Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-62058-01-1
CDD 362.796
Helga Ilse Bekman – CRB 8ª/669
C
riada em 2005, a Fundação Tide Setubal é Nesse contexto, é com muita satisfação que apre-
uma instituição privada sem fins lucrativos sentamos Mundo Jovem: desafios e possibilidades
que nasce com objetivo de apoiar o – uma proposta de trabalho com adolescentes,
desen- publicação que sistematizou o trabalho da Funda-
volvimento local e fortalecer o exercício da cidada- ção nos projetos Espaço Jovem e Espaço Menina
nia nas comunidades em que atua. O foco de Mulher, de modo que essa metodologia pudesse
sua atuação é o território local, onde as pessoas ser acessível a um grupo maior de educadores
efeti- vamente vivem e constroem suas relações assim como às diversas instituições governamen-
sociais, econômicas e políticas. tais e não governamentais.
A construção de uma sociedade justa e iguali- Mundo Jovem socializa a experiência dos projetos
tária, o respeito às diferentes temporalidades e mencionados acima que aconteceram em dife-
pluralidades, a valorização da cultura, das expe- rentes espaços públicos – tanto comunitários como
riências e dos costumes são os princípios básicos em escolas – e buscaram estimular a autonomia de
que norteiam as ações da Fundação Tide Setubal. adolescentes e jovens, sustentando reflexões com-
Nossos projetos focalizam com maior ênfase partilhadas no coletivo e procurando desenvolver
adolescentes, jovens e famílias, moradores de re- questionamentos e pensamentos mais críticos a
giões que apresentam altos índices de vulne- respeito de suas histórias de vida, de seus desejos
rabilidade social. e do mundo em que vivem.
Nossas atividades acontecem na zona leste de São Com a implementação do projeto, são discutidos
Paulo, especialmente no bairro de São Miguel Pau- temas relacionados à identidade, diversidade,
lista. A Fundação desenvolve iniciativas e projetos corpo, sexualidade, família, profissão, drogas e
multidisciplinares e multissetoriais; avalia, sistema- cidadania. Ao longo de um ano, essas meninas e
tiza e disponibiliza os resultados e conhecimentos meninos podem exercitar as habilidades de con-
gerados pelas experiências desenvolvidas; vivência e criação de iniciativas coletivas, fortale-
promove e estimula o acesso da comunidade à cendo a possibilidade de escuta e de fala, mediante
informação e à apropriação do conhecimento. a troca de saberes e a apropriação das novas infor-
mações. Dessa maneira refletem e compartilham a
Além disso, as ações da Fundação buscam uma possibilidade de começar a construir um projeto
articulação com as políticas públicas. Para tanto, de vida possível e autêntico.
desenvolvemos parcerias com órgãos governa-
mentais, entidades não governamentais, empre- Acreditamos que, com esta publicação, estamos
sariais e comunitárias, por meio da construção de contribuindo para que um número maior de ado-
vínculos de confiança e do desenvolvimento con- lescentes e jovens possa inserir-se em espaços
junto de projetos e programas. Assim, o reconhe- coletivos de reflexão que potencializem seus
cimento do território e suas relações são de saberes, ampliem seu universo cultural e con-
fundamental importância em todas as etapas de tribuam para construção de seus projetos de vida.
implementação dos projetos.
Maria Alice Setubal
Presidente Fundação Tide Setubal
5
um pouco de história...
E
ste material nasceu dos projetos Espaço Os bons resultados do
Menina-Mulher e Espaço Jovem, dirigidos primeiro semestre
especialmente para adolescentes de 13 a 18 deram origem a um
anos, moradores de São Miguel Paulista, bairro da segundo módulo
periferia de São Paulo. Uma pesquisa realizada em de 14 encontros,
2005 pela Fundação Tide Setubal em parceria com voltado, especi-
o Ibope, abordando temas como saúde, educação, ficamente, para
cultura, segurança, necessidades e sonhos da o projeto de vida
po- pulação, forneceu informações essenciais para de cada adolescente, realizado de agosto a
o delineamento do projeto. Dentre elas, cabe res- dezem- bro de 2006. Em 2007, procurando atender
saltar o alto índice de desemprego, a falta de a uma demanda crescente, a equipe responsável
pers- pectivas para o futuro na população jovem decidiu ampliar a proposta. Além de abrir seis
e a escassez de opções de cultura e lazer na novos gru- pos (dos quais dois mistos, chamados
região. Assim, o projeto foi idealizado visando de Espaço Jovem, realizados em uma escola
oferecer às adolescentes um espaço alternativo à pública), o proje- to tornou-se anual. Em 2008, o
escola que fosse, ao mesmo tempo, um lugar de projeto continua em vigor, com quatro grupos, em
informação, reflexão, aprendizado, cultura e três diferentes espaços: CDC, Galpão Cultural do
lazer, no qual se disponibilizassem instrumentos Jardim Lapenna e Escola Municipal Dom Paulo
para a melhor compreensão da fase adolescente Rolim.
como o mo- mento de intensas transformações
que marcam a trajetória da infância para a fase O objetivo mais amplo do projeto é promover a
adulta. Consi- deraram-se, portanto, as pessoas saúde mental e física de adolescentes e jovens por
nessa faixa etária em suas múltiplas dimensões meio de múltiplas atividades vinculadas ao desen-
– corporal, subjetiva e sociocultural. volvimento e ao interesse pessoal dos participantes
no mundo contemporâneo, focalizando aspectos
O Espaço Menina-Mulher teve início no primeiro relacionados a: identidade e diversidade, corpo,
semestre de 2006 com dois grupos de adolescentes sexualidade, família, drogas, trabalho e profissão
(de 13 a 15 anos e de 16 a 17 anos). Eles foram e cidadania. Pretende-se, com isso, que os inte-
realizados no CDC Tide Setubal (Clube da Comuni- grantes ampliem sua visão crítica da realidade e
dade), um espaço público, dotado de equipamen- reflitam sobre temas próprios às suas vivências.
tos esportivos, ambientes de convivência, CPDOC
(Centro de Pesquisa e Documentação) e um tele-
O trabalho com os adolescentes e jovens é
centro. Esse local é gerido pela Fundação Tide
essen- cial, pois esse período da vida
Setubal conjuntamente com outras instituições da
caracteriza-se por grandes transformações
comunidade local1.
físicas e subjetivas, que demandam reflexão e
compartilhamento de expe- riências para a
construção de uma identidade adul-
1
No atual mandato (2007/2009), a Associação Recreativa Brasil do Jardim Miragaia é parceira da Fundação Tide Setubal na gestão do
CDC.
6
ta capaz de se posicionar no mundo. Esse é um oficinas incluíram atividades com vídeos educa-
período de escolhas cruciais, tanto no plano tivos, discussões, jogos, dramatizações, conversas
profis- sional quanto no afetivo; para tanto, é e propostas lúdicas com materiais de artes. A
fundamental que existam espaços de troca que maior parte das atividades foi feita coletivamente
ajudem esses jovens a se apropriar de sua para que os adolescentes desenvolvessem
crescente autonomia e a trilhar caminhos habili- dades de convivência em grupo e de
saudáveis, que busquem um equilíbrio entre o cooperação.
desejo de cada um e as possibili- dades que a
realidade oferece.
O sucesso do projeto fez com que a equipe
siste- matizasse sua experiência, elaborando um
A escolha de trabalhar com essa faixa etária tam- material que tornou possível reproduzi-la, a fim de
bém se baseou na idéia de que as políticas multipli- car o trabalho, ampliar o seu alcance e,
públicas devem criar espaços diferentes das desse modo, atingir um público maior em todo o
escolas, mas conectados a elas, objetivando a país. Este mate- rial baseia-se, portanto, em
montagem de uma rede efetiva que contribua atividades já realizadas, longamente discutidas e
para a formação de sujeitos-cidadãos, aptos a avaliadas, e contou com a participação dos
buscar, escolher e inventar um futuro melhor próprios jovens.
para suas vidas.
Assim, esperamos que este material ajude profis-
Para atingir esses objetivos, foi criada uma sionais interessados na adolescência a formar
metodologia específica, apoiada em atividades com jovens capazes de assumir o mundo adulto com
abordagens diversas, pouco usuais nas escolas. As confiança e autonomia.
O grupo
Nossa experiência mostrou que o grupo deve ser confiança e acolhimento, mas não deve perder o
constituído por preferencialmente, no máximo, 20 seu lugar de autoridade enquanto coordenador. É
adolescentes. Um número inferior a oito jovens importante que os jovens encontrem adultos com
pode empobrecer as discussões e um número os quais tenham afinidade, mas que se
muito grande pode acabar por causar dispersão, diferenciem deles no modo de falar e de se
além de dificultar a participação de todos, algo comportar.
essencial na proposta. Em razão dos grandes
"saltos" próprios a essa fase de Duração e rotina
desenvolvimento, optou-se por reuni-los em O material pode ser usado de acordo com as
grupos com idades próximas, por exemplo, necessidades de cada grupo. Há atividades em
entre 12 e 15 anos, ou entre 15 e 18 anos. número suficiente para se desenvolver um
trabalho semanal ao longo de um ano. Sugerimos
Os monitores que os encontros tenham a duração de duas a três
Sugerimos que o trabalho seja desenvolvido, se horas, com freqüência semanal. Contudo, ele
possível, por dois monitores, o que permite maior pode ser também usado de maneira esporádica,
troca de idéias e de interação entre jovens e adul- como por exemplo, por um professor em sala de
tos. É importante que os monitores tenham tempo aula que queira desenvolver somente um ou
para discutir e avaliar as oficinas após sua realiza- outro módulo específico com seus alunos.
ção, a fim de adequar a metodologia às necessi-
dades de seu grupo. Eles devem estar Propomos ainda que todos os encontros sejam ini-
disponíveis e atentos aos movimentos do grupo, ciados com uma roda de conversa, o que
mobilizando os adolescentes a cada atividade, permite aos jovens contar as novidades da
escutando os pedidos deles, dando informações semana e se preparar para a atividade que virá a
e mediando os conflitos que surgirem. Muitas seguir. A roda é uma forma de aquecimento,
vezes os jovens se expõem ao tratar de temas podemos usá-la para lançar uma primeira
mais delicados (como sexualidade ou conflitos conversa sobre o tema que será trabalhado no
familiares), o que exige respeito e acolhimento da dia.
parte dos adultos.
Nossa experiência nos mostrou que um
O papel do monitor é fundamental à condução momento de socialização, ao término de cada
dessa proposta; ele precisa lançar mão de seu oficina, promove maior integração e descontração
repertório cultural, ser receptivo e aberto o sufi- entre os partici- pantes, ainda mais se
ciente para falar de todos os assuntos, transmitir acompanhado de um lanche. Portanto, sempre
que possível, deve-se reservar algum tempo para
a realização dessas trocas infor- mais,
preferencialmente ao final dos trabalhos.
8
Como usar este material
10
11
introdução
C
riar um clima de solidariedade e de intimidade no grupo é essencial ao projeto,
uma vez que os conteúdos trabalhados exigem cumplicidade e respeito entre os
participantes, assim como confiança entre adolescentes e adultos. Por essa razão,
as oficinas introdutórias têm os objetivos de favorecer o entrosamento e apresentar o tra-
balho. Esse é um período de formação do grupo.
Além disso, nesse início de trabalho, é importante que você se aproxime do tema
adolescên- cia, aprofundando seus conhecimentos, questionando-se, por exemplo,
sobre quem são esses adolescentes da atualidade, quais são suas características,
necessidades e dificul- dades. Isso pode ajudá-lo a entendê-los melhor e a se
posicionar de uma maneira mais con- sistente diante do grupo. Para tanto, além dos
textos dos especialistas presentes em cada módulo, sugerimos uma bibliografia ao final,
caso você queira se aprofundar ainda mais.
Após o texto do especialista, você encontrará diversas atividades que auxiliam o grupo a se
entrosar, mesmo quando os adolescentes já se conhecem. Algumas delas podem ser
reali- zadas no primeiro encontro como forma de apresentação e outras, ao longo das
primeiras oficinas, para criar um clima amistoso antes da realização das atividades. Cabe
ao monitor avaliar as necessidades de seu grupo.
Bom trabalho!
objetivos do módulo:
12
com a palavra...
Q
uem são os adolescentes dos tempos de hoje? Como eles podem estar mais
preparados para enfrentar o mundo contemporâneo? Quais são os desafios com
que os profissionais que trabalham com esse público têm de lidar? As possíveis
respostas para essas perguntas sem dúvida são muitas e incessantemente renováveis,
uma vez que a realidade se apresenta de diversos modos. Também não podemos falar
de uma única adolescência, mas de várias, com caminhos, estilos, pensamentos e
carac- terísticas particulares.
Escrever sobre adolescência é, sobretudo, lidar com o tema das contínuas transfor-
mações. Adolescência é uma trajetória marcada pela passagem de um mundo infantil,
protegido, no qual sempre há adultos (pais ou seus substitutos) zelando pela criança,
para um mundo adulto no qual cada um tem de se responsabilizar pela sua vida e suas
escolhas. O adolescente se vê, então, obrigado a lidar com todas essas mudanças.
Obrigado porque ele não pode escolher entre crescer ou não: a todos nós, impõe-se a
tarefa de lidar com esse novo lugar no mundo.
E como é essa trajetória que o adolescente constrói, ensaiando novos lugares, jeitos
de ser, possibilidades de futuro? É, antes de tudo, intensa. Recheada de conflitos,
crises, questões. Não é fácil conquistar a autonomia, o engajamento no mundo, e
responsabi- lizar-se pelas próprias atitudes. Tudo isso implica necessariamente um
certo tempo. Tempo para se dar conta, experimentar, testar, questionar, brigar,
descobrir, construir outro jeito. Tempo para aceitar as perdas dos benefícios de ser
criança e para descobrir que também há benefícios em ser adulto.
Assim, por um bom período da vida, as pessoas ocupam um lugar adolescente, marca-
do por mudanças e instabilidades. E, na busca de um espaço na sociedade, muitas
delas tornam-se questionadoras: arriscam-se, provocam, constrangem, perguntam,
desafiam, testam e acontecem. Outras, assustadas, mostram-se apáticas e
desinteressadas.
TIDE SETUBAL SOUZA E SILVA é psicóloga e psicanalista, mestre pela Université René Descartes - Paris V, trabalha na
equipe Menina-Mulher/Espaço Jovem da Fundação Tide Azevedo Setubal e coordenou a produção desse material.
13
O que podemos fazer então? Qual é o nosso papel? Compreender esse momento é
a primeiro passo para encontrar verdadeiramente esses adolescentes, saber conversar
com eles e saber se fazer escutar por eles. É preciso estar atento ao fato de que, ape-
sar de inúmeras vezes eles se mostrarem muito rebeldes, distantes ou intransigentes,
no fundo estão ávidos por conversas e encontros. E não exclusivamente com os
amigos, que sem dúvida têm um papel fundamental nessa fase, mas também com os
adultos. Com aqueles que podem ser referências, modelos e interlocutores.
14
No trabalho com adolescentes, somos continuamente confrontados com um pedido:
“queremos exemplos.” Isso nos indica, entre outras coisas, que nesse percurso de se
tornar adulto os jovens querem ter referências tanto de outros jovens com quem
se identificam horizontalmente, mas também de adultos, pais, familiares, educadores.
Contudo, nos deparamos freqüentemente, na atualidade, com adultos que não sabem
como se relacionar com adolescentes. E esse desencontro pode gerar uma ausência
da figura do adulto de diversas formas. Alguns exemplos: adultos que querem ser
tão jovens quanto os jovens e se colocam de igual para igual em relação a eles;
homens que não assumem o papel de pais e simplesmente não se responsabilizam
pela criação de seus filhos; mães cansadas de tanto trabalhar e cuidar da família que
se ausentam não fisicamente, mas emocionalmente na criação de seus filhos;
educadores que, sem entender seus alunos, não conversam, estimulam, discutem
com eles; e até um gover- no que, sem conseguir cumprir o seu papel, o de investir
nos jovens, acaba também por deixá-los desamparados. Enfim, toda uma série de
ausências e desencontros. E diante de tudo isso, o adolescente sente-se perdido e clama
por ajuda. É verdade que não é fácil escutar esse grito, muitas vezes desesperado,
desordenado, violento, sem causa aparente. Gritos que aparecem em forma de
revolta, ações criminosas, uso de drogas, indisciplina, gravidez precoce ou até
suicídio.
15
atividades
1.Brincadeira do nome
OBJETIVOS: Estimular a integração do grupo por meio de uma brincadeira com os
nomes dos participantes. Auxiliar a memorização os nomes de cada integrante.
DESCRIÇÃO: Peça a todos que fiquem em pé, em círculo, e que cada um diga o seu
nome um após do outro, pausadamente. Feito isso, explique que na próxima rodada
cada um vai dizer o nome do companheiro que está à sua esquerda.
Depois, faça uma inversão, peça para que digam o nome do companheiro que está do
lado direito. A seguir, proponha que andem pela sala e que refaçam um círculo colo-
cando-se em outros lugares. Repita a brincadeira.
3.Apresentando um amigo
OBJETIVO: Promover o conhecimento entre os participantes
16
4.Terremoto
OBJETIVO: Promover interação grupal e o conhecimento do outro.
a. Se ele disser casa, as duplas que formam a casa devem procurar outros pares,
trocando de lugar e formando uma nova configuração de duplas na sala;
b. Se disser morador, somente os moradores trocam de lugar;
c.Se disser terremoto, todos os participantes devem mudar de posição e formar
novas casinhas com moradores.
