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PARECER CFE N.

º 45/72 – CEPSG – Aprovado em 12-01-72

ASSUNTO: A qualificação para o trabalho no ensino de 2.º grau. O mínimo a ser exigido em cada
habilitação profissional (Em anexo a Res. CFE n.º 2/72)

RELATOR: Pe. José Vieira de Vasconcellos

INTRODUÇÃO
1. Tecnologia versus Humanismo?
2. Educação geral e Formação Especial
3. As Habilitações Profissionais
4. Formação, em Nível de 2.º Grau, para o Magistério
5. Os Objetivos
6. Normas para o Sistema Federal
7. Os “Mínimos” Exigidos
CONCLUSÃO
ANEXOS:

A) Resolução
B) Glossário
C) Catálogo de Habilitações

O artigo 1.º da Lei n.º 5.692, de 11 de agosto de 1971 compendia de modo perfeito não somente a
finalidade da nova lei, mas também a filosofia que a informa na educação da infância e da adolescência:

« O ensino de 1.º e 2.º graus tem por objetivo geral proporcionar ao educando a formação necessária ao
desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto-realização, qualificação para o trabalho
e preparo para o exercício consciente da cidadania».

É uma vigorosa explicitação do artigo 1.° da Lei de Diretrizes e Bases de 20 de dezembro de 1961, lei que
permanece em vigor nos seus cinco primeiros títulos, que são os fundamentais; como exceção apenas dos
artigos 18 (que trata de jubilação) e 21 (que se refere a fundações mantenedoras de escolas) , todos os
artigos iniciais da LDB foram preservados.

Sob o aspecto da habilitação para o trabalho, de que trata este Parecer, a LDB é bastante omissa. Vejamos
as referências que se encontram sobre o assunto naquele diploma legal. O artigo 1.° em sua letra «d» fala
do «desenvolvimento integral da personalidade humana e a sua participação na obra do bem comum»;
letra «e» do mesmo artigo encontramos referência ao «preparo do indivíduo e da sociedade para o
domínio dos recursos científicos e tecnológicos que lhes permitam utilizar as possibilidades e vencer as
dificuldades do meio». São, como se vê, referências implícitas e sempre sob o ângulo teórico.
A diferença se faz mais saliente se examinarmos detidamente os artigos 25 e 33 da LDB:
«Artigo 25 - O ensino primário tem por fim o desenvolvimento do raciocínio e das atividades de expressão
da criança, e a sua integração no meio físico e social».
«Artigo 33 - A educação de grau médio, em prosseguimento à ministrada na escola primária, destina-se à
formação do adolescente».
Confrontem-se estes dois textos legais com o Artigo 1.° da. Lei n.º 5.692, acima transcrito, e se terá uma
idéia das intenções da nova Lei. No campo de preparo para o trabalho o que se encontra na LDB é o
tímido § 2.° do artigo 44:

«Entre as disciplinas e práticas educativas de caráter optativo no 1.° e 2.° ciclos, será incluída uma
vocacional, dentro das necessidades e possibilidades locais».

E, para completar a citação dos artigos representativos da mentalidade que presidiu, neste setor, à feitura
daquela Lei, lemos no § 2.° do artigo 46 que a terceira série do ciclo colegial «vise ao preparo dos alunos
para os cursos superiores».

Sobre o ensino profissional um capítulo estanque, o capítulo III do Título VII.

Fora deste capítulo tudo o que se referia à qualificação para o trabalho vinha, na LDB, de forma bastante
implícita e vaga. Ao contrário, o que estava expresso era o cuidado oposto: o de marcar até mesmo o
capítulo do Ensino Técnico com a preocupação de que não faltassem as disciplinas do curso secundário (cf.
art. 49, §§ 1.°, 2.° e 4.°).
A nova Lei representa profunda modificação nesta mentalidade; o ensino de 1.° e 2.° graus, além de
ajustar-se «aos objetivos mais amplos estabelecidos no artigo 1.° da LDB», como acentuou a Resolução n.o
8 deste Conselho deve colimar três claras e definidas finalidades:
a) proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como
elemento de auto-realização;
b) qualificação para o trabalho;
c) preparo para o exercício consciente da cidadania.

Não são três finalidades justapostas, mas três aspectos de uma mesma educação Integral, três ângulos de
visão de um mesmo processo formador; cada um deles supõe os outros dois e a lista das três finalidades
poderia começar de qualquer lado que teria a mesma exatidão. Caso invertêssemos a ordem estaríamos
apenas partindo do social para o individual.

1. Tecnologia Versus Humanismo?

A nova Lei tem, pois, na insistência por uma educação mais técnica, uma de suas notas dominantes.
Significa esta premissa ruptura com as tradições educacionais cristãs do Brasil? Uma antinomia, entre
tecnologia e humanismo? Reduz o sentido formador e a substância espiritualista do trabalho do educador?
Tende a fazer do aluno peça de uma máquina maior a serviço do desenvolvimento (tomado apenas em
sentido material) do País?

Apresso-me a responder que não. Até pouco tempo, quando se falava de tecnologia em confronto com
educação acadêmica, notavam-se com freqüência dois falsos subentendidos. O primeiro era identificar-se
humanismo com cultura acadêmica, como se as matérias de cultura geral, de sua natureza, aperfeiçoassem
o homem e as disciplinas técnicas o deformassem. Na verdade umas e outras aperfeiçoam o homem se o
servem, e deformam-no se fazem dele um instrumento. Neste contexto, humanismo é ponto de vista e
orientação mais que área do conhecimento.
O segundo subentendido era ligar-se humanismo a cristianismo. Isto tem uma parcela de verdade e uma
parcela de mal-entendido. O que há de verdade nesta associação de idéias é a preocupação do
cristianismo de fazer da pessoa humana o centro do mundo. Como lemos na Populorum Progressio, «o
que conta para nós é o homem, cada homem, cada grupo de homens, até chegar à humanidade inteira»
(n.º 14). Sob esse ângulo o cristianismo é humanista. O mal-entendido é julgar que o cristianismo se
oponha à educação tecnológica, como se ela fosse uma espécie de paganismo, em contraposição com a
cultura clássica, que seria a cristã. A verdade é outra: o renascimento da cultura clássica foi bem pouco
cristão; por outro lado, a teoria de que o trabalho das mãos é indigno do homem livre é do pagão
Aristóteles. Cristo foi carpinteiro.
1.1 – Estes enganos parecem nascer do fato de que nem sempre se consideram na técnica seus dois
ofícios, a saber, que seja ao mesmo tempo serviço e cultura. E não são poucos os que se perturbam ainda
hoje com a preocupação de que os novos valores da técnica acabem por trazer como conseqüência a
decadência e até mesmo o desaparecimento dos antigos valores da Cultura.
Mas, como escreveu magnificamente o P. François Russo, «é oportuno recordar que não existe autêntica
cultura fora daquela que, fiel embora aos valores do passado, é a expressão da realidade atual da
civilização. A integração cultural da técnica não se impõe apenas para o bem da cultura; é condição
essencial para a integração da técnica na nossa civilização no sentido do autêntico progresso do homem e
da humanidade» (in Civilta Católica, ano 118, quad. 2800, p. 350-351).
De outra parte, a «dispersão rápida e progressiva das ciências» clama cada vez mais alto pela «necessidade
de elaborar a sua síntese e de conservar no homem faculdades de contemplação e admiração que
conduzem à sabedoria», como nos adverte a Gaudium et Spes.
Além disso, é preciso não esquecer o papel positivo da técnica e do trabalho na educação, em seu sentido
mais vasto; como lembra ainda a Populorum Progressio, o trabalho «ao mesmo tempo que disciplina os
hábitos, desenvolve o gosto da pesquisa e da invenção, o acolhimento do risco prudente, a audácia nas
empresas, a iniciativa generosa e o sentido de responsabilidade. (...) Debruçado sobre a matéria que lhe
resiste, o trabalhador imprime-lhe o seu cunho, enquanto para si adquire tenacidade, engenho e espírito
de invenção (n.º 25 e 27), autênticas conquistas para a educação, no seu sentido mais completo de
formação verdadeiramente integral do jovem.
1.2 - Neste mesmo sentido escreveu o sr. Ministro da Educação, Sen. Jarbas Passarinho, na introdução ao
1.º número da revista EDUCAÇÃO: tem a reforma do ensino em mira «forçar, ao lado da democratização
do ensino a preparação para a vida, construída sobre um embasamento de prevalência dos valores
espirituais e morais, numa sociedade que, à proporção que mais produz bem-estar, parece mais afastar-se
de Deus, gerando o problema possivelmente mais trágico do mundo contemporâneo, que é a
materialização do homem». E acrescenta: «queremos que, através da educação, cada criatura humana
adquira mais valor no sentido dignificante que lhe empresta o P. Lebret e, através da articulação correta do
«social» com o «econômico», logre-se a promoção humana global». (Educação n.º 1, pág. 2-3).
"Uma educação para o crescimento econômico, certamente; mas pergunta, Pierre Furter (em Educação e
Reflexão), o que é o crescimento econômico, sem desenvolvimento? E mais: como conceber o
desenvolvimento, sem referência ao homem global e suas motivações sociais, culturais, éticas e religiosas?
Uma educação voltada para o futuro concebido apenas como novidade e morte do antigo? ou do futuro
como processo histórico de um homem jamais maduro, porque sempre insatisfeito e inacabado?"
"A propalada "educação para o amanhã" ou "educação para o ano 2000" é mais um mito perigoso que
projeta no futuro o tempo ideal e estático que os antigos situavam no passado: por que não "educação
para todo o sempre", educação continua? A dinâmica que integra o tempo na educação não é uma
dinâmica exterior ao homem, como a da produção. É a dinâmica interna do homem, que se faz enquanto
existe". (Marçal Versiani).

