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ECONOMIA INTRODUTÓRIA: PRINCÍPIOS DE ECONOMIA E DE ANÁLISE

DE CONJUNTURA

ANDRÉ FILIPE ZAGO DE AZEVEDO


ANGÉLICA MASSUQUETTI
GISELE SPRICIGO (org.)
MÁRCIO ELOIR SCHWEIG
RAQUEL NEGRISOLI FERNANDEZ CABRAL (org.)
SÉRGIO LEUSIN JÚNIOR
TIAGO WICKSTROM ALVES

2ª edição
Editora Unisinos, 2016
SUMÁRIO

Apresentação
Capítulo 1 – Princípios básicos de economia
Capítulo 2 – Conceitos fundamentais de microeconomia
Capítulo 3 – Noções de macroeconomia e teorias do comércio internacional
Capítulo 4 – Aplicação dos conteúdos estudados – Uma breve análise da atual
conjuntura econômica
Sobre os autores
Informações técnicas
APRESENTAÇÃO

O presente livro é uma obra de introdução às Ciências Econômicas.


Adicionalmente, o texto trabalhará com a aplicação da economia, com exemplos da
economia brasileira e internacional. O livro aplica-se às atividades acadêmicas da área
temática da Economia, em diversos cursos de graduação do ensino superior. Assim
sendo, o livro primeiramente trabalhará com conceitos básicos de economia. Logo
após, conceitos fundamentais de microeconomia e de macroeconomia. Ao final,
buscar-se-á a aplicação dos conteúdos estudados, através de uma breve análise da
atual conjuntura econômica. Seguindo essa ordem, o livro tem como objetivo discutir
os pontos a seguir listados, de acordo com os capítulos que se seguem:

Temática a ser desenv olv ida no


Capítulo:
Princípios básicos de economia 1
Noções de microeconomia 2
Noções de macroeconomia e teorias do comércio internacional 3
Aplicação dos conteúdos estudados – uma breve análise da atual 4
conjuntura econômica

É importante destacar o objetivo do presente texto. Como trata-se de um livro de


introdução às Ciências Econômicas, o mesmo trabalhará com muito conceitos, tais
como demanda, oferta e equilíbrio de mercado. O importante é entender esses
conceitos e não apenas decorá-los. Isso porque as Ciências Econômicas acabam
fazendo parte da vida de todas as pessoas, tantos as pessoas físicas (indivíduos) como
as pessoas jurídicas (organizações, empresas, instituições etc.). O princípio disso, pode-
se dizer, está no fato de os indivíduos terem necessidades. Em outras palavras, todas as
pessoas precisam se alimentar e precisam de bens e serviços (dos mais variados) para
suprir as suas necessidades. Esses bens e esses serviços são, na maioria dos casos,
ofertados (oferecidos) pelas pessoas jurídicas. Com essa breve explicação, pode-se
perceber que as pessoas físicas têm demandas e as pessoas jurídicas ofertam bens e
serviços. Essa troca, na economia de mercado da qual fazemos parte, ocorre através da
compra e da venda de bens e serviços. Isso ocorre a todo o momento, em todos os
lugares do mundo e com todas as pessoas. Dessa forma, o presente texto irá trazer os
conceitos econômicos que deverão ser uma base calcificada de conhecimento para
atividades futuras, tendo as Ciências Econômicas como instrumento estratégico. Após
essa breve introdução, vale destacar algumas considerações sobre o por quê de se
estudar economia:

entender como funcionam os fluxos de recursos entre pessoas físicas e jurídicas,


dentro do sistema capitalista de mercado;
compreender sobre como as pessoas físicas fazem escolhas e os motivos que
levam a termos diferentes tipos de consumidores, com diferentes
comportamentos, na sociedade;
identificar e analisar uma série de indicadores e informações que sirvam de
base para a tomada de decisão, tanto nos investimentos pessoais como nas
organizações, e, ainda, entender o processo de alocação de recursos nas
organizações;
ler e fazer uso das informações sobre economia que aparecem nos meios de
comunicação todos os dias. Na maior parte dos dias da semana, a manchete
dos jornais versa sobre economia;
compreender e disseminar do papel do Estado enquanto regulador e
organizador das atividades econômicas;
entender e visualizar as perspectivas econômicas no Brasil e
internacionalmente, compreendendo as relações econômico-financeiras entre
os países;
compreender o papel da economia na sociedade, apresentando os seus
conceitos básicos e medidas de variáveis econômicas;
compreender as diferentes estruturas de mercado e a sua influência no âmbito
das organizações.

Dessa forma, essas são algumas razões práticas para demonstrar a importância do
estudo da economia, nas mais diversas áreas. A seguir, uma breve apresentação de
cada capítulo.
O primeiro capítulo busca apresentar os principais conceitos de economia,
começando, principalmente, pelo entendimento do que significam as Ciências
Econômicas. Também são apresentados os conceitos de tipos de bens, de macro e de
microeconomia e, por fim, alguns princípios básicos para se estudar economia e para se
entender como as pessoas tomam as decisões: Princípio 01: pessoas enfrentam
tradeoffs. Princípio 02: o custo de alguma coisa é o que você desiste para obtê-la.
Princípio 03: pessoas racionais pensam na margem. Princípio 04: pessoas respondem a
incentivos.
O segundo capítulo versa sobre noções de microeconomia. A microeconomia
ocupa-se da análise do comportamento das unidades econômicas, como famílias,
consumidores e empresas. Considera-se assim, essas unidades econômicas como se
fossem unidades individuais. Dessa forma, trabalhar-se-á com conceitos fundamentais
de microeconomia; equilíbrio; as tarefas do sistema econômico; fluxos econômicos; os
mercados de (a) fatores e de bens e serviços, (b) fatores de produção, (c) bens e serviços
de consumo; (d) mercado financeiro; curvas de possibilidade de produção; rendimentos
decrescentes e os custos sociais crescentes; fundamentos de oferta e demanda e, ainda,
elasticidade. Também serão trabalhadas: a Teoria da Produção, incluindo custos de
produção, e as estruturas de mercado.
A microeconomia e a macroeconomia compõem as duas grandes áreas do
estudo da Economia. A macroeconomia, que será abordada no terceiro capítulo, se
difere da microeconomia principalmente pelo uso da soma das variáveis econômicas
individuais para obter dados agregados da economia. Assim, o uso do agregado e o
foco nas variáveis agregadas como consumo agregado, investimento agregado e
produto agregado são determinantes no estudo da macroeconomia. Desta forma, as
análises macroeconômicas utilizam instrumentos teóricos e empíricos para monitorar a
economia, realizar previsões econômicas, auxiliar na elaboração de políticas públicas,
além de buscar entender a estrutura da economia em geral.
Por fim, o quarto e último capítulo tem o objetivo de definir, qualificar e
quantificar os principais indicadores econômicos do país. Reconhecidamente, tais
indicadores são fundamentais tanto para propiciar uma melhor compreensão da
situação presente e o delineamento das tendências de curto prazo da economia quanto
para subsidiar o processo decisório. O capítulo trabalhou com os agrupamentos mais
convencionais dos diferentes indicadores e sempre que possível, especificou, para cada
um deles, aspectos como conceito, finalidade, metodologia de determinação e
instituição produtora.
Vale destacar que ao final de cada capítulo tem-se alguns itens adicionais, tais
como: indicação de sites, sugestões de leitura complementar, as referências utilizadas
ao longo do texto, bem como o(s) autor(es) de cada capítulo. A seguir, será apresentado
o minicurrículo dos autores, e logo após será dada sequência aos capítulos.

Boa leitura!
Gisele Spricigo
CAPÍTULO 1
PRINCÍPIOS BÁSICOS DE ECONOMIA
Gisele Spricigo
Raquel Negrisoli Fernandez Cabral
Sérgio Leusin Júnior

O capítulo apresenta os principais conceitos de economia, começando, principalmente, pelo entendimento do que
significam as Ciências Econômicas. Também são apresentados os conceitos de tipos de bens, de macro e de
microeconomia e, por fim, alguns princípios básicos para se estudar economia e para se entender como as pessoas tomam
as decisões: Princípio 01: pessoas enfrentam tradeoffs. Princípio 02: o custo de alguma coisa é o que você desiste para
obtê-la. Princípio 03: pessoas racionais pensam na margem. Princípio 04: pessoas respondem a incentivos.

1.1 Introdução

Para a compreensão dos fatos econômicos, é necessário ter o conhecimento dos


fundamentos básicos que regem a ciência econômica. Por mais que o estudo da
economia seja multifacetado, existe uma série de ideias centrais que abrangem todo o
escopo desta ciência. Estas ideias aparecerão de forma recorrente ao se analisar os
problemas econômicos e devem ser internalizadas pelo estudante de economia.
Porém, antes de iniciarmos nos conceitos propriamente, cabe reconhecer: o que
é economia? Abaixo, tem-se um conceito bastante completo:
A economia é uma ciência social que estuda como os indivíduos e a sociedade
decidem (ou escolhem) empregar os recursos produtivos escassos na produção de bens
e serviços, de modo a distribuí-los entre várias pessoas e grupos de sociedades, a fim de
satisfazer as necessidades humanas (VASCONCELLOS; GARCIA, 1998).
Esse conceito pode ser explicado parte a parte, como será feito a seguir:

a economia é uma ciência social. Dentro das grandes áreas do conhecimento,


as Ciências Econômicas fazem parte das Ciências Sociais Aplicadas;
os indivíduos e a sociedade, a todo momento, em todos os lugares, está
fazendo escolhas sobre o que comprar, onde investir etc.;
essas escolhas estão pautadas pelas necessidades humanas;
os recursos são escassos, e não abundantes, como será visto a seguir, na Lei da
Escassez.

A economia pode ser entendida em duas grandes áreas. A microeconomia ocupa-


se da análise do comportamento das unidades econômicas, como famílias,
consumidores e empresas. Considera-se, assim, essas unidades econômicas como se
fossem unidades individuais. Já a macroeconomia estuda o funcionamento da
economia como um todo, ou seja, ocupa-se do comportamento global do sistema
econômico.
A partir dessa breve introdução, destacam-se os elementos que são objetos de
estudo das Ciências Econômicas. Esses elementos serão abordados, analisados e
muitas vezes citados ao longo de todo o livro. São eles:

escolha;
escassez;
necessidades;
recursos;
produção;
distribuição.

Ao longo do texto, também serão mencionados, diversas vezes, bens e serviços.


É importante entender a que bens e serviços são todos aqueles criados para satisfazer
as necessidades. Os bens podem ser tocados, analisados, esquematizados e contados.
Os serviços não podem ser tocados nem estocados pois são intangíveis, ou seja, eles
existem quando são produzidos. Tem-se os seguintes tipos de bens:

Segundo seu caráter:

Bens livres: são ilimitados em quantidade ou muito abundantes. Não se pode


apropriá-los, como o ar, o calor, o sol, a chuva etc.
Bens econômicos: são bens escassos em quantidade, dada sua procura, e
apropriáveis. Os bens econômicos têm valor monetário. Quase todos os bens são bens
econômicos.

Segundo sua natureza:

Bens de capital
São aqueles utilizados na fabricação de outros bens, mas que não se desgastam
quando utilizados (com exceção da depreciação), como, por exemplo, uma máquina
ou uma impressora.

Bem de consumo
Atende às necessidades humanas. São classificados em bens duráveis (móveis,
por exemplo) e não-duráveis (alimentos, por exemplo).

Segundo sua função:

Bem intermediário
São aqueles agregados ou transformados na produção de outros bens e que são
consumidos totalmente durante o processo produtivo. Por exemplo: cola no calçado.

Bem final
São aqueles vendidos para consumo e/ou para utilização final. Exemplo:
calçado.

E ainda: bens privados, que são produzidos e possuídos privadamente. Bens


públicos são aqueles cujo consumo é feito por vários indivíduos ao mesmo tempo (por
exemplo, um parque).
1.2 A lei da escassez

A palavra economia deriva do termo grego oikos que significa lar, podendo ser
interpretado como o estudo do lar, ou ainda, o estudo do ambiente, que inclui todos os
fatores que afetam a vida dos organismos que de alguma forma interagem nesse
ambiente. Deve-se ter em mente a diferença entre o termo casa, que diz respeito à
parte física da moradia, e o termo lar, que é mais amplo e trata de questões
relacionadas à qualidade do convívio e sobrevivência das pessoas ou organismos que
compõem este lar. Desta forma, pode-se definir a ciência econômica como a ciência
que busca compreender e encontrar soluções para problemas originados da interação
entre estes organismos que constituem o ambiente ou lar.
Este ambiente, de maneira ampla, pode ser compreendido como um composto
social formado por famílias, empresas e governo. É importante lembrar que os
problemas deste composto social são problemas originados por pessoas e que irão
afetar exclusivamente a vida de pessoas. Assim, ao resolver um problema econômico,
se está resolvendo um problema na vida das pessoas.
Os problemas originados da interação entre estes agentes são em função de um
princípio humano fundamental: os indivíduos têm desejos e necessidades ilimitadas1
(prazer, felicidade, amor, saúde etc.) e a natureza tem recursos disponíveis para suprir
estas necessidades de maneira limitada (água, matérias-primas etc.). Neste ponto entra
em cena talvez o principal problema econômico: a escassez. Assim, pode-se dizer que
economia é o estudo da forma como as sociedades utilizam seus recursos escassos para
produzir bens e de como serão distribuídos estes bens entre os vários indivíduos.
A interação entre as duas forças que geram os problemas econômicos (desejos
ilimitados versus recursos limitados) é regida por um ser humano muitas vezes definido
por economistas da Escola Clássica de Economia como o Homo Economicos ou Homem
Econômico. Esta categoria de indivíduo é definida como um homem perfeitamente
racional e capaz de fundamentar suas decisões exclusivamente por razões econômicas,
preocupando-se em obter o máximo de benefício com o mínimo de sacrifício de modo
imediato. Ele agiria racionalmente no sentido de maximizar sua riqueza e assim
introduzir novos métodos produtivos para enfrentar a concorrência no mercado
(SANDRONI, 1999). Na figura 1 é mostrado de forma sintetizada o objeto de estudo da
Economia.
Figura 1 – A origem dos problemas.
Fonte: SANDRONI, 1999. Elaboração própria dos autores.

Em síntese, o estudo da economia diz respeito à maneira como grupos de


pessoas interagem entre si enquanto realizam suas atividades cotidianas. Desta forma,
o comportamento da economia reflete o comportamento das pessoas que a compõem,
e este fato torna de fundamental importância conhecer os princípios que definem as
tomadas de decisão individuais. Estas decisões precisam ser feitas tendo em vista que
os recursos são escassos, o que torna impossível atender a todas as necessidades
humanas. Portanto, a sociedade precisa fazer suas escolhas, assim como os indivíduos
no seu dia-a-dia.

1.3 Princípios da Tomada de Decisão Indiv idual

Uma importante contribuição para a compreensão dos princípios fundamentais


de economia foi realizada por Mankiw (2001) ao sistematizar a maneira como são
solucionados os problemas originados em função da escassez dos recursos.

Como as pessoas tomam decisões:

Princípio 01: pessoas enfrentam tradeoffs;


Princípio 02: o custo de alguma coisa é o que você desiste para obtê-la;
Princípio 03: pessoas racionais pensam na margem;
Princípio 04: pessoas respondem a incentivos.

