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Roberto Fendrich1
Francisco Caron Malucelli2
Resumo - De acordo com Chernicharo e Costa (1995), no Brasil, existe uma predominância de privilegiar
as intervenções em fundos de vale de macrodrenagem urbana, com obras de canalização constituídos de
canais fechados. Nos casos de ocorrência de chuvas com tempo de recorrência (Tr) superiores ao da vazão de
projeto (Q), utilizada no dimensionamento do canal, a conseqüência será a extravasão do mesmo. Nessas
situações, um canal fechado terá afogamento da seção transversal, potencializando as enchentes, pelo
controle do escoamento a jusante e desenvolvimento de pressões internas nas paredes, induzindo refluxo
pelas galerias, bocas de lobo, etc, formando verdadeiros “chafarizes”, pelos jatos das águas pluviais. Conclui-
se que, os canais de macrodrenagem urbana deverão ser construídos abertos e, somente na impossibilidade
total, fechados, sob o risco hidrológico de se tornarem forçados e potencializarem as enchentes urbanas.
1. Introdução
1
Professor Titular do Curso de Engenharia Civil e Pesquisador do Instituto de Pesquisa e Assessoria Tecnológica – INTEC, da PUCPR.
Professor Assistente do DHS/UFPR.
2
Estudante do 3o Ano do Curso de Engenharia Civil e Estagiário junto ao INTEC/PUCPR.
Nessa situação, ocorrerá o refluxo das águas pluviais pelas galerias e, observar-se-ão jatos dessas
águas como verdadeiros “chafarizes” jorrando pelas bocas de lobo, nos poços de visita e de inspeção da rede
de galerias de águas pluviais, potencializando sobremaneira, as enchentes urbanas, nos trechos dos canais
construídos com seção transversal fechada.
Finalmente, elencam-se recomendações gerais para o adequado escoamento das águas pluviais em
canais de macrodrenagem urbana.
2. Enchentes Urbanas
As principais alterações que interferem no escoamento superficial das águas pluviais tem como
origem principal a urbanização crescente nas bacias hidrográficas.
Na Figura 1, extraída de PORTO ET ALII (1993), observam-se os inter-relacionamentos dos
diversos processos que ocorrem em uma área de drenagem urbana, ocasionadas pela urbanização das bacias
hidrográficas.
A urbanização, acompanhada da retirada da mata ciliar, remoção da vegetação e
impermeabilização dos solos, altera o escoamento natural das águas pluviais superficiais, com a redução
substancial no tempo de concentração das bacias hidrográficas, em virtude dos sistemas de drenagem urbana,
micro e macrodrenagem, cujas funções são coletar e escoar o mais rapidamente possível as águas para
jusante, acrescendo consideravelmente os volumes de água nos rios, o que potencializa as enchentes.
URBANIZAÇÃO
DENSIDADE DENSIDADE DE
POPULACIONAL CONSTRUÇÕES
AUMENTA AUMENTA
PROBLEMAS DE PROBLEMAS DE
CONTROLE DE CONTROLE DE
POLUIÇÃO INUNDAÇÕES
OLIVEIRA (1998) corrobora com PORTO ET ALII (1993) os motivos que agravam as enchentes,
sobretudo nas áreas urbanizadas, entre os quais elenca:
a) Despejo de resíduos sólidos urbanos (lixo), provocando o entulhamento dos vales e de
quaisquer tipos de drenagem;
b) Eliminação da mata ciliar, provocando erosão contínua e assoreamento dos cursos d’água;
c) Lançamento indevido de esgotos domésticos e industriais;
d) Desmatamentos de extensas áreas, por meios de cortes e queimadas;
e) Execução de cortes e aterros nas planícies de inundação;
f) Retificação, aprofundamentos, desvios e canalização dos córregos;
g) Mineração descontrolada no fundo de vale, carreando sólidos para os córregos (assoreamento
e entulhamento);
h) Aterramento de várzeas marginais nos fundos de vale, causando aumento do escoamento
superficial e retenção das águas de superfície;
i) Ocupação urbana indevida nas margens dos fundos de vale;
j) Ausência de saneamento básico, permitindo o escoamento de pequenas drenagens, águas
pluviais, e até mesmo esgoto sanitário, por meio de valas negras;
k) Barramentos artificiais provocados pelas pontes e bueiros de vias urbanas ou de estradas que
funcionam como diques elevados, em relação aos terrenos adjacentes, dificultando o
escoamento na rede de macrodrenagem.
3. Drenagem Urbana
Canais são obras destinadas a conduzir a água com superfície livre, isto é, sem preencher
completamente a seção transversal dos condutos fechados (Figura 2).
Quanto à conformação, os canais podem ser naturais, revestidos ou impermeabilizados.
Os canais naturais são normalmente usados em zonas rurais, sendo os revestidos ou
impermeabilizados, geralmente, empregados como canais de drenagem em zonas urbanas.
Patm
N.A.
Patm
N.A.
Patm
N.A.
