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Rio de Janeiro
2024
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Rio de Janeiro
2024
NOTAS SOBRE A EDUCAÇÃO DE PESSOAS COM HISTÓRIA DA
DEFICIÊNCIA NO BRASIL: DO MODELO ‘’ESPECIAL ‘’ PARA
‘’PROCESSOS INCLUSIVOS’’
RESUMO
INTRODUÇÃO
No entanto, a prática diária nas escolas mostra inúmeras dificuldades que vão
muito além do que é garantido pela mensalidade. A ausência de condições para a
educação inclusiva reside na falta das condições mencionadas no parágrafo anterior,
que não sejam especificamente necessidades especiais, mas necessidades
concretas (Gracía, 1998).
Vivendo à margem, dependendo de iniciativas de caridade, foi o solo fértil que deu
origem à filantropia assistencial no universo da educação especial, assumindo, em
grande medida, a educação daquelas pessoas que foram e ainda são mal assistidas
Para o estado. Neste modelo, os recursos estatais são alocados, em forma de
acordos, para a iniciativa privada, que, sobretudo, das instituições filantrópicas, é
responsável pela educação especial.
Segundo Kassar (1998), foi em 1961 quando pela primeira vez, a legislação
brasileira aborda a educação especial. Nesse momento da história política nacional,
a lei dizia que a atenção pessoa com deficiência deve preferencialmente ocorrer no
ensino regular e, concomitantemente, tal legislação procurou garantir apoio financeiro
a instituições privadas considerado eficiente.
Esta perspectiva de atenção não é diferente hoje, uma vez que que é garantido o
direito à matrícula ao aluno com diagnóstico de deficiência no ensino regular e, ao
mesmo tempo, investe-se dinheiro públicas em escolas especiais privadas, para que
essas sejam as responsáveis pelo suporte técnico e profissional, oferecendo
aconselhamento, inclusive para escolas regulares. Isto é o que Kassar (1998:18),
chama de “discurso ambíguo”, pois “propõe atenção ‘integrados’ na rede regular de
ensino, delegados às instituições na administração específica a responsabilidade por
parte dos cuidados, através da 'garantia' de apoio financeiro." Além disso
Kassar (1998) coloca um ponto de extrema importância no debate no que ele diz
sobre filantropia:
A falsa gratuidade deve ser entendida pelo fato de que embora as pessoas que
frequentam ambientes filantrópicos não seriam obrigadas a pagar pelos serviços
prestados (apenas contribuir com quem puder e também com o valor
que desejar), estes locais recebem ajuda governamental para se sustentarem, bem
como também realizando campanhas frequentes de arrecadação de fundos que eles
têm a contribuição da sociedade em geral. Sendo assim, apesar de não cobrarem
pelos seus serviços, as instituições filantrópicas não estão públicas.
Escrevemos neste capítulo uma situação específica, embora não singular, onde o
modelo disciplinar de Educação especial. Refere-se à organização disciplinar dos
tempos e funções em uma instituição filantrópica tradicional no Brasil, com diversas
unidades espalhadas por todo o território nacional, com relativa autonomia
administrativa e pedagógica. Os dados são provenientes de uma pesquisa etnográfica
realizada anteriormente 10 (Gonçalves,2004).
Primeiro passo para acolher uma pessoa com diagnóstico de deficiência mental
em uma escola especial, é a seleção. Consiste numa avaliação do futuro aluno,
realizada pela equipe técnica, além de entrevista com os responsáveis, sobre sua
educação, seu possível diagnóstico, problemas de saúde, complicações (ou não) no
parto, entre outras. Uma vez feita a seleção e a orientação que ela possa indicar (por
exemplo, atendimento psiquiátrico), o aluno aguarda sua vaga passando por
avaliações (Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Psicologia e Pedagogia),
e recebe uma inscrição ou aguardar na lista de espera para poder se inscrever.
A primeira delas é uma turma de Educação Infantil, com crianças de até os seis
anos de idade com qualquer deficiência da qual caracteriza a presença de deficiência
mental, como é habitual em da instituição, além de três turmas de ensino fundamental,
um formado por quem frequenta o ensino regular e recebe atenção paralela na escola
especial, tentando ajudá-los seu processo de escolarização. Os grupos de Educação
Fundamental, por sua vez, são formados por crianças e jovens de sete a quatorze
anos. Depois de completados quatorze anos, os alunos podem ser orientados a
Grupos de Trabalho, Iniciação ao Trabalho, Gabinete Pedagógico, A.L.O.u Orientação
para o Trabalho.
