar contas” do investimento social inerente ao fazer ciência no Brasil: se
essa cobrança acontecer a nível pessoal ou institucional local, não deve ser
possível vê-la como algo negativo (prejudicial à pluralidade das linhas de
trabalho científicas e ao investimento nelas) per se, mas compreende-se o
problema quando se imagina que o “prestar contas” seja exigido, em termos
generalistas, por veículos de formação de opinião (não somente associados ao
jornalismo, mas, por exemplo, a conselhos que meçam a produção nas
universidades) numa sociedade de baixíssimo letramento científico.
Ainda de acordo com Massola, Crochík e Svartman (2015, p. 312)
levanta-se a hipótese da incompatibilidade intrínseca entre a imagem criada do
conhecimento no âmbito da divulgação científica e o caráter dilacerador de
44
não serão respondidas, mesmo porque elas servem mais como ferramentas de
reflexão do que como conceitos fechados) e simultaneamente vamos pensar o
tema desta monografia de maneira crítica.
Gavroglu (2007) contrapõe duas percepções de Ciência, um “ontem e
hoje” cuja diferença podemos remeter à construção moderna da disciplina de
História das Ciências. No passado, a Ciência era pensada como puramente
objetiva, independente dos fatores que consideramos mundanos,
eminentemente humanos; na modernidade, há a percepção que as Ciências
são produto de interações intelectual, mas também social, cultural, ideológica,
filosófica, ontologicamente orientadas. Os premiados pelo Ig Nobel
representariam qual versão de Ciência? Uma arte intelectual levada ao extremo
e que visa à satisfação por sua própria prática, imaculada e mesmo
independente de resultados, ou se localizaria mais como uma contestação dos
quadros sociais e ideológicos vigentes, das relações de poder dentro dos
ambientes, múltiplos e hierarquizados, onde o ofício do cientista se desenrola?
É sem surpresa que este trabalho defende a última versão como a mais
realista, que, portanto, concorda com a visão atual que a História das Ciências
tem da prática científica: é possível acrescentar que o caráter lúdico (que é um
conceito que transcende a mera diversão, e está associado também ao prazer,
inclusive o intelectual, e a valores da vida de jovens e adultos) dos artigos
premiados, indubitavelmente proposital, são um elemento de metalinguagem,
oferecem uma pintura surrealista que ironiza o “fazer ciência em busca de
(grandes) resultados”.
Há que se perceber a complexidade das relações entre as esferas
pessoais e profissionais do cientista, e entendo como trabalho da História das
Ciências ressaltar esse nexo significativo: sob esse prisma, a disciplina não
deve tomar critérios absolutos de julgamento – homens, instituições e a prática
intelectual precisam ser vistos como produtos do tempo e espaço, sociedade e
cultura, não ahistóricos ou idealizados. Quando se toma como objeto de estudo
o prêmio Ig Nobel, será que se está praticando a História da Ciência em algum
sentido? Está-se estudando um objeto pertencente ao arcabouço de saberes
identificados como parte das Ciências, cuja duração já se estende por quase
três décadas e que é de maneira cabal dependente também das relações
interpessoais, sociais e culturais de seus protagonistas (tudo que o envolve,
57
desde a escolha do objeto de estudo de cada artigo até a eleição para o prêmio
é, de maneira hiperbólica e em seus próprios termos, amostra do fazer ciência
que a sociedade ampla considera como “atividade séria”). É possível crer que
daremos uma (pequena) contribuição nesta monografia, mas Gavroglu faz uma
ressalva: a História das Ciências não se faz somente por aqueles que detêm o
conhecimento científico na área correlata – faz-se necessário apreender antes
História, suas técnicas de investigação, suas abordagens teóricas e de método,
além de conhecer as controvérsias relacionadas aos temas de pesquisa.
Percebe-se que a tarefa de compreender o locus do Ig Nobel na História das
Ciências e como ferramenta de popularização da ciência é mais complexa que
a trivial compilação de anedotas e “fatos inertes”.