Patm N.A.
y1 v2 Linha d’água
y2 (Superfície Livre)
Z1 Fundo do Canal
Declividade (I)
Z2
Plano de Referência
(1) (2)
2 2
v v
z1 + y1 + 1
= z2 + y2 + = constante2
(1)
2g 2g
Onde: z = cota topográfica; v = velocidade do escoamento; y = profundidade do escoamento e v2/2g =
energia cinética
Figura 3. Características do Escoamento Permanente e Uniforme em Conduto Livre
Para escoamento permanente e uniforme, em canais com superfície livre, existem várias fórmulas
práticas para a determinação das dimensões geométricas, destacando-se a equação de Manning:
1 2 3 12
Q= ⋅R ⋅I ⋅A (2)
n
onde: Q = vazão de projeto (m3/s); (Para um determinado Tr);
R = raio hidráulico (m);
I = declividade do canal (m/m);
A = área da seção molhada (m2);
n = coeficiente de rugosidade (ou de Manning) (Adimensional).
SILVESTRE (1979) define condutos forçados como sendo aqueles em que a pressão interna é
diferente da atmosférica, com as seções transversais sempre fechadas e o fluido as preenche completamente.
As características do escoamento em condutos forçados, aplicando o teorema de Bernoulli, estão
indicadas na Figura 4.
Linha de Energia Total
Z1
Z2
Plano de Referência
(1) (2)
Movimento Uniforme : v1 = v2
h f = (z1 + p1 / γ ) − (z2 + p2 / γ ) (3)
Onde: z = cota topográfica v = velocidade do escoamento
p/γ = energia da pressão interna v2/2g = energia cinética
Na drenagem das águas pluviais, CHERNICHARO e COSTA (1995) citam a existência de três
tipos de concepção para os canais de macrodrenagem urbana : Fechados; Abertos e de Leito Preservado.
A concepção de leito preservado preceitua uma menor intervenção nos cursos de água, evitando o
emprego de soluções estruturais, com a criação de parques lineares ao longo do canal. Esta, sem dúvida, é a
solução mais indicada. Entretanto, é possível de ser adotada somente nas áreas cuja ocupação urbana ainda é
incipiente, ou ainda, nos vales receptores de macrodrenagem urbana, situados em zonas de preservação
permanente.
Outra concepção no tratamento dos fundos de vale da macrodrenagem urbana, são avenidas
sanitárias marginais, ao longo de canais abertos, totalmente executados em concreto armado, ou outros
materiais de revestimento das paredes, conforme ilustrado na Figura 5.
N.A.
Avenida Sanitária Avenida Sanitária
Interceptor Interceptor
de Esgotos de Esgotos
Canal de Macrodrenagem
Patm Patm
N.A. N.A.
Patm
N.A.
p p
Nesta situação, teremos o refluxo pelas galerias de águas pluviais, e, em um primeiro momento,
observaremos jatos das águas pluviais como verdadeiros “chafarizes” jorrando pelas bocas de lobo, Figura
7., e pelos poços de visita e inspeção da rede de galerias de águas pluviais.
N.A.
Canal de Macrodrenagem
4. Conclusão
5. Recomendações Gerais
No caso dos canais de macrodrenagem urbana e preservação dos fundos de vale, destacaríamos as
seguintes recomendações:
1a) Relocação dos moradores das áreas impróprias para a proteção da população contra as enchentes urbanas
e, nas áreas não ocupadas, prever usos possíveis como lazer e recreação por meio de parques lineares,
garantindo a manutenção da flora e da fauna;
2a) Em novos loteamentos e ocupações, respeitar as faixas de drenagem, de forma a evitar invasões e favelas
nas margens dos fundos de vale;
3a) Elaboração de zoneamento das áreas das várzeas, definindo os usos compatíveis, considerando os
aspectos hidrológicos, geológicos, geotécnicos e geomorfológicos;
4a) Nos casos críticos de enchentes urbanas, efetuar desapropriações das áreas e implantar parques
municipais com lagoas para contenção de cheias;
5a) Evitar, na medida do possível, canalizações e retificações de córregos e rios, pois aumentam os gradientes
de velocidade dos escoamentos, potencializando focos de erosão nas margens;
6a) Revegetalização com matas ciliares ao longo dos canais de macrodrenagem das águas pluviais;
7a) Fiscalização e controle ambiental das atividades de mineração e exploração de jazidas, nas áreas de
cabeceiras dos vales receptores de drenagem, possíveis mananciais de abastecimento público, evitando
assoreamentos dos leitos dos canais;
8a) Promoção de maior integração entre instituições públicas, responsáveis pela drenagem urbana, com a
melhoria operacional das condições de fiscalização e controle;
9a) Educação ambiental, em todos os níveis, com relação às questões da macrodrenagem urbana;
10a) Implantação das redes de coleta de esgotos sanitários e de efluentes industriais, para evitar a deterioração
da qualidade das águas pluviais, ou ainda, exalar mau cheiro dos gases pela decomposição e putrefação dos
materiais orgânicos;
11a) Melhoria dos serviços de limpeza pública, evitando o lançamento dos resíduos sólidos urbanos, nos
vales receptores das águas pluviais, para evitar entupimentos na microdrenagem ou ainda, deterioração da
qualidade das águas;
12a) O atendimento às duas recomendações precedentes evitarão as doenças associadas as enchentes urbanas,
em virtude do contato da população com águas contaminadas, onde se destacam: Infecções intestinais,
hepatites, cólera, leptospirose, etc.
Finalmente, cabe salientar que o estudo das áreas de enchentes urbanas, viabilizando a política e o
processo de uso e ocupação do solo, tem caráter multidisciplinar, devendo envolver profissionais de diversas
áreas: Hidrologia; Hidráulica; Saneamento Básico e Ambiental; Geologia; Sensoriamento Remoto;
Arquitetura e Urbanismo; entre outras.
6. Referências Bibliográficas