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Texto de apoio 1

A Planificação na Educação
Introdução
Esta lição, basicamente, constitui revisão do módulo de
“Introdução à Planificação de Educação”, que vimos no período
anterior. Naquele módulo estudámos que o acto de planear faz
parte da nossa história e vida. Na verdade, nós, os seres humanos,
na nossa existência individual e colectiva, sempre manifestamos o
desejo de transformar sonhos em realidade o que nos leva à
actividade de planear. Assim, nesta lição vamos rever todo um
conjunto de conceitos que nos ajudarão a perceber as matérias que
abordaremos adiante, no módulo.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Definir o planeamento;

 Explicar a importância do planeamento em geral e na educação


Objectivos da lição em particular;

 Explicar quais as circunstâncias que tornam a planificação


indispensável.

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No módulo “Introdução à Planificação de Educação” aprendemos
que o acto de planear fazia parte da nossa história e vida. Você
ainda se recorda porque é que dissemos isso? Porque no nosso
quotidiano, sempre enfrentamos situações que necessitam de
planificação o que não quer dizer que o façamos sempre, pelo
menos de uma forma explícita. Efectivamente há actividades que já
pertencem ao contexto da nossa rotina, em que agimos
aparentemente sem um exercício prévio de planificação.

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Reveja a Unidade 04 do Módulo Introdução à Planificação de Educação
Planificação de Educação 9

Na nossa vida, individual e colectiva, no entanto, há situações,


como estudámos no módulo anterior, em que a planificação se
torna um imperativo, sob o risco de fracassarmos nos nossos
propósitos. São exemplo de algumas destas situações: a realização
de actividades que não nos são familiares ou então novas; a
realização de tarefas ou alcance de objectivos complexos; a
necessidade de nos adaptarmos a situações que estão envoltas num
ambiente crítico, envolvendo alto risco ou alto custo; a realização
de actividades em parceria com outros actores, etc.

O que é então a Planificação? Ela é o lado racional da acção.


Tratando-se portanto de um processo de reflexão, abstracto,
explícito que escolhe e organiza acções, antecipando os resultados
esperados. Esta reflexão busca alcançar, da melhor forma possível,
objectivos pré-definidos. PADILHA (2001) citado por Baffi (2002)
vê o Planeamento, no sentido amplo, como um processo que visa
dar respostas a um problema, estabelecendo fins e meios que
apontem para a sua superação, de modo a atingir objectivos antes
previstos, pensando e prevendo necessariamente o futuro, mas
considerando as condições do presente, as experiências do passado,
os aspectos contextuais e os pressupostos filosófico, cultural,
económico e político de quem planeja e com quem se planeja.

Logo, o autor citado percebe o planeamento como um processo de


busca de equilíbrio entre meios e fins, entre recursos e objectivos,
visando o melhor funcionamento de empresas, instituições, sectores
de trabalho, organizações grupais e outras actividades humanas. O
acto de planejar, ainda na perspectiva do autor referenciado, é
sempre um processo de reflexão, de tomada de decisão sobre a
acção; processo de previsão de necessidades e racionalização de
emprego de meios (materiais) e recursos (humanos) disponíveis,
visando a concretização de objectivos, em prazos determinados e
etapas definidas, a partir dos resultados das avaliações.

Então, quais serão os casos em que recorremos à planificação?


Recorremos à planificação nos casos em que a situação o exige,
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isto é, quando lidamos com uma realidade complexa, sistémica,


dinâmica, de enorme importância social, que envolva avultados
recursos humanos, financeiros, materiais, etc. A educação, ou
organização escolar ou sistema educativo, como é evidente,
apresenta estas características, logo, a planificação é um
imperativo, sob o risco do sistema não responder às suas
obrigações, que são as de providenciar serviços de educação à
sociedade, para a promoção do desenvolvimento individual e social
dos países.

TEIXEIRA, (s/d), referindo-se à questão da planificação de


educação, explica que a educação é actualmente concebida como
factor de mudança, renovação e progresso e que, por isso, o seu
planeamento se impõe, como recurso de organização. É o
fundamento de toda a acção educacional. O autor considera,
igualmente, que a inovação ou mudança suscitam resistências e que
o planeamento é também a forma de gerenciar essas mudanças,
para que haja o mínimo de resistências. E, muito importante, o
Planeamento Educacional potencia o sector de Educação,
integrando-o, ao mesmo tempo, no progresso global do país. O que
é então o o Planeamento Educacional?