O grupo Idoso é formado por idosos dessa faixa etária. Geralmente em escolas
especiais podemos encontrar alunos acima dos setenta anos de idade. A saída
dessas pessoas do a escola é dada apenas por vontade própria e/ou familiar, estado
de saúde enfraquecido ou morte. A obra está ligada à música, dinâmica de
relaxamento, caminhadas, seções de vídeo e outras atividades recreativas.
Por fim, o grupo de Orientação para o Trabalho. Este é o único grupo que
permanece na escola em período integral, por esse motivo, é oferecido um almoço. O
trabalho com esses alunos tem a visão de seus inserção no mercado de trabalho.
Enquanto isso, dois aspectos são contemplados para a composição desse grupo: o
primeiro é a autorização da família (ou responsáveis); a segunda é ter o “perfil” estar
no mercado de trabalho.
As mulheres desse grupo ajudam nos trabalhos dentro de suas próprias escolas,
como descascar e cortar legumes para as refeições, organizar e limpar as mesas da
sala de jantar, varrer os lanches e às vezes ajudam nos serviços de secretariado,
tarefas tipificadas como “feminina”, o que mostra a reprodução do estratégias de
discriminação de género também na educação especial.
Embora existam especificidades em relação aos grupos, existe uma rotina que
abrange toda a instituição. No momento em que os alunos cheguem à escola até o
início das aulas eles se encontram no pátio ou na sala de jantar (em dias de chuva) e
são acompanhados pelos preceptores. Oito da manhã é o sinal para os alunos e os
professores vão para suas salas de aula. O recreio é dividido em duas partes: uma às
dez horas é dado o sinal para o lanche, e daqui a quinze minutos faça a refeição. Os
alunos têm mais quinze minutos para ficar à vontade, quando costumam ouvir música,
eles conversam, brincam, dançam. Supervisão de alimentação e recreio também é
feito pelos preceptores.
Entre dez e trinta e dez e quarenta e cinco, eles têm o momento de higiene
(escovam os dentes). Nesse momento os alunos vão para o banheiro com a escova
e pasta de dente e a toalha, sendo auxiliado quando necessário, pelo professor da
turma e pelo fonoaudiólogo nessa tarefa. Ao meio-dia, as atividades do período
matinal. Os alunos que estão esperando para sair são supervisionados pelo preceptor,
bem como aqueles que chegam para ter aulas da tarde. Às treze horas começam as
atividades do turno da tarde.
A rotina também inclui outras atividades: duas vezes por semana os alunos têm
aulas de Educação Física e outra aula de Artes. Os grupos também contam com a
atenção de profissionais da Psicologia, Fonoaudiologia e Fisioterapia. Esse cuidado é
realizado em grupo e é a cada quinze dias porque tentamos dar ênfase à atenção
educacional e não clínico, e porque há poucos profissionais para o número de alunos
a serem atendidos.
Nas escolas especiais (estamos falando daquelas onde alunos são diagnosticados
como deficientes mentais) temos dois profissionais responsáveis por trabalhar com a
corporeidade dos alunos: o professor de Educação Física e o fisioterapeuta.
Estas não são questões exclusivas do cenário brasileiro. Em portanto, parece que
aqui podemos perguntar-nos se a “democratização” não pode cumprir outra função, a
de neutralizar as diferenças sociais e convulsões que se originam daí. Assim, outra
questão se torna presente: até que ponto o discurso da construção de uma a
sociedade inclusiva não pode ser visto como um mecanismo de contenção? Ou ainda
mais: podemos realmente falar de uma conquista? Estaremos sendo ingênuos por
acreditarmos em sua existência ou pessimistas por desacreditá-la? Podemos e
devemos pensar num processo dialético, em que conquista e concessão coexistem
no mesmo contexto?
{...} a igualdade como tal tem uma importância na vida política de uma
república maior do que qualquer outra forma de governo. Isto que está
em jogo, portanto, não é apenas o bem-estar da população negra,
mas, pelo menos no longo prazo, a sobrevivência da República.
