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ANÁLISE
ESTRATÉGICA
GUERRA NA UCRÂNIA
Reconfiguração do tabuleiro e realinhamentos estratégicos
Coronel R1 Enio Moreira Azzi e Coronel R1 Sylvio Pessoa da Silva
O uso da força como instrumento de política internacional
Coronel Oscar Medeiros Filho e Coronel R1 Enio Moreira Azzi
Interdependência complexa e o futuro da guerra
Coronel R1 Paulo Roberto da Silva Gomes Filho
A guerra na Ucrânia e a arquitetura de segurança global: um movimento
tectônico? Coronel R1 Guilherme Otávio Godinho de Carvalho
ANÁLISE
ESTRATÉGICA
subordinado ao Estado-Maior do Exército e foi criado Centro de Estudos Estratégicos do Exército dedicada
pela Portaria n º 051-EME, de 14 Jul 03, para estudar e aos temas que impactam a preparação da Força
Cel INF Carlos Gabriel Brusch Nascimento Cel QCO Oscar Medeiros Filho
Cel QCO Oscar Medeiros Filho Cel R1 Guilherme Otávio Godinho de Carvalho
Cel R1 Ênio Moreira Azzi Cel R1 Paulo Roberto da Silva Gomes Filho
Cel R1 Sylvio Pessoa da Silva Ten Cel QCO Selma Lucia de Moura Gonzales
Cel R1 Guilherme Otávio Godinho de Carvalho Cap QCO Célia Regina Rodrigues Gusmão
Ten Cel QCO Selma Lucia de Moura Gonzales Cap QCO Célia Regina Rodrigues Gusmão
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
ADJUNTA DE EDITORAÇÃO E PUBLICIDADE
Quartel General do Exército – Bloco A – 1 º andar
Cap QCO Célia Regina Rodrigues Gusmão
70630-091 – Setor Militar Urbano – Brasília/DF
ebrevistas.eb.mil.br/CEEExAE
ADMINISTRATIVO
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realinhamentos estratégicos
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O uso da força como instrumento
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Coronel R1 Paulo Roberto da Silva
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A guerra na Ucrânia e a arquitetura
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A evolução do pensamento
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reformulações?
Boa leitura!
Conselho Editorial
Os textos publicados pelo Centro de Estudos Estratégicos do Exército
são de caráter acadêmico e abordam questões relevantes da conjuntura
É permitida a reprodução dos textos e dos dados nele contidos, desde que
Assim, procura responder, com eficácia e efetividade, aos desafios ditados pela
futuro desejado.
A presença de pesquisadores civis no CEEEx possibilita uma visão mais abrangente das
7
8
mundial levar a guerras pela disputa por mais debates jurídicos diversos. No entanto,
quociente de poder (CASTRO, 2016). embora sem efeitos práticos, decorrente das
Retomando a Guerra na Ucrânia, além limitações do Conselho de Segurança das
de tentar conter o avanço da OTAN para Nações Unidas (CSNU), há que se destacar a
Leste, o Presidente Putin alegou que sua sessão especial da Assembleia Geral das
“operação militar especial” destinava-se a Nações Unidas, na qual 141 Estados-
defender as minorias russas separatistas, membros aprovaram uma Resolução10,
habitantes das províncias ucranianas de repudiando a ofensiva militar russa na
Donetsk e Lugansk, em guerra contra o Ucrânia. Apenas cinco países foram contra a
governo de Kiev desde 20148. Antecedendo a Resolução, o que demonstra o
invasão, a Rússia reconheceu a independência posicionamento de uma expressiva maioria
das duas regiões, o que reabriu a discussão, em defesa do não uso da força contra a
no âmbito do direito internacional, sobre a integridade territorial e contra a soberania
questão da autodeterminação dos povos estatal. Trinta e cinco países se abstiveram de
versus a integridade territorial dos Estados, votar, com destaque para China, Índia e
princípios fundamentais das relações África do Sul, que buscaram preservar suas
internacionais contemporâneas. Sobre esse relações tanto com o Ocidente quanto com a
tema, os professores Aziz Saliba e Lucas Rússia.
Lima, da UFMG, afirmam que o direito à Ao que parece, a lógica que move o
autodeterminação não se traduz em um direito Presidente da Rússia, Vladimir Putin, ainda é
à secessão9. a realista, vigente na Guerra Fria, de disputa
No mesmo sentido, o Presidente Putin, do poder e da preservação da segurança
considerando a expansão da OTAN uma territorial, historicamente ameaçada. Isso
ameaça à Rússia, recorreu ao direito de justificaria o uso da força em países que, à
legítima defesa, previsto no Art. 51 da Carta época, à semelhança da atual Ucrânia,
da Organização das Nações Unidas (ONU), tentaram se libertar do domínio soviético e
para justificar a iniciativa unilateral de ultrapassaram os limites (red line) toleráveis
intervenção na Ucrânia, dando margem a por Moscou, a saber: Hungria, em 1956;
Tchecoslováquia, em 1968; e Polônia, nas
8
“Full text of Vladimir Putin’s speech announcing ‘special décadas de 1970 e 1980.
military operation’ in Ukraine”. Disponível em
https://theprint.in/world/full-text-of-vladimir-putins-speech- Embora ainda não seja possível prever o
announcing-special-military-operation-in-ukraine/845714/.
Acesso em: 9 mar. 2022. desfecho do conflito, tampouco estimar com
9
SALIBA, Aziz T.; LIMA, Lucas C. O que o direito
internacional tem a dizer sobre a invasão da Ucrânia pela
10
Rússia. Disponível em: ONU. Resolução da Assembleia Geral de 1/3/2022.
<https://oglobo.globo.com/mundo/artigo-que-direito- Disponível em:
internacional-tem-dizer-sobre-invasao-da-ucrania-pela- <https://reliefweb.int/sites/reliefweb.int/files/resources/A_ES
russia-25414188>. Acesso em 9 mar. 2022. -11_L.1_E.pdf>. Acesso em: 9 mar. 2022.
17
Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN):
15
U. S. Indo-Pacific Strategy. Disponível em: bloco integrado por Brunei, Camboja, Cingapura, Filipinas,
<https://www.whitehouse.gov/wp- Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Tailândia e Vietnã.
content/uploads/2022/02/U.S.-Indo-Pacific-Strategy.pdf>. Diálogo de Segurança Quadrilateral (QUAD): fórum
Acesso em 09 mar. 2022. estratégico entre EUA, Japão, Austrália e Índia.
16
Conceito de offshore balance. Disponível em AUKUS (acrônimo do inglês: Australia, United Kingdom,
https://www.britannica.com/topic/offshore-balancing. Acesso United States): aliança militar formada pela Austrália, Reino
em 15 mar. 2022. Unido e EUA.
conjunta, anunciando uma parceria estratégica desempenhar seu papel de preservação da paz,
“sem limites”18. no conflito da Ucrânia, demonstra a
Como destacado, nas deliberações do fragilidade da construção institucional que
CSNU e da Assembleia Geral da ONU, a regula a relação entre os Estados. O CSNU,
China se absteve de votar contra a Rússia e moldado pelos vencedores da II GM, com
condenou as sanções econômicas impostas a reservas para si de assentos permanentes e
Moscou; porém, reafirmou sua defesa à poder de veto às suas deliberações, traz a
soberania dos Estados. Nas declarações anacrônica estrutura político-estratégica de
seguintes a respeito do conflito, moderou o 1945 (CASTRO, 2016), demonstrando
discurso o que levou analistas a entenderem esterilização e paralisia na solução de
que Pequim pode estar considerando as ações controvérsias que ameaçam a paz e a
do Presidente Putin como “além do razoável”, segurança do complexo sistema de relações
por desestabilizar o sistema internacional, o internacionais atuais.
que não seria do interesse chinês.
Dentro desse cenário, é possível que a 3. Conclusão
guerra acelere a competição entre as grandes Uma Ucrânia pró-Ocidente, com
potências, podendo, inclusive, levar o mundo ambições de ingressar nas duas grandes
para a nova “guerra fria”, com o retorno das alianças europeias, que pusesse em dúvida o
políticas de contenção e de balanceamento de acesso da Rússia a seu porto no mar Negro ou
forças. A transição do mundo bipolar para pudesse hospedar uma base naval da OTAN,
uma ordem unipolar proporcionou um período seria insustentável e inaceitável para o
de certa estabilidade e acomodação. Porém, Kremlin. A anexação da Crimeia (2014) e a
quando houve a ascensão de novos atores invasão da Ucrânia (2022) mostraram a
globais e se percebeu um desequilíbrio de disposição da Rússia para a ação militar com
poder, potências como a China, o Irã e a o objetivo de defender seus interesses, no que
Rússia passaram a contestar o status quo e o chama de “exterior próximo” (MARSHALL,
ordenamento internacional. Isso nos sugere 2018).
que os Presidentes Putin e Xi Jinping estão Todo o mundo, de alguma maneira, já
tentando redefinir os termos desse sistema, o está sendo afetado pela guerra, ainda em
qual não lhes beneficia. curso. A ordem mundial teve suas bases
Por fim, segundo Salvador Raza19, a abaladas, o que poderá reconfigurar o
incapacidade das Nações Unidas em tabuleiro internacional e provocar a mudança
18 19
“Putin and Xi Frame a New China-Russia Partnership” As lições da guerra na Ucrânia: ainda é possível evitar o
Disponível em https://thediplomat.com/2022/02/putin-and-xi- pior?. CNN, 6/3/2022. Disponível em:
frame-a-new-china-russia-partnership/. Acesso em 15 de mar. <https://www.youtube.com/watch?v=NiGFngdZKtM>.
2022 Acesso em 07 mar. 2022.
20
Historiador da Guerra do Peloponeso entre Atenas e
Esparta, Tucídides identificou a dinâmica do confronto entre
Esparta e Atenas, uma potência emergente e uma potência
consolidada. Esse exemplo é utilizado para explicar o atual
cenário que envolve a China e os EUA.
