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PEDAGOGIA DO TRABALHO

Raimundo Alves de Souza*  

FICHET já dizia que, “A educação é o objeto mais importante de uma Nação e de um Estado,
mesmo porque a renovação de um povo deve começar pela educação”. Assim parece que a pedagogia
moderna deve ser a pedagogia que ensina o povo a pensar e agir de conformidade com os
superiores interesses da Nação; constitui, pois, a pedagogia de que o Estado, agora, tanto necessita
para realizar as suas grandes aspirações.
A pedagogia do trabalho, dentro dessa orientação, quer divulgar verdades vitais, ensinamentos úteis
e lições práticas, e deseja tornar o homem cada vez mais capaz pela cultura, mesmo porque os
conhecimentos que não são vitalizados, isto é, que não são utilizados e praticados, não têm valor
grande valor. Nesta esfera, a sabedoria está em resolver as dificuldades, a virtude em resistir aos vícios
e o caráter em não se desviar das boas regras de conduta.
Logo – como pode-se perceber -, a pedagogia do trabalho é uma pedagogia da ação. Ela inspira
infundir no espírito do povo desde os hábitos de higiene e saúde, alimentação e conforto, até a
perseverança, tenacidade e, daí se seguem tantas outras virtudes. Como expressão da verdadeira
cultura, traduz-se em constante vigilância do nosso procedimento, porque os nossos atos são os mais
significativos possíveis na edificação de obras grandes e elevadas.
Ora, a cultura é uma obra de arte. Esta implica ordem e disciplina, requer atenção e cuidado, prática
e exercício, e exige que se proceda sempre com amadurecimento e domínio das circunstancias. Para
tal não basta a boa vontade pura. É preciso a experiência e o ensino, para depois avançar em continuo
progresso, cumprindo não rejeitar nenhuma atividade, quer espontaneamente ou obrigatória, sem
colher experiencias amadurecidas. A cultura alimenta o desejo intenso de aperfeiçoamento em relação
a vida, vivendo-a na rica matiz dos valores. Ela é a coordenação das energias e o aproveitamento das
forças humanas. A sua regra de conduta e objetivando melhores resultados é a de não perder tempo.
Deixá-lo perder equivale a deixar de viver...
Nestas condições, só se compreende técnico de educação, digno desse nome, com alta cultura geral e
especializada; cultura geral digo, para apreender perfeitamente o espírito da época: cultura
especializada, para transformar as ideias em realizações – o pensamento em ação. Ora, um técnico, em
tais condições, percebera nitidamente a educação que convém ao Brasil no momento atual, para firmar
um plano, tem que consultar a realidade nacional, para sustentar um plano de educação com base no
passado, oportunidade no presente e vitalidade no futuro.
Possuído dessas ideias, convicto plenamente desses princípios, não doutrinários, é que escrevemos
diversos ensaios, onde procuramos, com o maior espirito de síntese possível, traçar uma diretriz
vital de ensino à nacionalidade. Chamou-o de programa, programa que não visa à erudição (nem
pensar!), mas sim à cultura, programa bem objetivo, extraído diretamente das necessidades do nosso
País.
Como observou Sir Lubbock¹: “A instrução não tem por objeto formar advogados, eclesiásticos,
militares, jornalistas ou professores, senão homens”.
Chama a educação completa e generosa – dizia Milton – a que “faz à um homem apto para
desempenhar com justiça, habilidades e grandeza de alma todas as funções públicas, privadas ou
autônomas, mesmo em tempo de paz que em tempo de guerra”.
A educação brasileira, aquela que verdadeiramente nos convém, somente pode ser a educação que
esteja de acordo com os interesses nacionais, aquela que estimule a iniciativa do nosso povo para a
formação da mentalidade duma próspera Nação.
_________________
¹ John Lubbock (1834-1913), naturalista inglês.
*SOBRE O AUTOR:

Professor e ensaísta, licenciado em Saúde Pública pela UFPA, especialista em Saúde Pública pela Faculdade de
Administração Hospitalar da UNAERP/SP. Atualmente, mestrando em Teoria da Comunicação na Fundação Cásper Líbero.
em São Paulo. Ensaio de acordo com o original publicado no Jornal “À Crítica”, Opinião, Manaus/Amazonas, 02/11/1987, p.
9.
https://www.youtube.com/channel/UCbA9DiB0hmtQTd-_nJywh9w
https://www.youtube.com/watch?v=-Dg3LjGoBgQ – UNIPAR SAUDE EM PAUTA

