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24/08/2022 16:19 Transferência da corte portuguesa para o Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre

Transferência da corte portuguesa para


o Brasil
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A transferência da corte portuguesa para o


Brasil foi o episódio da história de Portugal e da
história do Brasil em que a família real portuguesa,
a sua corte de nobres (ver nobreza portuguesa),
servos, empregados domésticos (tais como valetes)
e uma biblioteca com mais de 60  000 livros,
radicaram-se no Brasil, entre 1808 e 1821. Teve a
leva inicial, em 29 de novembro de 1807, de
aproximadamente 420 pessoas.[nota 1][2]

Posteriormente, após 1821, muitos destes voltaram


a Portugal.

A capital do Reino de Portugal foi estabelecida na Embarque da família real portuguesa no cais de
capital do Estado do Brasil, a cidade do Rio de Belém, em 29 de novembro de 1807.
Janeiro, registrando-se o que alguns historiadores
denominam de "inversão metropolitana", ou seja, da colônia passou a ser exercida a soberania e o
governo do império ultramarino português. Pela primeira e única vez na história uma colônia
passava a sediar uma corte europeia.[3]

Antecedentes
O plano de transferência da família real e da corte de nobres portugueses para o Brasil, refúgio
seguro para a soberania portuguesa quando a resistência militar a um invasor fosse inútil na
metrópole, já havia sido anteriormente cogitado:

Durante a crise de sucessão de 1580, ante o avanço dos tercios do duque de Alba, D. António I
terá sido aconselhado a buscar um refúgio além-Atlântico;[4]
No contexto da Restauração da Independência (1640), quando a França abandonou Portugal
no Congresso de Münster (1648), o padre António Vieira apontou ideia semelhante a D. João
IV, associando-a ao vaticínio da fundação do Quinto Império;
Posteriormente, embora sem ameaça militar iminente, o diplomata Luís da Cunha defendeu a
ideia de se transferir para o Brasil a sede da monarquia portuguesa;[5]
A ideia principiou a ser colocada em prática quando da invasão de Portugal por tropas
espanholas, no contexto do chamado Pacto de Família, tendo o marquês de Pombal chegado
a ordenar o apresto de uma esquadra que transportaria D. José I, a família real e a corte. À
época, Pombal considerava alguns exemplos estrangeiros, como a recomendação de
Sébastien Le Prestre de Vauban ao futuro Filipe V de Espanha para que se refugiasse na
América, e nomeadamente o precedente da imperatriz Maria Teresa da Áustria que se
dispusera a descer o rio Danúbio, caso a sua Corte em Viena viesse a correr perigo;
No início do século XIX, no contexto internacional criado pela ascensão do império de
Napoleão Bonaparte, a ideia da retirada da família real para o Brasil voltou à tona, tendo sido

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defendida pelo marquês de Alorna em 30 de maio de 1801[6] e, novamente, em 16 de agosto


de 1803, por D. Rodrigo de Sousa Coutinho;[7]
A ideia de uma transferência para o Brasil, ressurgindo como um meio de reforço à segurança
nacional, sobretudo em contextos de ameaça iminente à soberania de Portugal, foi
apresentada como uma via necessária ao cumprimento de um projecto messiânico, como em
António Vieira, ou como um meio para redefinir as relações de forças no "equilíbrio europeu"
pós-Vestfália, como o marquês de Alorna, Luís da Cunha e o conde de Linhares.

A conjuntura de 1807
Depois das campanhas do Rossilhão e da Catalunha, a Espanha abandonara a aliança com
Portugal, fazendo causa comum com o inimigo da véspera – a França de Napoleão. Resultou daí a
invasão de 1801, em que a Grã-Bretanha de nada serviu a Portugal.