Filosofia e pesquisa científica sempre existiram; o que vem faltando à educação é a integração da
dimensão - tempo-, como valor de crucial importância. Para os países em via de desenvolvimento, que se
dispõem a queimar etapas no processo de industrialização, o desafio do tempo como valor é de
importância vital.

1.3 - Como em tantos outros campos, também aqui o Conselho anteviu os tempos e armazenou
tempestivamente os elementos para a nova lei, como o fizera com o exame de admissão ainda em 1963, a
dependência em nível médio, e tantos outros.
Já em 1964, no Parecer 274/64 sobre Equivalência em nível médio, advertia este Conselho citando
publicação então recente da UNESCO: "Na era tecnológica em que vivemos, a evolução dos programas do
2.° grau tem sido em geral orientada para uma integração dos elementos culturais e técnicos, que tinham
sido, durante tanto tempo, mantidos separados ou até mesmo ministrados em escolas de tipo diverso. O
progresso da automatização exige, em medida crescente, que a especialização repouse sobre base cultural.
Na Europa, no Início da era Industrial, era possível dar formação profissional a analfabetos; na hora
presente é exigida de todos a freqüência ao menos a alguns anos de estudos, antes de ingressar em
qualquer aprendizado.
O plano da reforma escolar recentemente elaborado na França funda-se na convicção de que as técnicas
modernas exigem a formação do maior número possível de jovens que possuam sólida cultura geral, tanto
literária como científica. Em mais de um país, a experiência de guerra demonstrou que as pessoas providas
de cultura geral adaptavam-se às novas técnicas manuais mais rapidamente do que os operários cuja
formação fora mais especializada. Ora, o ritmo de evolução do mundo moderno tende a acelerar-se,
exigindo faculdades de adaptação mais e mais desenvolvidas". (L'Éducation dans le Monde - VII: Les
programmes du second degré: tendances actuelles - Cf. Par. 274/64 in Doc. 31. pag. 69 ss).

2. Educação Geral e Formação Especial


Estes dois aspectos da educação, humanismo e tecnologia, têm na lei uma tradução: «educação geral» e
«formação especial». Eis o texto da lei:
«Artigo 4.° - «Os currículos do ensino de 1.° e 2.° graus terão um núcleo comum, obrigatório em âmbito
nacional, e uma parte, diversificada para atender, conforme as necessidades e possibilidades concretas, às
peculiaridades locais, aos planos dos estabelecimentos e às diferenças individuais dos alunos.

§ 3.° - Para o ensino de 2.° grau o Conselho Federal de Educação fixará, além do núcleo comum, o mínimo
a ser exigido em cada habilitação profissional ou conjunto de habilitações afins.
§ 4.° - Mediante aprovação do Conselho Federal de Educação, os estabelecimentos de ensino poderão
oferecer outras habilitações profissionais para as quais não haja mínimos previamente estabelecidos por
aquele órgão, assegurada a validade nacional dos respectivos estudos".

Artigo 5.° - "Observadas as normas de cada sistema de ensino, o currículo pleno terá uma parte de
educação geral e outra de formação especial, sendo organizado de modo que:
a) no ensino de 1.° grau, a parte de educação geral seja exclusiva nas séries iniciais e predominante nas
finais.
b) no ensino de 2.° grau, predomine a parte de formação especial.
§ 2.° - A parte de formação especial do currículo:
a) terá o objetivo de sondagem de aptidões e iniciação para o trabalho, no ensino de 1.º grau e de
habilitação profissional no ensino de segundo grau;
b) será fixada, quando se destine à iniciação e habilitação profissional, em consonância com as
necessidades do mercado de trabalho local ou regional, à vista de levantamentos periodicamente
renovados.
§ 3.° - Excepcionalmente, a parte especial do currículo poderá assumir, no ensino de 2.° grau, o caráter de
aprofundamento em determinada ordem de estudos gerais, para atender à aptidão específica do
estudante, por indicação de professores e orientadores.
Artigo 6.° - As habilitações profissionais poderão ser realizadas em regime de cooperação com as
empresas».
A seguir, num parágrafo único deste mesmo artigo, se esclarece que o estágio nas empresas, mesmo
quando pago, não acarretará para as mesmas qualquer vínculo empregatício.
2.1 - À primeira vista poderia parecer que a parte de educação geral se subdivide em núcleo comum e
parte diversificada, ao que se acrescentaria a parte de formação especial. Não. São ângulos distintos de
classificação: de um lado o comum frente ao diversificado, o comum igual para todos, obrigatório em todo
o País, conferindo o mínimo de unidade a este grau de ensino, e o diversificado, "conforme as
necessidades e possibilidades concretas", para atender «às peculiaridades locais, aos planos dos
estabelecimentos e às diferenças individuais dos alunos". De outro lado, a educação geral frente à
formação especial para cuidar da cabeça e das mãos, em ordem a "formação integral do adolescente» (art.
21).
Pode-se, portanto, concluir que o núcleo comum pertence necessariamente à parte de educação geral; já a
parte diversificada tanto pode integrar a educação geral como a formação especial.
Outro aspecto que nos compete salientar antes de entrar na aplicação prática destes artigos é o seguinte:
A sondagem de aptidões é voltada exclusivamente para o aluno: já a iniciação ao trabalho e a habilitação
profissional, sem menosprezar as aptidões do educando (que não é nunca um ser monovalente ) devem
levar em conta "as necessidades do mercado de trabalho local ou regional, à vista de levantamentos
periodicamente renovados". (artigo 5.°, § 2.° b).
2.2 - Passando agora à aplicação prática destes artigos, o primeiro aspecto que nos compete examinar é o
quantitativo: a distribuição em termos de carga horária, das disciplinas, áreas de estudo e atividades mais
vinculadas à parte de educação geral ou à formação especial. O § 1.° do artigo 5.° da Lei disciplina a
matéria determinando que a educação geral é exclusiva "nas séries iniciais" e predominante "nas finais" do
ensino do 1.° grau; no de 2.°, predomine a parte de formação especial.
A Resolução deste Conselho sobre o Núcleo Comum, em seu artigo 6.°, traduziu do seguinte modo o
assunto:
Artigo 6.° - "As atividades, áreas de estudo e disciplina referidas no Artigo 5.° terão o sentido de educação
geral e, associadas a outras que eventualmente se lhes acrescentem com o mesmo sentido, serão
distribuídas de modo que, em conjunto:
a) as da letra a do inciso I sejam exclusivas nas séries iniciais do ensino de 1.° grau;
b) b) as da letra b do inciso I sejam desenvolvidas com duração e intensidade superiores às das de
formação especial, nas séries restantes do 1.° grau;
c) as do inciso II tenham duração e intensidade inferiores às das de formação especial, do ensino de 2.°
grau, ressalvado o disposto no parágrafo único do mesmo artigo 5.°". (Reforma do Ensino, ed. do CFE,
página 19).
A introdução do elemento "intensidade" ao lado do de "duração" tem no Parecer n.º 853/71, que serviu de
base à Resolução citada, o seguinte comentário:
"Considerando, por outro lado, que exclusividade e predominância, no caso, envolvem muitas outras
variáveis qualitativas além do simples dimensionamento de tempo, pareceu nos apropriado apresentá-las
sob o duplo aspecto de "intensidade e duração" (pág. 34).
Embora a carga horária seja o elemento que se apresenta em primeiro lugar como tradução de
predominância de uma parte sobre o único elemento a ser computado.
2.3 - Aspecto mais importante, e mais ligado ao qualitativo é o endereço que se imprime, no todo ou em
parte, à atividade, área de estudo, ou disciplina. O artigo 5.° da Resolução n.º 8, ao relacionar as disciplinas
do núcleo comum para o 2.° grau, advertiu que deveriam ser elas "dosadas segundo as habilitações
profissionais pretendidas pelos alunos". E acrescentava no parágrafo único:
"Ainda conforme as habilitações profissionais pretendidas pelos alunos, as Ciências Físicas e Biológicas,
referidas no inciso II, poderão ser desdobradas em disciplinas instrumentais da parte de formação especial
do currículo e, como tais, integrar também esta parte".
A primeira vista poderia parecer que somente as Ciências Físicas e Biológicas poderiam sofrer este
tratamento “ instrumental" a serviço da parte de formação especial do currículo. Notaram-no os
representantes dos Conselhos Estaduais de Educação no Encontro dos Conselhos, realizado de 29/11 a
3/12 de 1971, e pediram explicitação mais clara sobre o assunto, na seguinte Recomendação aprovada ao
final do Encontro:
"O Conselho Federal de Educação atribua caráter exemplificativo ao parágrafo único do artigo 5.° da
Resolução oriunda do Parecer 853/71 tendo em vista que, nos termos deste Parecer, qualquer conteúdo da
parte de educação geral pode ser tratado sob forma instrumental e, assim considerado, integrar a parte de
formação especial do currículo".
Como acena a Resolução bastaria o texto do Parecer como resposta a esta preocupação; convém citá-lo
aqui, porque terá inumeráveis aplicações práticas na composição dos currículos das várias técnicas e
habilitações objeto do presente Parecer:

