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PAJAR
Pan American Journal of Aging Research
http://dx.doi.org/10.15448/2357-9641.2021.1.40528
ARTIGO ORIGINAL
1
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, RS, Brasil.
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factores asociados en una muestra de ancianos aten- presença de uma única doença ou fator de risco.6
didos en el ambulatorio psiquiátrico geriátrico de un
hospital de Porto Alegre, Brasil. O rápido crescimento mundial do número de
Métodos: se trata de un estudio transversal que evaluó idosos ressalta a necessidade de uma melhor
a 69 adultos mayores diagnosticados de trastorno de
ansiedad, atendidos en el ambulatorio psiquiátrico compreensão dos transtornos mentais nessa popu-
geriátrico, de 2014 a 2019. lação. A maioria dos estudos focam em distúrbios
Resultados: la prevalencia de trastornos de ansiedad
fue del 21,9% y la edad media de 73,4 ± 8,7 años. Pre- específicos como depressão e demência, com
dominó el sexo femenino (81,2%), con 5 a 8 años de menos atenção aos transtornos de ansiedade.7
estudio (33,8%), casados (47,7%) y residentes de Porto
Alegre (65,2%). En cuanto a las variables clínicas, la Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de
mayor frecuencia de ancianos no tenía antecedentes Transtornos Mentais (DSM-5), ansiedade pode ser
familiares de enfermedad u hospitalización psiquiátrica.
Del total, el 92,6% refirió tener alguna comorbilidad considerada uma reação natural, útil para proteção
clínica, siendo las enfermedades cardiovasculares e adaptação a situações novas; torna-se patológico
las más frecuentes (69,8%). Los principales fármacos
psiquiátricos utilizados fueron los antidepresivos (66,7%) quando atinge um caráter extremo e generalizado,
y las benzodiazepinas (44,9%). acompanhado por sintomas de medo, tensão, em
Conclusiones: los trastornos de ansiedad son frecuen-
tes entre los ancianos. Por lo tanto, se necesitan más que o foco do perigo pode ser interno ou externo.8
estudios en la población geriátrica y la estandarización O diagnóstico de transtornos de ansiedade em
de las herramientas de evaluación.
idosos é complexo devido às comorbidades clíni-
Palabras clave: anciano, psiquiatría geriátrica, tras-
tornos de ansiedad. cas, o declínio cognitivo e as mudanças funcionais
provocadas pelo processo de envelhecimento.9
No Brasil, estudos mostram altas taxas de
Introdução transtornos de ansiedade em idosos. Um estudo
O envelhecimento representa a consequência com esse segmento, conduzido no sul de Santa
ou os efeitos da passagem do tempo no organis- Catarina, Brasil, demonstrou uma prevalência de
mo (envelhecimento somático) e no psiquismo transtornos ansiosos de 40,5%.10 Outro estudo
(envelhecimento psíquico).1 De acordo com a Or- nacional, realizado na cidade de Porto Alegre,
ganização Mundial da Saúde (OMS), é considera- avaliou o perfil de idosos atendidos em um am-
do idoso o habitante de país em desenvolvimento bulatório de hospital terciário e demonstrou que
com 60 anos ou mais e de país desenvolvido com os transtornos de ansiedade foram o segundo
65 anos ou acima. O Brasil envelhece de forma
2
diagnóstico psiquiátrico mais prevalente (24,8%).11
rápida e intensa. A população idosa brasileira é Em relação à literatura internacional, em uma
composta por 28 milhões de pessoas, número metanálise espanhola 12% dos idosos apresenta-
que representa 13% da população do país. Esse ram algum transtorno de ansiedade.12 Em outro
percentual tende a dobrar nas próximas décadas.3 estudo espanhol, a prevalência de transtornos
A longevidade, porém, não significa neces- mentais em idosos foi de 20%, sendo os trans-
sariamente envelhecimento sadio, nem avanço tornos de ansiedade os mais prevalentes (11%).13
simultâneo e eficiente da qualidade de vida e da Já em um estudo chinês, a prevalência de trans-
autonomia para boa parcela das pessoas idosas. 4
tornos de ansiedade na população de idosos foi
O envelhecimento populacional traz, como uma 8%, sendo mais frequente em mulheres.14
de suas consequências, um aumento na preva- O presente estudo teve por objetivo avaliar a
lência de problemas de saúde característicos prevalência, o perfil e os fatores associados aos
do idoso: doenças cardiovasculares, neoplasias, idosos com transtornos ansiosos de um ambulató-
diabetes, doenças reumatológicas e alguns trans- rio de psiquiatria geriátrica de Porto Alegre, Brasil.