COARACY, J (1972) citado por TEIXEIRA (s/d) define como


sendo o processo contínuo que se preocupa com o “para onde ir” e
“quais as maneiras adequadas para chegar lá”, tendo em vista a
situação presente e possibilidades futuras, para que o
desenvolvimento da Educação atenda tanto às necessidades do
desenvolvimento da sociedade, quanto às do indivíduo”. A
planificação de educação é, portanto, um processo de abordagem
racional e científica dos problemas da Educação, incluindo
definição de prioridades e levando em conta a relação entre os
diversos níveis do contexto educacional.
Planificação de Educação 11

Sumário
Nesta lição estudámos que a planificação é um processo de
reflexão, abstracto, explícito que escolhe e organiza acções,
antecipando os resultados esperados. Esta reflexão busca alcançar,
da melhor forma possível, objectivos pré-definidos e à ela
recorremos nos casos em que a situação o exige, quer dizer, quando
lidamos com realidades complexas, sistémicas, dinâmicas, de
enorme importância social, que envolvam avultados recursos
humanos, financeiros, materiais, etc. Finalmente estudámos que a
educação ou organização escolar ou sistema educativo, apresenta
essas características e, por isso, nela, a planificação é um
imperativo, sob o risco do sistema não responder às suas
obrigações: providenciar serviços de educação à sociedade, para a
promoção do desenvolvimento individual e social dos países.

Auto-avaliação
Para a sua autoavaliação, responda, preferencialmente em grupo, às
questões que se seguem:

1. Porque é que se afirma que a planificação tem a ver com o


Exercícios “lado racional” da acção?

2. Explique porque é que a educação configura um dos casos


em que, sem planificação, as possibilidades de sucesso são
praticamente inexistentes.
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Comentários
Confronte as suas respostas com os comentários que lhe
apresentamos abaixo. Se na sua resposta você teve em consideração
estes aspectos é porque ela está correcta, mas se não os teve, então,
continue a estudar o módulo e a discutir com os seus colegas.

1. A planificação tem a ver com o “lado racional” da acção


porque ela é um exercício mental, de “pensamento” em que
reflectimos de forma intencional sobre como fazer para
alcançar os nossos objectivos. Portanto, nesse processo
escolhemos e organizamos acções, antecipando os resultados
esperados, buscando alcançar, da melhor forma possível,
objectivos pré-definidos.

2. Uma escola ou um sistema educacional no seu todo, são


realidades complexas, sistémicas, dinâmicas, de enorme
importância social, que envolve avultados recursos humanos,
financeiros, materiais, etc. Sem boas práticas de planificação
não conseguiríamos conjugar todos estes elementos e
característica para conduzir ou orientar a escola ou um sistema
educacional rumo ao alcance de seus propósitos: providenciar
serviços de educação à sociedade, para a promoção do
desenvolvimento individual e social dos países.
Planificação de Educação 13

A Planificação Tradicional
Introdução
Na sessão passada estudámos a planificação educacional e vimos
que ela é um processo de reflexão e tomada de decisão sobre a
acção a ser empregue, para o alcance de objectivos. Nesta sessão,
como forma de introduzir a planificação estratégica, a nossa
abordagem vai centrar-se particularmente na planificação
tradicional, onde teremos a oportunidade de abordarmos as
limitações que ela carrega consigo.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Explicar o contexto de surgimento do planeamento tradicional;


 Caracterizar o planeamento tradicional e
Objectivos da lição
 Indicar as limitações do planeamento tradicional.

INA (s/d) explica que o conceito de planeamento estratégico vem


do meio militar e só na década de 60 é que foi adoptado pelas
empresas, com vista a reforçar a competitividade, “em
consequência das suas dificuldades de desenvolvimento, face à
evidência das limitações do planeamento tradicional” (INA,
s/d:29). Efectivamente, o paradigma de planeamento tradicional
caracteriza-se por possuir um elevado nível técnico e de se basear
em modelos matemáticos sofisticados. Ele parte do pressuposto de
que é possível fazer a previsão perfeita e quantificar os fenómenos
sociais, não tem em conta os actores sociais, ou seja, a
complexidade das relações sociais que se desenvolvem na
organização.
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Segundo SILVA (s/d: 6), citando SANTANA et al (1986), este tipo


de planeamento, em termos de contexto de surgimento, emergiu
com a crescente secularização do conhecimento, a diversificação da
estrutura económica e racionalização do trabalho. Igualmente,
contribuiu para o seu surgimento a crescente burocratização das
entidades económicas, processo que foi acompanhado pela
“tecnificação”, isto é, pela crescente aplicação da ciência (com
carácter disciplinar ou especializado) no quotidiano.

O planeamento tradicional, ainda segundo explicação de SILVA


(s/d), tem um enfoque racional ou normativo, dado que subentende
que o homem necessita de prescrições e normas para regular as
suas acções. Assim, ela vai ser uma planificação muito prescritiva,
indicando minuciosamente aos actores organizacionais “o que” e
“como fazer”, independente de valores e da motivação deles.
Portanto, trata-se duma planificação com forte carácter burocrático,
no sentido em que ela se processa de “de cima para baixo” e se
baseia no método racional (linearidade das etapas). Enfim, trata-se
de uma planificação mecânica, marcado pela concepção
tecnocrática e economicista.

