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Roda de Conversas

AS CONTRIBUIÇÕES DA LEITURA DE
ARTIGOS CIENTÍFICOS SOBRE A
PANDEMIA DA COVID-19 PARA A
ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA:
DESMISTIFICANDO FAKE NEWS
Alexsandro Luiz dos Reis1
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Mestre em Ensino de Ciências, Universidade Federal de Ouro Preto, alexreis923@gmail.com

Resumo: A presente pesquisa em andamento, anseia por analisar as


contribuições da leitura de artigos científicos sobre a COVID-19 em uma aula
de biologia. Entendemos, que o trabalho com o gênero científico contribui
para a alfabetização científica dos alunos, além de oportunizá-los a
desmistificar as notícias falsas ou Fake News veiculadas para a sociedade
por meio das mídias sobre a pandemia.
Palavras-chave: Alfabetização Científica, COVID-19, Fake News, leitura.

1. Introdução

Há quase dois anos a população convive com uma “nova” realidade em de-
corrência da pandemia da COVID-19. Medidas de contenção e a não propagação do
vírus como o isolamento social, o distanciamento em locais públicos, bem como o
uso de máscara e a constante higienização das mãos tornaram-se essenciais. Além
disso, recentemente teve início a vacinação com vistas à imunização da população.
A pandemia da COVID-19 também nos mostrou “[...] que a informação se pro-
lifera e circula em uma quantidade e velocidade vultosas.” (BRISOLA; ROMEIRO,
2018, p. 3). Nesse contexto, observamos uma constante veiculação de informações
nos diferentes tipos de mídias sobre a pandemia da COVID-19, que exploravam
desde a sua origem, até as implicações clínicas e patológicas para os seres huma-
nos.
Entretanto, na urgência de se veicular uma informação em “primeira mão” e
com exclusividade, uma grande maioria das notícias sobre a COVID-19 tiveram sua
veracidade questionada, principalmente pelos que possuem expertise na área, como

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acadêmicos e cientistas. Percebemos que o controle do que era veiculado por meio
das mídias foi perdido, disseminando dessa forma as chamadas notícias falsas ou
Fake News para a sociedade.
Portanto, nesse trabalho em andamento pretendemos analisar as contribui-
ções da leitura de artigos científicos sobre a COVID-19 em uma aula de biologia pa-
ra com a alfabetização científica dos alunos. Nesse tocante, também pretendemos
identificar as contribuições dessa leitura para a desmitificação de Fake News sobre a
COVID-19 veiculadas pelas mídias por meio de reportagens.

2. A leitura como promotora da alfabetização científica e a


desmistificação de Fake News
Se por um lado a pandemia da COVID-19 ratificou a importância da comuni-
cação digital, por outro expôs e evidenciou uma proliferação de notícias sem a vera-
cidade comprovada. Bastava um clique e uma notícia falsa ou Fake News era com-
partilhada em segundos. Isso teve consequências drásticas para a sociedade. A de-
sinformação tomou conta de parte da população, e medidas importantes no combate
à COVID-19 foram prejudicadas, trazendo grandes consequências para a Saúde
Pública.
Nessa linha, as Fake News:
[...] e a desinformação têm, a nível global, um impacto profundo que inclui
consequências políticas, econômicas, sociais e ambientais. Estudos recen-
tes mostraram que as mentiras se espalham mais rápido do que a verdade,
estando na base deste fenômeno o grau de novidade e as reações emocio-
nais dos receptores. Independentemente das características individuais dos
agentes disseminadores, verificou-se que há uma maior probabilidade de as
pessoas partilharem o que é falso do que aquilo que é verdadeiro (VO-
SOUGHI et al., 2018).
Logo, controlar o que denominamos aqui de “epidemia da Fake News” é
necessário. E para tal, entendemos que esse combate pode ocorrer nas escolas, no
caso deste trabalho a partir de uma aula de biologia. Acreditamos que com os alunos
informados e preparados, estes terão potencial para discutir e refletir sobre as Fake
News, disseminando informações fidedignas para a sociedade em tempos de tantas
incertezas.

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Sabemos que não é de agora que pairam questionamentos sobre a qualidade
do ensino de ciências e biologia nas escolas de educação básica. São muitos os
questionamentos que indagam desde a concepção dos materiais a ser trabalhados
nas aulas, perpassando por discussões sobre as diretrizes e os conteúdos dos
currículos em ciências e biologia, além da prática pedagógica dos professores nas
escolas.