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Boas vindas e acolhida do II CIAS


2021!!!
Boas vindas e Acolhida II CIAS: Dra. Maria Eulaidia de Araújo - Organizadora Geral - Brasil/ Ceará.
Acolhida Musical: Jane Melo - Psicóloga/Cantora - CE - BA Acolhida dos Eventos Integrados:
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Andreazzi - PPGTL- UNICESUMAR - Brasil. SIMeA - Profa. Dra. Alba Regina Azevedo Arana -
PPGMADREE - UNOESTE - Brasil. Conferência de Abertura: Tema: Universalização do Saneamento
Prof. Dr. Tadeu Fabrício Malheiros - Universidade de São Paulo- Brasil. Tema: Soluções urbanas
baseadas na natureza para mitigar os impactos das mudanças climáticas. Prof. Dr. Ricardo Garcia
Mira - Universidade da da Coruña - Espanha. Despedida do dia: Dra. Maria Eulaidia de Araújo - CE
- Brasil. Ana Cecília Moreira - “Sita Sand” - Cantora e Compositora - CE - Brasil.

Raimundo Alves de Souza, 70, Professor de Ensino Superior, pesquisador, escritor, editor,
artista plástico e blogueiro por opção. Graduado em Saúde pelo Centro de Educação da
Universidade Federal do Pará UFPA. Possui Especialização, Mestrado e Doutorado. Tem
trabalhos publicados na área acadêmica, artística e literária em livros, jornais, revistas,
exposições, sites, webconferências, anais, coletâneas, antologias, entre outros. Palestrante
desde 1995 na área de Oratória, A Arte de Falar em Público, Metodologias do Ensino, Estudo
e Pesquisa. É premiado pelo Jornal “O Globo”/Embaixada da França/Livraria “El Ateneo” da
Argentina em Concurso Literário Estudantil, entre outras premiações e condecorações.
Presentemente, desenvolve pesquisas na área da Biofilosofia (Filosofia da Biologia), Saúde
Pública (Doenças crônicas/Diabetes mellitus 2) e, Musicologia brasileira (MPB).
E-mail: alvessouza51@yahoo.com.br
Blogger: tarumarionegro
 
EDUCAÇÃO E A PROFISSÃO
Raimundo Alves de Souza*

KERSCHENSTEINER¹ aborda essa questão, com muita propriedade, colocando-a nos


devidos termos, como uma verdade absoluta que rompe os tempos, quando pondera que: “a
educação não é algo que possa fazer acessoriamente, que deva acontecer, ademais, permite
modelar integralmente a educação do homem”. Isso corretamente compreendido, transfere
para a educação todos os meios e fins para a formação do homem, a partir do momento
em que não se proponha como meta, fazê-lo um homem dominador.
Este educador pedagogista alemão, expoente de grandeza ímpar, como fundador de uma
pedagogia orientada para o trabalho, bem como para o sucesso profissional, doutrina: “O lema
‘considerações éticas’ muito simples nos revela que o bem supremo do Estado culto e
jurídico, se volta para o sentido de uma coletividade moral, uma vez realizado, deve-se
trabalhar em interesses próprios duma nova personalidade moral do qual é o supremo bem
interno, único e intransferível”. Pelo visto e de conformidade com a realidade, o fim mais
excelso da educação será formar nos homens um ideal, que para tanto, essa missão educativa
deve compreender todas as demais aptidões e interesses humanos.
O verdadeiro cidadão é, pois, aquele que, sacrificando-se desinteressadamente, contribui a
aumentar e realizar uma coletividade moral. É certo que cada cidadão dessa coletividade
moral precisa, antes de tudo, duma profissão e dum status no qual se manterá firmemente,
agindo na medida das suas aptidões e do saber adquirido. E é verdade também que exista a
preocupação em atender certos requisitos a qual se converta num elemento apto para uma
profissão - ajustada as suas disposições naturais ou adquiridas. Porém, a educação
profissional, devemos vigiá-la numa espécie de atalaia mais elevada, se predispondo a
organizá-la de tal modo que o cidadão não fique abaixo do pedreiro, do agricultor, do
professor, do jornalista, do cientista, do sacerdote, etc. e que, por outro lado, não sacrifique a
formação do cidadão na sua integralidade”.
Como há a necessidade – e já os gregos ensinavam –, de que todos devem
trabalhar, Sólon (640-558 a. C.), poeta grego, tido como o fundador da democracia
ateniense, suscitava que “aquele que não trabalha deve ser entregue aos tribunais. E isto por
uma razão simples: parasita, é aquele que explora o esforço dos outros”. Ainda na Grécia
antiga do sec. IV a. C., Aristóteles, já se preocupava com o desenvolvimento das funções
humanas – capacitação e habilidades para viver em vários sentidos da vida (aqui se inclui o
trabalho, primeiramente), a partir de sua humanização, numa espécie de assim exercendo-a,
pode – em muito - contribuir na estrutura sociológica, antropológica e política do Estado.
Portanto, aproveito minha expertise e um pouco de experiência adquirida como educador, de
que a educação dos sentidos – ou seja, a humanização das pessoas deve fluir por horizontes
bem pensados e estabelecidos pela educação a partir instrução. Diante de tudo isso,
percebemos por assim na verdade, sejamos como poetas, uma vez que estes, já nascem
destinados à vida da literatura e dos conhecimentos gerais. A razão de cada um de nós está
no trabalho.
Procuremos, agora, o significado exato da essência do trabalho... Sabemos o que ele
representa? Em sociologia, p. ex., é um clamor constante. Em biofilosofia ou história, o
trabalho é uma ação eternizante e, por aí se segue...
É importante refletir-se sobre isso.
 _____________________
¹ Georg Michael Kerschensteiner (1854-1932), foi um pedagogo alemão.

