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DOI:http://dx.doi.org/10.31892/rbpab2525-426X.2022.v7.n20.p189-206
Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v. 07, n. 20, p. 189-206, jan./abr. 2022 189
Pesquisar na pandemia da Covid-19: narrativas de estudantes de um mestrado profissional
Introdução
Em fins de 2019, a imprensa noticiou uma nova redes orientavam o “tratamento precoce” con-
doença respiratória viral, decorrente do vírus tra a doença e prometiam a “cura” com remé-
SARS-CoV-2 (covid-19), cujos primeiros casos dios sem eficácia comprovada.
ocorreram em Wahan, na China. O vírus, ini- Tamanha foi a disseminação de informa-
cialmente, não encontrou barreiras para se ções pelas mídias, que a OMS o qualificou
disseminar, dado o grande fluxo de pessoas e como “ infodemia”, palavra incorporada ao vo-
mercadorias, comum em uma sociedade glo- cabulário para designar a “disseminação em
balizada. O crescente número de infectados e massa de notícias falsas e rumores que com-
de óbitos levou a Organização Mundial da Saú- prometem a credibilidade das explicações
de (OMS) a classificar a doença como uma pan- oficiais fundamentadas em respaldo científi-
demia em 11 de março de 2020. co” (GALHARDI et al, 2020, p. 4202). Os discur-
No Brasil, o primeiro caso da doença foi sos contraditórios, vindos dos cientistas, diri-
constatado em fins de fevereiro de 2020. O gentes políticos e pessoas sem conhecimen-
agravamento do quadro logo mostrou que não tos técnicos e ligadas a grupos negacionistas
estávamos preparados para enfrentar esse e de direita, deixaram a população atônita,
inimigo microscópico. Às milhares de mortes passando a se apegar àquilo que “escolhia”
causadas pela covid-19 somaram-se os discur- como verdade. Era o auge da “pós-verdade”,
sos negacionistas de políticos, empresários e termo que, segundo o Dicionário Oxford, “[...]
influenciadores nas redes sociais. Como em define o conjunto de circunstâncias em que
várias partes do mundo, a criação e a propaga- os fatos objetivos são menos influentes do
ção de notícias falsas, as fake news, por essas que apelos à emoção e às crenças pessoais
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na formação da opinião pública” (GALHARDI “[...] alguma nova estratégia de ensino, uma
et al 2020, p. 4203). nova metodologia de ensino para determina-
Como uma forma de barrar a contamina- dos conteúdos, um aplicativo, um ambiente
ção viral, foi necessário o distanciamento so- virtual, um texto; enfim, um processo ou pro-
cial, fato que implicou suspensão das aulas duto de natureza educacional”.
presenciais por tempo indeterminado. Para Diante disso, nosso objetivo, neste artigo,
reduzir os prejuízos, o Ensino Remoto Emer- é discutir como os mestrandos do Programa
gencial (ERE) foi apresentado como a solução de Pós-Graduação em Educação Profissional
naquele cenário marcado pela insegurança e e Tecnológica (ProfEPT), um mestrado profis-
indefinição. Importa destacar que o ERE não sional em rede nacional na área de Ensino,
é a mesma coisa que a Educação a Distância enfrentaram os impasses da pandemia no de-
(EaD), mas um modo de ensino alternativo em correr da aplicação de suas pesquisas. Nossos
face de uma circunstância de crise. “O objetivo questionamentos são: que alternativas foram
nessas circunstâncias não é recriar um siste- criadas pelos estudantes para desenvolver as
ma educacional robusto, mas fornecer acesso pesquisas que resultariam em produtos edu-
temporário a suportes e conteúdos educacio- cacionais nesse contexto de isolamento social?
nais de maneira rápida, fácil de configurar e Considerando que, geralmente, em situações
confiável, durante uma emergência ou crise” de dificuldades, há um processo de regenera-
(HODGES et al, 2020, p. 6). ção e autoformação, é possível que isso tenha
Assim como na educação básica, os progra- ocorrido com os mestrandos do ProfEPT?