Princípio n° 1: pessoas enfrentam tradeoffs


Em Economia, tradeoff significa uma situação de escolha conflitante que é
ocasionada em função da escassez de recursos. Um exemplo de recurso escasso é
o tempo. O estudante desta disciplina, por exemplo, tem tempo limitado para a
realização de todas as tarefas que gostaria de fazer. Provavelmente seja mais
agradável passar os dias na beira de um rio pescando do que estudando em seu
quarto, contudo a vida exige mais do que isso e algumas horas de estudo serão
necessárias para o seu crescimento profissional. Portanto, para um aluno tirar boas
notas, ele terá de abdicar algumas horas de suas atividades de recreação para
dedicar-se aos estudos. Assim, um estudante, ao decidir entre estudos ou lazer, está
enfrentando um tradeoff, pois não pode realizar as duas tarefas ao mesmo tempo.
Desta forma, mais horas de lazer consequentemente implicam em menos horas de
estudo.

Princípio n° 02: O custo de alguma coisa é o que v ocê desiste para obtê-la

O princípio n° 1 gera um desdobramento, pois existirá um custo caso o aluno


decida passar todas as horas disponíveis do seu dia pescando à beira de um rio ao
invés de estudar para as provas, e este custo provavelmente será uma nota baixa
na avaliação. Ou seja, o custo de alguma coisa, ou o custo de uma decisão, é o
custo do que se abre mão para poder obtê-la. Esta frase pode ser reescrita da
seguinte maneira: para quase todas as decisões tomadas existe um bônus, mas
também um ônus. Ou ainda: independentemente da opção escolhida, existirá um
custo e um benefício em função desta decisão. Em Economia, este princípio é
muito utilizado e talvez seja um dos mais importantes. Ele é chamado de custo de
oportunidade.
Um exemplo clássico de custo de oportunidade, que é seguidamente
utilizado em planos de negócios, é a ponderação da realização ou não de um
investimento empresarial. O empresário pode perguntar-se qual será a renda que
ele irá acrescentar ao seu faturamento ao realizar um investimento de R$
15.000,00 (quinze mil reais) na sua empresa, por exemplo. Ele terá no mínimo
duas opções para avaliar: uma opção seria depositar este valor em uma conta
poupança, por exemplo, na qual ele terá um determinado rendimento; a outra
opção seria ele investir na empresa comprando ou renovando as máquinas para a
produção de mercadorias. Caso o rendimento gerado pelo investimento na
empresa for menor que o rendimento da poupança, é provável que ele escolha
depositar este valor na poupança e, desta forma, não realizar o investimento na
empresa. Assim, o rendimento da poupança é o custo de oportunidade de investir
este valor na empresa.

Princípio n° 03: Pessoas racionais pensam na margem

Provavelmente o aluno pescador, citado nos princípios anteriores, não irá


nem decidir passar todas as horas do seu dia pescando, nem ocupar todo o seu dia
estudando. Com certeza ele irá ponderar o benefício de mais uma hora de estudo
ou mais uma hora de pescaria. Ele não será radical ao ponto de escolher ficar o
resto de sua vida só pescando ou só estudando. É provável que este aluno busque
avaliar qual o benefício de algumas horas adicionais de estudo para sua vida
acadêmica, assim como avaliar qual o ganho de algumas horas adicionais de
pescaria na sua qualidade de vida. Desta forma, pode-se afirmar que em muitos
casos as pessoas tomam as melhores decisões quando pensam na margem,
determinando o quanto a mais de esforço é preciso despender para se obter
maiores benefícios.

Princípio n° 04: pessoas respondem a incentiv os

Imagine que o preço da carne tenha disparado nos supermercados e que o


aluno do exemplo seja um bom pescador. Mesmo considerando sua pescaria como
uma atividade recreativa, de certa forma este aluno está colaborando com sua
família ao levar peixes para serem consumidos no almoço. Assim, a elevação do
preço da carne acaba por incentivar para que o mesmo continue pescando, ou até
mesmo aumente o número de horas que se dedica a esta atividade e
consequentemente reduza suas horas de estudo. A principal lição que deve ser
internalizada deste princípio é que novos acontecimentos podem fazer com que as
pessoas reavaliem suas escolhas, começando pelo princípio 1 (pessoas enfrentam
tradeoffs), passando para uma reavaliação do custo de oportunidade (princípio 2 -
quanto será perdido ao optar entre duas alternativas conflitantes) e, finalmente,
verificando quanto a mais se obterá da alternativa a ao abrir mão de certa quantia
da opção b (princípio 3 – pessoas racionais pensam na margem)

É facilmente percebido nas sociedades o equivocado conceito de que é possível


viver sem a ajuda de outros ou sem a interação entre as pessoas. Todas as pessoas
(países) do mundo precisam da ajuda de outras pessoas (países) para sobreviver, por
mais rica que seja esta pessoa ou país. Quando você acorda pela manhã,
provavelmente um celular com tecnologia importada do Oriente te desperta. Ao sentar-
se à mesa do café, irá consumir frutas que foram colhidas por pessoas; e ao se deslocar
para o seu trabalho ou escola, alguém tornou possível o seu transporte, seja o governo
municipal que lhe forneceu as vias públicas municipais, seja o frentista que abasteceu
seu carro ou o motorista do seu ônibus. Assim, acreditar na ideia de vida isolada ou
independente dos outros é ilusão. A primeira lição que um indivíduo precisa
internalizar para compreender os fatos econômicos é acreditar que não é possível o
convívio isoladamente. Seja uma pessoa, cidade ou país, todos necessitam da ajuda
de outros.
Com a ajuda destes conceitos básicos, será possível compreender a maneira
particular como os problemas econômicos são tratados e como se deve pensar para
resolvê-los. O economista sempre deve analisar as alternativas disponíveis, verificar o(s)
custo(s) (e não só os benefícios) originado(s) das decisões tomadas, assim como buscar
entender como os eventos estão relacionados. A Economia é uma ciência como todas
as outras, contudo possui elementos das ciências exatas e humanas, e o seu laboratório
é a vida real. Desta forma, o economista nunca deve descuidar do seu objeto principal,
que é a busca pelo bem-estar das sociedades.

1.4 Indicação de Sites

Site Oficial do Banco Central do Brasil: www.bcb.gov.br


Site Oficial do Ministério da Fazenda (Brasil): www.fazenda.gov.br

1.5 Conceitos Importantes

Termos Básicos
Escassez Homo Econômicos
tradeoffs Custo de oportunidade
Tipos de bens

REFERÊNCIAS

SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Best Seller, 1999.

MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Rio


de Janeiro: Elsevier, 2001.

MOCHÓN, Francisco. Princípios de Economia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

PINHO, Diva Benevides; VASCONCELLOS, Marco Antônio (org.). Manual de economia:


equipe dos professores da USP, 3. Ed. São Paulo: Saraiva, 1998.

MANKIW, N. GREGORY. Introdução à Economia. São Paulo: Pioneira Thomson


Learning, 2005.

MANKIW N. G. Introdução à Economia: princípios de micro e macroeconomia. 1 ed.


Rio de Janeiro: Campus, 1999.

PASSOS, Carlos Roberto Martins; NOGAMI, Otto. Princípios de economia. São Paulo:
Pioneira, 1999.

VASCONCELOS, M. A. S. Economia micro e macro. São Paulo: Atlas, 2001.

VASCONCELLOS, M. A.; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. São Paulo:


Saraiva, 1998.

VASCONCELLOS, M. A.; TROSTER R. L. Economia básica. 4. ed. São Paulo: Atlas,


1998.

WESSELS, W. J. Economia. São Paulo: Saraiva, 1998.

__________
1 Os desejos humanos ou necessidades humanas, de acordo com a pirâmide de Maslow, começam com as funções
biológicas e fisiológicas básicas como alimentação, conforto físico, descanso, lazer, etc., que ao serem supridos fazem
originar desejos mais complexos como autonomia, identidade, estabilidade, aceitação entre seus pares entre outros.
CAPÍTULO 2
CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE MICROECONOMIA
Gisele Spricigo
Márcio Eloir Schweig
Raquel Negrisoli Fernandez Cabral
Tiago Wickstrom Alves

A microeconomia ocupa-se da análise do comportamento das unidades econômicas, como famílias, consumidores e
empresas. Considera-se assim essas unidades econômicas como se fossem unidades individuais. Dessa forma, trabalhar-
se-á com conceitos fundamentais de microeconomia; equilíbrio; as tarefas do sistema econômico; fluxos econômicos; os
mercados de (a) fatores e de bens e serviços; (b) fatores de produção; (c) bens e serviços de consumo; (d) mercado
financeiro; curvas de possibilidade de produção; rendimentos decrescentes e os custos sociais crescentes; fundamentos de
oferta e demanda e, ainda, elasticidade. A teoria da produção e custos de produção será abordada, com vistas a ampliar a
magnitude de ganhos para as empresas. Também, ao final, definem-se as estruturas de mercado e visualizam-se as
barreiras à entrada em novos mercados.

2.1 Introdução à Microeconomia

A teoria microeconômica estuda o comportamento dos agentes econômicos


individuais, isto é, das decisões dos indivíduos como consumidores, como proprietário
dos fatores de produção, e das suas decisões como proprietário das firmas.
É comum encontrar a expressão comportamento da firma nos livros de economia.
Esta é utilizada para expressar o comportamento dos empresários quando atuam no
mercado. Da mesma forma, tem-se a expressão comportamento do consumidor, que
abarca um amplo leque temas econômicos relacionados ao comportamento dos
agentes enquanto consumidores, por exemplo: racionalidade econômica, teoria dos
incentivos, informação, entre outros.
Assim, a microeconomia é o ramo das ciências econômicas que busca explicar o
comportamento dos consumidores e das firmas no mercado. Desta forma, ela analisa
também a estrutura de mercado, como a formação de cartéis, monopólios e o
comportamento destes.

2.3 Equilíbrio

O conceito de equilíbrio é um dos mais importantes em análise econômica. A


expressão equilíbrio significa uma posição onde as forças se anulam e, em caso de
qualquer alteração, as forças de mercado restabelecerão o equilíbrio. Na figura 2, tem-
se um pêndulo que ajuda a compreender a noção de equilíbrio. Em qualquer posição
que soltarmos o pêndulo, como na posição A, por exemplo, ele oscilará e movimentos
cada vez menores e acabará na posição de equilíbrio E. Assim é a ideia de equilíbrio
muitas vezes discutida em microeconomia: sabe-se posição do mercado, e caso
determinada alteração ocorra, pode-se prever o que irá ocorrer, mas o tempo e os
movimentos intermediários não são discutidos. Assim como expresso no exemplo do
pêndulo, não se explicita quantos movimentos e em que tempo se obterá a posição
estática E, mas sabe-se que lá será o equilíbrio. Essa é a definição de equilíbrio
estático analisado em economia.

Figura 2 – Equilíbrio.
Fonte: Elaboração própria dos autores.

2.3 As Tarefas do Sistema Econômico

A economia é, em última análise, a ciência da escassez, pois ela tenta suprir


necessidades ilimitadas dos seres humanos com recursos produtivos limitados. Logo, ela
dedica-se a como maximizar a satisfação dos consumidores, dada a limitação de renda,
e a maximização do lucro dos produtores, dada a limitação de insumos e preço dos
fatores de produção.
Como as necessidades humanas têm que ser satisfeitas com uma limitada
quantidade de recursos, uma função primordial da economia é estabelecer a melhor
combinação dos recursos disponíveis para atender essas necessidades, que são
divididas em três categorias: primárias, secundárias e coletivas.

a. Necessidades primárias: são aquelas essenciais à sobrevivência humana. Isto


é, são necessidades comuns a todas as pessoas, que são alimentação, saúde,
habitação e transporte, entre outras.
b. Necessidades secundárias: são aquelas que aparecem à medida que ocorre
o crescimento econômico. Ao contrário das primárias, não se instalam
repentinamente, pois levam algum tempo para se incorporarem aos hábitos.
Tais necessidades são também chamadas de supérfluas e tendem a serem
consideradas essenciais na medida em que passam a fazer parte da cesta de
consumo dos indivíduos como, por exemplo, telefone celular.
c. Necessidades coletivas: são aquelas que surgem da necessidade concernente
à socialização dos indivíduos, necessitando, assim, de serviços que muitas
vezes são coletivos. Exemplo desses são: manutenção da ordem pública, os
serviços de água, luz e telefone, a construção e manutenção de estradas etc.

PRIMÁRIAS SECUNDÁRIAS COLETIVAS


Alimentação
Saúde Supérfluas Serviços Públicos
Habitação
Transporte

Dessa forma, o sistema econômico tem como tarefas atender essas necessidades.
Logo, o problema econômico pode ser resumido em três questões:

o que produzir?
quanto produzir?
como produzir?

Estas questões abrangem praticamente todo o campo de Análise Econômica.


Deve-se ressaltar que toda decisão econômica que seja realizada em uma
economia com uma certa quantidade de habitantes, um certo grau de tecnologia,
determinado número de fábricas e ferramentas e determinada quantidade de terra,
potência energética e recursos naturais, ao decidir o que, quanto e como, estará de fato
decidindo para quem produzir com os recursos existentes.

2.4 Fluxos Econômicos

Um sistema econômico tem seu funcionamento embasado na utilização de seus


recursos disponíveis para produção de um conjunto de bens e serviços que serão
utilizados por outras unidades produtoras ou colocados à disposição dos consumidores
finais para satisfação de suas necessidades. A geração dessa produção é realizada
basicamente através dos seguintes recursos:

terra (recursos naturais);


trabalho;
capital;
tecnologia.

Assim, a natureza constitui-se no primeiro fator de produção. São as matérias


primas de muitos setores industriais na produção de novos bens, além de recursos
energéticos como hidrográficos, petróleo, gás etc. Esses recursos são denominados de
Terra ou Recursos Naturais em economia.
O trabalho refere-se ao emprego de mão-de-obra utilizado na produção de bens
e serviços.
O capital compreende o conjunto e fábricas, estradas, máquinas, equipamentos
e instalações, assim como o conhecimento tecnológico da sociedade. Na atualidade, o
fator capital humano passou a ser mais relevante que o capital físico e tem sido objeto
de estudo em muitas áreas das ciências sociais.
Dado que a produção de bens e serviços é orientada pelas necessidades
humanas e exige a utilização de fatores de produção, então, pode-se representar o
fluxo destes recursos e produtos através do que se denomina de fluxo circular da
economia. Esses fluxos econômicos correspondem a um fluxo real (de bens e serviços) e
um fluxo monetário, que representa a contrapartida, em valor, dos bens, serviços e
fatores utilizados na economia por um intervalo de tempo. A figura 3 exemplifica esse
fluxo.

Figura 3 – Fluxo Circular em uma Economia a Dois Setores.


Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores.

Os Mercados de Fatores e de Bens e Serviços

Um mercado é o lugar onde compradores e vendedores encontram-se para


comprar e vender seus recursos, bens e serviços. De outra forma, o mercado é onde
vendedores e compradores, por meio de suas interações reais ou potenciais, definem
preços. No passado, o termo referia-se a uma localização geográfica, mas atualmente
não há limites para determinados mercados, pois o avanço tecnológico facilitou o
contato entre vendedores e compradores sem que eles sequer se vejam. O preço, que é
uma medida de escassez, é determinado pela interação entre a oferta e a demanda.
Denomina-se de preço de mercado aquele preço que prevalece em um mercado
competitivo. Isso não significa que todos os produtos foram ou serão vendidos ao preço
estabelecido, mas que os preços de comercialização oscilam em torno dele.

O Mercado de Fatores de Produção


Neste mercado, as famílias ofertam seus recursos: terra, trabalho e capital.
Enquanto isso, as empresas (unidades produtoras) demandam (procuram) tais recursos
para alocarem na produção de bens e serviços.

