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Temperamento – a música através dos números

2 DE JULHO DE 2015 ~ EDILSON

Os primeiros registros da fundamentação da música através da matemática


datam do séc. VI a.C., na Grécia antiga, quando Pitágoras a vislumbrou como o
quarto ramo da matemática (6, p. 4). A visão da música, sob o ponto de vista da
física, surge no séc. XVII, quando Galileu percebe a relação direta entre altura
musical e frequência (6, p. 29).
A oitava é o único intervalo reconhecido e compartilhado por todos os povos da
terra (2, p. 947).
Na antiguidade, a China já tinha desenvolvido a sequência pentatônica chinesa,
que corresponde às 5 primeiras notas do ciclo de quintas. Algumas escalas
árabes possuem 17 sons e outras indus, 22 notas.
Textos antigos indicam que o diapasão da França tinha altura diferente de
outros países e que o diapasão da igreja também era mais alto ou mais baixo
que o diapasão “de câmara” (onde se praticava a música profana). As
referências baseavam-se, particularmente, na laringe humana e em alguns
instrumentos antigos mas, no geral, sempre eram prejudicadas pela enorme
inexatidão sonora.

MONOCÓRDIO E PRIMEIROS INTERVALOS


O monocórdio, possivelmente inventado por Pitágoras, é um instrumento
composto por uma única corda estendida entre dois cavaletes e um terceiro
cavalete móvel, para dividir a corda em duas seções. Este experimento
evidenciou a relação entre o comprimento de corda e a altura do som,
resultante deste comprimento.

CICLO DE QUINTAS, TEORIA DAS PROPORÇÕES E SÉRIE HARMÔNICA


Do ponto de vista da época, séc. VI a.C., a qualidade de um intervalo podia ser
medida com a proximidade deste com o som fundamental, aquele que serve de
referência para todos os outros intervalos, o “UM”, que simbolizava a unidade
de tudo, Deus. Quanto mais simples a relação numérica ou quanto mais
próximo o intervalo do som fundamental, mais puro, mais leve e até mais
sagrado, seria considerado. Pitágoras desenvolveu uma divisão de proporção
da corda para determinar os 4 primeiros intervalos. O número 4 tinha um valor
especial para os pitagóricos: além de não se afastar do “UM”, o número 4
carregava o significado do mundo material, representando os 4 elementos
primordiais: fogo, ar, terra e água (6, p. 6). Outra importância do número é a
simplicidade apresentada nas relações numéricas de proporções resultantes
dos experimentos com o monocórdio. A comprovação da importância do número
4 é o tetracorde, considerado unidade elementar e fundamental da música
grega.
Pitágoras observou que quando dividiu a corda ao meio, o som da fundamental
se repetia com uma oitava acima. Ao dividir a corda em 3 partes, 2/3 da corda
produziam um intervalo de quinta. Dividindo a corda em 4 partes, os 3/4 da
corda geravam um intervalo de quarta.
Devido a esta experiência, os intervalos de quarta acima, quinta acima e oitava
acima ficaram conhecidos como consonâncias pitagóricas.
A relação numérica mais simples e mais próxima do “UM” é a de 2/3, já que a
oitava (1/2) produz a mesma fundamental, oitava acima. Daí vem a qualificação
da relação de proporção dos intervalos, em ordem de importância:
1 – fundamental,
2/1 – oitava,
3/2 – quinta,
4/3 – quarta.
Assim, foi designada a quinta para a formação das escalas.
Com o intervalo “puro” em mãos, este foi utilizado como ferramenta para
construção de escalas, através de sua sobreposição sequencial, num processo
conhecido como ciclo de quintas. Repare que, na ordem de importâncias, a
fundamental e a oitava são as prioridades, seguidas pela quinta e, depois, pela
quarta. Fazendo o caminho inverso, da menos importante para a mais
importante, temos a quarta, a quinta e a fundamental, ou IV – V – I. Esta pode
ser uma das possíveis explicações para a construção da música tonal.
Tendo a nota DÓ como fundamental, o resultado é:
À sequência de quintas puras (ciclo de quintas), com relação de comprimentos
de 3/2, dá-se o nome de gama pitagórica.
Como vimos, este sistema baseia-se em intervalos justos, comprometendo
diretamente os intervalos maiores e menores, sendo a terça maior o intervalo
mais prejudicado. Conhecido como “terça pitagórica”, este intervalo soa
levemente dissonante, maior que a terça natural. Este conceito de construção
de escalas vigora até meados do séc. XII, quando as terças e sextas recebem
mais atenção, devido ao surgimento da polifonia (6, p.44).
Arquitas de Tarento, que viveu por volta do séc. V a.C., vislumbrou uma teoria
de proporções. Associando intervalos distintos, através de proporções de
tamanho, Arquitas conseguiu alcançar intervalos com consonâncias perfeitas,
que se fundem exatamente dentro dos harmônicos naturais de uma nota.
Enquanto Pitágoras calcula intervalos utilizando somente o ciclo de quintas,
Arquitas vai além, considerando médias aritméticas e harmônicas, na geração
de seu sistema musical. O grande progresso alcançado foi a melhora da
sonoridade da terça maior que, na teoria das proporções de Arquitas, é
representada como 4/5. Esta terça soa mais agradável ao ouvido por ser um
intervalo menor do que a terça pitagórica.
Giuseffo Zarlino, do séc. XVI, intrigado com a inexatidão do sistema pitagórico,
concebeu o Senário, conjunto dos seis primeiros números inteiros, capazes de
gerar todas as consonâncias musicais, incluindo as imperfeitas. Enquanto o
limite estabelecido por Pitágoras era o quatro, Zarlino utilizou o 6 para obter as
seis primeiras divisões da corda, permitindo a inclusão no quadro de
consonâncias os intervalos de terça maior, 4/5 (o intervalo já era conhecido,
mas ainda não era considerado uma consonância), terça menor, 5/6 e sexta
maior, 3/5.
Em sua escala, os intervalos naturais, também conhecidos como puros,
existentes na série harmônica, não geram batimentos. Nela, há o tom grande e
o tom pequeno, além do semitom, que não era a metade exata de nenhum dos
dois tons inteiros da escala. Devido à existência de intervalos específicos para
cada grau da escala, a modulação ou transposição em um determinado
instrumento significaria refazer a afinação para a nova tonalidade, tendo uma
nova sequência de intervalos específicos, resultantes de suas distâncias com a
fundamental. Excepcionalmente, órgãos foram construídos com um sistema
complicadíssimo de distribuição e combinação de notas, que permitiam tocar
em diversas tonalidades. Porém, eram necessárias, pelo menos, 53 teclas por
oitava para se conseguir consonância suficiente em todas as tonalidades.
A quinta natural e a pitagórica são iguais, porém estas têm 2 cents a mais que a
quinta temperada. Esta é uma sutil diferença se compararmos os intervalos de
terça maior.
A terça maior pitagórica tem 408 cents, a natural tem 386 (não gera batimentos)
e a temperada, 400 cents.