Para tanto, estratégias voltadas para um ensino de ciências e biologia mais


significativo para os alunos tornaram-se necessárias. E é a partir dessa constatação
que defendemos nesse trabalho a promoção da alfabetização científica. Com um
campo adensado de trabalhos (CHASSOT, 2003; SASSERON, 2015; SCARPA et al.,
2017), entendemos que a partir de suas diretrizes e proposições, a alfabetização
científica levará “a formação cidadã dos estudantes para o domínio e uso dos
conhecimentos científicos e seus desdobramentos nas mais diferentes esferas de
sua vida” (SASSERON; CARVALHO, 2011, p. 60).

Para tal, enfatizamos que no desenvolvimento da alfabetização científica o


professor de ciências/biologia pode planejar atividades pautadas na leitura de
diferentes gêneros, no caso desse trabalho artigos científicos, uma vez que:

[...] é preciso que os cidadãos sejam capazes de, com base em informações
e análises bem fundamentadas, participar das decisões que afetam sua
vida, organizando um conjunto de valores mediado na consciência da
importância de sua função no aperfeiçoamento individual e das relações
sociais. (KRASILCHIK; MARANDINO; 2004, p. 8)
Nesse contexto, ressaltamos que “a aprendizagem em ciências se realiza por
meio da apropriação das linguagens que moldam e configuram os modos de pensar
das ciências” (SILVA; AGUIAR JUNIOR, 2014; p. 802). Ademais, ainda
concordamos com Nigro (2007) que afirma que:

[...] não poderíamos nos furtar a privilegiar a leitura e a escrita se pensamos


em promover a alfabetização científica dos cidadãos. Ou seja, para que os
estudantes não se limitem às discussões de problemas de relevância atual,
para que tenham a oportunidade de apreciar a natureza do conhecimento
científico e da atividade científica, para que tenham acesso à cultura das
ciências, devemos enfrentar a questão de como está sendo trabalhado o
texto na educação em ciências, a sua escrita e a sua leitura. (NIGRO, 2007;

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p. 55-56)
Portanto, acreditamos que por meio da leitura de artigos científicos sobre a
pandemia da COVID-19 nas aulas de biologia, poderemos permitir aos alunos
adentrar no mundo científico. Assim sendo, eles poderão após a leitura, discutir,
debater, refletir, além de formular argumentações sobre as implicações da
pandemia. A seguir, apresentamos a estrutura de como pretendemos desenvolver a
leitura de artigos científicos em uma aula de biologia.

3. Metodologia
Esperamos que a pesquisa possa ser desenvolvida assim que as aulas
presenciais retornarem no estado de Minas Gerais. Reiteramos que todas as
atividades presenciais foram suspensas nas escolas de educação básica,
emergindo-se como estratégia emergencial o ensino remoto.

Acreditamos que o período pós-pandêmico possa ser uma oportunidade para


refletirmos e desenvolvermos parâmetros e diretrizes mais significativas para com os
alunos durante as aulas de ciências/biologia. Desse modo, potencializaremos os
conteúdos por meio do diálogo, em que questões e situações que façam parte da
realidade dos alunos, como as proporcionadas pela pandemia da COVID-19 sejam
discutidas e debatidas. Ademais, ainda pretendemos refinar as habilidades de
leitura, como também a interpretação textual.

Portanto, inicialmente pretendemos separar a turma em três grupos de


alunos. Ressaltamos que a intenção é de desenvolver a atividade em uma turma do
3º ano do ensino médio. Entendemos que além de auxiliá-los em aspectos
importantes da alfabetização científica, estaremos proporcionando o contato com um
gênero que certamente estará presente em exames de admissão no ensino superior
como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

Nessa linha, três artigos científicos e três reportagens impressas veiculadas


pelas mídias contendo Fake News serão distribuídas entre os grupos performados.
Salientamos que tanto os artigos científicos, quanto as reportagens possuirão o

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mesmo assunto. No grupo 1 os alunos irão trabalhar um artigo sobre o exame PCR
para a COVID-19 e uma reportagem apresentando uma Fake News sobre as
implicações desse exame. No grupo 2, o artigo versará sobre os efeitos clínicos do
vírus em pacientes criticamente infectados e uma notícia falsa veiculada por meio de
uma reportagem que afirmava que o Chá de Boldo era eficaz no tratamento de
pacientes contaminados pelo vírus. Por fim, o grupo 3 lerá um artigo sobre a
importância da vacinação e uma Fake News que indica que a vacinação atrapalha
a imunização.