Ministro da Defesa Nelson Jobim costumava é possível concordar com a existência de uma
afirmar que Defesa é a capacidade de, quando sociedade de Estados, na qual unidades
não quer dizer que os Estados farão uso da Hedley Bull, essa sociedade estaria
militares sempre que precisarem “dizer não”. grupo de Estados, conscientes de certos
O uso da força como instrumento de política internacional Vol 24 (2) Mar/Maio 2022
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normas representariam restrições – ainda que mais hobbesiano, marcado pela desconfiança
limitadas – ao comportamento dos países? entre as nações e pela natureza conflituosa das
A decisão de adentrar ao território relações.
ucraniano com colunas de blindados e Esse ambiente de desconfiança e
lançamento de mísseis foi interpretada por conflito acaba por gerar novo impulso à ideia
muitos como não racional e condenável. de “Dilema de Segurança” de John Herz
Entretanto, como lembra Stephen Walt (1950), segundo a qual os esforços de
(2022), a invasão à Ucrânia reafirma o ampliação de segurança de um Estado
pensamento realista, segundo o qual apenas a conduzem à maior insegurança de seu
condenação moral por si só não é capaz de vizinho. Em outras palavras, o esforço de um
impedir o uso da força pelos Estados. Estado se tornar mais seguro, pela aquisição
O comportamento da Rússia, no caso de armas ou pela entrada em uma aliança, por
da Ucrânia, parece revelar uma tendência exemplo, acaba por tornar outros Estados
geopolítica crescente nas relações inseguros e, consequentemente, faz com que
internacionais de retorno do jogo de poder busquem meios de se defender da ameaça
entre grandes potências, observada mais percebida, tendendo a gerar uma escalada de
claramente a partir da crise financeira temor. Como consequência direta, tenderemos
internacional de 2008. Diferentemente de a ver maiores investimentos em projetos
contextos anteriores, a partir daquele militares e indústria de defesa, o que pode vir
momento, observam-se chefes de Estado a contribuir para uma corrida armamentista
tratando abertamente – sem filtros – a entre as nações.
preparação militar como jogo de poder entre Essa situação tem grande potencial de
3
as nações . provocar fortes implicações para a defesa e
O uso da força como instrumento de para a segurança nacional. Como sugere Evan
poder, de forma unilateral e explícita, por uma Ellis, especialista em segurança latino-
potência revisionista (não hegemônica), como americana, em longo prazo, o conflito na
se tem observado no caso atual, tem Ucrânia impactará dinâmicas de segurança
contribuído para a percepção mutuamente internacional (ELLIS, 2022). Com isso, ainda
compartilhada de que o mundo tem se tornado segundo o autor,
cambiará fundamentalmente el cálculo
3
Em 1º de janeiro de 2018, o presidente da Coreia do Norte, de muchos de los Estados del mundo,
Kim Jong-un, afirmou que "Todos os EUA estão dentro do disminuyendo la fe en la inviolabilidad
alcance de nossas armas nucleares e um botão nuclear está inherente de su soberanía contra los
sempre na minha mesa. Esta é a realidade, não uma ameaça".
actores amenazantes, incentivando a
Dois dias depois, o presidente norte-americano, Donald
Trump, respondeu: “Kim Jong-un disse que tem 'o botão algunos a buscar unirse o fortalecer
nuclear sempre em seu escritório'. Alguém deve informá-lo alianzas formales para su defensa”
que eu também tenho um botão nuclear, maior e mais (ELLIS, 2022).
poderoso que o dele, e que o meu botão funciona”.
O uso da força como instrumento de política internacional Vol 24 (2) Mar/Maio 2022
21
Para muitos analistas, a postura de dispostas a fazer uso de seus arsenais. Caso se
Putin foi irracional, tomada sem a devida confirme, essa tendência poderá trazer
“defensivo”, sugerido por Putin por ocasião de desconfiança mútua e da ideia de que um
do ataque à Ucrânia, o evento se revela como vizinho pode vir a se converter, a qualquer
outro lado, o sucesso dessa empreitada deverá dilema de segurança regional com possíveis
Nacionais, por mais remotas que possam deve gerar indefinições sobre arranjos
parecer as ameaças de guerra, têm buscado regionais de defesa, como o europeu e o sul-
manter suas forças armadas estruturadas. O americano. Isso se deve a dois motivos de
caso ucraniano deverá reforçar essa ideia. natureza oposta: o primeiro diz respeito à
Com isso, os gastos com Defesa tenderão a ampliação do estoque de desconfiança entre
O uso da força como instrumento de política internacional Vol 24 (2) Mar/Maio 2022
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o objetivo de retaliar a Rússia: bancos do país não chegaria ao nível do conflito armado,
foram banidos do sistema SWIFT, empresas muito menos na intensidade a que se assistiu,
aéreas impedidas de voar sobre extensas áreas com a eclosão de uma guerra de alta
da Europa, restrições às importações e intensidade, na qual cidades foram
exportações de determinados tipos de bens e completamente arrasadas por bombardeios
5
serviços, dentre muitas outras . incessantes.
Contudo, as sanções não se Tal crença justificava-se, em maior ou
restringiram às ações dirigidas a afetar o menor grau, pela terceira característica da
Estado russo. Cidadãos também foram alvos interdependência complexa, apresentada na
de sanções, como pessoas físicas. Essas primeira seção deste ensaio, de ser inibidora
medidas têm o objetivo claro de mitigar o do uso da força quando os Estados mantêm
apoio que determinadas pessoas emprestam ao entre si os laços da interdependência. E, no
governo do país, na tentativa de se criar uma caso da guerra na Ucrânia, tais laços entre
oposição doméstica ao próprio governo. russos, ucranianos e europeus estão claramente
Portanto, essa é uma ferramenta que presentes.
pode ser utilizada nas duas direções. No caso, Então, por que a interdependência
a enorme dependência europeia das fontes ampliada pela globalização foi incapaz de
energéticas russas impõe a muitos países a evitar o conflito? A resposta a essa questão
constrangedora posição de continuar permanecerá em aberto até que a “névoa da
comprando gás natural e petróleo russo, guerra” clausewitziana6 se dissipe, e possamos
mesmo durante a guerra, financiando, ainda avaliar com clareza todos os acontecimentos.
que indiretamente, o esforço de guerra No momento, tateando em meio ao espesso
adversário. Por sua vez, a Rússia, apesar de nevoeiro, podemos apenas inferir algumas
continuar o fornecimento, também mantém a causas.
ameaça de seu corte, deixando os europeus sob Talvez o sistema internacional esteja
pressão. retornando à multipolaridade e, justamente por
isso, os russos tenham encontrado muitos
4. E o futuro da guerra? países, com especial destaque à China e à
Índia, mas não só esses, com disposição e
Enquanto as tensões em torno da
capacidade política, comercial e financeira de
Ucrânia escalavam, a partir de novembro de
6
2021, muitos analistas acreditavam que a crise “A névoa da guerra” é uma expressão muito usada para
descrever a complexidade dos conflitos militares. Sua autoria
é frequentemente atribuída a Clausewitz, mas, na verdade, é
5
Veja uma lista completa aqui: uma paráfrase do que ele disse: “A guerra é o reino da
https://graphics.reuters.com/UKRAINE- incerteza; três quartos dos fatores em que se baseia a ação na
CRISIS/SANCTIONS/byvrjenzmve/ Acesso em: 15 mar. guerra estão envoltos em uma névoa de maior ou menor
2022. incerteza.”
não aderir às sanções lideradas pelos EUA. ocorrência condicionada por uma variada
Pelo contrário, quiçá esses países tenham gama de fatores, alguns lógicos e
justamente encontrado nessa conjuntura a perfeitamente racionais, como o que propõe a
oportunidade de aprofundar seus laços interdependência complexa como inibidora do
econômicos com os russos, mitigando os uso da força, mas também por outros advindos
efeitos da coerção econômica imposta pelas dos mais recônditos espaços da psique
sanções. humana, onde a frustração, a raiva e a
Talvez, mesmo ciente dos altos custos irracionalidade dos tomadores de decisão – e
materiais e humanos da guerra e sabedor de mesmo de populações inteiras – pode acender
que a globalização e a interdependência o estopim da guerra.
amplificam ainda mais seus efeitos, o governo “Somente os mortos viram o fim da
russo tenha sido impelido à ação por fatores guerra” (RAMO, 2010), afirmou George
históricos, culturais, políticos e estratégicos Santayana ao fim da Primeira Guerra Mundial.
julgados tão relevantes que justificariam os O filósofo inglês antevia que a Grande guerra
custos, por mais altos que fossem. não fora capaz de resolver as questões que
Talvez tenha havido uma monumental causariam a Segunda Guerra Mundial.
falha de percepção da realidade dos fatos, que Infelizmente, a guerra na Ucrânia
tenha ofuscado a compreensão dos decisores reafirma Santayana. A humanidade ainda está
russos, impedindo-os de avaliar corretamente o muito longe do dia sonhado pelo General
nível de resistência que seria imposta pelos Osório, em que os países queimariam seus
ucranianos em face da invasão do solo de sua arsenais8.
pátria. Referências
O mais provável é que no todo, ou em
FARREL, Henry; NEWMAN, Abraham L.;
parte, as três hipóteses anteriores estejam
Weaponized Interdependence. How global economic
presentes na explicação vindoura desse networks shape State coertion. International security,
vol. 44, nº 1, p. 42-79, jul. 2019.
conflito. De qualquer maneira, elas alertam
GALVÃO, Marcos B. A. O Realismo de cada um:
para o que esperar do futuro. Sun Tzu, cinco interdependência e relações políticas entre Estados no
mundo pós Guerra Fria. Estudos históricos. Rio de
séculos antes de Cristo, afirmou que a guerra é Janeiro, vol. 6, nº 12, p. 149-161, 1993.
de vital importância para o Estado7. O conflito
KEOHANE, Robert O.; NYE JR., Joseph S. Power and
em análise mostra como a guerra mantém essa interdependence. Harper Collins Publishers, 1989.
característica até os dias atuais. E possuindo RAMO, Joshua Cooper. A era do inconcebível. 1. ed.
Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2010.
tal importância, certamente, terá sua
7 8
“A guerra é um assunto de importância vital para o estado; o “A data mais feliz de minha vida seria aquela em que os
reino da vida ou da morte; o caminho para a sobrevivência ou povos civilizados festejam sua confraternização, queimando
a ruína.” (SUN TZU, A Arte da Guerra, cap. 1) os arsenais.” (Marechal Manuel Luis Osório)
um evento de relevante magnitude, reunindo território que hoje abriga o Estado ucraniano.
os significativos ajustes ocorridos com o fim explicativos para a invasão atual, levando a
escala, perpetrado pela maior potência nuclear especulativas, sobre uma eventual ambição de
das fronteiras ucranianas, o confronto abarca que devem ser observados com acuidade. As
conflito, o conjunto de países que apoiam a No que tange ao evento atual, entende-
Ucrânia, país europeu com cerca de 43 se não ter havido uma agressão militar direta
milhões de habitantes, detentor de um grande contra o Estado russo, tendo esse agido de
(e estratégico) território naquele continente. forma unilateral ao dar início às ações que
emprestam ao conflito dimensão global, causa para o emprego do poder militar russo
envolvendo, mesmo indiretamente, toda a na Ucrânia pode ser explicitado pela ideia da
Europeia, eixo mais vulnerável para a defesa ocidentalista se caracteriza pela aproximação
da Federação Russa; laços históricos que vão ideacional com o “Ocidente”6 (ordem liberal
ao encontro do conceito de “pan-eslavismo”5, do pós-II GM, democracia e direitos
ideário presente na cultura russa; entre outras. humanos), opondo-se a interferências
geopolíticas incisivas do Estado russo no seu
Figura 1: Expansão da OTAN
entorno imediato. A civilizacionista
argumenta a existência de uma “missão”
devotada à preservação de tradições políticas
e culturais e à proteção dos compatriotas
russos no mundo, além da recuperação da
influência russa sobre seu exterior-próximo.
Visa a (re)construir a “Grande Rússia” pelo
uso da força. A escola estatista traduz a
crença no Estado forte, baseado na concepção
da excepcionalidade russa, garantidora e
estabilizadora da política regional e
internacional. Contrapõe-se à expansão da
OTAN para as bordas de Leste da fronteira
russa e à influência dos EUA sobre os países
Fonte: https://www.bbc.com/news/world-europe-
61066503 Acesso em: 15 mar. 2022. pós-soviéticos (LEGVOLD, 2007).
Para compreender o papel de Estado Considerando que a tentativa de
desafiador, faz-se necessário apresentar, expressar o “pensamento político” russo –
sumariamente, o “pensamento russo em como de qualquer outro país – passa por
política exterior”, traduzido na expressão das estabelecer e interpretar conexões entre
ideias de três tradições (ou escolas) de dimensões políticas, sociais, culturais e
pensamento: ocidentalista, civilizacionista e históricas, a complexidade do processo de
estatista, todas referentes ao período pós- construção do Estado nacional e da nação
soviético e direcionadas aos países que russa, per si, antecipam a dificuldade desse
integravam a antiga URSS. A tradição exercício. A não linearidade na tradição de
política exterior russa reflete a riqueza
5
A Ucrânia é considerada, por significativa parcela da
cultural e política da sua nação, marcada por
população russa mais próxima a Moscou, como berço do
eslavismo e do cristianismo eslávico. Ao longo da História,
períodos históricos distintos. Para efeito deste
após períodos de ocupação por outros povos, o território
6
ucraniano foi incorporado, primeiro, ao Império Russo, A literatura russa considera o Ocidente como uma “entidade
depois à URSS. Em alguns pronunciamentos, o presidente política” que internaliza a ordem liberal do pós-II GM,
Putin defendeu que a Ucrânia seria o “berço da cultura russa”. liderada pelos EUA.
ensaio, o foco dar-se-á no que passaremos a bem definido como um dos objetivos
chamar de “Era Putin”7. nacionais mais importantes, o que demandou
A história política da Rússia é marcada uma postura mais assertiva no trato dos
pelo autocratismo, característica que empresta assuntos externos. Era a resposta russa ao
aos indivíduos – e não às instituições – o período de contração da influência do país nas
protagonismo nos processos de tomada de decisões e nos rumos dos principais assuntos
decisão. Assim, é lícito afirmar que a internacionais, especialmente no período
democracia é um “objeto estranho” na imediato à dissolução da URSS. A Federação
8
trajetória do Estado russo . Nessa perspectiva, não se conformou com o papel a ela destinado
mesmo considerando o papel de outros atores no “fim da História”.
na condução da política externa da Federação A ideia de um Estado forte (escola
Russa, atribui-se ao presidente Putin o papel estatista) fez-se logo presente, assim como a
mais importante no espectro político russo, recuperação do poder militar russo,
considerando o período de 2000 até os dias necessariamente forte e garantidor do projeto
atuais. de grande potência. Para isso, foram
Mudanças significativas na política assegurados: um orçamento militar adequado,
externa russa tiveram, nos anos 2000, um incentivos à indústria bélica nacional e uma
marco importante 9 . Debates acerca do papel nova doutrina militar. O novo texto permitia a
do país perante o sistema internacional – em utilização do arsenal nuclear na situação de
especial a sua identidade pós-soviética – uma agressão armada ao país, e não somente
ganharam vigor, dando lugar à emergência da em casos de ameaças à sobrevivência do
valorização de fatores ideacionais atrelados à Estado. Configurava-se, assim, o
autodeclarada grandiosidade russa. O entendimento de que o poder nuclear da
restabelecimento do status de potência da Rússia era a melhor ferramenta para o país
Rússia, desde o início da Era Putin, esteve reivindicar seu status de grande potência. Em
7
Para fins deste ensaio, o período em que Vladimir Putin
que pese à adoção da postura descrita, não se
ocupou o cargo de primeiro-ministro (2008/2012) está
inserido no contexto da Era Putin.
observou, nesse período, uma clara estratégia
8
A constituição russa, promulgada em 1993 (ainda em vigor), de balanceamento da influência ocidental no
compromete-se em estabelecer os pilares da democracia no
país. O instrumento legal prevê responsabilidades, para o sistema internacional.
presidente eleito, em determinados assuntos de política
externa, como representar o país em assuntos internacionais, Quanto à priorização dos atores com os
determinar as diretrizes e os objetivos externos do Estado,
aprovar a doutrina militar, e tratar de assuntos de paz e de quais a Rússia deveria direcionar seus
guerra.
9
Sobre o assunto, consultar o documento que materializou e esforços de política externa, o início da Era
contextualizou as principais ideias atreladas à política externa
do primeiro mandato de Putin: “The Foreign Policy Concept Putin destacou os países do seu exterior
of the Russian Federation”, de 28 de junho de 2000.
Disponível em: próximo, especificamente os do chamado
https://nuke.fas.org/guide/russia/doctrine/econcept.htm
Acesso em: 15 mar. 2022.
favor dos seus interesses. Nesse contexto, função como viabilizadora de corredores de
Moscou se contrapõe à política de segurança transporte e linhas de comunicação,
europeia, posicionando-se, irredutivelmente, otimizando a ligação da Ásia com a Europa
frente ao que considera grave ameaça: o Ocidental. Ademais, é através do território
movimento de alargamento da OTAN rumo a ucraniano que a Rússia escoa a maior parte da
leste. Ao demonstrar interesse em se energia exportada para o continente europeu
aproximar da União Europeia (UE) e da (figura 2). Como importante produtora de
aliança militar do Ocidente 17 , a Ucrânia se grãos (especialmente trigo e milho), a Ucrânia
torna uma questão fundamental para a contribui, de forma efetiva, para a segurança
Federação Russa. alimentar em diversas partes do mundo.
3. As relações russo-ucranianas no Dois terços da população ucraniana
contexto do concerto de segurança vivem em áreas urbanas, sendo que três
europeu cidades têm mais de um milhão de habitantes
A posição geográfica da Ucrânia, (Kiev, Kharkiv e Odessa). Há concentração de
situada entre dois polos do poder mundial, população de origem russa na Crimeia (onde é
empresta àquele país importância estratégica maioria) e no Leste do país, regiões onde o
fulcral para o “domínio” da Eurásia. Como idioma russo é falado por significativa parcela
pivô geoestratégico, a Ucrânia desperta a dos habitantes. Etnicamente, todavia, todos
atenção (e a apreensão) mundial por ocasião são eslavos. A argumentação étnica e
da invasão do seu território pelas forças linguística, no caso da Ucrânia, é relativa.
armadas russas. O país, em razão de fatores Atende conveniências de lado a lado e auxilia
de ordem geográfica, desempenha importante a construir e a adaptar discursos em proveito
próprio, por parte das duas unidades políticas.
modernos do que as forças terrestres. Comando e controle
também tem sido foco de atenção. Um Centro Nacional de
Dessa feita, a citação contida no discurso de
Gestão de Defesa foi criado, em 2014. Sobre o assunto, 24 de fevereiro, referindo-se a um “povo trino
consultar https://www.iiss.org/blogs/military-
balance/2022/02/if-new-looks-could-kill-russias-military-
capability-in-2022 .
russo” 18 – Rússia, Ucrânia e Belarus – é
17
A mais recente Estratégia de Segurança Nacional da contestada por historiadores, que a
Ucrânia (2020), a quarta da história da nação independente
(2007, 2012 e 2015), “foi desenvolvida levando em conta a
natureza de longo prazo da agressão russa, bem como outras
consideram imprecisa19.
mudanças fundamentais no ambiente externo e interno”. A
Rússia é repetidamente identificada como agressora e a
adesão à OTAN é frequentemente mencionada como o 18
principal objetivo de segurança nacional. A nova versão A afirmação de que os povos da Ucrânia e de Belarus
oferece uma visão muito mais clara da direção geopolítica da formariam uma tríade com a Rússia, configurando-se em
Ucrânia, declarando que “a aquisição da plena adesão à "subnações" de uma única comunidade russa, remonta aos
União Europeia e à OTAN é o curso estratégico do Estado”. tempos imperiais. A então denominada "Rússia de Kiev" era
Sobre o assunto, consultar uma confederação de povos eslavos, citada em discursos e
https://pism.pl/publications/Ukraines_New_National_Securit pronunciamentos do presidente Putin como a “ancestral
y_Strategy. Para isso, o Estado ucraniano investe na cultural” dos três países.