*SOBRE O AUTOR:

Professor e ensaísta, licenciado em Saúde Pública pela UFPA, especialista em Saúde Pública pela Faculdade de
Administração Hospitalar da UNAERP/SP. Atualmente, mestrando em “Teoria da Comunicação” na Fundação
Cásper Líbero em São Paulo. Ensaio conforme o original publicado no Jornal “À Crítica”, Opinião,
Manaus/Amazonas, 05/11/1987, p. 4.
INSTRUÇÃO E EDUCAÇÃO
 
Raimundo Alves de Souza¹

Se o progresso e a felicidade das massas só podem ser alcançados mediante a melhoria dos
indivíduos e se esta melhoria for assentar numa nobre e alta disciplina moral, livremente
aceita e compreendida, e isso nos leva a acreditar que a Educação e a Instrução podem ser
consideradas as ferramentas para a atual fase de evolução humana.
Dentro de um processo histórico, sabemos que a Educação começa com as crianças, uma
peça fundamental ao desenvolvimento moral de uma coletividade, e que esteve sempre à
mercê das convulsões políticas, sociais e econômicas (caso da adolescente paquistanesa de 17
anos Malala Yousafzai, juntamente com o indiano Kailash Satyarhi, os Nobeis da Paz de
2014). Não esqueçamos que, foi possível em certo período do passado que a Educação fosse
superior ao que hoje precisa ser. Era, está claro, menos geral, mas o problema dizia menos
respeito à quantidade do que a qualidade.
Sabemos que uma má qualidade da educação ou uma educação alicerçada em falsos
princípios e mais ainda, massificada e acompanhada de slogans trapaceadores como no caso
do “pátria educadora” ou para ser mais incisivo – pátria enganadora –, como por exemplo, o
governo federal cortou 75% da verba do Programa de Apoio à Pós-Graduação (Proap), numa
verdadeira atrocidades praticada pelo Estado. Sabe-se que essa medida, entre tantas outras,
resulta em desastrosos resultados extremamente perigosos para um Estado ou uma Nação.
Nada a contestar a teoria da Cultura Universal, por enquanto prematura, enquanto não
houver uma preparação comprometida com a natureza da Educação e da Instrução e da
preparação para esses estágios. Senão vejamos: dar a uma criança um copo de todinho sem
explicá-lo e sem haver lançado uma firme conscientização de que o todinho é mais nutritivo
do que um copo de coca-cola. Sem conscientização através de firmes alicerces morais
instrutivos, de que o todinho possui alto teor nutritivo em relação ao refrigerante supracitado,
é alimentá-la para a vida e não apenas cair no conto da inchação de “bucho”.
Reiteramos que a teoria da Cultura Universal é excelente, porém pouco aplicável. Há algum
tempo atrás estudávamos na Universidade sobre o que viria ser a “Aldeia global” de Marshall
McLuhan, e, hoje se estuda o modus operandis da “Consciência Planetária” ou “Inteligências
Múltiplas” como quer Howard Gardner do Harvard Project Zero, isso equivale ferir a seara
da Cultura Universal. Longe de acontecer, em razão do espírito da arbitrariedade humana
presentes nos mais recônditos sentimentos desse mesmo homem, resultado da sua própria
ignorância, pinchada e esculpida mundo afora pela falta de Educação e Instrução.
Ocorre, porém, que vivendo num mundo supra violento, discriminador e insuportável, quase
tudo nos parece utópico, pois o mundo das ideias e ideais de união fraternal não terá evolução
nestes tempos, ficando transferida para as futuras gerações. Estamos em presença de um ponto
muito delicado na Educação e Instrução moral dos povos civilizados.
 Essa maneira de proceder, demasiadamente frequente, faz-nos ofuscar numa deplorável
confusão sobre a Educação e a Instrução. Educar uma criança é formar o seu caráter moral,
ensinar-lhe alguns princípios fundamentais, independentemente de cultura, etnia, religião etc.,
etc. (...). ...É dar, também, a ela desde tenra idade, a noção de dignidade humana. Instruí-la e