Enquanto o Corpo de Observação da Gironda penetrava em Portugal debaixo do pretexto da


protecção, o tratado de Fontainebleau entretanto assinado entre a França e a Espanha, retalhava
Portugal em três principados. O plano de Napoleão era o de aprisionar a família real portuguesa,
sucedendo ao Príncipe-regente Dom João de Bragança (futuro Rei Dom João VI), o que veio a
suceder a Fernando VII de Espanha e a Carlos IV de Espanha em Baiona – forçar uma abdicação.
Teria Portugal um Bonaparte no trono e, paralelamente, a Inglaterra apossar-se-ia das colônias do
império ultramarino português, sobretudo a colônia do Brasil.[8]

Os acontecimentos
Após os tratados secretos de Tilsit de julho de 1807, os
representantes da França e de Espanha em Lisboa entregaram
ao príncipe-regente de Portugal, a 12 de agosto, as
determinações de Napoleão: Portugal teria que aderir ao
Bloqueio Continental, fechar os seus portos à navegação
britânica, declarar guerra aos britânicos, sequestrar os seus
bens em Portugal e deter todos os cidadãos ingleses residentes
no país. O príncipe-regente era intimado a dar uma resposta
até ao dia 1º de setembro.

No Conselho de Estado, reunido a 18 de agosto, sem que se


conhecesse ainda a manobra de Napoleão, venceu a posição do
ministro António de Araújo e Azevedo: Portugal unia-se ao
Bloqueio Continental, fechando os portos aos navios
britânicos. A única objecção era a de não aceitar o sequestro
O Príncipe-regente Dom João de
dos bens e nem a detenção de pessoas de nacionalidade Bragança em 1804.
britânica, por não serem conciliáveis com os princípios
cristãos. O ministro Araújo ordenou a redação das cartas e
expediu-as. Essa era a posição tomada por Lisboa, mas deixando vencida uma minoria liderada
por D. Rodrigo de Sousa Coutinho, que defendera que se fizesse a guerra contra a França e a
Espanha, colocando-se em prontidão 70 mil homens e mobilizando-se 40 milhões de cruzados
para a custear. Na mesma reunião, Coutinho formulou uma vez mais a ideia preconizada em 1803,
de uma retirada estratégica: caso Portugal não tivesse sorte nas armas, "passasse a família real
para o Brasil".[9]

Os membros do Conselho de Estado encontravam-se divididos em dois partidos – o chamado


"partido francês" e o chamado "partido inglês". Este último, liderado por D. Rodrigo de Sousa
Coutinho, contava com personalidades como D. João de Almeida e preconizava a continuação dos
pactos internacionais com o Reino Unido, insistindo na necessidade de encarar com firmeza a
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ideia de guerra. O "partido francês", liderado por D. António de


Araújo e Azevedo, defendia a aceitação das condições francesas
e, embora dissesse que buscava a neutralidade, inclinava-se
para o lado da França.

Sucederam-se as reuniões. Na reunião do Conselho de Estado


de 30 de agosto, vingou a ideia de se enviar para o Brasil
apenas o Príncipe da Beira (D. Pedro de Alcântara, herdeiro do
trono) e as infantas. D. Rodrigo de Sousa Coutinho continuou a
defender a ideia de que Portugal devia fazer primeiro guerra à
Declaração de guerra feita por D. França e que a saída de toda a família real só se deveria realizar
João a Napoleão e todos os seus perante a dificuldade militar. Começaram imediatamente os
vassalos, 1808. Arquivo Nacional. preparativos para a saída do Príncipe da Beira e das infantas,
mandando-se aprontar uma esquadra de quatro naus. As
restantes naus da Armada portuguesa ficariam em defesa do
porto de Lisboa.

Nas flutuações constantes do período que se seguiu, as


movimentações do general Jean Lannes, embaixador francês
em Lisboa, frutificaram na queda de D. Rodrigo de Sousa
Coutinho, de D. João de Almeida, e na demissão de Pina
Manique. Vencia o "partido francês", com António de Araújo e
Azevedo a substituir os ministros demitidos, e a triunfar a
"política de neutralidade" favorável à França Napoleónica. Em
meados de outubro, a reunião do Conselho de Estado fez-se já
sem a presença de D. Rodrigo de Sousa Coutinho. Antes de
receber qualquer resposta, Napoleão já dera ordem de marcha
através da Espanha a um exército de cerca de 30 mil homens
sob o comando de Jean-Andoche Junot. Não se sabia ainda se
as tropas se dirigiam para Portugal, avaliando-se as posições
das potências. Napoleão Bonaparte mostrava-se cauteloso,
modificando a cláusula em que pedia o sequestro dos bens e
pessoas de nacionalidade britânica; Manuel de Godoy, dizia António de Araújo e Azevedo,
conde da Barca.
que se a Espanha tivesse a intenção de tomar Portugal, tê-lo-ia
feito em 1801, mas "que nem se lembrasse(m) do retiro para o
Brasil"; o rei do Reino Unido exortava à transferência para o Brasil da família real portuguesa e
oferecia a sua esquadra. A posição britânica vinha apoiada num extenso documento em que se
dizia que ficara resolvido pelas outras potências "a extinção da Monarchia Europêa Portuguesa, e
portanto o único recurso era ir conservar a sua Monarchia no Brasil".[10]