19
transformação de suas forças armadas. Sobre o assunto, Sobre o assunto, consultar:
consultar https://defense-reforms.in.ua . https://www.chathamhouse.org/2021/05/myths-and-
Fonte: https://www.spglobal.com/commodityinsights/en/market-insights/blogs/natural-gas/010720-so-
close-nord-stream-2-gas-link-completion-trips-at-last-hurdle Acesso em: 15 mar. 2022.
Federação Russa vêm apresentando pontos de autovisão de uma “fortaleza sitiada” parece
inflexão. A manutenção de tradicionais e nortear a política externa do Kremlin desde a
importantes relações comerciais de troca dissolução da URSS. Os objetivos
(marcadamente tecnologia por energia), que estratégicos de Moscou parecem ter mudado
tem caracterizado a interdependência entre os pouco ao longo dos anos: a busca do
dois espaços nas últimas décadas, não mais reconhecimento da Rússia como uma grande
parece garantida. O recente (e substantivo) potência e o efetivo controle de seu exterior
agravamento e alargamento das sanções próximo no formato de esferas de influência.
20
impostas à Rússia , dispositivo utilizado O que efetivamente parece ter se alterado foi
desde a anexação da Crimeia, infere um a capacidade do Kremlin de transformar suas
afastamento político e econômico agudizado e intenções em realidade. Moscou, abertamente,
temporalmente estendido entre o país posiciona-se como um desafiador da ordem
euroasiático e o “Ocidente”. Ademais, a internacional estabelecida.
geração de efeitos globais transbordantes
atrelados às sanções, visivelmente o 4. A guerra na Ucrânia e as
repercussões para a arquitetura de
vertiginoso aumento dos custos de alimentos
segurança europeia
e energia, agregam complexidade ao quadro.
Em complemento, estabeleceu-se uma Allison (2020) argumenta que os EUA
“batalha diplomática por lealdade”, que deveriam aceitar o retorno das esferas de
remete a um déjà vu de práticas e impasses influência e o domínio de Rússia e China de
tipicamente observados durante a Guerra Fria, parte de seus entornos geopolíticos. O
entre Washington e Moscou. professor afirma que tal pensamento estaria
A invasão à Ucrânia parece ter alinhado com as melhores tradições
despertado, nos países europeus, um diplomáticas norte-americanas, considerando
sentimento maior de insegurança, avalizado que Washington tolerou tal modelo durante a
pela percepção de imprevisibilidade da Guerra Fria, período de influência soviética
postura futura da Federação Russa. O na Europa Oriental. Justifica seu
chamado “cerco estratégico”, sob o qual a posicionamento pelo fato de entender que os
Rússia alega estar sendo submetida em razão EUA não concentram mais poder militar e
da expansão da OTAN, foi o gatilho (nas econômico suficientes para conter a China e a
palavras do presidente Putin) para a tomada Rússia, sendo desejável, portanto, conviver
da iniciativa militar sobre a Ucrânia. A com esferas de influência mutuamente aceitas,
20
Sobre o assunto, consultar https://forbes.com.br/forbes-
as quais podem promover estabilidade e paz
money/2022/03/quais-sao-as-sancoes-contra-a-russia-e-seus-
impactos-economicos/
em um mundo caracterizado pelo aumento da
Federação Russa se faz econômica e convicção de que a política externa dos EUA
militarmente dominante, e seus laços para com a Europa manter-se-ia inalterada,
históricos e culturais são fortes, regimes alicerçada na partilha de valores entre os
similares ao modelo de Moscou são apoiados. aliados, foi abalada pela postura norte-
Democracias, não. americana. A definição clara de que a China é
Sob o governo Biden, os EUA estão o adversário sistêmico (que apresenta desafios
conscientemente engajados em um exercício estruturais) da superpotência norte-americana
para reconfigurar, adaptar e aumentar a inferiu uma natural realocação de prioridades
arquitetura de segurança construída após a II por parte dos EUA. A recente invasão à
GM, estrutura essa que os ajudou a saírem Ucrânia pode levar a uma reorganização das
vitoriosos da Guerra Fria e que reúne as ideias, pelo menos parcialmente.
condições basilares para prepará-los a uma A leitura de Moscou acerca dessas
nova competição com outra superpotência questões, sumariamente apresentadas no
emergente: a China. No contexto euro- parágrafo anterior, muito provavelmente
atlântico, a OTAN emergiu como uma aliança integrou o cálculo estratégico que levou a
multilateral de segurança (ou uma nação euroasiática a patrocinar uma invasão à
comunidade de segurança) que abarca alguns Ucrânia. A percepção de uma parceria
dos países mais ricos e desenvolvidos do transatlântica enfraquecida pode ter sido
mundo. Atualmente, o bloco militar conta relevante o suficiente para a tomada dessa
com 30 membros e possui parcerias com decisão. Todavia, a reação rápida e
outros Estados, inclusive a Ucrânia. (suficientemente) coordenada da OTAN
A aliança militar do Ocidente, que pode parece ter surpreendido o Kremlin. Para além
ser considerada a relação multilateral mais do fortalecimento do nacionalismo ucraniano,
complexa e multidimensional da política a guerra imprimiu uma convergência de
internacional, há muito estava sob pressão22. soluções por parte dos aliados euro-atlânticos,
A pandemia da COVID-19 parece ter externalizando um adequado padrão para as
exacerbado algumas condições pré-existentes, respostas até aqui materializadas.
apresentando questões sobre a efetividade do A retomada do foco em defesa, por
eixo central da chamada Ordem Liberal. A parte dos europeus, indica uma tendência de
22
Mesmo durante o período da Guerra Fria, em que a
incremento da coesão no seio da UE, o que
existência de uma ameaça comum (URSS) tendia a reforçar tende a fortalecê-la como ator geopolítico de
os laços entre os EUA e a Europa Ocidental, registraram-se
momentos de tensão entre os aliados. Desde o final da Guerra
Fria, pode-se afirmar que a crise teria sido uma espécie de
relevância sistêmica. A notória lentidão nos
“normal” no relacionamento entre os EUA e a Europa. A processos decisórios consensuados parece ter
indefinição relativa quanto ao futuro da OTAN, divergências
quanto à intervenção nos Balcãs e a intervenção norte-
americana no Iraque (2003) contextualizam a assertiva.
sido atenuada, neste momento, por acentuada
crise. Valores e interesses parecem ter sido petróleo) é uma questão sensível a ser
acomodados em prol de tomada de decisões resolvida. Observam-se movimentos no
razoavelmente efetivas, que vão desde o sentido de mitigar essa vulnerabilidade
estabelecimento de sanções até o envio de estratégica, abrangendo desde a revisão de
armas para a Ucrânia. O retorno do debate políticas equivocadas que levaram à
acerca da necessidade de se construir um inviabilidade de uma prudente autonomia
sistema de autodefesa europeu, menos nesse setor, até a busca de alternativas com
dependente dos EUA, é algo importante e que outros parceiros menos tradicionais. Em
deve ser ressaltado. ambos os cenários elencados, a Alemanha (e
Não menos importante, a possível em menor escala, França e Reino Unido)
adesão da Suécia e da Finlândia à OTAN é deverá desempenhar um papel basilar para a
um evento disruptivo que merece ser viabilização das intenções europeias. A
acompanhado com muita atenção (e decisão quanto ao congelamento da liberação
preocupação). A eventual concretização da do uso do gasoduto Nord Stream 2 e o
filiação dos dois países nórdicos ao bloco anúncio do substantivo incremento dos
militar tende a incrementar as tensões com investimentos em defesa indicam o caminho
Moscou, haja vista a importância escolhido por Berlim.
geoestratégica dos Estados aspirantes. A A divergência abrangente entre a Rússia
fronteira noroeste da Rússia adquirirá uma e a ordem de segurança europeia, baseada no
nova configuração em relevância, caso seus Direito Internacional e nos princípios
vizinhos abdiquem da postura de neutralidade. fundamentais da Organização para Segurança
Nesse contexto, cabe destacar que uma e Cooperação na Europa (OSCE), os quais
eventual reconfiguração de alianças no teatro Moscou viola e quer substituir, é uma crise
europeu não poderá incidir na renúncia à estrutural que durará muito tempo. O status
dissuasão nuclear estendida proporcionada quo, claramente, não é aceitável para o
pela superpotência norte-americana. Por Kremlin, o qual intenta mudar o sistema de
óbvio, a mera referência à possibilidade de segurança europeu e transatlântico. Parece
utilização de armas nucleares 23 se configura haver mais do que a Ucrânia em jogo.
em elemento de mais alta tensão na crise ora
apreciada. 5. Conclusão
Da mesma forma, a atual dependência
Expor conclusões definitivas sobre um
da importação de energia da Rússia (gás e
conflito armado em curso, por certo, seria
23
A possibilidade do uso de armamento nuclear tático, por
parte da Rússia, dentro do contexto da manobra estratégica de
muito mais do que apenas tola pretensão,
“escalar para desescalar” o conflito, é acompanhada com seria imprudente tolice. As ideias
muita atenção pelas estruturas de Inteligência ocidentais.