“0 legislador decerto não cogitou de conhecimentos que por si mesmo sejam gerais, em contraposição a
outros somente especiais. Embora estes últimos assumam características cada vez mais nítidas, à medida
que se avança na escolarização, a verdade é que a definição de uma ordem de idéias como geral ou
especial resulta largamente do contexto em que figura. O estudo da língua vernácula ou das estrangeiras,
por exemplo será geral como aquisição de um instrumento de comunicação aplicável a todas as situações,
mas surgirá como especial na perspectiva de uma habilitação de Secretariado. A Física e a Geografia são
disciplinas gerais, porém ganharão evidentes conotações instrumentais, e portanto especiais, quando
encaradas à luz de habilitações em Mecânica e Geologia. Tanto a Física, a Geografia e as línguas, como a
Matemática ou a História, são suscetíveis de definir-se diretamente como especializadas no ensino
superior". (Reforma do Ensino, 26).
2.4 - Ainda no campo das habilitações impõe-se outra observação: a pluralidade que deve existir em cada
escola para atender à exigência da Lei, em seus artigos 3.° e 8.°. Lemos no primeiro deles que «os sistemas
de ensino estimularão, no mesmo estabelecimento, a oferta de modalidades diferentes de estudos
integrados por urna base comum» (art. 3.°), e no 8.°: «a ordenação do currículo será feita de forma a
permitir. ..a inclusão de opções que... no ensino de 2.° grau, ensejem variedade de habilitações».
Estes dois artigos estão a indicar que a pluralidade de habilitações em cada escola de 2.º grau é exigência
da Lei. O artigo 3.° poderia ser interpretado como um conselho de conveniência «os sistemas de ensino
estimularão...» é que o artigo está num contexto em que a matéria tratada é outra, a
intercomplementaridade. Mais do que as «modalidades diferentes de estudos», o que o artigo deseja
sublinhar são as palavras que vêm imediatamente depois: «integrados por uma base comum». Ao
contrário, o artigo 8.° é específico sobre o assunto, já que pertence ao grupo de dispositivos (arts. 4.° a 8.°)
que regulam a feitura dos currículos. Neste artigo, como se viu, a forma é imperativa: «a ordenação do
currículo será feita... de modo a permitir..." Nem se trata de manter na mesma escola um grupo de sub-
habilitações, como seriam, p. ex., as várias modalidades de formação para as seis primeiras séries do ensino
de 1.º' grau. Com esta solução continuaria a existir, com nome trocado, ao mesma escola normal da LDB,
contra o princípio de integração que é um dos pressupostos fundamentais da Lei. O mesmo se pode dizer
de outros tipos de escola, atualmente separadas sob denominações distintas. A lista das habilitações, só
por si, deixa bastante claro que nenhuma escola de 2.° grau, com raríssimas exceções, poderá cumprir a Lei
em toda a sua plenitude se pretender operar isolada. Nem deve. Como recomenda a Lei, há que recorrer à
entrosagem e intercomplementaridade consagradas no artigo 3.°. No entanto, é toda uma nova
sistemática e uma nova mentalidade que é preciso implantar progressivamente para que se aceite a idéia
de que um aluno possa freqüentar vários locais para a sua formação que, antes, se fazia sempre num
mesmo lugar.
2.5 - Matéria mais delicada envolve o § 3.° do artigo 5.°: a questão do «aprofundamento em determinada
ordem de estudos gerais». É a regra geral das atuais escolas de 2.° ciclo de olho posto nos vestibulares de
entrada para a Universidade. Não vai ser fácil nem mudar subitamente a mentalidade de alunos e suas
famílias, nem aparelhar rapidamente as escolas, em recursos humanos e técnicos, para esta transformação.
Mas é forçoso acrescentar uma constatação universal: o teor dos vestibulares contradiz bastante o que
prescreve a lei 5.540, ou seja, que tal concurso deve abranger somente «os conhecimentos comuns às
diversas formas de educação do segundo grau sem ultrapassar este nível de complexidade». (art. 21). O
que se continua pedindo nos vestibulares ultrapassa de muito, não apenas uma ou outra «forma de
educação do segundo grau», mas quase todas. Deste modo, não é possível ignorar - enquanto perdurar tal
estado de coisas - a angústia dos alunos que desejam continuar seus estudos em nível superior e a
preocupação das escolas em satisfazer este desejo, que é legítimo, de seus alunos. Sou dos que acreditam
que os vestibulares, enquanto assim concebidos, continuarão a ser elemento perturbador a atuar sobre os
estudos de 2.°, grau, continuarão a fazer proliferar a solução esdrúxula dos «cursinhos », que se podem
considerar como elementos de legítima defesa. É este, a meu ver, o ponto mais delicado e mais complexo
da nova Lei, como também o mais rico e promissor. Nada de estranhar, pois, que seja difícil e que vá custar
muito trabalho.
Começo, portanto, aplaudindo de mãos ambas a Recomendação votada no citado Encontro dos Conselhos
Estaduais de Educação com o Conselho Federal :
«Os sistemas de ensino, em 1972, não devem compelir a implantar a nova. Lei, sobretudo as instituições de
2.° grau, que ainda não apresentam as condições para isso, mas deve permitir e estimular tal implantação
em estabelecimentos de ensino oficiais e particulares em condições de o fazer com autenticidade, em
conformidade com Planejamento Prévio aprovado pelos Conselhos de Educação, mediante apresentação
das respectivas programações e projetos, a serem aprovados pelos órgãos competentes do sistema de
ensino».

