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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

DEPARTAMENTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA –DELL

LETRAS - PORTUGUÊS E INGLÊS

KAROLINNE DE SOUZA TINOCO

CAMILA DA SILVA MEDEIRO MORAIS

Resenha do Filme “O enigma de Kaspar Hauser” (Alemanha, 1974)

Ibirité, 07 de junho de 2021


KAROLINNE DE SOUZA TINOCO

CAMILA DA SILVA MEDEIRO MORAIS

Resenha do Filme “O enigma de Kaspar Hauser” (Alemanha, 1974)

Resenha do Resenha do Filme “O enigma de


Kaspar Hauser” (Alemanha, 1974), para a disciplina
de Fundamentos da Linguística.

Professora: Jaqueline dos Santos Batista Soares

Belo Horizonte, 07 de março de 2019


1. ENIGMA DE KASPAR HAUSER E A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

O Filme “Enigma de Kaspar Hauser” mostra a história de um personagem


encontrado na cidade Nuremberg, no ano de 1928, aos 15 anos de idade. Kaspar foi
criado em um quarto escuro, sem janelas. Violentado e agredido, recebia apenas
alimentos e água para sua sobrevivência, sem nenhum contato com pessoas,
animais nem com as dinâmicas da vida social.
O jovem não tinha desenvolvido nenhum tipo de habilidade sociolinguística
ou motora. Não falava, andava ou se comunicava verbalmente, apenas dormia por
longos períodos de tempo, não conseguia se manter em pé sobre as pernas. O
garoto é encontrado por um homem que tenta, de maneira rude, ensiná-lo a ficar em
pé, andar e pronunciar algumas palavras como “Eu quero ser cavaleiro”. Sem muito
sucesso, foi deixado com um bilhete no centro da cidade de Nuremberg, onde
permaneceu durante um dia todo da mesma maneira, sem se mexer, nem
pronunciar uma palavra, até que um senhor o encontra e tenta ajudá-lo. Ninguém
sabia de onde vinha e quem era Kaspar Hauser. A única informação fornecida era
apenas com uma carta anônima, destinada ao capitão da cavalaria, que contava
brevemente sua história, com poucos detalhes. Seu comportamento causava
espanto e interesse das pessoas. A concepção social sobre Kaspar era dual.
Identificavam-o como um garoto dócil, simples e gentil, ao mesmo tempo que
imaginavam-o como um monstro, uma espécie de “aberração” não socializada,
carente da normalidade imposta pelos padrões culturais. Havia um bom
relacionamento entre Kaspar e animais, entretanto, possuía medo de galinhas. Se
sentia confortável em ambientes isolados e, ao longo da vida, desenvolveu certas
habilidades devido ao contexto que foi inserido ao longo da vida, como a
capacidade de enxergar com mais aptidão em lugares escuros. Durante muito
tempo foi atração para outras individuos, visto como anormal em um circo. O que
nos leva à reflexão sobre como a atipicidade é vista como uma “deformação” do
indivíduo. O que caracterizava como socialmente aceito era imposto a Kaspar e,
caso seu comportamento se desvia-se deste padrão, era corrigido e reprimido.
Logo após, foi recebido por um professor que iniciou um processo de
socialização. É ensinado a tocar piano, a falar, expor seus pensamentos, escrever e
ler. Kaspar tinha comportamentos semelhantes a uma criança e, de acordo com o
filme, isso o fez aprender rapidamente. Após um ano sofreu um atentado fatal onde
veio a óbito. O personagem não teve nenhuma forma de convívio social ou cultural
durante um longo período da sua existência, não recebeu nenhum estímulo em sua
infância e desenvolveu algumas habilidades após sua socialização. Entretanto,
adquiriu uma fala precária e não compreendia, em sua complexidade, a linguagem
como um mecanismo de comunicação entre os sujeitos.
De acordo com a Chomsky, na hipótese do inatismo, o homem nasce com
conhecimentos linguísticos e não linguísticos, uma capacidade geneticamente
herdada, que na idade correta esses dispositivos são acionados e o indivíduo
começa seu processo de comunicação entre os sujeitos. Levando em consideração
a hipótese do inatismo, Kaspar contava com habilidades comunicativas, pois, para
Chomsky, tal habilidade é intrínseco ao gene. Sendo assim, após contato com o
meio, Kaspar despertaria a habilidade comunicativa, seja oral ou gestual. Porém, o
fato não ocorreu, de acordo com relato da sua história. A teoria do linguista é de
extrema importância para superar algumas limitações da teoria estruturalista.
Entretanto, essa estrutura em comum que os sujeitos possuem, que é para o autor o
órgão da fala, não é suficiente para explicar a questão da aquisição da linguagem.
Desse modo, Chomsky supera sua própria teoria ao entrar em contato com as teses
de Foucault sobre a Filosofia da Linguagem, concluindo que as possibilidades para
o processo de aprendizagem e aquisição da linguagem são infinitas.
Outra hipótese seria a perspectiva construtivista, em Piaget, que afirma que o
desenvolvimento das estruturas cognitivas do conhecimento acontecem através da
interação do indivíduo com o meio, e que esses processo ocorre em fases
específicas. Determinadas habilidades são adquiridas e desenvolvidas em uma
respectiva fase do desenvolvimento infantil. Todavia, a teoria de Piaget é
questionável no momento em que limita uma idade específica para cada período.
Analisando contextos socioeconômicos distintos, é perceptível como o meio irá
interferir diretamente nas fases do desenvolvimento, resultando em desigualdades
no processo de aquisição da linguagem. Kaspar não teve nenhum contato com
meio, comprometendo todas as fases para seu desenvolvimento.
Na hipótese interacionista social, o psicólogo Vygotsky explica que o
desenvolvimento do pensamento e da linguagem ocorre na interação entre
indivíduos. A fala e o pensamento se desenvolvem de maneiras diferentes com
origens genéticas distintas. Para Vygotsky, de acordo com a zona de
desenvolvimento proximal, é nas trocas comunicativas que a criança, sob auxílio de
um adulto, que a linguagem e o pensamento são desenvolvidos. A teoria de
Vygotsky é, talvez, melhor contemple ou explique o processo de aquisição da
linguagem e a socialização de Kaspar.
Ter conhecimento sobre as teorias citadas, analisadas através do filme,
possibilita nos questionar a relevância destes estudos para o processo de
aprendizado e alteridade do sujeito em conjunto com suas relações sociais. E a
conclusão a que chegamos é de que estes estudos fornecem aos profissionais da
educação um melhor entendimento sobre todos os processos de aquisição da
linguagem, a interação social entre sujeitos, as diferentes formas de aprendizagem,
analisando os contextos socioeconômicos e culturais, entre outros. Assim, haverá
melhor facilidade para a adequação de métodos de ensino para cada estudante, de
modo que contemple a realidade que cada um, em sua especificidade, está inserido.

2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Herzog, W. (1974). Jeder für sich und gott gegen alle Alemanha: ZDF Produções
(Original: Cada um por si e Deus contra todos. Traduzido como: O enigma de
Kaspar Hauser).

SANTOS, R. A aquisição da linguagem. In. FIORIN, José Luiz (org). Introdução à


linguística I: objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 1993.

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