1. Introdução
A evolução nas comunicações histórico de eventos informacionais. Na
foi a invenção de Marconi que alcançou uma evolução tecnológica. Em seguida, serão
televisão, o que ocorria na II Guerra Mundial para ajudar as futuras gerações a entenderem
(1939 – 1945), até o fim do conflito2, assim aquele momento4.
como muitos outros fatos da segunda metade No decorrer da Guerra do Vietnã, mais
do século XX, em suas edições alguns fatos se destacaram. O conflito
extraordinárias, até 1968. avançou na direção da descentralização da
“A Testemunha Ocular da História”, produção e da difusão das informações,
modelo jornalístico trazido dos EUA, levando a guerra para “dentro” das
produzido e supervisionado por empresas residências dos norte-americanos. A “primeira
norte-americanas, estreou em 28 de agosto de guerra televisionada” impactou os lares
1941, passando a noticiar fatos como o estadunidenses e ajudou a minar o apoio ao
bombardeio japonês à Base de Pearl Harbour conflito, bem como auxiliou os vietcongues
e o início da Guerra da Coreia. O Repórter no seu esforço de guerra5.
Esso foi o principal meio de difusão dos Em um outro contexto, “Depois do
acontecimentos da II Grande Guerra e dos transistor e dos cassetes, cronologicamente, o
conflitos seguintes. Modelo difundido em mundo do Islã alcançou seu terceiro avanço
outros 15 países do continente, com notícias no domínio das mídias, pondo fim ao quase
oriundas dos Estados Unidos, por meio da monopólio que os norte-americanos exerciam
United Press Association3. via CNN, sobre o terreno da informação”
Além da cobertura televisiva e (FERRO, 2008, p. 48). A estação de televisão
radiofônica, durante a II Guerra Mundial, AL-JAZEERA, a partir de então, passava a
correspondentes de guerra acompanharam a transmitir do Catar uma visão particular do
Força Expedicionária Brasileira (FEB). Tal mundo árabe, rivalizando com as opiniões
fato ajudou na montagem da historiografia da ocidentais.
FEB com vídeos, fotografias, relatos, Dessa forma, percebe-se que a
experiências, transmissões etc. Nesse infraestrutura voltada para a informação
importante papel, a British Broadcasting passou a ser utilizada também para veicular
Corporation (BBC) foi um dos principais informações de diferentes origens. Portanto, o
vetores dessa difusão, deixando um legado conflito informacional passou a ocupar espaço
no cotidiano das pessoas, influenciando as
2
Disponível em: diferentes visões de mundo.
https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-
nacional/acervo/geral/audio/2018-12/historia-hoje-ultima-
4
transmissao-do-reporter-esso-no-radio-completa-50-anos/. Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-
Acesso em: 7 de mar. 2022. 43385807. Acesso em: 7 de mar. 2022.
3 5
Conforme artigo “40 Anos Sem o Repórter Esso”, de autoria Disponível em:
de Luciano Klöckner (s.d.). Disponível em https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/terceira-
http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/encontros- revolucao-
nacionais/6o-encontro-2008- industrial.htm#:~:text=A%20principal%20caracter%C3%AD
1/40%20ANOS%20SEM%20O%20REPORTER%20ESSO.p stica%20dessa%20fase,e%20outras%20tecnologias%20jamai
df. Acesso em: 7 mar. 2022. s%20vistas. Acesso em: 7 mar. 2022.
incomensurável; figura 1.
Fonte: os autores.
entre a Rússia e a Ucrânia tem sido escalado inerente à Ucrânia (Ukraine´s), apenas, duas
(tradução nossa).
13
Disponível em:
https://www.nato.int/cps/en/natolive/topics_49212.htm.
Acesso em: 15 mar. 2022. 15
Texto original em inglês “Russia [...] has taken advantage
14
Revista trimestral do Marshall Center sobre questões de of its ability to project a unified message, of the West’s
segurança e defesa europeia e euro-asiática. Disponível em: commitment to freedom of speech and of the media, and
https://www.marshallcenter.org/de/node/1524. Acesso em: benefited from the asymmetry of open Western media
15 mar. 2022. markets versus the tightly controlled Russian one.”
dizem EUA” 21 . Outrossim, de acordo com “Soldado russo faz selfie enquanto mísseis
parte da imprensa norte-americana, a “Rússia são disparados na Ucrânia”25 e “Obsessão de
pediu ajuda militar da China para a guerra na soldado por selfies pode provar operações da
Ucrânia”22. Por outro lado, a “China responde Rússia na Ucrânia” caracterizam esse novo
à ameaça de sanções dos Estados Unidos”23 e comportamento social levado para a guerra.
diz “que EUA criam “medo e pânico” em Não basta, somente, a disciplina de luzes e
sanções à Rússia” 24 . Essa última declaração ruídos, pois a atual realidade impõe
antecede, em um dia, o início da invasão à “disciplina de luzes, ruídos e mídia social”26.
Ucrânia. A BBC faz uma abordagem “as
Dessa forma, suplantando a via imagens enganosas que viralizaram [nas
diplomática de comunicação entre Estados, os mídias sociais] após operação russa24”. 27
líderes políticos das grandes potências Todavia, imagens de outros conflitos tem sido
utilizam a mídia para tentar inibir ações utilizadas pela mídia tradicional. “Certos
contrárias a seus interesses e mostrar aos veículos da mídia e até mesmo órgãos oficiais
públicos interno e externo sua capacidade de de Estado têm usado gameplay de alguns
resposta e ingerência global. Infere-se, jogos na cobertura da guerra na Ucrânia,
também, que essa guerra informacional pode como se as imagens estivessem representando
estar sendo usada para justificar problemas uma cena real”.28
internos causados pelo inimigo externo. Ainda, a participação do empresário
Saindo das esferas dos Estados, das Elon Musk, ao apoiar o Governo ucraniano,
empresas e dos estudiosos, não se pode merece destaque e gera discussões. O apoio
desconsiderar o valor do indivíduo na para restabelecer a internet por meio de links
“cobertura” do conflito. O fácil acesso a satelitais mostra a capacidade adquirida por
determinadas tecnologias, como já foi empresas, que permite influenciar em um
explicado, gera uma profusão de imagens e conflito. Além de apoiar a manutenção do
mensagens incontroláveis. As matérias acesso à internet desde regiões remotas, o
Starlink estaria sendo utilizado para
21
Disponível em:
https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/china-enfrentara-
25
consequencias-se-ajudar-russia-a-evitar-sancoes-sobre- Disponível em:
ucrania-dizem-eua/ Acesso em: 15 mar. 2022. https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2022/02/4988
22
Disponível em: 556-soldado-russo-faz-selfie-enquanto-misseis-sao-
https://jovempan.com.br/noticias/mundo/russia-pediu-ajuda- disparados-na-ucrania-veja.html. Acesso em: 15 mar. 2022.
26
militar-da-china-para-guerra-na-ucrania-acusa-imprensa-dos- Novo procedimento para o campo de batalha. Termo
eua.html. Acesso em: 15 mar. 2022. sugerido por estes autores.
23 27
Disponível em: https://www.frontliner.com.br/china- Disponível em:
responde-a-ameaca-de-sancoes-dos-estados-unidos/. Acesso https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60517791.
em: 15 mar. 2022. Acesso em: 15 mar. 2022.
24 28
Disponível em: Disponível em:
https://www.poder360.com.br/internacional/china-diz-que- https://www.tecmundo.com.br/voxel/234560-noticias-falsas-
eua-criam-medo-e-panico-em-sancoes-a-russia/. Acesso em: guerra-ucrania-usando-videos-jogos.htm. Acesso em: 15 mar.
15 mar. 2022. 2022.
29
Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/o-papel-dos-
sat%C3%A9lites-de-elon-musk-na-defesa-da-
ucr%C3%A2nia/a-61272297 Acesso em: 10 abr. 2022.
Fonte: os autores.
Referências
Norte (OTAN) foi fundada em 1949 e, com a dos países da OTAN, não houve a aprovação
2020, reúne 30 países. A Aliança concentra agenda “NATO 2030” (NATO, 2021), que
pouco mais de 55% dos gastos militares do consiste em nove propostas de atuação, entre
mundo e conta com um efetivo de cerca de elas a elaboração de um novo CE, a ser
Aliança passou por diferentes desafios e Aliança desde o fim da Guerra Fria (NATO,
situações capazes de afetarem diretamente sua 2022). Assim, o presente artigo busca
a saída da França da sua estrutura de comando Aliança a partir do fim da Guerra Fria e da
Fria. Mais recentemente, a França buscava presente momento, como forma de auxiliar a
resistência da própria Alemanha, como visto Para tanto, o estudo foi dividido em
importância da Aliança e dos Estados Unidos estudo das adesões dos novos membros, de
Em novembro de 2020, foi entregue o seção contém análise sobre a OTAN a partir
estudo “OTAN 2030: Unidos por uma nova 2010, quando se publicou o CE ainda em
independentes, como forma de auxiliar na operações nesse período, das suas ligações
(CE), uma vez que o ainda em vigor é de fatos que impactaram os últimos 12 anos. Por
fim, apresentam-se: o estudo “OTAN 2030: anos depois, outros sete países aderiram à
Unidos por uma nova Era”, de 2022; e a Aliança, sendo eles: Bulgária; Romênia;
agenda “NATO 2030”, aprovada em 2021, Eslováquia; os três países bálticos: Estônia,
concebidos antes da invasão russa à Ucrânia e Letônia e Lituânia; e Eslovênia. Em 2009,
que visavam a orientar o seu novo Conceito aderiram Albânia e Croácia,
Estratégico, previsto para entrar em vigor complementando-se a atual conformação com
neste ano. a adesão de Montenegro, em 2017, e da
Macedônia do Norte, em 2020 (NATO,
2. Desenvolvimento 2021). Além da própria Ucrânia, a OTAN já
2.1. Síntese da evolução da havia designado a Geórgia como seu futuro
Aliança membro (NATO, 2008)1.