Em fins de outubro, realizaram-se novas reuniões do Conselho de Estado, defendendo D. João de


Almeida a saída de toda a família real e não apenas do Príncipe da Beira e das infantas.
Mantiveram-se todas as ordens dadas para que continuassem os preparativos da esquadra. Depois
se veria quem iria sair para o Brasil.

No dia 22 de outubro, foi publicado o edital tornando público o decreto do príncipe regente
mandando fechar os portos portugueses aos navios de guerra e mercantes da Grã-Bretanha. Três
dias depois, o príncipe regente deu parte aos seus ministros dos preparativos da viagem do
Príncipe da Beira, mas que pode ser de toda a família real se as circunstâncias assim o
impusessem, e decidiu escrever para a Espanha e a França.

A decisão de transferir a Corte para o Brasil, porém, já ficara resolvida na convenção secreta
subscrita em Londres, em 22 de outubro de 1807, e que veio a ser ratificada em Lisboa no dia 8 de
novembro. Pela mesma altura, chegava a Lisboa a notícia da prisão, em Espanha, do príncipe

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herdeiro do trono (Príncipe das Astúrias), e de que tropas


espanholas e francesas se estavam a dirigir para a fronteira
portuguesa.

Confirmavam-se os propósitos de Napoleão em relação a


Portugal e a Espanha; tinham fundamento as advertências do
rei da Grã-Bretanha e as do chamado "partido inglês" no
Conselho de Estado. Não havia alternativa à retirada de toda a
família real e do governo do Reino para a cidade do Rio de
Janeiro.

Nas últimas decisões


tomadas pelo príncipe
regente parece haver a
intenção de manter um
Rodrigo de Sousa Coutinho, conde certo equilíbrio entre os
de Linhares. partidos em conflito. O
"partido francês" viu
satisfeitos os "pedidos" de Napoleão, fechando-se os portos aos
navios de guerra e mercantes ingleses, e dando-se ordem de
expulsão aos ingleses residentes em Portugal, enquanto o Mapa da cidade do Rio de Janeiro,
"partido inglês" obteve a continuação dos preparativos da em 1820, então capital do Reino de
esquadra para a saída do Príncipe da Beira. Portugal, com a transferência da
corte para o Brasil. Arquivo
O ministro António de Araújo e Azevedo ainda mandou desviar Nacional.
para as costas portuguesas os poucos efectivos militares de que
o país dispunha, alegando que Portugal poderia ser
surpreendido por um desembarque britânico. Era um último esforço para favorecer a entrada das
tropas comandadas por Junot.

O príncipe regente apenas no dia 23 de novembro recebeu a notícia do que viria a ser, a Primeira
invasão francesa de Portugal. Convocou imediatamente o Conselho de Estado, que decidiu
embarcar o quanto antes toda a família real e o governo, servindo-se da esquadra que estava
pronta para o Príncipe da Beira e as infantas.

Em 26 de novembro, foi nomeado um Conselho de Regência para permanecer em Portugal, e


difundidas Instruções aos governadores, nas quais se dizia que "quanto possível for", deviam
procurar conservar em paz o reino, recebendo bem as tropas do imperador.

(...) Vejo que pelo interior do meu reino marcham tropas do


imperador dos franceses e rei da Itália, a quem eu me havia unido no
continente, na persuasão de não ser mais inquietado (...) e querendo
evitar as funestas consequências que se podem seguir de uma defesa,
que seria mais nociva que proveitosa, servindo só de derramar
sangue em prejuízo da humanidade, (...) tenho resolvido, em
benefício dos mesmos meus vassalos, passar com a rainha minha
senhora e mãe, e com toda a real família, para os estados da
América, e estabelecer-me na Cidade do Rio de Janeiro até à paz
geral.