mas de pós-graduação também se submete- Considerando que esse mestrado está
ram ao ERE. Entretanto, nos mestrados profis- presente em 40 instituições federais de Edu-
sionais da área de Ensino, além das dificulda- cação Profissional e Tecnológica, resolvemos
des sofridas pela adoção de uma outra forma investigar como os mestrandos do ProfEPT, do
de ensino para o qual não estavam prepara- Instituto Federal de Educação, Ciência e Tec-
dos, docentes e discentes passaram a enfren- nologia do Rio Grande do Norte (IFRN), cam-
tar mais um obstáculo: desenvolver um pro- pus Mossoró, enfrentaram os óbices impostos
duto educacional e aplicá-lo em sala de aula pela pandemia.
ou para um determinado público de modo que A investigação foi realizada com discen-
pudesse ser avaliado e, depois, validado por tes matriculados nas turmas cujas entradas
uma banca de especialistas. se deram no segundo semestre dos anos de
Importa destacar que a criação desse pro- 2018 e 2019, ambas diretamente afetadas pela
duto é condição necessária, nesse tipo de pandemia. Para a recolha de dados, optamos
mestrado para a obtenção do título de mestre. pela pesquisa narrativa. Solicitamos àqueles
Esses produtos, que podem ter denominações mestrandos o envio de um texto escrito no
e tipos diferentes – sequência didática, docu- qual narrassem as suas experiências com a
mentário, vídeo, livro, software, dentre outros pesquisa aplicada durante a pandemia. Real-
– devem ser “[...] uma proposta de ação profis- çamos o fato de que, na pesquisa narrativa,
sional que possa ter, de modo mais ou menos há “[...] uma forte característica colaborativa
imediato, impacto no sistema a que ele se di- [...], já que a história emerge por meio da inte-
rige” (MOREIRA, 2004, p. 133). Anos depois, Mo- ração e do diálogo entre o pesquisador e o(s)
reira e Nardi (2009, p. 4) procuraram esclarecer participante(s)” (CRESWELL, 2014, p. 69, grifo
sobre o vem a ser um produto educacional: do autor). Daí o porquê de chamarmos de co-
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zontal de uma estrutura social” (FERRAROTTI, sobre o que nos acontece, aprender a lentidão,
2004, p. 41). escutar aos outros, cultivar a arte do encon-
tro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo
Jovchelovich e Bauer (2002, p. 92) observam
e espaço.
que “[...] a narrativa não é apenas uma lista-
gem de acontecimentos, mas uma tentativa de A experiência é individual e social, visto
ligá-los, tanto no tempo, como no sentido”. A que, nas narrativas, tanto aspectos pessoais
história que o pesquisador obterá é “[...] uma – sentimentos, desejos, projetos etc. – quanto
comunicação estratégica, isto é, uma narrativa sociais – o ambiente, o contexto, forças fatores
com o propósito tanto de agradar ao entrevis- subjacentes – estão presentes. Assim, como
tador, quanto de afirmar determinado ponto, analisam Clandinin e Connelly (2011, p. 27): “as
dentro de um contexto político complexo que pessoas vivem histórias e no contar dessas
pode estar sendo discutido” (JOVCHELOVICH; histórias se reafirmam. Modificam-se e criam
BAUER, 2002, p 101). novas histórias. As histórias vividas e contadas
Segundo Benjamin (1994, p. 205), não se se- educam a nós mesmos e aos outros, incluindo
para a vida do narrador da narrativa que ele os jovens e os recém pesquisadores em suas
conta, pois a narrativa não transmite “puro comunidades”.
em si” tal como um relatório. “Ela mergulha a Nessa direção, Passeggi explica que “[...] ao
coisa na vida do narrador para em seguida re- narrar sua própria história, a pessoa procura
tirá-la dele. Assim se imprime na narrativa a dar sentido às suas experiências e, nesse per-
marca do narrador, como a mão do oleiro na curso, constrói outra representação de si: rein-
argila do vaso”. venta-se”. Desse modo, “a cada nova versão da
Clandinin e Connely (2011, p. 18) veem a história, a experiência é ressignificada, razão
pesquisa narrativa como uma forma de enten-
estimulante para a pesquisa educacional, pois
der a experiência humana em um processo de
nos conduz a buscar as relações entre viver e
colaboração entre pesquisador e pesquisado:
narrar, ação e reflexão, narrativa, linguagem,
“[...] uma verdadeira pesquisa narrativa é um
reflexividade autobiográfica e consciência his-
processo dinâmico de viver e contar histórias,
tórica” (PASSEGGI, 2011, p. 148).