Dominique Pestre (1996) nos traz um apelo semelhante ao do autor
anterior, mas nos mostra um quadro mais “moderno” da história da História
(social e cultural) das Ciências: nos remete já aos anos 70 do século XX,
quando um grupo mais ou menos coeso e coordenado de profissionais
vinculados à historiografia das práticas científicas lança um conjunto de
concepções, e de maneiras de se acercar dos temas, contestadoras e que
deveriam reescrever o que se entendia como o fazer ciência. Ao ler o texto
desse autor, suscita-nos imediatamente que seria próprio buscar averiguar as
influências desse movimento sobre a concepção da premiação que é tema
deste trabalho – eles atuaram até meados da década de 1980, mas
influenciaram as gerações seguintes e permanecem relevantes ainda hoje: o
que definiram como Ciência e prática científica é tema de estudos de
historiadores contemporâneos. Podemos partir do pressuposto que essa visão
contestatória, que nasce nos anos de 1970 e amadurece nos 1980, é uma das
bases para o movimento que resultará no Ig Nobel dos anos 1990? Fica
registrado esse questionamento como eminentemente relevante e que deve
procurar ser respondido, de maneira não leviana, mas também não definitiva.
Poderíamos propor um estudo de “genealogia científica”: averiguar se alunos,
ou alunos dos alunos, dos membros reconhecidos do grupo original agiram
como apoiadores ou mesmo conceberam a proposta do Ig Nobel – a coautoria
de trabalhos, ou a autoria de trabalhos sobre, ou diretamente ligados às,
propostas do grupo em questão também poderiam ser indicadores aceitáveis.
O que é certo é que o arcabouço conceitual da História das Ciências se
58
4 Teorias da Motivação
Motivação: “aquilo que move uma pessoa ou que a põe em ação ou a
faz mudar o curso” (BZUNECK, 2001, p. 9). Estudaremos brevemente as
teorias da motivação do aluno, para buscarmos entender os meios para se
atingir nosso fim, que é usarmos como ferramenta de ensino e motivação para
a aprendizagem artigos científicos laureados com o Prêmio Ig Nobel. No
período de atuação dos fatores motivacionais, recursos pessoais do estudante
(e.g., tempo) serão investidos na atividade-alvo: quem e como é decidido o
foco da aprendizagem? Conforme a concepção construtivista priorizada aqui, o
discente é o verdadeiro protagonista de sua aprendizagem e monopolizador de
certos processos cognitivos inalienáveis (vide Bzuneck (2001, p. 10)), mas é
sabidamente papel da comunidade escolar orientar ou favorecer certos
comportamentos através do fomento à determinadas vias de motivação.
O maior desafio enfrentado é, através de técnicas de motivação,
possibiliar ao estudante a escolha de um caminho, dentre muitos outros
possíveis, que leve-o a envolver-se ativamente no processo de aprendizagem e
a alcançar desempenho socialmente valorizado. Quando o estudante está o
que se convenciona chamar de desmotivado, ele aplica de maneira deficitária
ou deixa de aplicar seus recursos no processo de aprendizagem, optando por
fazer o mínimo necessário para a realização da tarefa, ou mesmo desistindo da
empreitada, conforme Bzuneck (2001, p. 12).
Quando pensamos em termos quantitativos ou de magnitude, revela-se
que, em situações ideais, deve-se priorizar a motivação por sua qualidade e
não intensidade: a motivação em níveis elevados pode resultar em fadiga e
queda no desempenho, como também em ansiedade, elemento que acarreta
até mesmo o adoecimento do organismo. Estudos demonstram que a eficácia
versus a motivação tem o perfil de um U invertido: “a performance será melhor
quando a motivação estiver num nível médio e decrescerá quando ela for mais
baixa ou mais alta” (Idem, p. 17).
O histórico de pesquisas em motivação do estudante é amplo, mas há
dois ramos que se destacam nas linhas de pesquisa contemporâneas: a
abordagem cognitivista (que foca seus esforços sobre elementos como
autovalorização, atribuições causais, crenças de auto-eficácia, desempenho
62
“nesse caso [no ‘fluir’], as pessoas apresentam-se tão absorvidas naquilo que
estão fazendo que nada mais parece ter importância, sentem-se
completamente satisfeitas e não desejariam fazer nada além daquela atividade”
(GUIMARÃES, 2001, p. 44).
4.3 Autoeficácia
Um conceito a ser esmiuçado é o da crença da autoeficácia do
estudante, que é, grosso modo, uma expectativa mensurada, levando em conta
suas próprias capacidades como autopercebidas, de proceder aos esforços
exigidos para se atingir um nível de performance alvo, conforme vemos em
Bzuneck (2001, p. 117). Pode-se afirmar que a motivação do indivíduo é
afetada pelo seu julgamento de autoeficácia? “(...) as crenças de autoeficácia
influenciam nas escolhas de cursos de ação, no estabelecimento de metas, na
quantidade de esforço e na perseverança em busca de seus objetivos” (Idem,
p. 118) – pode-se depreender que existe um elo de determinação (que não age
isoladamente, contudo) entre a motivação (que poderia ser, neste caso,
entendida como o estímulo para operar e alocar recursos de alguma forma) e a
perspectiva, baseada em um julgamento de expectativas, de alcançar
maximamente certos resultados. O juízo da autoeficácia torna-se um mediador
entre as verdadeiras capacidades do discente e a sua performance: a
67
80).
