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CAPÍTULO 1 • PLANEJAMENTO E DIDÁTICA

Conhecendo os termos

Introdução
Para você reconhecer os termos planejamento e didática como fundamen-
tais no cotidiano educacional e inserir os termos no contexto de sua formação
e atuação, deve rever o material utilizado nas disciplinas Fundamentos da
Educação: Filosofia e Sociologia da Educação, estudadas no primeiro período
de seu curso; Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem e História
da Educação, estudadas no segundo período e, por fim, rever o material da
disciplina Política Educacional e Gestão Escolar, estudada no terceiro período.
Essas revisões são importantes, pois todas essas disciplinas abordaram, à sua
maneira, os termos planejamento e didática, proporcionando-lhe, assim, conhe-
cimentos para você continuar a caminhada.
De acordo com o Dicionário Aurélio (2004), planejamento é o ato ou efeito
de planejar, isto é, fazer um plano ou uma planta de traçar; também é o trabalho
de preparação para qualquer empreendimento, segundo roteiro e métodos deter-
minados; bem como é a elaboração por etapas, com bases técnicas, de planos
e programas com objetivos definidos. Baseados nessas definições, podemos
perceber que planejar é uma arte, por isso várias pessoas afirmam que quem
faz um bom planejamento já realizou 50% das tarefas a serem desenvolvidas.
A didática também é considerada por alguns estudiosos como uma arte, já
outros a consideram uma técnica. No campo educacional, ambos dependem
um do outro, isto é, o planejamento é fundamental para a didática e a didática
depende de um planejamento constante. Neste capítulo, veremos os diversos
conceitos atribuídos a esses termos.

1.1 Planejar em educação


O ato de planejar é um dos grandes diferenciais entre os seres humanos
e os demais animais, tendo em vista o desejo de transformar sonhos em reali-
dade. Em nosso cotidiano, vivenciamos inúmeras situações que necessitam de
planejamento, desde a simples decisão sobre qual roupa usar pela manhã até a
decisão de que horas dormir. No entanto esse planejamento diário nos escapa
como processo, porque o fazemos de forma mecânica. Mas, se vamos oferecer
um almoço mais requintado, optamos também por fazer um planejamento mais
detalhado para que nada dê errado, não é mesmo?

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Já no nosso cotidiano profissional, não podemos agir mecanicamente.


Devemos estar atentos ao planejamento desde as mínimas ações. Se pensarmos
nas instituições educacionais como grandes empreendimentos, perceberemos o
porquê da necessidade da preocupação com o planejamento.
As ideias que envolvem o planejamento não são recentes no cotidiano
escolar, há muito tempo elas permeiam as discussões nas escolas. No entanto
um dos complicadores para o exercício da prática de planejar parece ser a
compreensão de conceitos e o uso adequado deles.
O planejamento deve ser uma busca de equilíbrio entre meios e fins, entre
recursos e objetivos, deve visar ao melhor funcionamento do cotidiano das ativi-
dades humanas. Assim o ato de planejar é processo de reflexão, de tomada
de decisão sobre a ação, de previsão de necessidades e racionalização de
emprego de meios (materiais) e recursos (humanos) disponíveis para a concre-
tização de objetivos, em prazos determinados e etapas definidas, a partir dos
resultados das avaliações (PADILHA, 2001).
Planejar, em sentido amplo, de acordo com Padilha (2001, p. 63), é um
processo que “[...] visa a dar respostas a um problema, estabelecendo fins e
meios que apontem para sua superação, de modo a atingir objetivos antes
previstos, pensando e prevendo necessariamente o futuro [...]”. O planejamento
deve levar em consideração as condições presentes, as experiências passadas,
os aspectos contextuais e os pressupostos filosófico, cultural, econômico e polí-
tico de quem planeja e com quem se planeja.
Podemos concluir, então, que o planejamento é uma atividade de dentro
da educação, pois possibilita que os envolvidos no processo de ensino e apren-
dizagem evitem a improvisação, prevejam o futuro, estabeleçam caminhos
que possam nortear mais apropriadamente a execução da ação educativa e
prevejam o acompanhamento e a avaliação da própria ação.
Ao pensarmos nos conceitos que permeiam a ação educacional, podemos
dividir os conceitos em:
t Planejamento educacional – Parra citado por Sant’Anna e outros (1995,
p. 14) o define como
[...] processo contínuo que se preocupa com o “para onde ir” e
“quais as maneiras adequadas para chegar lá”, tendo em vista a
situação presente e possibilidades futuras, para que o desenvolvi-
mento da educação atenda tanto as necessidades da sociedade,
quanto as do indivíduo.

t Planejamento do sistema de educação ou plano educacional – “[...] é o


de maior abrangência (entre os níveis do planejamento na educação
escolar), corresponde ao planejamento que é feito em nível nacional,
estadual e municipal” (VASCONCELLOS, 1995, p. 53). Esse tipo de
planejamento incorpora as políticas educacionais.