O Mercado de Bens e Serv iços de Consumo

No mercado de bens e serviços, são ofertados produtos aos consumidores que


passaram por um processo de produção ou extração e serviços aos consumidores. Esses
produtos e serviços são denominados de produtos e serviços finais.

Mercado Financeiro

É o conjunto do mercado monetário e de capitais. Esse mercado é responsável


pela intermediação entre agentes superavitários (famílias) e deficitários (empresas). A
transformação da poupança (que é um vazamento do consumo) em investimento (que
é a aquisição de máquinas e equipamentos para a produção) é possível pela existência
do mercado financeiro.
A alocação dos fatores na determinação dos bens e serviços finais e nos bens de
capitais determina as possibilidades de produção de uma economia. Se houver maior
alocação dos fatores para a produção de bens finais, reduzindo os investimentos, a
economia irá crescer mais lentamente do que uma outra economia onde a poupança e
o investimento fossem proporcionalmente maiores. Essa relação pode ser observada na
curva de possibilidade de produção.

2.5 Curv as de Possibilidade de Produção

A Curva de Possibilidade de Produção, também chamada de Fronteira de


Possibilidade de Produção, pode ser melhor compreendida através de uma
representação gráfica, que evidencia o problema de realização da produção, dados os
recursos produtivos.
Por exemplo, supondo que uma economia possa produzir, com a utilização
plena de seus recursos e na máxima eficiência técnica, 50 unidades de bens de capital,
ela não teria mais capacidade de produção. Isso significa que não teria disponibilidade
de recursos para a produção de bens de consumo. No outro extremo, se produzisse 100
unidades de bens de consumo, então, não teria recursos para a produção de bens de
capital. Logo existe uma necessidade de, ao produzir mais de um, reduzir a produção
de outro, dados os recursos existentes. Essas possibilidades de produção é que se
denomina de Curva de Possibilidade de Produção, que pode ser observada na figura 4.
Figura 4 – Curva de Possibilidade de Produção.
Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração própria dos autores.

Pontos notáv eis das Curv as de Possibilidade de Produção

Se uma economia estiver operando no ponto O, ela estará operando em pleno


desemprego, embora isso possa ser apenas dito na teoria, inexistindo na
prática, porque os recursos nesta situação não seriam utilizados para quaisquer
fins, de modo que a produção seria reduzida a zero.
Se estiver operando nos pontos A, B ou C, significa que a economia esta
operando com pleno emprego dos fatores disponíveis.
Se estiver operando no ponto D, significa que os recursos não estão
plenamente empregados, e estamos com capacidade ociosa.
No ponto E, a produção é impossível com os recursos e a tecnologia existentes
na economia. Esse ponto só pode ser atingido no longo prazo através da
expansão dos recursos e/ou tecnologia. Logo, sempre que houver variação nos
fatores de produção, haverá deslocamento da curva de possibilidade de
produção.

Assim, dada a escolha entre bens finais e de capitais, dada uma curva de
possibilidade de produção, se estará determinando:

o que e em que quantidades produzir;


o processo de maximização da produção dada pelos recursos disponíveis;
a taxa de crescimento da economia.
Deslocamento das curv as de possibilidade de produção

Essas variações ocorrem somente no longo prazo em função de variações


tecnológicas, e/ou aumento da força de trabalho e/ou de alterações no capital.
Graficamente:

Figura 5 – Deslocamento da Curva de Possibilidade de Produção.


Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração própria dos autores.

Deslocamento Positiv o

Ocorre em situações normais de uma economia, os recursos disponíveis com


expansão de melhorias.

Deslocamento Negativ o

Ocorre em situações anormais, a redução ou desqualificação dos recursos


disponíveis em uma economia.

Qual a causa essencial das diferentes taxas de deslocamento positivo da curva de


possibilidade de produção?

Depende da parcela de produção que é destinada à acumulação (investimentos).


Acumulação → Processo de expansão e melhoria dos recursos de produção já
existente (humanos e patrimoniais).

2.6 Rendimentos Decrescentes 2 e os Custos Sociais Crescentes

Lei dos Rendimentos Decrescente, também chamada de produtividade marginal


decrescente, é todo o movimento de intensificação da produção para um determinado
ramo, levando à redução da produtividade em função da existência da perda de
eficiência dos fatores.
Se todos os recursos da produção se expandirem a curva de possibilidade de
produção poderia apresentar rendimentos constantes ou crescentes, porém se qualquer
um dos fatores permanecer fixo o resultado da expansão será a uma taxa decrescente.

Figura 6 – Rendimentos Decrescentes sobre a Curva de Possibilidade de Produção.


Fonte: VASCONCELOS, 2001. Elaboração própria dos autores.

Na medida que se amplia a produção de bens de consumo (em proporções


constantes), necessita-se reduzir-se cada vez mais a produção de bens de capital. Ou
seja, cada unidade adicional de bens de consumo exigirá uma redução cada vez maior
na produção de bens de capital, como pode ser visto na passagem do ponto A para o
ponto B e de B para C na figura 5. Destaca-se que no exemplo dado na figura 4 não
existe variação na disponibilidade dos recursos, mas sim na destinação que é dada a
eles.
Curv a de Restrição Orçamentária

Representa o máximo que o indivíduo pode adquirir de duas mercadorias, dada


sua renda monetária e o preço das mercadorias. Conforme o gráfico abaixo, se toda a
renda de um indivíduo fosse utilizada para a aquisição do produto Y, Y0 seria o
máximo que ele poderia adquirir dada sua renda e o preço de Y; já se toda a renda
fosse utilizada para a aquisição do bem X, X0, representaria o máximo que ele poderia
adquirir de X dada a sua renda e o preço da mercadoria X. Assim unindo os pontos Y0
e X0, temos a reta de restrição orçamentária.

Figura 7 – Curva de restrição orçamentaria.


Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração: Raquel Cabral.

A reta de restrição orçamentária é de suma importância na teoria do consumidor,


pois é com base nela que se determina a curva de demanda. Isso ocorre por que os
indivíduos tentarão maximizar suas utilidades (satisfação obtida no consumo dos bens)
dadas a renda e os preços dos bens. Assim, sempre que houver alteração no preço dos
bens, o consumidor irá deslocar seu consumo em direção ao bem que se tornou mais
barato. Além disso, sempre que um ou mais bens apresentarem redução real de preços,
o consumidor terá um incremento real de renda, pois ele poderá consumir as mesmas
quantidades anteriores e lhe sobra renda. Logo, uma demanda modificada por
alteração de preços dos produtos sempre apresentará um efeito de substituição
(modificação das quantidades consumidas em busca do bem mais barato) e um efeito
de renda.

2.7 Fundamentos de oferta e demanda

2.7.1 Demanda

Na teoria da microeconomia, a demanda ou procura é a quantidade de um bem


ou serviço que os consumidores estão dispostos e capazes de adquirir por determinado
preço e em determinado momento.

Determinantes da Demanda

representa um movimento ao longo da


Preço da mercadoria em questão
curva de demanda
Renda Monetária
Gosto ou preferência do consumidor Deslocamento da curva de demanda
Preço de outras mercadorias

Lei da Demanda

“A quantidade demandada de uma mercadoria é uma função inversa dos preços


desta mercadoria”. Ou seja, à medida que o preço de uma determinada mercadoria se
eleva, a quantidade demandada dessa mercadoria diminui. Sendo assim, sua
representação gráfica apresentará uma inclinação negativa.

Curv a de Demanda

Ela é obtida a partir dos níveis de utilidade que se obtêm ao consumir


determinado bem em diversas quantidades. Como a utilidade marginal é decrescente,
então quantidades maiores terão níveis de utilidades adicionais cada vez menores.
Graficamente:
Figura 8 – Rendimentos Decrescentes e a Curva de demanda.
Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores.

Observe que quando o consumidor consume a primeira unidade do produto, ele


obtém um elevado nível de satisfação (representado pela altura da barra no número 1
de quantidades), e na medida em que ele vai consumindo unidades adicionais, o
prazer que ele sente pelo consumo dessa unidade adicional é inferior ao obtido na
unidade anterior. Como exemplo, pense em você em um dia de calor. Se você tomar
um picolé, terá um nível de satisfação ao consumir o primeiro picolé. Mas ele poderá
não ser suficiente para aplacar seu calor e você decide comprar o segundo. O nível de
satisfação total que você obterá será maior, mas o prazer que o segundo picolé lhe
proporcionará será inferior ao obtido no primeiro.
Uma vez que a utilidade marginal (UMg) é decrescente, então, a curva de
demanda é necessariamente decrescente, ou seja, terá uma inclinação negativa e
passará pelos limites de satisfação obtida em cada unidade consumida, conforme
representado na figura 7 pela linha que une as barras de utilidade para os diferentes
níveis de consumo. Isso permite formular a denominada Lei da Demanda, que significa
que quantidades maiores só serão consumidas de os preços forem menores.

Exceção a Lei de Demanda - Bens de GIFFEN

Só houve um exemplo na história, em que ocorreu a existência de um bem de


GIFFEN, que foi na Inglaterra - ou mais propriamente na Irlanda - com as batatinhas
inglesas. É que a depressão era tão grande que uma parte da população recebia tão
pouco que só podia comer batatinha. À medida que o preço dessas diminuíam,
diminuía também seu consumo, pois surgia a possibilidade das pessoas adquirirem
outros produtos em função da economia com o gasto com batatinha e vice-versa.
Demanda agregada

A demanda agregada é a soma das demandas individuas por aquela mercadoria


ou serviço. Sua soma é obtida a partir de cada preço e somando-se horizontalmente as
quantidades demandas àquele preço. Graficamente:

Figura 9 – Demanda agregada.


Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores.

Quando qualquer um dos determinantes se altera, que não seja o preço, coeteris
paribus, então, a curva de demanda como um todo se modifica, e essa alteração
denomina-se de variação da demanda. Quando somente o preço do bem se modifica,
haverá alterações nas quantidades demandadas e não na demanda, isso é, ao longo
da curva de demanda já estabelecida.

Coeteris Paribus

Essa expressão, bastante comum em economia, significa que exceto as variações


que estão sendo explicitamente mencionadas, todas as demais variáveis permanecem
constantes.

2.7.2 Oferta

Podemos definir como: as várias quantidades que os produtores estão aptos e


dispostos a ofertar no mercado, em função dos vários níveis de preços possíveis, em
determinado período de tempo.
A oferta representa o comportamento dos produtores. Logo, podemos afirmar que
os preços sendo maiores, maior será o desejo dos empresários em oferecer seus
produtos e maior será o número de ofertantes no mercado.
Os elementos que afetam a oferta são:
custo dos insumos: faz com que a oferta tenha alterações nos preços;
tecnologia: com melhorias na tecnologia, os custos de produção diminuirão.
Isso amplia as condições dos produtores em ofertar mais com o mesmo preço
ou a mesmas quantidades a um preço menor;
condições climáticas: se tomarmos como exemplo a produção agrícola, é um
fator que pode causar redução ou aumento de produção;
preço dos bens relacionados: tanto os bens substitutos como complementares;
preço do bem em questão: quanto mais alto for o preço, mais incentivos terá a
produção.

Resumindo, os determinantes da oferta afetam a função de oferta da seguinte


forma:

Determinantes da Oferta

representa um movimento ao longo da


Preço da mercadoria em questão
curva de oferta
Custos dos insumos
Tecnologia
Deslocamento da curva de oferta
Condições climáticas
Preço dos bens relacionados

Figura 10 – Curva de Oferta.


Fonte: Elaboração própria dos autores.
Na oferta, não existe como na demanda a Lei da Demanda. Ela é, em geral,
positivamente inclinada, mas poderá apresentar inclinação nula (zero) e até mesmo
negativa. Ainda, a curva de oferta representa o limite máximo e mínimo, dependendo
do sentido analisado.
Máximo: quando uma vez fixados os preços, haverá uma quantidade máxima de
produção para aquele nível de preço.
Mínimo: quando uma vez fixada a quantidade, o preço refletirá o mínimo que o
empresário estará disposto a cobrar por aquela quantidade.

2.7.3 Equilíbrio entre Oferta e Demanda

A interação entre ofertantes e compradores, em um determinado mercado e para


um determinado produto, em concorrência perfeita (mercados competitivos), leva ao
estabelecimento de um preço de mercado. A esse preço, denominamos de preço de
equilíbrio. Essa interação também define as quantidades comercializadas e diz que o
mercado está em equilíbrio quando as quantidades ofertadas são consumidas, não
havendo, portanto, nem excesso de demanda nem tampouco de oferta. Qualquer
alteração nos fatores determinantes da oferta ou da demanda levará a alterações no
equilíbrio desse mercado. Vejamos graficamente como ocorre o equilíbrio de mercado.

Figura 11 – Preços e quantidades de equilíbrio entre demanda e oferta.


Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração própria dos autores.

Como pode ser observado na figura 10, no equilíbrio tem-se a igualdade entre
demanda e oferta; ou seja, tudo o que foi produzido foi consumido. Formalmente:
Qd=Qo.
Onde:
Qd (Quantidade demandada)
Qo (Quantidade ofertada)

Assim, acima do preço de equilíbrio tem-se excesso de oferta, e abaixo do preço


de equilíbrio tem-se excesso de demanda.

Exemplo

1. Suponhamos que a curva de demanda seja dada pela expressão Qd=100 -


10P e a de oferta por: QO=20P - 50, onde P é o preço da mercadoria. Com essas
informações, qual seria o preço e a quantidade de equilíbrio para esse produto neste
mercado?

Solução:

QD=QO
100 - 10P=20P - 50
100 + 50=20P + 10P → 150=30P
150 / 30=P → P=5,00
QD=100 - 10 . 5 → QD=50 ou QO=20 . 5 - 50 → QO=50

Equilíbrio é de 50 quantidades ao preço de $ 5,00.

Deslocamentos da curva de demanda e oferta e o efeito sobre as condições de


equilíbrio de mercado

Conforme destacado anteriormente, a alteração de um dos determinantes da


demanda ou da oferta causará alterações no equilíbrio. Assim, é preciso compreender
como os determinantes afetam a demanda e a oferta, e como essas alterações afetam
o equilíbrio. Inicialmente destacamos os efeitos sobre as curvas de demanda e de
oferta, e depois agregamos isso nas condições de equilíbrio.

Deslocamentos da demanda

A figura 12 evidencia os deslocamentos da curva de demanda e os


condicionantes para tal movimento.
Figura 12 – Deslocamentos da curva de demanda.
Fonte: VASCONCELOS, 2001. Elaboração própria dos autores.

A figura 13 permite visualizar os deslocamentos da curva de oferta e os fatores


determinantes desses deslocamentos.

Figura 13 – Deslocamentos da curva de oferta.


Fonte: VASCONCELOS, 2001. Elaboração própria dos autores.

Deslocamentos da demanda e oferta e o mov imento dos preços


Deslocamento Positiv o da Demanda

Um deslocamento positivo na demanda, coeteris paribus, levará a um aumento


nos preços de equilíbrio e nas quantidades, conforme pode ser observado na figura 14.

Figura 14 – Efeitos do aumento da demanda.


Fonte: Elaboração própria dos autores.

