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Pavilhão
do Brasil
2018
Muros
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Comissário
João Carlos de Figueiredo Ferraz
Fundação Bienal de São Paulo
Curadores
Gabriel Kozlowski
Laura González Fierro
Marcelo Maia Rosa
Sol Camacho
Organização
Fundação Bienal de São Paulo
Com o apoio de
Ministério das Relações Exteriores /
Embaixada do Brasil em Roma
Ministério da Cultura / Funarte
apoio
realização
Pavilhão
do Brasil
2018
Muros
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Presidente da República
Michel Temer
Embaixada do Brasil
em Roma
Embaixador
Antonio de Aguiar Patriota
Ministra-conselheira
Fátima Keiko Ishitani
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Iris Kantor
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Construindo Gabriel
a proposta do Kozlowski,
Pavilhão do Laura González
Brasil para Fierro, Marcelo
a 16ª Mostra Maia Rosa,
Internacional Sol Camacho
de Arquitetura
da Bienal de
Veneza
Esta publicação condensa o exercício
de exploração, discussão, debate e
intercâmbio realizado entre os quatro
curadores e centenas de colaboradores
para criar um projeto que vai além da
exposição no pavilhão dos Giardini.
Nossa intenção foi utilizar a plataforma
da Bienal de Veneza – momento de
dedicação intensa, quando questões
semelhantes estão sendo discutidas ao
redor do mundo simultaneamente – para
ampliar uma conversa e suas possíveis
repercussões além do ponto singular
da exposição. Por isso, também, a
necessidade desta publicação não se
apresentar somente como um catálogo
tradicional, ou um espelho do que foi
exposto nas paredes do pavilhão, mas
sim oferecer a possibilidade de uma
imersão no tema.
O conceito e título Muros de ar foi
pensado para responder à proposta
Freespace, das curadoras Yvonne Farrell e
Shelley McNamara, como uma provocação
capaz de questionar: 1. as diferentes
formas de muros que constroem, em
diversas escalas, o território brasileiro;
2. as fronteiras da própria arquitetura em
relação a outras disciplinas.
Assim, partimos para uma reflexão
sobre o quanto a arquitetura no Brasil e
seus desdobramentos urbanos são de
fato, livres. Sem a pretensão de chegar
a uma resposta, mas com a ambição de
abrir a conversa para um público grande e
diverso, optamos por tentar tornar visíveis
processos que muitas vezes não são
percebidos, em função de sua natureza
ou escala. As barreiras imateriais que são
erguidas entre pessoas ou bairros, e os
processos de urbanização do Brasil em
uma escala continental são exemplos de
questões sobre as quais nos debruçamos.
Para discutir essas ideias, decidimos
tanto apresentar projetos existentes
quanto desenvolver pesquisas para
construir conteúdos novos. Essa estrutura
bilateral se reflete também na ocupação
espacial do Pavilhão do Brasil, edifício
projetado pelos arquitetos Mindlin, Palanti,
Amaral e Marchesin em 1964.
Francis Alÿs
The Leak (São Paulo)
[O vazamento (São Paulo)], 1995
Documentação de uma ação
(São Paulo)
Manoela Medeiros
Fronteira, 2017
Escavação na parede e revestimento
Primeira sala: projetos contemporânea; buscamos entender as
influências exteriores e os intercâmbios
A seleção de projetos se deu por meio de que vão modificando a prática local.
uma convocatória pública, iniciativa inédita
na história das representações brasileiras 02 – Fluxos humanos
na Bienal de Veneza. Desde o princípio, Mapeamos os movimentos contemporâneos
entendíamos como extremamente de imigração, a busca por refúgio e a
importante a realização desse chamamento migração interna no Brasil, para suscitar
pois, embora ele seja uma prática já muito uma conversa sobre a permeabilidade do
disseminada em outros países, ainda não país a essa dinâmica global.
havia encontrado seu lugar aqui. Vimos
esse processo como o primeiro passo 03 – Fluxos materiais
ao nosso alcance para democratizar a Além do fluxo de pessoas, procuramos
representação nacional nessa exposição. entender também o trânsito de mercadorias,
A convocatória resultou no recebimento analisando o vínculo entre as grandes
de 289 projetos arquitetônicos e infraestruturas do país, a exploração e o
urbanísticos, um número satisfatório; transporte das commodities, e as cicatrizes
deles, foram selecionados dezessete. A que esses fluxos criam no território.
seleção pretende apresentar trabalhos que
permitem compreender maneiras novas 04 – Paisagem fluida
e contemporâneas de se relacionar com Para explorar a relação entre os
a cidade por intermédio de um projeto ecossistemas humano e natural, delineamos
– a arquitetura como instrumento para uma conjunção entre elementos naturais
enfrentar condições urbanas em princípio da paisagem – como a conformação
incompatíveis. O último capítulo desta geográfica da América Latina, a umidade
publicação reúne detalhes sobre cada um da atmosfera e o movimento dos ventos
dos projetos selecionados: localização, – e os impactos da urbanização do país,
arquiteto e os argumentos para a escolha. procurando instigar arquitetos e urbanistas
a buscar um entendimento holístico do
lugar onde atuam.
Segunda sala: Cartografias
05 – O mapa não é o território
O conteúdo foi construído a partir do “Redesenhamos” a imensa fronteira política
mais amplo entendimento possível da do Brasil, relacionando-a às possibilidades
arquitetura, relacionando a disciplina aos de acesso e aos biomas que a atravessam,
diversos campos e forças que compõem o para mostrar a dificuldade de atingi-la – ou
meio físico contemporâneo. até mesmo compreendê-la – com precisão.
Organizamos a pesquisa em
dez grandes abordagens/linhas de 06 – Sucessão de bordas
estudo, com a intenção de revelar, em Pesquisamos a localização e as
diferentes escalas, um novo olhar datas de fundação das 5.570 cidades
diante da proposição do Freespace, brasileiras, ressaltando o processo
sob a perspectiva dos processos de contínuo de construção de um país
urbanização em andamento no Brasil: quase totalmente urbano.
Quão desvinculada de um projeto coeso de país tem sido a formação urbana do Brasil?
5. Oo redesenho
mapa não é o território:
da fronteira
2. Fassimilação
luxos humanos:
cultural como
diluição de barreiras
166
168
Introdução
Runo Lagomarsino
172 Paulo Nazareth
72 Introdução entrevista
74 Rivane Neuenschwander 174 Ailton Krenak
entrevista ensaios
84 Carla e Eliane Caffé 180 Gabriel Duarte
depoimentos O horizonte é apenas o início:
88 Uma reflexão a partir da Ocupação fronteiras, cidades e identidades
9 de Julho, em São Paulo 190 Celma Chaves Pont Vidal
ensaios Amazônia múltipla e os significados
92 Ana Carolina Tonetti e Ligia Nobre da fronteira
Contracondutas: políticas da arquitetura
e escravidão contemporânea
100 Paula Miraglia, Gabriel Zanlorenssi
e Rodolfo Almeida
Sete gráficos sobre a imigração no Brasil
6. Snarrativas
ucessão de bordas:
da construção
de um país urbano
202 Introdução
8. Hohabitacional
abitar a casa ou a cidade?
impacto do programa
Minha Casa 10. Criptografias do
poder: desobediência
Minha Vida e exclusão na cidade
Mauro Resnitzky,
Hong Kong, China
“Durante um intercâmbio no Porto em “Deslocar-se do próprio ponto referencial
2001, a oportunidade de viajar e explorar a é um ato de ruptura no tempo e no
arquitetura que víamos somente em livros espaço. A própria ideia do país muda na
e revistas era imperdível para quem estava memória de sua existência naquele lugar
de passagem pela Europa. Os poucos dias em um dado momento. O deslocamento
na Holanda foram marcantes: época boa comporta distanciar-se e transpor-se em
do SuperDutch! novas dinâmicas sociais e profissionais. O
A liberdade e a experimentação que distanciamento me permitiu, em primeiro
norteiam grande parte da produção lugar, observar o valor das relações sociais
contemporânea holandesa sempre foram no Brasil, caracterizadas pela empatia
extremamente atraentes, motivando e a generosidade, mas também pela
jovens arquitetos estrangeiros a explorar o desigualdade e a informalidade. Quase
pensamento aberto de incontáveis opções como uma metáfora da geografia e da
projetuais. Em contrapartida, a cultura paisagem brasileiras: generosas, vastas,
arquitetônica do Brasil e de Portugal nos diversas e contrastantes. Ao enfrentar
faz pensar de maneira linear, buscando novos paradigmas profissionais, pude
a melhor solução, quando não a única! O observar o valor da técnica e da estética
grande dilema. no contexto brasileiro, caracterizadas pela
A visão de arquitetura ao longo desses leveza e a generosidade de traços, simples
anos de prática – e dilemas pelo caminho –, mas rigorosos, que integram função e forma
trabalhando na Europa, na Ásia e na com economia e expressão. A transposição
América, me faz perceber o embasamento de um país para outro ocorre através de
fundamental de meus primeiros anos de um processo de síntese e adaptação. Essa
trabalho no Brasil e dos anos bem vividos síntese, na minha experiência profissional,
de estudo no Rio de Janeiro e no Porto. é o resultado destas observações sobre
Estudar a arquitetura que fez o Brasil o Brasil: uma constante busca pelo
ser reconhecido mundialmente neste significado e pelo valor humano e social
campo, e entender, ser crítico e apreciador na prática do ensino e da pesquisa em
de sua produção contemporânea, são arquitetura e urbanismo. Isso se transforma
o legado que tenho e que me permite em uma procura de leveza e de precisão,
atuar como professional num mundo pelo equilíbrio e o rigor do traço e pela
onde a arquitetura enfrenta questões de compreensão da paisagem (e de suas
globalização e identidade. dinâmicas) como sítio natural e cultural.