Em 1949, a OTAN foi criada pelo É possível, portanto, observar que a
Tratado do Atlântico Norte, conhecido como expansão recente da OTAN aconteceu por
Tratado de Washington, tendo a adesão fases. Na primeira, com a adesão dos países
imediata de 12 países: Bélgica, Canadá, fronteiriços à Alemanha e à Áustria (que não
Dinamarca, Estados Unidos da América integra à OTAN), estendendo a linha de
(EUA), França, Holanda, Islândia Itália, defesa da Aliança às fronteiras com a Belarus
Luxemburgo, Noruega, Portugal e Reino e a Ucrânia, seguindo com o isolamento do
Unido (NATO, 1949). Na década seguinte, enclave russo no Mar Báltico, Kaliningrado, e
tornaram-se membros: Grécia, Turquia e finalizando em torno da Sérvia e da Bósnia-
Alemanha. Somente em 1982, ocorreu a Herzegovina, o que enterrou qualquer futura
adesão do último país da Europa Ocidental, a aspiração de reconstrução da antiga
Espanha. Iugoslávia, minimizando os riscos de novas
Alguns países europeus ocidentais que guerras nos Bálcãs.
integram a União Europeia (UE), como Os 11 membros mais novos da Aliança,
Suécia, Finlândia, Áustria e Irlanda, que aderiram a partir do ano 2000, investiram,
permanecem fora da Aliança. Os 14 membros em 2019, cerca de US$ 13 bilhões em Defesa
seguintes da OTAN eram integrantes do e dispõem de aproximadamente 170 mil
antigo Pacto de Varsóvia, repúblicas da militares da ativa, representando,
extinta União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS) ou regiões da ex- 1
A Geórgia e a Ucrânia foram designadas como futuros
membros da OTAN, na Súmula da Reunião de Cúpula de
Iugoslávia. A República Tcheca, a Hungria e Bucareste, de abril de 2008 (NATO, 2008), intenção
reforçada no CE 2010. Vale lembrar que, além da invasão
a Polônia foram os primeiros países do Leste russa à Crimeia, à Ucrânia, em fevereiro de 2014 e
atualmente (fevereiro de 2022), a Rússia invadiu a Ossétia do
Europeu a aderirem à OTAN, em 1999. Cinco Sul, na Geórgia, em agosto de 2008, poucos meses após a
Súmula de Bucareste.
ataques aéreos da OTAN, em 1994 e 1995, Iugoslávia, que foi rejeitada por grande
em apoio à United Nations Protection Force maioria do CS, incluindo o Brasil (UN, 1999).
(UNPROFOR) (ONU, 1996)2. O resultado da Tal fato, junto com declarações do então
intervenção da OTAN teve influência direta Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, que
para a assinatura do Acordo de Dayton defendeu a operação militar (UNITED
(OSCE, 1995), em dezembro de 1995, NATIONS, 1999), deu respaldo à operação.
encerrando o conflito entre bósnios, croatas e Em junho de 1999, a Iugoslávia aceitou retirar
sérvios, e permitindo a instalação imediata da suas tropas da região e estabelecer uma
missão IFOR da OTAN, sob mandato da missão de paz da OTAN, sob o mandato da
ONU. ONU, em Kosovo4.
Porém, em março de 1999, um mês O CE 1999, aprovado em meio à
antes da aprovação de um novo Conceito operação Allied Force, reforçava as
Estratégico, a OTAN lançou a operação aérea preocupações do CE 1991, com a proliferação
Allied Force, novamente contra a ex- de armas de destruição em massa e a atuação
Iugoslávia, em face dos conflitos em de atores não estatais contra a Aliança.
Kosovo3. Antes das ações da OTAN, a Rússia Porém, passava a definir claramente a
e a China ameaçavam vetar qualquer medida principal mudança de posicionamento
que resultasse no estabelecimento de uma estratégico da OTAN: a possibilidade de
missão da ONU em Kosovo, ensejando uma atuação além da defesa coletiva e do espaço
operação da Aliança, sem mandato do euro-atlântico, com emprego de suas tropas
CS/ONU e sem correspondência ao direito de em missões “não-Artigo 5º”5, dentro de um
legítima defesa, definido no Artigo 51 da contexto global e, inclusive, com o fito de
Carta das Nações Unidas (BRING, 1999). preservar o fluxo de recursos vitais (NATO,
Muito embora essa decisão da OTAN tenha 1999).
gerado discussões à luz das leis Destacam-se, no CE 1999, quatro
internacionais, em 26 de março, dois dias aspectos que, na realidade, são a confirmação
após o início das operações da OTAN, a de decisões tomadas pela OTAN, nos anos
Rússia apresentou uma moção no CS/ONU anteriores: a implantação da Força Tarefa
para o fim imediato das ações contra ex-
4
Um mandato do CS/ONU criou então a United Nation’s
Interim Administration Mission in Kosovo (UNMIK), uma
2
O CS/ONU, em sua resolução 836, de 4 de junho de 1993, missão civil (ONU, 2020), amparando também a missão da
aprovou, em junho de 1993, ataques aéreos, realizados por OTAN Kosovo Force (KFOR), que desdobrou suas primeiras
países individualmente ou por alianças militares, em apoio ao tropas na região dois dias após a decisão do CS/ONU e
mandato da UNPROFOR. A OTAN lançou ataques contra empregou, naquele mesmo ano, cerca de 50.000 militares,
alvos sérvios e bósnios-sérvios em 1994 e 1995 (ONU, incluindo de países não membros da OTAN.
5
1996). O artigo 5º do Tratado de Washington define que um ataque
3
Ao longo de 78 dias, a OTAN realizou cerca de 10.500 armado contra um ou mais membros da Aliança será
ataques aéreos contra posições iugoslavas, incluindo a capital considerado como um ataque contra todos os seus membros
Belgrado (NATO, 2016). (NATO, 1949).
6
Atualmente, a OTAN nomeia essas tecnologias como
Tecnologias Emergentes e Disruptivas (EDTs).
2.2. A OTAN a partir do CE
7
Os ataques cibernéticos contra a Estônia, em 2007, 2010
paralisaram as estruturas econômicas e governamentais do
país por 22 dias e ocorreram, provavelmente, dentro do Entre as missões e operações da
contexto de uma Operação de Informação da Rússia (OTTIS,
2018). Em 2008, na invasão russa à Ossétia do Sul, pela OTAN, as principais, em andamento ou que
primeira vez, observou-se um grande ataque cibernético, sem
que seus autores fossem vinculados a um país, não obstante foram encerradas na última década (NATO,
era possível observar que atuavam em coordenação com a
operação militar terrestre russa (SHAKARIAN, 2011). 2021), são as seguintes:
NATO Mission in Iraq (NMI): missão terrorismo. Foi criada em 2016, sucedendo a
“não combatente”, visando ao assessoramento Operation Active Endeavour (OAE), que,
e ao treinamento de forças iraquianas. A NMI por sua vez, foi implantada após os ataques
foi criada em 2018, porém, desde 2004, a do 11 de Setembro, sob o Artigo 5º do
OTAN atua no Iraque com missões afins, que, Tratado de Washington. A OSG atua apenas
inclusive, preveem a ligação com outros com meios e pessoal da OTAN, incluindo
atores no combate ao Estado Islâmico (EI). aviões de Guerra Eletrônica (GE),
Austrália, Finlândia e Suécia possuem submarinos e aviões de patrulhamento
militares para essa missão. marítimo.
Kosovo Force (KFOR): funciona em Enhanced Forward Presence (eFP): é
Kosovo, desde 1999, sob o mandato da ONU. uma operação da OTAN desdobrada nos três
Áustria, Finlândia, Suíça, Ucrânia e Moldávia países bálticos e na Polônia, operando
são alguns dos países não membros que plenamente desde 2017, com um efetivo
contribuem atualmente com a missão, com total de cerca de 4.500 militares. Em cada
um total de cerca de 3.500 militares. país, há uma Força Tarefa (FT) comandada
Resolute Support Mission (RSM): pelos EUA, Reino Unido, Alemanha e
missão “não combatente” no Afeganistão que Canadá. As quatro FT são de valor batalhão
sucedeu, em 2014, a International Security reforçado, porém com efetivos e composição
Assistance Force (ISAF) e foi encerrada em variada, inclusive dos meios de apoio ao
2021. Visava ao treinamento e à capacitação combate. Recentemente, na cúpula de
das forças afegãs e operava sob mandato da líderes, em 24 de março deste ano, em
ONU. Quanto à ISAF, foi desdobrada em Bruxelas, a Aliança afirmou que irá
2001, a fim de combater as forças talibãs e o desdobrar outras quatro Forças Tarefas em
terrorismo, chegando a possuir 130.000 países do Leste Europeu: Bulgária,
militares, de 51 países. Antes de iniciar a Romênia, Hungria e Eslováquia (NATO,
retirada definitiva das tropas em 2021, a 2022).
RSM atuava com cerca de 9.600 militares, Operation Ocean Shield: missão que
de 36 países, destacando-se, entre os não funcionou entre 2009 e 2016, com uma Área
membros da OTAN, Armênia, Austrália, de Operações que se estendia da costa leste
Azerbaijão, Geórgia e Mongólia, que da África, ao Golfo de Áden e até próximo
forneciam cerca de 1.400 soldados à RSM. ao estreito de Ormuz, visando ao combate à
Operation Sea Guardian (OSG): pirataria. Essa missão sucedeu as operações
missão com mandato da OTAN, no Mar Allied Provider e Allied Protector.
