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Na expectativa desse longínquo acontecimento, apenas uma experiência séria foi tentada por
um francês, o engenheiro astrônomo Émile Drouet. Durante anos — a contar de 1946 — participa-
mos, juntamente com uma química, Lucile Berthelot (parenta de Marcelin Berthelot), e um tenente
do Exército do Ar, nos trabalhos de Émile Drouet.
2 Há outras verdades absolutas, mas determinadas pelo comportamento fisiológico «desperto». O riso, as lágrimas, a volúpia
têm resultantes físicas provocadas unicamente pela emoção do sonho. O que poderia provar uma espécie de conivência entre o estado
de vigília e o estado de sonho.
Um quadro sinóptico pregado na parede do nosso gabinete recordava-nos as bases de parti-
da:
O aparelho é libertado, no próprio local, da gravidade por meio de uma dupla rotação que
origina a aceleração centrífuga composta pelo efeito de Coriolis, a qual é perpendicular aos eixos
horizontais de uma bateria de giroscópios dispostos no interior. É necessário, mas basta que essa
força centrífuga seja idêntica à gravidade.
Condição realizável por aplicação da fórmula:
na qual Jc é a aceleração composta, m a massa dos corpos, ou seja P = 0’l, ao passo que 2 ωr ex-
prime a velocidade angular de rotação do corpo, donde se deduz…
Este curto trecho não passa da prefiguração mais sumária de uma exposição que preenche
200 páginas de papel quadriculado!
Esta viagem pelo passado era uma viagem sem regresso. O projeto definitivo previa um toro
astronáutico, antepassado e pai dos discos voadores, já realizado em maqueta, em 1946, conforme o
testemunham diversos jornais4.
Esse toro, impelido do equador pela força centrífuga da Terra, era um engenho perfeitamente
realizável, infinitamente mais racional, mais «inteligente», mais científico do que os Sputniks rus-
sos e os foguetões americanos.
A bordo do toro de Émile Drouet, encontrava-se o radar com modulação de frequência que
formava um todo com o engenho, que se adaptava a ele, permitindo incursões em direção ao Apex
ou ao Ponex sem necessidade de regressar a uma base.
A única base fixa, obrigatória, imóvel no tempo e no cosmos, era a energia do vácuo —
como na gravitação —, que tanto existia no ano +1000 como no ano –250 000.
Poupar-vos-emos aos pormenores técnicos que foram estudados por James Forrestal, para
um projeto de satélite americano, e pelo Centro de Investigações Científicas de Meudon.
Compreender-se-á a importância da descoberta do engenheiro Drouet ao saber que o seu toro
astronáutico de 200 metros de diâmetro (talvez fosse esse o obstáculo, embora a resistência dos ma-
teriais tivesse sido severamente calculada), esse toro, portanto, provido de giroscópios, girava sobre
um lago equatorial e era impelido pela força centrífuga terrestre à velocidade inicial de 108.000 qui-
lômetros por hora, sem aceleração.
Esses 108.000 quilômetros por hora são exatamente a velocidade de rotação da Terra em re-
dor do Sol. Adaptamo-nos perfeitamente a isso.
4 Como, por exemplo, Jeudi-Magazine, n.° 19, de 10 de Outubro de 1946.
Desta forma se achava resolvido, teoricamente, o problema da viagem no tempo.
O milionário Williamson, rei do diamante, foi contactado para a realização do Projeto Drou-
et. O seu custo, em 1946, era de dois bilhões de francos e, não podemos deixar de reconhecê-lo,
com imensos riscos de prejuízos que apavoraram Williamson. Um tal empreendimento não podia
ser encarado senão à escala de uma grande nação.
A vitória de Waterloo
A maqueta do toro astronáutico apenas conheceu uma hora de glória: sobre a superfície
aquática de um areeiro em Vigneux-sur-Seine, em honra dos fotógrafos. Para dizer a verdade, essa
solução da viagem no tempo deixava subsistir numerosos pontos obscuros.
Voltemos à nossa hipótese: os viajantes do tempo vão à Terra do ano de 1815, em Waterloo,
conduzem Grouchy até ao campo de batalha, derrotam Blücher e dão a vitória a Napoleão. Vamos
ainda mais longe: os nossos viajantes dirigem-se ao ano 1796 e assassinam Bonaparte, ainda crian-
ça; Napoleão jamais existirá!
De que maneira conciliar o inconciliável, o que existiu com o que não existiu? Napoleão vi-
torioso ainda que tenha sido batido?
O engenheiro Drouet não queria ouvir falar dessa evidência absurda e encerrava-se no seu
papel de engenheiro astrônomo.
— Falam-me de filosofia — dizia ele — e eu não sou um filósofo!
Tanto assim que para se manter dentro da lógica e levar até ao extremo a experiência, tive-
mos de arquitetar uma teoria fascinante: as harmônicas da cadeia vibratória de vida.
A história dos homens, a vida dos homens, desenrolar-se-ia sobre uma cadeia vibratória de
vida ou cadeia principal.
Sobre essa cadeia — para encarar o caso de Napoleão — encontramos o golpe de estado do
dia 18 Brumário, Bonaparte Primeiro-Cônsul, coroado imperador, a vitória de Austerlitz, a abdica-
ção de 1814, Waterloo, em 1815, e a morte em Santa Helena, em 1821.