Quando as pessoas trocarem de lugar, aquele que deu a ordem deve adentrar nas for-
mações, obrigando o novo participante que “sobrou” a recomeçar a brincadeira, dizen-
do alguma característica de si mesmo para o grupo.
COMENTÁRIOS: Caso você use a brincadeira como aquecimento de uma oficina, pode
sugerir que a frase inicial tenha a ver com o tema proposto. Por exemplo, se estiver
tra- balhando no Módulo Família, o adolescente pode dizer: “Eu sou o caçula”, “Eu
gosto do meu quarto”, “Em casa eu lavo a louça” e assim por diante.
5.Mapeando o grupo
OBJETIVO: Fazer um mapeamento do grupo e colher dados pessoais de cada participante.
DESCRIÇÃO: Cada participante deve receber uma folha com o quadro abaixo. O objeti-
vo do jogo é que cada um preencha a coluna “resposta” com o maior número de
nomes dos colegas. Para isso, dado o sinal, todos devem circular pela sala simulta-
neamente, fazendo as perguntas propostas, mas cada um só poderá escrever o nome
daqueles que responderem “sim” em cada questão (por exemplo: Maria, Isabel e
Sandra têm bichos de estimação – neste caso, o participante poderá colocar o nome
das três). Quando o monitor perceber que a maioria está terminando, deve dar o
sinal para parar. Quem conseguir responder todas as perguntas e tiver o maior
número de nomes diferentes será o vencedor.
17
COMENTÁRIOS: Ao final do jogo, é importante que o monitor socialize as resposta em
um painel ou na lousa, escrevendo os nomes daqueles que responderam
afirmativamente cada pergunta. Juntos, todos podem analisar se há poucos ou
muitos nomes em cada questão, quais os nomes que aparecem mais etc. Isso
possibilitará que sejam verificadas as semelhanças e as diferenças entre si.
Naturalmente, você pode modificar as perguntas de acordo com o seu grupo.
Se o grupo já se conhecer bastante, você pode mudar a proposta, pedindo para que
adi- vinhem quem corresponde à pergunta. Depois eles devem verificar se acertaram.
QUESTIONÁRIO
Nº Pergunta Resposta
8. Você é chocólatra?
18
6.Montagem de painel
OBJETIVO: Fazer uma marca pessoal que identifique e apresente cada participante.
DESCRIÇÃO: Peça que cada participante pense em algo que possa ser sua marca
pes- soal – um desenho, uma frase, um logotipo, suas iniciais, seu próprio nome.
Distribua papéis para cada um fazer seu rascunho. Estenda o papel pardo no chão e
organize os materiais de modo que sejam facilmente utilizados. É importante que o
papel tenha um tamanho suficiente para todos ocuparem seu espaço. Quando
estiverem prontos, cada um deve registrar (se preferirem, colar) sua marca no
papel pardo, de modo a formar um único painel.
Ao final, sentados em roda, peça que apresentem sua marca ou desenho, justificando-
a (Por que a escolheu? De que maneira essa idéia o representa? Por que utilizou
deter- minadas formas e cores?). Favoreça os comentários dos colegas.
Se você tiver mais tempo e recursos, também poderá utilizar um grande tecido para
realizar a proposta. Mais tarde, será possível transformá-lo em uma toalha para a
hora do lanche ou uma cortina para a sala onde as atividades são realizadas. Ao
final do projeto, esse pano poderá ser sorteado entre os participantes.
19
para se aprofundar...
Livros
MATHEUS, Tiago Corbisier. Ideais na adolescência:
ABRAMO, Helena Wendel; BRANCO Pedro Paulo falta (d)e perspectivas na virada do século.
Martoni. Retratos da Juventude Brasileira: São Paulo: Annablume, 2002.
analises de uma pesquisa nacional. (Selo Universidade - Psicologia, 195).
São Paulo: Fundação Perseu Abramo/Instituto
Cidadania, 2005. NOVAES, Regina; VANNUCHI, Paulo (Orgs.).
Juventude e Sociedade: trabalho,
ABRAMO, Helena; FREITAS, Maria Virgínia; educação, cultura e participação.
SPOSITO, Marília Pontes (Orgs.). São Paulo: Fundacão Perseu Abramo, 2004.
Juventude em debate.
São Paulo: Cortez, PALADINO, Erane. O adolescente e o conflito de
2000. gerações na sociedade contemporânea.
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.
ASSIS, Simone Gonçalves de; AVANCI, Joviana
Quintes; PESCE, Renata Pires. Resiliência na REVISTA IMAGINÁRIO. Juventude.
adolescência. São Paulo: LABI – Laboratório de Estudos do
Porto Alegre: Artmed, 2006. Imaginário do Instituto de Psicologia da USP,
Ano XII, N. 12, 1º semestre de 2006.
CALLIGARIS, Contardo. A adolescência.
São Paulo: Publifolha, 2000. (Folha Explica, 4) REVISTA MENTE E CÉREBRO.
O olhar adolescente 1, 2 e
CENPEC. Diálogo e Ação. v. 1-4, 3. São Paulo: Duetto, 2008.
São Paulo: Cenpec, 2002.
SAYÃO, Rosely. Como Educar Meu Filho?
CENPEC. ONG espaço de convivência. 4ª ed., São Paulo: Publifolha, 2003.
Col. Educação e Participação.
São Paulo: Cenpec, 2003. SERRÃO, Margarida; BALEEIRO, Clarice.
Aprendendo a ser e a conviver.
CENPEC. JOVENS e escola pública. 2.ed. 3 v. São Paulo: Fundação Odebrecht/FTD, 1999.
V.1: Escutar: um ponto de encontro. V.2: Olhar:
histórias de lugares e vínculos. V.3: SPOSITO, Marília Pontes. Os jovens no Brasil:
Pertencer: subjetividade, socialização e desigualdades multiplicadas e novas demandas
saber. políticas.
São Paulo: Cenpec, 2006. São Paulo: Ação Educativa, 2003.
FREIRAS, Maria Virginia (Org.). Juventude e ZAGURY, Tânia. O adolescente por ele mesmo.
adolescência no Brasil: referências conceituais. Rio de Janeiro: Record, 1996.
São Paulo: Ação Educativa, 2005.
20
introdução
E
m uma idade de descoberta de si, de afirmação dos desejos, de busca pelos direi-
tos e conscientização das responsabilidades, algumas perguntas são recorrentes
para os adolescentes: Quem sou eu? Do que eu gosto? Quem eu quero ser? A
qual
grupo eu pertenço? Enfim, qual é a minha tribo? Essas perguntas falam da construção
da própria identidade que se dá na relação com o outro e consigo próprio.
Nessa fase da vida, construir uma imagem de si mesmo é uma questão fundamental.
O adolescente não é mais aquela criança completamente ligada aos pais, ele começa
a querer levantar vôo próprio, tem opiniões e visões singulares, que são, muitas
vezes, diferentes das de seus familiares. Nesse sentido, o grupo de amigos torna-se
algo essencial. Ter uma turma, uma tribo, adotar um estilo próprio de se vestir, eleger
seu tipo de música preferido são formas de se encontrar, de se organizar e de cons-
truir uma identidade.
A proposta deste módulo caminha nessa direção. Você vai observar que as três
primeiras oficinas são complementares e, por isso, os resultados podem ser mais
interessantes se elas forem trabalhadas em seqüência. Contudo, nada impede que
você escolha apenas alguma delas para trabalhar isoladamente.
Além disso, você vai perceber que a primeira metade deste módulo privilegia as
questões mais individuais e perguntas como: Quem sou eu? Quem eu quero ser? Com
quem me identifico? Já a segunda metade aborda questões mais ligadas ao outro, à
alteridade e à diversidade. Nas oficinas correspondentes à segunda metade do módu-
lo, as questões das diferenças, dos preconceitos e da tolerância ficam mais
evidentes.
Além disso, há muitos filmes e músicas que você pode usar de modo a enriquecer
esse tema.
Boa sorte!
22
objetivos do módulo:
• Favorecer o olhar do adolescente para o outro de modo que conheça e respeite as dife-
renças entre os seres humanos, ajudando-o a refletir sobre os próprios preconceitos
e abrindo uma nova perspectiva sobre a questão da diversidade como algo positivo e
enriquecedor.
com a palavra...
Intolerância
Yudith Rosenbaum
E
xistem pelo menos dois processos acontecendo, ao mesmo tempo, quando
o adolescente se relaciona com seu grupo social (a família, os colegas da
escola, os amigos do bairro etc.).
De um lado, ele quer mostrar que tem personalidade e não se submete ao que os
demais pensam. Os comportamentos exibicionistas e rebeldes mostram essa neces-
sidade de se afirmar e se discriminar de todos para ser ele mesmo. Seria mais ou
menos assim: “Como saber quem sou eu se não me desgrudar dos meus pais, dos
colegas, das figuras de autoridade?” Isso costuma gerar a intolerância do adolescente
com irmãos, pais, professores e amigos. O isolamento ou a antipatia por pessoas que
possam influenciá-lo acaba sendo um jeito de definir sua identidade e não se
con- fundir com os que o rodeiam. É uma fase difícil, sobretudo para os familiares,
que não compreendem a razão de atitudes tão intolerantes.
De outro lado, esse mesmo jovem precisa sentir que é igual aos seus pares e que
faz parte de uma turma, um grupo de referência, diferenciando-se, então, dos jovens de
ou- tros grupos. Para sentir que pertencem a uma comunidade, seja ela qual for
(negros, brancos, punks, evangélicos, roqueiros, gays etc.), muitos adolescentes se
mostram intolerantes com quem não pensa da mesma forma ou tem gostos
diferentes. Parece importante para eles marcar um território no qual sejam
incluídos. E o que eles fazem para ser incluídos? Excluem quem lhes pareça ameaçar
a “verdade” do seu grupo, ou
YUDITH ROSENBAUM é psicóloga, formada pela PUC – SP e professora de literatura brasileira na USP. Publicou os seguintes
livros: Manuel Bandeira: Uma poesia da ausência (Edusp/Imago, 1993); Metamorfoses do mal: Uma leitura de Clarice Lispector
(Edusp/Fapesp, 1999); Clarice Lispector (Publifolha, 2002); O livro do psicólogo (Companhia das Letras, 2007).
23
seja, hostilizam os que são diferentes nas crenças, nos hábitos, na opção sexual,
na escolha de um time esportivo. Mas por que seria tão ameaçador conviver
amistosa- mente com quem está do outro lado do território demarcado?
Para entender isso, é preciso lembrar que o adolescente está em busca de sua identi-
dade, e nesse processo há muitos aspectos de sua personalidade que ele desconhece
ou quer esconder dele mesmo.
Vamos pensar isso por vários lados. Se, por exemplo, o jovem não aceita em si
mesmo ter dúvidas, hesitar, ficar inseguro, ter medo, como vai respeitar os que são
como ele? Como vai respeitar os velhos se não admite envelhecer? Como vai aceitar
alguém de outra religião se tem a ilusão de que a sua é infalível? O primeiro
passo para uma convivência tolerante é reconhecer que todos somos de fato imperfeitos
e que ser humano significa necessariamente ser incompleto e estar sempre se
buscando, se questionando, enfrentando conflitos e superando impasses.
Nesse sentido, podemos dizer que a intolerância nasce da resistência das pessoas
em perceber nelas aquilo mesmo que rejeitam nos outros. Se não existisse essa
dificuldade, a convivência entre grupos diferentes ou mesmo opostos não acarretaria
violência, agressividade, comportamentos preconceituosos, como forma de expres-
sar superioridade e auto-afirmação. Bastaria cada um ser o que é e deixar os outros
serem o que são em paz.
Justamente por isso, nem todos os grupos são intolerantes. Não é apenas o fato de
participar de um grupo que torna as pessoas intolerantes. Mas quando se formam
gangues, grupos de extermínio, torcidas rivais e outros agrupamentos que ameaçam
e atacam “os de fora”, estamos diante de um fenômeno de intolerância mais sério. E
nesses casos, vale pensar que algo muito incômodo dentro de cada um ou da própria
turma está sendo evitado, encoberto pela intolerância. Um exemplo prático talvez
ajude. Se eu tenho desejo de comer muito mas reprimo, ou seja, tento afastar de
mim essa tendência indesejável, posso começar a desenvolver uma intolerância aos
gordos (que, afinal, realizam o que eu não me permito e nem aceito como um dese-
jo meu). Os gordos, nesse caso, acabam sendo uma espécie de espelho do que eu
não tolero em mim. Outro exemplo: se eu escolhi um time e “visto a camisa” desse
time – ou seja, me identifico com ele e me sinto humilhado quando o time perde (pois
a derrota acaba sendo minha e não do time), sou levado a rejeitar torcidas alheias
que ponham em risco meu lugar invencível.
24
Vale lembrar aqui o fato de que ninguém isoladamente se põe a brigar com um grupo
rival. Há atitudes que só existem amparadas pela turma. Cada membro do grupo se
apóia no próprio grupo para vaiar, atacar ou mesmo executar os oponentes, o
que mostra que fora da turma é a fragilidade que predomina. É só lembrar das
humi- lhações coletivas que alguns alunos sofrem na sala de aula, por qualquer
motivo: um defeito físico, um traço de personalidade estranho, um desempenho
escolar ruim ou melhor do que o dos outros...
Talvez fosse interessante dividir os grupos em dois tipos: os que se formam por
uma legítima autodescoberta (gays, roqueiros, anarquistas, ecologistas, hippies etc.)
e, por- tanto, estão juntos por afinidades e descobertas comuns, encontrando seus
iguais sem destruir ou intimidar os que são heterossexuais, sambistas, ou militantes de
outros par- tidos; e um segundo tipo de grupos que se constituem pelo
autodesconhecimento, ou seja, pessoas que buscam fugir do que não querem ver em
si e nos outros: anti-gays, anti-mendigos, racistas, nazistas etc. A intolerância desses
últimos revela sua fragili- dade e sua ignorância em relação às próprias
características. A cultura, a mídia e as desigualdades sociais acabam reforçando esse
processo, fazendo das minorias bode ex- piatório, no qual os grupos mais fortes
depositam sua raiva, sua inveja, sua intolerância.
25
Oficina 1. Jogo das cartas e preparação para pintura na camiseta
OBJETIVO: Ajudar os participantes a refletirem sobre si mesmos, buscando
características marcantes que expressem sua identidade.
Distribua no chão (ou na mesa) as cartas de modo que o lado com a palavra Identidade
fique voltado para cima. Utilize uma garrafa para servir de “roleta” e sorteie o
participante que vai começar. A pessoa sorteada deve virar uma das cartas. Assim que
ela o fizer, leia a questão correspondente descrita abaixo. Depois que o participante
responder, outras pessoas tam- bém poderão fazê-lo, cabe a você decidir. Repita esse
procedimento até que todas as cartas sejam exploradas.
Em seguida, distribua folhas de sulfite, tintas guache e pincéis. Proponha que os par-
ticipantes pensem em algum desenho, imagem ou palavra que responda a pergunta:
Quem sou eu? Diga que devem levar em conta tudo o que foi conversado na atividade
anterior. Explique que esse desenho também servirá de rascunho para uma pintura
de camiseta que será feita na próxima oficina. Explicar esse objetivo é fundamental,
porque a imagem escolhida, além de ser uma marca pessoal, deve se adequar à pin-
tura em tecido.
26
QUESTÕES PARA CADA CARTA:
27
Oficina 2. Pintura na camiseta
OBJETIVO: Trabalhar a identidade pessoal por meio da confecção de um produto va-
lorizado pelos adolescentes: a camiseta.
MATERIAL: Camiseta branca; um pedaço de papelão ou saco de lixo; pincéis; tinta para
tecido, trapos e copos para limpar os pincéis. Opcional: aparelho de som para colocar
uma música de fundo.
Se a instituição onde você trabalha não puder adquirir camisetas para todos os parti-
cipantes, peça que cada um traga a sua, usada ou não, de preferência toda branca.
28
Oficina 3. Fotografia
OBJETIVO: Promover diferentes situações de registro de marcas pessoais, dentre elas,
a camiseta produzida.
Quando todos tiverem terminado, cada um deve escolher um local para tirar sua
foto. Durante a “sessão de fotos”, estimule poses ou expressões faciais
significativas, pois a foto também faz parte da brincadeira da “marca pessoal”. Os
adolescentes também podem tirar fotos uns dos outros, podem ainda registrar uma
imagem do tipo “o jeito que eu me vejo” e outra que mostre “o jeito que o outro
me vê”.
DESCRIÇÃO: Distribua uma folha de papel e um lápis a cada participante e peça que
lis- tem dez características pessoais. A seguir, solicite que classifiquem essas
caracterís- ticas em duas categorias: aquelas que lhes trazem facilidades ou
dificuldades. Para isso, podem refazer a lista, dividindo os atributos em duas colunas
ou acrescentando marcas coloridas que as distingam.
Em seguida, forme um círculo e peça para cada um escolher duas ou três dessas
características e comentá-las.
Terminada essa primeira discussão, levante com o grupo as características que mais
apareceram, aquelas que são comuns aos participantes. Com base nessas carac-
terísticas, pergunte: é possível pensar em que “cara” esse grupo tem? Poderíamos
pensar em uma palavra marcante para defini-lo?
30
Oficina 5. Diversidade: o que é isso?
OBJETIVO: Discutir a diversidade a partir das características, vivências e conhecimen-
tos do próprio grupo.
31
Oficina 6. Debate Homossexualidade
OBJETIVO: Aprofundar o debate sobre o tema diversidade a partir da reflexão sobre
questões polêmicas.