tornos mentais. Polipatologia, poli-incapacidades
5
São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Após atendimento, o médico psiquiatra em
Grande do Sul (PUCRS), um dos hospitais terciários formação discutia o caso com um supervisor,
de referência do município de Porto Alegre, RS, explorando hipóteses diagnósticas psiquiátri-
Brasil. O estudo compreende dados coletados no cas, conforme critérios do DSM-5, e tratamento
período de março de 2014 a maio de 2019. medicamentoso, considerando as características
individuais de cada paciente.
Amostra estudada
Todos os indivíduos com idade igual ou su- Análise estatística
perior a 60 anos atendidos no ambulatório de Os dados foram analisados através do progra-
psiquiatria geriátrica. ma estatístico SPSS, versão 17. As variáveis foram
Critérios de inclusão: descritas através de frequências, médias e des-
vios padrões. O teste qui-quadrado de Pearson
a) ter 60 anos ou mais no momento da foi empregado para testar a associação entre as
consulta;
variáveis categóricas. As variáveis ordinais foram
b) atendimento no Ambulatório de comparadas pelo teste de tendência linear do
Psiquiatria Geriátrica com consulta por qui-quadrado. Os resultados foram considerados
livre demanda;
significativos quando P<0,05.
c) diagnóstico de Transtornos de
Ansiedade, estabelecido através de Aspectos éticos
critérios do DSM-5 (APA, 2014), na pri- Esse trabalho foi aprovado pela Comissão Cien-
meira consulta;
tífica do Instituto de Geriatria e Gerontologia da
d) aceitar participar do estudo por meio da PUCRS (SIPESQ: 8322) e pelo Comitê de Ética em
assinatura do Termo de consentimento
Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica do
livre e esclarecido (TCLE).
Rio Grande do Sul (CAAE 89158218.5.0000.5336).
Critérios de exclusão: Todos os indivíduos incluídos no estudo assinaram
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
a) participantes que não foram diagnosti- Foram respeitados o sigilo e a liberdade do pa-
cados com Transtornos de Ansiedade;
ciente em permanecer no grupo a ser pesquisado.
b) participantes que se recusarem a par- A pesquisa atende às Diretrizes e Normas Regula-
ticipar da pesquisa. mentadoras em Pesquisa, conforme a Resolução
466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
Coleta de dados
Os dados foram coletados durante a primei- Resultados
ra consulta através de um questionário geral Foram avaliados 69 idosos com diagnóstico
aplicado por um médico psiquiatra, no terceiro de Transtornos de Ansiedade e idade média
ano de formação. A duração da entrevista foi de, de 73,4±8,7 anos (mínimo 60 anos e máximo
aproximadamente, 45 minutos. 89 anos). O banco de dados geral compreende
O questionário abrangia informações socio- informações de 315 idosos, sendo a prevalência
demográficas (idade, sexo, estado civil, nível de de transtornos de ansiedade de 21,9%.