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Junot, no seu "Diário", manuscrito na Biblioteca Nacional da Ajuda, revela quanto os franceses
receavam aquele embarque. Ao ser informado que este estava já em execução, e não podendo voar
sobre o Ribatejo até Lisboa com as suas tropas, ainda enviou M. Hermann a Lisboa com a missão
de o atrasar ou impedir. "Mr. Hermann ne put voir ni le Prince ni Mr. D. Araujo; celui-ci
seulement lui dit que tout était perdu" ("O Sr. Hermann não pôde ver nem o Príncipe nem o Sr. D.
Araujo; este apenas lhe disse que tudo estava perdido"), escreveria depois Junot a Bonaparte. Para
Araújo, para o "partido francês", o mais importante estava na verdade perdido – não era mais
possível aos franceses aprisionarem o príncipe-regente de Portugal.

A partida
A esquadra portuguesa, que saiu do porto de Lisboa em 29 de
novembro de 1807, ia comandada pelo vice-almirante Manuel
da Cunha Souto Maior. Integravam-na as seguintes
embarcaçõesː[11]

Naus

Príncipe Real - Comandante, Capitão de Mar e Guerra,


Francisco José do Canto e Castro Mascarenhas.
D. João de Castro - Cmdte, Cap. de M. e G., D. Manuel Embarque da Família Real
João Loccio. Portuguesa
Afonso de Albuquerque - Cmdte, Cap. de M. e G., Inácio
da Costa Quintela.
Rainha de Portugal - Cmdte, Cap. de M. e G., Francisco Manuel Souto-Maior.
Medusa - Cmdte, Cap. de M. e G., Henrique da Fonseca de Sousa Prego.
Príncipe do Brasil - Cmdte, Cap. de M. e G., Francisco de Borja Salema Garção.
Conde D. Henrique - Cmdte, Cap. de M. e G., José Maria de Almeida.
Martins de Freitas - Cmdte, Cap. de M. e G., D. Manuel de Menezes.

Fragatas

Minerva - Cmdte, Cap. de M. e G., Rodrigo José Ferreira Lobo.


Golfinho - Cmdte, Cap. de Fragata, Luís da Cunha Moreira.
Urânia - Cmdte, Cap. de Frag., D. João Manuel.

Brigues

Lebre - Cmdte, Cap. de M. e G., Daniel Tompsom.


Voador - Cmdte, Cap. de Frag., Maximiliano de Sousa.
Vingança - Cmdte, Cap. de Frag., Diogo Nicolau Keating.

Escunas

Furão - Cmdte, Capitão Tenente, Joaquim Martins.


Curiosa - Cmdte, Primeiro Tenente, Isidoro Francisco Guimarães.

A família real embarcara desde o dia 27 de novembro, tomando-se a bordo as últimas decisões. No
dia 28 de novembro não foi possível levantar ferros porque o vento soprava do Sul. Entretanto, as
tropas francesas tinham já passado os campos de Santarém, pernoitando no Cartaxo. No dia 29 de
novembro, o vento começou a soprar de nordeste, e bem cedo o Príncipe Regente ordenou a
partida. Quatro naus da Marinha Real Britânica, sob o comando do capitão Graham Moore,
reforçaram a esquadra portuguesa até o Brasil.
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O general Junot entrou em Lisboa às 9 horas da manhã do dia 30 de novembro, liderando um


exército de cerca 26 mil homens e tendo à sua frente um destacamento da cavalaria portuguesa,
que se rendera e se pusera às suas ordens.

A viagem e a chegada à Bahia


Após a partida, os navios da esquadra portuguesa, escoltados
pelos britânicos, dispersaram-se devida a uma forte
tempestade. Em 5 de dezembro conseguiram se reagrupar e
logo depois, em 11 de dezembro, a frota avistou a ilha da
Madeira.

As embarcações chegaram à costa da Bahia a 18 de janeiro de


Carta Régia declarando a abertura
dos portos às nações amigas. 1808 e, no dia 22, os habitantes de Salvador já puderam avistar
os navios da esquadra. Às quatro horas da tarde do dia 22,
após os navios estarem fundeados, o conde da Ponte
(governador da capitania da Bahia à época) foi a bordo do navio Príncipe Real. No dia seguinte,
fizeram o mesmo os membros da Câmara.

