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A capital do Reino de Portugal foi estabelecida na Embarque da família real portuguesa no cais de
capital do Estado do Brasil, a cidade do Rio de Belém, em 29 de novembro de 1807.
Janeiro, registrando-se o que alguns historiadores
denominam de "inversão metropolitana", ou seja, da colônia passou a ser exercida a soberania e o
governo do império ultramarino português. Pela primeira e única vez na história uma colônia
passava a sediar uma corte europeia.[3]
Antecedentes
O plano de transferência da família real e da corte de nobres portugueses para o Brasil, refúgio
seguro para a soberania portuguesa quando a resistência militar a um invasor fosse inútil na
metrópole, já havia sido anteriormente cogitado:
Durante a crise de sucessão de 1580, ante o avanço dos tercios do duque de Alba, D. António I
terá sido aconselhado a buscar um refúgio além-Atlântico;[4]
No contexto da Restauração da Independência (1640), quando a França abandonou Portugal
no Congresso de Münster (1648), o padre António Vieira apontou ideia semelhante a D. João
IV, associando-a ao vaticínio da fundação do Quinto Império;
Posteriormente, embora sem ameaça militar iminente, o diplomata Luís da Cunha defendeu a
ideia de se transferir para o Brasil a sede da monarquia portuguesa;[5]
A ideia principiou a ser colocada em prática quando da invasão de Portugal por tropas
espanholas, no contexto do chamado Pacto de Família, tendo o marquês de Pombal chegado
a ordenar o apresto de uma esquadra que transportaria D. José I, a família real e a corte. À
época, Pombal considerava alguns exemplos estrangeiros, como a recomendação de
Sébastien Le Prestre de Vauban ao futuro Filipe V de Espanha para que se refugiasse na
América, e nomeadamente o precedente da imperatriz Maria Teresa da Áustria que se
dispusera a descer o rio Danúbio, caso a sua Corte em Viena viesse a correr perigo;
No início do século XIX, no contexto internacional criado pela ascensão do império de
Napoleão Bonaparte, a ideia da retirada da família real para o Brasil voltou à tona, tendo sido
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A conjuntura de 1807
Depois das campanhas do Rossilhão e da Catalunha, a Espanha abandonara a aliança com
Portugal, fazendo causa comum com o inimigo da véspera – a França de Napoleão. Resultou daí a
invasão de 1801, em que a Grã-Bretanha de nada serviu a Portugal.
Os acontecimentos
Após os tratados secretos de Tilsit de julho de 1807, os
representantes da França e de Espanha em Lisboa entregaram
ao príncipe-regente de Portugal, a 12 de agosto, as
determinações de Napoleão: Portugal teria que aderir ao
Bloqueio Continental, fechar os seus portos à navegação
britânica, declarar guerra aos britânicos, sequestrar os seus
bens em Portugal e deter todos os cidadãos ingleses residentes
no país. O príncipe-regente era intimado a dar uma resposta
até ao dia 1º de setembro.
No dia 22 de outubro, foi publicado o edital tornando público o decreto do príncipe regente
mandando fechar os portos portugueses aos navios de guerra e mercantes da Grã-Bretanha. Três
dias depois, o príncipe regente deu parte aos seus ministros dos preparativos da viagem do
Príncipe da Beira, mas que pode ser de toda a família real se as circunstâncias assim o
impusessem, e decidiu escrever para a Espanha e a França.
A decisão de transferir a Corte para o Brasil, porém, já ficara resolvida na convenção secreta
subscrita em Londres, em 22 de outubro de 1807, e que veio a ser ratificada em Lisboa no dia 8 de
novembro. Pela mesma altura, chegava a Lisboa a notícia da prisão, em Espanha, do príncipe
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O príncipe regente apenas no dia 23 de novembro recebeu a notícia do que viria a ser, a Primeira
invasão francesa de Portugal. Convocou imediatamente o Conselho de Estado, que decidiu
embarcar o quanto antes toda a família real e o governo, servindo-se da esquadra que estava
pronta para o Príncipe da Beira e as infantas.
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Junot, no seu "Diário", manuscrito na Biblioteca Nacional da Ajuda, revela quanto os franceses
receavam aquele embarque. Ao ser informado que este estava já em execução, e não podendo voar
sobre o Ribatejo até Lisboa com as suas tropas, ainda enviou M. Hermann a Lisboa com a missão
de o atrasar ou impedir. "Mr. Hermann ne put voir ni le Prince ni Mr. D. Araujo; celui-ci
seulement lui dit que tout était perdu" ("O Sr. Hermann não pôde ver nem o Príncipe nem o Sr. D.