A formação de táticas promotoras da meta aprender parte de quatro
pontos:
Mais uma vez citando Maués (2003), Rossi e Hunger (2013, p. 33) afirmam que
muitos dos processos de formação continuada são regidos pela lógica do
74
profissional:
elemento de desenvolvimento do aluno (que pode ser, por que não, o professor
participante da ação de capacitação na forma de oficina) que induz a um
posicionamento inquisitivo, questionador e ativo diante dos problemas com os
quais vai se deparar e para os quais ainda não possui uma resolução pronta ou
sequer base de conhecimentos adequadamente constituída, segundo Da Silva
e Ferraz (2012, p. 5). Especificamente sobre as oficinas pedagógicas, os
autores asseveram que as mesmas são ambientes voltados para a formação e
a reflexão, que dão viabilidade a uma verdadeira troca de saberes, e prezam
pela construção coletiva de experiências, buscando “proporcionar vivências de
ensino-aprendizagem em que todos os seus participantes interagem na busca
do saber para viver e aprender” (DA SILVA e FERRAZ, 2012, p. 6) – e aqui
percebemos que essa modalidade tende a deixar um legado pessoal no
participante, um método de aprender a aprender.
Em Paviani e Fontana (2009, p. 77), as autoras reafirmam a importância
e o caráter único das oficinas pedagógicas como recurso de articulação entre
teoria e prática – ao longo dos estudos apresentados no trabalho citado, chega-
se à conclusão que as mesmas são “técnica bastante eficaz na formação
continuada de professores”. Em seu texto, as autoras declaram:
No mesmo artigo, as autoras trazem mais uma vez que uma oficina pedagógica
é espaço de construção do conhecimento que é pautado pela ação, sem,
contudo, negligenciar-se a teoria:
ciência criativa é capaz de imprimir numa mente alerta, que o riso, inevitável
num primeiro contato, se transforme numa reflexão ativa sobre o que é ciência,
como se faz pesquisa, e quem são os cientistas (ainda existe uma ideia latente
em muitos cidadãos que associam o profissional das ciências a um dado
arquétipo, em geral bastante preconceituoso, e isso precisa ser modificado até
mesmo para que mais estudantes venham a se interessar a dedicar sua vida
profissional à ciência).
Usaremos o presente espaço para reafirmar alguns tópicos abordados
em nosso capítulo “Teorias da Motivação”. A questão não é somente fomentar a
motivação intrínseca dos professores inscritos em nossa oficina, estimulá-los
para que atinjam um estado de autodeterminação durante a tarefa, e quem
sabe alcancem o estado de “fluir” que já discutimos, sempre valorizando a meta
aprender dentro do escopo da Teoria de Metas de Realização. O grande
desafio é instruir esses docentes para que imprimam tanto nos textos que vão
produzir durante o evento, como no trato com seus alunos, ocasião em que
trabalharão as obras de divulgação científica, os princípios das Teorias da
Motivação, especialmente o sentimento de autoeficácia tão caro ao bem estar
no processo de aprendizado do aluno. Acreditamos que seja possível que o
trabalho com textos de divulgação científica em sala de aula, seguidos, embora
não necessariamente, de avaliações alternativas (debates, discussões em
grupo, resenhas, produção de seu próprio texto etc.) tenham potencial
motivacional amplo que precisa ser explorado, além de serem menos
ansiógenos que a rotina normal de trabalho com o material didático padrão.