A terça pitagórica soava bem convincente para a música da época, que se


resumia basicamente em monodias e polifonias de quartas, quintas e oitavas.
Porém, quando a terça maior ganha espaço através da popularização dos
modos gregorianos, a música descobre a identidade única e intransigente da
escala maior: a afinação do SI maior, por exemplo, produz um efeito diferente
do DÓ maior. Apesar de ambos utilizarem a mesma escala, os intervalos entre
seus graus são bem distintos, revelando a necessidade imperativa de uma
afinação específica para cada tonalidade. A importância de uma generalização
tonal motivou a busca permanente por novos sistemas de afinação.

Afinação mesotônica
Mediante ao prejuízo que o sistema baseado no ciclo de quintas causou às
terças maiores, surgiu um novo modelo que privilegia este intervalo (e devolve o
problema às quintas). O sistema mesotônico foi descrito por teóricos italianos
no séc. XVI e surgiu numa época em que os instrumentos de tecla começaram
a ganhar mais importância. Neste sistema, todas as terças devem ser puras e
sem batimentos, com 386 cents. As quintas são diminuídas em ¼ de coma e, de
uma maneira geral, são mais aceitáveis do que as terças do ciclo de quintas,
com exceção de uma quinta do lobo, considerada abominável, com seus 738
cents (uma quinta natural tem 701,96 cents e uma temperada, 700 ¢). A maior
característica desta escala é a ausência da enarmonia, pois para que todas as
terças soem perfeitas, o LÁ sustenido, por exemplo, que é a terça maior do FÁ
sustenido, tem uma frequência diferente do SI bemol, terça maior do SOL
bemol. Uma curiosidade é que a sequência das notas é LÁ, SI b, LÁ # e SI, pois
a sensível de SI é LÁ # e não SI bemol.
Cabe salientar que somente no séc. XVIII, surgiria o conceito de série
harmônica. Estudando o comportamento de cordas vibrantes, D’alembert
sugere que um som natural não era puro e único, mas com grande
complexidade e obtido através da superposição de diversos harmônicos de uma
série resultante do som principal (6, p. 35).
Além de Pitágoras, Arquitas, Zarlino e D’alembert, gênios da humanidade como
Filolaus, Eratóstenes, Aristoxeno, Aristóteles, Mersenne, Galileu, Darezzo,
Descartes e tantos outros, ainda fizeram muitas descobertas importantes sobre
a música, que colaboraram para a formação de escalas, divisão de intervalos
utilizando cálculos aritméticos ou de razão, intervalos melódicos e harmônicos,
relação de som com frequência, Série harmônica, Séries de Fourier, etc.