Um deslocamento negativo terá efeito contrário, ou seja, levará a uma queda


nos preços e nas quantidades de equilíbrio.
É preciso destacar que aumentos de renda não necessariamente aumentam a
demanda por um bem. O efeito da renda dependerá se o bem for inferior, normal ou
superior.
Quando houver um aumento de poder aquisitivo, ou aumento real de renda, as
pessoas irão aumentar seu consumo no caso de um bem normal ou superior, e haverá
um deslocamento negativo no caso de um bem inferior. É em relação a esse
comportamento em relação à renda que os bens são classificados como inferior, normal
ou superior.
Ressalta-se que um bem não é por si só inferior, superior ou normal, mas
depende do nível de renda do indivíduo. Isto é, um bem pode ser inferior para
determinado indivíduo, normal para outro e superior para um terceiro. Por exemplo, a
carne moída, denominada de segunda. Ela pode ser um bem de luxo para alguém
muito pobre, normal para outra classe e inferior para a classe superior de renda.

Deslocamento Positiv o da Oferta

O aumento da curva de oferta, coeteris paribus, resultará em uma queda nos


preços de equilíbrio e um aumento nas quantidades de equilíbrio, como pode ser
observado na figura 15.

Figura 15 – Efeitos do Aumento da Oferta.


Fonte: Elaboração própria dos autores.

Deslocamento negativo, ou seja, uma redução da curva de oferta gera um efeito


oposto, ou seja, aumenta os preços e reduz as quantidades de equilíbrio.

2.8 Elasticidade

É a sensibilidade de variação na quantidade demandada de um produto em


relação a uma variável que afeta a demanda por este bem, como preço, renda, preço
dos bens substitutos e complementares. É uma medida que relaciona variações
proporcionais entre variáveis.
As alterações resultantes das variáveis envolvidas geram uma elasticidade com
denominação específica, que são:

o preço do produto - elasticidade-preço;


a renda - elasticidade-renda;
preço dos outros produtos - elasticidade-cruzada.

2.8.1 Elasticidade - Preço: Preço da Demanda (EP):

É a razão entre a variação porcentual da quantidade demandada de um bem,


dada uma variação porcentual no preço. Ela pode ser medida em um determinado
ponto da curva, como para variações que reflitam um intervalo de preços.

Elasticidade no Ponto (E p)

Elasticidade no Intervalo - Utilizado ponto médio (EP)

Atenção

A elasticidade da demanda sempre será negativa, pois existe uma


relação inversa entre preço e quantidade.

Quanto à elasticidade-preço, pode-se dizer que a demanda é:

a. Elástica: quando EP > | 1 |, ou seja, a variação relativa na quantidade é


“mais que proporcional” à variação relativa no preço.
b. Inelástica: quando E P < | 1 |, ou seja, dada uma variação porcentual no
preço, ocorrerá uma variação porcentual menor na quantidade
c. Elasticidade Unitária: quando E P=| 1 |, ou seja, a variação relativa na
quantidade é proporcional à variação no preço.

Além das elasticidades mencionadas, uma curva de demanda poderá ser


perfeitamente elástica ou perfeitamente inelástica, conforme pode-se observar nas
figuras que seguem.
Perfeitamente Elástica: quando E P=- ∞ (infinito)
Uma curva de demanda horizontal será extremamente sensível a preços. Ou seja,
um pequeno aumento de preços fará com que os consumidores deixem de comprar o
bem, e uma pequena redução leva a um elevado aumento das quantidades
demandadas. Esse extrema sensibilidade faz com que a elasticidade tenda ao infinito.
A figura 16 evidencia uma curva de demanda perfeitamente elástica.

Figura 16 – Curva de demanda perfeitamente elástica.


Fonte: MANKIW, 2001. Fonte: Elaboração própria dos autores.

Já quando o volume de quantidades demandadas não se altera com mudanças


de preços, então, tem-se uma curva de demanda perfeitamente inelástica. Um exemplo
de bens com demanda muito inelástica é a de sal. A insulina para diabéticos também é
perfeitamente inelástica. A figura 17 contém uma curva de demanda perfeitamente
inelástica.
Figura 17 – Perfeitamente Inelástica: quando EP=0 (zero).
Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores.

A elasticidade da demanda pode ser calculada quando essa for uma reta, da
seguinte forma:

Figura 18 – Elasticidade calculada.


Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores.

Ep=B/A

Essa fórmula de cálculo permite visualizar facilmente que quando:

Ep > | 1 |=> Elástica: o segmento A será pequeno e o B grande, logo a


elasticidade será elevada.
Ep=| 1 |=> Unitária: os segmentos possuem o mesmo tamanho.
Ep < | 1 |=> Inelástica: o segmento A será grande e B pequeno, logo haverá
pouca sensibilidade a preços nesse segmento.
Ep=- ∞ - A será zero e B terá um valor elevado. Assim, qualquer valor dividido
por zero tende ao infinito.
Ep=0 - A terá um valor elevado e B será zero. Assim, zero dividido por qualquer
valor será zero.
Logo, como conclusão, pode-se verificar que uma demanda linear terá diferentes
elasticidades ao longo da reta. A figura 19 permite observar essas elasticidades.
Acrescentou-se nessa figura valores para deixar claro que o ponto intermediário da
curva de demanda, que apresenta elasticidade unitária, está sobre o ponto
intermediário do eixo das quantidades e também dos preços.

Figura 19 – Diferentes elasticidades para diferentes pontos de uma demanda linear.


Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores.

Consequências das variações de preço, conforme a elasticidade da demanda:

Região Elástica: pequena variação no preço acarreta uma variação


proporcionalmente maior nas quantidades. Como consequências:

para o consumidor, aumentos de preços levam à redução dos gastos;


para o empresário, aumentos de preços levam a uma diminuição da receita
total.

Região Inelástica: uma variação no preço acarretaria uma variação


proporcionalmente menor na quantidade. Como consequências:

Para o consumidor, aumentos de preços levam a aumento dos gastos;


para o empresário, aumentos de preços levam a um aumento da receita total.

Com essas informações, podemos vincular Receita Total (RT) com elasticidade.
Como RT=P*Q, então se os preços aumentarem e a região da demanda for inelástica,
a receita total irá aumentar. Na região de elasticidade unitária, a RT será máxima. Se o
aumento de preços estiver na região elástica, levará à redução de RT. Veja essa
relação na figura 20.
Figura 20 – Relação entre elasticidade e Receita Total.
Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração própria dos autores.

2.8.2 Elasticidade da Oferta


Tal como a demanda, a elasticidade da oferta mede a relação entre a variação
percentual na quantidade ofertada e a variação percentual no preço. Em termos
matemáticos, a fórmula de cálculo é a mesma, porém ao invés de considerar as
quantidades demandadas, são consideradas as quantidades ofertadas. A equação a
seguir é a mesma apresentada anteriormente, com exceção de que os valores para Q
são agora os representados na curva de oferta.

Quanto à elasticidade, a oferta pode ser:

a. Elasticidade Unitária: quando a variação percentual no preço corresponder


uma variação percentual na quantidade na mesma proporção.
b. Elástica: quando a variação percentual for maior que a ocorrida no preço.
c. Inelástica: quando a variação percentual for menor que a ocorrida no preço.
d. Perfeitamente Elástica: a quantidade oferecida varia independentemente do
preço.
e. Perfeitamente Inelástica: quando a variação no preço não afeta a quantidade
oferecida.

A curva de oferta, diferentemente da demanda, que possuía diferentes


elasticidades ao longo da curva (indo de inelástica para elástica na medida em que os
preços iam aumentando), a curva de oferta depende do intercepto. Essa definirá se a
curva será elástica, inelástica ou com elasticidade unitária. Assim, pela simples análise
da função oferta ou, mais especificamente, pelo intercepto vertical da função oferta ou
pelo gráfico pode-se concluir sobre sua elasticidade, como apresentado na figura 21.
Figura 21 – Elasticidade para diferentes curvas de oferta.
Fonte: Elaboração própria dos autores.

2.8.3 Elasticidade-Renda da Demanda (ER):

Mede a sensibilidade de variação na quantidade de um produto em relação à


variação na renda do indivíduo ou grupo.

Onde, DQ, DR, Q e R indicam variações nas quantidades procuradas, variações


na renda, quantidades e renda respectivamente.
Como base nos valores da elasticidade-renda da demanda, pode-se classificar os
bens em:

a. Bens Superiores: quando a elasticidade-renda tiver valor positivo, E R > 1.


Significa dizer que, ocorrendo um aumento na renda dos consumidores, estes
passarão a gastar mais da sua renda na aquisição deste bem.
b. Bens Inferiores: quando a elasticidade-renda tiver valor negativo, E R < 0.
Neste caso, ocorrendo um aumento na renda dos consumidores, haverá um
decréscimo no consumo do produto.
c. Bem Normal: quando a elasticidade-renda for maior que zero e menor ou
igual a um. 0 < E R < 1.

Quando a ER=1, significa dizer que, ocorrendo um aumento na renda do


consumidor, o percentual de renda gasto no bem permanece constante.

2.8.4 Elasticidade-Cruzada da Demanda (EXY)

É dada pela variação porcentual na demanda de um bem (Y, digamos) em


função da variação percentual do preço de outro bem (X).

a. Bens Substitutos: quando a elasticidade-cruzada tem valor positivo, E XY > 0,


ou seja, aumentando o preço do bem Y, passa-se a demandar maior
quantidade do bem X.
b. Bens Complementares: quando a elasticidade-cruzada tem valor negativo,
E XY < 0, ou seja, aumentando o preço do bem Y, passa-se a consumir menor
quantidade do bem X.
c. Bens Independentes: quando a elasticidade-cruzada tem valor nulo, E XY=0,
ou seja, aumentando o preço do bem Y, não afeta o consumo do bem X.

2.9 Produção e Custos

2.9.1 Introdução

Num modelo simplificado de uma economia, pode-se colocar de um lado os


consumidores e de outro as empresas. Esses dois agentes representam o consumo e a
produção, respectivamente, e se relacionam no mercado através da demanda e da
oferta.
Essas questões são estudadas na economia em duas partes. A primeira, chamada
de teoria do consumidor, analisa os elementos e variáveis que determinam o
comportamento dos consumidores ao buscarem a satisfação de suas necessidades. A
segunda parte, chamada de teoria da empresa ou teoria da produção, trata das
variáveis que buscam explicar o comportamento da empresa quando da realização da
atividade produtiva.
O propósito desta seção é apresentar a teoria da empresa, abordando as
questões e problemas relacionados à produção, aos custos de produção e aos
rendimentos da empresa.

2.9.2 Empresa, produção e lucro

Alguns conceitos fundamentais são necessários para que se possa iniciar o estudo
da teoria da empresa. O primeiro deles é o conceito de empresa. A empresa é um dos
agentes do sistema econômico (os outros são as famílias e o governo) responsável pela
produção dos diversos bens e serviços destinados a satisfazer as necessidades humanas.
Para que as empresas possam produzir é necessário o emprego dos fatores de
produção, ou seja, trabalho, capital e terra ou recursos naturais.
Outro conceito importante é o de produção. A produção é o processo no qual a
empresa transforma os fatores produtivos em produtos e que se destinam ao mercado
consumidor, para satisfazer as necessidades finais dos indivíduos ou, simplesmente,
como matéria-prima ou insumo que servirá como fator de produção para uma outra
empresa. Cabe destacar que o conceito de produção envolve não somente os bens
físicos e materiais, mas também o conjunto de serviços, como comunicações, energia,
atividades financeiras, comércio, entre outros.
O lucro é a remuneração de um capital investido por uma empresa na produção
e é obtido pela diferença entre a receita total e a despesa total da empresa num
período determinado. Assim, o lucro é o objetivo básico de qualquer empresa que está
produzindo um bem ou serviço no mercado. O lucro bruto é obtido subtraindo da
receita total os diversos custos de produção, como os gastos com matéria-prima, os
salários, os impostos, entre outros. No cálculo do lucro líquido deve-se descontar do
lucro bruto os gastos com depreciações do capital fixo e as despesas financeiras, como
juros de empréstimos.

2.9.3 O curto e o longo prazo na ótica da produção

No processo de produção, são empregados diversos tipos de fatores. Se se


quisesse expandir rapidamente o nível de produção, deveria se aumentar a utilização
dos fatores de produção. Acontece que apenas alguns desses fatores de produção
podem ser incrementados no curto prazo, como por exemplo, o trabalho. Outros
fatores, como alguns tipos de máquinas, equipamentos, construções só poderiam ser
mudados num período de tempo maior, o longo prazo.
Assim o curto prazo representa o período de tempo em que se pode apenas
alterar a produção a partir do ajuste dos custos variáveis. Já o longo prazo envolve o
período em que se pode alterar não só os custos variáveis, mas também os custos fixos
da empresa. Portanto, no longo prazo, todos os custos de produção da empresa passam
a ser variáveis, na medida em que ela pode alterar e combinar da melhor forma
possível o conjunto dos fatores de produção.
2.9.4 A lei dos rendimentos marginais

Para se produzir, é necessária a aquisição dos fatores de produção. As diversas


possibilidades de combinação dos fatores de produção permitem a obtenção de um
produto total, que varia conforme forem combinados esses fatores. Inicialmente cabe
definir os conceitos de produto total, médio e marginal de cada um dos fatores
produtivos. O produto total de um insumo expressa a produção que se pode obter
empregando uma determinada quantidade desse insumo e mantendo a quantidade
dos demais constantes.
O produto médio de um fator é o nível de produto que a empresa obtém por uma
unidade do fator de produção empregado. É resultado da divisão do produto total pela
quantidade do fator de produção. Já o produto marginal de um insumo é o acréscimo
do produto total que se pode obter com o aumento de uma unidade do insumo,
mantendo-se constante a utilização dos demais fatores. A tabela abaixo exemplifica a
questão.

Tabela 1 – Produto total, médio e marginal

Capital Trabalho
Produto total do Produto médio do Produto marginal do
(fator (fator
fator v ariáv el fator v ariáv el fator v ariáv el
fixo) v ariáv el)
100 20 60 3,0
100 30 140 4,7 80
100 40 240 6,0 100
100 50 320 6,4 80
100 60 380 6,3 60
100 70 420 6,0 40
100 80 440 5,5 20
100 90 440 4,9 00
100 100 420 4,2 -20
Fonte: Elaboração própria dos autores.