Araujo; este apenas lhe disse que tudo estava perdido"), escreveria depois Junot a Bonaparte. Para
Araújo, para o "partido francês", o mais importante estava na verdade perdido – não era mais
possível aos franceses aprisionarem o príncipe-regente de Portugal.
A partida
A esquadra portuguesa, que saiu do porto de Lisboa em 29 de
novembro de 1807, ia comandada pelo vice-almirante Manuel
da Cunha Souto Maior. Integravam-na as seguintes
embarcaçõesː[11]
Naus
Fragatas
Brigues
Escunas
A família real embarcara desde o dia 27 de novembro, tomando-se a bordo as últimas decisões. No
dia 28 de novembro não foi possível levantar ferros porque o vento soprava do Sul. Entretanto, as
tropas francesas tinham já passado os campos de Santarém, pernoitando no Cartaxo. No dia 29 de
novembro, o vento começou a soprar de nordeste, e bem cedo o Príncipe Regente ordenou a
partida. Quatro naus da Marinha Real Britânica, sob o comando do capitão Graham Moore,
reforçaram a esquadra portuguesa até o Brasil.
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A comitiva real só desembarcou às cinco horas da tarde do dia 24, em uma grande solenidade.
Consequências
Ao evitar-se que a família real portuguesa fosse aprisionada em Lisboa pelas tropas francesas,
inviabilizou-se o projecto de Napoleão Bonaparte para a Península Ibérica, que consistia em
estabelecer nela famílias reais da sua própria família, como ainda se tentou em Espanha com a
deposição de Fernando VII e Carlos IV, colocando no trono José Bonaparte. A revelação da
correspondência secreta de Junot e de Napoleão, bem como os textos dos Tratados secretos de
Tilsit, não deixam margem para quaisquer dúvidas a este respeito.
O "partido francês" em Portugal, não se dando por derrotado, começou imediatamente a difundir a
ideia de que a retirada estratégica da Corte para o Brasil mais não era do que uma "fuga", que teria
deixado Portugal sem Rei e sem Lei. Por esse motivo foi enviada uma delegação sua ao encontro de
Junot para que Napoleão Bonaparte lhes desse uma Constituição e um Rei.
Revolução Pernambucana
A Revolução Pernambucana, também conhecida como "Revolução dos Padres", foi um movimento
emancipacionista que eclodiu no dia 6 de março de 1817 em Pernambuco, no Brasil.[14][15] Dentre
as suas causas, destacam-se a influência das ideias iluministas propagadas pelas sociedades
maçônicas, o absolutismo monárquico português e os enormes gastos da Família Real e seu
séquito recém-chegados ao Brasil — a capitania de Pernambuco, então a mais lucrativa da colônia,
era obrigada a enviar para o Rio de Janeiro grandes somas de dinheiro para custear salários,
comidas, roupas e festas da Corte, o que dificultava o enfrentamento de problemas locais (como a
seca ocorrida em 1816) e ocasionava o atraso no pagamento dos soldados, gerando grande
descontentamento no povo pernambucano.[15][16][17]
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Revolução do Porto
Após a derrota de Napoleão, a transferência da Corte para o Brasil veio também a ter como
consequência a Revolução de 1820 em Portugal, que exigiu o retorno da família real portuguesa e
da Corte a Lisboa. O comportamento dos deputados às Cortes Constituintes face ao Brasil depois
também veio a provocar a proclamação da sua Independência.
Ver também
História do Brasil
História de Portugal
Revolução Pernambucana
Revolução liberal do Porto
Independência do Brasil
Notas
1. O historiador Nireu Cavalcanti contesta a cifra de 15000 fugitivos, retirada do diário de Thomas
O'Neil e repetida por diversos historiadores, com base em suas pesquisas de documentos
primários e na implausibilidade de que 8% da população lisboeta tenha embarcado em total
segredo em apenas 40 horas e desembarcado no Rio sem provocar uma crise de sem-tetos.[1]
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Referências
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FrcFmWAVH4hT6fhEqywpJoVMP2EqTWLyFULFAJwuei99R69qgPCz/edit)
2. Cavalcanti, Nireu (2007). «A reordenação urbanística da nova sede da Corte» (https://docs.goo
gle.com/file/d/1iwf0ZqxRFrcFmWAVH4hT6fhEqywpJoVMP2EqTWLyFULFAJwuei99R69qgPC
z/edit). Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, nº 436. Consultado em 2021
Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
3. «Parte do livro "Império à Deriva: A Corte Portuguesa no Rio de Janeiro, 1808-1821".» (http://w
ww.objetiva.com.br/site2011/livro_ficha.php?id=333)
4. Jorge Pedreira; Fernando Dores Costa. Dom João VI. Lisboa: Círculo de Leitores, 2006, p. 143.
5. D. Luís da Cunha, Instruções Políticas, 1736, Lisboa, Edição Abílio Diniz Silva, 2001
6. Manuel de Oliveira Lima. D. João VI no Brasil (3ª. ed.). Rio de Janeiro: Topbooks, 1996, p. 46.
7. Ângelo Pereira. D. João Príncipe e Rei (4 v.). Lisboa: 1953-1958.
8. Correspondência de Napoleão; Diário de Junot; Tratados secretos de Tilsit (Julho de 1807)
9. Cristóvão Aires de Magalhães Sepúlveda. História Orgânica e Política do Exército Português -
Provas, volume XVII, Invasão de Junot em Portugal. Coimbra: Imprensa da Universidade,
1932. p. 113.
10. Cristóvão Aires de Magalhães Sepúlveda. História Orgânica e Política do Exército Português -
Provas, volume XVII, Invasão de Junot em Portugal. Coimbra: Imprensa da Universidade,
1932. p. 115.
11. Cristóvão Aires de Magalhães Sepúlveda. História Orgânica e Política do Exército Português -
Provas, volume XVII, Invasão de Junot em Portugal. Coimbra: Imprensa da Universidade,
1932. p. 130-131.
12. Portugal e Algarves, Reno de. Código Brasiliense, ou Collecção das leis, alvarás, decretos,
cartas regias, &etc promulgadas no Brasil desde a feliz chegada do Principe Regente N. S. a
estes estados. Rio de Janeiro: Impressão Régia, 1811
13. «Revolução Pernambucana - Considerada o berço da democracia brasileira, revolta completa
200 anos» (https://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/revolucao-pernam
bucana-considerada-o-berco-da-democracia-brasileira-revolta-completa-200-anos.htm). UOL.
Consultado em 3 de julho de 2019
14. «Pernambuco 1817 – A Revolução» (https://bndigital.bn.gov.br/exposicoes/pernambuco-1817-
a-revolucao/apresentacao-revolucao-pernambuco/). Biblioteca Nacional. Consultado em 8 de
julho de 2019
15. «Revolução pernambucana de 1817: a "Revolução dos Padres" » (http://basilio.fundaj.gov.br/p
esquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=1133:revolucao-pernambucan
a-de-1817-a-revolucao-dos-padres&catid=52:letra-r&Itemid=1). Fundação Joaquim Nabuco.
Consultado em 16 de abril de 2017
16. Renato Cancian (31 de julho de 2005). «Revolução pernambucana: República em
Pernambuco durou 75 dias» (http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/revolucao-pe
rnambucana-republica-em-pernambuco-durou-75-dias.htm). Consultado em 1 de março de
2015
17. «Revolução Pernambucana de 1817» (http://www.infoescola.com/historia/revolucao-pernambu
cana-de-1817/). InfoEscola. Consultado em 21 de junho de 2015
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Bibliografia
FAORO, Raimundo. Os Donos do Poder. 1945.
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GOMES, Laurentino. 1808: Como uma Orgânica e Política do Exército Português -
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São Paulo: Ed. Planeta, 2008. SARDINHA, António. Ao Ritmo da
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São Paulo: Atual, 1995. WILCKEN, Patrick. Império à Deriva. A corte
OLIVEIRA LIMA, Manuel de. D. João VI no Portuguesa no Rio de Janeiro 1808-1821.
Brasil (2ª ed.). Rio de Janeiro: José Olympio, Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
Ligações externas
«Podcast (Programa em áudio) sobre a Fuga/transferência da família real portuguesa para o
Brasil» (http://historica.com.br/?p=5988)
A vinda da família real para o Brasil (Multirio) (http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo02/vi
nda.html)
A vinda da família real para o Brasil (Passeiweb) (http://www.passeiweb.com/saiba_mais/fatos
_historicos/brasil_america/vinda_da_familia_real)
Chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808 (Professor de história.com) (http://www.
professordehistoria.com/resumos/familiareal.htm)
A fuga da família real para o Brasil, A corte carioca (Extrato de Documentário), por Rita
Marrafa de Carvalho, RTP, 2008 (https://ensina.rtp.pt/artigo/a-fuga-para-o-brasil-da-familia-rea
l/)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Transferência_da_corte_portuguesa_para_o_Brasil 10/11
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