e reviver e recontar histórias, não somen-
Dado esse caráter de ressignificação da ex-
te aquelas que os participantes contam, mas
periência torna-se relevante destacar a dife-
aquelas também dos pesquisadores”.
rença entre vivência e experiência elaborada
Ao narrar, o sujeito reelabora a sua memó-
por Josso (2009, p. 136-137):
ria, ou seja, seleciona as suas lembranças, es-
quece outras, e acrescenta ao evento detalhes As vivências constituem o tecido do nosso quo-
que lhe parecem justos e reais. Por isso, para tidiano. Nem sempre estas vivências ficam na
nossa memória ou propiciam uma ocasião de
Bondía (2002, p. 24), um relato exige um gesto
aprender qualquer coisa recente que vai ficar,
de interrupção:
enquanto recurso novo, daqui para frente [...]
[...] requer parar para pensar, parar para olhar, a experiência é produzida por uma vivência
parar para escutar, pensar mais devagar, olhar que escolhemos ou aceitamos como fonte de
mais devagar, e escutar mais devagar; parar aprendizagem particular ou formação de vida.
para sentir, sentir mais devagar, demorar-se Isto significa que temos de fazer um trabalho de
nos detalhes, suspender a opinião, suspen- reflexões sobre o que foi vivenciado e nomear
der o juízo, suspender a vontade, suspender o que foi aprendido. Todas as experiências são
o automatismo da ação, cultivar a atenção e a vivências, mas nem todas as vivências tornam-
delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar se experiências.
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Em sua obra Experiência de vida e forma- como do sexo masculino). Para preservar as
ção, Josso (2004, p. 39) afirma que a constru- suas identidades entre os membros do grupo,
ção da narrativa exige uma atividade psicos- recomendamos que nos contactassem no nos-
somática em vários níveis, “[...] pois pressupõe so número privado ou por e-mail. Para aqueles
a narração de si mesmo, sob o ângulo da sua alunos que se colocaram à disposição para a
formação, por meio do recurso a recordações escrita, enviamos um texto explicando-lhes a
-referências, que balizam a duração de uma respeito da pesquisa e frisando a sua impor-
vida”. Para a autora, tância. Como alguns pediram orientação sobre
o que deveriam escrever, em específico, levan-
A recordação-referência pode ser qualificada de
experiência formadora, porque o que foi apren- tamos alguns elementos que considerávamos
dido (saber-fazer e conhecimentos), serve [...] relevantes, mas esclarecemos que eles teriam
quer de referência a numerosíssimas situações liberdade de escrever sobre o que considera-
do gênero, quer de acontecimento existencial vam significativo e não precisariam obedecer
único e decisivo na simbólica orientadora de
a um número determinado de páginas. Alguns
uma vida (JOSSO, 2004, p. 40).
alunos enviaram no prazo marcado, outros
As narrativas autobiográficas geram es- posteriormente e outros desistiram de escre-
paços reflexivos como método de pesquisa e ver por razões não esclarecidas.
formação de professores, conforme têm res- Após a leitura dos textos, contactamos os
saltado os estudos de Abrahão (2006), Cunha estudantes e informamos-lhes que eles teriam
(1997), Delory-Momberger (2006), Josso (2004), a possibilidade de fazer ajustes, caso dese-
Passeggi (2011, 2021), Passeggi, Souza e Vicen- jassem, acrescentando ou excluindo algo. Não
tini (2011), Souza (2006, 2008), dentre outros houve nenhum pedido de retirada nem de in-
pesquisadores. As pesquisas com histórias de clusão de parágrafos. Importa informar que
vida oportunizam aos docentes se veem na po- todos os estudantes colaboradores são servi-
sição de “falar-ouvir” ou “ler-escrever” sobre dores públicos e atuam na docência ou como
suas experiências formadoras. técnicos administrativos em instituições de
Nossa opção pelas narrativas escritas de- ensino básico ou superior. Todos assinaram
ve-se ao fato de estas proporcionarem ao pro- um termo de consentimento livre e esclareci-
dutor da narrativa um ouvir a si mesmo ao ler do permitindo a exposição de suas narrativas,
o seu escrito, levando-o a teorizar a própria inclusive, chegaram a ler os trechos recortados
experiência, como ressalta Cunha (1997). Daí o dos seus relatos e que seriam apresentados
porquê de a pesquisadora destacar o caráter neste artigo.