A partir da tabela 1, pode-se compreender o significado da lei dos rendimentos


marginais. Essa lei mostra o comportamento da produção total de uma empresa
quando se altera a quantidade utilizada de um dos fatores de produção, mantendo-se
os demais constantes.
A tabela mostra que na medida em que a empresa for ampliando a utilização do
fator variável, a produção total estará aumentando numa taxa crescente. Na faixa de
produção, que vai até a unidade 50 do fator variável, a empresa estará obtendo
rendimentos marginais crescentes. A partir desse ponto, a empresa passa a incorrer em
rendimentos marginais decrescentes, ou seja, a produção estará crescendo a uma taxa
decrescente. Isso significa que, na medida em que a empresa amplia o fator variável, a
produção cresce, porém, numa proporção menor do que a do fator produtivo. No ponto
onde a empresa utiliza 90 unidades do fator variável, a produtividade marginal é nula.
A partir daí para cada unidade adicional do fator variável, mantendo constante o fator
fixo, a empresa passa a ter rendimento marginal negativo.
Pode-se ilustrar essas questões com o seguinte exemplo. Imagine que uma
empresa agrícola produtora de feijão utiliza dois fatores de produção: capital (terra,
máquinas) e trabalho. Suponha que o capital seja o fator fixo (área de terra e número
de máquinas) e o trabalho o fator variável, de maneira que é possível se produzir com
várias combinações diferentes de capital e de trabalho. Sendo assim, para se ampliar a
produção deve-se aumentar o número de trabalhadores, de maneira que no início, com
o aumento do fator variável, a produção total estará crescendo proporcionalmente mais
do que a da quantidade de trabalhadores, garantindo, assim, um aumento da
produtividade da empresa. A partir de um certo ponto, com a incorporação de novos
trabalhadores, a produtividade para cada unidade do fator variável começa a diminuir,
já que a produção total cresce proporcionalmente menos do que a do número de
trabalhadores.
Como foi visto, no curto prazo as empresas só podem ampliar a produção
aumentando a utilização dos fatores variáveis. Mas se a expansão do mercado for
consistente, então a empresa pode expandir sua produção através da aquisição de mais
máquinas, equipamentos, novas construções etc. Ou seja, a empresa estará alterando a
sua estrutura produtiva através dos fatores que eram fixos no curto prazo, mas que
passam a ser variáveis no longo prazo. Então, a diferença entre curto e longo prazo na
produção se dá pela existência ou não de fatores fixos.
No longo prazo os rendimentos marginais, ou economias de escala, não se
diferenciam do conceito utilizado para o curto prazo. A diferença é que no curto prazo
um fator era fixo e o outro variável. Agora, no longo prazo, todos os fatores passam a
ser variáveis. Assim, os rendimentos marginais crescentes ocorrem quando a empresa
ampliar a quantidade utilizada do conjunto dos fatores de produção em uma dada
proporção e a variação do produto total variar numa proporção maior. A tabela 2 mostra
que a empresa terá rendimentos marginais crescentes quando ela, ao dobrar a
quantidade utilizada de capital e de trabalho, consegue mais do que dobrar a
produção total. Quando o aumento da produção total é menos do que proporcional ao
aumento dos fatores, então a empresa terá rendimentos decrescentes de escala. Por
fim, quando os fatores variam na mesma proporção então a empresa terá rendimentos
constantes de escala, conforme pode ser constatado na tabela 2.

Tabela 2 – Rendimentos marginais no longo prazo

Fator capital Fator trabalho Produção total Rendimentos


3 10 1.000 Constantes
6 20 2.000
3 10 1.000 Crescentes
6 20 2.200
3 10 1.000 Decrescentes
6 20 1.800
Fonte: Elaboração própria dos autores.
2.9.5 Os custos de produção

O objetivo básico de uma empresa é conseguir o melhor resultado possível


quando ela realiza a sua atividade produtiva. Para que possa realizar a sua atividade,
a empresa necessita adquirir os fatores de produção no mercado, pagando por esses
fatores. A quantidade adquirida de cada um dos fatores vezes o seu preço constitui o
custo total de produção da empresa.
Uma empresa estará maximizando o seu resultado quando conseguir atender
uma das seguintes situações: a) para um dado custo total vai buscar a máxima
produção total ou; b) para um certo nível de produção vai buscar o menor custo total.
Em qualquer uma das situações a empresa estará em equilíbrio.
Os custos totais de uma empresa são classificados em custos fixos (CF) e custos
variáveis (CV). Os custos fixos representam os gastos decorrentes da aquisição dos
fatores fixos de produção e não dependem do nível de produção. Já os custos variáveis
correspondem aos gastos com a aquisição dos fatores variáveis de produção e variam
de acordo com o nível de produção, ou seja, quanto maior a produção, maior será o
custo variável e quanto menor a produção, menor o custo variável.

2.9.6 O curto e o longo prazo na ótica dos custos

O curto e o longo prazo na ótica dos custos obedecem os mesmos critérios que
definem o curto do longo prazo sob a ótica da produção, conforme visto anteriormente.
Assim, para a empresa aumentar sua produção, no curto prazo, terá que contratar mais
fatores variáveis, já que os fatores fixos não podem ser alterados no curto prazo. Sendo
assim, o curto prazo, sob a ótica dos custos, é o período de tempo em que a empresa
tem custos fixos e custos variáveis, adquirindo os fatores fixos e variáveis,
respectivamente. Na medida em que a empresa consegue alterar a seus fatores fixos de
produção e, portanto, seus custos fixos, então, este passa a ser o período de longo prazo
da empresa, quando então todos os custos da empresa passam a ser variáveis.

2.9.7 O cálculo dos custos de produção no curto prazo

Conforme foi visto acima, no curto prazo a empresa possui custos fixos e custos
variáveis. Então o custo total será a soma dos custos fixos e variáveis. Assim:

CT=CF + CV

Esses custos podem ser visualizados na figura 22, onde se observa que o CF é
constante, na medida em que a produção (Q) aumenta, e por isso seu traçado é
paralelo ao eixo das quantidades produzidas. Isto implica que a distância entre a curva
do CF e o eixo das quantidades será sempre a igual, independente do nível de
produção.
Já o CV é crescente à medida que a produção aumenta, pois, no curto prazo, a
empresa só pode expandir sua produção através dos fatores variáveis. Assim, como
mostra a figura 20, a curva do CV apresenta uma trajetória ascendente conforme
aumenta a quantidade produzida. A sinuosidade apresentada pela curva do CV se deve
ao fato de no início da produção a empresa se encontrar na zona de rendimentos
marginais crescentes, ou seja, para expandir sua produção a empresa tem custos (CV)
proporcionalmente menores. Depois de um certo ponto, o CV começa a crescer
proporcionalmente mais do que a produção, ou seja, a empresa entra na zona de
rendimentos marginais decrescentes.
A figura ainda mostra a curva do CT, que está acima do CV. Como o CT é a soma
do CF e do CV, então, a distância entre o CT e o CV é exatamente igual ao valor do
CF. Cabe destacar que essa distância deve ser observada verticalmente, pois é este o
eixo que mostra as escalas dos custos.
Do CF pode-se obter o custo fixo médio (CFMe), através da divisão do CF pelas
quantidades produzidas, então:

CFMe=CF / Q

O CFMe representa o custo fixo que a empresa tem para produzir cada uma das
unidades. Assim, quanto maior o nível de produção, menor o CFMe já que o CF será
dividido por uma quantidade produzida maior. Isto pode ser melhor visualizado na
figura 20.
Já o custo variável médio (CVMe) é obtido pela divisão do CV pelas quantidades
produzidas, assim:

CVMe=CV / Q

O CVMe representa a parte dos custos variáveis que a empresa possui para
produzir cada uma das unidades. A figura 20 mostra que inicialmente quando a
produção cresce, o CVMe estará decrescendo até atingir um ponto de mínimo, já que
nesta fase os custos variáveis crescem proporcionalmente menos do que a produção.
Depois de atingir o ponto de mínimo, o CVMe começa a aumentar em função do
crescimento mais do que proporcional dos custos variáveis em relação à quantidade
produzida.
O somatório do CFMe e do CVMe resulta no custo médio (CMe), que também
pode ser obtido pela divisão do CT pelas quantidades produzidas, assim:

CTMe=CT / Q

A trajetória da curva do CMe, como pode ser visto na figura, que inicialmente
decresce, atinge um ponto de mínimo, quando, então, passa a crescer, é explicada
pelo comportamento das curvas do CFMe e do CVMe, já que deriva desses dois custos.
O CMe mostra o custo total que a empresa tem para produzir cada uma das
unidades. Assim, o ponto de mínimo do custo médio, ou seja, o menor valor, representa
o ponto em que a empresa terá o menor custo para cada uma das unidades que ela
estiver produzindo.
Existe ainda o custo marginal (CMg), que pode ser definido como o custo que
tem a empresa para produzir uma unidade adicional. O CMg é obtido pela divisão da
variação do CT pela variação da quantidade produzida. Pode ser expresso da seguinte
maneira:
CMg=DCT / DQ

como o CT=CF + CV, então:

CMg=D (CF + CV) / DQ

mas como o CF não varia no curto prazo, então:

CMg=DCV / DQ

Isto significa que o CMg representa a variação do CV em relação a variação da


quantidade produzida.
O comportamento da curva do CMg, como mostra a figura 22, é, inicialmente,
decrescente em função da relação entre a variação do CV e da produção ser
decrescente. Quando o CMg atinge o ponto de mínimo, essa relação se inverte e passa
a ser crescente, fazendo assim com que o CMg passe a crescer também. Como se vê,
além das curvas do CMe e do CVMe, também a curva do CMg apresenta um formato
de U, estando abaixo da curva do CVMe quando esta estiver decrescendo, e acima,
quando a curva estiver crescendo. Dessa maneira, pode-se concluir que a curva do CMg
intercepta a curva do CVMe no ponto mínimo desta última. A mesma situação ocorre
entre as curvas de CMg e CMe, ou seja, quando esta última curva atinge seu ponto de
mínimo, ela é interceptada pela curva do CMg.
Dessa maneira, o ponto em que se interceptam as curvas do CMe e do CMg, de
modo que os valores desses custos sejam iguais, representa o ponto em que a empresa
tem o menor custo de produção por unidade. Assim, enquanto a empresa tiver CMg
menor do que o CMe, ela deve aumentar seu nível de produção, já que o custo para
produzir uma unidade adicional é menor do que o custo médio de cada uma das
unidades que ela está produzindo. Já quando o CMg for maior do que o CMe, então a
empresa deve diminuir seu nível de produção, de maneira a buscar a minimização dos
seus custos de produção, que se dá, como foi visto, quando os dois custos forem iguais.
No exemplo apresentado na tabela 3 pode-se ver mais claramente estas relações, bem
como na figura 22.

Tabela 3 – Cálculo dos custos

Quantidade Custo Custo Custo Custo Custo Custo Custo


Fixo Variáv el Total Fixo Variáv el Médio Marginal
Médio Médio
1 100,00 10,00 110,00 100,00 10,00 110,00
2 100,00 16,00 116,00 50,00 8,00 58,00 6,00
3 100,00 21,00 121,00 33,33 7,00 40,33 5,00
4 100,00 26,00 126,00 25,00 6,50 31,50 5,00
5 100,00 30,00 130,00 20,00 6,00 26,00 4,00
6 100,00 36,00 136,00 16,67 6,00 22,67 6,00
7 100,00 45,50 145,50 14,29 6,50 20,79 9,50
8 100,00 56,00 156,00 12,50 7,00 19,50 10,50
9 100,00 72,00 172,00 11,11 8,00 19,11 16,00
10 100,00 90,00 190,00 10,00 9,00 19,00 18,00
11 100,00 109,00 209,00 9,09 9,91 19,00 19,00
12 100,00 130,40 230,40 8,33 10,87 19,20 21,40
13 100,00 160,00 260,00 7,69 12,31 20,00 29,60
14 100,00 198,20 298,20 7,14 14,16 21,30 38,20
15 100,00 249,50 349,50 6,67 16,63 23,30 51,30
16 100,00 324,00 424,00 6,25 20,25 26,50 74,50
17 100,00 418,50 518,50 5,88 24,62 30,50 94,50
18 100,00 539,00 639,00 5,56 29,94 35,50 120,50
19 100,00 698,00 798,00 5,26 36,74 42,00 159,00
20 100,00 900,00 1.000,00 5,00 45,00 50,00 202,00
Fonte: Elaboração própria dos autores.

Figura 22 – Curvas de Custos.


Fonte: Elaboração própria dos autores.

2.9.8 Os rendimentos da empresa

Quando da realização da produção, a empresa tem um custo, conforme foi visto.


Por esse esforço, a empresa espera uma compensação, um rendimento. O ganho que a
empresa recebe pelo seu produto no mercado representa a receita total, que é obtida
pela multiplicação das quantidades vendidas pelo preço do produto, assim
representado:

RT=P x Q

Além disso, é importante para a análise da empresa outros dois tipos de receita.
A primeira é a receita média (RMe) obtida pela divisão da RT pela quantidade. A RMe
representa a receita que a empresa obtém para cada uma das unidades que ela produz
e vende no mercado. Pode ser expressa da seguinte forma:

RMe=RT / Q

como RT=P x Q, então:

RMe=(P x Q) / Q. Assim:

RMe=P

A segunda é a receita marginal (RMg), que é resultado da divisão entre as


variações da RT e as variações da quantidade vendida do produto no mercado, assim:

RMg=DRT / DQ

A RMg mostra a receita que a empresa obtém para cada unidade adicional que
ela vende no mercado.
Conforme mostra a tabela 4, a RT da empresa estará crescendo enquanto o
preço aumenta proporcionalmente mais do que a queda da quantidade vendida.
Quando essa relação se inverte, a RT começa a diminuir. Ou seja, para se vender
unidades adicionais, o preço deve cair proporcionalmente mais do que o que se
consegue de aumento nas vendas. Isto é explicado pela elasticidade-preço da
demanda, vista anteriormente.

Tabela 4 – Cálculo da RT, RMe e RMg

Quantidade Preço RT RMe RMg


0 22 0 22 --
1 20 20 20 20
2 18 36 18 16
3 16 48 16 12
4 14 56 14 8
5 12 60 12 4
6 10 60 10 0
7 8 56 8 -4
8 6 48 6 -8
9 4 36 4 -12
10 2 20 2 -16
11 0 0 0 -20
Fonte: Elaboração própria dos autores.

A RMe, como se viu, é igual ao preço e sempre decrescente. Já a RMg será


decrescente mas positiva enquanto a RT estiver crescendo, e negativa quando a RT
passa a diminuir. Portanto, quando a RMg for igual a zero, a RT será máxima.

2.9.9 O equilíbrio da empresa e a maximização do lucro

Como foi visto, no curto prazo a empresa não consegue alterar sua estrutura
produtiva. Então, cabe à empresa identificar um nível de produção que permita a ela
obter o lucro máximo, dada a estrutura produtiva existente.
A tabela 5 mostra um exemplo hipotético que permite visualizar o nível de
produção que faz com que a empresa obtenha o lucro máximo possível. Se a empresa,
por exemplo, estivesse produzindo uma quantidade de 901 unidades, o lucro total seria
de 5.140. Interessa saber se esta é a quantidade que permite à empresa obter o lucro
máximo. Como saber?

Tabela 5 – A maximização do lucro

Quantidade Custo Marginal Receita Marginal Lucro Total


900 120 265 5.000
901 90 230 5.140
902 70 195 5.265
903 60 160 5.365
904 70 125 5.420
905 90 90 5.420
906 120 55 5.355
907 180 20 5.195
908 270 -15 4.910
909 400 -50 4.460
Fonte: Elaboração própria dos autores.

Para responder a esta pergunta, deve-se analisar o custo e a receita para produzir
uma unidade adicional, ou seja, o CMg e a RMg, respectivamente. Se o custo para
produzir uma unidade a mais for menor do que a receita que a empresa obtém, então
ela deve produzir, pois conseguirá um lucro com esta unidade. O lucro obtido com a
venda desta unidade vai se somar ao lucro que a empresa já tinha garantido antes. Isto
fará com que o lucro total da empresa seja maior ao aumentar a produção. Significa
dizer então que, enquanto o CMg for menor do que a RMg, a empresa deve aumentar
o nível de produção. Se de outro lado o CMg for maior do que a RMg, então a empresa
deve reduzir a sua produção até o ponto em que o CMg seja igual à RMg. Esta é a
condição que faz com que a empresa obtenha o lucro máximo possível, ou seja,
CMg=RMg.
No exemplo da tabela 5, o lucro total máximo é de 5.420, alcançado quando
CMg=RMg=90, na quantidade de 905 unidades produzidas.

Figura 23 – Equilíbrio da firma.


Fonte: Elaboração própria dos autores.

O equilíbrio da empresa e a maximização do lucro também pode ser visto na


figura 23, a partir dos dados utilizados no exemplo da tabela 5. Assim, a empresa
conseguirá o lucro máximo produzindo a quantidade determinada pela intersecção da
curva do CMg com a RMg, ou seja, 905 unidades.