Há 13 anos sou arquiteto no Mecanoo Enfim, uma busca pelo essencial como ato
architecten, na pequena cidade de fundamental do projeto.”
Delft, que fica a 15 minutos de Roterdã,
onde vivo.”
Taneha
Rodrigo Louro, Kuzniecow Bacchin,
Delft, Holanda Delft, Holanda
entrevista: 42
Claudio Haddad
Evidências
Efeitos colaterais
- estudantes + estudantes
0.40
nível 5.60 - topo cobertura
nível 5.20 - teto cozinha
2.20
0.30 0.20 nível 3.00 - teto sala
nível 2.80 - 1º pav.
5.60
divisa
5.00
2.50
2.40
Evidências
Norte maranhense
Metropolitana de Fortaleza
Leste potiguar
Mata paraibana
Metropolitana de Recife
Leste alagoano
Leste sergipano
Metropolitana de Salvador
Central espírito-santense
Metropolitana de Curitiba
Grande Florianópolis
“Então é o seguinte: tá decidido e tá claro e tá visto e tá provado. nunca acabou a escravidão aqui no brasil, nunca
acabou, nunca. tá assinado. é a maior realidade de todas as histórias”. trabalhador resgatado na obra do Terminal 3
de Guarulhos – em projeto centoeonze –coletivo Metade
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de gente é como
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Zi qualificação do poder: a escravidão estabelece o poder despótico
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l autoridade pública. a soberania nas américas é incompleta porque o
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poder privado ou senhorial dos colonos sobre os indígenas e africanos
do enfraquecia a autoridade política. Essa contradição se aprofundava
porque o rei construiu sua legitimidade pela legalização, regulação
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e controle da escravidão e das formas de trabalho forçado. Esse é um
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vi elemento estrutural para a confusão entre o público e o privado na
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O antigo regime e o Brasil atual, artigo de história e Escravidão
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encial […], não somente a discussão de cada trabalho isoladamente, mas pensá-los dentro de
com um diálogo real com os problemas que envolvem o aeroporto de Guarulhos, o canteiro
trabalho análogo à escravidão. [...] se a intenção é um ajuste de contas (ou de conduta),
ções efetivas de uma comunicação real com a população local”. thiago tozawa – em Intervenções:
uradoria e Mediação / unifEsP
“a copa do Mundo precisou de uma série
de decretos de emergência para que fosse
construída. ou seja: [esses canteiros]
operam sob um regime em que tanto os
direitos da natureza quanto humanos
precisam ser diminuídos ou violados. isso
é muito interessante de trabalhar: o
canteiro como um espaço onde a exceção é
a regra”. Paulo tavares – em Precarização
e lucro: trabalho degradante na construção
civil e a produção e consumo da cidade
Escola da cidadE neoliberal, reportagem 5, sabrina duran
a associação Escola da cidade – arquitetura e urbanismo (aEc) – é uma entidade civil sem fins lucrativos,
de gestão democrática e financeiramente autônoma. criada em 1996, surgiu da união de arquitetos, intelectuais,
artistas e técnicos comprometidos com a melhoria da realidade brasileira. Esse grupo, embasado na experiência
de ensino, na pesquisa (teórica e aplicada), assim como na prática profissional e acadêmica, tem como desígnio
fundamental a criação de um espaço privilegiado para a liberdade de reflexão e proposição.
senho e canteiro que se vê nas relações arQuitEtura coMo uMa tEcnoloGia Politica
o civil encontra na academia um poderoso
s de arquitetura pouco ou nada ensinam sobre o
teiro – muito menos sobre a violência que ali
a fundamental para a visualização mínima, pelo
uais condições e pelas mãos de quem seu desenho
duran – em Entre o projeto e a execução: o
minuição (ou aumento) da violência no canteiro
Sete gráficos Paula Miraglia, 100
sobre a Gabriel
imigração Zanlorenssi
no Brasil e Rodolfo
Almeida, do
Nexo Jornal
1581 − 1640
1641 − 1700
1701 − 1760
os períodos das
1808 − 1817 estimativas são
descontinuados
1881 − 1900
1901 − 1930
1931 − 1950
1981 − 1991
TURCOS E ÁRABES*
OUTROS
ESPANHÓIS ALEMÃES
JAPONESES
50%
ITALIANOS
PORTUGUESES
0
1884 − 1893 1894 − 1903 1904 − 1913 1914 − 1923 1924 − 1933 1945 − 1949 1950 − 1954 1955 − 1959
* Inclui os imigrantes que vieram dos territórios que integravam o império otomano, como turcos, sírios e libaneses.
Fonte: "Brasil: 500 anos de povoamento", IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Gênero dos imigrantes
Dos que imigraram entre 2000 e 2016, segundo dados da Polícia Federal
66% 34%
HOMENS MULHERES
30 mil
20 mil
10 mil
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
IDADE AO IMIGRAR
Origem e destino dos que imigraram ao Brasil
Das principais nacionalidades que imigraram entre 2000 e 2016,
segundo dados da Polícia Federal
Bolívia
106 mil imigrantes
Haiti
Sudeste
81,5 mil
306 2 mil
306,2
EUA
72 2 mil
72,2
Argentina
54,1
, mil
China Sul
49,4
49,4 mil 87,7 mil
Colômbia
Nordeste
42 8 mil
42,8
37 0 mil
37,0 il
Portugal Norte
42,8
42 ,8 mil 24,6
24 6 mil
il
Peru Cen
Centro-
Centro-Oeste
O t
22,6
22 6 mil
il
35 mil
il
BOLIVIANOS
COLOMBIANOS
CHINESES
NORTE-AMERICANOS HAITIANOS
PERUANOS
PORTUGUESES
50%
OUTROS
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Profissão dos imigrantes quando chegaram ao Brasil
Das principais nacionalidades que imigraram entre 2000 e 2016, segundo dados da
Polícia Federal*, em % do total de imigrantes de cada país
ENGENHEIRO
MARINHEIRO
DO LAR
ESTUDANTE PADEIRO
APOSENTADO ENGENHEIRO
OUTROS
ESTUDANTE ESTUDANTE
VENDEDOR
OUTROS
PEDREIRO
PROPRIETÁRIO
DIRETOR/
OUTROS
SEM OCUPAÇÃO
COSTUREIRO
OCUPAÇÃO
MÉDICO
DO LAR
ENGENHEIRO
ESTUDANTE
MARINHEIRO OUTROS
SEM
ESTUDANTE VENDEDOR
SACERDOTE
DIRETOR/
VENDEDOR PROPRIETÁRIO
ESTUDANTE
OUTROS
OUTROS
Bolívia Argentina
Os nomes das profissões são
ENGENHEIRO
PROFESSOR
OCUPAÇÃO
vidraceiro ou assemelhado.
DOMÉSTICAS
DIRETOR/
MENOR
ESTUDANTE DE marinheiro ou trabalhador na
IDADE
navegação marítima ou fluvial.
Fonte: Sincre 2016 (Sistema Nacional de Cadastro e Registro de Estrangeiros), Polícia Federal.
3
Fluxos materiais:
rastros físicos da
negociação de
commodities
Quão sensível é o
ambiente urbano à
movimentação de
commodities?