O sistema de cents
O sistema de cents surgiu por volta de 1880, desenvolvido por Alexander J.
Ellis, como uma forma de quantificar intervalos do sistema temperado igual.
Ganhou adeptos rapidamente graças à sua simplicidade e objetividade.
No sistema temperado igual, a oitava é dividida em 1200 partes iguais,
chamadas de Cents, ou ¢. Os semitons simétricos possuem 100 ¢ cada
Este sistema facilitou as pesquisas e a comparação de outros sistemas tonais
com o temperado igual.

Coma pitagórica ou Quinta do lobo


Desde a Grécia antiga, a construção de escalas procurou respeitar a afinidade
harmônica, que resulta em escalas assimétricas.
As escalas desenvolvidas desde então possuem, em algum momento, um ou
mais intervalos que soam diferentes dos demais. Uma característica comum
para todas estas escalas é que, como são essencialmente assimétricas, a
sucessão de 12 quintas formam uma oitava nunca se encontra com a
fundamental, fazendo com que as notas, dispostas num desenho circular,
formem uma espiral que se desenvolve infinitamente de dentro para fora.
No quadro abaixo, um gráfico comparativo alimentado com os dados acima. As
colunas vermelhas representam o empilhamento de quintas. As colunas azuis,
os empilhamentos de oitavas. É nítida a diferença que torna a oitava gerada
pelo do ciclo de 12 quintas um intervalo maior do que o empilhamento de 7
oitavas.
Do ponto de vista da relação de proporções, a diferença entre os 2 ciclos pode
ser expressa como
129,746 / 128 = 1,013640625.
Em uma outra visão, um intervalo de quinta natural possui 702 ¢. A
sobreposição de 12 quintas resulta em 8424 ¢.

CONCEITO DE TEMPERAMENTO
Genericamente, temperar significa fazer ajustes nos intervalos, desviando-os
dos intervalos naturais. A aplicação do temperamento como sistema é uma
medida que visa suprir necessidades ou resolver problemas apontados em um
sistema entendido como deficiente (realidade de todo sistema tonal temperado,
pois um intervalo sempre se beneficia em detrimento do prejuízo de outro ou
outros).
Diferentes temperamentos surgiram com o passar do tempo, quase todos
buscando uma solução para o mais conhecido enigma musical: a transposição
e modulação.
Até antes do advento do temperamento igual, as escalas eram assimétricas,
baseadas em referências harmônicas, aritméticas ou geométricas. Por mais que
um sistema fosse dividido em quintas, terças ou semitons, seus intervalos
possuíam uma relação de frequência desigual. Porém, a noção de sonoridade
que se tinha há até 4 séculos atrás era diferente do que estamos acostumados
a ouvir atualmente e aceitar como correto.
Não há um sistema de afinação que seja válido universalmente. A educação e a
cultura dos povos é que lhes familiariza com determinado sistema sonoro.
É importante salientar que, sob certos aspectos, aquilo que parece puro e
correto aos nossos ouvidos pode não ter o mesmo significado para outros
povos e vice-versa, pois sempre há a dependência do momento cultural ao qual
determinada população se encontra e de quão difundido foi determinado
sistema para promovê-lo à principal importância da época e do local.
Por exemplo, em muitos países, a música folclórica utiliza instrumentos que só
tocam os harmônicos naturais. A trompa é um destes instrumentos, onde a
quarta soa impura, pois o décimo primeiro harmônico está entre o FÁ e o FÁ#.
Nas regiões onde estes instrumentos são tocados, as pessoas estão habituadas
a cantar este intervalo “impuro”, que pode soar muito estranho para nós,
ocidentais. Ainda, se ouvíssemos uma música com a afinação do séc. XVII,
executada por Monteverdi, teríamos a sensação de que tudo está soando
terrivelmente desafinado.
Correto, do ponto de vista quase absoluto, é corresponder às exigências do
sistema tonal vigente. Quase absoluto porque, em se tratando de música, as
maiores transgressões, quando bem utilizadas, podem se tornar fundamentais
para a beleza de determinada obra musical. Sobre esse assunto, não há uma
verdade única. Só podemos discutir afinação se estivermos conscientes do
contexto e dos limites de determinado sistema.