DESCRIÇÃO: Inicie a atividade informando que nesse encontro eles farão um debate
acerca de um tema polêmico: a legalização da união homossexual. Divida os partici-
pantes em dois subgrupos, distribuindo-os aleatoriamente (você pode atribuir os
números 1 e 2 seqüencialmente e depois pedir que os participantes de mesmo
número se reúnam). Cada grupo deverá ficar responsável por defender um dos
lados da questão. Sorteie quem ficará a favor ou contra. Ressalte que, nesse
momento, as opiniões pessoais não contam, esse é um exercício de argumentação,
os participantes de cada grupo devem defender a idéia que lhes foi atribuída,
mesmo que, pessoal- mente, não concordem com ela.
Para enriquecer o debate, você pode ler alguma reportagem a respeito da legalização
da união homossexual (há vários artigos na internet a respeito). Após a leitura,
entregue uma cópia da reportagem para cada grupinho e solicite que a discutam. Dê
cerca de 20 minutos para que cada grupo pense em argumentos que justifiquem
e embasem sua posição.
Ao final, é importante enfatizar que esse encontro não tem como propósito levantar ban-
deiras contra ou a favor da legalização da união homossexual e muito menos da
homos- sexualidade, mas possibilitar a reflexão sobre a nossa postura diante das
diferenças, assim como entender todas as variáveis que estão ao nosso redor e que
interferem em nossas escolhas e opiniões.
32
COMENTÁRIOS: É importante que você levante alguns argumentos contra e a favor da
questão debatida para alimentar a discussão inicial dos grupinhos. Ajude aqueles que
tiverem maior dificuldade em defender uma idéia que não é a sua. A organização do
debate é importante para que a atividade não se torne uma briga entre os grupos. É muito
comum que os adolescentes se envolvam e, às vezes, se exaltem nas
dramatizações. Se você perceber excessos, interrompa a cena e converse com eles.
Mesmo que você dê espaço a todo tipo de opinião, inclusive as preconceituosas, a tolerân-
cia e o respeito são valores inquestionáveis, que devem ser ressaltados. Nada melhor
do que exercitá-los em grupo.
Você também pode fazer esse debate escolhendo outra questão polêmica, por exemplo: o
sistema de cotas nas universidades, a diminuição da maioridade penal etc.
33
Oficina 7. Gênero
OBJETIVO: Promover a discussão sobre os papéis feminino e masculino.
DESCRIÇÃO: Confeccione previamente seis cartões de cartolina nos quais você deverá
escrever as seguintes frases:
COMENTÁRIOS: Fornecer elementos históricos pode ser uma boa maneira de fomentar
e contextualizar a discussão entre os participantes da oficina. Conte casos de como eram
os comportamentos de homens e mulheres no início do século XX, por exemplo, em
relação ao casamento, às tarefas domésticas ou ao trabalho.
34
Oficina 8. Resolução de conflitos – Injustiças
OBJETIVO: Auxiliar os jovens a refletirem sobre conflitos cotidianos relacionados à
injustiça ou ao preconceito e a pensarem novas possibilidades de solução.
MATERIAL: Cópia da situação de injustiça (ver página 37) para cada pequeno grupo.
Ao final, promova um debate a partir das cenas sobre a questão dos preconceitos,
per- gunte como se sentiram assistindo às dramatizações ou participando delas e o
que as diversas cenas têm em comum.
35
para se aprofundar...
Livros Filmes
ABRAMO, Helena. Cenas juvenis, punks e darks
American Pie
no espetáculo urbano.
Paul Weitz, 1999.
São Paulo: Saiita/ ANPOCS, 1994.
Antonia
COSTA, Cristina. Caminhando contra o vento:
Tata Amaral, 2006.
uma adolescente dos anos 60.
São Paulo: Moderna, 1995.
Código Desconhecido
Michael Haneke, 2000.
ERIKSON, Erik. Identidade, juventude e crise.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1987.
Crash – No Limite
Paul Haggis, 2004.
FRAGA, Paulo Cesar; JULIANELLI, Jorge (Orgs.).
Jovens em tempo real.
Elephant
Rio de Janeiro: DP e A, 2003.
Gus Van Sant, 2003.
INSTITUTO CREDICARD.
Em Busca da Terra do Nunca
Educadores e jovens em ação.
Marc Forster, 2004.
São Paulo: Via Impressa, 2006.
História Real
KOLE. A. T.; DIAS, F. L.
David Linch, 1999.
Encontro da galera. CD Rom.
Projeto Saúde Integral. SENAI, 1997.
Ken Park
Larry Clark e Edward Lachman, 2002.
Educarede:
http://www.educarede.org.br
Museu da Pessoa:
http://www.museudapessoa.net
Mundo Adolescente:
http://www.mundoadolescente.com.br
Onda Jovem:
http://www.ondajovem.com.br
36
ANEXOS
Depoimento 1
José Antônio, 17 anos
Eu estava na rua com meus amigos indo para uma balada. A polícia
apa- receu para dar uma batida. Pediu os documentos, a gente
mostrou, eles olharam e nos revistaram. Até aí eu achei normal, mas o
policial ficou di- zendo que a gente era maloqueiro, que ia vender
drogas, que a gente era desocupado, ficou humilhando. Foi bem ruim
mesmo... Eu estudo, não sou desocupado, mas não podia discutir com
eles. Depois de ficar com a gente 15 minutos, resolveram dispensar,
mas a gente até perdeu o emba- lo, nem quis mais ir pra balada. Eu
acho muito injusto a polícia tratar a gente assim, se eu fosse
“branquelo”, talvez eles não tivessem feito isso.
Depoimento 2
Maria Eduarda, 15 anos
Tem uma menina na minha classe que é muito metida, ela se acha.
Ela é uma das mais bonitas da escola e eu a odeio. Sempre que
pode, ela esnoba a gente, diz que eu e minhas amigas andamos mal-
vestidas, que a gente é burra, que não vai ser nada na vida. Um dia, eu
não agüentei, acabei brigando e dei um tapa na cara dela logo na
saída da escola. Isso foi para ela aprender a não ser besta e a me
respeitar. Se implicar comi- go de novo, vai levar. Não estou nem
ligando se levar suspensão.
Depoimento 3
Aline, 17 anos
Acontece com muita gente, eu sei, mas eu não acho certo. No domingo,
eu fui ao shopping do meu bairro com minhas amigas. A gente não
tem muita grana, mas gosta de ver as vitrines e às vezes alguém
compra alguma coisa. Entrei numa loja para perguntar o preço de
uma saia que eu achei legal. A vendedora, que era um pouco mais velha
do que eu, me mostrou a saia na maior má vontade e quando eu
perguntei o preço ela disse: “não sei se vai caber no seu orçamento,
ela custa R$ 70,00.” Eu fiquei doida de raiva, eu disse que podia
embrulhar, só pra mostrar que eu posso pagar. Mas eu não posso,
acabei com o meu orçamento e tive que fazer uma prestação. Agora
nem tenho vontade de usar a tal da saia!
37
introdução
E
ste módulo aborda um tema que ocupa boa parte das preocupações adoles-
centes: o corpo. As intensas transformações físicas que acontecem nessa época
têm importantes conseqüências sobre a auto-imagem, as emoções e a sociabi-
lidade dos jovens. Assim, promover o acesso a conhecimentos e informações sobre o
corpo e saber cuidar dele é uma tarefa importante a ser realizada nessa fase da vida.
Além disso, é importante que você dê um lugar ao corpo ativamente, a fim de que os
adolescentes não se limitem a pensar sobre ele, mas possam senti-lo, experimentá-lo
e percebê-lo em todas as suas dimensões. Por essa razão, no início de cada
oficina, estão previstas algumas atividades de aquecimento nas quais sugerimos um
pequeno trabalho corporal.
Você perceberá que este módulo contém menos oficinas que os demais. Nossa
experiência mostrou que algumas questões fundamentais relacionadas ao corpo falam
também da sexualidade. Por esta razão, elas são abordadas a seguir, no módulo dedi-
cado a esse tema.
Bom trabalho!
objetivos do módulo:
40
com a palavra...
A
adolescência é um período caracterizado não apenas por profundas mudanças
no corpo, nas relações familiares, na escola, nas amizades, como também por
grandes incertezas. Um novo corpo surge, uma nova sexualidade e
sensorialidade despon-
tam e a pressão do grupo social, amparada na mídia, torna-se extremamente poderosa.
A estética nos dias de hoje assume um papel distinto daquele que exercia em outros
tempos. Com o arsenal de técnicas corporais disponíveis e acessíveis a todas as clas-
ses sociais (um bom exemplo é o número de academias de ginástica nas favelas e pe-
riferias), gerou-se a crença de que “só é feio quem quer”. A beleza, antes um
atributo “natural”, passou a ser “moralizada”, sendo agora entendida como uma
demonstração de força de vontade. De atributo físico (“se eu conseguir ser bonito,
melhor”), a beleza tornou-se um dever moral (“se realmente quiser, eu consigo ser
bonito”). O fracasso em ser belo não se deve agora a uma impossibilidade mais
ampla, mas a uma inca- pacidade individual.
O culto ao corpo
Sabemos que a gordura é, hoje em dia, associada à feiúra e alvo de explícita exclusão
social. Objeto de grande regulação social, os corpos passaram a ser monitorados pelo
viés da saúde (comidas orgânicas, combate aos radicais livre, dietas as mais variadas)
e também da estética. Em uma sociedade na qual os ideais continuam a ser brancos e
bur- gueses, não é de estranhar uma pasteurização nos modelos estéticos tidos como
belos.
41
Ora, se observamos a submissão a tal ditadura estética em homens e mulheres
mais maduros, como não imaginar o impacto causado nos adolescentes que não se
encai- xam nesse modelo? Tal marginalização social provoca um profundo
sofrimento psíquico e produz vínculos sociais até então não evidenciados, tais como a
profunda exclusão vivida por jovens que não se sentem pertencentes ao grupo
desejado.
42
Alguns caminhos
É possível obter sem grandes dificuldades algumas indicações acerca da
existência de problemas dos adolescentes com seus corpos e sua sexualidade.
Podemos con- vidá-los a falar de possíveis desconfortos com o próprio corpo e a que
atribuem isso; discutir criticamente com eles a cultura que supervaloriza o sucesso
midiático; acompanhar suas interações com os colegas (retraídos, agressivos,
violentos?); observar seu vestuário – se escondem ou se mostram em demasia?
Estão sempre de casaco mesmo em dias muito quentes? Quais hábitos alimenta-
res consideram inadequados e desejariam mudar? Todos esses aspectos
fornecerão algumas indicações acerca de eventuais problemas.
43
Oficina 1. As transformações do corpo
OBJETIVO: Discutir as mudanças corporais da adolescência, os novos cuidados decor-
rentes e as conseqüências sobre a auto-imagem.
Em seguida, cada participante deve escrever, em uma tira de papel, uma mudança que
ocorreu (ou está ocorrendo) em seu corpo após a entrada na puberdade, depois
dobrar a tira e colocá-la em uma caixa. Quando todos tiverem terminado, cada um vai
sortear uma dessas tirinhas (que não seja a sua), lê-la e pensar em uma conseqüência
posi- tiva e outra negativa dessa mudança descrita pelo colega. Por exemplo:
Evidentemente, há mudanças que não são nada agradáveis, o que vai obrigá-los a
descobrir algo de positivo nelas, como no caso abaixo:
Discuta com o grupo sobre cada mudança relatada e as sugestões dos colegas
para lidar com elas. Tentar positivar os problemas não significa desprezar os dramas
que afligem o adolescente, mas permite encarar mudanças temporárias com mais
leveza e bom-humor.
44
COMENTÁRIOS: As questões que surgirem darão informações úteis para você encami-
nhar as oficinas subseqüentes. Permita que o próprio grupo busque soluções para as
dificuldades e ansiedades relatadas. Se for necessário, pesquise com especialistas,
em revistas ou livros formas de amenizar os problemas enfrentados, respondendo as
ques- tões em encontros posteriores. As informações abaixo (que também estão
presentes no Livro do adolescente) podem ajudar a desenvolver a atividade:
45
Oficina 2. As funções do corpo
OBJETIVO: Discutir as funções de diferentes partes do corpo de modo a promover
maior conscientização de suas potencialidades.
A seguir, divida os participantes em pelo menos três grupos e distribua uma cartolina
e canetinhas para cada um deles. Peça que dobrem a cartolina em três partes iguais.
Diga que eles devem desenhar, coletivamente, um rosto no primeiro terço da folha e
escre- ver uma palavra relacionada às partes do rosto que desejarem. Por exemplo:
sinceri- dade para os olhos, comunicação para a boca, e assim por diante. Sem
mostrar sua produção para os demais, a folha deve ser dobrada e passada para o
grupo do lado que vai continuar a figura humana no segundo terço da folha, com o
desenho do tronco.
Eles também devem escrever atributos para as partes que desejarem (por exemplo,
cintura – "jogo de cintura", flexibilidade, habilidade; braço – força; tórax – acolhimento,
sensibilidade etc.). Novamente peça que dobrem e troquem as folhas entre si, de modo
que o grupo que recebê-la não olhe o que já foi feito pelos demais. Nesse último
desenho, eles devem desenhar as pernas e os pés, atribuindo-lhes também significa-
dos. Ao final, todas as cartolinas devem ser abertas e expostas.
46
• Você se lembra de alguma experiência, sua ou de outros, em que os gestos
foram mais importantes que as palavras?
47
Oficina 3. Alimentação e nutrição
OBJETIVO: Discutir o tema dos cuidados corporais, abordando-o com o foco na alimen-
tação e no lugar que ela ocupa na vida dos adolescentes.
DESCRIÇÃO: Para afinar o grupo com o tema da oficina, proponha algumas perguntas
norteadoras para uma conversa inicial. Por exemplo: Você acha que se alimenta bem?
Por quê? A sua alimentação mudou desde quando você era criança? Se você fosse
uma comida, o que seria? O que você pensa da frase: Eu sou o que eu como?
Em seguida, peça que os adolescentes abram o seu livro no Módulo Corpo, na pági-
na em que está desenhado um menu, e montem o cardápio do dia, ou seja, que
relatem o que estão acostumados a comer durante o dia (segue abaixo a reprodução
da proposta). Quando todos terminarem, convide-os a falar sobre o cardápio (não é
necessário que todos relatem), marcando as diferenças individuais, fazendo pergun-
tas pertinentes. Chame a atenção para a ingestão de líquidos e para os alimentos que
são consumidos fora das refeições, porque muitos adolescentes não bebem água ou
gostam muito de beliscar.
Por fim, divida os jovens em grupos e solicite que montem um cardápio diário saudá-
vel, equilibrado e, mais importante, viável, a partir das discussões e informações
aprendidas no dia. É preciso usar a criatividade! Para terminar, peça que elejam
o cardápio mais adequado às suas necessidades.
COMENTÁRIOS: Como você pôde perceber, essa oficina exige uma leitura antecipada
e atenta das informações contidas no Livro do adolescente, de modo que você possa
aju- dar os participantes em suas dúvidas. No momento da discussão, procure não ser
muito prescritivo, pois não há adolescente que coma somente alimentos saudáveis; o
cardápio nessa fase da vida é recheado de refrigerantes, doces e salgadinhos que não
podem ser completamente banidos do dia-a-dia. Muitas vezes, vale a pena levá-los a se
questionar: “O que estou fazendo comigo comendo isso?”.
48
MENU
49
Oficina 4. Espelho, espelho meu
OBJETIVO: Trabalhar aspectos subjetivos da relação de cada um com seu corpo.
MATERIAL: Aparelho de som, CD de música suave, papel pardo, lápis de cor, canetas
hidrográficas (se desejar, pedaços de papéis coloridos e cola).
DESCRIÇÃO: Em um clima suave e tranqüilo, com uma música de fundo, peça que
os participantes fechem os olhos. Dirija o relaxamento lentamente, começando pelos pés,
seguindo pelas pernas, tronco, membros, até a cabeça. Peça que pensem sobre como
sentem e vêem o próprio corpo. Depois que abrirem os olhos, solicite que
formem duplas. Entregue a cada participante uma folha de papel pardo do tamanho
de cada um. Peça que desenhem, com a ajuda do colega, um molde do próprio
corpo. A seguir, eles devem trocar de lugar, de modo que ambos tenham seu
contorno do corpo.
Distribua lápis de cera e hidrográficas (se houver diferentes papéis para colar
também pode ser interessante) a fim de que cada um preencha esse contorno,
desenhando rosto, roupas e quaisquer detalhes que desejar. Quando terminarem, faça
as seguintes per- guntas, que devem ser respondidas no próprio desenho:
Ao final, todos devem colocar seus desenhos no chão e circular pela sala para
olhar os dos colegas. Abra uma roda de conversa para discutir como se sentiram
quando desenhavam o próprio corpo, ressaltando os seguintes pontos: diferenças
individuais, aspectos hereditários, o belo em cada um e o modelo social de beleza, a
influência da mídia na visão que temos do corpo, cuidados e exigências nessa fase da
vida etc.
Observando esses quadros, qual você acha que era o padrão de beleza em cada uma
dessas épocas? O que era ser bonito?
Quais os detalhes que chamam sua atenção em cada uma das imagens?
Depois que os adolescentes tiverem discutido, peça que respondam uma segunda
questão: O que é ser bonito hoje?
51
para se aprofundar...
Livros Sites
COLASANTI, Marina. O homem que não parava
Centro Vergueiro de Atenção à Mulher:
de crescer. São Paulo: Global, 2005.
http://www.cevam.org.br
52
Anexo
53
introdução
C
om a chegada da puberdade e as conseqüentes mudanças corporais, muitas
novidades acontecem para o adolescente, não apenas físicas, mas também
psíquicas. O jovem ingressa num processo de apropriação de um corpo em
transformação e encara a possibilidade de exercer a sexualidade de forma ativa, o
que
exige um trabalho de reflexão acerca dessa nova fase.