fazer absorver o saber acumulado pelo homem em todos os domínios. A Educação dirige as
suas ações, inspira os seus procedimentos aonde for.  Isso quer dizer que, desde a pregadora
de um botão até pôr os pés em Marte, auxilia-a a dominar-se.
Um parêntese. A instrução fornece os elementos essenciais para sua atividade intelectual,
informando-a sua situação no mundo atual. A Educação disciplina as bases inabaláveis de sua
vida; já a Instrução permite-lhe adaptar-se às variações do seu meio e articular essas variações
aos acontecimentos passados e futuros. Só no passado é que o meio é imutável, ou seja,
inalterável, pois no presente o passado é variável. Fecho parêntese.
Ressaltamos aqui um fator importante, e que até hoje não se tem dado relevância, é o valor
psicológico do tempo, como o brilhante cientista Sir Albert Einstein assegurou numa de
suas máximes de que “vivemos no tempo e não no espaço” (nosso grifo). O tempo não tem o
mesmo valor, na infância e em idades posteriores. Por exemplo, um ano é muito mais longo,
fisiológica e psicologicamente, para uma criança, do que para um homem. Um ano
corresponde, no caso duma criança de dez anos, a dois anos para o homem de vinte. Quanto
mais noviça a criança for maior será ainda a disparidade. O tempo decorrido entre o terceiro e
o sétimo ano representa, certamente, uma duração equivalente a quinze ou vinte anos no
adulto.
A partir dos estudos contidos na obra Le temps et la Vie de Lecomte Du Noüy (France,
Gallimard,1936), prova que é exatamente nessa idade que uma criança constrói uma
“armadura” onde virão a inserir-se todos os acontecimentos da sua vida futura, e,
principalmente, o seu código moral. Assim se explica o grande número de conhecimentos que
uma criança pode acumular, nos primeiros anos da sua vida. Por favor, não nos assustemos ao
depararmo-nos com uma manchete de jornal, assim: “Menina prodígio britânica compõe
ópera e escreve romance aos 10 anos”. E completa, segundo o jornal: “A menina
britânica Alma Deutscher tem apenas 10 anos, mas já tem uma obra digna de músicos muito
mais experientes. Ela compõe óperas e concertos para piano e para violino”.
E aqui um alerta: será muito desejável que os pais e os educadores considerassem esse fato.
De antemão, surge uma indagação: e a Universidade, será que está formando educadores
voltados para esses indicativos e/ou os pais são sabedores destas coisas? Mas, será que nós
outros sabemos disso também? Duvido! 
Em um dos meus ensaios “Educação e a Profissão”, publicados há alguns anos atrás (Jornal
A Crítica, Opinião, Manaus, 1987, p. 4), afirmei que está na Educação e na Instrução a base
do maior propósito humano, ou seja, o código moral enraizado na formação do cidadão,
mesmo sendo sacrificoso, contribui a lograr e realizar o que chamo de “continuidade moral
para a verdadeira cidadania” (meu grifo). Naquela altura quis me referir a Educação como um
processo de continuidade para a escolha correta da futura profissão, para que o trabalho possa
concomitantemente ser edificado em padrões de qualificação para fazer progredir o saber
humano, como bem antes defendeu com muita propriedade o filósofo e educador
alemão Georg Michael Kerschensteiner.
Agora voltando. Como a Educação Moral da criança difere daquela que convém a um
homem. Na verdade, uma criança muito novinha, importa não julgar a gravidade de uma falta,
segundo as suas consequências, mas porque foi decidido que ela é grave. Só o caráter absoluto
de uma falta pode impregnar numa criança uma verdadeira disciplina moral, sem a qual todo
o progresso é impossível. O critério não é o mesmo para os adultos, excetos para os soldados.