Mediterrâneo e com o fito de combater o
OTAN e pelo fluxo de tropas e meios entre as ataques cibernéticos (REUTERS, 2018).
sedes nos estados-membros e as Áreas de A principal força de emprego conjunto
Operações da OTAN. da OTAN é a NATO Response Force (NRF),
Observa-se que a decisão de com um efetivo de até 40.000 militares,
reestruturar o ACO, bem como da criação da atuando sob comando operacional dos JFC de
NRF, ocorreu na Reunião de Cúpula de 2002, Brunssum e de Nápoles, mediante rodízio. A
em Praga (NATO, 2002). Por outro lado, a OTAN busca, desde 2018, implementar o
criação do JSEC e do JFC de Norfolk foi conceito “Quatro Trintas”, que consiste em
decidida na reunião entre os Ministros da desdobrar 30 batalhões blindados ou
Defesa dos países aliados, em junho de 2018, mecanizados, 30 esquadrões aéreos e 30
quando também se criou o Composite Special navios de combate, em até 30 dias (NATO,
Operations Component Command (C-SOCC), 2018).
entre Bélgica, Dinamarca e Países Baixos, Ainda dentro da NRF, existe, a partir
(NATO, 2018) confirmando a adaptação da da decisão da Reunião de Cúpula de 2014,
OTAN, para além dos CE. uma força de pronta-resposta denominada
Em 2016, a Aliança definiu que deveria Very High Readiness Joint Task Force
ser capaz de se defender no espaço (VJTF). Ela consiste em um componente
cibernético, assim como faz no espaço aéreo, terrestre nível brigada, com cerca de 5.000
marítimo e terrestre. Dessa forma, sucederam- militares, contendo 5 batalhões, apoiados
se medidas, desde o nível político até o tático por meios aéreos, terrestres e de forças
(NATO, 2021): aumento da interação com a especiais. A VJTF deve ser capaz de ser
UE13; estabelecimento de parcerias com o desdobrada em até sete dias, com seus
setor privado, por meio da NATO Industry primeiros elementos deslocando-se em 48
Cyber Partnership (NICP); criação do Centro horas.
de Operações de Espaço Cibernético (COC), A composição da VJTF é multinacional
subordinado ao SHAPE e previsto para estar e também por rodízio entre os países e entre
em pleno funcionamento até 2023. Com esse os JFC de Brunssum e de Nápoles. Em 2022,
Centro, vislumbra-se que a OTAN venha a responsabilidade pelo Comando da VJTF é
também a deter a capacidade de realizar da França, que conta ainda com tropas e
meios, principalmente da Alemanha, de
13
Além de exercícios e formação de pessoal, especialmente Portugal, da Espanha e da Polônia. Sua
na NATO Communications and Informative Systems School
(NCISS), na Escola da OTAN e em Centros de Excelência composição dura 18 meses, incluindo o
junto a ela acreditados, como o Centro Cooperativo de
Defesa Cibernética (CCDCOE), a Aliança mantém adestramento, que inicia seis meses antes da
cooperação com o Centro Europeu de Excelência para
Contenção de Ameaças Híbridas (Hybrid CoE), uma sua assunção. Parte da VJTF foi desdobrada
estrutura civil e subordinada ao Governo da Finlândia.
dentro de países membros após a atual Os países fora da Aliança são divididos
invasão russa à Ucrânia. em quatro grupos: países do programa PfP,
A OTAN possui, com a Naval que também integram o Conselho de Parceria
Striking and Support Forces NATO Euro-Atlântico (EAPC) com a OTAN;
(STRIKFORNATO), uma força Diálogo do Mediterrâneo (MD); Iniciativa
expedicionária com meios navais e anfíbios. para Cooperação de Istambul (ICI); e
Essa força, no entanto, comandada e Parceiros ao redor do mundo, que não é
composta pela 6ª Frota Naval dos EUA, formalmente um grupo, porém uma referência
subordina-se diretamente ao SACEUR e não àqueles que não integram os demais. Em
ao JFC, como ocorre com a NRF e a VJTF. 2014, houve uma evolução nas oportunidades
Como forma de aumentar a de parcerias, por meio dos programas:
disponibilidade de tropas para missões Iniciativa para Parceria de Interoperabilidade
conduzidas pela OTAN e, até mesmo, da (PII) e Parceiros de Oportunidades
NRF, a Aliança busca capacitar os países Aprimoradas (EOP). Seis países são EOP:
parceiros a atuarem dentro da sua estrutura. Finlândia, Suécia, Geórgia, Jordânia e
Nesse ponto, a fim de atrair novos parceiros, Austrália, desde a implementação, e Ucrânia,
ela oferece cerca de 1.200 atividades a esses desde 2020 (NATO, 2021).
países, variando de acordo com a parceria Importante ressaltar que os nove
firmada, incluindo cursos, exercícios países nomeados como parceiros ao redor do
combinados e troca de dados de Inteligência. mundo estabeleceram as parcerias
Após a criação do programa Parceria individualmente e as mantêm dentro das
pela Paz (PfP), em 1994, a OTAN intenções e limitações que desejam15.
estabeleceu, em 1999, o Conceito de
Capacidade Operacional (OCC), que ainda
hoje visa a avaliar e a capacitar tropas de United Nation’s Protection Force (UNPROFOR). Em Dez
1996, a IFOR passou a se chamar SFOR, que iniciou seu
países não-membros a operarem junto ou sob mandato com cerca de 30.000 soldados e funcionou até Dez
2005. Dezessete países não integrantes da OTAN (desses, 8
o comando da OTAN. Essa decisão veio da viriam a se tornar membros nos anos seguintes) enviaram
contingentes militares para a SFOR (NATO, 2021).
experiência da Implementation Force (IFOR) 15
A Mongólia, a Nova Zelândia e a Austrália exerceram uma
participação mais ativa no Afeganistão, por meio do envio de
e da SFOR, missões da OTAN na Bósnia- tropas. A Colômbia enviou uma fragata para o chifre da
África em 2015, antes de aderir à parceria em 2017. A Coreia
Herzegovina, quando então participaram do Sul também enviou uma embarcação para a operação da
OTAN na costa da África e implementou uma missão civil-
ropas e militares de países do programa PfP e militar, entre 2010 e 2013, para a reconstrução de uma
província afegã. O Paquistão permitiu o fluxo logístico da
outros, como a Argentina e o Chile14. OTAN por seu território e espaço aéreo. O Japão nunca
enviou tropas para missões da OTAN, porém mantém
relações estreitas com a OTAN, tendo doado somas para
14 reconstrução do Afeganistão e dos países nos Bálcãs,
A IFOR foi uma missão da OTAN, que desdobrou cerca de
60.000 militares, sob mandato da ONU, de Dez 1995 a Dez inclusive por meio da ONU.
1996, na Bósnia-Herzegovina, substituindo a missão da ONU
combate (aéreo, terrestre e marítimo), não “OTAN 2030: Unidos por uma nova Era”
fossem mais capazes de garantir sozinhas (NATO, 2020), realizado por um grupo
EUA exerçam nítida liderança nessa área, o americano Anton Weiss Mitchell, foi
(BBC, 2021) e o programa espacial chinês Geral, em 2019, como forma de auxiliar na
meio de satélites, pode vir a ser diretamente antecedido por um estudo de especialistas,
evolução da OTAN, a partir do fim da Guerra direção das fronteiras russas, é também fruto
como forma de melhor compreender desde o ocidental por parte dessas nações, a maioria
período, constatou-se que ela evoluiu de uma 2008 e em outros momentos, infere-se que, a
aliança militar dissuasória, destinada à defesa partir de 2014, tornou-se muito baixa a
coletiva territorial, para uma ferramenta probabilidade dessa adesão ocorrer. Isso tanto
salvaguarda de interesses dos países membros região de Donbass, não cumprindo assim os
além de suas fronteiras. Essa evolução foi requisitos previstos pelo MAP da OTAN,
oficialmente ratificada, em seu Conceito quanto pela própria necessidade do país ser
contexto global para o emprego de tropas fora que, na conjuntura anterior à atual invasão
como no CE 2010, quando definiu as três começar pela própria Alemanha, que
confirmando a prioridade de evitar novas uma nova Era”, de 2020, definiu as mudanças
guerras nos Bálcãs e de manter a estabilidade climáticas como uma ameaça não militar,
na Europa. Além disso, desde o fim da Guerra capaz de impactar a segurança e os interesses
Europa, sendo que, desses países, 11 aderiram a Aliança estabelece esse como o maior
tornar a principal organização internacional Aliança, após a Guerra Fria, foi maior que a
referente à compreensão e à adaptação às presente invasão russa à Ucrânia.
mudanças climáticas na área de segurança, Diante do atual cenário, é possível
sediando ainda, a partir de 2022, diálogos inferir a grande probabilidade de o próximo
sobre o tema. CE da OTAN voltar a tratar como prioridade
Por meio desses estudos orientadores a defesa territorial coletiva, justamente pela
para o próximo CE, pode-se observar um constatação de a Rússia ainda se colocar
grande foco da Aliança sobre temas além do como uma ameaça real à estabilidade da
espaço euro-atlântico, tais como: mudanças Europa e à própria integridade territorial de
climáticas, Indo-Pacífico, fluxo de recursos países aliados, tornando-se o presente conflito
vitais e tecnologias de IA da China, não um amálgama que tende a fortalecer os laços
obstante os efeitos desses assuntos para a entre os seus integrantes, minimizando os
defesa e segurança dos países membros da desentendimentos internos por assuntos
OTAN. Portanto, da análise dos documentos e estranhos à defesa coletiva e desenvolvendo
das operações da OTAN nos últimos anos, novas capacidades militares, tanto dos países-
constata-se que, embora a Aliança mantivesse membros quanto combinadas.
nos documentos oficiais a defesa coletiva Por fim, da apreciação da evolução da
como missão principal, na prática, priorizava OTAN, das suas ações e intenções, da
as duas outras tarefas essenciais: conjuntura internacional e da tendência a se
gerenciamento de crise e cooperações em fortalecer, conclui-se que, uma vez superada a
segurança. atual crise, a Aliança, certamente, reunirá
Ao longo dos últimos 30 anos, a ainda maior capacidade de atuação e
OTAN enfrentou diferentes desafios, quase influência fora do espaço euro-atlântico e
sempre logo posteriores à aprovação de seus voltará a tratar de temas de interesse de seus
Conceitos Estratégicos, destacando-se: a principais membros, inclusive sobre assuntos
guerra nos Bálcãs, nos meados da década de menos afetos à defesa, como meio ambiente e
1990; o ataque terrorista de 11 de setembro; e, mudanças climáticas, em consequência do
mais recentemente, a Primavera Árabe; a aumento da importância político-estratégica
invasão da Rússia na Crimeia em 2014; e as da OTAN no mundo.