2.10 Estruturas de Mercado

O equilíbrio de mercado se dá através da interação entre oferta e demanda de


um produto qualquer. No entanto, essa interação entre oferta e demanda provoca
resultados diferentes no mercado, já que existem vários tipos de mercados e cada um
deles apresenta características próprias. Uma empresa que atua num determinado tipo
de mercado poderá ter mais ou menos poder de determinação de preço, por exemplo,
do que outra empresa que atua num outro tipo de mercado.
Os vários tipos de mercado dependem basicamente de três fatores. O primeiro
deles está relacionado ao número de empresas que atuam nesse mercado. O segundo
diz respeito ao tipo de produto produzido e vendido no mercado, isto é, a existência de
um bem substituto. O último fator está associado à existência ou não de barreiras ao
ingresso de novas firmas no mercado.
Assim, esse tópico trata das estruturas de mercado mais comumente encontradas.
Nessas estruturas, busca-se identificar várias características comuns entre um grupo de
empresas que atuam no mercado. Desta maneira, pode-se compreender o
funcionamento do mercado de automóveis, o mercado de frutas no Rio Grande do Sul
ou o mercado financeiro brasileiro, entre outros.
Existem quatro tipos de mercados que mais facilmente pode-se encontrar. Dois
deles são casos extremos: a concorrência perfeita e o monopólio. Além destes, existem
a concorrência monopolística e o oligopólio.

2.10.1 Concorrência Perfeita

A concorrência perfeita é um tipo extremo de mercado porque uma das


características desse tipo de mercado é a grande concorrência entre as empresas. Em
condições normais, dificilmente ocorre uma intensa competição, já que existe uma
série de imperfeições no mercado que podem distorcer ou limitar a livre competição
entre as empresas.
Essa é uma estrutura de difícil aplicação prática, já que poucos setores poderiam
ser enquadrados dentro desse mercado, funcionando mais como um modelo ideal de
mercado. Apesar disso, o seu estudo é importante, pois dele derivam uma série de
implicações, tanto para os consumidores como para as empresas.
As hipóteses básicas do modelo de concorrência perfeita são:

a. a existência de um grande número de compradores e vendedores;


b. as empresas produzem um produto homogêneo, isto é, são substitutos
perfeitos entre si;
c. existe transparência do mercado, ou seja, todas as informações são
conhecidas por todos;
d. a entrada e a saída de firmas do mercado é livre.

A primeira hipótese diz que é necessário um grande número de empresas no


mercado. Isso significa que cada uma destas empresas não tem poder de mercado, ou
seja, ela sozinha não consegue influenciar no mercado, como, por exemplo, em
relação ao preço do produto oferecido.
Isto, associado ao fato das empresas oferecerem um produto que seja substituo
perfeito entre si, implica que cada uma das empresas seja tomadora de preço. Nestas
condições, o preço do produto é determinado pelo mercado, através da oferta e da
demanda, e a empresa aceita esse preço como uma variável dada. Cabe a ela,
apenas, determinar as quantidades a serem produzidas ao preço de mercado.
Já foi visto anteriormente que uma firma estará maximizando lucro quando o
CMg for igual à RMg. Assim, enquanto o CMg for menor do que a RMg, a firma deve
aumentar a produção, já que estará aumentando seu lucro total. Isto ocorre porque
para produzir uma unidade adicional, o custo será menor do que a receita que a firma
terá ao vender esta unidade no mercado, e a diferença se somará ao lucro total da
empresa. A tabela 6 ilustra esta situação.

Tabela 6 – Custo Marginal, Receita Marginal e Lucro

Produção Preço CMg RMg Lucro unitário Lucro total


10 10,00 7,50 10,00 2,50 100,00
11 10,00 8,00 10,00 2,00 102,00
12 10,00 9,00 10,00 1,00 103,00
13 10,00 10,00 10,00 0,00 103,00
14 10,00 11,00 10,00 -1,00 102,00
15 10,00 12,00 10,00 -2,00 100,00
16 10,00 13,50 10,00 -2,50 97,50
Fonte: Elaboração própria dos autores.

Conforme mostra a tabela, a empresa estará maximizando seu lucro se produzir


13 unidades, já que neste ponto o CMg é igual à RMg. Se, por exemplo, a empresa
estivesse produzindo 15 unidades, o CMg seria maior que a RMg, o que implica num
prejuízo para essa unidade adicional. Neste caso, a firma deveria reduzir seu nível de
produção até o ponto em que CMg igualasse a RMg, de maneira a obter o lucro
máximo.

2.10.2 Monopólio

O monopólio é um tipo de mercado oposto ao da concorrência perfeita, já que


neste caso não ocorre a concorrência, pois o setor é composto por uma única firma.
Neste caso, o empresário controla inteiramente a oferta do produto no mercado e os
consumidores terão de se submeter às condições impostas pelo ofertante ou deixar de
consumir o produto.
As hipóteses do monopólio podem ser resumidas assim:

a. o setor é constituído por uma única firma;


b. o monopolista produz um produto para o qual não existe substituto próximo;
c. a firma tem pleno poder de determinação do preço do produto.

Nesse tipo de mercado, a curva de demanda da empresa é a própria curva de


demanda do mercado, numa relação inversamente proporcional entre preço e
quantidade. O fato da firma ter pleno poder de determinação de preço, não significa
que ela elevará continuamente seu preço, pois caso isso acontecesse, os consumidores
gradativamente diminuiriam as quantidades demandadas, dependendo da
elasticidade-preço da demanda do produto.
Assim como para os outros tipos de mercado, também para o monopolista a
maximização do lucro ocorre quando a RMg e o CMg forem iguais.
Conforme foi visto, uma das características de um mercado monopolista é a
existência de uma única firma, e para isso deve haver barreiras que impeçam a entrada
de novas firmas no mercado. Entre os principais fatores que explicam a existência de
um monopólio, pode-se destacar:

a. controle sobre um fator produtivo;


b. a existência de patentes que impedem a produção de um bem por outras
firmas;
c. controle estatal de determinados serviços;
d. elevado custo para a instalação de novas firmas no mercado.

Em relação aos demais tipos de mercados, o monopólio pode obter lucros mais
elevados em função do controle que a firma pode exercer sobre o mercado. A
manutenção de um monopólio no longo prazo vai depender de uma série de fatores.
As patentes terminam, as matérias-primas são substituídas, novos produtos surgem. A
continuidade de um monopólio é mais factível quando há a proteção de leis
governamentais ou o controle estatal de determinados setores que podem ser
considerados estratégicos e de segurança nacional, como petróleo, comunicações e
energia.

2.10.3 Concorrência monopolística

A concorrência monopolística é uma estrutura de mercado intermediária entre a


concorrência perfeita e o monopólio. As principais características desse tipo de mercado
são:

a. a existência de um grande número de empresas no mercado, que produzem


produtos diferenciados, embora substitutos próximos entre si;
b. cada firma tem um certo poder de determinação de preço do seu produto.

O poder da firma para estabelecer o preço do produto vai depender,


basicamente, do tipo de produto que a firma está produzindo. Quanto mais
diferenciado o produto em relação às outras empresas do mercado, maior o poder da
empresa. Do contrário, quanto menos diferenciado, menor é o poder da firma e,
portanto, o preço tende a ser mais próximo ao das demais firmas do mercado. Na
concorrência monopolística, como nos demais mercados, a firma estará maximizando
seus lucros quando a RMg for igual ao CMg.
A diferenciação do produto pode se dar em termos de embalagem, desenho,
características físicas, tamanho ou promoção de vendas (brindes, propaganda,
manutenção, entre outros).

2.10.4 Oligopólio

Deve-se, ainda, resgatar o conceito de oligopólio. O oligopólio caracteriza-se


pela existência de um reduzido número de produtores e vendedores, produzindo
produtos que são substitutos próximos entre si. Por exemplo: indústria do transporte
aéreo, rodoviário, siderurgia. Em outras palavras, significa que são apenas poucos
vendedores, cada um vendendo produtos idênticos ou similares entre si. Entre as
empresas oligopolistas, tem-se certa interdependência econômica. Todos os produtos
são importantes, as decisões sobre o preço e a produção de equilíbrio são
interdependentes, porque a decisão de um vendedor influi no comportamento
econômico dos outros vendedores.
Os padrões de concorrência em mercados oligopolísticos são:

qualidade dos produtos: durabilidade, resistência etc.;


publicidade e propaganda dos produtos: brindes, ações promocionais etc.;
desenho: design do produto;
outros.

Quanto às barreiras à entrada, ao considerar-se um novo entrante no mercado,


pode-se citar:

financeiras: os altos custos iniciais de estruturação e implantação de uma


empresa podem ser uma barreira para entrar outra empresa no mercado;
técnica: a produção de bens e serviços que requerem muito conhecimento
tecnológico pode ser uma barreira para entrar outra empresa no mercado;
legais: imposições e fiscalização governamental podem ser uma barreira para
entrar outra empresa no mercado.

Por fim, algumas outras estruturas de mercado:

1. Monopsônio e oligopsônio:
Monopsônio: existência de muitos vendedores e um único comprador. Por
exemplo, uma empresa que se instala em uma determinada cidade do
interior e por ser a única, torna-se demandante exclusiva da mão de obra
local. Nesse caso, ou os trabalhadores trabalham nessa empresa, ou mudam-
se para outra localidade.
Oligopsônio: poucos compradores, que dominam o mercado, para muitos
vendedores.

2. Monopólio bilateral:
Caracteriza-se pela estrutura de mercado em que tem-se um monopolista e
monopsonista. Normalmente, essas duas empresas entram em negociações
para a definição de preços: o monopsonista tenta pagar o preço mais baixo,
por ser o único comprador, e o monopolista quer vender por um preço mais
elevado, tentando usar a força de ser o único vendedor.

2.10.5 Resumo das Estruturas de Mercado

Estrutura Nr. de Diferenciação Condições Influência Exemplos


Empresas do Produto de sobre o
Entrada e Preço
Saída
Monopólio Uma Produto Único Difícil Forte Alguns
Sem serviços
Substituto públicos,
Próximo como
transporte,
água e
energia
elétrica
Concorrência Muitas Produto Fácil Nenhuma Alguns
Perfeita homogêneo (são Produtos
tomadores Agrícolas
de preços)
Concorrência Muitas Produto Fácil Leve Comércio
Monopolista Diferenciado Varejista,
ou Restaurantes
Concorrência etc.
Imperfeita
Oligopólio Poucas Homogêneo Difícil Considerável Homogêneo:
ou alumínio;
diferenciado Diferenciado:
Automóveis.
Fonte: Adaptado de PASSOS, Carlos Roberto Martins. Princípios de Economia. 5 ed. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2005, p. 353.

2.10.6 Conceitos Importantes

Sistema e Fluxos Econômicos, Demanda, Oferta, Equilíbrio de Mercado,


Mercados, Elasticidades, Tipos de Bens, Lei dos Rendimentos Decrescentes, Custos de
Produção, Cálculo de Custos, Equilíbrio da Firma, Estruturas de Mercado, Barreiras à
Entrada.
REFERÊNCIAS

MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Rio


de Janeiro: Elsevier, 2001.

MOCHÓN, Francisco. Princípios de Economia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

PINHO, Diva Benevides; VASCONCELLOS, Marco Antônio (org.). Manual de economia:


equipe dos professores da USP, 3. Ed. São Paulo: Saraiva, 1998.

PASSOS, Carlos Roberto Martins; NOGAMI, Otto. Princípios de economia. São Paulo:
Pioneira, 1999.

VASCONCELOS, M. A. S. Economia micro e macro. São Paulo: Atlas, 2001.

PASSOS, Carlos Roberto Martins. Princípios de Economia. 5 ed. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2005, p. 353.

__________
2 Nas seções seguintes, também será abordado em “A lei dos rendimentos marginais”.
CAPÍTULO 3
NOÇÕES DE MACROECONOMIA E TEORIAS DO COMÉRCIO
INTERNACIONAL
André Filipe Zago de Azevedo
Angélica Massuquetti
Sérgio Leusin Júnior
Raquel Negrisoli Fernandez Cabral
Tiago Wickstrom Alves

A macroeconomia e a microeconomia compõem as duas grandes áreas do estudo da Economia. A macroeconomia


se difere da microeconomia principalmente pelo uso da soma das variáveis econômicas individuais para obter dados
agregados da economia. Assim, o uso do agregado e o foco nas variáveis agregadas como consumo agregado,
investimento agregado e produto agregado são determinantes no estudo da macroeconomia. Desta forma, as análises
macroeconômicas utilizam instrumentos teóricos e empíricos para monitorar a economia, realizar previsões econômicas,
auxiliar na elaboração de políticas públicas, além de buscar entender a estrutura da economia em geral.

3.1 Noções de Macroeconomia

3.1.1 Agregados Macroeconômicos, Identidades e Demanda Agregada

A macroeconomia analisa a relação entre os agregados econômicos, por isso é


necessário definir, primeiro, como se compõem e se formam esses agregados de acordo
com a Contabilidade Nacional, para, após, estabelecer a relação entre eles. Destaca-se
que estes agregados podem ser tanto fluxos como estoques. Os estoques são aqueles
que podem ser explicitados sem uma definição de tempo, por exemplo: total de
desempregados em uma economia; volume de capital acumulado por uma empresa.
Já os fluxos necessitam de que se defina um período de tempo para que faça sentido,
embora na macroeconomia os fluxos tenham se consagrado por serem medidos no
intervalo de um ano, e por isso o período não é explicitado. Como alguns exemplos de
fluxos, tem-se: salário mensal, investimento, poupança e consumo anuais.

3.1.2 Conceitos Macroeconômicos Básicos

Produto Nacional Bruto (PNB) é a soma de todas as despesas feitas com os


produtos e serviços finais nacionais (independente de onde é produzido). Inclui-se neste
o valor da depreciação e os rendimentos líquidos da conta de capital. Muitas vezes,
aparece como Produto Nacional Bruto a preços de mercado (PNBpm), para destacar que
é calculado com base nos preços de mercado.
Produto Interno Bruto (PIB) corresponde ao valor da produção realizada
internamente em um determinado país. É obtida via somatório do produto final
produzido dentro das fronteiras do país.
Produto Nacional Líquido (PNL) é em todo igual ao PNB, excluindo-se apenas o
valor da depreciação. É denominado muitas vezes de Produto Nacional Líquido a
Preços de Mercado (PNLpm) por representar o somatório em unidades monetárias dos
produtos finais nacionais, que são vendidos no mercado.
Renda Nacional (RN) representa o valor pago para a elaboração do produto físico
ou a renda auferida na elaboração desses produtos. Por isso às vezes é denominado de
Produto Nacional Líquido a Custo de Fatores (PNLcf).
Renda Pessoal Disponível (RND) representa o valor líquido do qual as pessoas
físicas dispõem para gastarem com o produto e para pouparem.
Depreciação (D) é a redução do valor dos ativos em consequência de desgastes
pelo uso, obsolescência tecnológica ou perda de valor de mercado.
Poupança (S) é a parcela de renda não consumida.
Investimento (I) é a parcela do produto não consumida, ou seja, as aquisições de
bens de capitais e as variações nos estoques. Por isso a identidade entre poupança e
investimento. Ou seja:

S≡I

3.1.3 Identidades Macroeconômicas Fundamentais

Pela ótica dos dispêndios:

PIB ≡ C + I + G + (X – M)

Onde: PIB: Produto Interno Bruto; C: Consumo Privado; I: Investimento Bruto; G:


Gastos do Governo; X: Exportações; e M: Importações.