Recordemos os antigos postos radiofônicos — os de 1927 — tão pouco seletivos que apa-
nhávamos uma emissão simultaneamente sobre o comprimento de onda de 522 metros e sobre todas
as harmônicas de 522: ou seja 696 metros, 870 metros e 1044 metros, etc. Mantendo-nos nos 1044
metros, podíamos ouvir, ao mesmo tempo, um poema, nos 1044 metros, música espanhola, nos 870
metros, e uma cantora de Ópera, nos 522 metros.
Todavia, a igual potência de emissão, era o poema que dominava as outras percepções, a
música e o canto formavam apenas uma espécie de fundo sonoro.
Ora, é justamente o que se produz com as vibrações: elas têm todas as harmônicas e a cadeia
de vida tem harmônicas em que Napoleão nasce, ganha batalhas, perde outras e morre em Santa He-
lena.
Os viajantes que se desloquem no tempo aterrarão matematicamente sobre uma das harmôni-
cas, as quais são em número infinito. Sobre essa harmônica, tudo se passou como sobre a cadeia
principal, mas em ponteado, se assim se pode dizer, ou ainda de maneira revolucionária, pois de
fato trata-se apenas de uma indução. Se fizermos passar uma corrente própria a essa harmônica,
essa corrente é que vencerá.
Sobre a harmônica número um, os viajantes do tempo poderão, portanto, fazer ganhar Napo-
leão em Waterloo e, em 1821, ele será o senhor do mundo.
Sobre uma harmônica número dois, Bonaparte falhará o seu golpe de estado, será condenado
à morte, perdoado e enviado para o exílio.
Sobre uma harmônica número três, ele falhará ainda no dia 18 Brumário, fugirá e acabará os
seus dias num mosteiro.
Sobre uma harmônica número quatro, os viajantes transportaram com eles um vírus gripal e
Bonaparte morre aos oito anos. Napoleão jamais existirá.
Eis, talvez, resolvido um problema que detém todos os teóricos; regressar no tempo, modifi-
car o desenrolar da história e todavia manter a verdade histórica vivida.
Também aí, os dossiers do engenheiro Drouet e as nossas próprias notas não se adaptam exa-
tamente — bem pelo contrário — ao vocabulário deste livro.
Tratava-se de verdade absoluta, de verdades relativas e de verdades em projeção.
«Admitamos», escrevia o engenheiro astrônomo, «a simultaneidade dos contrários e o prin-
cípio das harmônicas da cadeia da vida, perceptíveis no espaço astral sobre o écran de um radar
com modulação de frequência…»
A viagem no tempo — passado e futuro — segundo o projeto de Émile Drouet, compunha-se
de uma primeira parte tecnicamente realizável (ou que o será num futuro próximo): a viagem em di-
reção ao Ponex e ao Apex com o toro astronáutico. De uma segunda parte incerta: o acordo com o
radar com modulação de frequência. De uma terceira parte hipotética: a teoria das harmônicas.
Alguns serão de opinião que essa viagem no tempo faz apenas parte da ficção científica. É
parcialmente verdade, mas, no entanto, o toro astronáutico de Émile Drouet parece-nos cientifica-
mente mais válido do que os foguetões dos Americanos e dos Russos. É um princípio análogo que,
um dia, destronará o sistema bala de canhão e, então, talvez pensemos em estudar e realizar um con-
ciliador de ondas-tempo.
E se já estivessem entre nós viajantes do tempo? Se eles se dissimulassem no interior do
monte Shasta?
É curioso assinalar, quanto mais não fosse para os arquivos dos tempos futuros, que alguns
teóricos admitem a seguinte hipótese:
Pode admitir-se que dentro de vários séculos, ou mesmo vários milênios, a viagem no tempo
será uma realidade e uma possibilidade prática5.
Ora, se, por exemplo, no ano 5000 os homens puderem regressar ao passado ou percorrer o
futuro, torna-se admissível pensar que eles sentiram o desejo ou a curiosidade de se integrar na nos-
sa época.
Os discos voadores serão talvez os meios de locomoção desses piratas do tempo? Os nossos
sábios, os magnates do capitalismo, do marxismo e de todo o poder social ou político talvez sejam
viajantes do tempo. Eles agiriam quer com objetivos lucrativos, quer como condutores esclarecidos.
Como sabê-lo?
Semelhantes a Moisés, a Gerbert, a Jechielé, a todos os grandes iniciados da história (que tal-
vez fossem homens dos anos 5000, 10.000 ou 100.000 d. C.), eles manteriam secreto o seu caráter,
a sua natureza, os seus conhecimentos superiores de biologia e de física transcendente, conhecimen-
tos que lhes permitiam usurpar por sugestão psíquica (habitando o intelecto consciente ou o sub-
consciente) a personalidade própria dos dirigentes das principais nações, contra vontade, bem enten-
dido, dos seres aos quais profanam o «eu» e dirigem a ação. De qualquer forma, indução ou encar-
nação, a sua identidade física seria indecifrável. A viagem no tempo, realidade de amanhã, dá-nos a
certeza de que os viajantes do futuro estão entre nós.
Identificando-se à conquista do Cosmos, a viagem no tempo, enquanto não for resolvida,
constituirá o muro de defesa que forças superiores parecem ter edificado entre o homem e os conhe-
5Notes sur la Voyage dans le Temps, manuscrito não publicado de Émile Drouet. De notar que, em 1926, o astrônomo russo
Kozyrev escreveu que «a técnica humana permitiria em breve manipular o tempo».
cimentos sacrílegos. Mas o homem não tem medo de nada, nem sequer do seu destino trágico, e,
mesmo que tenha de perder uma segunda vez a sua parte de paraíso, forçará a porta proibida.