TEMPERAMENTO IGUAL
Após tantos séculos e tantos cérebros dedicados às escalas musicais, um
problema fundamental (muitos autores não concordam com o termo “problema”,
além de sugerirem várias alternativas para o assunto) ainda não tinha sido
resolvido: a transposição e modulação num instrumento.
O estudo que obteve maior aceitação sugere distribuir a diferença da Quinta do
lobo entre todos os intervalos, numa relação logaritmicamente equivalente. Este
estudo foi apresentado em 1686, quando o organista alemão Andreas
Werckmeister publicou seu “Musikalische Temperatur”, com a teoria do
temperamento igual.
A afinação temperada foi desenvolvida, inicialmente, para instrumentos de tecla.
O processo conhecido como temperamento igual consiste dividir a oitava em 12
semitons rigorosamente iguais, impondo sempre o mesmo intervalo de
frequência entre dois sons vizinhos quaisquer.
Nesta construção totalmente simétrica, todos os intervalos, com exceção da
oitava, são um pouco impuros.

Cada semitom possui 100 ¢. A soma dos 12 semitons resulta em 1200 ¢, que
equivale a uma oitava.
Nesta afinação, todas as tonalidades
soam idênticas, diferenciando-se
apenas na altura .
É indiscutível a quantidade de
benefícios que a afinação temperada
trouxe: facilidade de afinação, a ideia de
inversões de acordes, surgimento de
novas linguagens musicais, etc., no
entanto, existe um preço a ser pago:
abrir mão da afinação específica e
perfeita (do ponto de vista acústico) de
cada tonalidade em troca da facilidade,
assim como, analogamente na luthieria,
um instrumento perde nuances e
sutilezas de timbre e dinâmica em troca de maior projeção sonora.

TEMPERAMENTO NO INSTRUMENTO
O arco musical, primeiro instrumento musical de corda, datado de
aproximadamente 13.000 a. C., é um instrumento puro, pois sua única corda
não gera intervalos.

A flauta de Divje Babe, de 43.000 anos a. C., possui orifícios que, pela distância
e diâmetro, sugerem que tenha sido construída para soar uma escala
pentatônica. Porém, é improvável que seus intervalos sejam naturais. Estes são
mistérios difíceis de ser desvendados
A afinação temperada, aplicada em instrumentos, se torna mais usual a partir do
séc. XVI, devido à crescente popularidade dos cravos e clavicórdios e à
evidente dificuldade de transposição nestes instrumentos.

Apesar de ter sido um processo de transição lento, hoje sabemos que foi
irreversível, a despeito da quantidade de pensadores e músicos que criticavam
duramente tal sistema. Mesmo nos dias de hoje, muitos profissionais da música
lamentam a forma como o sistema temperado igual foi amplamente
disseminado e tomado como sistema perfeito.
Não é raro encontrar pessoas que se deparam com as imperfeições deste
sistema e atribuem a causa do problema ao que imaginam ser a baixa
qualidade de seus instrumentos.
Ao que parece, a quantidade de benefícios não supera a quantidade de
deficiências oferecidas por este sistema. Mas por outro lado, esta parece ser a
única solução (a mais simples e acessível) para o dilema da modulação.
Seguindo por essa linha de pensamento, o temperamento igual se torna
imbatível.
O sistema temperado, por si só, atraiu muitos simpatizantes, que buscavam a
modulação e que, graças ao novo sistema, finalmente conseguiram realizar
maravilhosos trabalhos musicais e escritos. Talvez, o mais célebre de todos
tenha sido Johann Sebastian Bach (1685-1750). Este esplêndido compositor e
instrumentista compôs a obra “O cravo bem temperado” ou “Das
Wohltemperierte Klavier”.
Esta é a primeira obra que compreende as 24 tonalidades, mas trabalhos
menos abrangentes já haviam sido realizados antes, que também serviram de
inspiração para Bach. É, originalmente, uma coleção de 48 prelúdios e fugas,
divididos em 2 livros: o primeiro, composto em 1722 e o segundo em 1744.
Hoje, são obras conhecidas como “Livro 1” e “Livro 2” de “O cravo bem
temperado”.
O sistema tonal vigente na época de Bach era o mesotônico. Ainda há uma
dúvida se Bach buscava realmente um sistema temperado igual ou apenas um
sistema menos complicado (bem temperado), que lhe permitisse compor e tocar
suas ideias musicais com maior fluidez.
APLICAÇÃO DO TEMPERAMENTO IGUAL
No temperamento igual, a oitava é dividida em 12 intervalos de semitons
rigorosamente iguais, com as seguintes razões de frequência (9, p. 46):
f0, f, f2, f3, f4, f5, f6, f7, f8, f9, f10, f11, f12, onde f12 = 2.
A ideia é considerar f0, ou 1, como a fundamental e f12, ou 2, como sua oitava.
Lembrando que a oitava é representada por 2/1 = 2.
O que a relação de proporções de tamanhos vê como sobreposição de
intervalos (ciclo de quintas, por exemplo), a álgebra considera como cálculos de
potências. Assim, dividir uma oitava em partes significa trabalhar com a raiz de
2 (uma oitava), cujo índice é a quantidade de intervalos em questão. Neste
caso, 12.
Logo, a divisão de uma oitava em 12 partes iguais é representada,
aritmeticamente, como