Estimula-se deste modo a implantação da Lei sem, no entanto, forçar a ficção normal. Se faltassem para
isso outros motivos, bastaria recordar que, segundo o art. 5.°, § 2.°, letra b, da Lei, as habilitações
profissionais a serem proporcionadas agora no ensino de 2.° grau deverão ser fixadas pela escola «em
consonância com as necessidades do mercado de trabalho local ou regional, à vista de levantamentos
periodicamente renovados». Ora, na maior parte das localidades estes levantamentos estão por fazer-se, a
não ser em poucas áreas já tradicionais, ao escolher precipitadamente as habilitações para o seu catálogo
de ofertas, correriam as escolas o perigo de estar formando mão-de-obra ociosa, o que iria, constituir um
frustrante e custoso desperdício.
Feita esta ressalva, comecemos por uma pergunta incômoda: pode um aluno continuar em nível superior
os seus estudos sem ter obtido, no ensino de 2.° grau, qualquer habilitação profissional? Seria mais fácil a
resposta à pergunta inversa: pode um aluno obter habilitação profissional antes de concluir os estudos de
2.° grau? O art. 16 diz que cabe aos estabelecimentos expedir os certificados de conclusão de grau escola,
"e os diplomas ou certificados correspondentes às habilitações profissionais de todo ensino de 2.° grau ou
de parte deste". Comentando este artigo da Lei, o Relatório do GT observava:
"0 aluno que se apresse em ingressar na força de trabalho, sem de momento pretender chegar à
universidade, terá o ensejo de parcelar os seus estudos para uma conclusão mais rápida. (. . .) A Lei não o
impedirá, como não impedirá uma retomada de estudos para a escolarização completa de três ou quatro
anos" (pág. 32).
Como se pode inferir deste raciocínio, o aluno pode, sim, fazer apenas parte da formação especial do
currículo de 2.° grau, quando tem pressa de ingressar na força de trabalho; mas não se pode deduzir que
possa fazer somente a parte de educação geral dos estudos do mesmo grau (que é a parte menor) para
ingresso mais rápido na universidade.
Resta-lhe a hipótese excepcional que a Lei consagra no § 3.° do art. 5.°; mas, como acentuou o Par. 853/71,
"a regra é a habilitação profissional".
Vejamos, no entanto, quando se configura a hipótese excepcional do § 3.° citado. Voltemos ao Par. 853/71:
"Por estar referido a condições excepcionais do aluno, individua1mente considerado, o aprofundamento
não é uma "habilitação" que a escola estabelece a priori e planeja regularmente, ao lado das demais.
Também não é um adestramento para concurso vestibular, pois desde a lei n.º 5.540, de 28 de novembro
de 1968, o ingresso nos cursos superiores passou a ser encarado como resultado emergente da
escolarização completa de 2.° grau, definindo-se o vestibular como simples dispositivo de classificação
para distribuição de vagas. Do contrário, se no primeiro caso se negaria o princípio da terminalidade, no
segundo se fugiria ao da continuidade, perdendo-se por esse desvio os dois pressupostos em que
praticamente se apoia a filosofia da nova Lei" (pág. 26).
Façamos algumas considerações sobre este "aprofundamento em determinada ordem de estudos gerais":
2.5.1 - Este aprofundamento pode constituir, só por si, um princípio de habilitação profissional, quer no
sentido de que o aluno, com ele, sonda melhor a própria aptidão e se encaminha mais decididamente para
uma habilitação, embora em grau superior, quer porque este assunto mais apurado pode levar à prática do
que aprende: um estudo de Química ao químico profissional, um de Biologia a algumas das profissões (de
nível médio) paramédicas.
2.5.2 - Creio também que este aprofundamento poderá introduzir, no ensino médio a prática salutar da
monitoria dos alunos mais fracos naquela área do saber: o que seria o gérmen já visível da habilitação para
o magistério.
2.5.3 - Acredito que se possa incluir pacificamente na excepcionalidade de tal hipótese o aluno que
chegasse aos estudos de 2.° grau já com uma profissão, porque neste caso, a exigência de serem
profissionalizantes os estudos de segundo grau seria para ele exigência cumprida.
2.5.4 - Pode o aluno do 2.° grau chegar ao fim da 3.ª série, ou correspondente no regime de matrícula por
disciplinas, tendo obtido apenas parte (art. 16) da formação especial, desde que a habilitação conseguida
desta forma lhe assegure ocupação definida no mercado de trabalho.
2.5.5 - Tal aprofundamento só se pode fazer dentro das exigências da Lei, isto é, com as condições, que
são cumulativas de que se faça (a) "em determinada ordem (no singular) de estudos gerais", (b) "para
atender à aptidão específica (também no singular) do estudante" (igualmente no singular), e (c) ocorra
"por indicação de professores e orientadores".
2.5.6 - Como acentua o Parecer 853/71, "outro, mais alto e mais nobre, é na verdade, o objetivo dessa
figura que se criou. Ela se vincula ao programa, de há muito em andamento noutros países, de
aproveitamento correto e oportuno dos alunos mais dotados, ante a evidência de que nos seus talentos
reside uma das maiores riquezas de toda nação" (pág. 26).
Terminaremos este parágrafo do Parecer transcrevendo o que sobre o assunto escreve o tantas vezes
citado Parecer 853/71;
«O aprofundamento é, pois, irredutível ao esquema «secundário da legislação anterior, como a
profissionalização já não é um conjunto de "ramos" paralelos àquele. Se, de imediato, uma escola não tem
como adaptar-se plenamente ao regime agora prescrito, que o faça «progressivamente», segundo as
normas constantes do Plano Estadual de Implantação expedido pelo respectivo sistema de ensino (art. 72).
Contanto que se fixem prazos, providências e meios para alcançar tão rapidamente quanto possível o
cumprimento da lei; e contanto, sobretudo, que não se mantenha indefinidamente o antigo pelo artifício
primário de apenas reapresentá-lo com o rótulo do novo» (pág. 26 e 27).

3. As Habilitações Profissionais
Desde o seu 1.° artigo prescreve a Lei como objetivo geral do ensino de 1.° e 2.° graus «proporcionar ao
educando a formação necessária ao desenvolvimento das suas potencialidades como elemento de auto-
realização, qualificação para o trabalho e preparo para o exercício consciente da cidadania» (art. 1.º).

Outros dispositivos da Lei reforçam, aqui e ali, a importância da qualificação para o trabalho como
componente básico do processo de formação integral do educando. Este elemento do processo educativo,
que toma forma de sondagem de aptidões e iniciação para o trabalho no ensino do 1.° grau, tem, no de
2.°, papel predominante (art. 5.°, § 1.°, letra «b»). Deixando para um anexo do Parecer o estudo do
vocabulário específico a esta área, adotamos, no entanto desde aqui, a definição de que qualificação
apresentada um documento mandado preparar pelo Departamento de Ensino Médio do MEC para servir
de subsidio técnico a este Parecer.
Segundo o documento, pode-se dizer que qualificação para o trabalho, em sentido amplo, «compreenderá
o processo de preparar o jovem para as ações convenientes ao trabalho produtivo, seja ele de criatividade,
de multiplicação de idéias e projetos, de análise e controle, de administração e supervisão ou de execução
manual e mecânica, tudo de acordo com as potencialidades e diferenças individuais dos educandos» (pág.
3). Deverá ser uma «forma de experimentação e aplicação dos conhecimentos hauridos nos estudos e na
pesquisa das artes, ciências e processos de comunicação» , um «método de plantar ciências para colher
tecnologia progressiva e de cultivar tecnologia para colher técnicas modificáveis no tempo».
3.1 - Neste terreno das habilitações profissionais é dupla a função deste Conselho, uma de sua iniciativa,
outra quando provocada pelos interessados: fixar o mínimo a ser exigido em cada habilitação profissional
e aprovar habilitações outras para as quais não tenha previamente estabelecido os mínimos, conferindo
desta sorte validade nacional aos respectivos estudos. Eis os textos na Lei:
«Para o ensino de 2.° grau o Conselho Federal de Educação fixará, além do núcleo-comum, o mínimo a ser
exigido em cada habilitação profissional ou conjunto de habilitação afins» (art. 4.°. § 3.°).
«Mediante aprovação do Conselho Federal de Educação, os estabelecimentos de ensino poderão oferecer
outras habilitações profissionais para as quais não haja mínimos de currículo previamente estabelecidos
por aquele órgão, assegurada a validade nacional dos respectivos estudos» (art. 4.°, § 4.°).
A partir daí, a competência desloca-se para os sistemas de ensino, cujos órgãos passarão a velar para que
a parte de formação especial do currículo, no ensino de 2.° grau, seja fixada «em consonância com as
necessidades do mercado de trabalho local ou regional, à vista de levantamentos periodicamente
renovados» (art. 5.° § 2.°, letra «b») , para que a ordenação dos currículos seja feita de forma a permitir, no
ensino de 2.° grau, a «variedade de habilitações» (art. 8.° caput) e ainda sobre os exames supletivos
quando realizados «para o exclusivo efeito de habilitação profissional de 2.° grau (art. 26, caput ).
É evidente que outras habilitações profissionais, diversas das fixadas na forma dos parágrafos 3.° e 4.° do
art. 4.°, poderão vir a ser indicadas em âmbito local. Nesse caso - embora não o diga expressamente a lei -
resulta implicitamente de sua letra e de seu espírito que aos Conselhos de Educação dos Estados e do
Distrito Federal competirá, espontaneamente ou mediante solicitação dos estabelecimentos de ensino
estabelecer-lhes o currículo e a duração. Tais habilitações terão, como é natural, validade apenas regional,
não nacional, e não podem consequentemente os diplomas e certificados correspondentes ser registrados
no órgão competente do Ministério da Educação e Cultura.
Nada impede, porém, que, posteriormente, venham tais habilitações a adquirir validade nacional, por
aprovação deste Conselho Federal de Educação. E nessa hipótese terá sido útil hajam elas sido, antes
testadas em âmbito menor.
Veja-se, de forma gráfica, o quadro de competências neste setor de currículos; é adaptação do
apresentado no DOCUMENTO do Departamento de Ensino Médio do MEC.
LEI N.º 5.692/71
Resumo esquemático das competências na fixação dos currículos
ATUAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO

Categorias Competências
CURRÍCULOS DE 2.º GRAU
1- Conselho Federal de Educação FIXA
As matérias relativas ao núcleo comum.

DEFINE
Os objetivos e a amplitude dessas matérias.

FIXA
1- Mínimo ( de matérias ) de cada habilitação profissional.
2- Mínimo ( de matérias ) de conjuntos de habilitações afins

APROVA
Outras habilitações profissionais propostas pelos estabelecimentos de ensino, com validade nacional.

2 – Conselhos de Educação RELACIONAM


Para os respectivos sistemas de ensino, as matérias dentre as quais poderá cada estabelecimentos escolher
as que devam constituir a parte diversificada.

APROVAM
1 – A inclusão, no currículos dos estabelecimentos, de estudos não decorrentes de matérias relacionadas
para a finalidade prevista no item anterior.
2 – Outras habilitações profissionais diversas das fixadas na forma §§ 3.º e 4.º do artigo 4.º da lei, com
validade apenas no âmbito regional.

3 – Estabelecimentos de Ensino ESCOLHEM


As matérias que devam constituir a parte diversificada de seus currículos.

ADOTAM
Com aprovação do competente Conselho de Educação, outras habilitações para as quais não haja mínimos
de currículo previamente estabelecidos.

3.2 - A forma que optou este Conselho para fixar o mínimo a ser exigido em cada habilitação profissional
ou conjunto de habilitações afins foi a de confiar ao Departamento de Ensino Médio (DEM) do Ministério
da Educação
e Cultura a feitura de um documento básico que servisse a este Conselho de subsídio técnico. Tal trabalho,
organizado sob a superior supervisão do Prof. Agnelo Corrêa Vianna, responsável pela Universidade do
Trabalho de Minas Gerais - UTRAMIG, foi apresentado em primeira versão ao Sr. Diretor do DEM com data
de 13 de novembro de 1971. Submetido a exame por comissão de alto nível, no Rio de Janeiro, no dia 18
daquele mês, foram feitas algumas observações e sugestões, incorporadas posteriormente ao trabalho.
Assim retocado, foi o documento oficialmente entregue a este Conselho durante a sessão do mês de
dezembro p.p. e encaminhado imediatamente à Câmara de Ensino de 1.° e 2.° graus do mesmo Conselho.
O documento é peça de real valor que muito dignifica seus signatários e representa precioso repositório
de conhecimentos e experiências na área do ensino técnico; os maiores especialistas das várias áreas foram
consultados, e grande número deles colaborou diretamente na feitura do mesmo. Depois de uma
introdução sobre a natureza do que se pode definir como qualificação para o trabalho e habilitação
profissional, e de estudar como deveria ser a organização dos currículos do ensino de 2.° grau, o
documento elenca bem 52 habilitações e mais 78 outras habilitações, dando para cada, uma das primeiras
as matérias do currículo mínimo e reunindo as demais em grupos afins, em torno das técnicas, de acordo
com a Lei (art. 4.° § 3.°).
Logo a seguir, para melhor entendimento do assunto pelas escolas, apresenta exemplos de currículos
mínimos de 12 habilitações (7 do setor terciário, 4 do secundário e 1 do primário) em quadros gráficos
bastante intuitivos. A parte do documento que inclui a lista das habilitações técnicas e outras habilitações,
bem como anexo exemplificativo de como montar os seus currículos, passa a fazer parte integrante deste
Parecer e da Resolução a respeito do assunto. Reportar-nos-emos ao trabalho, citando-o simplesmente
como DOCUMENTO.
O vocabulário técnico colocado em anexo do Parecer facilitará o entendimento das recomendações e
Normas que se darão a seguir. A lista de habilitações do DOCUMENTO, grupadas, conforme a lei, em
conjuntos de "habilitações afins" (art. 4.° § 3.°) deve ser considerada como aberta, exemplificativa: irá sendo
ampliada à medida em que forem aparecendo novas técnicas e habilitações, irá sendo modificada no
conteúdo das já apresentadas segundo as cambiantes e velozes transformações da tecnologia.
Mas não somente os avanços da tecnologia imporão modificações no conteúdo das técnicas e na lista de
ofertas; prescreve a Lei que as habilitações profissionais devem ser fixadas pela escola "em consonância
com as necessidades do mercado de trabalho local ou regional, à vista de levantamentos periodicamente
renovados" (art. 5.°, § 2.°, letra "b"). Estes dois elementos de mudança - avanços da tecnologia e mudanças
no mercado de trabalho - justificam que se estabeleça, junto ao Departamento de Ensino Médio do MEC,
um laboratório permanente de currículo para a área técnica, como sugere in fine, o DOCUMENTO tantas
vezes citado. Na verdade, para citar os próprios termos do trabalho, cabe ao Departamento de Ensino
Médio" colocar-se em condições de atender ao Conselho Federal de Educação e aos Conselhos Estaduais
nas suas necessidades de estudos fundamentadas na pesquisa e experiência sobre o assunto, além de
prover os seus próprios estabelecimentos de dados que lhes permitam exercer a responsabilidade de
elaborar currículos adequados à realidade e ao nível dos educandos".
Neste campo é insubstituível, ao menos nesta fase de implantação da Lei, o papel de instituições ou
programas como as Escolas Técnicas Federais, o SENAI, o SENAC, o DNMO e o PIPMO, entre outras.
Manda elementar justiça que, neste contexto, se exalte o importante papel desempenhado pelo SENAI,
SENAC e DNMO não somente na formação do futuro operário, mas na educação da juventude brasileira
no sentido mais integral que à educação empresta a nova Lei. A estas três instituições cumpre juntar o
PIPMO, programa do MEC que acumulou, ao longo dos anos, experiência preciosa no setor da formação
profissional. Em um bom número de Estados são elas as únicas instituições com aparelhagem instalada e
pessoal habilitado, capazes de prestar assistência às escolas até aqui meramente acadêmicas, para que
possam começar a oferecer habilitações profissionais aos seus alunos.
3.3 - Nas listas do DOCUMENTO o currículo mínimo e a carga horária da parte de formação especial
devem ser considerados como obrigatórios; já a disposição e distribuição das disciplinas tanto da parte de
formação especial quanto da de educação geral são sempre exemplificativas, hipóteses de trabalho, para
composição dos currículos plenos. A escola tem liberdade de compor tais currículos por outra forma,