Tecnologias Emergentes e Disruptivas
(EDTs), que vêm estendendo as ameaças para
os domínios espacial e, sobretudo,
cibernético. No entanto, nenhum desafio à
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Armadas na paz ou na guerra; as formas de formada por Grã-Bretanha, França e Turquia
aplicação e estrutura de poder militar; as na Guerra da Crimeia1, em 1856, propiciou a
orientações gerais para que o nível conclusão óbvia sobre a necessidade de
estratégico-operacional elabore suas ações, fortalecimento das forças armadas. O Coronel
entre outras considerações. Esse pensamento A. A. Neznamov, professor de tática da
é construído a partir das visões de Academia do Estado-Maior, acreditava que se
estrategistas, da doutrina militar vigente, da deveria olhar para o futuro e se preparar para
cultura estratégica-organizacional das Forças a “guerra contemporânea”, deixando de usar
Armadas, entre outras bases. as tradicionais silenciosas cargas de baioneta
Para entender o pensamento e reduzindo o excesso de confiança na
estratégico militar russo contemporâneo, é valorização do soldado russo (PINTNER,
necessário relembrar a história, destacando 2015).
eventos belicosos que impactaram a trajetória Após o fim da I Guerra Mundial, a
militar do país euroasiático ao longo dos dois Rússia foi forçada a abrir mão de suas posses
últimos séculos. Esse olhar para o passado territoriais na Polônia, Ucrânia, Lituânia,
permite verificar sua contínua evolução até os Finlândia e em outras províncias do Báltico
dias atuais. (CASTRO, 2012). Durante o período da
No início do século XIX, o Império Revolução Russa, que durou até 1922, cujo
Russo teve experiências militares fim do processo deu origem à União das
significativas, como a vitória contra as forças Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), foi
napoleônicas (PINTNER, 2015). Por outro
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Nesse momento, fazendo uma breve pausa na história,
lado, apesar dessas experiências, pensadores identifica-se que o interesse russo pela região remonta a
séculos passados. Sua importância geoestratégica, banhada
estratégicos não russos, como Carl Von pelo Mar Negro, permite o acesso marítimo ao Oceano
Atlântico.
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Conhecida historicamente como Operação Barbarossa.
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Partisans: membros de movimentos de resistência que
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participaram da guerrilha contra as Forças do Eixo na União Glacis Protectores é uma analogia à tecnologia militar
Soviética, em regiões que mais tarde se tornariam territórios formada por um talude que precedia o fosso de uma fortaleza
de ocupação soviética na Polônia e na Finlândia. da época medieval.
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Questões ideológicas. Também denominada NovyOblik (reforma militar russa).
baseadas em novos princípios físicos poderão doutrinárias e tecnológicas que devem estar
constar no rol de tecnologias militares contempladas no alcance do novo GPV.
possíveis de emprego. O pensamento estratégico militar
Ademais, a teoria da “Sixth russo permanece inalterado, em termos de seu
Generation Warfare”, elaborada pelo General potencial nuclear, o que lhe permite reafirmar
Vladimir Slipchenko, um dos teóricos atuais sua importância como potência estratégica
militares russos mais ativos, considera o global. O desenvolvimento e a modernização
emprego de armas de longo alcance e de alta da capacidade estratégica de dissuasão
precisão, que podem ser lançadas de várias nuclear da Rússia continuam a ser um
plataformas, para: derrotar o oponente em seu objetivo central, com uma estimativa de que
próprio território; destruir a atividade 90% das armas das Forças Nucleares
econômica; e alterar o sistema político de um Terrestres devem ser novas (ENGVAL;
oponente (MATTSSON; EKLUND, 2013). MALMLÖF, 2019).
Parcela de pensadores ocidentais Assim sendo, cabe destacar o
classificou a intervenção à Ucrânia, ocorrida importante papel do general Valery
em 2014, como uma abordagem híbrida, Gerasimov, no cargo de Chefe do Estado-
combinação de guerra convencional com Maior Geral da Rússia desde 2012, e sua
táticas irregulares. Leal (2016) explica que a contribuição para a evolução do pensamento
Rússia tem se debruçado sobre o tema, estratégico militar. Suas perspectivas e visões
usando a denominação “New Generation trazem reflexões sobre o estudo da arte da
Warfare”. guerra e podem ser resumidas nos seguintes
Além disso, a participação russa no tópicos, conforme figura 2, a seguir:
conflito da Síria vai ao encontro das suas
pretensões, no que tange ao projeto
estratégico militar. As lições aprendidas pela
indústria de defesa e pelas Forças Armadas
provocaram planos para adaptações
Fonte: o autor.
(1) Inovação estratégica: tem-se observado desenvolvimento das Forças Armadas a longo
apelos provocativos8 ao establishment militar prazo;
russo, para a necessidade de inovação de seu
pensamento estratégico militar, como parte do (2) O uso de ações assimétricas9: tais ações
processo de modernização das Forças permitem anular as vantagens do inimigo no
Armadas. Respostas as questões como: “O conflito armado. Entre essas ações estão o uso
que é a guerra moderna?”; “Para que o de operações especiais e forças internas de
exército deve se preparar?”; e “Como deve ser oposição para criar uma frente que funcione
armado?” deveriam anteceder o rumo do
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O artigo “O valor da ciência está na capacidade de prever o Guerra Assimétrica é basicamente a adoção, em um conflito
que acontecerá ou poderá acontecer no futuro”, publicado na militar, do que pode ser visto como ações indiretas e não
revista Voyenno Promyshlennyy (Kuryer Renz e Smith, convencionais dos fracos contra os fortes (THORNTON,
2016), conteria um exemplo dessas provocações. 2016).
Fonte: o autor.
“Por que o conflito não se deu na mesma enfrentar novos desafios nos cenários
velocidade como ocorrera antes?” Em uma contemporâneos.
análise preliminar, a resposta é óbvia, rápida e (2) Consolidação da guerra informacional
simples: porque nenhuma guerra é a repetição Sobretudo, como se tem observado no
de outra, principalmente, porque os objetivos atual conflito, é consenso que a obtenção da
políticos a serem alcançados são diferentes, superioridade na guerra informacional será
assim como a preparação para a guerra foi condição “sine qua non” para alcançar a
distinta em ambos os lados. vitória, conforme o pensamento dos
Nesse caso, quais são os objetivos estrategistas militares, sejam russos ou não
políticos pretendidos pela Rússia? No russos. O domínio da narrativa, a obtenção da
desenrolar das ações, deduz-se que a redução opinião pública, a desacreditação de fake
da influência da OTAN no entorno seja seu news e a capacidade de influenciar, por meio
“OSCAR UNO”, como é conhecido, no das redes sociais, são os faróis desse ambiente
jargão militar, o objetivo principal. Conforme inovador. Como descreve Gerasimov: “O
figura 3, do fim do conflito decorrem espaço da informação abre possibilidades
implicações que podem influenciar a evolução assimétricas para reduzir o potencial de
contínua do pensamento estratégico militar: combate do inimigo [...]. É preciso
(1) Contínua preparação para a guerra aperfeiçoar as atividades no espaço da
moderna
informação, inclusive a defesa de nossos
O antigo ditado militar “Si vis pacem,
próprios objetivos” (GERASIMOV, 2016, p.
para bellum!” (“Se queres a paz, prepara-te
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para a guerra.”) continuará a conduzir o
(3) Guerra por todos os meios
desenvolvimento das capacidades militares
A guerra, independente dos meios
russas, sendo as armas nucleares sua
tecnológico-militares, continuará sendo
prioridade. No entanto, as sanções
travada em múltiplos ambientes, com
econômicas e os custos do conflito poderão
combinações de campanhas militares,
impactar, em recursos financeiros, a contínua
políticas, econômicas, informacionais,
evolução da tecnologia-militar russa. As
cibernéticas, espaciais, tecnológicas,
consequências de um conflito nuclear trariam
ecológicas, entre outras, amplamente
riscos à existência da humanidade. Essa
utilizadas na forma de ações indiretas e de
projeção sombria é o trunfo para que a guerra
medidas não militares.
não se amplie em uma escala mundial. Os
(4) Novos acordos e alianças
ensinamentos do conflito atual, certamente,
O possível aumento das pressões
orientarão sua evolução contínua com vistas a
internacionais ampliará, cada vez mais, o
Estratégica da Rússia, o uso da força no ERMUS, Aarne; SALUM, Karl. Changing Concepts of
War: Russia’s New Military Doctrine and the Concept
século XXI e ao colher ensinamentos para o of Hybrid Warfare. 2019. Disponível em:
https://www.ksk.edu.ee/wp-
Brasil: content/uploads/2017/11/CHANGING-CONCEPTS-
A experiência russa passou pela OF-WAR-KOOLON-RUSSIA%E2%80%99S-NEW-
“brigadização”, redução de efetivos, MILITARY-DOCTRINE-AND-THE-CONCEPT-OF-
criação de comandos operacionais HYBRID-WARFARE.pdf Acesso em: 5 fev.2022.
conjuntos e pela efetiva busca de
racionalização da gestão da defesa. Não GARCIA, Eugênio V. O pensamento dos militares em
se produz transformação militar apenas política internacional. Revista Brasil Política
como força singular, mas em conjunto Internacional, v. 40, n.1, p.18-40,1997. Disponível em:
[...]. Pelo estudo realizado percebe-se https://repositorio.unb.br/handle/10482/25417
que, além do “boom das commodities” Acesso em: 20 fev. 2022.
da década passada, que elevou a
disponibilidade de recursos para a GERASIMOV, Valery. El valor de la ciencia está en la
defesa, as reformas organizacionais capacidad de prever lo que sucederá o podría suceder
funcionaram como a base para a en el futuro. Los nuevos desafíos exigen repensar las
modernização militar. (TEIXEIRA formas y métodos de llevar a cabo las operaciones de
JÚNIOR, 2018, p. 16) combate (Robert Coalson, trad). 2016. Disponível em:
https://www.armyupress.army.mil/Portals/7/military-
review/Archives/Spanish/MilitaryReview_20160430_a
rt010SPA.pdf Acesso em: 16 jan. 2021.
Portanto, diante do que foi exposto, o
modelo estratégico militar russo pode servir