Pela ótica dos rendimentos:

PIB ≡ C + S + T

Onde: PIB: Produto Interno Bruto; C: Consumo Privado; S: Poupança dos


particulares e das empresas; T: Tributos líquidos (total arrecadado menos as
transferências, representa a poupança do governo).

3.1.4 Relação Funcional entre os Agregados Macroeconômicos

A diferença entre os agregados internos e nacionais decorre do fato de que se


está medindo a produção dentro das fronteiras de um país ou de seus residentes. Os
valores internos contabilizam o produto final produzido dentro das fronteiras do país; e
os nacionais, os valores dos produtos finais produzidos pelos residentes, não importando
o país onde foi fabricado e consumido. Partindo do PIB, chega-se ao conceito do mais
importante dos agregados macroeconômicos, que é o PNB. Para isso, basta retirar do
PNB os rendimentos líquidos enviados ou acrescentar os rendimentos líquidos
recebidos.
O PIB difere do PNB por incluir as parcelas de renda geradas internamente e
transferidas para o exterior. Inclui a remuneração de todos os fatores empregados
internamente, sejam eles de propriedade de residentes ou não-residentes no país.
Sendo assim, quando o PIB é maior que o PNB, o país remete mais renda para o
exterior do que dele recebe. Ao contrário, quando o PIB é menor que o PNB. o fluxo de
rendimentos do país ao exterior é inferior aos direitos recebidos de outros países.
O produto e a renda de um país envolvem na sua mensuração, como se viu,
diferentes magnitudes macroeconômicas. Essas magnitudes e suas relações são
abordadas na seção que segue.

3.1.5 Formas de Mensuração do Produto e da Renda Nacional

O Quadro 1 permite compreender as relações existentes entre os agregados


macroeconômicos e como se pode, a partir de um determinado agregado, obter outros.

Quadro 1 – Distribuição dos Agregados Macroeconômicos

PRODUTO INTERNO BRUTO

(-) Rendimentos líquidos enviado ou ( + ) renda líquida recebida


ou
(+, -) saldo do hiato de recursos de fatores.

(=) PRODUTO NACIONAL BRUTO

( - ) Depreciação

(=) PRODUTO NACIONAL LÍQUIDO ( PNLPM )

( - ) ICMS, IPI, Doações


( + , - ) Discrepâncias estatísticas
( + ) Subsídios líquidos à empresas públicas

(=) RENDA NACIONAL ( PNLCF )

( - ) Tudo o que vaza não se transformando em renda pessoal (como: lucros não
distribuídos, impostos s/ lucros das empresas, Previdência Social, etc.);
( + ) Tudo o que contribui para a renda pessoal (transferências do governo para as
pessoas, juros pago pelo governo, juros pago pelos consumidores, doações
recebidas, etc.)

(=)RENDA PESSOAL

( - ) Imposto de Renda Pessoa Física


(=) RENDA PESSOAL DISPONÍVEL ( YD )

( - ) Poupança Pessoal

(=) GASTOS PESSOAIS

( - ) Juros pago pelos consumidores


( - ) Pagamento de transferências para o exterior

(=) DESPESAS DE CONSUMO PESSOAL


Fonte: KRUGMAN, 2007. Elaboração própria dos autores.

Seguindo o esquema anterior, pode-se encontrar qualquer elemento que


compõe o produto e a renda. No entanto, deve-se ter atenção para o fato de que
quando você estiver partindo do PIB para as despesas de consumo pessoal, a
sequência de sinais indicados é a que deve ser seguida. Porém, se o caminho for o
inverso, ou seja, das despesas de consumo pessoal para o PIB, deve-se trocar os sinais.
Seguindo o raciocínio apresentado no Quadro 1, apresenta-se a Figura 24, onde
pode-se verificar as transformações dos agregados de acordo com os elementos
principais que a compõem.

Figura 24 – Transformações nos Agregados Macroeconômicos.


Fonte: KRUGMAN, 2007. Elaboração própria dos autores.

Exercício de Fixação
1) Dado:
PIB=2.250,00;
Rendimentos Líquidos Recebidos=50,00;
Depreciação=200,00;
Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF)=100,00;
Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ)=150,00;
Impostos Indiretos (ICMS e IPI)=300,00;
Com estes valores encontra-se o RN.

Solução do exercício:

PIB 2.250,00
(-) Depreciação=200,00
PIL 2.050,00
+ Rend. Líq. Rec.=50,00
PNL 2.100,00
(-) ICMS e IPI=300,00
RENDA NACIONAL 1.800,00

3.1.6 Macroeconomia Keynesiana

A chamada Macroeconomia Keynesiana foi desenvolvida por John Maynard


Keynes, em 1935, com sua publicação A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da
Moeda. Uma das proposições básicas de sua teoria é que o nível de renda depende da
demanda agregada. Se a demanda agregada for menor que o nível necessário para o
pleno emprego, o nível de renda será menor que o potencial e haverá desemprego. Se
a demanda agregada for de tal ordem que seja igual à renda de pleno emprego, a
economia estará operando no seu ponto ótimo. Se a demanda agregada for maior que
o nível de renda de pleno emprego, haverá inflação.
As hipóteses básicas contidas no modelo keynesiano são:

existência de equilíbrio com desemprego;


desequilíbrios parciais podem exigir correções de demanda;
rigidez e preços;
a moeda afeta a economia real;
diferença entre os fatores determinantes da poupança em relação aos do
investimento.

Teoria da Determinação do Nível de Equilíbrio da Renda e do Produto Agregado


Inicia-se, para efeitos didáticos, de um modelo teórico mais simples possível,
onde haja apenas dois setores (famílias e empresas), não considerando governo nem
resto do mundo, que se chama de modelo de dois setores.
Inicialmente, formulam-se as seguintes hipóteses:

investimento fixo ou constante;


variações do produto e do emprego proporcionais à variações de renda (tal
relação nada mais é que considerar preços constantes).

A teoria keynesiana está fortemente baseada no que Keynes denominou de Lei


Psicológica Fundamental, assim definida:

Os indivíduos estão, como regra geral e em média, dispostos a aumentar seu


consumo à medida que suas rendas aumentam, porém em proporções menores do
que a do aumento de suas rendas.

Função Consumo

Baseado na Lei Psicológica Fundamental, pode-se tirar as seguintes conclusões:

o consumo aumenta com o nível de renda;


proporção menor da renda será consumida para cada aumento no nível de
renda;
se menor proporção de renda será consumida para níveis mais elevados de
renda, então, a cada aumento de renda, haverá um aumento absoluto de
poupança.

A reta de consumo baseia-se na Lei Psicológica Fundamental. Analisando-a em


termos de comparação com o comportamento comum de um consumidor, é lógico se
esperar que alguém que ganhe vinte salários mínimos possuirá uma poupança maior
que aquele que ganha um salário mínimo. Se essa poupança for comparada em
termos percentuais de renda, o primeiro também apresentará um percentual de
poupança maior, visto que aquele que ganha um salário mínimo terá pouca
disponibilidade de dinheiro para poupar em relação ao de maior renda.
Assim sendo, uma reta que representasse a curva de consumo teria que ser
positivamente inclinada, pois para cada aumento de renda, maior seria o seu consumo.
Porém, como as pessoas aumentam seu consumo menos que proporcional ao
crescimento de suas rendas, essa inclinação terá que representar um percentual de
crescimento de renda. Esse percentual de crescimento chama-se propensão marginal a
consumir (PMgC) que, em termos geométricos, representa a inclinação da curva de
consumo. Um outro aspecto que deve ser ressaltado em relação ao consumo, é que as
pessoas, mesmo sem ganharem renda (salários ou lucros), precisam consumir para
sobreviverem. Esse consumo sem renda pode ser feito no caso de compra a prazo ou
utilizando-se de poupança anteriormente armazenada. Geometricamente, pode ser
descrito como um consumo positivo, no par de renda-consumo para uma renda zero.
Esse ponto denomina-se consumo autônomo (Ca).
Ao comparar esses dados com a equação da reta, pode-se formular uma equação
de consumo. A equação resumida da reta é: Y=a + bX, onde a é o intercepto vertical,
ou seja, onde a reta corta o eixo das ordenadas; b é o coeficiente angular, ou seja, a
inclinação da reta, que é dada pela sua tangente (Tg=cateto oposto/cateto adjacente);
e Y e X são as variáveis. Assim, ao colocar o consumo no eixo vertical e a renda no
eixo horizontal e representando a por Ca e b por PMgC, tem-se a reta de consumo:

C=Ca + PMgCY

Onde: YC=Consumo Total; Ca=Consumo Autônomo; PMgC=Propensão Marginal


a Consumir e Y=Renda.

Por exemplo, supondo Ca=20 e PMgC=0,5, tem-se sua representação conforme a


Figura 25.

Figura 25 – Relações Básicas da Função Consumo.


Fonte: BLANCHARD, 2007. Elaboração própria dos autores.

Propensão Marginal a Consumir (PMgC)

É dada pela inclinação da reta de consumo. Permite saber para qualquer


variação na Y, qual será a variação do consumo e da poupança. É constante para
qualquer nível de renda.

Propensão Média a Consumir (PMeC)

É definida pela relação entre C e Y, para diferentes níveis de renda, e possibilita


conhecer como a renda será dividida entre consumo e poupança.

Função Poupança

Figura 26 – Função Poupança.


Fonte: BLANCHARD, 2007. Elaboração própria dos autores.

Genericamente, tem-se:
S=Sa - PMgSY

Propensão Marginal a Poupar (PMgS)

É dada pela inclinação da função poupança, ou seja:

Propensão Média a Poupar (PMeS)

É a relação entre S e Y para diferentes níveis de renda. É dada pela relação:

Determinação do Nível de Equilíbrio da Renda

A renda de equilíbrio ocorre quando a demanda agradada for igual ao produto


agregado, ou seja:

PIB=C + I G + (X – M)

Para simplificação, inicia-se com uma economia fechada e com dois setores,
famílias e empresas, logo o PIB será igual à renda (Y). Dessa forma a renda de
equilíbrio será dada por:

Y=C + I

Substituindo C pela função consumo e supondo apenas investimento autônomo


(constante), tem-se:

Y=Ca + PMgCY + I

Para compreender como determinar o equilíbrio, suponha que o dispêndio em


consumo seja dado pela equação: C=100 + 0,60Y e que o I=70, então a renda de
equilíbrio seria dada por:

Y=100 + 0,60Y + 70
Y – 0.6Y=170
0,4Y=170
Y=425=> renda de equilibrio

Multiplicador da Demanda Agregada

Ao ocorrer uma variação, por exemplo, no consumo autônomo, a renda variará


em um múltiplo dessa variação. Isso decorre do fato de existir um multiplicador para
variações autônomas da demanda agregada.
Multiplicador simples, para uma economia a dois setores é obtido da seguinte
forma:

Y=Ca + PMgCY + I

Logo, uma variação na renda poderá ter sido causada por uma variação nos
investimentos ou no consumo autônomo:

ΔY=DCa + PMgCDY + DI

Isolando ΔY, tem-se:

Onde 1/(1-PMgC) é o multiplicador keynesiano simples.

Veja que o multiplicador para uma economia de dois setores é recíproca de 1 -


PMgC, logo, quanto maior a PMgC, maior será o multiplicador e, consequentemente,
maior será o efeito das variações autônomas sobre o nível de renda.

Função Investimento

Investimento é uma palavra com muitas conotações no emprego popular, mas


tem apenas um significado na análise macroeconômica: “É o valor do produto da
economia que toma a forma de novos imóveis para fábricas, novos bens de capital
duráveis e variações nos estoques”. Esse investimento é denominado de Investimento
Bruto, que pode ser representado por:

IB=IL +D + VE

Onde IB=Investimento Bruto; IL=Investimento Líquido; D=Depreciação e VE


variação nos estoques. Destaca-se que sempre que houver variação nos estoques (VE ≠
0) não haverá equilíbrio na economia, pois significa que há um descompasso entre
demanda agregada e produto agregado.
Investimento Líquido é o investimento bruto menos a depreciação, ou seja, IL=IB
– D. Logo, é igual à variação no estoque de capital da economia. Se o investimento
realizado em um determinado país for menor que o valor da depreciação, então,
haverá uma redução dos estoques de capital, logo, um investimento líquido negativo.
Assim, para que haja crescimento econômico, os investimentos deverão ser maior que o
valor da depreciação dos estoques de capital economia.
Assim, se:

IB=Depreciação (p/ o exercício) → não há investimento líquido nem


desinvestimento e, por conseguinte, não há qualquer variação nos estoques de
capital.
IB > Depreciação → haverá investimento líquido e acréscimo no estoque de
capital.
IB < Depreciação → haverá desinvestimento e uma redução no estoque de
capital.

Decisão de Investir e Função Investimento

Baseia-se na relação entre três elementos:

fluxo de renda esperado do bem de capital em questão -SRT;


preço de compra desse bem;
taxa de juro de mercado.

De uma forma simplificada:

VA=SRT / (1+i)n

Onde: VA → Valor Atual ou valor de compra de um bem de capital; SRT →


Somatório dos rendimentos líquidos proporcionado pelo bem de capital bem como o
custo do investimento; i → Taxa de desconto apropriada ao risco do negócio; n →
número de períodos.
Pode-se concluir que um VA positivo significa que o há retorno do investimento
acima da taxa de risco associada ao negócio e, portanto, deverá ocorrer o investimento.
Se o valor for negativo, o investimento não cobrirá a taxa de retorno exigida para o
negócio, portanto, não deveria se realizar o investimento. Dessa forma, uma redução
na taxa de juros deverá elevar o nível de investimentos de um país, pois aumenta o VA.
Da mesma forma, as expectativas, se forem melhoradas, se refletirão no fluxo de caixa
do investimento.
Logo, o investimento é uma função da taxa de juros real e das expectativas.
Assim, tem-se a seguinte função investimento:

I=Ia + PMgIY - gi

Onde: Ia → Investimento Autônomo e está associado as expectativas; PMgI →


Propensão Marginal a Investir, Y=renda; g=mede a sensibilidade do investimento em
relação a variação de um ponto percentual na taxa de juros; i=taxa real de juros.
Logo, em uma economia com dois setores e investimento induzido, a renda de
equilíbrio seria determinada por:

Y=Ca + PMgCY + Ia + PMgIY - gi

Por exemplo, qual o nível de equilíbrio da “Y” quando:

Ca=20, PMgC=0,60, Ia=100 e PMgI=0,20; g=10 e i=5.


Y=20 + 0,6Y + 100 + 0,20Y – 10*5
Y – 0,8Y=70
Y=70/0,2
Y=350=> renda de equilibrio

Economia Aberta e com Governo - Renda de Equilíbrio

Em uma economia a quatro setores, onde se tem o governo e o setor externo, há


novas variáveis que influem de forma significativa no nível de renda. Com a existência
do governo, o conceito de renda passa a ser a renda disponível (Yd), pois é a renda
bruta dos indivíduos descontado dos impostos diretos que esses dispõem para gastarem
em bens de consumo, ou seja: Yd=Y – T.
Outro elemento importante são os tributos do governo que podem ser autônomos
e induzidos: autônomos (Ta) são aqueles que independem do nível de renda dos
indivíduos, como o IPTU, por exemplo, e os induzidos (PMgT*Y) são aqueles que
variam com o nível de renda, como é o caso do Imposto de Renda.
Ainda há que considerar as transferências (R) dos governos para as pessoas,
como auxílios maternidade, seguro desemprego e Bolsa Família, entre outros. Até o
advento do Bolsa Família, a relevância dessas transferências na economia não eram
significativas.
As exportações (X) são consideradas constantes nesse modelo, embora
dependam da taxa de câmbio e da renda do resto do mundo, e as importações (M) que,
da mesma forma que o consumo e o investimento, tem uma componente autônoma
(Ma) e uma induzida (PMgM*Y) – que é a propensão marginal a importar vezes a renda.
Algebricamente, a equação de equilíbrio é dada por:

Y=C + I + G + (X – M)

Substituindo as funções consumo, investimento e importações obtém-se:

Y=Ca + PMgCYd + Ia + PMgIY – gi + G + [X – (Ma - PMgMY)]

A título de exemplificação, suponha os seguintes elementos:

Ca=800; Ia=1.000; Ta=100; G=500; X=500; Ma=1.000; PMgC=0,80; PMgT=0,25;


PMgI=0,1; PMgM=0,15.