Ao redor do globo, a evolução das quadrados, e a distribuição geográfica da
cidades está intrinsecamente ligada produção e dos destinos de escoamento
à produção primária: agricultura, implica na criação de uma complexa rede.
pecuária e extrativismo. Desde as Historicamente, essa infraestrutura foi
primeiras civilizações, o homem sempre implementada de maneira desconexa, sem
escolheu estabelecer-se em locais planejamento integrado e, como pontua
que possibilitariam sua subsistência. Sergio Besserman em sua entrevista, sem
No decorrer da história, porém, com o racionalidade econômica. O resultado
surgimento de mecanismos tecnológicos foi a predominância de um transporte
e da ideia de mercado externo, a produção de carga em caminhões a diesel, sem
primária passou a gerar excedentes de ferrovias de destaque e sem hidrovias (num
forma contínua; mais do que subsistência, país com uma das maiores capacidades
tornou-se riqueza. O desenvolvimento hídricas do mundo). Em um cenário de
de um sistema mundial em torno dessa políticas globais de redução de emissões
produção adicionou particularidades ao de carbono, o Brasil começa atrás, com
que é chamado genericamente hoje de um sistema lento, oneroso e de impacto
mercado de commodities. O termo define ambiental considerável.
produtos com menos processos industriais Há outras questões ligadas a essa
agregados, mas necessários às mais distribuição. Uma vez que grande parte da
diversas economias e sociedades. produção primária brasileira se origina na
País essencialmente agrário e porção continental do país, em especial o
exportador, com uma história marcada Centro-Oeste, e os pontos de escoamento
por grandes ciclos (açúcar, ouro, café), estão, invariavelmente, na costa leste,
o Brasil desenvolveu papel significativo um enorme fluxo de caminhões pesados
na produção global de produtos deve passar necessariamente pela porção
primários. Firmou-se entre os 25 maiores de maior densidade populacional e área
exportadores mundiais, vendendo mais urbanizada – as grandes metrópoles.
sobretudo soja, minério de ferro, açúcar, Com isso, regiões onde o transporte
petróleo e carne de frango. público e a mobilidade já são questões
Mas por que tratar de um tema complexas, se veem obrigadas a pensar
econômico e rural, se estamos falando também em redes urbanas de circulação
de arquitetura e urbanismo? Voltemos de mercadorias.
no tempo até o ciclo do café. A produção As externalidades dessa circulação
do Paraná, interior de São Paulo e Rio de no intra-urbano são tema de discussão
Janeiro tinha como principal saída para nos mais diversos polos. Como o
o exterior o porto de Santos. Para vencer fotógrafo Cássio Vasconcellos ilustra na
as distâncias, foi inaugurada em 1867 a composição Ceasa, a logística tornou-se
São Paulo Railway, primeira ferrovia do um dos maiores problemas na pauta das
estado. A cidade de São Paulo, que não grandes cidades brasileiras. Onde situar
era produtora nem escoadora, tornou- as artérias – remetendo ao metabolismo
se ponto estratégico do percurso e urbano mencionado por Philip Yang, que
recebeu a infraestrutura financeira do escreve neste capítulo – e os entrepostos
negócio. A produção cafeeira, mesmo a de abastecimento são questões chave
centenas de quilômetros, foi primordial no no planejamento e na gestão das
desenvolvimento e na consolidação urbana cidades brasileiras.
da capital paulista. Relacionando origem e destino da
Embora os latifúndios de produção produção primária, cabe perguntar quais
primária fiquem distantes dos grandes cidades e populações estão se formando
centros, seu destino principal ainda hoje nesses polos. Cidades como Fordlândia
é a costa brasileira. O vasto território, que (Pará), retratada pela artista Melanie
ultrapassa os 8 milhões de quilômetros Smith nas páginas deste livro, foram
inteiramente construídas em torno da O mapa
agricultura, da pecuária ou da exploração
extrativista. Em vez de pensadas para O mapa considera essencialmente
quem vive nelas, foram materializadas a paisagem criada pelo impacto
ao redor de determinados produtos. da produção primária no Brasil.
Áreas de escoamento também acabam Quatro questões, em especial, estão
por desenvolver toda sua estrutura em representadas: a especialização das
função do papel de entreposto; voltam- commodities – mineração (sobretudo
se para seus portos, aeroportos ou de ferro), agropecuária (soja, carne de
ferrovias e, como os grandes produtores aves), petróleo e madeira; como elas
primários, tornam-se cidades de uma circulam pelo país; a composição da
função única. balança comercial; e as camadas urbanas
Enquanto a ponta produtora torna‑se que se relacionam a essas dinâmicas. O
mais frágil na geração de emprego, objetivo é tornar visível a escala dessa
renda e condições de vida, algo diferente produção que, embora seja uma das
acontece nas cidades que estão no principais fontes econômicas do país, sua
caminho entre origens e destinos. pujança não se traduz em progressos nas
Em geral, a ver pelo exemplo paulista, questões sociais relacionadas a ela.
elas acabam sendo mais dinamizadas O mapa contou com colaborações
e gerando novas oportunidades de diversas, em especial de Pedro Camargo,
trabalho. Daí a importância de uma desenvolvedor do projeto AequilibraE.,
compreensão sistêmica: a relação ferramenta utilizada no QGIS. Coube a ele
dos fluxos materiais pelo território o processamento dos dados consolidados
brasileiro não é uniforme, e a matriz sobre a movimentação das commodities.
produtiva constitui um muro quase A informação nacional de empresas de
invisível de desigualdade social. Em logística foi transformada em uma rede,
geral, cidades produtoras têm uma constituída por eixos e nós – representando,
economia menos dinâmica e oferecem respectivamente, a circulação de
menos oportunidades sociais; em mercadorias entre as microrregiões
contrapartida, cidades que estão mais brasileiras e suas centralidades. Foram
afastadas dessa produção tendem a consideradas nestes fluxos quatro categorias
explorar outras atividades econômicas, principais: carga geral, líquida, agrícola
mais especializadas e diversificadas; é o sólida e não-agrícola sólida. As informações
que Yang chama de “cidades-máquina”: sobre importações estão representadas à
aquelas que não estão produzindo esquerda, e sobre exportações, à direita, de
commodities, mas são essenciais para acordo com produtos, países e entrepostos.
sua comercialização. Por fim, numa camada social, o mapa
O que se coloca em xeque neste aponta a densidade populacional nas
capítulo, para além do desgaste ambiental cidades brasileiras onde se extrai e
que é tema do próximo, “Paisagem fluida”, processa petróleo – commodity que é mais
é como um entendimento mais profundo usada em áreas distantes dos locais de
dos fluxos materiais no território pode exploração –, sugerindo as desigualdades
auxiliar nos projetos de desenvolvimento decorrentes dos fluxos materiais pelo
regional, de modo que as relações entre território brasileiro.
Centro-Sul e Centro-Oeste-Norte-
Nordeste saiam da dependência para
estruturar ações conjuntas e adequadas
à realidade urbana brasileira latente, e a
dualidade rural-urbano passe a ser vista
como complementaridade e oportunidade
de desenvolvimento local e regional.
Melanie Smith
Stills de Fordlândia, 2014
HD 30’
Cássio Vasconcellos
CEASA, 2012
Fotografia
entrevista: 116
Sérgio Besserman
Evidências
Efeitos colaterais
Comportamento e micropolítica
Quais os impactos socioeconômicos e
ambientais mais críticos da produção Como a produção das commodities
e movimentação de mercadorias no país se relaciona com os diferentes
pelo território? Como balancear a padrões de consumo da população
alta demanda de mercados externos, brasileira? Como o modelo de
como a China, e um desenvolvimento desenvolvimento atrelado à noção
equilibrado na escala local? de crescimento afeta o estilo de
Do ponto de vista socioeconômico, vida individual?
o impacto mais crítico é a baixa Primeiro, o Brasil é um país injusto, e
produtividade da nossa infraestrutura. Isso a forma mais eficiente de lidar com
diminui nossa competitividade em relação a pobreza gerada pela desigualdade
a outros países, eleva o custo do Brasil, gigante é crescer, crescer, crescer.
gera menos renda, gera menos emprego. Então somos prisioneiros da visão do
O impacto ambiental pode ser gigantesco, desenvolvimentismo a todo custo. Temos
por duas razões principais: primeiro, que descobrir como crescer com menos
nem sempre a gestão de riscos é bem impacto. A sociedade brasileira tem uma
feita; segundo, por causa das mudanças hierarquia que aparece pela ostentação
climáticas. O Banco Mundial prevê que de consumo, um consumo inconsciente
elas têm potencial de eliminar todos os e perverso. O estímulo ao consumo
ganhos obtidos quanto à pobreza nos gratuito é muito ruim, mas não acho ético
últimos vinte a trinta anos. É uma ameaça dizer para uma família pobre consumir
terrível que trará guerras, genocídios, menos. É interessante conversar sobre
sofrimentos perversos. Já vai esquentar um consumo mais consciente, em que
2°C ou mais até o final do século, mesmo obrigatoriamente os produtos tenham
se fizermos tudo que tem que ser feito. informações para sabermos se estamos
O maior impacto de vender commodities poluindo, esquentando o planeta,
para o mundo inteiro costuma ser o reduzindo a biodiversidade, desmatando.
empreendimento em si, até mais do que
seu transporte. A pecuária desmata e
emite gás; a agricultura desmata e elimina Experiência disciplinar
a biodiversidade. Mas para tudo isso
tem solução, baseada em conhecimento Com base em seu envolvimento com o
científico e no saber dos povos. A Instituto de Pesquisas Jardim Botânico
agricultura não pode continuar utilizando do Rio de Janeiro, qual é sua perspectiva
a mesma quantidade de nitrogênio e para o desenvolvimento sustentável em
fósforo. Sabemos que quando chove, esses florestas tropicais brasileiras? E como
materiais vão dos riachinhos para os rios modelos alternativos ao extrativismo
e terminam causando as zonas mortas predatório podem transformar nossas
dos oceanos, um problema maior que matrizes energéticas?