E como será que este paradigma de planificação olha para a figura


do planificador? Ele é visto técnico ou perito, cuja preparação
exige “objectividade” científica para a tomada de decisão e também
que ele possua conhecimento e domínio de estratégias e técnicas
específicas.

Como você já se deve ter apercebido, esta planificação é


“problemática”, no sentido em que possui limitações. Quais serão,
no seu ponto de vista, algumas dessas limitações? Entretanto
vejamos algumas.
Planificação de Educação 15

a) Limitações da planificação tradicional

Então, tendo em conta a caracterização acima, a planificação


tradicional, também conhecida como clássica, caracteriza-se por ser
praticada a partir de uma visão fraccionada ou parcial da realidade,
tornando-se, portanto, isolada, fragmentada. Noutros termos, é uma
planificação que não tem em consideração o todo organizacional,
mas partes específicas da organização e, também, não leva em
consideração a dinâmica social, quer dizer, não pondera
convenientemente o comportamento dos actores, influenciado por
variáveis de natureza cultural, psicológica, política, etc.

Esta planificação apresenta, por conseguinte, as seguintes


limitações:

1. É uma planificação rígida, inflexível. Ela não prevê


modalidades de ajustamentos, caso se mostrem necessários.
Portanto, é um tipo de planificação para funcionar num mundo
ideal, sem crises, sem contingências em que tudo acontece
como deveria acontecer. E nós sabemos que a realidade não é
bem assim! Por isso, é razoável afirmar que os planos que
resultam desta planificação servem mais para se dizer que há
planificação, legitimando assim as actividades realizadas do
que para, deveras, guiar os actores organizacionais.

2. Reflecte esta planificação, em geral, a realidade ou a visão dos


que planeiam (gestores, dirigentes) e não de todos os actores,
particularmente dos actores dos escalões mais baixos. Idem,
não tem em consideração o ambiente externo em que a
organização está inserida.

3. Relacionado com a anterior limitação, os planos que resultam


desta planificação são aplicados mecanicamente,
rotineiramente, sem um exercício de reflexão. São planos
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relativamente fáceis de aplicar a curto prazo, mas vão-se


mostrando cada vez mais inadequados com o passar do tempo.

4. Estes planos até podem levar ao alcance dos objectivos, mas


não promovem a mudança qualitativa da organização; muitas
vezes, mesmo tendo sido alcançados os objectivos, verifica-se
mais tarde regressão ao estado anterior.

Sumário
Nesta lição estudámos que o planeamento tradicional tem um
carácter racional, prescritivo, burocrático portanto, sem a
necessária consideração dos aspectos socioculturais e surgiu nas
organizações com a burocratização das mesmas, o que foi
acompanhado pela “tecnificação”, isto é pela crescente aplicação
da ciência, cada vez mais com carácter disciplinar ou especializado.
Esta planificação, entre outras, apresenta como limitações o fato de
ser rígida, inflexível, dela resultarem planos para serem aplicados
mecanicamente, sem um exercício de reflexão e, finalmente,
reflecte mais a realidade ou a visão dos que planeiam e não dos
actores organizacionais e, como corolário, ela não promove
mudanças qualitativas na organização.
Planificação de Educação 17

Auto-avaliação
Para a sua autoavaliação, responda, preferencialmente em grupo, às
questões que se seguem:

Exercícios 1. Refira-se ao contexto de surgimento da planificação do


planeamento tradicional.

2. O planeamento tradicional tem poucas possibilidades de


promover mudanças qualitativas nas organizações. Explique
porquê.
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Comentários
Confronte as suas respostas com os comentários que lhe apresentamos abaixo. Se na
sua resposta você teve em consideração estes aspectos é porque ela está correcta, mas
se não os teve, então, continue a estudar o módulo e a discutir com os seus colegas.

1. Quanto ao contexto de surgimento, a


planificação tradicional apareceu com a
burocratização das organizações, processo que foi
acompanhado pela crescente secularização do
conhecimento, que por sua vez pressupôs a
“tecnificação”, isto é, pela crescente aplicação da
ciência, com carácter disciplinar ou especializado.

2. O planeamento tradicional tem poucas


possibilidades de promover mudanças
qualitativas nas organizações na medida em que
ela é uma planificação muito matemática,
“idealizada”, ela tem a crença de que é possível
fazer previsões perfeitas e de que se podem
quantificar os fenómenos sociais. Quer dizer, não é
uma planificação que parta do princípio de que os
sujeitos do plano são homens, daí ser importante
considerar os seus valores, crenças, motivações,
entenda-se a complexidade das relações sociais que
se desenvolvem na organização. Outrossim, é uma
planificação que não visualiza convenientemente o
todo organizacional e a relação da organização,
como um todo, com o macro meio onde a
organização se insere. Em síntese, esta
planificação não alcança a complexidade da
organização!

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