emancipatório dessas escritas, visto que o su- Para a análise dos textos, baseamo-nos
jeito produz a sua formação e determina a sua em Todorov (2006, p. 138) quanto aos seus
trajetória pessoal. comentários acerca da construção de narra-
Para a obtenção das narrativas, fizemos tivas. Para ele,
contatos com os estudantes por meio de um Uma narrativa ideal começa por uma situação
grupo no WhatsApp. Indagamos, inicialmente, estável que uma força qualquer vem perturbar.
sobre a possibilidade da escrita de uma narra- Disso resulta um estado de desequilíbrio; pela
ação de uma força dirigida em sentido inverso,
tiva a respeito de suas experiências acadêmi-
o equilíbrio é restabelecido; o segundo equi-
cas durante a pandemia e garantimos a omis- líbrio é semelhante ao primeiro, mas os dois
são dos seus nomes e gênero (daí o porquê nunca são idênticos. Existem, por conseguinte,
de nos referimos aos colaboradores sempre dois tipos de episódios numa narrativa: os que
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descrevem um estado (de equilíbrio ou de de- Outros estudantes não foram tão explíci-
sequilíbrio) e os que descrevem a passagem de tos com relação a impactos emocionais mais
um estado a outro.
graves, como os apresentados acima, mas, nos
Assim, examinamos as narrativas dos cola- textos, as palavras “desafio”, “aflição”, “medo”,
boradores considerando esses dois momentos: “ insegurança”, “ incerteza” foram frequentes.
o desequilíbrio causado pela pandemia; e a re- Na verdade, esse estado emocional é com-
tomada do equilíbrio, quando são relatadas as preensível haja vista que, em situação normal,
soluções encontradas para dar continuidade à desenvolver uma investigação de mestrado,
investigação e concluí-la. realizar pesquisa aplicada, analisar os resulta-
dos e preparar-se para uma avaliação da ban-
ca examinadora são momentos estressantes.
Desequilíbrios Entretanto, no cenário pandêmico, era ne-
Em todas as narrativas recebidas, encontra- cessário realizar todas essas etapas em meio
mos relatos no tocante aos impactos negati- ao risco de se contaminar; além disso, era pre-
vos causados pela chegada da pandemia da ciso ter criatividade para replanejar as ativi-
covid-19. Alguns colaboradores iniciam o texto dades pensadas antes para serem presenciais
falando dos conflitos e adoecimentos psíqui- e que agora seriam on-line, convidar e con-
cos trazidos pela expansão da doença e pelos vencer os professores e alunos a participarem
casos de óbitos de familiares e pessoas próxi- dessas ações, estar propenso a mudar tudo
mas. Destacamos dois desses textos.3 caso não obtivessem êxito. Ou seja, eram si-
No início da pandemia, foi muito difícil para tuações difíceis, incomuns e que precisavam
mim. Sofri de graves crises de ansiedade, tive ser enfrentadas.
insônia. Passei meses improdutivos, sem escre- É relevante evidenciar que esses estados
ver uma linha sequer da dissertação. Dois cole- emocionais não foram casos isolados, mas
gas meus do mestrado me deram muita força e
partes de um problema que acometeu uma
me ajudaram. E o apoio da minha família tam-
enorme parcela da população mundial e que
bém foi essencial. Já tomava um ansiolítico, há
anos, sob prescrição médica. Com a pandemia, certamente deixará sequelas. Sousa e demais
foi necessário aumentar a prescrição. (Colabo- autores (2021, p. 2) afirmam que a OMS, em
rador 1) 2020, destacou que “[...] a prevalência mundial
Vivenciei momentos de estagnação geral, uma do transtorno de ansiedade (TA) é de 3,6%, o
confusão mental, pensamentos sombrios de que corresponde a cerca de 264 milhões de
medo e desespero por não vislumbrar perspec- pessoas. No Brasil, esse transtorno alcança
tiva de futuro. Para mim, nessa realidade, era 9,3% da população”.