escolaridade, procedência, com quem reside, As Tabelas 1 e 2 apresentam a caracterização
situação ocupacional e necessidade de cuidador) sociodemográfica, clínica e o uso de medicamen-
e informações clínicas (queixa psiquiátrica atual, tos desses indivíduos. As maiores frequências
história psiquiátrica pregressa, histórico familiar de transtornos de ansiedade foram observadas
de doença psiquiátrica, internação psiquiátrica, nas mulheres, na faixa etária de 60 a 69 anos, na
comorbidades clínicas e uso de medicamentos faixa de escolaridade de 5 a 8 anos de estudo, no
clínicos e psiquiátricos). estado civil casado e nos que residem em Porto
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Alegre. Quanto à história clínica, a maior parcela Tabela 2 – Caracterização clínica e uso de medica-
dos idosos ansiosos não relataram histórico fa- mentos dos idosos com transtornos ansiosos (n=69)
miliar de doença psiquiátrica e nem terem sido Variáveis n %
internados em unidade psiquiátrica. Do total,
Histórico Familiar Psiquiátrico
92,6% relataram ter alguma comorbidade clínica,
Sim 24 40,7
sendo as doenças cardiovasculares (69,8%) e en-
Não 35 59,3
dócrinas (30,2%) as mais frequentes. Os principais
Internação Psiquiátrica
medicamentos psicotrópicos utilizados foram
Sim 4 5,9
os antidepressivos (66,7%) e benzodiazepínicos
Não 64 94,1
(44,9%), já os medicamentos clínicos foram os
Comorbidades Clínicas
que atuam no aparelho cardiovascular (82,5%)
Sim 63 92,6
e no aparelho digestivo e metabolismo (36,8%).
Não 5 7,4
Tabela 3 – Estratificação por faixa etária dos idosos com transtornos ansiosos e a associação com
variáveis sociodemográficas, clínicas e uso de medicamentos
Faixa Etária
População
Variáveis
60 - 69 70 - 79 80 - 89 P
n (%)
% % %
Sexo
Feminino 56 (81,2) 37,5 32,1 30,4
0,346
Masculino 13 (18,8) 46,2 38,5 15,4
Comorbidades Clínicas
Comorbidades Clínicas
estudo, ocorreu uma tendência de maior utiliza- 3. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
[Internet]; 2018 [citado em 15 jun. 2020]. Disponível em:
ção de benzodiazepínicos na faixa etária dos 70 https://censo2020.ibge.gov.br
a 79 anos. De acordo com Alvarenga et al. (2015),
4. Wong LLR, Carvalho JA. O rápido processo de enve-
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benzodiazepínicos contribui para a grande resis- 5. Subramanyam AA, et al. Clinical practice guidelines
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o uso de medicamentos.34
6. Moraes EN. Atenção à saúde do Idoso: Aspectos Con-
Uma das limitações do estudo é decorrente do ceituais [Internet]. Brasília: Organização Pan-Americana
delineamento transversal, o que impede a avaliação da Saúde; 2012 [citado em 15 jul. 2020]. Disponível em:
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da casualidade e do desfecho evolutivo da popu-
lação estudada. Também, este estudo se limitou a 7. Hybels CF, Blazer DG. Epidemiology of late-life men-
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avaliar a prevalência dos transtornos de ansiedade,
sem estratificar entre os principais subtipos. 8. APA. American Psychiatric Association. DSM-5: Ma-
nual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais.
Porto Alegre: Artmed Editora; 2014.
Conclusão 9. Wolitzky-Taylor KB, et al. Anxiety disorders in older
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Os transtornos de ansiedade são frequentes en-
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tre os idosos, principalmente em mulheres, de 60
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a 69 anos, com menor escolaridade, casados, que siosos e algumas comorbidades em idosos: um estudo
apresentam comorbidades clínicas e fazem uso de base populacional. J Bras Psiq. 2016;65(1):28-35.
de antidepressivos e benzodiazepínicos. Quando 11. Güenter L, et al. Estudo comparativo do perfil de
estratificados pela idade, os idosos ansiosos na idosos atendidos em um hospital terciário: ambulató-
rio de psiquiatria geriátrica e unidade de internação
faixa etária dos 60 anos eram casados e tinham psiquiátrica. PAJAR. 2019;7(2):e34069.
maior escolaridade, enquanto os acima dos 70
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rios mais estudos nessa população, bem como
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