É preciso aumentar a governança e soluções coletivas. Que cada território seja
engajar todos em sua construção. Uma estudado em função de sua especificidade.
ferramenta importante para isso é o Você pode, na Amazônia, achar que uma
Cadastro Ambiental Rural (CAR), que estrada é mais barata, mas uma estrada
georreferencia as propriedades e permite propicia o desmatamento da floresta. Já
a qualquer cidadão monitorar se há com a ferrovia, você tem que chegar na
desmatamento. Precisamos gerar eficiência estação, onde conseguem controlar se a
no monitoramento e punir quem desmata; madeira é de manejo ou ilegal. E também
mas também gerar oportunidades e valor tem o caminho das hidrovias. Mas que
ao evitar o desmatamento, do manejo tudo isso leve em consideração, sempre,
sustentável de florestas até oportunidades a economia de baixo carbono que um
para populações do entorno. O Brasil tem a dia vai ser componente do preço de
maior restauração florestal a fazer no mundo. tudo, especialmente das commodities.
Só a quantidade de pastos degradados Oferecer as commodities mais baratas e
permitiria alimentar o mundo. Isso ajudará mais competitivas do mundo, com pouco
muito na luta contra as mudanças climáticas. impacto ambiental, está ao alcance da
Não é só interromper o desmatamento, é nossa mão. Só exige engajamento e
sequestrar carbono com agricultura, com aplicação do conhecimento.
indústria florestal, com biomassa utilizada
para finalidades inimagináveis.
Tirando a matriz hidrelétrica, nossa
infraestrutura é da civilização dos
combustíveis fósseis. Isso é um
baita problema, mas é também uma
oportunidade. Se fizermos a transição
da infraestrutura para o baixo carbono,
as vantagens competitivas do Brasil
serão extraordinárias. Podemos oferecer
alimentos, energia, materiais, baseados
em muita biotecnologia e biologia sintética,
tudo a carbono quase zero.
Potencial transformador
MÉXICO
E STA D OS U N I D OS
C A N A DÁ
GUIANA
C O LÔ M B I A
PERU
BOLÍVIA
PA R AG U A I
ALEMANHA
Portos
E S LOV Ê N I A
D I N A M A RC A
L E TÔ N I A
LITUÂNIA
N O R U EG A
FINLÂNDIA
S E N EG A L GANA
M A R RO C OS EG I TO
A LG É R I A G R ÉC I A
TUNÍSIA T U RQ U I A
I TÁ L I A ISRAEL
RO M Ê N I A G EÓ RG I A
P O LÔ N I A R ÚSS I A
C A M A RÕ E S
ANGOLA
CONGO
A R Á B I A S A U D I TA
OMÃ
IRÃ
PAQ U I STÃO
ÍNDIA
M YA N M A R
VIETNÃ
C A M B O JA
TA I L Â N D I A
CHINA
MALÁSIA
INDONÉSIA
FILIPINAS
C O R É I A D O N O RT E
CORÉIA DO SUL
JA PÃO
ÁFRICA DO SUL
MOÇAMBIQUE
M A DAG Á S C A R
A UST R Á L I A
N OVA Z E L Â N D I A
4
Paisagem fluida:
encontro dos
ecossistemas natural e
humano
Quão desregulada
é a relação entre os
ecossistemas humano
e natural?
Quando analisamos o impacto das questões estéticas, estruturais, de conforto
dinâmicas humanas no espaço, notamos ambiental e de requalificação de edificação,
que a fronteira territorial não é um fator a lei entende o objeto habitacional como
limitante. Ecossistemas não respeitam parte de um ambiente mais complexo.
fronteiras geopolíticas. A análise de um Apesar de importante e inédita, a lei
ecossistema – conceito que pressupõe a encontra empecilhos: as famílias-alvo a
relação entre seres e fatores físico‑químicos desconhecem e, na falta de diálogo mais
de determinado meio – não implica, amplo entre arquitetos e urbanistas,
portanto, apenas em questões visíveis. engenheiros, geólogos e técnicos de saúde,
Na definição comum, um ecossistema é não produz resultados significativos.
um ambiente natural, sem transformações Conflitos de ordem ambiental não se
antrópicas. Aqui, porém, trata-se do ser limitam à escala das cidades. Para alcançar
humano e suas interações com o entorno, uma compreensão profunda de nosso
influenciadas por questões naturais, ecossistema, é preciso considerar as
econômicas, culturais e sociais. Como externalidades, positivas ou negativas, em
um ecossistema pode ser impactado pelo diversas escalas simultaneamente.
homem e vice-versa? Qual é o papel das Nos últimos anos, houve uma redução
fronteiras geográficas nisso? significativa das florestas brasileiras, em
A análise de territórios como o Brasil e especial na Amazônia. O território de 325
a América do Sul ajuda a entender essas milhões de hectares no Norte do país perde
questões. Com uma população urbana de cerca de 800 mil ao ano – quase um Distrito
mais de 80%, o país vê esse conflito crescer Federal e meio – em decorrência da expansão
a cada dia nas áreas florestais, cerca de da produção agropecuária e extrativista. Se,
55% de seu território, por ação direta ou por um lado, os desmatamentos legais se
pelo impacto do consumo. relacionam com uma parcela dos ganhos
Na escala da cidade, os conflitos entre com exportação; por outro, repercutem
homem e ecossistema são constantes, drástica e negativamente na manutenção
muitas vezes atrelados a fatores sociais. de ecossistemas naturais fundamentais
O rápido processo de urbanização para o equilíbrio bio-climático brasileiro e
brasileiro resultou em cidades onde o sul‑americano.
planejamento não foi suficiente para Como lembra Antonio Donato Nobre em
controlar o crescimento informal. A mão de sua entrevista para este tema, a localização
obra industrial, sem acesso a alternativas da América do Sul em relação ao Equador
habitacionais de qualidade, estabeleceu-se garante ao continente temperaturas
em áreas sem infraestrutura, nas bordas relativamente amenas, o que permitiu o
dos centros urbanos, muitas vezes em áreas estabelecimento de uma flora equatorial
de proteção ambiental. Casas erguidas com significativa, de alta umidade, graças aos
materiais baratos, descartados, impróprios, vapores de transpiração da vegetação. Os
sem acompanhamento técnico, compõem ventos do litoral empurram esses vapores
núcleos distantes dos centros, insalubres para o Oceano Pacífico, provocando
e sujeitos a situações de alto risco – como chuvas na região equatorial; em seguida,
mostra o geólogo Álvaro Rodrigues dos ao encontrar com a Cordilheira dos Andes,
Santos neste capítulo. Em 2000, apenas a umidade é desviada para o interior do
33% dos domicílios brasileiros eram país, alcançando Centro, Sul e Sudeste,
considerados adequados. chegando até a Argentina.
Em 2008, foi sancionada a Lei de Nobre, assim como Paulo Tavares,
Assistência Técnica1, que garante a ressalta que a produção agropecuária e
famílias com renda de até três salários extrativista deveria entrar em acordo com
mínimos, de áreas urbanas ou rurais, o sistema da floresta amazônica, já que o
projeto técnico e acompanhamento da fim desta teria impactos consideráveis no
construção de moradia. Abrangendo regime de chuvas no Brasil e em terras sul-
americanas. Se a produção primária não O mapa
for reduzida, seu escoamento e consumo
também terão grandes impactos ambientais. Paisagem fluida constrói sua narrativa a
A construção de infraestruturas para a partir de elementos naturais sobrepostos à
distribuição desses produtos, como rodovias base topográfica da América do Sul. Em vez
asfaltadas, devasta terras verdes e agrava a das fronteiras geopolíticas, o mapa enfatiza
condição de impermeabilidade do solo. barreiras físicas de impacto significativo.