como se eu estivesse vivendo um dia de cada
Rocha e Lopes (2021) enfatizam os dados
vez. Sentia-me uma pessoa no corredor da mor-
de um estudo publicado pelo periódico cien-
te sem saber o dia que deixaria de existir. Den-
tro desse contexto pessimista, toda a produção tífico The Lancet, em outubro de 2021, sobre os
acadêmica ficou paralisada no tempo. Mesmo impactos globais da pandemia no transtorno
antes de ter adquirido o vírus e ter ficado muito depressivo e transtornos de ansiedade. Se-
doente, resolvi parar tudo por completo. (Cola- gundo a pesquisa, em 2020, houve 53 milhões
borador 2)
de novos casos de depressão e 76 milhões
3 Para que o leitor não confunda as citações teóricas de ansiedade, representando altas de 28% e
dos autores em que nos embasamos com as narra-
de 26%, respectivamente, sendo as mulheres e
tivas dos estudantes, preferimos colocar em itálico
estas últimas. os jovens os grupos mais afetados.
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narradores, considerando a relação de inter- conhece que o tempo nos habitua a conviver
subjetividade existente entre o pesquisador e com os infortúnios. Uma fuga? Talvez sim, mas
aqueles: ressaltamos que ele afirma ter ido em busca
de uma saída “por conta própria”, aprofundan-
Ao trabalhar com metodologia e fontes dessa
natureza o pesquisador, antes do que escrever do nas leituras que selecionou como estrita-
intenta compreender o caso a que se dedica a mente necessárias para a escrita do seu texto.
estudar e esse movimento implica uma inter- Logo, a adaptação à nova situação só foi pos-
pretação que extrapola uma leitura linear dos sível com a busca por uma força interior para
dados do que dispõe, exigindo do pesquisador
lutar contra as adversidades, o que podemos
a construção de uma meta-narrativa. O fato de
o pesquisador reconhecer e aceitar, por parte
denominar de “resiliência”, termo muito usado
do narrador, a reconstrutividade da memória hoje em várias ciências e que, por isso, possui
como percepções pessoais da ‘realidade’, que é várias formas de ser conceituado, como indi-
ressignificada ao longo das trajetórias de vida, ca a literatura (CYRULNIK, 2004, INFANTE, 2005,
em virtude de novas vivências e, mesmo, da POLETTI; DOBBS, 2007, SOUZA, 2015).
perspectiva tridimensional do tempo narrativo
O caos se instalou quando o Colaborador 2
[...] não elide que, na interpretação das narra-
tivas, também o pesquisador lhe imprima sen- – que também sofreu adoecimento psíquico em
tido, fundamentado no todo dos elementos de função da pandemia – compreendeu que pre-
que dispõe, pela triangulação do conteúdo das cisava continuar a sua pesquisa, que resultaria
narrativas com o de outras fontes: documentos, num documentário. Mas, “como filmar de for-
narrativas de outras pessoas etc. a interpreta-
ma remota?”. A popularização dos smartpho-
ção do investigador representa uma leitura do
nes resolveu em parte o problema. Os vídeos
material narrado para além das narrativas, no
esforço de compreender o objeto de estudo amadores produzidos pelo público-alvo da
em duas perspectivas: na perspectiva pessoal/ pesquisa geraram um documentário observati-
social do narrador – que representa as indi- vo (NICHOLS, 2005), que se encontra disponível
vidualidades – e na perspectiva da dimensão para professores e alunos de cursos técnicos
contextual da qual essas individualidades são
na área de Pesca, e no repositório Educapes
produto/produtoras.
(SILVA; SOUZA, 2021). Podemos afirmar que tal
Desse modo, nos relatos escritos pelos co- atividade promoveu um “processo de ‘aprendi-
laboradores da pesquisa, percebemos que, em zagemensino’ baseado nos princípios da inte-
meio ao caos, ao medo e à insegurança, houve ratividade, da dialogicidade e da colaboração,
uma reorganização a partir da imaginação e da [ao possibilitar] que os sujeitos se tornem ato-
criatividade, mesmo que pairasse a dúvida se a res e autores de suas histórias de vida e trans-
nova alternativa seria a ideal, se surtiria êxito. formação cotidianas” (AMARAL; ROSSINI; SAN-
Isso posto, entendemos que uma nova ordem TOS, 2021, p. 350, grifo dos autores).