O adolescente de hoje vive em uma sociedade repleta de apelos eróticos nas músicas,
propagandas, novelas ou na moda, que o obrigam a lidar com diversas demandas
de obtenção de prazer sexual da vida adulta. Frente a essa realidade, a maior parte
das famílias encontra dificuldades para conversar sobre esse assunto. Por todas
essas razões, os jovens precisam encontrar outros interlocutores para conversar sobre
suas dúvidas e angústias.
Além disso, para que o adolescente exerça sua sexualidade de forma responsável,
é preciso não apenas que tenha informações sobre métodos contraceptivos ou sobre a
importância do uso da camisinha, por exemplo, mas também que compreenda o fun-
cionamento de seu corpo e do corpo de seu parceiro.
Bom trabalho!
56
objetivos do módulo:
com a palavra...
Adolescência e gravidez
Miriam Debieux Rosa
A
dolescência e gravidez são duas experiências intensas, marcantes e formado-
ras, de repercussões fundamentais para a vida das pessoas e para o campo
social. Quando associadas – gravidez na adolescência – têm resultado em dis-
cursos unívocos, reduzindo a situação à condição de problema, risco e precocidade,
desqualificando a experiência e sua potência em produzir significações e novas formas
de enfrentamento dos fatos da vida.
MIRIAM DEBIEUX ROSA é psicanalista e professora de psicologia clínica na USP, onde coordena o Laboratório Psicanálise e
Sociedade, e professora da pós-graduação em psicologia social da PUC-SP, onde coordena com Maria Cristina Vicentim
o Núcleo Violências: Sujeito e política. É autora do livro Histórias que não se contam (Cabral Editora Universitária) e de
vários capítulos de livros e artigos nacionais e internacionais na temática da família, infância e adolescência.
57
entre os grupos sociais, ao mundo produtivo e à independência econômica. As esco-
lhas profissionais estão bastante relativizadas, já que imperam a alta competitivi-
dade e a dificuldade de empregar-se. De outro lado, a liberação dos costumes
permite acesso à vida sexual independentemente de compromissos como namoro
ou casamento.
A maternidade e paternidade, por sua vez, também são processos revestidos de cer-
tos imaginários fixos e ideais. Existe a idéia de que há uma ordem correta no
com- prometimento do indivíduo: primeiro vem a responsabilidade pessoal,
depois a capacidade de relação amorosa com o outro e só então a possibilidade de
cuidado, educação e afeto com o filho. Se essa lógica descreve certo percurso
razoável, não impede que outras modalidades de percurso sejam legítimas.
Independentemente do preparo anterior, há que se considerar que o nascimento de
uma criança é um evento público que mobiliza todo o grupo social, familiar e
processos subjetivos para permitir sua inclusão como membro da família e da
sociedade.
Em relação aos pais, antecipa um luto pela perda da juventude idealizada com praze-
res e liberdade. A maternidade é vista como o encerramento da adolescência
enquanto processo, já que precipita um modo de entrada na vida social. Gera tam-
bém preocupação com a escolaridade, já que muitos jovens abandonam a escola ou
passam a trabalhar. Essa preocupação encadeia-se com a menor possibilidade de
ascensão e autonomia econômica, com a falta ou adiamento de projetos de inde-
pendência. Outra temática de conflito é com a relação igualitária entre os sexos, con-
quista árdua das mulheres, graças em grande parte à sua participação como
provedora econômica da família – ficaria a jovem dependente do pai da criança? Os
pais oscilam entre a idéia de falta de prontidão do adolescente para a vida amorosa
e a sua total responsabilização pela gravidez e pelos cuidados com o filho.
Quanto aos jovens, a reação à gravidez é muito variada, mas sempre traz sentimen-
tos e atitudes ambivalentes – impotência, medo e susto ladeados de alegria, orgulho
e realização.
58
Algumas vezes a gravidez não foi planejada, mas estava vislumbrada como uma reso-
lução imediata para um futuro incerto e longínquo. A jovem sabe que a maternidade
gera problemas, mas pode ser vivida como alívio em face de sua incerteza quanto
a outros modos de inserção social, pois a maternidade é valorizada e impõe certa
respeitabilidade difícil de ser conquistada de outros modos. Para alguns, pode autori-
zar um retorno sem culpa à dependência dos pais, enquanto para outros é um sinal de
independência, já que vão cuidar em vez de ser cuidados. As escolhas nem sempre
são conhecidas pela própria pessoa e a presença dessas dimensões só pode ser
esclare- cida na vigência do próprio acontecimento.
59
Oficina 1. Tudo o que você quer saber sobre sexualidade
OBJETIVO: Identificar as dúvidas dos adolescentes sobre sexualidade e abrir a
possibilidade de diálogo sobre o tema.
Como são muitas informações a serem discutidas e assimiladas, pode ser mais
produtivo dividir essa oficina em duas. Isso vai depender dos conhecimentos prévios
do grupo e do tempo disponível para o encontro.
61
Oficina 3. Doenças sexualmente transmissíveis
OBJETIVO: Informar sobre as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), seus sin-
tomas e possíveis tratamentos. Conversar sobre a primeira consulta ao ginecologista.
A seguir, abra o Livro do adolescente e leia junto eles as informações dos itens “con-
sulta ao ginecologista” e “DST”, para deixar bastante claro o que é de fato verdade.
COMENTÁRIOS: Muitas questões levantadas pelos jovens devem ter sido contem-
pladas na leitura do livro. Se alguma dúvida persistir, procure levar material (revistas
e livros) para a próxima oficina de modo que eles possam ler ou tente você
mesmo buscar as informações necessárias. Se você tiver um grupo misto e perceber
que há algum constrangimento em discutir essas questões coletivamente, dê um
tempo para que essa conversa aconteça com mais intimidade, em pequenos
grupos. Uma outra possibilidade de organização da atividade é dividir o grupo em
dois: um só de meni- nos e outro só de meninas.
62
Oficina 4. Gravidez
OBJETIVO: Trabalhar o tema da gravidez na adolescência e refletir sobre as
conseqüên- cias de uma gravidez não planejada.
63
De acordo com muitos estudiosos, para as meninas, a gravidez na adolescência pode
estar ligada aos seguintes temas:
• a maternidade como projeto de vida, especialmente quando há ausência de
sentido na vida cotidiana ou quando há dificuldade para se pensar o futuro –
“agora que estou grávida eu tenho que me preocupar exclusivamente com o meu
filho” ou “se nos estudos e no trabalho não há nenhuma perspectiva de futuro, na
maternidade ela está garantida”;
• a maternidade como transformação da menina em mulher madura – “quando
eu ficar grávida vou ser uma mulher madura”;
• a gravidez como uma maneira de ser cuidada e olhada por parentes ou pelo pai da
criança;
• a maternidade como um papel social valorizado – “ser mãe é uma forma de me
sen- tir poderosa e de deixar uma marca no mundo”;
• a função materna já é exercida com os irmãos – “sei como é ser mãe porque eu já
cuido dos meus irmãos caçulas. Agora, com o meu filho, eu vou poder fazer como
eu quiser”.
Para os meninos, algumas reações costumam ser freqüentes: “eu não sei se o filho é
meu”; “não estou a fim de ter um filho e se ela quiser, vai ter que cuidar”; “eu sou
muito jovem para ser pai, agora minha vida vai mudar e eu não sei o que fazer”.
Assim, é muito importante que você aborde essas ou outras questões na discussão do
grupo, ainda que elas não surjam espontaneamente, levantando argumentos claros
para discutir cada uma. Por exemplo, se a maternidade aparece associada ao poder,
procure abordar outras maneiras que dariam à mulher a possibilidade de exercer seu
poder no mundo contemporâneo.
64
Oficina 5. Amor e sexo
OBJETIVO: Discutir as várias relações entre amor e sexo refletindo sobre os
diversos aspectos presentes numa relação sexual.
DESCRIÇÃO: Para iniciar a atividade, peça para cada participante completar a(s) frase(s):
“Sexo é...” e “Amor é. ” e depois ler o que escreveu.
A seguir, leia junto com a turma a letra da canção de Rita Lee, “Amor e sexo”. Você
pode consegui-la na internet. É importante parar para explicar o significado de
palavras pouco comuns ao repertório adolescente (teorema, latifúndio, pagão, patético,
epiléticos, entre outras). Peça que cada um cite a frase de que mais gostou, justificando
sua escolha. Abra uma roda de discussão e converse sobre as diferentes formas
que existem de lidar com esse assunto.
O trabalho fica bem mais interessante se ao final você colocar o CD e cantar a música
com todo grupo.
65
Oficina 6. Mídia e sexualidade
OBJETIVO: Refletir sobre o papel dos meios de comunicação na formação de conceitos
e atitudes dos jovens.
MATERIAL: Revistas.
66
Oficina 7. Fechamento do tema
OBJETIVO: Refletir sobre os novos conhecimentos aprendidos neste módulo.
Quando a equipe não souber a resposta, não ganha ponto e a equipe adversária tem o
direito de resposta.
A cada acerto, um ponto. A equipe que conseguir responder mais perguntas ganha a
gincana e um prêmio (que fica a critério do monitor).
Sugestões de perguntas (todas as perguntas abaixo foram feitas por adolescentes que
participaram desse projeto):
PERGUNTAS RESPOSTAS
1. É possível sentir tesão 1. Sim, o desejo sexual não está relacionado somente aos
mesmo sem transar? cari- nhos da transa, ele pode ser despertado por fantasias,
cheiros, imagens ou outros estímulos.
2. Penetração dói na menina? 2. A penetração pode doer na primeira vez nas meninas,
E nos meninos? mas a dor não deve ser uma constante no ato sexual. A
penetração também não deve doer para os meninos.
3. É melhor que ele seja 3. Para fazer sexo não é necessário que os jovens tenham
experiente na primeira vez? experiência. Ambos podem fazer suas descobertas juntos.
4. Há uma idade certa 4. Não há uma idade certa, depende da maturidade do adoles-
para transar? cente e de sua capacidade de fazer escolhas responsáveis.
5. O corpo pode mudar 5. Não, o corpo muda na fase da puberdade e as mudanças
depois de transar? não estão relacionadas às relações sexuais.
6. Por que se usa 6. Para evitar a gravidez indesejada.
anticoncepcional?
7. É verdade que 7. Não necessariamente, mas se a pessoa sentir
anticoncepcional engorda? mudanças deve consultar o médico.
8. Masturbar-se dá espinha? 8. Não, masturbação não dá espinhas.
9. Mulher também se 9. Sim, tanto homens quanto mulheres podem se masturbar.
masturba?
67
10. O que é orgasmo? 10. Orgasmo é o clímax ou ponto de maior excitação e prazer da
relação sexual.
11. Como se transmite 11. O HIV é transmitido pelo sangue ou outras secreções do
o vírus HIV? corpo que estejam contaminadas pelo vírus. Assim, a conta-
minação pode ocorrer pela relação sexual, pelo uso coletivo de
seringas, agulhas não esterilizadas (tatuagens e piercings),
transfusões ou pela placenta nas mulheres grávidas.
12. É preciso tomar pílula 12. Não, quem escolhe a pílula como método
sempre que transar? anticoncepcional deve tomá-la todo dia, conforme orientado
pelo médico, e não somente quando transa.
13. É verdade que quando se 13. Não, as mulheres podem engravidar enquanto amamentam.
amamenta não se engravida?
14. O que é período fértil 14. O período fértil ocorre quando a menina ovula. Ele dura uma
e quando ele acontece? semana, três dias antes e três depois da data da ovulação.
15. O que são 15. São métodos que evitam que um bebê seja concebido. A
anticoncepcionais? palavra anticoncepcional significa “não concepção”.
16. Cite três tipos de 16.Os mais conhecidos são: pílula, DIU, camisinha masculina
anticoncepcionais. e feminina, injeção mensal e diafragma.
17. Cite três sintomas de 17. Nos meninos: corrimento amarelo-esverdeado, ardor ao
DSTs que levariam uma fazer xixi, verrugas ou bolhas nos genitais.
pessoa ao médico. Nas meninas: corrimento branco ou mal-cheiroso, coceira na
vagina, dor no ato sexual ou para fazer xixi e verrugas na
região próxima à vagina.
18. O que é TPM? 18. TPM significa tensão pré-menstrual. Caracteriza-se pelo
aparecimento de uma série de sintomas, variáveis em
cada mulher. Entre os mais comuns estão: inchaço, dores
nas mamas, alteração no humor.
19. O que é puberdade? 19. A puberdade é uma fase da vida em que ocorrem muitas
mudanças corporais, tais como: aceleração do crescimento e
desenvolvimento dos órgãos genitais e dos caracteres sexuais.
20. É possível engravidar na 20. Sim, por isso é importante se prevenir, mesmo na
primeira relação sexual? primeira vez.
68
para se aprofundar...
Livros
LOPES, Angélica. Plano B, missão namoro.
ABRAMOVAY, Miriam; CASTRO, Mary Garcia; São Paulo: Rocco, 2003.
SILVA, Lorena Bernadete (Orgs.). Juventude e
sexualidade. MANDELLI, Paula. Alguém em quem confiar.
Brasília: Unesco, 2004. São Paulo: Difusão Cultural do Livro, 2006.
ALMEIDA, Heloísa Buarque et al (Orgs.). Gênero MAYLLE, Peter; ROBINS, Arthur. O que está acon-
em matizes. tecendo comigo: guia para a puberdade, com
São Paulo: Universidade São Francisco, 2003. respostas às perguntas mais embaraçosas.
São Paulo: Nobel, 1984.
AQUINO, Júlio Groppa. Sexualidade na escola.
Alternativas teóricas e práticas. MULLER Laura. 500 perguntas sobre sexo do
São Paulo: Summus, 1997. adolescente.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
ARATANGY, Lídia Rosenberg. Sexualidade: a difícil
arte do encontro. NICOLELIS, Giselda. O amor não escolhe sexo.
São Paulo: Ática, 1995. São Paulo: Moderna, 2002.
BOUER, Jairo. O corpo dos garotos. SAYÃO, Yara. Refazendo laços de proteção: ações
São Paulo: Panda, 2006. para combater o abuso e a exploração sexual de
crianças e adolescentes: manual de orientação
BOUER, Jairo. O corpo das garotas. para educadores.
São Paulo: Panda, 2004. São Paulo: Cenpec-Childhood – Instituto WCF-
Brasil, 2006.
CHARBONNEAU, Paul-Eugène. Namoro
e virgindade. SAYÃO, Rosely. Sexo é sexo.
São Paulo: Moderna, 1985. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
FELÍCIO, Cláudia. Tudo sobre meninas SUPLICY, Marta. Sexo para adolescentes: amor,
para meninas. puberdade, masturbação, homossexualidade,
São Paulo: Planeta Jovem, 2006. anticoncepção, DST/Aids, drogas.
São Paulo: FTD, 1998.
FIGUEIRÓ, Mary. Educação sexual: retomando
uma proposta, um desafio. TAKIUTI, Albertina. A adolescente está ligeira-
Londrina: UEL, 2001. mente grávida. E agora? Gravidez na adolescência.
São Paulo: Iglu, 1990.
FISHER, Nick. Beijos: coisas que todo mundo
quer saber. VEIGA, Francisco Daudt da. O aprendiz do desejo:
São Paulo: Melhoramentos, 2005. a adolescência pela vida afora.
São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
GANYMÉDES, José. Ladeira da Saudade.
São Paulo: Moderna, 2003. VENTURA, Miriam. Direitos reprodutivos no Brasil.
São Paulo: Fundação Mac Arthur, 2002.
GELLING, Kátia. Essa tal primeira vez.
São Paulo: Moderna, 1995.
69
Sites
Filmes:
AIDS: www.aids.gov.br
A Lei do Desejo
Doenças Sexualmente Transmissíveis: Pedro Almodóvar, 1987.
http://www.dstbrasil.org.br
Amigas de Colégio
Gravidez: http://www.gravidez-segura.org Lukas Moodysson, 1998.
Lembrete importante:
Na próxima semana você vai iniciar um novo módulo: Família. Na primeira
ofici- na está previsto um trabalho com a história de vida dos adolescentes,
no qual é preciso que eles tragam fotos da infância e façam pesquisas em
casa. Portanto, não deixe de ler o item “Apresentação” do novo módulo e solicite
esse material ao final da última oficina do Módulo Sexualidade.
70
introdução
N
os dias de hoje, a noção rígida e definida de família dá lugar a um conceito mais
amplo que envolve uma flexibilização de suas fronteiras. Alguns estudos mos-
tram que o homem é considerado o chefe da família, corporificando a autori-
dade moral. Ele é responsável pela respeitabilidade familiar, conferida pela presença
masculina em casa. A mulher, por sua vez, é a chefe de casa, aquela que mantém
a união do grupo; ela é quem cuida de todos e zela pela organização e funcionamento
do lar, mesmo que trabalhe fora. Contudo, no embate com a realidade cotidiana,
nem sempre homens e mulheres conseguem exercer as funções a que se propõem,
seja porque as condições externas são oscilantes e pouco controláveis, seja
porque a própria dinâmica familiar é mutável.
Dessa forma, discutir com o jovem sobre esse tema envolve, necessariamente, uma
reflexão sobre os ideais de família almejados e valorizados em nossa cultura, as novas
formações familiares, as implicações da presença de adolescentes em uma família e
os recursos afetivos que eles mobilizam nessa fase da vida. A crescente
independência do jovem, as novas responsabilidades, anseios e expectativas quanto
ao futuro costumam gerar conflitos entre pais e filhos, obrigando-os a rever posições,
limites e regras.
