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A VOLTA DA EDÍLIA

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Pedro Paulo Vital 11 de novembro de 2018

“Os livros de história que não tragam a verdade sobre 64 precisam ser eliminados”.
(General Aléssio Ribeiro Souto, da equipe de Bolsonaro).

Edília Coelho Garcia foi, na época da ditadura militar, a Presidente de um órgão


denominado “Comissão Nacional de Moral e Civismo” . O órgão, ligado ao MEC, atuava
como um censor na escolha de livros didáticos, vetando tudo o que fosse considerado
“subversivo”, “alheio aos princípios morais” ou aos “princípios cívicos”. Era o tempo do AI-5,
do banimento de professores e da retirada do ensino da Filosofia das escolas. Também foi o
tempo da Lei 5692/1971 , que retirou a História e a Geografia dos currículos, incorporando-
as em uma miscelânea sob o rótulo de “Estudos Sociais”. Era o tempo de professores
polivalentes, “especialistas em generalidades”, que jamais aprofundavam os assuntos
tratados nas aulas e nem podiam, sob quaisquer hipóteses, despertar nos alunos o senso
crítico. A própria Edília Coelho Garcia teve um de seus livros muito usados ​naquela época.
Era um livro de Educação Moral e Cívica onde se podia ler, entre outras barbaridades, que
“no Brasil não existia racismo porque a esposa do Pelé era branca”. O tal livro, que usava
até régua de instrução programada para condicionar os alunos, ainda é encontrado à venda
em “estantes virtuais” e pode ser arrematado por menos de 10 reais.

A volta da disciplina Educação Moral e Cívica vem sendo proposta, há tempos, por
Bolsonaro e seus aliados. A declaração inquisitorial e fundamentalista do general Aléssio,
que fala em “eliminação de livros”, é sintomática e revela os tempos em que o Brasil entrou.
A declaração do próprio Bolsonaro, feita na semana passada, de que irá fazer uma “vistoria

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prévia” nas provas do ENEM, algo nunca ocorrido desde a criação da prova em 1998,
mostra que a censura está voltando. A interferência na escolha de livros didáticos, já
acenada por Bolsonaro, além do projeto “Escola Sem Partido”, que cala os debates e as
críticas nas escolas e coloca o professor como alvo de um ambiente inquisitorial, mostra o
tom do que nos aguarda a a partir de 2019.

Os ataques à educação, já anunciados, poderão vir, inclusive, de atos que não dependem
de aprovação do Legislativo. Orientações quanto ao conteúdo de livros didáticos são
atribuições do Executivo e o programa que levou a ultradireita ao poder fala, textualmente,
em “expurgar a ideologia de Paulo Feire”. Assim, a partir de 2019, é bem provável que “a
educação como prática de liberdade” do educador Paulo Feire seja banida das diretrizes e
conteúdos dos livros didáticos. Tudo indica que a “ideologia de Edília” voltará. Porém, os
tempos são outros. Certamente, não faz mais sentido dizer às crianças que no Brasil não há
racismo porque a mulher do Pelé é branca. Talvez, com a volta dos livros da dona Edília,
haja uma atualização e seja dado como exemplo o fato de ele já ter namorado a Xuxa. Ou
então a nova edição da obra da dona Edília poderá dizer que no Brasil não existe racismo
porque os negros não são pesados ​em arrobas e sim em quilogramas, nas mesmas
balanças dos brancos…

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