foi projetada com vistas à estabilidade, embo- O terceiro colaborador precisou repensar e
ra não a assegurasse, pois poderia ser apenas alterar todo o seu projeto de pesquisa, inclu-
uma saída momentânea para resolver a crise. sive o público-alvo, de modo a adaptá-lo ao
Cada colaborador, à sua maneira e com a ajuda formato remoto. Mesmo assim, acredita que
do orientador ou de outrem, encontrou uma houve êxito, apesar das dificuldades que os
solução possível para aquele momento. estudantes tiveram em participar assiduamen-
O Colaborador 1 viveu momentos difíceis, te das atividades relacionadas à aplicação do
perdeu parentes próximos e teve a família seu projeto. As ações desse colaborador, como
acometida pela covid-19, inclusive ele. Mas re- as de outros, demonstram que não existe uma
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única via a ser seguida numa pesquisa, como dos pela baixa adesão dos estudantes da edu-
nos ensinou a ciência moderna, mas um leque cação básica à pesquisa, algo justificável caso
de possibilidades. Nesse sentido, a presença, consideremos a forma como se deu a chegada
embora não física, dos professores no caos de uma alternativa às aulas presenciais, e as
que se instalou, era uma necessidade premen- limitações trazidas pelo acesso à tecnologia
te, como observam Ferreira, Presotto e Terra digital. Acrescente-se a isso os impactos emo-
(2020, p. 1672): “dada a urgência em oferecer cionais advindos da expansão das milhares de
apoio e se fazer presente na vida dos alunos contaminações e de mortes divulgadas diaria-
e famílias [...], cada profissional tem buscado mente pela mídia.
ferramentas e estratégias que considera ade- Os comentários dos mestrandos encon-
quadas para suas ações e para aqueles que tram eco em outras experiências de pesqui-
estarão consigo nesse processo”. sadores e em cursos de capacitação. Exem-
O Colaborador 4 comenta a frustração em plo disso é o relato que Cavalcante e demais
não ter conseguido pôr em prática o que foi autores (2021, p. 8) de uma capacitação para
planejado, pois desejava acompanhar presen- técnicos em enfermagem no enfrentamento
cialmente todas as etapas da aplicação do seu da covid-19. Segundo as autoras, os profissio-
produto, fato que demonstra a implicação e o nais de enfermagem tinham pouca ou nenhu-
compromisso do pesquisador com o seu estu- ma vivência com as ferramentas virtuais de
do. Porém, diante da impossibilidade de isso aprendizagem, “[...] além da dificuldade em
vir a ocorrer, reinventou o seu projeto de modo acessar a internet, câmeras e microfones, que
que as tecnologias lhes possibilitaram alcan- interferiram na participação ativa nos fóruns
çar o seu público, mesmo que as imagens não de discussão e chats”.
tivessem a qualidade desejada. Esse cenário impôs a docentes e discen-
Insegurança, medo e dificuldade são pa- tes, em todos os níveis de ensino, a urgência
lavras bem frequentes na narrativa do Co- na continuação de suas atividades escolares,
laborador 5, que precisou, como os demais mas isso só seria possível com redefinições,
mestrandos, refazer seu projeto de pesquisa, ressignificações e reinvenções no processo
mesmo na incerteza dos seus resultados. Pelo de ensino-aprendizagem, agora mediado pelo
que vemos no seu texto, houve muitos impas- computador. Reaprender novas técnicas de
ses para a aplicação do seu produto educacio- ensino, gravar vídeos (alguns docentes pela
nal justamente porque havia sido pensado de primeira vez), usar corretamente as platafor-
uma forma e teve que ser executado de outra. mas digitais, dentre outras formas de abordar
A ansiedade causada pela pouca frequência conteúdos e ministrar aulas foi algo difícil de
dos alunos levou à busca de novas soluções: se realizar, pois, como ressaltam Amaral, Ros-
a gravação de vídeos de aulas síncronas, por sini e Santos (2021, p. 346), a incorporação de
exemplo. Por fim, apesar de ter conseguido fi- plataformas digitais na educação não significa
nalizar o seu trabalho, avalia negativamente as haver interatividade e criação do conhecimen-
práticas pedagógicas mediadas pelas platafor- to. “O silêncio dos microfones dos alunos ou
mas digitais por estas dificultarem um debate a falta de diálogo entre docente e discentes
mais amplo e serem marcadas pela brevidade reforçam a simples transposição do modelo
e objetividade. expositivo de ensino ao mundo digital, e os
Na maioria dos textos, encontramos co- benefícios das interações, em tempo real, são
mentários a respeito dos contratempos gera- reduzidos ao autoestudo”.