(Arendt, 2003: 200)
Arendt aponta para um equilíbrio de relações políticas que ainda hoje é bastante
atual: esse equilíbrio precário entre conquista e concessão. Não é por acaso que as
concessões são resultado, precisamente – ou apesar – dos esforços dos movimentos
populares em Brasil. Mas, por outro lado, a concessão torna-se necessária para
garantir a “sobrevivência da república” e as relações de poder que o compõem.
Embora ter direito à escola regular possa significar uma conquista para as pessoas
com deficiência, suas famílias e todos que apostam no movimento de inclusão, por
outro lado, convivem com destruição das condições educacionais, com a falta de
condições real, com a óbvia falta de respeito pela educação, acaba naturalizar aquilo
que deve ser repudiado. Em outras palavras, isso parece ser a sensação: mesmo que
um aluno cego não tenha acesso a materiais em Braille na sua escola; mesmo que o
aluno surdo não conta com suporte linguístico de intérprete de LÍNGUA; por mais do
que as barreiras arquitetônicas tornam a locomoção do aluno com deficiência física;
mesmo que os professores assistentes não sejam contratados; mesmo que não
existam locais adequados para limpeza, rampas, barras de ferro nas paredes, móveis
adaptados e, pior ainda, por mais que o conhecimento seja desprezado, ainda estar
na escola é uma conquista.
Não está claro, portanto, se a reivindicação da Política de inclusão se faz pelo viés
da conquista/concessão ou pelo viés de favor. Ainda assim, mesmo nos termos de
Arendt (1993a), as leis podem nos dar uma falsa ideia de liberdade, uma vez
supostamente não seremos vítimas de interesses individuais (ou de pequenos grupos)
de possíveis governantes. Isto não é uma crítica a democracia e defesa da tirania,
mas de uma tentativa de mostrar que o aparato legal não é tão seguro assim, já que
um governo pode ser autoritário também tendo uma série de leis a serem obedecidas.
No final, “(...) a diferença entre a tirania e o governo autoritário sempre foi que o tirano
governa de acordo com sua própria arbitrariedade e interesse, sendo que o a maior
parte do governo autoritário draconiano é limitado por leis” (Arendt, 1993a: 97), o que
indica que limita o autoritarismo, embora não aponte para liberdade.
Mais uma vez estamos perante a responsabilidade das escolas para uma
sociedade melhor para se viver. Mais uma vez é depositado em crianças e aos jovens
a árdua tarefa de transformar o mundo, como criticou Arendt (2003b).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os processos que visam incluir as pessoas com deficiência nas escolas regulares
propõem-no como uma solução para vários dos problemas do modelo disciplinar da
escola especial. Na verdade, o apostar na coexistência e na pluralidade é democrático
e pode compor um projeto de formação avançada. Por outro lado, espalha-se um
discurso capaz de sensibilizar a todos para a importância de possibilitar àqueles a
quem é atribuída a condição de súditos, a entrada em escolas regulares. Essa
conscientização envolve a mobilização de sentimentos e valores humanísticos, como
o respeito pela diferença, à igualdade de oportunidades, à tolerância; para a
democratização espaços, entre muitos outros.
As condições para inclusão nas escolas regulares enquanto isso, eclipsam uma
certa exibição em relação aos novos alunos em que se refere à transmissão de
conhecimento, à apresentação de mundo (Arendt, 1993b), ao escolher a coexistência
entre diferentes um dos fatores mais importantes do processo. Viver juntos, respeitar,
tolerar, constituem o leitmotiv da educação inclusiva. Também é colocado, a
responsabilidade dos adultos, ao exigir que as crianças sejam os responsáveis pelo
mundo, exigindo que sejam mais tolerantes, fraterno, que construa regras de
convivência para que no futuro em seguida, podemos ser mais felizes.
É verdade que segue o modelo disciplinar como eixo na escolaridade, mas, diluída
na não identidade de aluno, cada pobre também é jogado a favor da sua própria sorte,
uma vez que as condições de objetivos de ensino-aprendizagem estariam garantidas
no novo processo. Em outras palavras, ao se tornarem “sujeitos-alunos”, eles se
sujeitam ao controle da escola neoliberal, à qual é atribuída a responsabilidade
através de suas próprias rachaduras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS