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Personagens:

• Pastor 1 - Mauro
• Pastor 2 - Pedro
• Pastor velho - Leo
• Feiticeiro / Leão - Tony
• Barqueiro / Vacas - Arthur
• Narrador- Pietro

Letras em itálico significam atuação do personagem (denominação


por cor)

Falas
O rio Níger, com 4.184 metros de extensão, atravessa o país de nordeste
a sudoeste, desempenhando o mesmo papel que o Nilo no Sudão ou no
Egito: via de comunicação e elemento fertilizador das terras planas às
suas margens. Assim, a escassa população do país concentra-se no Sul,
sobretudo na fértil planície atravessada pelo Níger. No entanto, credita-
se aos dogons, população de origem sudanesa que vive no planalto de
Bandiagara, a origem dessa lenda.

Narrativa: Há muito que os pastores naquela região esquecida do Mali,


bem na parte central da África, tinham perdido a paciência com aquele
estado de coisas. Um leão vinha atacando seus rebanhos e, nos últimos
dias, três de suas vacas tinham sido mortas.
Mauro: Desse jeito, acabaremos sem rebanho – resmunga sem saber o
que fazer.
Pedro: O pior é que não há muito o que fazer – admite infeliz – Não
podemos tirar os rebanhos do vale e, mesmo que conseguíssemos, nada
nos garante que o leão não viria atrás...
Leo: Podemos arranjar mais homens – opinou o terceiro
Pedro: Duvido muito que conseguíssemos. Existem poucos como nós
dispostos a se colocar entre um leão faminto e sua presa

Narrativa: Realmente parecia não haver nada o que fazer contra aquela
criatura demoníaca que vinha atacando seus rebanhos. Por fim, um deles
tem uma ideia.

Leo: E se fossemos procurar o feiticeiro – Opina


Mauro: A troco de que? - Resmunga
Pedro: Que mal fará? – Contra-Argumentou – Quem sabe ele conheça
algum feitiço ou possua um amuleto que nos ajude a afugentar esse leão
de nós e de nossos rebanhos...

Narrativa: Não havia muito mais o que fazer e naquele dia mesmo o
feiticeiro veio ao vale ver o gado.

Tony (Feiticeiro): Há um meio – Garante ele, misterioso coçando a barba


Os três pastores: há? – A pergunta surge ao mesmo tempo na boca de
todos, com um tom de descrença
Tony (Feiticeiro): Mas nada além de um mês!
Leo: Bom, um mês de proteção é melhor do que nada, não é mesmo? –
Afirma o pastor mais velho e todos sacodem a cabeça
Tony (Feiticeiro): Mas essa magia é bem cara e terá um preço bem alto
para todos...
Pedro: Quanto é? – O feiticeiro apontou para a maior e mais gorda entre
as vacas do rebanho
Mauro: Mas é a vaca mais valiosa que temos! – Protesta um dos pastores
Tony (Feiticeiro): Mas amanhã o leão pode matá-la, e muitas outras, e
você não terão nada. - Os pastores reuniram-se por uns instantes e
discutiram a condição imposta pelo feiticeiro
Leo: Está bem. – Finalmente concordou o mais velho - Ela será sua se
realmente conseguir proteger nosso gado com sua magia

Narrativa (com atuação de Tony (Feiticeiro)):


Feito o acordo, o feiticeiro apanhou uma grande sacola e dela retirou
alguns amuletos, coisa verdadeiramente impressionante, que agitou no
ar, balançou na direção do rebanho e dos pastores, ao mesmo tempo em
que recitava um punhado de incompreensíveis palavras mágicas.
Terminado o trabalho, apanhou o pagamento e rumou para sua aldeia.

Narrativa: Com o tempo e com a tranquilidade retornando ao rebanho e


ao coração de cada um dos pastores, perguntas bem interessantes
começaram a ser feitas.

Pedro: Que leão mais estranho o nosso, não? Caça e mata três dias
seguidos... que apetite!
Mauro: Talvez tenha uma ninhada muito numerosa para alimentar e por
isso cace tanto.
Leo: Talvez. Mas que é estranho

Narrativa: Tais perguntas iam e vinham, mas quase sempre acabavam


esquecidas. A tranquilidade proporcionada pelo feitiço deixara a todos
encantados. A magia do velho feiticeiro, apesar de cara, realmente
funcionava e aqueles dias de paz eram preciosos para todos. Durou um
mês, como ele garantira e, ao fim desse mês, como poucos esperavam, o
leão voltou a atacar.
Narrativa (com atuação de (Arthur: vaca), (Leo: pastor velho) e (Tony:
leão)):
Ao contrário das outras vezes, agora o mais velho entre os pastores o viu,
um animal enorme, de longas e afiadas garras, vasta juba dourada
esvoaçante, derrubando uma das vacas e rasgando as carnes com
incrível rapidez e ferocidade. Ele correu ao seu encontro, brandindo a
longa lança, tentando afugenta-lo. Inutilmente, pois o leão nem sequer
se preocupou em voltar-se e urrar para enfrenta-lo. Depois que a vaca
parou de se debater, arrastou-a para dentro da escuridão e desapareceu.
O alvoroço foi geral. Todos os outros pastores que vieram em seu auxílio
tinham a mesma opinião: deveriam procurar o feiticeiro e pagar-lhe para
manter os leões afastados, mesmo que fosse por mais um mês. Mais uma
vez o feiticeiro foi chamado e mais uma vez levado ao rebanho. O mais
velho entre os pastores ainda chegou a lhe perguntar se não haveria um
feitiço tão poderoso para manter o leão distante por mais tempo, mas o
feiticeiro não lhe deu muitas esperanças.

Tony (Feiticeiro): Eu não tenho poderes para proteger seu rebanho por
mais de três meses. A verdade é que para feitiço tão poderoso eu preciso
recorrer magias muito fortes e dispendiosas
Leo: Não se preocupe. Nós estamos preparados para lhe dar três vacas,
três das maiores e mais gordas.

Narração: E mais uma vez o feiticeiro executou o ritual mágico que viria
proteger o rebanho, dessa vez por mais três meses. Acontece que, feita a
magia, os pastores acharam que o preço dobrado era alto demais...

Pedro: Dar três de nossas vacas maiores e mais gordas? Absurdo!

Mauro: Mataram um leão ainda ontem lá no rio. Talvez tenha sido por


esse motivo que não atacaram o rebanho ontem e não por causa do
feitiço de qualquer um...
Narração (com atuação de (Tony: Feiticeiro)):
Claro que o feiticeiro ficou com muita raiva ao saber que os pastores não
pretendiam cumprir com o prometido, e sua raiva foi tamanha que alguns
pastores, preocupados, chegaram a dizer que seria melhor pagar a ele.

 A maioria, no entanto, considerou que era tarde demais e o melhor a se


fazer seria atravessar o rio Níger e assim mudar o acampamento e o
rebanho para a outra margem, e foi o que fizeram

O feiticeiro foi atrás dele rogando pragas e ameaçando-os com toda


sorte de feitiços, mas não atravessou o rio. Todos estranharam.

Mauro: Por que ele não entra no rio? 


Leo: Alguns feiticeiros perdem os seus poderes nos rios...
Pedro: Então estamos salvos! – Grita entusiasmado
Leo: Não por muito tempo – disse o velho, preocupado - Existem barcaças
que atravessam o rio e eu tenho certeza de que logo ele estará numa
delas

Narração (Com atuação de (Tony: leão e feiticeiro) e (Arthur:


barqueiro)):

Não tiveram que esperar muito. Mal tinham acabado de se estabelecer


num novo acampamento e viram o feiticeiro embarcar numa barcaça.
Além de barqueiro, seu proprietário era conhecido como o patrono do rio.
Possuía poderes mágicos com os quais zelava pelos pescadores das aldeias
ribeirinhas, bem como por todos os que necessitavam atravessar as águas
traiçoeiras do grande Níger. Logo que o feiticeiro embarcara, o barqueiro
notara os seus olhos estranhamente dourados e seus dentes muito
aguçados. Também não lhe escapara aos olhos penetrantes a pele
inquieta do velho, como se por baixo dela houvesse algo como pelo.
A vasta cabeleira dele lembrava a juba despenteada de um leão. O
barqueiro observou-o a viagem inteira e, ao se aproximarem da margem,
notou a sua inquietação, como fungava impacientemente o ar ao
perceber o cheiro do gado. Em dado momento, o feiticeiro chegou até
mesmo um rugido de satisfação. Não um rugido qualquer, mas o rugido
de um...um... um... Leão! Não havia mais dúvida, pensou o barqueiro.
Aquele era o homem-leão que vinha apavorando todas as vilas ribeirinhas
e atacando com tanta ferocidade os rebanhos. Dito e feito. Foi só o barco
se aproximar da margem e feiticeiro saltar para a terra já se
transformando num enorme e assustador leão. O barqueiro sabia que
tinha que fazer alguma coisa. Ao mesmo tempo, acreditava que um animal
tão estranho quanto poderoso como aquele só poderia ser morto de duas
maneiras: com uma bala de metal, disparada por uma arma, ou com uma
seta mágica especial cujo encanto somente ele conhecia. Depois de caçar
e comer mais uma vaca, o grande leão voltou à sua forma humana e
deitou-se à sombra de um enorme baobá para descansar. Dizem as
lendas contadas a seu respeito que foi exatamente ali que um caçador,
certamente enviado pelo barqueiro, o alcançou e o matou com uma
pequena, mas mortal seta mágica.
O fato é que depois daquele dia nunca mais se ouviu falar no leão ou no
velho feiticeiro. Mas também é fato que um pouco depois quem quer que
passasse próximo da grande árvore conseguia ouvir o rugido indignado da
enorme fera, como se ela estivesse ali aprisionada, os rugidos maiores e
mais assustadores assombrando particularmente as noites de lua cheia

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