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to é não apenas uma justificativa, mas quase Nesses momentos-charneira, o sujeito confron-
um pedido de desculpas ao seu leitor diante ta-se consigo mesmo. A descontinuidade que
vive impõe-lhe transformações mais ou menos
do que foi possível fazer naquele contexto ad-
profundas e amplas. Surgem-lhes perdas e ga-
verso. Esse detalhe é bem explicado por Naca-
nhos e, nas nossas interações, interrogamos o
rato e Passeggi (2013, p. 292, grifos nossos): que o sujeito fez consigo, ou o que o mobilizou
a si mesmo para se adaptar à mudança, evitá-la
No ato de escrita da narrativa, o narrador preci-
ou repetir-se na mudança.
sa não apenas lembrar-se dos fatos passados,
como também construir um cenário, uma trama
Em face do exposto, podemos afirmar que
na qual a história se passa, suas personagens e
as histórias narradas pelos colaboradores são
suas ações. Tem também que pensar em quem
será o leitor dessa história, pois todo texto pres- ricas em recordações-referências, fatos que,
supõe um leitor. E mais: ao escrever, há todo um durante a escrita, foram selecionados, esca-
processo de reflexão sobre a experiência a ser lonados em uma sequência e ressignificados
narrada. Esse é o momento em que são atribuí- para nos serem comunicados. Para nós, fica
dos sentidos e significados ao que se faz.
patente que, malgrado o lado cruel da pande-
Todavia, independentemente da forma mia, esta trouxe, para os colaboradores, mo-
como aconteçam, enfatizamos os vários apren- mentos-charneira, “divisores de água” na vida
dizados trazidos pela pandemia da covid-19. pessoal e acadêmica, pois, as dificuldades vi-
Podemos falar de experiências autoformado- vidas e narradas tornaram-se experiências for-
ras, ou seja, “[...] produzidas por uma vivência madoras ao confrontar o sujeito consigo pró-
que escolhemos ou aceitamos como fonte de prio. Nessa direção, Ferreira, Presotto e Terra
aprendizagem particular ou formação de vida” (2020, p. 1672) comentam:
(JOSSO, 2009, p. 137). Desse modo, observamos No contexto de isolamento social a que fomos
que as narrativas provocam mudanças na ma- submetidas, narrar o que vivemos e fazer cir-
neira como as pessoas compreendem a si mes- cular as reflexões que emergem das práticas
mas e os outros. Elas associam períodos da cotidianas têm sido mais do que um recurso
formativo. A escrita que emancipa e reafirma
existência considerados formadores. Esses pe-
princípios tem possibilitado o diálogo e a par-
ríodos se articulam em torno de “momentos- ceria ao proporcionar encontros e conexões
charneira”,4 termo usado por Josso (2004, p. 67) entre profissionais que não possuem mais o
para designar momentos de reorientação que chão da escola para realizar tais trocas, que
se articulam com “[...] situações de conflito, e/ não contam mais com as conversas de corre-
dores, as trocas de sala de professores, os pe-
ou mudanças de estatuto social, e/ou com re-
didos de ajuda e interlocução tão comuns nas
lações humanas particularmente intensas, e/
brechas do cotidiano.
ou com acontecimentos socioculturais (fami-
liares, profissionais, políticos, econômicos)”. Não queremos, com isso, suavizar os efeitos
Tomemos as palavras de Josso (2004, p. 67) de algo tão perverso como a pandemia, mas
para melhor compreender o que vemos, em não podemos deixar de destacar que ela trou-
termos de autoformação, nos relatos dos estu- xe lições (MORIN, 2021, SANTOS, 2020) e abriu
dantes do mestrado: os nossos olhos para uma realidade pessoal e
social que parecia obscurecida e nos levou a
“‘fazerpensar’ atos de currículos, a partir dos
4 Na obra Experiências de vida e formação, o tradutor
explica, em nota, que os momentos ou acontecimen- quais, docentes e discentes exercitem proces-
tos charneira significam uma espécie de “divisor de sos de interatividade, colaboração e autoria,
águas”, fatos que dividem, separam e articulam as
etapas da vida (JOSSO, 2004, p. 64). flexibilizando as formas de criação do conhe-
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Francisco das Chagas Silva Souza
cimento” (AMARAL, ROSSINI; SANTOS (2021, p. seus limites e de suas capacidades criativas.