No plano urbano, o aumento da As emissões de carbono provenientes
população e das atividades ligadas da perda de biomassa são representadas
a indústria e serviços2 geram novas em tons de vermelho e amarelo. Quanto
necessidades energéticas. Nos últimos mais escura a mancha, mais intensa a
anos, viu-se um expressivo aumento no emissão. Quando em equilíbrio, a vegetação
número de usinas hidrelétricas nas bacias equatorial absorve taxas significativas de
da Amazônia, Pantanal e no cerrado.3 Duas carbono pela fotossíntese, permitindo que o
delas, Itaipu e Belo Monte, estão em A solo se decomponha lentamente. Quando é
Gente Rio – Be Dammed, publicada aqui; na desmatada ou substituída pela agropecuária,
obra, a artista Carolina Caycedo investiga por exemplo, a concentração de carbono na
ideias de fluxo, assimilação, resistência, atmosfera aumenta, contribuindo também
representação, controle, natureza e cultura para o aquecimento global.
lançando um olhar crítico para grandes Este cenário é complementado pelo
infraestruturas desenvolvimentistas.4 acúmulo de vapor no ar e os ventos que
Efeitos de ordem sistêmica mostram que o move, reguladores do regime pluvial na
as externalidades não são necessariamente América do Sul.
lógicas ou diretas. É necessária uma Ao destacar elementos naturais
análise global que contemple da escala distantes do meio urbano, o mapa instiga
local à regional, para que a percepção de arquitetos e urbanistas a um entendimento
processos de degradação não fique apenas mais global de seu território.
no imaginário coletivo. As barreiras devem
deixar de ser invisíveis e atingir o campo
1. Lei 11.888/2008. Disponível em:
sensível de todos que atuam no espaço www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
urbano brasileiro. Ato2007-2010/2008/Lei/L11888.htm.
Trabalhos como os das fotógrafas Helena Acesso em: 20 abr. 2018.
Wolfenson e Aline Lata, que documentam 2. Cabe mencionar que a produção
primária é também essencial para a
o resultado do rompimento da represa de
indústria, influenciando até mesmo
Bento Rodrigues em Mariana (MG), expõem a construção civil – que, em 2015,
o conflito entre sistemas naturais e artificiais representava mais de 5% do PIB
e alertam para seus impactos na vida brasileiro e respondia por mais
humana. Há, cada vez mais, a necessidade de 8% da população empregada
do país (CBIC, 2015), incluindo
de desenvolver consciência e mecanismos
arquitetos e urbanistas.
para que cenas como estas não se tornem 3. Das treze usinas hidrelétricas das
cada vez mais frequentes no Brasil. bacias Amazônica, Tocantins/
Em vez de manter os ciclos da natureza Araguaia e Paraguai, seis foram
e nossa integração com eles como muros inauguradas após 2000. Só em
2014, mais de quinze hidrelétricas
desconhecidos para a organização
estavam em planejamento na região
do território urbano, esses devem ser (Agência Nacional de Águas, 2014).
compreendidos por todos os agentes 4. O trabalho foi realizado para a 32ª
que constroem as cidades brasileiras: Bienal de São Paulo – Incerteza
proprietários dos meios de produção e Viva (2016).
fundiários, promotores imobiliários, poder
público, grupos sociais, e, não menos,
arquitetos e urbanistas.
Carolina
Caycedo
A Gente Xingú,
A Gente Doce,
A Gente
Paraná, 2016
Da série A
Gente Rio –
Be Dammed
Fotografias
de satélite
Helena Wolfenson
Paracatú de Baixo, 2015
Marlon, Bento Rodrigues, 2015
Da série Rastro de lama
Fotografia
Aline Lata
Bento Rodrigues, Mariana –
Brasil, 2015
Da série Rastro de lama
Fotografia
entrevista: 142
Antonio Donato
Nobre
Evidência
0°
23°26’S
Áreas de platô, Solos profundos. Solos Erosões, uma vez removida Impedir terminantemente que Atender exigências do Código
topografia suave superficiais mais resistentes a camada de solos águas servidas ou pluviais de Obras para áreas de
em maciço à erosão e de melhor superficiais (~3 m). sejam lançadas para encosta topografia suave.
cristalino. comportamento geotécnico. a jusante sem proteção
i Solos residuais mais adequada.
profundos com grande
suscetibilidade à erosão. Boa
qualidade para fundações.
Áreas ii
passíveis de
ocupação iii
Encostas Solos rasos (~2,0 m), em sua Franca possibilidade Área de urbanização Terminantemente proibida
predominante- maior parte coluvionares. de deslizamentos a desaconselhada, somente a execução de cortes na
mente retilíneas qualquer ação de corte, podendo receber encosta. Cuidar para que as
com inclinação sobrecarregamento ou infraestruturas leves águas pluviais e recebidas de
iv entre 20° e 30°. recebimento de fluxo de associadas a atividades montante não sejam lançadas
drenagem concentrado educacionais de lazer/ para a encosta jusante sem a
originado de montante. ecoturismo. proteção adequada.
Áreas não vi
ocupáveis non vii
edificandi
Faixas de risco Solos profundos, podendo Grande probabilidade Restrição absoluta a qualquer —
situadas na crista haver acúmulo de material de ser atingida ou por tipo de urbanização e uso
ou na base de escorregado. descalçamento (crista) ou físico da área. Eventuais
encostas definidas Topografia suave. por material escorregado ocupações existentes ou
viii como suscetíveis a (sopé). deverão ser removidas, ou se
deslizamentos. uma análise custo/benefício
sugerir, protegidas por obras
geotécnicas.
[Fig. 5] A Carta Geotécnica dos
morros das cidades de Santos
e São Vicente (SP) identifica
os diferentes compartimentos
geológico-geotécnicos e as
opções urbanísticas e construtivas
para uma ocupação segura de
suas áreas.
[Fig. 6] Uma típica Carta de Riscos
indicando os compartimentos com
diferentes graus de risco de uma
área já ocupada e atingida por
eventos de instabilidade. A Carta
é acompanhada por instruções
sobre medidas emergenciais e
corretivas para cada grau de risco.
DESAFIO 160
Como diretriz concisa, podemos entender que o seguinte
desafio se coloca para a arquitetura brasileira: usar a
ousadia e a criatividade para adequar seus projetos à
natureza, em vez de, burocraticamente, pretender adequar
a natureza a seus projetos.
FATOR SOCIAL
SOLUÇÕES ESTRUTURAIS
O presente ensaio contou com a Álvaro Rodrigues dos Santos (Batatais-SP, 1942) é
colaboração dos geólogos Cássio graduado em geologia pela Universidade de São
Roberto da Silva (Serviço Geológico Paulo (USP) e pesquisador sênior V pelo Instituto
do Brasil – CPRM), Eduardo Soares de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Especializado em
de Macedo (Instituto de Pesquisas geologia de engenharia, geotecnia e meio ambiente,
Tecnológicas – IPT), Lídia Keiko é autor de numerosos trabalhos e livros técnicos.
Tominaga (Instituto Geológico – IG) e Ganhou o prêmio Ernesto Pichler da geologia de
da arquiteta Cristina Boggi da Silva engenharia brasileira. É diretor-presidente da ARS
Rafaelli (Instituto Geológico – IG). Geologia Ltda.
5
O mapa não é o
território: o redesenho
da fronteira
Quão desimpedido
é o acesso à
fronteira brasileira?
O termo território foi introduzido pela Runo Lagomarsino, que acha rachaduras
botânica e pela zoologia como sinônimo similares ao mapa da América do Sul no
de área de dominância de determinada concreto da marquise do parque Ibirapuera.
espécie. Com a evolução das ciências Entre constituição da fronteira e
humanas, incorporou-se a campos diversos concepção dos territórios brasileiro e
do conhecimento, ganhando construções vizinhos, é necessário tratar das dinâmicas
distintas. O conceito da geografia humana socioeconômicas dessas áreas. Abordado
e urbana é a chave para entender seu uso por Vidal e Gabriel Duarte, esse aspecto
em estudos de arquitetura e urbanismo traz o que Ailton Krenak chama de fronteira
no Brasil. Território relaciona-se a uma fluida – aquela que não diz respeito ao
formação socioeconômica: uma população físico, mas à cultura de uma sociedade. A
em um espaço determinado,1 assim como instituição física de limitações territoriais
a outras variantes que trazem aspectos não reflete, em definitivo, as relações
políticos importantes para a discussão sociais desses espaços, que permanecem
sobre territorialidade nas áreas de fronteira.2 em constante modificação.