"conforme o plano e as possibilidades do estabelecimento" ( art. 8.°). Ainda na parte de educação geral é
preciso ter presente quanto prescreve o art. 6.°, § 2.° da Resolução n.º 8 do C.F.E. sobre o núcleo comum:
"No ensino de 2.° grau, admitir-se-ão variações não somente de carga horária como do número de
períodos letivos em que seja incluída cada disciplina e, eventualmente, área de estudo ou atividade".
Por outras palavras, como já admitia o § 5.° do art. 49 da LDB, no caso da instituição do seu chamado
"curso pré-técnico", uma escola pode concentrar, em regime intensivo, as matérias do núcleo comum no
inicio do curso de 2.° grau, para se dedicar depois total e unicamente à área de formação especial.
As disciplinas técnicas podem ser feitas parceladamente. A matrícula por disciplina (art. 8.°, § 1.°) se
recomenda particularmente para a parte de formação especial, de forma que o aluno, já na força de
trabalho com as primeiras habilitações (parciais) obtidas na escola, possa facilmente, com este regime, ir
galgando outros postos na empresa.
4. Formação em Nível de 2.° Grau, para o Magistério
Entre as habilitações no ensino de 2.° grau, por sua importância peculiar e pelo volume de escolas que se
dedicam ao setor, emerge a formação em nível de 2.° grau, para o magistério. Nesta parte do Parecer, o
Relator contou com a colaboração, decisiva da Conselheira Prof.ª Terezinha Saraiva.
Neste documento apresentamos um plano que permite alcançar os objetivos da Lei 5.692, no que tange à
habilitação profissional do professor para as seis primeiras séries do ensino de 1.° grau.
Levamos em conta a necessidade de, a curto prazo, habilitar esses professores e ao mesmo tempo, garantir
a continuidade em face ao ingresso no Ensino Superior, na área de Educação.
A formação de professores para o 1,° grau, até a 6.ª série, será feita através de:
estudos com duração correspondente a 3 anos letivos - habilitação até a 4.ª série.
estudos com duração correspondente a 4 anos letivos - habilitação até a 6.ª série.
O currículo apresenta um núcleo-comum, obrigatório em âmbito nacional e uma parte de formação
especial que representa o mínimo necessário à habilitação profissional.
A educação geral estará representada no currículo, pelas matérias que integram o núcleo-comum,
acrescidas das citadas no artigo 7.° da Lei; Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e
Programas de Saúde.
Devem os estudos de habilitação para o magistério:
- oferecer uma educação geral que possibilite a aquisição de um conteúdo básico indispensável ao
exercício no magistério e permita estudos posteriores mais complexos;
- promover a correlação e a convergência das disciplinas;
- assegurar o domínio das técnicas pedagógicas, por meio de um trabalho teórico-prático;
- despertar o interesse pelo auto-aperfeiçoamento.
A educação geral, que terá como objetivo básico a formação integral do futuro professor, deverá, a partir
do 2.° ano, oferecer os conteúdos dos quais ele se utilizará diretamente na sua tarefa de educador. Em
conseqüência da nova Lei, este aspecto relativo aos conteúdos será intensificado cada vez mais.
A formação especial constará de:
a) Fundamentos da Educação.
b) Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1.° Grau.
c) Didática, incluindo prática de ensino.
Em fundamentos da Educação serão realizados estudos de Psicologia, História e Sociologia da Educação.
A História e a Sociologia deverão necessariamente convergir para o conhecimento dos problemas
educacionais brasileiros.
Os aspectos biológicos serão estudados quer nas Ciências Físicas e Biológicas - encaradas como
instrumentais, dando-se ênfase aos problemas de saúde - quer em Psicologia da Educação.
Em Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1.° grau, deverão ser focalizados os aspectos legais, técnicos e
administrativos do nível escolar em que o futuro mestre irá atuar e a vinculação da escola ao respectivo
sistema de ensino.
A Didática fundamentará a Metodologia do Ensino, sob o tríplice aspecto: de planejamento e execução do
ato docente-discente e a verificação da aprendizagem, conduzindo à Prática de Ensino e com ela
identificando-se a partir de certo momento. Essa prática deverá desenvolver-se sob a forma de estágio
supervisionado.
Deverá a Metodologia responder às indagações que irão aparecer na Prática de Ensino, do mesmo modo
que a Prática de Ensino tem que respeitar o lastro teórico adquirido nos estudos da Metodologia.
A organização dos currículos plenos deverá fazer-se com a necessária flexibilidade para que, além da
habilitação genérica para o magistério, possa o aluno, sem prejuízo de outras soluções adotadas pelos
sistemas:
a) quando os estudos tiverem a duração correspondente a 3 anos letivos, preparar-se com maior
intensidade para uma de duas opções: o ensino de 1.ª e 2.ª séries ou de 3.ª e 4.ª séries;
b) quando os estudos tiverem duração correspondente a 4 anos letivos, optar, entre outras que a escola
ofereça, por uma das seguintes áreas. Maternal e Jardim da Infância; 1.ª e 2.ª séries; 3.ª e 4.ª séries;
Comunicação e Expressão, Estudos Sociais e Ciências para 5.ª e 6.ª séries.

Em Parecer especial, o CFE desenvolverá esta parte do presente Parecer, relativo à formação para o
magistério, em nível de 2.° grau.

5. Os Objetivos
O artigo 1.° da Lei n.º 5.692, de 11 de agosto de 1971, coloca a «qualificação para o trabalho» entre os
objetivos gerais do ensino de 1.° quanto de 2.° grau; os artigos 4.° e 5.° falam de sondagem de aptidões,
iniciação para o trabalho e habilitação profissional; o artigo 27 em aprendizagem e qualificação
profissional. Combinando o texto de todos estes artigos de forma inteligente e clara, o documento
escalona os vários estágios de formação profissional na seguinte forma:
«A qualificação para o trabalho se fará:
a) no 1.° grau, inicialmente por intermédio da sondagem de aptidões e posteriormente na iniciação para o
trabalho; supletivamente, por intermédio dos cursos de aprendizagem ao nível de uma ou mais das quatro
últimas séries, ministrados a alunos de 14 a 18 anos, em complementação da escolarização regular;
supletivamente, ainda, por cursos intensivos de qualificação profissional;
b) no 2.° grau, por habilitações profissionais; cursos intensivos de qualificação profissional.