347, grifo dos autores). Nesse sentido, pedimos licença, neste espaço,
para citar Souza (2006, p. 142-143), para quem a
narrativa origina-se da dialética entre o passa-
Considerações finais
do e as prospecções do futuro, mas “[...] poten-
Este texto originou-se da nossa curiosidade cializa-se nas reflexões e perguntas do presen-
em conhecer as experiências vividas pelos es-
te em função das aprendizagens, saber-fazer e
tudantes do ProfEPT do IFRN quando da che-
conhecimentos implicados na transformação e
gada da pandemia da covid-19. Considerando o
auto-transformação do sujeito”.
isolamento social e a imprevisibilidade de re-
Desse modo, partimos do pressuposto de
torno às aulas presenciais, procuramos saber
que as experiências provocaram mudanças
sobre os enfrentamentos e as soluções neces-
nos estudantes do ProfEPT do IFRN a partir do
sários para a prática e finalização dos seus tra-
movimento de olhar para si e de perceber a
balhos acadêmicos, sobretudo, quanto à apli-
carência de uma formação adequada para tra-
cação dos seus produtos educacionais, condi-
balhar com alguns recursos midiáticos. Acredi-
ção sine qua non para a conclusão do curso.
tamos que essa “desordem” gerou reflexões e
Quanto ao primeiro questionamento feito
problematizações quanto ao contexto em que
na introdução deste artigo, as narrativas es-
estavam vivendo, mas também quando ao seu
critas pelos mestrandos expressam que estes
futuro profissional e as suas escolhas.
conseguiram executar as atividades relaciona-
Assim, é possível considerar que, mesmo
das ao seu produto educacional, apesar dos
com os impactos trazidos pela pandemia, os
muitos inconvenientes advindos da covid-19.
estudantes do ProfEPT/IFRN/Mossoró, conse-
Para isso, foi necessária a criatividade, a capa-
guiram, com criatividade, mudanças de rumos,
cidade humana de criar e superar as limitações.
auxílios de colegas e até com improvisações,
Ademais, ponderando acerca da possibili-
realizar a pesquisa de campo e aplicá-la, pos-
dade de um crescimento pessoal e profissional,
sibilitando-lhes, ao mesmo tempo, experiên-
mesmo com os muitos transtornos causados
cias formadoras e abertura ao novo.
pela pandemia, as narrativas escritas revelam
uma autoformação não só a partir dos enfrenta-
mentos e das “soluções” criativas encontradas Referências
para os problemas, mas também durante as es- ABRAHÃO, Maria Helena Mena Barreto. As narrati-
critas desses relatos. Acreditamos que as narra- vas de si ressignificadas pelo emprego do método
tivas potencializaram aos sujeitos um encontro autobiográfico. In: SOUZA, Elizeu Clementino de;
consigo mesmos, um caminhar ao encontro de ABRAHÃO, Maria Helena Mena Barreto (Orgs). Tem-
si, um balanço nas suas interioridades. Foram pos, narrativas e ficções: a invenção de si. Porto
Alegre, EDIPUCRS, 2006. p. 149-170.
reveladas experiências, talvez não as melhores,
mas as únicas possíveis naqueles momentos ALVES, Carina Gomes Messias; DEL PINO, José Cláu-
em que se perguntavam: “o que fazer?”; “como dio. A Atuação dos IFs Frente ao Sistema Nacional
fazer?”; “dará certo?”; “terei a contribuição do de Pós-Graduação - um comparativo entre 2008-
público-alvo e dos professores?”; “terei condi- 2014. Holos, Natal, ano 31, v. 5, p. 379-400, maio-jul.,
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Aprovado em: 25/04/2022
SANTOS, Elzanir dos; LIMA, Ildesuite de Sousa; SOU- Publicado em: 30/04/2022
Francisco das Chagas Silva Souza é doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio
Grande do Norte (IFRN/Natal), Programa de Pós-Graduação em Ensino (UERN/IFRN/UFERSA) e Programa de Pós-Gra-
duação em Educação Profissional (Mestrado Profissional em Rede Nacional). Membro do Grupo de Estudos “Trabalho,
Educação e Sociedade” (G-Tres). E-mail: chagas.souza@ifrn.edu.br
206 Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v. 07, n. 20, p. 189-206, jan./abr. 2022