A comitiva real só desembarcou às cinco horas da tarde do dia 24, em uma grande solenidade.

Em Salvador foi assinado o Decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas.

A chegada ao Rio de Janeiro


A esquadra partiu de Salvador rumo ao Rio de Janeiro, onde
chegou no dia 8 de março de 1808, desembarcando no cais do
Largo do Paço (atual Praça XV de Novembro).

Os membros da família real foram alojados em três prédios no


centro da cidade, entre eles o paço do vice-rei Marcos de
Noronha e Brito, conde dos Arcos, e o convento das
Carmelitas. Os demais agregados espalharam-se pela cidade,
em residências confiscadas à população assinaladas com as
iniciais "P.R." ("Príncipe-Regente"), o que deu origem ao
trocadilho "Ponha-se na Rua", ou "Prédio Roubado" como os
mais irônicos diziam à época.

Em outra medida tomada logo após a chegada da corte ao


Brasil, declarou-se guerra à França, e foi ocupada a Guiana
Francesa em 1809.

Em abril de 1808, o Príncipe Regente decretou a suspensão do


alvará de 1785, que proibia a criação de indústrias no Brasil.
Alvará de 1808 que autoriza as
Ficavam, assim, autorizadas as atividades em território
fábricas e manufaturas no Brasil, 1°
colonial. A medida permitiu a instalação, em 1811, de duas
de abril de 1808[12]. Arquivo
fábricas de ferro, em São Paulo e em Minas Gerais. Mas o
Nacional.
sopro de desenvolvimento parou por aí, pois a presença de
artigos britânicos bem elaborados e a preços relativamente
acessíveis bloqueava a produção de similares em território brasileiro. A eficácia da medida seria
anulada pela assinatura dos Tratados de 1810: o Tratado de Aliança e Amizade e o Tratado de
Comércio e Navegação. Por este último, o governo português concedia aos produtos ingleses uma
tarifa preferencial de 15%, ao passo que a que incidia sobre os artigos provenientes de Portugal era
de 16% e a dos demais países amigos, 24%. Na prática, findava o pacto colonial.
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Principais medidas tomadas pela Coroa ao chegar no


Brasil
Entre as mudanças que ocorreram com a vinda da família real
para o Brasil, destacam-se as nove principais:

a abertura dos portos às nações amigas em 1808;


a criação da Imprensa Régia e a autorização para o
funcionamento de tipografias e a publicação de jornais em
1808;[nota 2]
a fundação do primeiro Banco do Brasil, em 1808;
a criação da Academia Real Militar em 1810;
Primeiro bilhete de banco, precursor
a abertura de algumas escolas, entre as quais duas de
das atuais cédulas, emitido pelo
Medicina – uma na Bahia e outra no Rio de Janeiro — por
Banco do Brasil em 1810.
influência do médico pernambucano Correia Picanço;
a instalação da Real Fábrica de Pólvora no Rio de Janeiro
e de fábricas de ferro em Minas Gerais e em São Paulo;
elevação do Estado do Brasil à condição de reino, unido a Portugal e Algarves;
a vinda da Missão Artística Francesa em 1816, e a fundação da Academia de Belas Artes;
a mudança de denominação das unidades territoriais, que deixaram de se chamar "capitanias"
e passaram a denominar-se de "províncias" (1821);
a criação da Biblioteca Real (1810), do Jardim Botânico (1811) e do Museu Real (1818), mais
tarde Museu Nacional.

Consequências
Ao evitar-se que a família real portuguesa fosse aprisionada em Lisboa pelas tropas francesas,
inviabilizou-se o projecto de Napoleão Bonaparte para a Península Ibérica, que consistia em
estabelecer nela famílias reais da sua própria família, como ainda se tentou em Espanha com a
deposição de Fernando VII e Carlos IV, colocando no trono José Bonaparte. A revelação da
correspondência secreta de Junot e de Napoleão, bem como os textos dos Tratados secretos de
Tilsit, não deixam margem para quaisquer dúvidas a este respeito.

O "partido francês" em Portugal, não se dando por derrotado, começou imediatamente a difundir a
ideia de que a retirada estratégica da Corte para o Brasil mais não era do que uma "fuga", que teria
deixado Portugal sem Rei e sem Lei. Por esse motivo foi enviada uma delegação sua ao encontro de
Junot para que Napoleão Bonaparte lhes desse uma Constituição e um Rei.