Por todas essas razões, neste módulo, daremos especial atenção aos aspectos que
interferem na construção da identidade dos adolescentes, oferecendo-lhes a chance de
refletir a respeito dos diversos tipos de família hoje existentes e sobre as
relações familiares, tão essenciais em suas vidas. Procuraremos também resgatar
aspectos da história infantil de cada um, entendendo que essas imagens da infância
contribuem para a afirmação de sua identidade. Relembrando o passado e refletindo
sobre o pre- sente, os jovens têm a chance de imaginar seu futuro e de caminhar,
com mais segu- rança, rumo à vida adulta.
Bom trabalho!
72
DICAS PARA O MONITOR:
• Trabalhar a história de vida dos participantes vai requerer que as atividades
propostas sejam feitas seqüencialmente; você vai perceber que uma fornece
instrumentos para o desenvolvimento da outra.
• Na primeira oficina solicita-se que os adolescentes tragam material de casa,
portanto, devem ser alertados antecipadamente. Peça que tragam uma foto
de quando eram crianças. Peça também que conversem um pouco com os
pais sobre sua “pré-história” (como os pais se conheceram? Como
começaram a namorar? Como foi a gravidez da mãe?) e seus primeiros dias de
vida (como foi o dia do seu nascimento? Como escolheram o seu nome?).
Essas informações serão trabalhadas em grupo.
objetivos do módulo:
73
com a palavra...
S
e você é educador, precisa saber que parte da potência do seu trabalho está no fato
de você ser para o adolescente o equivalente de uma pessoa extremamente
significativa para ele. Isso quer dizer que muitas coisas que são dirigidas a você, na
verdade conver-
sam com essas figuras significativas internalizadas. São elas que, muitas vezes, os
adoles- centes buscam no professor, seja para encontrar proteção e reconhecimento,
seja para estabelecer um distanciamento, uma separação, seja para buscar a reparação
das rupturas prematuras que fazem da vida uma deriva. Procure observar as atitudes
dos adolescentes em relação a você e ao grupo e você identificará, ao longo do processo,
o "papel" que cada um lhe reserva. O próprio fato de fazer essa reflexão o ajudará a
compreender sua posição em relação a eles. Sem precisar ser um psicólogo, você pode
colocar à disposição dele seu saber sobre isso. E todos sabem algo sobre isso...
Todos sabem que para qualquer um de nós existirmos houve alguém que nos quis:
uma relação sexual (ou uma inseminação artificial), uma gravidez que foi a termo, um
parto e, depois disso, a operação humana mais arcaica e poderosa que existe, pela
qual um bebê fabrica uma mãe: a amamentação. Toda pessoa que se torna mãe sabe
desse momento temeroso e emocionante em que se espera que o bebê a confirme
aceitando seu leite (ainda que não venha de seu corpo), seu cheiro, seu calor. É também
essa ordem de incerteza que está em jogo nos processos de adoção, de tal forma que
talvez possamos dizer que toda maternidade é uma operação de adoção recíproca.
Nesse completo estado de entrega mãe/filho se estabelece uma via fundamental pela qual
se transmitirá algo que vai muito além dos nutrientes que alimentam um corpo: um
lugar na imensa comunidade humana, uma vontade de futuro, mais um elo em uma
cadeia transgeracional. Enfim, nasce uma família e nasce-se sempre em uma família,
que é ao mesmo tempo comum e singular.
A curiosidade pela origem, pela cultura produzida e transmitida pela própria família
(brincadeiras, provérbios, figuras míticas), suas estratégias de sobrevivência, as
transformações ocorridas entre uma geração e outra, estará na base do interesse por todo
o conhecimento posterior: a história, a geografia, a biologia, a matemática e a
linguagem. O educador, sabendo que o conhecimento sobre a origem familiar de cada
um facilita o interesse pelo conhecimento humano em geral, pode convidar o jovem a
se aproximar de sua própria história (através das atividades mais diversas) de forma
a possibilitar que a curiosidade encontre seu rumo, como um rio que, correndo em
sentido inverso, busque a nascente para só depois chegar ao mar.
LEONEL BRAGA NETO. Psicanalista de adolescentes, adultos e famílias. Presidiu, coordenou a equipe clínica e
supervisionou a equipe de professores e terapeutas da Escola de Passagem – equipamento do Centro Integrado de Cuidados
ao Adolescente
– Cica do Instituto Therapon Adolescência.
74
é perfeita. Seja porque os filhotes humanos nascem tão desprotegidos e se agarram a
essa figura primordial materna estabelecendo uma ligação de posse recíproca da qual
mais tarde precisarão/desejarão se separar, seja porque a violência e o não-dito vividos
pelos pais tam- bém se transmitem aos filhos, o fato é que as famílias são
potencialmente explosivas em maior ou menor grau. A proximidade com o explosivo
das próprias famílias faz com que, muitas vezes, os educadores construam verdadeiras
muralhas em relação ao "explosivo" do outro (aluno rebelde, apático ou respondão), com
o objetivo de se protegerem daquilo que reconhecem como familiar, nesse outro que lhes
parece tão estranho. Saber disso talvez o ajude a lidar com essas intensidades dos
adolescentes de forma a auxiliá-los a encontrar expressões criativas que lhes
permitam modulá-las (a música de protesto e o grafite são exemplos disso). É com você
que esse jovem (e o grupo de jovens) encontrará a oportunidade de refazer um caminho,
transformando uma experiência extremamente significativa para ele, em algo
comunicável que pode encontrar, no campo da cultura/educação, uma saída,
transformando coisas que poderiam ter um destino funesto (marginalidade, doença,
violên- cia) em talentos potenciais (artista/educador/terapeuta/
açougueiro/cirurgião/político/vende- dor/empresário). A educação é a oportunidade de
sonhar com outro destino.
Estamos fazendo aqui um recorte; muitas vezes se lida com situações de violência
extrema nas quais não há a menor condição de conter ou transformar um impulso de
destruição, mas, outras vezes, confunde-se violência com agressividade.
A agressividade, originariamente, é uma força que busca empurrar para fora algo que
tenta impor-se ao sujeito, dominá-lo. É uma tentativa de restabelecer o domínio
sobre si. Diferentemente da apatia (que é quando a agressividade volta-se
silenciosamente contra o próprio sujeito), a agressividade é uma potência
transformadora, é vontade de viver ainda que (ou por causa disso mesmo) correndo
riscos. Tão característica da adolescência, a agressividade visa, internamente, à
separação do corpo infantil em direção ao corpo adulto (o que só acontece à custa de
muitos conflitos) e, "externamente", à separação na relação com os pais em direção ao
grupo social (grupo, banda, bando, trabalho). A escola e os demais espaços de
socialização são campos por excelência, onde os conflitos inerentes a esse processo
de separação irão se atualizar cotidianamente buscando uma resolução. O edu- cador
é figura visada e investida e será convocado a "encarnar" os pais. No entanto, deve
aceitar só parte dessa incumbência sem se transformar efetivamente na polaridade
do confronto. O educador comumente acaba por encarnar a lei proibitiva, funcionando
como autoridade, e o adolescente, por vezes, complementa a situação posicionando-se de
maneira submissa (apatia, desinteresse) ou reagindo de forma agressiva. A tarefa do
educador é tentar implicar o adolescente com suas próprias ações e decisões, algo
como dizer a ele: “Você pode fazer ou querer, desde que arque com as consequências e
encontre os recursos para realizar.” O adolescente pode, com seu corpo, efetivamente,
realizar mais do que a criança, mas em contrapartida terá a responsabilidade de
cuidar de si e de assumir as consequências de seus atos. O poder efetivo do jovem deve
ser proporcional à sua implicação e a lei (em vez de ser encarnada por alguém) deve
se transformar em um mediador simbólico, em parâmetros que regulam a
sociedade como forma de conter e limitar a violência. Aqui estamos no campo da ética
e da política.
DESCRIÇÃO: Como você está iniciando uma nova temática, comece batendo um papo
sobre família, tema dos próximos encontros. Investigue quem é o caçula, quem é
o mais velho, quem é filho único, quais as vantagens de cada posição, quantos irmãos
cada um tem etc. Esse tipo de conversa ajuda a criar uma cumplicidade no grupo.
Como foi alertado anteriormente (quadro “Dicas para o monitor”), nessa oficina os
jovens trabalharão com material trazido de casa. Pergunte a eles como foi conversar
com os pais sobre a época em que nasceram e quais as descobertas que fizeram.
Peça que todos coloquem suas fotos de quando eram crianças no centro de um círcu-
lo, viradas de cabeça para baixo. Um dos participantes deve escolher uma foto e ten-
tar adivinhar quem é aquela criança. A seguir, o dono da foto conta por que a escolheu,
onde estava e o que estava acontecendo naquele momento. Continue o jogo até que
todos tenham participado.
A seguir, você vai trabalhar o início da história de vida de cada participante, que
deve ter sido investigada com familiares, conforme fora solicitado. Para sortear
quem vai falar, coloque uma caneta no centro da roda e gire-a como se fosse
uma roleta. Quando ela parar, o adolescente que estiver na direção da tampa
contará uma das histórias pedidas com antecedência (como os pais se conheceram,
o dia do nascimen- to e a escolha do nome). Aquele que estiver do lado oposto
deverá perguntar a seu colega algo sobre a história contada. Isso feito, outras
perguntas podem surgir. Repita esse procedimento até todos contarem pelo menos
uma das histórias.
Você pode inventar outra regra caso a caneta aponte mais de uma vez para a mesma
pessoa.
76
Oficina 2. Mapeando a vida
OBJETIVO: Lembrar e compartilhar momentos da infância com o grupo de modo que se
apropriem de marcos importantes da história pessoal.
Peça que os participantes façam, com a massinha de modelar, objetos que represen-
tem cada um dos momentos referidos no quadro. É importante entregar um papelão
ou papel-cartão preto que sirva de base para os objetos que serão
posteriormente expostos. Quando todos tiverem terminado, peça que apresentem
seus trabalhos e, com base neles, inicie a discussão.
77
Oficina 3. A família de hoje e a de amanhã
OBJETIVO: A partir de uma reflexão crítica sobre a própria família, analisar as
relações familiares e discutir a família que desejam construir.
Peça para os participantes desenharem em uma folha de sulfite a família que têm e,
numa outra, a família que desejam construir no futuro. Ao lado do desenho de cada
membro da família atual, eles devem acrescentar um adjetivo relacionado a uma
característica importante dessa pessoa. Em seguida, cada um apresenta o que fez.
Depois, abre-se a roda de conversa.
COMENTÁRIOS: Não se esqueça de pedir para que incluam em seus desenhos animais
de estimação e parentes que convivem com eles em seus desenhos, pois na maior
parte das vezes essas pessoas e os bichos também fazem parte da rede afetiva
mais próxima. Sugerimos também que você observe a realização dos desenhos. Para
isso, ande pela sala e converse com os participantes. É importante que os jovens
explorem, ao máximo, as qua- lidades positivas de cada família; essa é uma maneira
de os adolescentes valorizarem seu lugar de origem e pertencimento. Com base nas
discussões, os participantes podem descobrir que as fantasias e desejos sobre seu
futuro familiar constituem um referencial para a construção do seu projeto de vida.
78
Oficina 4. A grande família
OBJETIVO: Promover a discussão sobre os papéis e as relações familiares,
permitindo que os adolescentes se coloquem no lugar do outro (pai, mãe, irmão) e,
dessa forma, reflitam sobre o seu papel dentro da família.
79
Oficina 5. Debate
OBJETIVO: Discutir e refletir sobre alguns papéis habitualmente estabelecidos na relação
pai-mãe-adolescente.
Situação-problema
O pai chega do trabalho muito cansado e entrega o dinheiro para a mulher comprar
a “mistura” para o dia seguinte. Senta-se no sofá para ver um pouco de televisão e nesse
momento sua filha de 15 anos pergunta se pode ir a uma festa com seus amigos. O
pai pergunta: quem vai? Onde é a festa? A que horas você vai voltar? A filha diz que
irão todos os seus amigos da escola, inclusive a Claudinha, sua melhor amiga. Fala
que a festa será uma grande balada que vai varar a madrugada. O pai balança a cabeça e
fala para a filha ver essa história com a mãe porque ele trabalhou o dia inteiro e não
quer mais problemas.
Quando você achar que o debate sobre o comportamento do pai se esgotou, levante
algumas questões para que os participantes reflitam sobre os outros
personagens, por exemplo:
• Na sua opinião, por que a filha foi conversar primeiro com o pai?
• Como você acha que a mãe costuma agir em relação ao marido e à filha?
• O que cada um teria que ceder para entrar em um acordo quanto à saída da filha?
• Como vocês acham que essa história terminou?
• E vocês, o que fariam no lugar da menina, do pai e da mãe?
• Nem sempre os adultos concordam entre si quanto à educação dos filhos.
Nesses casos, o que você acha que devem fazer?
80
Oficina 6. O que a minha família espera de mim?
OBJETIVO: Refletir sobre as expectativas pessoais e as da família em relação ao proje-
to de vida de cada um.
O que a sua família espera Você concorda ou não? O que você deseja/
para o seu futuro? Por quê? pensa a respeito
disso?
Namoro
Trabalho
Estudo
Livros Sites
ALBERGARIA, Lino de. Álbum de família.
Adoção
São Paulo: SM, 2005.
www.portoalegre.rs.gov.br/funcrianca
O Quarto do Filho
SARTI, Cynthia. A família como espelho -
Nanni Moretti, 2001.
um estudo sobre a moral dos pobres.
2a edição, São Paulo: Cortez, 2003.
Ponte para Terabítia
Gabor Csupo, 2007.
SARTI, Cynthia. A. A família como ordem moral.
Cadernos de Pesquisa n. 91.
São Paulo: Cortez, p. 46-53, 1994.
82
introdução
O
uso das drogas é tema de preocupação constante para pais, educadores, profis-
sionais da saúde e autoridades. Os aspectos associados a seu consumo assumi-
ram as dimensões de uma questão de Estado, envolvendo áreas diversas como
a Saúde, a Educação, a Assistência Social e a Segurança Pública. Não se discutem ape-
nas os danos físicos e psíquicos causados pelas drogas, mas também os crimes
envolvidos no tráfico de entorpecentes.
Abordar essa questão com os jovens requer muito cuidado. É preciso primeiramente
diferenciar o adolescente usuário ocasional do toxicômano já dependente. As razões e
conseqüências de cada modo de usar drogas são distintas e, por essa razão, ao tratar
todos os usuários da mesma maneira, corre-se o risco de não se comunicar
efetiva- mente com ninguém.
São muitas as razões que podem levar o adolescente a experimentar uma droga, a
continuar a usá-la e a se tornar um viciado. A maior parte deles, aliás, não se
torna dependente. Segundo especialistas, a personalidade do usuário, bem como
circunstân- cias psíquicas e sociais, são mais determinantes para alguém começar a
fazer um uso pesado de drogas (isto é, usá-las diariamente ou mais de uma vez
por dia) do que os princípios ativos da droga propriamente dita. É por essa razão que
os adolescentes são mais suscetíveis aos perigos que a droga oferece.
As pessoas viciam-se em uma ou outra droga por razões e caminhos singulares e, por
essa razão, não se pode falar no “toxicômano” de maneira geral. Mas seja
qual for o motivo que leva o adolescente a viciar-se, a droga ocupará na
vida dele uma função apaziguadora das angústias, preenchendo um
sentimento de vazio e promovendo a sensação de onipotência tão
característica dessa fase da vida. A busca desesperada pela
repetição do estado de satisfação que a droga propicia
leva o sujeito a querer sempre mais. Daí o altíssimo
risco de dependência física e psicológica que a
droga aporta.
84
Diante desse assunto tão delicado e difícil, como abordar o tema das drogas com os
jovens sem lançar mão de uma postura moralista ou repressora? As oficinas
propostas neste módulo são informativas e reflexivas, partindo do princípio de que o
entendimento do uso e abuso das drogas, assim como de seus efeitos prejudiciais à
saúde e à vida, pode ajudar o adolescente a fazer uma escolha mais consciente.
Antes de iniciar as oficinas, é fundamental que você estude o material informativo em anexo.
Bom trabalho!
objetivos do módulo:
• Promover maior conhecimento sobre as drogas lícitas e ilícitas e sobre seus efeitos
físicos e psicológicos.
• Favorecer a reflexão sobre o que leva um indivíduo a recusar, a usar ou a abusar da
droga e sobre as funções que esta pode ocupar na vida de uma pessoa.
• Discutir a relação entre as drogas e a sociedade, de modo que o jovem possa
perceber a complexidade das relações socioeconômicas das quais as drogas fazem
parte.
85
com a palavra...
A
s drogas, ou substâncias psicotrópicas, agem no cérebro
humano estimulando, diminuindo ou perturbando o
seu funcionamento; são capazes de alterar
os estados mentais e o comportamento das
pessoas. Elas existem no nosso planeta em
quantidade e variedade cada vez maiores.
LÍDIA CHAIB é licenciada em Física, escritora e produtora cultural. Adaptou o livro Que droga é essa?, de Aidan Macfarlane,
Editora 34. Escreveu Ogum, o rei de muitas faces e outras histórias dos orixás, Cia. das Letras, e As melhores histórias de todos
os tempos, Publifolha.