Na concepção do geógrafo Friedrich Ratzel, Fundamentais para entender as áreas
um território está submetido à atuação de de fronteira, as chamadas cidades gêmeas
um Estado, que exerce o papel de defesa. ou de tríplices fronteiras são aquelas
Para Stuart Elden, professor de Ciências onde populações de diferentes origens,
Políticas e Geografia, território é uma culturas e economias se somam, criando
tecnologia política. Assim, um território uma realidade plural. Como Krenak
necessariamente implica uma questão de pontua, precisamos entendê-las como
limite e fronteiras. áreas de interação de fluxos, baseados na
Um território, no entanto, não experiência indígena da troca, e não nas
necessariamente está atrelado às experiências de captura de identidade. A
características físicas de um sítio, mas linha, mais que um limitante físico, pode ser
sim às dinâmicas políticas entre ele e um local de concentração e irradiação de
países, estados e cidades; como afirma atividades; ou, como afirma Duarte, não um
Celma Chaves Pont Vidal em seu ensaio, abismo, mas um centro.
as fronteiras perpassam o ambiente físico, Para além das barreiras conceituais,
relacionando-se a questões simbólicas constituir territórios fronteiriços enquanto
e subjetivas. unidades de esferas maiores requer um
O modo como podemos entender entendimento profundo. Lidamos com
esses conceitos frente à vasta fronteira evoluções históricas distintas. Em alguns
política – em escala continental – do Brasil locais mais antigos, enfrentamentos
é explorado nesse capítulo. A divisa do resultaram na edificação de elementos físicos
país com seus vizinhos da América do Sul, de proteção territorial, como fortalezas e
tem 16.886 quilômetros de extensão e foi muros. Outros locais são territórios recentes:
construída por portugueses e espanhóis cidades isoladas e cidades‑empresa,
nos anos de colonização sem considerar desgarradas de seu contexto maior.
as dinâmicas sociais e fluxos espaciais dos Colonização, base produtiva e infraestrutura,
primeiros habitantes dessas terras. Envolta entre outros, impactam sua estrutura
por objetivos políticos, a fronteira foi sendo organizacional, política e morfológica.3
esculpida conforme interesses, sobretudo São 558 municípios fronteiriços,4 ou seja,
comerciais, e era traçada pelos limites mais de 10% das cidades brasileiras. Eles
ou obstáculos físicos, de forma omissa se diferenciam por seu papel em relação
aos povos existentes. A aleatoriedade ao Brasil e também à América do Sul, com
do traçado em relação a esses outros a qual carecemos de permeabilidade e
componentes faz com que se pergunte conhecimento comum.
se aquele desenho não poderia ter sido Se os territórios estão em constante
encontrado pronto, a exemplo da obra de transformação, podem ser vistos como fluxos
e, então, devem ser tratados como tais 1. Definição utilizada pelo geógrafo
através de propostas dinâmicas e valores brasileiro Milton Santos a partir
da década de 1970. Ver Antonio
coletivos. Quem sabe, assim, as fronteiras
Carlos Robert Moraes, “Território”,
não passem a ser momentos enriquecedores in Revista Orientação, nº5. São
para os que estão nelas ou conectados a elas. Paulo: Instituto de Geografia da
Universidade de São Paulo, 1984.
2. “Fronteira” vem do latim frons ou
frontis e pode significar também in
O mapa
fronte, “na frente”. Ver Maria Lucia
Torrecilha, A gestão compartilhada
O mapa não é o território sobrepõe a como espaço de integração na
fronteira política do Brasil aos limites reais fronteira Ponta Porã (Brasil) e
que definem a percepção desse território. Pedro Juan Caballero (Paraguai).
Tese de doutorado, universidade
Estrutura-se, portanto, a partir de dois
de São Paulo, 2013.
tipos de limite – o instituído e o percebido 3. IPEA DATA. Banco de Dados, 2017.
–, ilustrando as camadas que compõem a Disponível em: www.ipeadata.gov.
fronteira e definem as zonas de contração e br/Default.aspx. Acesso em: 18
dilatação dessa separação. abr. 2017. Maria Lucia Torrecilha,
“Na linha da fronteira”, Colóquio
A rotação do mapa em 90 graus reforça a
Internacional Sobre o Comércio e
imagem da fronteira como muro e distancia Cidade: uma relação de origem,
o observador da imagem tradicional do 2015. Disponível em: www.
território sul-americano. Traçados em labcom.fau.usp.br/wp-content/
vermelho, os trajetos possíveis ao longo da uploads/2015/05/1_cincci/041.pdf.
Acesso em: 18 abr. 2018.
fronteira abrangem rodovias, rios e trechos
4. Ministério da Integração Nacional.
aéreos. As divisões administrativas dos Proposta de Reestruturação do
países dão lugar às subdivisões que de fato Programa de Desenvolvimento
definem a experiência desses espaços: a da Faixa de Fronteira. Bases
intersecção entre os biomas, as ecorregiões para uma Política Integrada de
Desenvolvimento Regional para a
de água doce, os pontos de controle Faixa de Fronteira. Brasília, 2005.
alfandegados, as cidades e os aglomerados Disponível em: www.retis.igeo.
urbanos, as reservas indígenas e áreas de ufrj.br/wp-content/uploads/2005-
preservação ambiental, os rios e corpos de livro-PDFF.pdf. Acesso em: 18 abr.
água, as memórias das missões jesuíticas, 2018.
os pelotões especiais de defesa territorial
na Amazônia, os portos e aeroportos.
Os principais pontos são acompanhados
por dados sobre proporção entre habitantes
(homens e mulheres, população rural e
urbana, estrangeiros, arquitetos atuantes)
e traduzem visualmente a intensidade das
relações nos diferentes trechos da fronteira,
expondo níveis variados de permeabilidade
e interação de Norte a Sul do país. Enquanto
no Chuí (RS), as cidades gêmeas uruguaia
e brasileira pulsam juntas, vinculadas por
uma avenida que tem como razão de ser
as relações de troca entre os dois países,
no Oiapoque (AP) o acesso de brasileiros à
Guiana Francesa – por uma ponte de 378
metros concluída em 2011 mas liberada para
o tráfego apenas em 2017 –, ainda depende
de permissão especial.
Runo Lagomarsino
ContraTiempos, 2010
Projeção Dia, 27 imagens originais
em carrossel de projeção de slide
Kodak com timer
Paulo Nazareth
Premium Bananas /
Mapa Guarani, 2012
Costura e técnica mista
sobre tecido
entrevista: 174
Ailton Krenak
Evidências
Potencial transformador
- habitantes + habitantes
BRASIL
O horizonte é Gabriel 180
apenas o início: Duarte
fronteiras,
cidades e
identidades
Evidência
Potencial transformador
Evidência
Potencial transformador
RR AP
MA
AM PI CE RN
PA
AC PE AL
TO SE
RO
MT DF BA
GO MG ES
MS SP RJ
PR
SC
RS
1920 1950
30.6
(eixo-y) população
em milhões
Rural Urbano
1980 2000
160.9
29.8
Linhas Iris Kantor 218
imaginárias,
muralhas e
mobilidade:
fronteiras
continentais
na cartografia
luso-brasileira
Evidência
Potencial transformador
R I O D E JA N E I RO
Espaço e Danilo Igliori 250
mercado: e Sergio
uma reflexão Castelani
sobre a
geografia
imobiliária
e economia
das cidades
Evidências
Potencial transformador
E STA D O D E S ÃO PA U LO
QUEBRANDO BARREIRAS:
NOVAS FORMAS DE PRODUZIR MORADIAS E CIDADES
CIDADE DE DEUS
DÉJÀ-VU?
Marc Angélil (Alexandria, Egito, 1954) é professor Rainer Hehl (Rottweil, Alemanha, 1973) é arquiteto/
do Departamento de Arquitetura da ETH de Zurique. urbanista e professor convidado na TU Berlin e na
Pesquisa o desenvolvimento social e espacial Universidade Nacional de Yokohama, Graduate School
de grandes regiões metropolitanas. Publicou of Architecture. Entre 2010 e 2013 Hehl dirigiu o mestrado
livros como Cidade de Deus!, sobre moradias em estudos avançados de planejamento urbano da ETH
populares informais no Rio de Janeiro, Indizien, de Zurique com projetos de pesquisa e planejamento
sobre a economia política dos territórios urbanos em desenvolvimento de territórios emergentes, com
contemporâneos, e Cities of Change Addis Ababa, foco no Brasil. Conferencista em informalidade urbana,
sobre transformação urbana nos países em arquitetura popular e urbanidades híbridas, foi consultor
desenvolvimento. Atua no escritório de arquitetura para o desenvolvimento de novas diretrizes do programa
agps, com filiais em Los Angeles e Zurique, e Minha Casa Minha Vida. Em seu doutorado na ETH,
integra o conselho da LafargeHolcim Foundation pesquisou estratégias de urbanização para ocupações
for Sustainable Construction. informais, com foco no estudo de casos do Rio de Janeiro.