Revolução Pernambucana

A Revolução Pernambucana, também conhecida como "Revolução dos Padres", foi um movimento
emancipacionista que eclodiu no dia 6 de março de 1817 em Pernambuco, no Brasil.[14][15] Dentre
as suas causas, destacam-se a influência das ideias iluministas propagadas pelas sociedades
maçônicas, o absolutismo monárquico português e os enormes gastos da Família Real e seu
séquito recém-chegados ao Brasil — a capitania de Pernambuco, então a mais lucrativa da colônia,
era obrigada a enviar para o Rio de Janeiro grandes somas de dinheiro para custear salários,
comidas, roupas e festas da Corte, o que dificultava o enfrentamento de problemas locais (como a
seca ocorrida em 1816) e ocasionava o atraso no pagamento dos soldados, gerando grande
descontentamento no povo pernambucano.[15][16][17]

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Único movimento separatista do período de dominação


portuguesa que ultrapassou a fase conspiratória e atingiu o
processo de tomada do poder, a Revolução Pernambucana
provocou o adiamento da aclamação de João VI de Portugal
como rei e o atraso da viagem de Maria Leopoldina de Áustria
para o Rio de Janeiro, mobilizando forças políticas e
suscitando posicionamentos e repressões em todo o Reino do
Brasil.[16][18][19][20] O príncipe regente impôs uma repressão
violenta: quatorze revoltosos foram executados pelo crime de
lesa-majestade (a maioria enforcados e esquartejados,
enquanto outros foram fuzilados), e centenas morreram em
combate ou na prisão.[21][22] Ainda em retaliação, Dom João
VI desmembrou a então comarca das Alagoas do território
pernambucano (sete anos mais tarde, Dom Pedro I tiraria de
Pernambuco as terras que correspondem ao atual Oeste da Revolução Pernambucana de 1817:
Bahia como punição pela Confederação do Equador).[23] movimento é considerado o
Apenas na data de sua coroação, em 6 de fevereiro de 1818, precursor da Independência do
Dom João ordenou o encerramento da devassa.[24] Brasil.[13]

A Revolução Pernambucana contou com relativo apoio


internacional: os Estados Unidos, que dois anos antes tinham instalado no Recife o seu primeiro
Consulado no Brasil e no Hemisfério Sul devido às relações comerciais com Pernambuco, se
mostraram favoráveis ao movimento, bem como os ex-oficiais de Napoleão Bonaparte que
pretendiam resgatar o seu líder do cativeiro em Santa Helena, levá-lo a Pernambuco e depois a
Nova Orleans.[25][26]

Os revolucionários, oriundos de várias partes da colônia, tinham como objetivo principal a


conquista da independência do Brasil em relação a Portugal, com a implantação de uma república
liberal. O movimento abalou a confiança na construção do império americano sonhado por Dom
João VI, e por este motivo é considerado o precursor da independência conquistada em 1822.[13]

Revolução do Porto

Após a derrota de Napoleão, a transferência da Corte para o Brasil veio também a ter como
consequência a Revolução de 1820 em Portugal, que exigiu o retorno da família real portuguesa e
da Corte a Lisboa. O comportamento dos deputados às Cortes Constituintes face ao Brasil depois
também veio a provocar a proclamação da sua Independência.

Ver também
História do Brasil
História de Portugal
Revolução Pernambucana
Revolução liberal do Porto
Independência do Brasil

Notas
1. O historiador Nireu Cavalcanti contesta a cifra de 15000 fugitivos, retirada do diário de Thomas
O'Neil e repetida por diversos historiadores, com base em suas pesquisas de documentos
primários e na implausibilidade de que 8% da população lisboeta tenha embarcado em total
segredo em apenas 40 horas e desembarcado no Rio sem provocar uma crise de sem-tetos.[1]
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2. Em 10 de setembro de 1808 começou a circular o primeiro jornal editado no Brasil. Era a


Gazeta do Rio de Janeiro, impresso na Imprensa Régia. Com apenas quatro páginas, a
publicação se limitava a divulgar notícias oficiais e de interesse da família real. Mais
significativa, no entanto, foi a publicação, entre 1808 e 1822, do Correio Braziliense, editado
em Londres por Hipólito José da Costa, um brasileiro que estudara na Universidade de
Coimbra e se filiara ao movimento liberal. Trazido clandestinamente ao Brasil por comerciantes
britânicos, o jornal de oposição ao governo joanino contribuiu para incluir na elite brasileira as
ideias liberais que formaram a ideologia do movimento de independência.