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t Planejamento curricular – é o “[...] processo de tomada de decisões


sobre a dinâmica da ação escolar. É previsão sistemática e ordenada
de toda a vida escolar do aluno” (VASCONCELLOS, 1995, p. 56). Essa
modalidade de planejar constitui um instrumento que orienta a ação
educativa na escola e tem preocupação com a proposta geral das expe-
riências de aprendizagem que a escola deve oferecer ao estudante, por
meio dos diversos componentes curriculares.
t Planejamento de ensino – é o processo de decisão sobre atuação
concreta dos professores, no cotidiano de seu trabalho pedagógico,
envolve as ações e as situações, em constantes interações entre professor
e alunos e entre os próprios alunos (PADILHA, 2001).
t Planejamento escolar – “é um processo de racionalização, organização
e co ordenação da ação docente, articula a atividade escolar e a proble-
mática do contexto social” (LIBÂNEO, 1994, p. 221).
t Planejamento político-social – tem como preocupação fundamental
responder às questões “para quê”, “para quem” e também com “o quê”.
A preocupação central é definir fins, conceber visões globalizantes e de
eficácia. Esse tipo de planejamento serve para situações de crise e em
que a proposta é de transformação a médio prazo e/ou longo prazo.
t Planejamento operacional – tem a preocupação em responder às
perguntas “o quê”, “como” e “com quê”, trata prioritariamente dos
meios, abarca cada aspecto isoladamente e enfatiza a técnica, os
instrumentos. Para isso, centraliza-se na eficiência e na busca da manu-
tenção e do funcionamento. Tem sua expressão nos programas e, mais
especificamente, nos projetos.
Podemos perceber, então, que o planejamento não é tarefa para um dia
específico na escola, ou mesmo para uma semana no início do ano letivo, mas
deve ser um trabalho constante que acompanhe todas as atividades cotidianas.
Depois de compreenderemos o que é o planejamento, passemos para o
conceito de didática. Fique atento!

1.2 Didática: conceito


O termo didática deriva de uma expressão grega techné didaktiké, que pode
ser traduzido por arte ou técnica de ensinar. Enquanto adjetivo, o vocábulo refe-
rido origina-se do termo didásko que indica a característica de realização lenta
através do tempo, própria do processo de instruir. Observamos, com isso, dois
elementos importantes:
t didática está entre a arte e a técnica;
t como ação humana, a didática é revestida de temporalidade.

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O objetivo fundamental de didática como ciência é ocupar-se das estraté-


gias de ensino, das questões práticas relativas à metodologia e das estratégias
de aprendizagem. Porém didática não se restringe apenas a isso. Sua busca
de cientificidade se apoia em posturas filosófico-sociológicas como o funciona-
lismo, o positivismo, assim como o formalismo e o idealismo. É possível dizer
que a didática, enquanto disciplina, funciona como o elemento transformador
da teoria em prática.

Uma das ideias que comumente é associada à didática é que ela é apenas
uma orientação para a prática, uma espécie de receituário do bom ensino. No
entanto essa ideia deve ser descartada, pois a didática deve conviver com a
dupla feição: teórica e prática. Dessa forma, podemos afirmar que é um eixo da
formação profissional de todo docente.

Um esclarecimento sobre o foco da didática relacionada ao ensino: o foco


da didática é o de produzir aprendizagem, isto é, a didática instrumentaliza
o professor com recursos para aprimorar o sucesso do processo de ensino
e de aprendizagem. Portanto não podemos pensar o ensino sem a aprendi-
zagem. Com isso, aquela fala comum nas salas dos professores, “eu ensinei,
o aluno que não aprendeu”, deve ser revista, pois, depois dos estudos de
Piaget, não se pode mais entender o ensino como a simples apropriação de
um conteúdo, de uma informação, de um conhecimento ou de uma atitude.
A didática trata do ensino que implica desenvolvimento e melhoria, não se
limita ao avanço cognitivo intelectual, mas envolve progressos na afetividade,
na moralidade e na sociabilidade, por condições que são do desenvolvimento
humano integral.

Vimos, portanto, que o professor não pode abrir mão da didática no seu
dia a dia, bem como tem de fazer do planejamento um momento que realmente
oportunize refletir sobre todos os passos do processo de ensino e aprendizagem
que desenvolverá ao longo do ano letivo.

No próximo capítulo, veremos os dois planejamentos mais próximos do coti-


diano docente: o plano de ensino e o plano de aula.

Resumo
Neste capítulo, tivemos a oportunidade de trabalhar com os termos didática
e planejamento, com o intuito de inseri-los no nosso cotidiano docente. Discutimos
sobre o planejamento em educação e observamos as diferenças e as inter-rela-
ções entre planejamento educacional, sistema de educação (plano educacional),
planejamento curricular, de ensino, escolar, político-social e operacional. Em
seguida, definimos a didática por meio do estudo do termo, trazendo-o para a
realidade, assim tivemos a oportunidade de verificar como a instrumentalização
didática pode colaborar para o cotidiano docente.