9
Divisões sólidas:
fronteiras na cidade
Quão livre é a
transposição de limites
entre tecidos urbanos
distintos?
Divisões sólidas explora o tema Muros de congestão e pautada pelo uso do transporte
ar a partir da escala urbana, familiar não só individual transformou os condomínios
a arquitetos e urbanistas, mas também a fechados em cenário frequente no Brasil afora.
todos os que vivem em cidades. Ainda que Os centros urbanos, por sua vez, por falta de
os temas abordados nos capítulos anteriores políticas de moradia para população de média
tenham repercussões diretas no meio urbano, e baixa renda e pelo movimento centrífugo
aqui a finalidade é discutir as barreiras que descrito anteriormente, se esvaziaaram e
existem concretamente em bairros e entre homogeneizaram as funções que abrigam.
edifícios. Barreiras que podem ser facilmente Conforme as metrópoles brasileiras
percebidas por seus habitantes. se alimentam – ou deixam de combater –
No Brasil, mais de 160 milhões vivem em esses movimentos de expansão, diversas
ambientes urbanos, um contingente que externalidades da falta de planejamento se
supera o total de países como Japão, México tornam comuns a todas elas: infraestrutura
ou Alemanha. Os brasileiros urbanos se insuficiente; rios canalizados e poluídos;
distribuem em mais de 100 mil quilômetros carência de áreas verdes e espaços públicos
quadrados. A construção das cidades de convivência; excesso de rodovias sem
brasileiras foi caracterizada por um processo transporte público eficiente, etc. Aos poucos
desigual e segregativo nas escalas local e o território urbano se fragmenta em fatias
regional. Como afirma Rodrigo Agostinho em desconexas e o muro, solução descabida
seu ensaio, a população não se acomodou no para mediação entre os espaços, torna-se o
espaço urbano da melhor maneira possível, protagonista dessa paisagem, agora dividida
mas sim da maneira que pôde. e monitorada. A vida é cada vez menos pública
Embora a maioria da população brasileira e compartilhada somente entre pessoas
viva em cidades, o aumento populacional dos mesmos grupos sociais, em enclaves
urbano não representou sempre um controlados.
adensamento. Em vez de se concentrar em Apesar da história da urbanização das
áreas centrais, a população se distribuiu cidades brasileiras contar com propostas
de forma irregular. Os antigos centros louváveis de se transpor barreiras nas cidades
urbanos não foram capazes de receber e repensar suas configurações espaciais, é
novos habitantes, vindos de outros países ou perceptível como muitas vezes a destruição
regiões brasileiras, e esses acabaram por se de uma barreira acaba por construir uma nova,
estabelecer em bairros distantes e com menos como pontuam os grupos GRU.A e OCO em seu
infraestrutura. A dispersão populacional é ensaio. O Aterro do Flamengo, por exemplo,
presente em cidades brasileiras e, ao mesmo espetacular do ponto de vista técnico e como
tempo, não se restringe somente à parcela espaço público, esconde questões sociais,
menos privilegiada da população. econômicas e ambientais que contradizem
Ainda que as áreas mais densas das sua proposta.
cidades fossem vistas como lugares de Infraestruturas que, em vez de conectar
trabalho, cultura e entretenimento, problemas partes da cidade, constroem divisões físicas,
urbanos como poluição e insegurança – que também são constantes. Elas são tema
aumentaram exponencialmente entre as recorrente no trabalho do artista espanhol
décadas de 1970 e 80 – começaram a afetar Antoni Muntadas, aqui representado.
o cotidiano dos habitantes, incentivando Traçando paralelos entre grandes obras
parte da população de maior poder aquisitivo viárias e monumentos comemorativos, ele
a mudar para áreas não mais centrais. Alia- critica as transformações na paisagem urbana
se a este fato, modelos de urbanização que implicam em perda de identidade, ainda
importados dos Estados Unidos e Inglaterra, que essas tenham representado progressos
uma constelação de bairros suburbanos foi técnicos ou econômicos.
criada ao mesmo tempo em que o tecido Em meio a esse cenário de desafio
urbano vai se espraiou. A promessa de uma há também aquelas experiências que
vida familiar de maior qualidade, afastada da apresentam oportunidades e possibilidades
de mudança. O ensaio de Bruno Santa observava, que “O mundo é um conjunto de
Cecília remete a resultados notáveis criados possibilidades e não apenas um conjunto de
por projetos arquitetônicos como o edifício realidades […] outros mundos poderiam ser
Copan e o Parque Ibirapuera. Além do poder criados a partir dos mesmos materiais”.
público, ele lembra, a iniciativa privada
também tem um papel fundamental na
geração de experiências urbanas de qualidade. O mapa
Alternativas para reinventar o espaço comum
são tema, também, das reflexões de Marcos O mapa proposto para chamar atenção à
Rosa. Por que não encarar ruas, avenidas e problemática das fronteiras intraurbanas
rodovias como possibilidades? A abertura de traz o recorte de 30 cidades brasileiras,
uma via emblemática como a avenida Paulista distribuídas entre as cinco regiões do país.
aos pedestres, nos fins de semana, e as Cada uma delas apresenta a sobreposição
manifestações de interesse público realizadas de informações de topografia e malha viária
nas ruas de grandes cidades brasileiras são como base, porém em uma abstração gráfica
formas de confrontar barreiras urbanas em que omite marcações de linha costeiras,
princípio limitadoras. águas, áreas verdes ou quaisquer outros
Reverter a lógica de segregação que se elementos convencionalmente utilizados para
criou nas cidades brasileiras não é tarefa representar cidades. Sobre essas bases, as
simples. Diferentemente do direito ao espaço barreiras urbanas são extraídas.
urbano coletivo, o muro físico privado está Grandes rupturas no tecido urbano e
regulamentado no Código Civil.1 É preciso uma contrastes da morfologia edificada nas
nova lógica para se pensar as cidades e, como cidades, que sugerem momentos de divisão,
propõe Gilson Rodrigues em sua entrevista, são identificados a partir da rica base de
construir uma sociedade menos desigual. A dados elaborada pelo QUAPÁ (Quadro do
vontade e necessidade de resistência à difusão Paisagismo no Brasil), pesquisa desenvolvida
desses padrões de exclusão não é pouca, e na FAU-USP desde 1994 que examina as
está aqui representada em breves registros principais estruturas da forma urbana e
sobre os protestos de 2013 no Rio de Janeiro, sistemas de espaço livre da cidade brasileira.
através do olhar de Pedro Victor Brandão . Essa pesquisa é a fonte da qual foram
Finalmente, este capítulo tem forte conexão extraídos os tipos de divisão apresentados
com os projetos selecionados mediante no mapa. Das 23 categorias levantadas pelo
chamamento público e apresentados na seção QUAPÁ, 10 foram consideradas barreiras a se
final do livro. Se aqui se colocam barreiras, mostrar no mapa de Divisões sólidas.
lá se propõem maneiras de as atravessar. A essas categorias foram aplicadas cores
Propostas como a passarela dos arquitetos – para diferenciá-las entre si – sobre imagens
Sauermartins + Metropolitano ou a Escola de satélite – para mostrar a realidade no chão.
sem muros, da Sem Muros Arquitetura O mosaico resultante torna-se uma mistura de
Integrada, são soluções capazes de transpor pintura e mapa onde não se percebe ao certo
as condições adversas apresentadas pelos o começo ou o final de cada cidade, mas que
seus contextos. O Farol da Maré, de Pedro tem os fragmentos de divisões extraídos para
Évora, e o projeto do grupo Gru.a com Pedro construir um retalho de momentos reais de
Varella são belos exemplos da possibilidade separação urbana.
de ultrapassar barreiras físicas ao se abrir
novas visadas sobre o meio urbano. Cada
um dos dezessete projetos luta de uma 1. Ver Brasil, Lei nº 10.406, de 10
de janeiro de 2002: Código Civil.
forma específica contra as condições de
Disponível em: www.planalto.gov.