A razão e o espírito crítico da criança só devem entrar em jogo na idade em que ela for
capaz de empregá-los, e quando possuir, graças a sua instrução, os ensinamentos necessários
– aí pela idade dos 14-15 anos. Não esqueçamos que a educação a ser ministrada a pessoa,
deve torná-la apta a viver em sociedade, cabendo a ela adaptar-se à sociedade, também.
A primeira educação deve modelar o caráter de uma criança, no momento em que seu
cérebro se encontra ainda livre de qualquer impressão, no qual está inteiramente maleável.
Esta prática preparatória deve ser realizada antes do contato da sua personalidade formar,
antes do seu universo ter criado hábitos que será preciso eliminá-los, um dia. Inculcar-lhe,
também, as regras do counseling  (aconselhamento) constante, adquiridos e adaptados pela
sociedade, como a tradição, o qual será preservada fielmente e lentamente aproveitada, no
decurso do avançar da idade.
A tarefa dos pais, ou daqueles que assumem a responsabilidade da formação elementar da
criança, limita-se a princípio, à aplicação de um pequeno número de regras absolutas e muito
simples. Uma criança deve aprender a obedecer, automaticamente. Se a ideia de que é
possível não desobedecer a seus pais, esta será impraticável. Se a criança conseguir, pelo
menos uma só vez impor a sua vontade não mais o esquecerá, e não voltará a desobedecer,
impondo-se noutras ocasiões e assim sucessivamente.
Vivemos superexpostos às inseguridades, e a estratégia é ensinar-lhe, na sequência, o
autodomínio, lutando contra a cólera, os gritos, a impaciência e as lágrimas, com firmeza.
Dessa maneira, pouco a pouco a autoridade dos pais não será abalada, como uma força
natural. Ora, quanto mais nova for à criança mais fácil será obter resultados seguro, pois esses
hábitos contribuem para formar crianças bem educadas, disciplinadas, e que se tornarão
melhores preparadas para a vida, sendo mais úteis e mais felizes.
Sabemos que a Educação e a Instrução se encontram na base da tradição, sendo justamente
por elas que devemos atuar, para assegurarmos o futuro, tão longínquo como imediatista. E
um dos problemas cruciais, que nos solicitam à hora presente, é o de nos protegermos contra o
ataque do passado, o de protegermos a nossa sociedade democrática – não em termos gerais,
mas pelo menos em n’alguns específicos –, contra a ameaça de destruição das famílias,
hábitos e costumes. E mais ainda: somos automaticamente levados a encarar os problemas
apresentados por nações radicalmente agressivas e que são tantas hoje.
Não esqueçamos, porém, que a humanidade deve de um modo geral aperfeiçoar-se não pela
obediência as regras exteriores, mas por uma profunda melhoria interior, e que o seu
progresso só depende de si próprio. Evitemos, portanto, uma excessiva “estandardização” –
perniciosa porque vicia sob o patrocínio paternalista, demagógico e corrupto do Estado.
Devemos, pelo contrário, ajudá-la, individualmente. A educação é a arma do progresso, uma
das armas da evolução humana, no que não deve ser falseada pelo cerco de estacas pessoais,
muito menos, nacionalistas e políticas. De passagem confirmamos que os mesmos métodos,
cinicamente aplicados aos espíritos maleáveis e não críticos das crianças dão resultados
terríveis.
Do contrário, estaremos na situação dum homem que, tendo cavado um poço, é obrigado a
cavar outro ao lado para se desfazer da terra que tirou do primeiro. Evitemos o tal círculo
vicioso, apesar de nos últimos sessenta anos, o mundo haver mudado inteiramente de aspecto,
o que ainda não foi oficialmente reconhecido. A melhor das vontades deste mundo acontecerá
se não fecharmos os olhos aos vícios que paralisam toda e qualquer ação de mudança, antes
até, de ela se tornar uma epidemia mundial. 
______________________