86
O trabalho de prevenção com o adolescente precisa ser feito em conjunto com a
família, a escola e a comunidade. Só desse modo será possível concretizar ações,
amparadas e estimuladas pelo poder público, que tenham como resultado final uma
sociedade mais sadia.
À família cabe acolher a inquietação própria dos adolescentes, sem abrir mão de
esta- belecer limites claros e não arbitrários (que não resultem dos caprichos de
alguém). Muitos pais precisam de orientação e ajuda de profissionais especializados
para esta- belecer essa relação com os filhos.
A escola, por sua vez, deve garantir que os alunos recebam informações corretas
e não preconceituosas, além de oferecer múltiplas atividades artísticas e esportivas
para a participação dos alunos. A instituição de ensino pode também transformar as
reuniões de pais e mestres numa atividade produtiva e de troca real de informações,
oferecendo aos responsáveis pelo adolescente assistência e cobertura.
87
6.abrir um espaço para orientação dos pais de alunos, para que esses não se sintam
tão despreparados e desamparados para lidar com os desafios da adolescência. Esse
tra- balho deve ser desenvolvido por equipes especialmente preparadas para levar
em conta as múltiplas dimensões da questão (biológicas, psicológicas, sociais).
O que seria necessário evitar, pois não tem se revelado eficaz nos trabalhos de
pre- venção às drogas com adolescentes:
1.reduzir a discussão sobre drogas a um curso de química avançada. Por mais respeito
que o adolescente tenha pelo saber científico, ele já tem a consciência clara de que a
opção pelo uso de substâncias psicoativas passa pelo conhecimento de seus efeitos,
mas está longe de se reduzir a isso: é acima de tudo uma questão emocional, não
racional;
2.reduzir a discussão sobre drogas a um curso de moral e religião, definindo o bem e
o mal como se fossem absolutos. Uma das mais importantes características da
ado- lescência é a busca de um quadro de referências próprio, baseado nos valores
rece- bidos dos pais e professores, mas que não se confunde com esses. Nesse
contexto, lançar mão de argumentos morais (na maioria das vezes
preconceituosos) implica perder o interesse e a atenção do interlocutor
adolescente.
3.patrocinar atividades pontuais e isoladas, como uma palestra proferida por especia-
lista externo ao cotidiano da instituição ou depoimentos de estrelas do universo
pop que se apresentam como ex-viciados reabilitados. Esses eventos são
contraprodu- centes, na medida em que servem para aplacar a ansiedade da
própria escola que, com isso acredita ter feito a sua parte e se exime de qualquer
projeto mais compro- metido e consistente.
4.palestras com especialistas podem eventualmente ajudar se fizerem parte de um
pro- grama de prevenção mais amplo, que inclui atividades a longo prazo. Os
depoimentos de ex-drogados arrependidos, principalmente se famosos, correm o
risco de confirmar a onipotência adolescente, fazendo-os acreditar que, como o
depoente, serão capazes de largar a droga.
88
Oficina 1. Conversando sobre as drogas
OBJETIVO: Introduzir o tema das drogas identificando as dúvidas dos adolescentes e
abrindo a possibilidade de diálogo sobre o assunto.
DESCRIÇÃO: Inicie a oficina perguntando ao grupo: O que são drogas? Quais drogas
o grupo conhece?
Em seguida, distribua uma tira de papel e uma caneta para cada participante e peça
que escrevam suas dúvidas em forma de perguntas sobre o tema das drogas. As per-
guntas devem ser anônimas, por isso é melhor você utilizar canetas de mesma
cor para que os participantes não sejam identificados. Reúna todas as perguntas em
uma caixa e peça para alguém sortear uma pergunta e fazê-la para o coletivo.
Estimule o grupo a respondê-la e, se necessário, complete as respostas. Repita
esse procedi- mento até que todas as perguntas tenham sido respondidas.
As drogas podem ser divididas em lícitas (legais) e ilícitas (ilegais). No Brasil, são con-
sideradas drogas lícitas o álcool, o cigarro e os medicamentos. Alguns produtos quími-
cos (como solventes e sprays) e medicamentos controlados não são ilegais, mas,
se usados para fins indevidos, isto é, para um uso diferente daquele ao qual se
destinam, também são consideradas drogas e o usuário pode ser penalizado por
lei.
89
Oficina 2. Uso e abuso/ Drogas lícitas e ilícitas
OBJETIVO: Aprofundar o conhecimento dos jovens sobre drogas lícitas e ilícitas.
MATERIAL: Cartolina; tiras de papel; canetas e cópias do material gráfico anexo (que
deve ser recortado antecipadamente).
DESCRIÇÃO: Inicie a atividade retomando a discussão da última oficina sobre o que são
drogas, recuperando as principais descobertas do grupo.
Feito isso, peça aos participantes que se dividam em equipes de quatro ou cinco inte-
grantes e distribua uma cartolina para cada uma. Solicite que cada grupo divida a
car- tolina em três partes e em cada uma delas escreva:
• Drogas Lícitas
• Drogas Ilícitas
• Não Drogas
Em seguida, distribua um jogo de tiras a cada grupo e peça para classificarem todos
os nomes correspondentes às imagens (chocolate; vinho; acetona; cigarro; cocaína;
tinta; remédio; ecstasy; gasolina; cerveja; café e chá) nas três categorias do cartaz.
Quando terminarem, solicite que cada grupo apresente a sua proposta. Nessa apre-
sentação, levante as semelhanças e diferenças nas respostas de cada grupo e abra a
discussão.
• Dessa lista, o que não é considerado droga pode ser consumido em grandes quanti-
dades, pois não faz mal?
Resposta: Não. Muitos dos itens considerados não drogas podem fazer mal à saúde se
consumidos em grandes quantidades. O chocolate em excesso, por exemplo, pode
aumentar os riscos de doenças cardiovasculares e de outros males provocados pela
obesidade. O café, por sua vez, contém substâncias estimulantes que acarretam
insô- nia e agitação.
90
• A seu ver, qual a diferença entre usar e abusar de alguma coisa?
Resposta: O uso designa uma ação social moderada de consumo de um
determinado produto ou substância. O abuso refere-se ao uso excessivo e
fisicamente prejudicial de determinadas substâncias que, a curto ou a longo prazo,
dependendo da substân- cia, da dose usada e do número de doses, irá não só
determinar alterações patológi- cas como também induzir à dependência química.
• Quais são os sinais que podem alertá-lo quanto ao uso do abuso de alguma coisa?
Resposta: Necessidade diária de ingerir o produto; sentir falta dele em situações
sociais ligadas ao prazer; propensão a consumir o produto em quantidades cada vez
maiores; achar que o produto é a coisa mais importante da sua vida; o fato de os outros
repararem que você está se excedendo com freqüência; ter antecedentes familiares de
vício; pedir com freqüência dinheiro emprestado ou roubar para poder comprar o
produto.
Ao final, se ainda houver tempo você pode perguntar se o grupo conhece pessoas que
são viciadas em drogas lícitas ou ilícitas e quais são as conseqüências disso na
vida dessas pessoas. Pode ser um bom momento para compartilhar histórias,
experiências e aprofundar a conversa sobre esse tema.
É importante também que os jovens compreendam que o uso de drogas ilícitas vai
além dos problemas de saúde que elas podem acarretar. Tanto o acesso quanto o uso
de drogas são atividades criminosas que envolvem uma série de questões éticas,
sociais e políticas que merecem ser discutidas. Essa pode ser uma oportunidade.
91
Oficina 3. Saúde no ar!
OBJETIVO: Informar os adolescentes sobre os efeitos fisiológicos e psicológicos acar-
retados pelo uso de drogas lícitas e ilícitas.
DESCRIÇÃO: Explique aos jovens que na oficina de hoje eles vão fazer um programa de
televisão chamado “Saúde no ar” e que o tema do programa vai ser as drogas e seus
efeitos. Divida os participantes em quatro grupos e sorteie duas drogas dentre a lista
em anexo (maconha, cocaína, inalantes, anfetaminas, LSD, álcool e tabaco, ecstasy);
cuide para não haver repetição de temas para cada grupo. Distribua o material infor-
mativo, e recomende que façam a leitura com bastante atenção, para em seguida
prepararem uma apresentação que simulará um programa de TV. O formato do pro-
grama é livre, assim como o número de participantes: pode ser uma entrevista, uma
reportagem, um debate ou um telejornal acerca das informações sobre as drogas
sorteadas. Durante o ensaio, circule pela sala e, se necessário, forneça orientações
aos grupos.
92
Oficina 4. Dramatização
OBJETIVO: Refletir sobre comportamentos e atitudes que estão associadas ao uso de
drogas, sobre os motivos que levam os adolescentes a usá-las ou rejeitá-las. Buscar
compreender a complexidade da questão e os diversos fatores que estão em jogo.
DESCRIÇÃO: Inicie essa atividade contando que eles farão uma dramatização na qual
podem e devem levantar questões e colocar seus pontos de vistas e vivências sobre o
tema.
Grupo 1
Crie uma cena cujo personagem central seja um adolescente viciado em drogas.
Explore alguns pontos de sua história e de sua vida: como ele começou a usar, como
o problema se desenvolveu, com que freqüência ele usa, como está a relação dele
com a família e com as drogas.
Grupo 2
Crie uma cena que tenha como foco um adolescente que, pela primeira vez, esteja
experimentando alguma droga. Explore alguns pontos de sua história: em qual
momento da sua vida isso acontece, o que leva a querer usar a droga, onde a
con- segue, como essa experiência se dá.
Grupo 3
Crie uma cena cujo tema central seja um adolescente que, diante de uma situação
de oferta, se recusa a usar drogas. Explore alguns pontos de sua história: os motivos
que o levaram a dizer não e a reação do grupo de amigos diante dessa recusa.
Depois que todos tiverem apresentado suas cenas, abra para uma conversa coletiva.
Pontos para discussão:
• Quais razões podem levar alguém a usar e/ou abusar das drogas?
• Qual a função que a droga pode assumir na vida dessas pessoas?
• Quais são as conseqüências do uso abusivo de droga na vida de uma pessoa?
• Quais são os fatores que podem ajudar o adolescente a recusar drogas?
93
Oficina 5. Drogas e sociedade
OBJETIVO: Aprofundar e ampliar os temas que estão ligados à questão das drogas.
Perceber a relação entre as drogas e a sociedade.
MATERIAL: Leitura das seguintes seções do Livro do adolescente: “As drogas e a lei”;
“Álcool, uma cervejinha aqui, outra ali...”; “Redução de danos, um assunto polêmico” e
“Papo cabeça”. (Se você não tiver um exemplar do livro para cada adolescente, faça
uma cópia dos textos para cada um.)
DESCRIÇÃO: Inicie perguntando quais questões políticas e sociais estão ligadas ao tema
da droga, como, por exemplo, o tráfico de drogas, drogas lícitas e ilícitas e políticas de
saúde pública para usuários. Faça um pequeno aquecimento do tema.
Feito isso, peça que eles imaginem um jeito criativo de apresentar o tema discutido
para o grupo todo. Pode ser em forma de uma música, uma aula, uma palestra, uma
entrevista etc. O importante é poder passar as informações e a discussão de uma
maneira lúdica e envolvente.
Ao final, procure fazer uma conversa com todos os participantes da oficina. Pontos
para discussão:
• Você aprendeu algo novo nessas apresentações? O quê?
• Do que mais gostou de saber?
• Do que menos gostou?
• Existe algo com que você não concorda sobre esse tema? Poderia acrescentar algu-
ma nova idéia à discussão?
COMENTÁRIOS: Fazer uma pesquisa anterior sobre os temas que serão discutidos e
até trazer outros textos que alimentem a discussão dos grupos, pode ser muito
interessante e o deixará mais preparado para conduzir essa oficina.
94
Oficina 6. Jogo
OBJETIVO: Verificar o que os integrantes aprenderam durante as oficinas e ajudar que
eles se apropriem delas.
Quando a equipe não souber a resposta, não ganha ponto e a equipe adversária tem o
direito de resposta.
A cada acerto, um ponto. A equipe que conseguir responder mais perguntas ganha a
gincana e um prêmio (a ser escolhido pelo monitor).
4.O que acontece com alguém que é pego com alguma droga ilícita?
Resposta: Depende. No caso brasileiro, a lei 6.368/76 trata, entre outras questões, do
tráfico e do uso indevido de drogas. Se a pessoa for pega com uma pequena quanti-
dade e assumir que é usuária, ela pode ser enquadrada no artigo 16 dessa lei; a pena
é mais leve, com reclusão de 6 meses a 2 anos, que pode ser substituída por
prestação de serviços à comunidade, acompanhada de tratamento obrigatório. Mas,
se o indiví-
95
duo estiver com uma grande quantidade ou não assumir que é usuário, seu caso
passa a se enquadrar no artigo 12. A pessoa pode, então, ser condenada como trafi-
cante (pena de 3 a 15 anos, além da multa), mesmo que não tenha antecedentes e leve
uma vida normal, trabalhe, estude etc. No caso de menores de idade, a pena
máxima de reclusão é de três anos, como estabelece o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA). Lembre-se: tráfico de drogas é crime hediondo e não tem fiança.
Em algumas regiões existem políticas específicas de uso de drogas para fins medici-
nais, como o Canadá e oito estados norte-americanos. Na Califórnia, por exemplo,
para atender à demanda do uso terapêutico, há uma produção legalizada, que obedece
a rígido controle governamental. Existem drogas cujo uso é considerado normal
e
96
integrante da cultura de determinado país. Por exemplo, no Peru e na Bolívia, a
folha de coca é consumida livremente, embora a cocaína seja proibida. Esses países
são os únicos nos quais a exportação de folhas de coca é uma atividade legal.
97
para se aprofundar...
HERMANN, Kai; RIECK, Horst. Eu, Christiane F., Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas
13 anos, drogada, prostituída. São Paulo: (UNIAD): http://www.uniad.org.br
Bertrand, 1982.
98
Anexo
99
101
introdução
P
ara os jovens, a inserção na esfera do trabalho em geral representa um passo
firme em direção ao mundo adulto. Ainda que muitos deles façam “bicos”, aju-
dem no trabalho doméstico ou familiar desde cedo, um emprego remunerado,
com ou sem registro formal, representa uma grande mudança na vida dos adoles-
centes. Em geral, o emprego traz novas responsabilidades e direitos, proporciona
aprendizagens e relacionamentos diferentes e oferece certa independência finan-
ceira, o que lhes possibilita inserção no mercado de consumo. Ao participar da rede
produtiva, o jovem pode delinear com um pouco mais de nitidez seu papel social,
suas perspectivas de futuro.
Muitas vezes, esses primeiros trabalhos não correspondem de fato a uma escolha
profissional. Nesse momento, é fundamental discutir com os jovens as diferenças
entre trabalho e profissão. Um trabalho pode levar a uma profissão? Formar-se
em algo implica conseguir trabalho? Como uma carreira pode ser construída?
Não raro, priorizando sua independência financeira imediata, o jovem fecha portas
de seu futuro. Entretanto, trabalhar não é apenas ter renda. Todo trabalho representa
uma ação criativa no mundo, implica transformação da realidade. Trabalhar é colocar
em prática habilidades e desejos, confrontar-se com limites e frustrações. A escolha
da formação profissional é especialmente difícil porque o jovem se vê às voltas com
seu projeto de vida, o que traz angústias.
O leque de ofertas de formação é um ponto central que deve ser abordado ao longo
deste módulo. Em um mercado altamente especializado, as opções são cada vez
mais diversas. O jovem precisa ter acesso a informações acerca das possibili-
dades de formação e de atuação profissional para que possa fazer
escolhas possíveis e que lhe tragam satisfação.
102
Este módulo pode ser de grande ajuda para auxiliar seu grupo a refletir sobre essas
questões.
Boa sorte!
objetivos do módulo:
103
com a palavra...
P
arece simples falar de trabalho. Afinal, todo mundo tem uma idéia mais ou
menos clara do assunto. Mas a abordagem fica mais complexa quando se
pre- tende discutir todos os matizes do tema, ou seja, a escolha da
carreira, o
binômio emprego-desemprego, a formação educacional, o projeto de vida no trabalho
e a própria relação da identidade do indivíduo com sua atuação profissional.
O trabalho é algo que convive conosco desde a infância. “O que você vai ser quando
crescer?”, perguntam pais, tios, avós. Esse interesse, que a partir de uma certa fase
começa a soar como uma espécie de cobrança, nos faz lembrar constantemente do
que o trabalho representa: um fazer inerente ao mundo adulto, uma ação sobre a
realidade, que se vale de diversos instrumentos – técnicas, estratégias, conhecimentos
específicos
– e que, em especial a partir do momento em que me dedico a ele, irá definir quem
eu sou. Isso porque, ao trabalhar, eu me desenvolvo enquanto pessoa, assumo um
lugar no mundo e sou reconhecido socialmente. Trabalhar é, portanto, uma ação de
auto- transformação e autodesenvolvimento, de atuação social e de interação com o
coletivo.
É a sociedade que organiza o mercado de trabalho: suas opções, suas formas, os cami-
nhos para o ingresso em cada uma das várias carreiras existentes, a legitimação e
regulamentação das profissões, bem como as modalidades de preparo profissional.
Assim, quando eu digo que eu sou professor, qualquer pessoa pode saber o que eu
faço (dar aulas, ter alunos, avaliar), onde executo meu trabalho (instituições
educacionais), qual é minha remuneração média (valor social da profissão) e
também imaginar os motivos que me levaram a ter essa atividade e não outra
(identidade profissional). Mas será que a resposta é assim tão simples e não há algo
a mais nessa história?