impedimento impostas por seus contextos,
não se restringindo às limitações presentes
mas imaginando possibilidades. Eles
lembram, como o geógrafo Milton Santos
Antoni Muntadas em
colaboração com Paula Santoro
On Translation: Comemorações
urbanas, 1998-2002, São Paulo
Placa em bronze, cartão postal
e website
Pedro Victor Brandão
Da série Mitigação sem
impacto (Convite à pintura), 2013
Impressões em jato de tinta sobre
papel de algodão
entrevista: 318
Gilson
Rodrigues
Evidências
Paraisópolis:
a favela mais populosa
em São Paulo
Á R E A U R B A N A D E S ÃO PA U LO
Contestando Marcos 324
fronteiras: L. Rosa
práticas
culturais,
desenho urbano
e construção
de situações
na cidade
POUSO
ROMPER A QUADRA
ELIMINAR OS MUROS
HABITAR AS INFRAESTRUTURAS
GUANABARA
BAÍA DE
34
36 34
28
01 - 17
32
16
29
RIO DE JANEIRO 30
31
18
19
23 20
21
24 22
25
26
33 27
02. lagoa da sentinela OCEANO ATLÂNTICO
07. região portuária
08. lagoa da pavuna
11. lagoa de santo antônio 01. túnel martim de sá 18. túnel do pasmado 26. túnel de são conrado
12. lagoa do boqueirão da ajuda 04. túnel joão ricardo 19. túnel novo 27. túnel do joá
13. lagoa do desterro 05. túnel nina rabha 20. túnel velho 29. túnel da covanca
14. aterro do flamengo 06. mergulhão z. portuária 21. túnel major rubens vaz 30. túnel geólogo enzo totis
23. lagoa rodrigo de freitas 03. morro do senado 15. túnel santa barbara 22. túnel sá freire alvim 31. túnel enaldo c. peixoto
28. ilha do fundão 10. morro do castelo 16. túnel noel rosa 24. túnel rafael mascarenhas 32. corredor tancredo neves
34. ilha do governador 11. morro de santo antônio 17. túnel rebouças 25. túnel dois irmãos 33. túnel jose alencar
GUANABARA
BAÍA DE
11. aterro da lagoa de santo
01. perfuração do túnel martim de sá antônio
02. aterro da lagoa da sentinela 12. desmonte do morro do castelo
03. desmonte do morro do senado 13. desmonte do morro de santo
antônio
14. aterro da lagoa do boqueirão
da ajuda
15. aterro da lagoa do desterro
1KM 16. aterro do flamengo
17. perfuração do túnel santa
barbara
M² A_aterrar
M P_perfurar
01. túnel martim de sá 02. lagoa da sentinela 03. morro do senado 04. túnel joão ricardo
date 1977 date 1779 date 1880 date 1921
size 304m area 8 168m² volume 6 005 960m³ size 293m
P_ P_ A_ A_ A_
05. túnel nina rabha 06. mergulhão z. portuária 07. região portuária 08. lagoa da pavuna 09. lagoa de santo antônio
date 2013 date 2015 date 1910 date 1749 date aprox. 1600
size 80m size 1 480m² area 175 000m² area 28 913m² area 20 665m²
D_ D_ A_ A_ A_
10. morro do castelo 11. morro santo antônio 12. lagoa do boqueirão 13. lagoa do desterro 14. aterro do flamengo
date 1920 date 1950 date 1780 date 1643 date 1920-65
volume 10 847 760m³ volume 11 259 960m³ area 55 866m² area 23 421m² area 2 581 165m²
P_ P_ P_ P_ P_
15. túnel santa bárbara 16. túnel noel rosa 17. túnel rebouças 18. túnel do pasmado 19. túnel novo
date 1963 date 1970 date 1962 date 1952 date 1906/49
size 1 357m size 720m size 2 800m size 220m size 250m
P_ P_ P_ A_ P_
20. túnel velho 21. túnel major rubens vaz 22. túnel sá freire alvim 23. lagoa rodrigo de freitas 24. túnel rafael mascarenhas
date 1892 date 1963 date 1960 date 1922 date 1971
size 182m size 220m size 326m area 1 497 295 m² size 500m
P_ P_ P_ A_ P_
25. túnel dois irmãos 26. túnel de são conrado 27. túnel do joá 28. ilha do fundão 29. túnel da covanca
date 1971 date 1971 date 1967 date 1952 date 1997
size 1 522m size 165m size 344m area 3 703 120m² size 2 187m
P_ P_ P_ P_ P_
30. túnel geólogo enzo totis 31. túnel enaldo c. peixoto 32. corredor tancredo neves 33. túnel josé alencar 34.ilha do governador
date 1997 date 1997 date 2016 date 2012 date 1978/99
size 161m size 153m size 1 337m size 1 112m area 5 536 337
ladeira da
misericórdia
[Fig. 8] situação –
túnel Santa Bárbara.
[Fig. 9] rastro – silo de construção
industrial demolida.
direta à condição geográfica de vale úmido e sombreado.
Sobre as terras úmidas se ergueram sobrados e chácaras
no período colonial. Com a expansão da cidade para a orla
marítima, o bairro logo perdeu o prestígio conquistado
como residência das classes abastadas, passando a
abrigar fábricas como a Cervejaria Brahma e a Refinaria
Ramiro, conhecida também como Fábrica de Açúcar Brasil,
inauguradas em 1888 e 1855, respectivamente.
A construção do túnel Santa Bárbara, juntamente
à via que dá acesso ao bairro, coincide, entretanto,
com a desapropriação e a posterior demolição da
refinaria, nos anos 1960. O que resta dessa edificação
é um fragmento que hoje se encontra em pleno espaço
público. Sua presença não atrapalha o pragmatismo dos
fluxos metropolitanos. A antiga chaminé se apresenta
como uma das poucas referências verticais em uma
paisagem essencialmente horizontal, protagonizada
pelas infraestruturas viárias. Destituída de sua função
específica – levar aos céus os vapores produzidos na
atividade industrial –, a torre torna-se elemento sugestivo
de um movimento ascendente, reforçado pela escada de
vergalhão contígua à superfície de tijolos. Torna-se algo
como um mirante impossível ou, no mínimo, vertiginoso.
O mapa
Evidências
Potencial transformador
Evidências
Potencial transformador
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Assentamentos irregulares
Á R E A M E T RO P O L I TA N A D E S ÃO PA U LO
Probabilidades Paulo 382
no pixo Orenstein
NIMVUMAPESOADESACIDADEMALUCA
e
VAMILIADEPORCOSSFICIADOS.
O DESAFIO DA CONSERVAÇÃO:
ESPAÇOS PÚBLICOS DE PROPRIEDADE PRIVADA
Arquitetos
Pedro Varella +
Gru.a Arquitetos
Localização
Niterói – RJ
Arquitetos
Sem Muros Arquitetura
Integrada
Localização
São Paulo – SP
Arquitetos
Marcio Kogan + studio mk27
Localização
São Paulo – SP
Arquitetos
Bernardes Arquitetura
Localização
São Paulo – SP
Arquitetos
Brasil Arquitetura
Localização
Salvador – BA
Arquitetos
H+F Arquitetos
Localização
Osasco – SP
Arquitetos
Rosenbaum + Aleph Zero
Localização
Formoso do Araguaia – to
Arquitetos
Triptyque Architecture
Localização
São Paulo – SP
Arquitetos
SIAA + HASAA
Localização
Ribeirão Preto – SP
Arquiteto
Pedro Évora
Localização
Rio de Janeiro – RJ
Arquitetos
SP Urbanismo
Localização
São Paulo – SP
Arquitetos
Una Arquitetos (projeto urbano por
Laboratório de Urbanismo da Metrópole /
LUME FAUUSP, Una Arquitetos, H+F Arquitetos
e Metrópole Arquitetos)
Localização
São Paulo – SP
Antoni Muntadas
em colaboração com
Paula Santoro (P.310)
On Translation: Comemorações
urbanas, 1998-2002
Placa em bronze, cartão postal
e website
Cortesia do artista e Galeria Luisa
Strina, São Paulo
Superintendência Executiva
Luciana Guimarães
Ailton Krenak
Luiz Felipe de Alencastro
Antonio Donato Nobre
Claudio Haddad
Eliane e Carla Caffé
Sérgio Besserman
Claudio Bernardes
Drauzio Varella
Gilson Rodrigues
Djan Ivson
Kenarik Boujikian
Dados Internacionais de
Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro,
SP, Brasil)
Muros de ar : Pavilhão do
Brasil 2018 / organizado por
Sol Camacho… [et al.]. -- 1. ed.
-- São Paulo : Bienal de São Paulo,
2018.
ISBN 978-85-85298-61-6
18-15407 CDD-720.981
Índices para
catálogo sistemático:
1. Bienal Internacional de
Arquitetura : Exposições :
Catálogos 720.981