¹Ensaísta e doutor em Ciências Biológicas pela Universidad de León (España), autor de Ócios do


Ofício, publicado pela Editora Valer, 2015.
TRABALHO E TRABALHO
Raimundo Alves de Souza, professor, pesquisador, escritor e artista plástico.

SE a razão de cada um de nós está no trabalho, ora será “abençoado aquele que achou o seu
trabalho”, dizia Thomas Carlyle (1795-1881); “e que não peça outra benção”. Logo, quem
encontra seu trabalho encontrou a sua profissão, o meio pelo qual vai justificar a sua
existência. Antes de mais nada, como apontei em meu ensaio titulado “Educação e a
Profissão”, aqui justifico: A existência de cada um de nós se eleva pelo trabalho. Daí que,
torna-se útil aos seus semelhantes, contribui num valor social de primeira ordem. Por
isso, Friedrich Wilhelm Nietzche (1844-1900) ensinou: “uma profissão é a coluna vertebral da
vida”.
Para criar e desenvolver intensamente a vontade de trabalhar, é mister antes compreender e
sentir o trabalho, comunicar-lhe sentido e, especializá-lo. E como bem pondera o inesquecível
ensaísta Miguel de Unamuno y Jugo (1864-1936), naquela passagem do “comerás o pão com
o suor do seu rosto”. Isso não quer dizer que condenasse Deus o homem ao trabalho, senão à
penosidade dele. Portanto, o trabalho não pode considerá-lo, porque é o trabalho o único
consolo prático de haver ele sido posto no mundo.
Como podemos observar, de fato, em que ia a passar o tempo no paraíso, no qual assim
como estar para um cristão, em que ao pô-lo no Paraíso antes da queda, quando se achava
ainda no seu estado de inocência, diz a Escritura: “Colocou nele para que o guardasse e o
cultivasse” (Gn 2.15). E é de fato, em que ia a passar o tempo no Paraíso sem trabalhar?
Mesmo por acaso em se tendo uma visão beatífica dessa questão, já não é uma espécie de
trabalho? Nesta acepção, o trabalho desde o seu início, é desejado, querido e amado, porque
se torna uma fonte de vida, libertação e realização.
É nesse caminho que percebemos a importância da profissão, profissão de livre escolha, com
simplicidade e dedicação, dado que: “Cada um pode e tem que trabalhar”, afirma Carl Ortwin
Sauer (1889-1975). Atuar numa profissão determinada e, sobretudo, em proveito da
sociedade representa altruísmo. Quem não trabalha podendo trabalhar, situa-se fora da
cultura, porquanto cultura significa precisamente atividade e trabalho.
Ora, os zangões deveriam ficar excluídos dos benefícios da cultura! Na arte, o circulo se
estreita mais, e mais ainda da Ciência. Nestes domínios só pode intervir um reduzido número
de eleitos: porém, cada qual deveria considerá-los com interesse e simpatia, dentro das
possibilidades da sua capacidade.
A arte, especialmente, deveria ser tratada como a flor da cultura, deveria ser cultivada com
especial amor por toda a humanidade, já que faz com que o homem conserve a flor da idade,
mantém-lhe a frescura juvenil, abri-lhe o peito a esperança, e a sua aspiração poética, ou seja,
boa também para outras orbitas.
Todos devem refletir nestes profundos pensamentos e procurar aplicá-los na sua própria
profissão, não esquecendo o conselho de Henri-Fréderic Amiel (1821-1881): “É preciso
explorar a profissão para nela distinguir-se”.  
Assim, que cada um faça do seu trabalho o instrumento de sua grandeza, ciente de que as
virtudes trabalhistas são as que permitem uma vida ascendente, progressista e elevada. E tais
virtudes são o caráter, a vontade, a perseverança, o amor, a amizade, a ambição, a
personalidade, a vocação, a oração, a consensualidade e todos os ingredientes do qual
resultam a união e a cooperação mútua entre indivíduos. Por outro lado, o que constitui vícios
trabalhistas, a debilidade do caráter, a fraqueza da vontade, a preguiça, o ódio, a inveja, a
incompetência, o individualismo exagerado todos os elementos desagregadores, que levam
propositalmente um País a ruína.
O trabalho é título de grandeza, de força, de poder, de energia e de domínio. Os povos
trabalhadores colocam-se em primeiro plano entre os povos civilizados.

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