MARCELO AFONSO RIBEIRO é psicólogo, docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
104
Esse modelo, desenhado pela Revolução Industrial dos séculos XVIII - XIX, perdurou
por quase todo o século XX. No entanto, de uns 30 anos para cá, ele tem sofrido
transfor- mações significativas. Graças à chamada “flexibilização do mundo do
trabalho”, reduzi- ram-se bastante o peso e a importância do emprego – até então a
forma mais comum e hegemônica de inserção no mercado produtivo – e novos
modelos começaram a ganhar espaço, tais como: a terceirização, o trabalho
temporário, o teletrabalho (você recebe tarefas e as executa onde bem desejar), a
consultoria e a informalidade.
Em última análise, é a sociedade que institui valores sobre o que é bom ou ruim – por
exemplo, o que seria um bom trabalho, o que seria desejável para ter um bom
emprego, qual a melhor forma de inserção no mercado, o que é uma formação ade-
quada, o que é uma carreira de sucesso –, que se tornam metas genéricas a serem
alcançadas.
Se respondermos sem pensar muito, todas essas questões parecem fáceis ou óbvias.
No entanto, há muitos fatores envolvidos nessas situações, principalmente pelo simples
fato de que existem pessoas por trás delas, que constroem sua relação com o trabalho
105
(projetos e trajetórias de vida no trabalho). Tudo isso confere grande complexidade a
essas respostas aparentemente fáceis, pois não convém fazer generalizações.
O que é um projeto? É um estado que se almeja atingir, uma identidade que se pretende
construir e um conjunto de ações para chegar a um dado fim. Todo projeto emerge
do projeto de vida de cada um e toda escolha leva em conta um projeto preexistente.
Assim, o projeto de vida requer uma estratégia no tempo ou uma ação que envolva a par-
ticipação da pessoa na construção do seu futuro. Isso implica: compromisso e vontade
de tomar para si o futuro; autoconhecimento; conhecimento dos seus processos de
escolha e do mundo do trabalho; antecipação de dificuldades e obstáculos;
operaciona- lização de estratégias para realizar projetos; existência de um projeto de
vida global, do qual o trabalho é uma parte; consciência de que nenhum projeto é
definitivo.
O que uma pessoa busca com seu trabalho tem relação direta com o que ela busca
para sua vida. É por isso que não existem receitas prontas ou caminhos adequados.
Qualquer análise da trajetória ou do projeto de vida no trabalho deve levar em conta
o que a pes- soa busca para sua vida (aspirações individuais), sem nunca perder de
vista o que ela pode realizar (condições objetivas) e o que existe para ela (possibilidades
concretas).
Ter clareza de que qualquer projeto de vida no trabalho se constitui de muitas variáveis
não é fácil, pois de certo modo obriga a desconstruir falsos ideais, evitar frustrações
desnecessárias, e a analisar o contexto de forma mais objetiva, a fim de visualizar as
possibilidades e restrições que serão enfrentadas por toda a vida no trabalho.
Em síntese, ainda que o trabalho pareça algo simples de definir, ele adquire
dimensões mais complexas ao se constatar a existência de uma pessoa que
trabalha em dado contexto social, o que impõe restrições e gera oportunidades que
devem ser levadas em conta em toda análise do trabalho, da trajetória ou do projeto
de vida no trabalho.
106
Oficina 1. Viagem ao futuro!
OBJETIVOS: Discutir o projeto de vida de cada um e os caminhos possíveis para que ele
se torne uma realidade.
DESCRIÇÃO: Em clima suave e tranqüilo, com uma música de fundo, peça que todos os
participantes fechem os olhos. Dirija um relaxamento lentamente, propondo uma
viagem ao futuro. Pense de antemão como você vai dirigir essa viagem (eles entrarão
em um túnel? Passarão por uma porta? Viajarão pelos céus em uma espaçonave?),
pois cabe a você orientar o pensamento dos adolescentes. Faça algumas
perguntas que possam ajudá-los a se imaginar daqui a dez anos, por exemplo:
• Agora que você avançou dez anos na sua vida, como você está se vendo?
• Está trabalhando? Em quê?
• Está estudando? Qual curso?
• Está casado? Tem filhos? Quantos?
• Tem uma casa própria? E um carro?
• Como é a sua vida social? Como você se diverte?
• E a sua família de origem, com que freqüência os encontra?
• Quais são as suas prioridades nesse momento? O que é o mais importante para você
e o que não é tão importante assim?
Em seguida, peça que abram os olhos lentamente e entregue a cada participante uma
folha de papel em branco, no formato de um hexágono, e material de escrita. Peça que
escrevam na folha o futuro imaginado. No centro da figura geométrica, devem escre-
ver o que consideram o mais importante; os demais aspectos de suas vidas podem ser
distribuídos nas bordas ou como preferirem.
Depois que terminarem, peça que cada um coloque o seu hexágono no centro da
roda, de modo que, unidos, eles formem uma figura como se fosse uma colméia.
Proponha que cada um apresente seu desenho e depois, abra para discussão.
107
Exemplo:
Casa Própria
Profissão
Viagem
Faculdade de
Carro
Educação Física
Família:
Casada com dois filhos
108
Oficina 2. Relação escola/ qualidade de vida/ trabalho
OBJETIVO: Discutir a função da escola no projeto de vida de cada um, especialmente
no que diz respeito à escolha profissional.
Em seguida, divida os participantes em três grupos. Peça para cada grupo refletir
e escrever em uma cartolina suas principais idéias sobre um dos seguintes temas:
quais são as relações existentes entre escola e formação profissional (universidade ou
outros cursos); quais as relações existentes entre escola e trabalho; e quais as
relações existentes entre escola e qualidade de vida. É importante que todos os
temas sejam discutidos. Por isso, certifique-se de cada grupo fique com um deles.
Peça para cada grupo apresentar suas reflexões aos demais. Ao final de cada apresen-
tação, realize um debate sobre os pontos levantados pelos grupos.
COMENTÁRIOS: Esta oficina foi pensada com o intuito de resgatar a função da escola na vida
do aluno, isto é, de problematizar os deveres da escola e do aluno diante da formação de
um aluno crítico e cidadão. É muito importante que você discuta com os jovens as
várias funções da escola para além da entrada no mercado de trabalho, como por
exemplo, a for- mação ética e cidadã, o desenvolvimento emocional e intelectual, o
fortalecimento de idéias, opiniões e valores, o relacionamento social. Os textos
introdutórios podem servir de apoio para a discussão.
109
Oficina 3. Minhas habilidades (atividade das cartas)
OBJETIVO: Reconhecer as próprias habilidades e dificuldades por meio das atividades
que mais gostam de fazer ou daquelas que gostariam de realizar.
DESCRIÇÃO: Entregue uma folha de sulfite aos participantes e peça que escrevam, de
um lado, suas habilidades e, do outro, suas dificuldades, levando em conta todos os
aspectos da vida: escola, família, esporte e lazer, amigos, características pessoais etc.
Exemplo:
Habilidades Dificuldades
Fazer amigos Falar em público
Desenhar Matemática
Dar conselhos Escrever
A seguir, entregue três cartas em branco (folhas de sulfite cortadas do mesmo tama-
nho de cartas de baralho) a cada um dos participantes. Peça que olhem suas listas e
escolham duas habilidades e uma dificuldade que consideram significativas, re-
escrevendo-as, uma em cada carta.
Assim que todos terminarem, forme um círculo e peça para cada um apresentar suas
três cartas e justificar o motivo de sua escolha. Durante a apresentação, é
fundamental que haja um amplo diálogo entre os participantes de modo que as
diferentes percepções inte- rajam. Alguns exemplos:
• Se alguém disser que sua maior dificuldade é fazer amigos, você pode perguntar
aos outros jovens quais dicas eles poderiam dar para ajudar o colega a conquistar
novas amizades.
• Se alguém falar que sua maior habilidade é fazer contas de matemática, pergunte
quais dicas ele daria para aqueles que têm dificuldade em cálculos.
• Se alguém mencionar uma habilidade ou dificuldade que é percebida pelos demais
(como a timidez, por exemplo), os participantes podem expressar a sua opinião
sobre esse aspecto do colega.
110
Oficina 4. Escolhas profissionais. Como posso concretizá-las?
OBJETIVO: Discutir as escolhas profissionais e as possibilidades de concretização.
DESCRIÇÃO: Inicie a atividade discutindo com o grupo quais são os vários aspectos que
influenciam na escolha profissional de um jovem.
Feito isso, peça que eles escolham, dentre todas as possibilidades que escreveram,
aquelas que combinam melhor com seus desejos pessoais, suas habilidades, e
com as possibilidades concretas de que dispõem, grifando-as.
DESCRIÇÃO: Peça que todos escrevam numa folha de sulfite as profissões que conhe-
cem, tanto as de que gostam quanto as que não apreciam. Depois, peça que escrevam,
em uma outra folha, cinco profissões com que mais se identificam, assinalando
os pontos positivos e negativos de cada uma.
Assim que todos terminarem, forme um círculo e peça para apresentarem suas
reflexões.
Ao final da discussão, cada um deve escolher uma profissão para conhecê-la melhor.
Isso será trabalhado no próximo encontro.
112
Oficina 6. Profissões no ar (Telejornal)
OBJETIVO: Aprofundar o conhecimento em torno de uma profissão especifica com a
qual o jovem se identifica.
Peça para cada um ler o material que você trouxe sobre a profissão escolhida e
dê aproximadamente 20 minutos para os participantes organizarem o conteúdo que
será apresentado ao grupo. Informe que eles farão um “telejornal” durante o qual
cada um dos jovens será entrevistado pelos outros integrantes do grupo. A seguir,
organize as “entrevistas” até que todos passem pela posição de entrevistado.
113
Comentários: Você também pode participar diretamente da atividade. Poderá, por exem-
plo, fazer o papel de apresentador, introduzindo cada novo entrevistado, dizendo:
“Estamos aqui no programa ‘Profissões no ar’ com o nosso entrevistado Fulano de Tal
que vai falar sobre sua profissão de...”. Se necessário, acrescente perguntas que
considere impor- tantes, dinamizando a atividade.
Além disso, você pode trazer informações sobre alguma profissão inusitada, provavel-
mente desconhecida do grupo, que ache interessante que os jovens conheçam
melhor. Esse é um momento de aprofundar conhecimentos, portanto, a sua ajuda é
fundamental.
114
Oficina 7. Primeira Entrevista
OBJETIVO: Discutir sobre a primeira entrevista e oferecer informações úteis para
processos de seleção.
DESCRIÇÃO: Forme dois subgrupos e, para cada um, entregue uma história de um
jovem que procura o seu primeiro emprego (veja abaixo). Cada grupo ficará respon-
sável por responder as seguintes questões:
• O que o jovem da história deve fazer?
• Onde ele deve procurar trabalho?
• Como ele deve se comportar na primeira entrevista?
Em seguida, peça que os dois subgrupos apresentem suas sugestões. Assim que
ter- minarem, escreva com eles uma lista de dicas sobre como se comportar na
primeira entrevista de trabalho. Isso deve ser feito sempre levando em consideração
os exem- plos que os próprios adolescentes deram durante a discussão das
histórias.
DEPOIMENTO 1
Meu nome é Mariana, tenho 19 anos, sou solteira e residente da cidade de
São Paulo (SP). Curso a Faculdade de Administração e estou à procura do
meu primeiro emprego. Tenho facilidade para lidar com os clientes,
conhecimentos em inglês, espanhol e informática. Quero uma oportunidade,
assim como todo jovem que cursa uma faculdade. Gosto do que estudo e quero
começar a traba- lhar logo. O que eu faço? Onde procuro trabalho? Como devo
me comportar na primeira entrevista?
DEPOIMENTO 2
Meu nome é João, tenho 17 anos, sou solteiro e moro em Ribeirão Preto
(SP). Estou à procura do meu primeiro emprego para aumentar a renda
familiar. Procuro cargo de atendente e tenho conhecimentos de inglês básico e
informáti- ca. Atualmente curso o ensino médio (3º ano). O que eu faço? Onde
eu procuro trabalho? Como devo me comportar na primeira entrevista?
115
Seguem abaixo algumas dicas sobre os processos de seleção. Elas podem orientar a
discussão.
116
• Procure demonstrar interesse pela vaga, força de vontade, desejo de batalhar por ela.
• Ouça o entrevistador e responda a cada pergunta que lhe for feita de forma objetiva.
• Não minta. Não se esqueça de que, quando mentimos, passamos insegurança e por
vezes até gaguejamos. Lembre-se de que normalmente as pessoas que entrevistam
são especialistas em comportamento humano e têm boa percepção.
• Não se esqueça de que o entrevistador tem como maior objetivo descobrir suas
qua- lidades, as habilidades para que sua contratação seja favorável, encontrando a
pessoa certa para o lugar certo.
• Você também pode perguntar se tiver dúvidas sobre a vaga. Isso poderá ajudar na
hora de responder e você poderá valorizar mais o que sabe fazer a partir do
que é esperado para a vaga, ou seja, ressalte os pontos mais importantes.
117
Oficina 8. Curriculum Vitae
OBJETIVO: Fazer o próprio Curriculum Vitae.
DESCRIÇÃO: Abra o Livro do adolescente na seção “E aí, já fez o seu CV?”. Nela
você encontrará as informações necessárias para fazer um currículo. Converse
com os participantes sobre cada item do currículo; assim que esgotarem todas as
dúvidas, entregue a cada um deles uma folha de sulfite e uma caneta e peça que
façam o próprio currículo. Assim que todos terminarem, solicite que o apresentem.
Ajude o grupo a analisar cada currículo, sugerindo possíveis mudanças caso
necessário. Discuta os pontos positivos de cada um que merecem ser ressaltados
assim como eventuais fragilidades, por exemplo: “sou bom em computação, mas me
falta inglês”.
118
para se aprofundar...
BOCK, Ana Mercês Bahia et al. OLIVEIRA, Marco Antonio. O novo mercado de
A escolha profissional em questão. trabalho - guia para iniciantes e sobreviventes.
São Paulo: Casa do Psicólogo, 1995. Rio de Janeiro: SENAC, 2000.
119
SOARES, Dulce Penha; LISBOA, Marilu Diez Guia do Estudante:
(Orgs.). Orientação profissional em ação: http://www.guiadoestudante.abril.com.br
formação e prática.
São Paulo: Summus, 1998. Lei do Aprendiz:
http://www.leidoaprendiz.org.br
SOARES, Dulce Penha (Org.).
Pensando e vivendo a orientação profissional. Ministério do Trabalho e Emprego
São Paulo: Summus, 1993. http://www. mte.gov.br
120
introdução
A
palavra cidadania parece ter entrado na moda há alguns anos. Ela está
presente no discurso das escolas, dos governos, das ONGs e nos meios de
comunicação. Fala-se em cidadania para se tratar de assuntos tão diversos
quanto o des-
matamento, o desvio de verbas públicas, os conflitos entre gangues ou a falta de
saneamento básico. E isso não acontece por acaso: em um momento de mudanças de
valores, de amplo acesso à informação, de grandes disparidades sociais, é natural
que a cidadania seja conclamada como um poderoso antídoto para diversas mazelas
da sociedade contemporânea.
Isso ocorre porque cidadania nada mais é do que o cumprimento de deveres e direitos
dos cidadãos. Entende-se que a participação dos cidadãos na sociedade é absoluta-
mente necessária para o fortalecimento das instituições, a consolidação da democra-
cia e do Estado de Direito. Mas para exercer a cidadania, não basta conhecer direitos
e deveres (ainda que seja fundamental!); é preciso reconhecer seu valor de modo
a colocá-los em prática nos atos e gestos mais cotidianos.
Mãos à obra!
objetivos do módulo:
• Informar-se sobre o que é cidadania e sobre algumas das questões envolvidas nesse
tema, como, por exemplo, meio ambiente, participação política, violência.
• Refletir criticamente sobre o papel do cidadão, buscando compreender quais são os
direitos e deveres de cada um na sociedade.
• Estimular uma participação ativa e responsável do jovem na sua comunidade.
122
com a palavra...
O
uvimos e lemos a palavra cidadania em vários lugares, mas nem sempre fica
claro o que se quer dizer com ela. Podemos ter uma boa compreensão do
que esse termo significa tendo em mente que ele diz respeito às características
pelas
quais as pessoas podem chegar a se tornar cidadãs.
A palavra cidadania tem origem na palavra latina civitas, que significa cidade. Em
sen- tido mais restrito, refere-se ao conjunto de direitos e deveres daquele que
habita a cidade, o cidadão. A cidadania, portanto, é caracterizada por um conjunto de
direitos e deveres definidos a partir do que se costuma chamar de direitos
humanos.
MAURICIO ÉRNICA. Cientista Social, Mestre em Antropologia Social (Unicamp) e Doutor em Linguística Aplicada e Estudos
da Linguagtem (PUC-SP). Trabalhou como professor no Ensino Médio e no Superior. Participou de projetos de diferentes
ONGs nas áreas de educação e cultura. Desde 1995 é pesquisador do CENPEC (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,
Cultura e Ação Comunitária) e, desde 2006, é consultor da Fundação Tide Setubal.
123
A cidadania no Brasil
Pode-se ver, então, que somos uma sociedade marcada por práticas que não nos
fazem cidadãos. Em vez de afirmarmos nossos direitos, é muito comum que
nossas necessidades sejam atendidas pontualmente na forma de favores. Favores
geram dívidas. Dívidas devem ser pagas, sob o risco de punição. Um modo
corrente de pagar dívidas desse gênero é com a lealdade política e com a
reprodução desses esquemas de poder. Assim, o clientelismo e o assistencialismo
se perpetuam e restringem a afirmação da cidadania por geraram pessoas
dependentes dos poderosos e não cidadãos livres, autônomos e com seus direitos
assegurados.