Nota-se uma hierarquia de títulos dados à «qualificação para o trabalho» nos dois graus, que assim pode
ser caracterizada:
1. iniciação para o trabalho;
2. aprendizagem para alunos de 14 a 18 anos;
3. qualificação profissional;
4. habilitação profissional.
A sondagem de aptidões, atividade conjunta dos serviços de orientação e dos professores, se fará por
certo nas áreas de atividades oferecidas pelos estabelecimentos, mediante a utilização de métodos
adequados.
A iniciação para o trabalho se fará geralmente nos ambientes didáticos já conhecidos como os de
desenvolvimento das artes industriais, das práticas comerciais e dos serviços, das práticas agrícolas e da
educação para o lar.
A aprendizagem profissional metódica se fará naturalmente na forma em que a desenvolvem o SENAI e o
SENAC, com resultados mundialmente consagrados.
A qualificação profissional em cursos intensivos que, por seus métodos, deve ser aplicada a pessoas com
idade acima dos 15 e que se encaminhem a emprego certo, terá naturalmente o seu modelo no Programa
Intensivo de Preparação de mão-de-obra, PIPMO.
A habilitação profissional nos estudos de 2.° grau será, portanto, aquela que melhor aproveite o cabedal
de conhecimentos e experiências já obtido pelo jovem. É aquela que mais se orienta para as ocupações
que exigem domínio dos conhecimentos tecnológicos para utilização em técnicas mais especializadas. É,
portanto, aquela que se torna consagrada no mundo ocupacional, como a do técnico de nível médio e dos
serviços técnicos em escritórios de projetos, laboratórios, escritórios de administração e em outras variadas
gamas, para as quais os serviços de seleção das empresas exigem, como base escolar, a conclusão do 1.°
grau" (DOCUMENTO, pág. 11-13).
Neste Parecer, estudamos de forma expressa a habilitação profissional nos estudos de 2.° grau, com o
objetivo de fixar os seus mínimos, a fim de que os estudos respectivos tenham validade nacional nos
termos do artigo 4.°, §§ 3.° e 4.º.
Referindo-se aos grandes objetivos da parte de educação geral traduzida no currículo, pelo núcleo
comum, estabelecia este Conselho em sua Resolução n.º 8, de 1.° de dezembro de 1971:
"O ensino das matérias fixadas e o das que lhe sejam acrescentadas, sem prejuízo de sua destinação
própria, deve sempre convergir para o desenvolvimento, no aluno, das capacidades de observação,
reflexão, criação, discriminação de valores, julgamento, comunicação, convívio, cooperação, decisão e ação,
encaradas como objetivo geral do processo educativo". (art. 3.° § 1.°).
A parte de formação especial, no ensino de 1.° e 2.° graus, tem por objetivos específicos situar
convenientemente o aluno no espaço e no tempo, preparando-o para as necessárias projeções em áreas
crescentes e, no futuro, mediante estudos e experiências sobre: espaço físico, recursos naturais, relações
quantitativas, propriedades da matéria e sua transformação, origem, relação e evolução dos seres vivos,
relação antecedente-conseqüente, causa-efeito, relações qualitativas, arte e cultura.
No 2.° grau, a educação deve sofrer os benéficos efeitos da técnica e do trabalho, como ficou dito acima.
No que se refere especificamente às habilitações profissionais no 2.° grau, objeto deste Parecer, poderiam
reduzir-se a três objetivos principais:
a) auto-realizar-se, pelo exercício de discriminação de estímulos, compreensão de conceitos e princípios,
solução de problemas e aferição de resultados, reestruturação de conhecimento;
b) afirmar-se individualmente, por meio da apreensão da realidade, seleção de experiências, crítica de
informações, renovação de situações, invenção de soluções;
C) agir produtivamente, mediante perícia no uso dos instrumentos de trabalho, domínio da tecnologia e
das técnicas, aplicação de práticas relacionadas com a apropriação de custos/benefícios.
6. Normas Para o Sistema Federal
Para facilitar a implantação da Lei nos estabelecimentos de ensino do sistema federal, julgamos oportuno
traduzir os dispositivos legais e as considerações feitas acima em algumas normas práticas, muitas das
quais já aprovadas na VIII REUNIÃO CONJUNTA DOS CONSELHOS.
6.1 - Nó espirito do artigo 71 da Lei n.º 5.692, os Territórios Federais organizem Conselhos de Educação,
cujas Resoluções e Normas deverão ser homologadas pelo Conselho Federal de Educação, sem prejuízo de
sua aplicação imediata.
6.2 - Tais Conselhos ao elaborar as resoluções complementares evitem roda rigidez normativa que venha a
prejudicar a saudável flexibilidade da nova lei.
6.3 - De acordo com o artigo 75, inciso I, da nova Lei, as atuais escolas primárias ampliem suas atividades
até atingir gradualmente a oitava série.
6.4 - Em 1972, as escolas do 2.° grau não sejam compelidas a implantar a nova Lei em todas as suas
exigências. As que se julgarem aptas a fazê-los, apresentem ao Conselho Federal de Educação os seus
planos. As demais adotem, imediatamente, um programa de preparação de pessoal docente e
administrativo, de levantamento do mercado de trabalho, de informações profissionais para os alunos e
previsão de possíveis instalações e equipamentos.
6.5 - Os alunos que começaram o ciclo colegial em 1971 podem, a critério da escola, continuar seus
estudos de 2.° grau no regime anterior; o mesmo se aplica aos que iniciaram em 1970, o "ginásio" e até o
término do mesmo.
6.6 - Até que seja possível instituir os "estudos adicionais " a que se refere o artigo 30, § 1.º e 2.°, da Lei n.º
5.692, de 11 de agosto de 1971, os professores com habilitação específica de 2.° grau em curso de três
anos sejam autorizados a lecionar até a 6.ª série do 1.° grau e os que tenham licenciatura de 1.°grau, até a
série final do 2.° grau.
6.7 - O preparo de professores para disciplinas de formação especial se faça quer diretamente em cursos
próprios, quer pela utilização de outros cursos superiores das áreas respectivas e, neste caso, tal
preparação se processe concomitante ao curso mediante estudo das matérias pedagógicas
complementares posteriores à graduação.
6.8 - Os Territórios procedam ao levantamento dos estabelecimentos que estejam em condições de
ministrar, apenas, os cursos de licenciatura de 1.° grau e os estudos adicionais de que trata o parágrafo
único do artigo 31, da Lei n.º 5.692. Esses cursos deverão ser previstos nos Planos de Implantação, sempre
que possível com assistência de Faculdades de Educação ou Instituições congêneres.
6.9 - A recuperação dos professores sem a formação prescrita no artigo 29 da nova Lei se proceda dentro
de um plano orgânico e gradativo, em instituições credenciadas pelos órgãos competentes, de modo a
proporcionar-lhes ao final, uma habilitação especifica.
6 .10 - Considerando a necessária valorização do professor, para uma melhor implantação da Lei, tomem
desde logo os Territórios a iniciativa de elaborar o Estatuto do Magistério para a carreira docente de 1.° e
2.° graus e compatibilizem os demais dispositivos com o preceito de que a remuneração dos professores e
especialistas se faça nos termos do artigo 30 da nova Lei, ou seja, tendo em vista a maior qualificação "sem
distinção de graus escolares em que atuem".
6.11 - Seguindo a orientação adotada no Parecer 853/71, os acréscimos curriculares do sistema de ensino
e dos estabelecimentos sejam feitos não tanto pela indicação de novas disciplinas, mas sob a forma de
especificações das matérias que se incluam nas três "grandes linhas" fixadas para o núcleo-comum e nos
campos de habilitação profissional.
6.12 - Procurem os órgãos do sistema, articulados com outros organismos que atuem na região, realizar
pesquisas sobre o mercado de trabalho local ou regional, com vistas às opções de habilitação profissional
a serem oferecidas no ensino de 2.º grau, de acordo com o artigo 5.° § 2.°, letra "b" da Lei n.º 5.692.
6.13 - Os órgãos do sistema realizem, com urgência, estudos para uma efetiva renovação das técnicas de
verificação do rendimento escolar e recuperação de estudos oferecendo não apenas uma, como várias
soluções ajustáveis às diversas realidades da região.
6.14 - Execute-se o projeto prioritário da Carta Escolar, de sorte a assegurar ao sistema que o movimento
de renovação e aperfeiçoamento a ser implantado tenha um sentido autêntico, pelo fluxo direto e
reversível de informações da escola à esfera administrativa do Território.
6. 15 - Proceda-se à realização periódica do censo escolar, com o objetivo de promover o levantamento da
população que atinja a faixa etária dos 7 anos, para o cumprimento da obrigatoriedade escolar.
6.16 - Organize-se calendário escolar, independentemente do ano civil, que permita maior número de
períodos letivos num ano, eliminando não só a capacidade ociosa dos atuais períodos de férias, como o
número excessivo de turnos, com vistas a atender à população escolarizável sem prejuízo da qualidade do
ensino.
6.17 - Organizem os Territórios cursos e exames de capacitação nos termos e para os efeitos do artigo 77
parágrafo único, letra "b" da nova Lei.
6 .18 - Os órgãos de Educação dos Territórios baixem normas para os estabelecimentos oficiais de 1.° grau,
que não tenham regimento próprio, as quais deverão ser apresentadas para homologação deste Conselho.
6.19 - Os critérios de progressividade prescritos nestas normas devem ser adotados sem prejuízo de
aplicação imediata do novo regime, onde e quando haja condições para tanto.
7. Os Mínimos Exigidos