= 1,059463094.

Por ter caráter proporcional, esta constante representa um semitom dentro de


qualquer grandeza que se aplique numa escala musical, seja polegada,
centímetro, milímetro ou hertz.
Por exemplo, a medida de escala de um contrabaixo Fender Precision é 863,6
milímetros.
Para encontrar a escala temperada dentro desta medida, podemos dividir o
comprimento de corda (podendo-se usar polegadas, centímetros ou milímetros)
por 1,059463094.

863,6 / 1,059463094 = 815,129856 milímetros

Este é o novo comprimento de corda que emitirá um semitom acima da nota da


corda solta. Com o instrumento afinado em 440 Hz, ao aplicarmos esse cálculo
sobre a quarta corda, ouviremos uma nota FÁ.

Dividindo novamente 815,129856 por1,059463094, teremos 769,380134. Este


novo comprimento de corda emitirá um FÁ#.

Repetindo essa operação, teremos as posições de todos os trastes do braço do


instrumento, ou sob outro ponto de vista, calcularemos todos os comprimentos
de corda necessários para emitir as notas da escala temperada igual.
MAIS PROBLEMAS: CORDAS E ENTONAÇÃO
Nos instrumentos de cordas, existe um agravante que se soma às imperfeições
do sistema temperado igual: o processo manual de entonação é obrigatório,
devido às diferenças de calibres entre as cordas.
De uma maneira geral, para compartilhar os mesmos trastes e manter a
afinação (na medida do possível), cordas com calibre maior necessitam de um
comprimento maior.

Como em todo instrumento que utiliza o temperamento igual, os intervalos de


terça são os mais prejudicados. Porém, na guitarra e no violão, o prejuízo é
gritante, gerando fortes batimentos. O problema se torna evidente,
principalmente, quando utilizados os acordes no modelo de LÁ, no intervalo de
terça maior entre as cordas 3 e 2.

Para minimizar o problema, uma prática muito utilizada é recuar alguns


milímetros o saddle da corda SI, deixando a entonação da oitava alguns cents
abaixo. Nos violões com cordas de aço, é comum o rastilho original possuir
esse recuo da corda SI. Isso diminui o intervalo, diminuindo também os
batimentos. Tornou-se comum empresas se especializaram em criar soluções
para os problemas surgidos com o sistema temperado igual.
Buzz Feiten e Earvana são algumas empresas que fabricam pestanas e pontes
com recuos específicos para “driblar” os problemas de afinação. Por mais que o
problema não seja sanado por completo, o resultado costuma ser satisfatório.
A busca por um sistema plenamente “perfeito” oferece, em igual exigência, um
contrapeso de dificuldades e imperfeições e sua criação, totalmente artificial,
apresenta muitas deficiências e nos obriga a reparar vários pequenos
problemas. Apesar de tamanho antagonismo, quanto mais perfeição se busca
em sistemas de afinação, mais obstáculos serão apresentados.
Certamente, a música hoje é totalmente determinada como resultado dessa
simetria. Se ela (a simetria escalar) não tivesse existido, toda a história musical
dos últimos 400 anos seria diferente e o que conhecemos hoje como música
seria, naturalmente, consequência de outras concepções, ideias e descobertas.
Pensando de uma maneira bem analítica e pragmática, todo o processo de
temperamento igual foi desencadeado por conta de certas limitações nos
instrumentos de tecla. Se retrocedermos e imaginarmos um mundo sem
teclados, o que teríamos hoje como música?
A simetria escalar proporciona benefícios incontestáveis. A natureza dos sons,
outros. Vivemos num mundo onde “perfeição” é um conceito temporal e
temporário, com local e prazo de validade para acontecer. Provavelmente,
dentro de poucas centenas de anos, outro sistema musical “perfeito” surgirá,
com a proposta de suprir outras necessidades ou deficiências.
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