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Atividades
1. Leia o trecho a seguir com atenção.
Em todas as experiências brasileiras de planejamento, os planos, bem
ou mal, ligavam-se à política de educação expressa ou pressuposta nos
textos das Leis de Diretrizes e Bases. Na atual Constituição Federal, a
obrigatoriedade do plano – a ser instituído por lei – ganha uma auto-
nomia que sugere uma nova alteração conceptual do termo. Em 1968,
dizíamos que o estabelecimento de um plano de educação implica,
preliminarmente, a definição de uma política educacional. [...] Nesses
termos, um plano de educação se define como um conjunto de medidas
de natureza técnica, administrativa e financeira – a serem executadas
num certo prazo – e selecionadas e escalonadas a partir de uma política
educacional (AZANHA, s/d, s/p).

A partir do texto, sobre o plano educacional (planejamento do sistema de


educação) pode-se afirmar que
a) dispensa as diretrizes de uma política educacional desde que técnica e
politicamente bem formulado.
b) uma política educacional é variável, anterior a qualquer plano educa-
cional e obrigatoriamente deve ser instituída por lei.
c) um plano educacional não guarda relações com determinações mais
amplas e gerais.
d) um plano de educação ou de ensino solicita uma clara política
educacional.

2. Ao discutir a importância da didática neste capítulo, rejeitou-se uma


concepção que compreende a didática como mero instrumento, pois se acre-
dita na necessidade de um trabalho com a didática constituída
a) pela justaposição de duas dimensões, a das relações humanas e a da
política do processo ensino-aprendizagem.
b) eminentemente pela dimensão política e pela negação da dimensão
técnica do processo ensino-aprendizagem.
c) pela multidimensionalidade do processo ensino-aprendizagem.
d) pela superposição das dimensões técnicas e das relações humanas do
processo ensino-aprendizagem.

3. Como vimos, o conceito de didática mudou ao longo do tempo. Hoje, a


didática pode ser identificada como
a) mediação entre o fazer pedagógico e o contexto social, político e cultural
da sociedade.

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b) área de estudo que busca a eficácia do processo de ensino e


aprendizagem.
c) conjunto de metodologias para organizar e otimizar o ensino.
d) campo de pesquisa com vistas a estudar a eficiência do ensino.

4. Por que se pode afirmar que a didática é um eixo da formação do profis-


sional docente? Comente sua resposta.

Comentário das atividades


Na atividade 1, você apontou que a alternativa correta sobre plano educa-
cional ou planejamento do sistema de educação é a (d), pois os planos não
são feitos de forma aleatória, na verdade precisam ser formulados de acordo
com uma política educacional, esta pode se traduzir, por exemplo, na própria
Constituição Federal, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)
ou no Plano Nacional de Educação. A letra (a) está errada, pois, para o plano
educacional, não se pode abrir mão das diretrizes. A opção (b) está equivo-
cada, pois a política educacional não deve ser instituída por lei e sim o plano. E,
por fim, a letra (c) está errada, pois contradiz a verdadeira realidade.
Na atividade 2, você identificou que a alternativa que atende à constituição
de didática preconizada neste capítulo é a (c), tendo em vista que o processo
ensino-aprendizagem não é apenas pedagógico, mas também social, político,
etc. assim, a didática não é uma “receita” para ensinar, mas pode dar uma
relevante contribuição para a multidimensionalidade do processo. A alternativa
(a) está equivocada, pois o termo justaposição indica a superposição de uma
dimensão sobre outra, o que não se aplica. Com relação à alternativa (b), não
se pode negar a importância da dimensão técnica no processo ensino-apren-
dizagem, por isso está errada. A alternativa (d) também é equivocada pela
questão da superposição.
Na atividade 3, você acertou se optou pela letra (a), pois a didática hoje
não é vista apenas como um meio de se ensinar melhor, mas como uma inter-
ligação entre a ação pedagógica e o contexto da sociedade. Essa assertiva
elimina as demais que estabelecem a didática como ação ou estudo pontual no
processo de ensino e aprendizagem.
Na atividade 4, você deve ter feito uma reflexão com base neste capítulo e
nos conhecimentos já adquiridos nas disciplinas de fundamentos da educação,
apontou que a formação profissional docente requer uma sólida constituição
teórica e prática, caracterizando a didática como uma mediação entre as bases
teórico-científicas da educação escolar e da prática docente. A didática é,
portanto, a ligação entre a teoria (os conhecimentos específicos da disciplina)
e a prática.

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Referências
AZANHA, J. M. P. Proposta pedagógica e autonomia da escola. Disponível em:
<http://www.smec.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaço-virtual/coord-
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FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0. Curitiba:
Positivo Informática, 2004.
LIBÂNEO J. C. Planejamento como prática educativa. 7. ed. São Paulo: Loyola,
1994.
PADILHA, R. P. Planejamento dialógico: como construir o projeto político-pedagó-
gico da escola. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2001.
SANT’ANNA, F. M. et al. Planejamento de ensino e avaliação. 11. ed. Porto
Alegre: Sagra: DC Luzzatto, 1995.
VASCONCELLOS, C. S. Planejamento: plano de ensino-aprendizagem e projeto
educativo. São Paulo: Libertad, 1995.

Anotações

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