7.1 - Para estruturar, com efeitos válidos segundo a Lei, os currículos de habilitação profissional no ensino
de 2.° grau, devem-se ter em conta os seguintes princípios enumerados no citado DOCUMENTO:
7.1.1 - «Habilitação profissional é o resultado de um processo por meio do qual uma pessoa se capacita
para o exercício de uma profissão ou para o desempenho das tarefas típicas de uma ocupação.
7.1.2 - A s habilitações profissionais que são obtidas mediante o cumprimento de currículos oficialmente
aprovados e os respectivos diplomas ou certificados, devidamente registrados, conferem aos portadores
direitos específicos de exercício das profissões.
7.1.3 - As habilitações para o exercício das profissões chamadas liberais, e as assemelhadas, são obtidas em
cursos de nível superior de longa ou curta duração. As habilitações para o desempenho de ocupações que
envolvem tarefas de assistência técnica ao trabalho dos profissionais de nível superior ou,
independentemente, tarefas de supervisão, controle e execução de trabalhos técnicos especializados, são
geralmente obtidos mediante o cumprimento de currículos do ensino de 2.° grau.
7.1.4 - Dentre estas, a que é reconhecida internacionalmente e cujo registro no Ministério da Educação e
Cultura e nos conselhos profissionais confere atualmente validade nacional aos respectivos diplomas é a
de Técnico, nas suas várias modalidade.
7.1.5 - A realidade do mercado de trabalho nacional, entretanto, vem revelando outros tipos de ocupações
menos complexas que as do Técnico exigindo, contudo, conhecimentos que se inserem nos currículos do
ensino de 2.° grau. O rol de habilitações profissionais contido neste Documento abrange aquelas que já
têm currículos aprovados no órgão próprio do Ministério da Educação e Cultura, assim como inúmeras
outras bem caracterizadas na força do trabalho.
7.1.6 - Entende-se como conjunto de habilitações afins aquele constituído por habilitações profissionais
que se relacionam no campo da aplicação e, consequentemente, na área da formação.
7.1.7 - Entende-se por «mínimo exigido para cada habilitação», nos estudos de 2.° grau, o menor número
de matérias cujo conteúdo proporcione ao educando, necessariamente conhecimentos e habilidades que o
capacitem para o desempenho de determinada ocupação.
7.2 - A duração dos estudos teóricos e das aplicações indispensáveis a esse grupo mínimo de matérias
dependerá do grau de intensidade que o estabelecimento de ensino pretenda imprimir a cada habilitação
tendo em conta seus planos e características locais ou regionais.
Como a lei prescreve os mínimos de 2.200 e 2.900 horas de duração efetiva dos trabalhos escolares no
ensino de 2.° grau, necessário se faz compatibilizar o menor grupo de matérias de conteúdo
profissionalizante com a menor duração que possibilite capacitar o educando para o desempenho de
determinada ocupação a esse nível.
Os estudos feitos em órgãos do Ministério da Educação e Cultura, a experiência dos estabelecimentos de
ensino técnico e os levantamentos realizados pela Comissão indicam que a referida compatibilização se
faça nas seguintes condições, tendo-se em vista a predominância, prescrita na Lei, da parte de formação
especial sobre a de educação geral.
Para a habilitação de Técnicos do Setor Primário - Mínimo de 2.900 horas nas quais se incluam pelo menos
1.200 horas de conteúdo profissionalizante, além da necessária complementação da prática em projetos da
especialidade, com supervisão da escola.
Para a habilitação de Técnicos do Setor Secundário - Mínimo de 2.900 horas, nas quais se incluam pelo
menos 1.200 horas de conteúdo profissionalizante, com a necessária complementação do exercício
profissional orientado pela escola.
Para a habilitação dos Técnicos do Setor Terciário - Mínimo de 2.200 horas nas quais se incluam pelo
menos 900 horas de conteúdo profissionalizante .
Para outras habilitações profissionais em nível de 2.° grau - Mínimo de 2.200 horas, nas quais se incluam
pelo menos 300 horas de conteúdo profissionalizante», (DOCUMENTO, p. 23-26).

É claro que haverá outras habilitações além das de Técnico, com menor carga horária de conteúdo
profissionalizante e que, no entanto, qualificam para ocupações profissionais definidas no mercado de
trabalho, conforme se poderá ver no exemplo abaixo indicado (item 7.3 deste parecer). A estas poderiam
recorrer os estabelecimentos de ensino, sobretudo nesta fase inicial de implantação da lei; seria uma forma
realista que permite atinja a escola, desde logo, um dos objetivos primordiais da mesma lei, qual seja o de
que ninguém deve terminar os estudos de 2.º grau sem alguma capacitação para o trabalho.
7.3 - As matérias que constituem o mínimo para a habilitação do Técnico nas diversas modalidades são as
relacionadas no Anexo do DOCUMENTO, segundo os conjuntos de habilitações afins ou habilitações
isoladas para os ramos estudados. A fim de compor o mínimo exigido para cada uma das demais
habilitações, o estabelecimento de ensino utilizará as mesmas matérias previstas para o Técnico,
grupando-as adequadamente de forma que o conteúdo possa proporcionar ao educando,
necessariamente, conhecimentos e habilidades que o capacitem para o desempenho da respectiva
ocupação. Como se trata aqui de mínimos exigidos, convém que a escola consulte as instituições do ramo
escolhido (fábricas, indústrias, instituições do setor) para acrescentar aquelas outras matérias necessárias
ou úteis a região.
Assim, a título exemplificativo teríamos a seguinte aplicação do que acima está dito:
No plano curricular para a habilitação profissional de Técnico em Contabilidade uma vez ajustadas
convenientemente as cargas horárias de determinados conteúdos específicos profissionalizantes, é
possível no regime de matrícula por disciplina, antecipar a obtenção de habilitações diferentes das do
Técnico do seguinte modo como uma das hipóteses:

1. Contabilidade e Custos: 300 horas Auxiliar de Contabilidade

2. Mecanografia: 100 horas


Organização e Técnica Comercial: 100 horas Auxiliar de Escritório
Contabilidade e Custos: 100 horas

3. Mecanografia e Processamento de Dados: 200 horas


Contabilidade e Custos: 100 horas Auxiliar de Processamento
de Dados

4. Economia e Mercados: 60 horas


Direito e Legislação: 200 horas Corretor de Mercado de
Estatística: 40 horas Capitais
As habilitações acima uma vez reunidas compõem a habilitação, profissional do Técnico em Contabilidade,
desde que o aluno haja cursado, pelo menos, as cargas mínimas de cada conteúdo específico que integra
o currículo do Técnico ou seja:
- Contabilidade e Custos: 300 horas no mínimo;
- Mecanografia: 100 horas no mínimo;
- Organização e Técnica Comercial: 100 horas no mínimo;
- Processamento de dados: 200 horas no mínimo;
- Economia e Mercados: 60 horas no mínimo;
- Direito e Legislação: 200 horas no mínimo;
- Estatística: 40 horas no mínimo.
Total: 1.000 horas (além das reservadas ao estágio)

Nota: As cargas horárias do cada conteúdo são fixadas a critério da escola, uma vez respeitado o módulo
mínimo de cada habilitação profissional de 2.º grau.

Em anexo, a lista das habilitações para o ensino de 2.º grau (vd. Catálogo anexo).
São as técnicas e habilitações tais como constam do documento citado, com ligeiras alterações feitas ao
longo das discussões no Conselho Federal de Educação.

CONCLUSÃO DO RELATOR
Com estas premissas, apresento em anexo o Projeto de Resolução e, em apenso, um primeiro Catálogo de
habilitações.
PARECER DA CÂMARA
A Câmara de Ensino de 1.º e 2.º Graus aprova e subscreve o Parecer do Relator e o Projeto de Resolução
que o acompanha com, em apenso, a lista de habilitações e os mínimos fixados.
CFE, 12 de janeiro de 1972.
Pe. JOSÉ DE VASCONCELLOS, Presidente e Relator
Esther de Figueiredo Ferraz
Paulo Nathanael Pereira de Souza
Maria Terezinha Tourinho Saraiva
Valnir Chagas

NOTAS: Lei n.º 5.692/71 à pág. 403 do vol. 1


Lei n.º 4.024/61 à pág. 265 do vol. 1
Parecer CFE n.º 274/64 à pág. 58 do vol. 4
Parecer CFE n.º 853/71 à pág. 153 do vol. 4
Lei n.º 5.540/68, à pág. 364 do vol. I.
Resolução CFE n.º 8/71 à pág. 170 do vol. 4
Revogado pela Res. CNE 4/99, à pág. 120 do vol. 26

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