Ao final das discussões e debates entre os grupos, os alunos serão


mobilizados a expor suas impressões sobre os artigos e as notícias falsas lidas para
os demais grupos. Finalizaremos a atividade mediando possíveis dúvidas dos alunos
a respeito da COVID-19, ou ainda sobre qualquer outra notícia falsa que possa
surgir.

4. Considerações finais e expectativas


Acreditamos que o presente trabalho possa contribuir para a alfabetização
científica dos alunos nas aulas de biologia. Nesse contexto, entendemos ainda que
auxiliaremos os alunos a aprimorar a prática de leitura e de interpretação textual,
requisitos estes importantes e presentes em exames de admissão no ensino
superior.

Ademais, cremos que a leitura nas aulas de biologia de artigos científicos


pode instigar e mobilizar os alunos a passarem a ler este gênero, e dessa forma
fazê-los adentrar no que denominamos aqui de “enculturação científica”. Outras
contribuições da leitura desse gênero podem vir à tona como a inserção em uma
linguagem científica, a construção e a reflexão de conceitos, bem como a
desmistificação de informações inverídicas disseminadas na sociedade por meio das
mídias, as chamadas Fake News.

Por fim, ansiamos que o desenvolvimento de atividades com os artigos


científicos possam contribuir para com a formação de cidadãos mais críticos e

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reflexivos, cientes de seus direitos e deveres, despertos ainda para as
intencionalidades das informações veiculadas pelas mídias.

Referências
ARENTS, M. et al. Characteristics and Outcomes of 21 Critically Ill Patients With COVID-19 in
Washington State. Tradução de Lucas Augusto Marcon e Rachel Yukie Toyama. UFPR. 7 p.

BIERNATH, A. Boldo melhora os sintomas do coronavírus? Não caia nessa! Veja Saúde, 26 mai. 2020.
Disponível em: https://saude.abril.com.br/blog/e-verdade-ou-fake-news/boldo-sintomas-coronavirus/

BRISOLA, A. C.; ROMEIRO, N. L. A competência crítica em informação como resistência: uma análise
sobre o uso da informação na atualidade. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São
Paulo, Online First, 20 p., jan. 2018.

CHASSOT, A. , 2003. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. 3ªed. Ijuí: Unijuí.

FAKE NEWS sobre as vacinas para Covid-19 podem atrapalhar imunização. Sanar Medicina. 17 ago.
2020. Disponível em: https://www.sanarmed.com/fake-news-sobre-as-vacinas-para-covid-19-podem-
atrapalhar-imunizacao

HADAYA, J. et al. Testing Individuals for Coronavirus Disease 2019 (COVID-19). Tradução de Lucas
Augusto Marcon e Rachel Yukie Toyama. UFPR. 3 p.

KRASILCHIK, M.; MARANDINO, M. Ensino de ciências e cidadania. São


Paulo: Moderna, 2004.

LIMA, E. J. F. et al. Vacinas para COVID-19: perspectivas e desafios. Residência Pediátrica; v 10. n 2. 3
p. 2020.

NIGRO, R. G. Textos e leitura na educação em ciências:


contribuições para a alfabetização científica em seu sentindo mais fundamental. 2007. 290p. Tese
(Doutorado) – Faculdade de Educação, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2007.

PENNAFORT, R. É #FAKE que coletor usado em teste para coronavírus pode provocar dano cerebral. G1,
13 jul. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/fato-ou-fake/noticia/2020/07/13/e-fake-que-coletor-usado-
em-teste-para-coronavirus-pode-provocar-dano-cerebral.ghtml

SASSERON, L. H.; CARVALHO, A.M.P. 2011. Alfabetização científica: uma revisão bibliográfica.
Investigações em Ensino de Ciências, v. 16, n. 1, p. 59-77.

SASSERON, L. H. 2015. Alfabetização científica, ensino por investigação e argumentação: relações entre
ciências da natureza e escola. Revista Ensaio, v.17 n. especial, p. 49- 67.

SCARPA, D. L. et al. O Ensino por Investigação e a Argumentação em Aulas de Ciências Naturais. Tópi-
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SILVA, N. S.; AGUIAR JUNIOR, O. G. A estrutura composicional dos textos de estudantes


sobre ciclos de materiais: evidências de uso
e apropriação da linguagem científica. Ciência & Educação, Bauru, v. 20, n. 4, p. 801-816, 2014.

VOSOUGHI, S. et al. (2018). The spread of true and false news online. Science, 1151(March),1146–1151.

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