Referências
1. «A reordenação urbanística da nova sede da Corte» (https://docs.google.com/file/d/1iwf0ZqxR
FrcFmWAVH4hT6fhEqywpJoVMP2EqTWLyFULFAJwuei99R69qgPCz/edit)
2. Cavalcanti, Nireu (2007). «A reordenação urbanística da nova sede da Corte» (https://docs.goo
gle.com/file/d/1iwf0ZqxRFrcFmWAVH4hT6fhEqywpJoVMP2EqTWLyFULFAJwuei99R69qgPC
z/edit). Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, nº 436. Consultado em 2021
Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
3. «Parte do livro "Império à Deriva: A Corte Portuguesa no Rio de Janeiro, 1808-1821".» (http://w
ww.objetiva.com.br/site2011/livro_ficha.php?id=333)
4. Jorge Pedreira; Fernando Dores Costa. Dom João VI. Lisboa: Círculo de Leitores, 2006, p. 143.
5. D. Luís da Cunha, Instruções Políticas, 1736, Lisboa, Edição Abílio Diniz Silva, 2001
6. Manuel de Oliveira Lima. D. João VI no Brasil (3ª. ed.). Rio de Janeiro: Topbooks, 1996, p. 46.
7. Ângelo Pereira. D. João Príncipe e Rei (4 v.). Lisboa: 1953-1958.
8. Correspondência de Napoleão; Diário de Junot; Tratados secretos de Tilsit (Julho de 1807)
9. Cristóvão Aires de Magalhães Sepúlveda. História Orgânica e Política do Exército Português -
Provas, volume XVII, Invasão de Junot em Portugal. Coimbra: Imprensa da Universidade,
1932. p. 113.
10. Cristóvão Aires de Magalhães Sepúlveda. História Orgânica e Política do Exército Português -
Provas, volume XVII, Invasão de Junot em Portugal. Coimbra: Imprensa da Universidade,
1932. p. 115.
11. Cristóvão Aires de Magalhães Sepúlveda. História Orgânica e Política do Exército Português -
Provas, volume XVII, Invasão de Junot em Portugal. Coimbra: Imprensa da Universidade,
1932. p. 130-131.
12. Portugal e Algarves, Reno de. Código Brasiliense, ou Collecção das leis, alvarás, decretos,
cartas regias, &etc promulgadas no Brasil desde a feliz chegada do Principe Regente N. S. a
estes estados. Rio de Janeiro: Impressão Régia, 1811
13. «Revolução Pernambucana - Considerada o berço da democracia brasileira, revolta completa
200 anos» (https://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/revolucao-pernam
bucana-considerada-o-berco-da-democracia-brasileira-revolta-completa-200-anos.htm). UOL.
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Bibliografia
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Ligações externas
«Podcast (Programa em áudio) sobre a Fuga/transferência da família real portuguesa para o
Brasil» (http://historica.com.br/?p=5988)
A vinda da família real para o Brasil (Multirio) (http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo02/vi
nda.html)
A vinda da família real para o Brasil (Passeiweb) (http://www.passeiweb.com/saiba_mais/fatos
_historicos/brasil_america/vinda_da_familia_real)
Chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808 (Professor de história.com) (http://www.
professordehistoria.com/resumos/familiareal.htm)
A fuga da família real para o Brasil, A corte carioca (Extrato de Documentário), por Rita
Marrafa de Carvalho, RTP, 2008 (https://ensina.rtp.pt/artigo/a-fuga-para-o-brasil-da-familia-rea
l/)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Transferência_da_corte_portuguesa_para_o_Brasil 10/11
24/08/2022 16:19 Transferência da corte portuguesa para o Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre

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title=Transferência_da_corte_portuguesa_para_o_Brasil&oldid=63958873"

https://pt.wikipedia.org/wiki/Transferência_da_corte_portuguesa_para_o_Brasil 11/11

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