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S.

I - THE DOPPLER:
The past all over again…

A adaga em sua mão esquerda pingava sangue, o líquido viscoso e vermelho corria pela
lâmina até molhar a areia sob suas botas, gota por gota, mas o homem em sua frente ainda
respirava, um sorriso sarcástico pintava os lábios idênticos aos do bruxo, como se todo seu
esforço tivesse sido em vão, seria necessário um último golpe para acabar com o
sofrimento de ambos a dor psicológica e física que estavam sentido, e então o bruxo o fez,
erguendo sua única espada na altura da cabeça alheia, afundou a ponta do objeto cortante
no crânio até que o perfurasse por completo, rasgando tanto a cabeça quanto parte da
garganta, obrigando o dúplice a cair morto sobre a própria poça de sangue. Os olhos já sem
vida do monstro não possuíam mais a cor amarelada dos olhos do bruxo mas ainda sim era
como olhar em um espelho, uma imagem perturbadora que se instalou na mente do Von
Keogh para sempre.

Aquela de fato teria sido a última vez que Eren tinha visto o tão odiado dúplice, pelo menos
até essa noite, a memória mesmo tão velha queimava em seu interior ardendo como uma
chapa quente direto na pele, o enchendo de ódio toda vez que seu próprio sorriso surgia
toda vez que o rapaz fechava os olhos. Khalide estava morto, o golpe deferido diretamente
em sua cabeça era para ter certeza que nem a mais poderosa das poções o traria de volta.
Por tanto o bruxo não acreditava nos próprios olhos. Nenhuma outra duplicada que já
conhecera era tão boa quanto Khalide, bom o suficiente para copiá-lo perfeitamente, um
verdadeiro espelho. Então o homem sentado ao seu lado só poderia ser ninguém mesmo
que ele.

O barman limpava o balcão na frente de ambos com as mãos trêmulas, provavelmente com
os mesmos sentimentos que Eren, os olhos esbugalhados denunciavam a confusão do
homem. Levando o copo de vidro aos lábios, o bruxo finalizou sua bebida sem sequer
direcionar o olhar uma só vez à figura que sentava a centímetros de si.

– Prefere terminar isso aqui ou em entro lugar? – Von Keogh perguntou, pressionando os
dedos no vidro com tamanha força não se preocupando caso o objeto viesse a quebrar em
sua própria mão.

Uma risada soou pelo bar se juntando a batidas de um punho fechado sobre a madeira do
balcão, Eren se questionava se a sua risada soava tão irritante quanto.

– Olhe para você, não é mais o garotinho assustado do qual eu me recordo. Tenho que
admitir que prefiro a nova aparência, fica bem em mim. – A duplicada se gabou fingindo se
livrar das imperfeições inexistentes em seu visual.
O bruxo não deu espaço para outros comentários, segurando o homem pelo colarinho e o
puxou para fora do bar, atraído olhares espantados e intrigados pelo caminho, como de
costume alguns homens e mulheres só visitavam lugares de tão baixo nível para presenciar
uma boa briga entre bêbados, mas aquele estava longe de ser o caso. Jogou o sujeito
contra a lama – resultado da chuva no período da manhã – sujando algumas coisas que
estavam pelo perímetro, mas não demorou muito para Khalide se recompor, e antes que
Eren pudesse se aproveitar da vulnerabilidade alheia, seu gêmeo já estava de pé e pronto
para o que estava por vir. Esticando o braço direito ao lado do corpo, uma espada se
materializou na mão do bruxo, graças ao feitiço simples do qual aprendera recentemente,
agora ele conseguia esconder suas armas aos olhos de todos. Rodou o cabo na mão se
posicionando para a luta, mesmo que o dúplice estivesse desarmado, aquela seria sua
chance de acabar com ele, mais uma vez.

– Vejo que não está nem interessado em saber porque estou aqui, vocês bruxos já viram de
tudo que não lhe deixa nem intrigado em saber como retornei? – Não recebendo nenhuma
resposta de seu adversário, a duplicata deu de ombros copiando os movimentos do bruxo
até que uma espada semelhante surgisse em sua mão. De fato Khalide havia aprendido
coisas com o tempo, estava mais poderoso e habilidoso, copiando os mínimos detalhes e
ações de Eren, até como seus ombros e cotovelos ficavam colocados em posições de
defesa.

E então uma batalha se iniciou ali mesmo, o barulho de ambas as lâminas se chocando e os
grunhidos deixados pelos dois homens com a mesma voz, atraia olhos de toda a rua e
mesmo já passando da meia noite, pessoas saiam de suas casas para observar a
movimentação no beco ao lado do bar. Os olhares alheios incomodavam Eren, odiava ser
observado, ainda mais em momento tão vulnerável, suas táticas de luta eram totalmente
calculadas e muito bem planejadas e naquele momento, o bruxo estava completamente
tomado por seu ódio, cego, seu único desejo era por um fim aquele combate e trazer a
morte mais uma vez para seu mais terrível inimigo. Os movimentos grosseiros e
precipitados abriam brechas para que o dúplice o acertasse vez ou outra rasgando o tecido
de suas roupas que estavam longes de serem propícias para o cenário. Vendo que as
vezes que havia acertado Khalide eram menores que as vezes que ele tinha lhe acertado,
Eren utilizou seus conhecimentos de bruxo e com a mão livre conjurou uma magia, Aard,
para afastar seu inimigo com um impulso telecinético, que rapidamente o respondeu
utilizando outra magia, Yrden, para mobilizar Von Keogh assim que o sinal foi posicionado
no chão.

– Irei poupar sua vida agora, bruxo, pois não é sempre que recebemos uma segunda
chance de viver – Limpou a lâmina prateada nas próprias roupas – E quero aproveitar cada
um dos meus dias de volta, tornando sua vida insuportável até o último minuto. E quem
sabe me divertir um pouco.

Impossibilitado de se movimentar, Eren observou o homem partir, levando aquilo que lhe
era de mais sagrado, sua identidade.

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