Você está na página 1de 2

Questão 1 (valor: 4,5 pontos) « E, de fato, a filosofia dizia Cornelius Castoriadis, é

compromisso com a totalidade do pensável. Não apenas, portanto, com a totalidade daquilo
que já foi pensado, mas, sobretudo, com tudo que ainda há para pensar» (Texto 1) Como a
afirmação acima contraria a ideia de que a filosofia é mais que um “conjunto acabado de
ideias”? Por que tal afirmação teria mais a contribuir com a atuação docente?

Partindo do pressuposto de que a “verdade” é tudo o que é possível trazer ao debate público -
passível, portanto, de ser construída, têm-se em mente que a função do educador para com seu
educando é de teor meramente mediador; entre o que é do seu conhecimento e do que ainda
há de conhecer; além de ser construtivo no sentido de possibilitar novas conexões, métodos e,
sobretudo, novos modos de ser. Desse modo, a afirmação acima é coerente ao tratar do papel
da filosofia, que vai na contramão dos dogmatismos, pois elucida que sua motivação é
incessante, seus questionamentos são infindáveis e sua atratividade universal; em suma, a
filosofia, por fazer parte de toda natureza humana, engendra trocas incessantes. Ademais,
Cornelius, de modo mais detalhado, quis atentar para o fato de o ser humano ser incapaz de
conhecer todo o universo de modo absoluto – haja visto não haver resposta para muitas
perguntas que o cercam, e assim nunca cessa de questionar e desafiar as conclusões que o
antecederam, sempre atualizando-as ou redirecionando-as. Partindo disso, infere-se que a única
conclusão de caráter absoluto que podemos tirar das nossas experiências na sala de aula é que
a atuação docente permanece sempre em construção, acompanhando, em certo sentido, os
passos do aluno; o que, consequentemente, desafia ambos a trabalhar com seus afetos e a
construírem a “verdade” de modo dinâmico. Por isso, a atuação do educador recebe a
contribuição de poder visar o crescimento do outro, ao mesmo tempo em que se dá a
possibilidade de viver o seu próprio.

Questão 2 (valor: 4,5 pontos) No texto 2, ao tratar das fake News, o autor mostra como
“Verdade e Conhecimento” são temas vinculados às temáticas da política e da afetividade.
Discuta os efeitos desse contexto sobre a atuação e a formação docente.

Em primeira instância, a utilização política dos conhecimentos tem por finalidade engendrar um
teor de “verdade absoluta” à história. A exemplo disso, têm-se o caso da primeira geração de
antropólogos – denominados posteriormente de “antropólogos de gabinete” - que utilizou o
conceito de “evolução”, cujo sentido funcional não é totalmente atrelado à Origem das Espécies,
de Darwin, para hierarquizar a cultura em selvagem, bárbara ou, no seu estágio classificado
como mais elevado, civilizada. Assim, as academias europeias reforçaram seus ideais
etnocêntricos atribuindo às sociedades diferentes da sua uma posição na hierarquia; sob esse
viés, a atuação política das nações europeias encarregou-se de reforçar os ideais de uma elite
que estava preocupada em calcar e colonizar outras. É importante salientar, por fim, que os
métodos utilizados pelos antropólogos da época eram restritos, em vista de não se importarem
com o ponto de vista do “Outro”, apenas assumindo como verdade aquilo que sabiam com a
sua própria visão. Dessa maneira, os docentes das próximas gerações devem atentar-se às
relações de dominação, policiando-se sempre para apartar de sua sala de aula qualquer
tendência de engendrar uma verdade absoluta, sendo o debate sobre a mesma não
necessariamente nocivo, mas que não deve, como posto anteriormente, suscitar relações de
dominação.
Em segunda instância, mas não desvinculada à primeira, têm-se o papel da afetividade nos
espaços acadêmicos. Essa questão, para mim, é de suma importância, em vista do fato de
ninguém estar livre das suas próprias paixões e interesses, não havendo como retirar do
indivíduo esse aspecto. Afinal, todos estão em busca de algo, seja para suprir suas necessidades
mais animalescas e primitivas, seja para alcançar um ideal mais elevado – podendo esse vir a ser
compreendido apenas como um estágio mais complexo e consciente da primeira. Sendo assim,
cabe ao docente investigar os próprios valores, por meio do viés psicológico, a fim de não
reproduzir em sala de aula meras opiniões, gostos e pontos de vistas próprios; em contrapartida
o mesmo deve ser feito apenas com a finalidade de trocar ideias com os alunos, tornando a aula
mais dinâmica. Sumamente, o docente deve encontrar-se em um ponto de equilíbrio entre as
suas afetividades e a autoanulação.

Você também pode gostar