A cidadania pode ser definida pelos direitos e deveres que garantem aos cidadãos
124
liberdade individual, participação política e bem-estar social. O fato de os direitos
serem afirmados nas leis é um passo importante para eles serem realizados
concretamente, na vida cotidiana. Mas, para isso, é preciso consolidar instâncias de
participação social e políticas públicas que universalizem direitos para todos, sem
exceções ou privilégios.
Direitos não geram dívidas, como os favores. Geram algo bem diferente: os deveres
do cidadão. E o dever central de todo e cada um dos cidadãos é zelar pela
garantia dos direitos de todos, dos seus e os dos outros.
Referências bibliográficas:
MARSHALL, T. H.. Cidadania e classe social. In: . Cidadania, classe social e status.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.
125
Oficina 1. Declaração dos Direitos Humanos
OBJETIVO: Discutir alguns artigos da Declaração dos Direitos Humanos da ONU
para que os jovens tomem conhecimento de direitos e deveres universais.
DESCRIÇÃO: O conceito de cidadania ainda não é algo de que a maior parte dos jovens
tenha se apropriado. Por essa razão, ao iniciar esse módulo, é interessante que você
introduza o tema com um pequeno aquecimento. Você pode escrever na lousa ou em
um papel três palavras correlatas – cidade, cidadão e cidadania – e pedir aos jovens
que atribuam significados a cada uma delas. Anote todas as idéias dos participantes,
ajude-os a fazer relações entre as palavras e ao final, procure esboçar uma definição
do grupo de cidadania. Você pode ainda compará-la à acepção do dicionário ou
de algum outro livro sobre o tema. Diga que ao longo das oficinas desse módulo,
essa definição será enriquecida por meio de diversas atividades e vocês poderão
comparar as idéias iniciais com as que estão por vir.
A seguir, pergunte aos jovens o que eles sabem sobre a Declaração dos Direitos
Humanos ou sobre a Organização das Nações Unidas – ONU. Leia as informações
do quadro abaixo se necessário.
Quando todos tiverem terminado, peça que cada grupo mostre seu trabalho sem ler o
artigo em questão, para que os demais descubram o conteúdo desse artigo. Dado
suas opiniões, os autores lêem o artigo e o discutem coletivamente.
126
• Você sabia que, assim como a Declaração dos Direitos Humanos aprovada pela
ONU defende os direitos das pessoas, está em vigor no Brasil o Estatuto da
Criança e do Adolescente, conhecido como ECA, que visa assegurar os direitos dos
indivíduos nessas etapas da vida? (comentar que alguns de seus artigos estão no
Livro do adolescente).
127
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Artigo I – Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direi-
tos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação
uns aos outros com espírito de fraternidade.
128
Artigo XXVI – Todo homem tem direito à instrução. A instrução será
gra- tuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A
instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional
será aces- sível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada
no mérito. A instrução será orientada no sentido do pleno
desenvolvimento da perso- nalidade humana e do fortalecimento do
respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais. A
instrução promoverá a compreensão e a amizade entre todas as nações
e grupos raciais ou religiosos e coad- juvará as atividades das Nações
Unidas em prol da manutenção da paz. Os pais têm prioridade de
direito na escolha do gênero de instrução que será ministrado aos
filhos.
129
Oficina 2. Por quê?
OBJETIVO: Problematizar questões relativas à convivência, à ecologia e ao uso dos
espaços coletivos de modo que os jovens se sintam implicados e possam
contribuir para o bem comum.
MATERIAL: Papel; caneta; cópias das fotos em anexo (ao final do módulo).
Questões norteadoras:
• O que você tem a ver com essa imagem?
• Você vê essas situações em seu cotidiano? O que você faz? O que poderia fazer?
O impacto das imagens deve gerar uma discussão interessante acerca desses temas. É
importante mostrar que cada um tem a sua parcela de responsabilidade, mesmo que
não esteja diretamente envolvido na situação. A questão principal é discutir as causas e
conseqüências de cada situação, de modo a envolvê-los com esses problemas.
130
Oficina 3. Dilemas éticos
OBJETIVO: Discutir com os jovens dilemas éticos cotidianos de forma a auxiliá-los
a construir valores e princípios sólidos.
DESCRIÇÃO: Inicie perguntando o que o grupo acha que é um “dilema ético”. Para tanto,
é preciso discutir cada uma das palavras para garantir que compreendam seu signifi-
cado. Observe as definições do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa:
Dilema s.m. (1679 cf. RB) 1 FIL raciocínio que parte de premissas contraditórias
e mutuamente excludentes, mas que paradoxalmente terminam por
fundamentar uma mesma conclusão.
Ética s.f. (sXV cf. FichIVPM) 1 parte da filosofia responsável pela investigação
dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o
comportamento humano, refletindo esp. a respeito da essência das normas,
valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social.
A seguir, leia um dos dilemas listados na próxima página (que também se encontram
na seção “Ética e cidadania” do Livro do adolescente) e peça que alguém diga como
agiria em tal situação. Aprofunde a discussão, perguntando: alguém faria outra coisa,
agiria de outra maneira? Dê a palavra à pessoa que disser que sim, de modo a
esti- mular a discussão. Ajude-os a analisar as causas e conseqüências de cada
situação. Prossiga com a leitura e discussão de cada um dos dilemas.
131
Há regras que são regidas pelas leis, mas há comportamentos e atitudes que fazem
parte da ética e da cidadania. Leia os dilemas éticos abaixo e veja como você agiria
nestas situações:
• Você está sentado em um ônibus cheio, morrendo de sono porque ficou estudando
à noite para a prova. Entra uma senhora de idade, cabelos brancos, mas bem
firmezinha. Você dá o seu lugar para ela ou finge que está dormindo?
• Você foi na lotérica pagar uma conta pra sua mãe. O cidadão da frente deixou cair
R$ 10,00 e ninguém viu. Você o avisa? E se for uma nota de R$ 100,00, você age do
mesmo jeito?
• Sua irmã tem um diário (sem cadeado!). Você lê escondido para ter posse de
informações privilegiadas?
• Você sabe que seu vizinho bate na mulher quando bebe. Você acha que “em briga
de marido e mulher ninguém mete a colher”?
• Para você, o mundo é dos espertos ou é esperto quem acha essa frase um absurdo?
• Você recebe um convite para ganhar um bom dinheiro trabalhando para um candidato
corrupto da sua região, o que você faz?
• Você está precisando de grana e seu colega, que não conseguiu terminar o trabalho
de final de ano da escola, lhe oferece dinheiro para fazer o trabalho dele. Você topa?
132
Oficina 4. O que é violência
OBJETIVO: Ajudar os participantes a refletir sobre o que é violência e o que ela desperta.
MATERIAL: Uma garrafa ou algo que possa passar por uma roleta; cartolina para fazer
os cartões.
Em seguida, peça para todos se sentarem (no chão ou em cadeiras), formando um cír-
culo. Coloque no centro a garrafa. Um voluntário deve girá-la para sortear quem
começa; a pessoa para a qual o gargalo da garrafa apontar deverá escolher um cartão
e completar a frase. Depois que o participante responder, o grupo também poderá
fazê-lo de modo que todos possam participar. Repita esse procedimento até que
todos os cartões sejam explorados.
Ao final, pergunte ao grupo como foi falar desse tema e como estão se sentindo.
Lembre-os também de que, no Livro do adolescente, existe um quadro
explicando onde buscar ajuda, caso precisem.
COMENTÁRIOS: Esse é um tema bastante delicado, pois a violência está na vida de todos
e pode mobilizar os participantes da oficina caso se lembrem de alguma experiência
pes- soal difícil. Procure estar atento e sempre orientar para que saibam onde buscar
ajuda caso necessário.
133
Oficina 5. Modelos: gente que faz
OBJETIVO: Favorecer a identificação dos jovens com pessoas que se destacam por suas
virtudes.
DESCRIÇÃO: Peça para cada participante pensar em alguém por quem sente admi-
ração. Essa pessoa pode ser tanto um anônimo (como os pais, parentes, professores)
quanto uma celebridade; o importante é que ela seja lembrada por sua conduta, seus
princípios (honestidade, generosidade, retidão, responsabilidade, preocupação com o
outro), pela militância em uma causa ou pelo trabalho que realiza. A seguir, divida
os participantes em pequenos grupos e peça que os integrantes de cada um falem
sobre o seu personagem. Depois de ouvidas as histórias, o grupo deve escolher
apenas um deles para apresentá-lo aos demais. Deixe que cada grupo apresente
seu perso- nagem, contando um pouco de sua história, suas qualidades e o
motivo que levou o grupo a escolhê-lo como uma pessoa admirável. A seguir, abra a
discussão coletiva.
134
Oficina 6. Sonhos para um futuro melhor
OBJETIVO: Favorecer a discussão sobre as relações existentes entre indivíduo e
sociedade. Refletir, discutir e nutrir em sonhos pessoais que estejam vinculados
a interesses coletivos.
135
Oficina 7. Nosso bairro
OBJETIVO: Fazer uma cartografia do bairro de modo que os adolescentes possam iden-
tificar seus problemas assim como os potenciais existentes.
MATERIAL: Gravador; música; mapa do bairro; papel sulfite; lousa e giz ou papel pardo
e canetas.
OBSERVAÇÃO: Você pode obter o mapa do bairro nos guias da cidade ou até nas listas
telefônicas. Se você morar em uma cidade pequena, pode trabalhar com o mapa da
região central que você pode conseguir na Prefeitura.
DESCRIÇÃO: Coloque uma música suave e peça para os jovens se sentarem, fecharem
os olhos e imaginarem o percurso que fazem de casa para a escola. Vá orientando
lentamente a vivência, por meio de perguntas: o que você está vendo agora que saiu
de casa? Ande mais um pouco, o que chama a atenção? O que lhe dá desgosto de ver?
O que lhe dá prazer? Existem pessoas/animais/coisas que você vê sempre em seu
caminho? Você passa por algum espaço público? Como ele está: limpo, sujo, com
gente ou vazio? Como estão os muros no seu percurso? E as calçadas? Existe
algum perigo nesse trajeto?
Quando você achar que foi suficiente, peça para abrirem os olhos e registrarem em
um papel o que viram por meio de desenhos, palavras, sinais. Isso vai ser usado ao
longo da oficina. A seguir, socialize a vivência, pedindo que quem quiser dê sua
opinião.
Esclareça que essa oficina tem por finalidade levar os jovens a conhecer melhor o
bair- ro em que vivem. Juntos, eles descobrirão as potencialidade e os problemas
locais. Levante com o grupo todos os equipamentos públicos existentes: bibliotecas,
praças, clubes, salões paroquiais, cinemas, teatros, postos de saúde, ONGs, escolas,
parques, enfim, quaisquer lugares em que as pessoas se encontrem. Anote na lousa
ou em um papel pardo aquilo que for mais importante. A seguir, dê-lhes um mapa do
bairro (pode ser um único exemplar se todos conseguirem observá-lo).
Primeiramente, ajude-os a se localizar, marcando onde estão; depois, peça que
assinalem os lugares que lis- taram, classificando-os por cor. Por exemplo: praças
em verde, escolas em azul, clubes em amarelo e assim por diante.
Com esses dados em mãos, inicie uma discussão. Para orientar a conversa, seguem
abaixo algumas questões:
• Quais os locais que já freqüentaram, onde nunca foram e onde costumam ir?
• Por que razão vão ou não a esses lugares? O que fazem?
• Quais os aspectos positivos e negativos desses lugares?
• Quais os aspectos positivos e negativos do bairro?
136
• Do que sentem falta no bairro? Por quê?
• Precisam ir a outro bairro para fazer alguma coisa? Que bairro freqüentam? Como
vão até lá?
• Aproveitam os potenciais do bairro?
• O que deveria/poderia ser feito para melhorar o bairro?
• De que maneiras poderiam contribuir para melhorar a vida no bairro?
137
Oficina 8. Caro político...
OBJETIVO: Informar e refletir sobre o funcionamento dos três Poderes no Brasil.
Estimular uma participação política ativa.
MATERIAL: Folha tarefa anexa; lousa e giz ou papel pardo e caneta hidrográfica.
Comece a oficina conversando com os jovens sobre as funções dos três Poderes
da República, perguntando-lhes se sabem o que cada um faz, quem são os
profissionais que trabalham em cada um deles. A seguir, esclareça as dúvidas
apoiando-se no quadro a seguir (um quadro semelhante se encontra no Livro do
adolescente).
Informe ao grupo que nesse momento eles vão dirigir sua atenção para o bairro (ou
a região) onde moram. Retome com eles os principais problemas do bairro levanta-
dos na oficina anterior, que mereceriam maior atenção das autoridades. Listados os
problemas, peça que elejam o mais importante. O objetivo é que escrevam uma carta
a um vereador, por exemplo, alertando-o para o problema. O destinatário da carta
deve ser a autoridade ou instituição responsável pelo problema em questão (como o
vereador, o prefeito, o governador, o presidente, o Ibama, o Ministério Público, a
Sabesp).
Você será o responsável pela redação dessa carta coletiva. Talvez alguns jovens não
saibam como escrever uma carta a uma autoridade; é uma boa oportunidade para
você explicar algumas regras fundamentais e também esclarecer sobre o tipo de
tratamento e a linguagem que devem ser empregados. Abaixo há um exemplo
que pode ajudá-lo.
Os três Poderes
Nas repúblicas, como a do Brasil, a administração da vida pública está a cargo de três
Poderes independentes: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. O objetivo é evitar
a concentração de poder em um só grupo e também possibilitar que os três poderes
se
138
fiscalizem reciprocamente. Acompanhe o quadro abaixo para compreender como eles
funcionam:
139
Poder Judiciário
O Poder Judiciário tem uma organização mais complexa, hierárquica e sua atuação se
dá no âmbito federal ou estadual. Atende as demandas jurídicas da população em
ações criminais, civis ou comerciais. Todos os seus membros ingressam na
carreira através de concursos públicos e vão sendo promovidos por critérios de
antiguidade e exercício de funções. Além da Justiça Federal Comum, existe uma
Justiça Federal Especializada, com tribunais nas áreas eleitoral, militar, do trabalho.
Local, data
Exmo. Sr. vereador Benedito Souza,
Nós do grupo Espaço Jovem, que se reúne na escola municipal X, estamos trabalhando o tema
Cidadania em nossas oficinas semanais. Apresentação – quem é aquele que escreve, seja uma
pes- soa ou uma instituição
Nas discussões, percebemos que em nosso bairro existe um grande problema quanto a (apresentação
do problema de forma clara e objetiva). Por esta razão, gostaríamos de (Objetivo da carta:
reclamar, alertar, divulgar, solicitar etc.)
Acreditamos que seu papel é fundamental para a resolução desse problema, uma vez que sua atua-
ção política tem sido marcada pela (defesa dos direitos de alguém, da natureza, pelos interesses do
bairro, da cidade etc.)
Atenciosamente,
Fulano de tal (monitor do projeto) e participantes
140
COMENTÁRIOS: Desacreditadas das instituições, é cada vez mais comum que as pessoas
achem que não vale a pena tentar encaminhar seus problemas, sejam eles quais
forem. No entanto, se deixamos de fazer um boletim de ocorrência sobre um dano
sofrido, por exemplo, essa informação não será registrada. Se os dados policiais não
forem fiéis à realidade, as autoridades não identificarão o problema e, por conseguinte,
terão uma visão distorcida da realidade e não poderão estabelecer políticas públicas
adequadas para enfrentar a questão.
Omitir-se ou tentar resolver o problema no âmbito pessoal não são boas saídas.
Atitudes de apatia ou de omissão acabam enfraquecendo as instituições e deixando
os indivíduos inseguros porque não se sentem atendidos em seus direitos. Essa
também é uma maneira de não assumir as próprias responsabilidades. Escrever
uma carta a um político ou à seção de cartas de um jornal (você pode mostrar aos
participantes essas seções nos periódicos mais importantes) é uma maneira de
participar, mas há outras formas que devem ser discutidas no grupo. Esse é um
bom momento para ampliar a discussão e conversar com os adolescentes sobre a
importância de dar voz às suas idéias e indignações sobre os problemas da
sociedade contemporânea.
www.camara.gov.br
www.senado.gov.br
www.presidencia.gov.br
www.pgr.mpf.gov.br
141
para se aprofundar...
Livros KRISHNAMURTI, Jiddu.
Sobre a natureza e o meio ambiente.
BENEVIDES, Maria Vitória. A cidadania
ativa. São Paulo: Cultrix, 2000.
São Paulo: Ática, 1998.
LATERMAN, Ilana.
BOSCO, Sérgio Martinho de Souza; Violência e incivilidade na escola.
RODRIGUES, Joel Costa. Redescobrindo o Florianópolis: Obra Jurídica, 2000.
adolescente na comunidade: uma outra
visão da periferia. LEGRAND. Pequenas lições.
São Paulo: Cortez, 2005. Belo Horizonte: Soler, 2007.
142
Sites
SOS Mata Atlântica – preservação da flora
Anjos dos cavalos: e da fauna da Mata Atlântica:
http://www.anjodoscavalos.org.br http://www.sosmataatlantica.org.br
Arca Brasil:
http://www.arcabrasil.org.br Filmes
Centro de adoção de cães e gatos: Bicho de Sete Cabeças
http://www.naturezaemforma.com Lais Bodanski, 2002.
143
144
Anexo
145
147
Este livro nasceu com a proposta de disseminar os conhecimentos gerados por alguns dos proje
ISBN 978-85-6205801-1