Embora as Teorias da Motivação sejam assunto da formação inicial de
professores, com amplo campo de pesquisa ativo, precisamos ter em mente
que em nossa oficina podem ser aceitos graduandos recém-ingressos ou
docentes já muito experimentados, mas distantes do ambiente acadêmico. Em
ambos os casos se faz necessário recordar os princípios norteadores da
motivação, além de fazer os inscritos sentirem-se como parte do programa do
evento: enquanto o mediador e demais profissionais de tutoria monitoram e
manipulam o grau de motivação dos docentes quanto ao trabalho em tela,
podem também exemplificar estratégias e noções básicas relacionadas à
motivação de alunos. Planeja-se, como encerramento da bateria de aulas
gravadas, uma justamente sobre o tema. Ademais, tendo os alunos acesso a
97
Esse exceto traduz com precisão a nossa opinião, emitida a partir do já visto
em capítulos anteriores, que o processo dialógico numa oficina pedagógica tem
paralelo na sala de aula. Numa classe de estudantes o professor poderá
encontrar os mais variados tipos de personalidade e histórias de vida, e deve
ser capaz de lidar com sucesso e criar uma ponte com essa bagagem pessoal
de cada estudante. A ideia que permeia esta proposta de iniciativa de formação
inicial e continuada é fazer com que os mais diferentes docentes ou aspirantes
possam interagir: as diferenças enriquecem o debate de ideias, possibilitam
vivências que não seriam possíveis quando não se experimenta sair de sua
bolha econômico-político-social e mesmo regional, sua área de conforto
composta por pessoas com histórias e personalidades semelhantes à sua, que
têm as mesmas vivências.
Ao propormos que a nossa oficina seja norteada pelo trabalho coletivo, e
dando-se preferência à formação de grupos o mais heterogêneos possível (no
que tange idade, experiência em sala de aula, gênero, etnia, região do país de
atuação etc.) num ambiente plenamente igualitário em princípio, democrático,
estamos convidando os participantes a um esforço intelectual que afasta
preconceitos e possibilita a inovação dos repertórios individuais de ideias e
argumentos, verdadeiramente colaborativo. Espera-se que esses docentes
tenham sucesso em replicar essa estratégia em suas salas de aula durante a
exposição dos textos resultantes da oficina, e que se permitam, na melhor das
98
7 Conclusão
Chegamos ao final da nossa trajetória no presente trabalho com a
certeza de dever cumprido.
Revisitamos a história do Prêmio Ig Nobel, desde sua origem em 1991
até o ano de 2020, e, principalmente, trouxemos evidências através da reflexão
sobre trabalhos publicados fora do Brasil de que o Ig Nobel possui sim
relevância, tanto acadêmica quanto para o público interessado em ciências.
Tivemos oportunidade de lançar também um breve olhar sobre como esse
prêmio é referenciado numa das principais revistas de popularização da ciência
do Brasil, e daí tiramos algumas lições.
Discutimos a definição de Divulgação Científica e termos correlatos, o
que nos deu a oportunidade de usarmos o cabedal de conhecimentos
aprendidos durante o curso de Divulgação Científica e Popularização da
Ciência. Ademais, fizemos considerações sobre a pertinência do uso de textos
de Divulgação Científica em sala de aula e debatemos sobre a história das
ciências e onde o Prêmio Ig Nobel se encaixaria nela enquanto ferramenta de
Divulgação Científica.
Reavivamos um tema central na formação docente, mas que
infelizmente tem sido muito negligenciado na maioria instituições de ensino,
mormente por um quadro de sucateamento das mesmas e desvalorização da
profissão do professor: teorias da motivação do estudante. É claro que não se
espera aqui abordar o assunto à exaustão, já que é visto em variadas
disciplinas das diversas graduações em licenciatura: pretendemos somente
prover ao leitor os elementos necessários para se (re)familiarizar com o
assunto e buscar aplicá-lo quando tomar parte na oficina que é também objeto
deste trabalho.
Por necessidade de nossa proposta de produto, foi necessário
abordarmos o tema de oficinas de formação inicial e continuada de
professores, trazendo diversas contribuições para se responder à pergunta "o
que é uma oficina didática?". Ficamos satisfeitos em abordar em separado
esse tema, dadas as possibilidades de discussão que vieram à tona - além
disso, pudemos tocar em assuntos muito sutis e transformadores, como o de
ensino colaborativo (que podemos dizer que é uma antiga novidade) e o de
103
Bibliografia
REIS, J. Ponto de vista: José Reis (entrevista). In: MASSARANI, L.; MOREIRA,
I. D. C.; BRITO, F. Ciência e Público: Caminhos da Divulgação Científica no
Brasil. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Casa da Ciência/UFRJ, 2002. p. 73 - 78.
SHAPIRA, M. et al. The Ig Nobels – Who Wins What and Why? Bibliometric
Analysis of the Ig Nobel Prizes, Atlanta, 10 - 11 Out. 2017. Disponivel em:
<https://tpac.gatech.edu/projects/ig-nobel-prizes>. Acesso em: 09 Set. 2021.
WOO, S.; LI, Y. Does Humor Advance Science? Evidence from Ig Nobel Prizes.
110