Qual seria a renda de equilibrio?

Y=800 + 0,8(Y- 100 – 0,25Y) + 1.000 + 0,1Y + 500 + [500 – (1.000 + 0,15Y)]
Y=1800 + 0,8Y – 80 – 0,2Y + 0,1Y - 0,15Y
Y=1.720 + 0,55Y
0,45Y=1.720
Y=3.822=> renda de equilibrio.

3.1.7 Instrumentos de Política Macroeconômica - Política Monetária e Política Fiscal

Na seção anterior, foi possível observar os agregados macroeconômicos e a


maneira como são determinados e mensurados. As políticas fiscais e monetárias são
importantes instrumentos para a gestão macroeconômica das nações. Assim, a seguinte
seção busca abordar a influência das políticas fiscais e monetárias nas flutuações da
produção total de bens e serviços e no nível geral de preços.

3.1.7.1 Política Fiscal

A política fiscal é um instrumento macroeconômico utilizado pelos governos


principalmente para atingir dois objetivos. Um dos objetivos diz respeito à utilização da
política fiscal como financiadora dos gastos governamentais utilizados para o
cumprimento das funções básicas do Estado. O segundo objetivo desta política é tentar
corrigir ou controlar flutuações da produção total de bens e serviços (PIB), assim como
do nível geral de preços (inflação). Desta forma, a política fiscal compreende todas as
diretrizes do governo que definem a administração de seus gastos e o nível de
arrecadação dos recursos (impostos).
Do ponto de vista funcional, o governo, através da política fiscal, pode exercer
funções da seguinte natureza:

i. alocativa: quando o Estado provê serviços de segurança e saúde, ou ao


investir na exploração de petróleo;
ii. distributiva: quando transfere fundos de recursos para os estados ou
municípios, assim como ao disponibilizar recursos para programas sociais, a
exemplo do Bolsa Família;
iii. estabilizadora: quando direciona recursos ou abre mão de receitas tributárias
(isenções ou reduções de impostos) para manter, reduzir ou elevar um
determinado nível geral de emprego e renda.

Na Economia, a função mais estudada talvez seja a estabilizadora,


principalmente pelo fato de ser um importante e poderoso instrumento de controle e
incentivo da produção total de bens e serviços de uma economia. Ou seja, esta
ferramenta pode ser empregada com o propósito de influenciar tanto o consumo
quanto o investimento privado. Se houver a necessidade de atuação sobre os
desequilíbrios no consumo, as medidas podem atingir os impostos sobre a renda ou
sobre o consumo. Uma redução das alíquotas estimulará o consumo, enquanto a sua
elevação produzirá um efeito contrário. Os investimentos privados também podem ser
influenciados através de modificações nas alíquotas dos impostos pagos pelas
empresas. Assim, a política fiscal pode assumir um perfil expansionista, quando deseja
incentivar a atividade econômica, ou contracionista, quando o objetivo é controlar o
nível de produção e preços (inflação).
As políticas fiscais expansionistas normalmente são efetivadas através do
aumento das compras governamentais de bens e serviços, através do corte de impostos
ou ainda pelo aumento das transferências para os entes federados ou diretamente para
os cidadãos, como é o caso do seguro-desemprego. As políticas fiscais contracionistas
buscam atingir objetivos opostos da expansionista e são implementadas via redução
das compras governamentais de bens e serviços, aumentando os impostos ou reduzindo
transferências do governo. Segundo Krugman (2007), deve-se ter cuidado com políticas
fiscais estabilizadoras extremamente ativas, pois quando um governo se esforça demais
para estabilizar a economia pode acabar tornando a economia ainda menos estável.

3.1.7.1 Política Monetária

Na década de 1960, os debates entre keynesianos e monetaristas dominaram o


campo acadêmico da Economia. Esses debates concentravam-se no papel da política
econômica e na eficácia da política fiscal versus a política monetária. Milton
Friedman, principal intelectual dos monetaristas e ganhador do Prêmio Nobel de
Economia de 1976, contestava a percepção de que a política fiscal afetaria o produto
de maneira mais rápida e confiável do que a política monetária. Assim, em 1963, ele e
Anna Schwartz publicaram o livro A Monetary History of the United States, 1867-1960,
onde analisaram os ciclos de produção dos Estados Unidos e concluíram que a política
monetária era mais eficiente e que o movimento do estoque monetário explicaria
grande parte das flutuações do produto.
No Brasil, a política econômica adotada amenizou os impactos da crise
econômica internacional de 2008 e permitiu a retomada do crescimento econômico do
país. Dentre seus instrumentos, houve a redução da reserva compulsória dos bancos; a
queda na taxa básica de juros; a ampliação das reservas para financiar as exportações;
e o aumento do repasse de recursos do Tesouro Nacional ao Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de crédito aos bancos públicos. Estes
são exemplos de política monetária (expansionista). A política monetária tem o objetivo
de criar e de manter um ambiente macroeconômico estável, garantindo as condições
necessárias para a elevação dos níveis de produto e de emprego na economia. A
estabilidade de preços também é fundamental para permitir o crescimento econômico.
Assim, a compreensão da relação entre oferta monetária, taxa de juros, produto e nível
de preços é importante na compreensão do funcionamento da política monetária.
A quantidade demandada de moeda, desejada pelos agentes econômicos para
permitir as transações econômicas, está relacionada inversamente com a taxa nominal
de juros. Ou seja, o custo de oportunidade de manutenção da moeda aumenta com a
elevação dessa taxa. Nesse caso, a moeda poderia ser empregada na compra de
títulos, por exemplo, rendendo juro ao seu proprietário. A curva de demanda por moeda
(tudo o mais constante) se expande (deslocamento para a direita) quando há o
aumento do PIB nominal (crescimento do produto real ou elevação de preços),
havendo o efeito contrário numa redução do PIB nominal. A oferta de moeda, por sua
vez, é determinada pelo Banco Central do Brasil (BACEN)3 – a autoridade monetária –
através de operações de mercado aberto, da política de redesconto e da exigência de
reserva compulsória. Como a taxa de juros não tem efeito sobre a quantidade de
moeda ofertada pelo BACEN, a curva de oferta monetária é vertical. O equilíbrio entre
oferta e demanda por moeda pode ser observado na Figura 27.

Figura 27 – Equilíbrio entre oferta e demanda por moeda.


Fonte: KRUGMAN, 2007. Elaboração: Raquel Cabral.

O BACEN pode afetar a economia através de uma política monetária


expansionista ou de uma política monetária restritiva. Na primeira situação, o objetivo
é estimular a demanda agregada (expansão do PIB real e do nível de emprego no
curto prazo – política não antecipada pelos agentes econômicos), sendo efetuada
através da aquisição de títulos públicos pelo BACEN e da ampliação das reservas livres
dos bancos e da taxa de crescimento da oferta monetária. Por outro lado, na segunda
situação, o foco é a redução da demanda agregada (queda do produto real e do
emprego no curto prazo – política não antecipada pelos agentes econômicos) e da taxa
de inflação, sendo alcançadas por meio da venda de títulos públicos pelo BACEN e da
redução das reservas bancárias e da taxa de crescimento da oferta monetária. No longo
prazo, a política monetária afetará, principalmente, os preços e não o produto real da
economia. Os países que adotam elevadas taxas de crescimento da oferta monetária
tendem a enfrentar altas taxas de inflação.
A política macroeconômica, portanto, tem o objetivo de atenuar as flutuações
que produzem os ciclos econômicos, gerando um crescimento econômico estável no
longo prazo e o controle de preços. Neste sentido, o governo federal irá adotar as
políticas monetária e fiscal – medidas estabilizadoras.

3.2 Teorias do Comércio Internacional

Economistas internacionais há longo tempo estabeleceram que um regime


comercial liberal é a melhor opção de política comercial, especialmente para países
pequenos, que não podem influenciar os preços internacionais. Um regime liberal
aumentaria a produtividade, a renda e o bem-estar, através de uma melhor alocação
de recursos, decorrente de uma distribuição mais eficiente dos fatores de produção.
Desta forma, haveria uma especialização da produção nos setores em que o país possui
vantagens comparativas, tanto em termos de dotação de fatores como tecnológicos.
Além disso, haveria uma redução dos incentivos a atividades improdutivas associadas à
proteção, como lobbies, evasão fiscal e contrabando. No entanto, a literatura também
aponta uma série de argumentos contrários à liberalização, com destaque para aqueles
que se referem aos efeitos sobre os termos de troca e a indústria nascente. Essa seção
analisa as principais teorias do comércio internacional, bem como alguns argumentos
contrários à liberalização.

3.2.1 Vantagens Absolutas e Comparativas

Adam Smith, no final do século XVIII, refutou a idéia de que o comércio era um
jogo de soma zero, ou seja, que o ganho de um país ocorria em detrimento de outro,
confrontando claramente a doutrina mercantilista que dominou os séculos XVI a XVIII.
Para ele, o comércio seria um jogo de soma positiva, isto é, ambos os países envolvidos
ganhariam, tanto aqueles que exportavam como os importadores. O livre comércio
seria um mecanismo capaz de promover o aumento da produção via especialização e,
com as trocas, aumentar o consumo e o bem-estar das populações dos países
envolvidos no comércio internacional.
Além de apresentar os benefícios associados ao livre comércio, Smith precisava
mostrar qual o padrão de comércio mais apropriado entre os países. Para tanto, ele
criou o conceito de vantagem absoluta, que ocorreria quando um país fosse mais
eficiente, em termos absolutos, na produção de um bem. A eficiência seria medida
através da produtividade absoluta do trabalho, ou seja, quanto menos tempo de
trabalho fosse necessário para um país produzir um determinado produto, mais
eficiente ele seria. Portanto, os países deveriam exportar aqueles bens em que tivessem
vantagem absoluta na produção e importar aqueles em que apresentasse desvantagem
absoluta. O trecho abaixo é bastante ilustrativo da visão de Smith sobre as vantagens
absolutas.

“Se um país estrangeiro está em condições de fornecer uma mercadoria a preço mais baixo do que
o da mercadoria fabricada por nós mesmos, é melhor comprá-la com uma parcela da produção de
nossa própria atividade, empregada de forma que possamos auferir alguma vantagem” (SMITH,
1996, p. 380).

David Ricardo, no início do século XIX, levou o argumento de Smith ao limite,


mostrando que mesmo um país que não apresente vantagem absoluta em produto
algum pode se beneficiar do comércio internacional, criando o que para muitos é o
maior insight em economia de todos os tempos: o conceito de vantagem comparativa.
Vamos considerar um exemplo. Suponha que haja dois países (local e estrangeiro) e
dois bens sendo produzidos (queijo e vinho), sendo o trabalho o único fator de
produção. Imagine que o país estrangeiro consiga produzir 1 quilo de queijo em 1 hora
e 1 litro de vinho em 2 horas, enquanto o país local leva 6 e 3 horas para produzir 1
quilo de queijo e 1 litro de vinho, respectivamente. De acordo com as vantagens
absolutas de Smith, não haveria possibilidade de ganho com o comércio, pois o país
estrangeiro teria vantagens absolutas em ambos os bens (leva menos tempo para
produzir queijo e vinho do que o país local). No entanto, é possível notar que o país
estrangeiro, mesmo sendo absolutamente mais eficiente em ambos, é relativamente
mais eficiente na produção de queijo, pois leva apenas 1/6 do tempo do país local
para produzi-lo, enquanto leva 2/3 do tempo do local para produzir vinho. O país local,
por sua vez, é relativamente mais eficiente na produção de vinho, pois leva apenas
50% a mais de tempo para produzi-lo, ao passo que leva 6 vezes mais tempo para
produzir queijo.
Nesse caso, de acordo com Ricardo, se cada país se especializasse na produção
do bem em que fosse relativamente mais produtivo (o estrangeiro em queijo e o local
em vinho), ou seja, que tenha vantagem comparativa, haveria a criação de excedentes
que seriam trocados pelo outro bem em que o país apresenta desvantagem
comparativa. Desde que o preço de troca entre os países se situasse entre os preços que
vigoram em autarquia, haveria ganhos para todos, na medida em que as possibilidades
de consumo seriam ampliadas. Em outras palavras, sairia mais barato importar o bem
que o país tem desvantagem comparativa do que produzi-lo no próprio país. Portanto,
um país irá exportar o produto no qual tenha vantagem comparativa e importar aquele
em que tenha desvantagem comparativa.
Os economistas Eli Heckscher e Bertil Ohlin, no início do século XX, criaram uma
alternativa ao modelo ricardiano, incluindo outros fatores de produção além do
trabalho na explicação do comércio internacional. A teoria, que ficou conhecida como
Heckscher-Ohlin, enfatiza que as diferenças de recursos dos países seriam a única fonte
de comércio. Nesse sentido, a vantagem comparativa seria influenciada pela
abundância relativa de fatores que os países apresentam e pela intensidade relativa do
uso de fatores para a produção dos bens. Países que, por exemplo, possuam
relativamente mais terra do que capital seriam exportadores de produtos que utilizam
intensivamente seu fator abundante, ou seja, a terra (ex: produtos primários), enquanto
países que têm abundância relativa de capital em relação a terra, exportariam bens
que usem intensivamente capital (ex: automóveis). Nesse caso, o padrão do comércio
internacional depende das diferenças na dotação de fatores dos países. Um país
exportará bens que utilizarem intensivamente seu fator abundante e importará bens
que utilizarem intensivamente seu fator escasso.
A literatura, no entanto, também aponta argumentos clássicos contrários à
liberalização, com destaque para aqueles que se referem aos efeitos sobre os termos de
troca e a indústria nascente. Tais argumentos, especialmente o relativo à indústria
nascente, serviram de apoio para a estratégia de substituição de importações, ocorridos
em boa parte do mundo em desenvolvimento logo após a 2a Guerra Mundial. O
argumento da indústria nascente, inicialmente proposto por Alexander Hamilton e
desenvolvido por List, defende a adoção de um estímulo temporário a uma
determinada indústria até que ela esteja apta a competir internacionalmente. Quanto
ao termos de troca, Torrens, em 1844, foi o pioneiro a identificar que no caso de um
país grande (isto é, capaz de afetar os preços mundiais por meio da troca), a adoção de
uma tarifa de importação pode melhorar os termos de troca do país.4 Isso ocorreria
porque esta medida protecionista tende a reduzir o preço das importações do país que
a adotou, na medida em que reduz a demanda global pelo produto e, dessa forma,
melhora os termos de troca do país.

3.2.2 Nova Teoria do Comércio Internacional

Mais recentemente, no início dos anos 1980, a partir da chamada nova teoria do
comércio internacional, baseada em competição imperfeita, economias de escala e
diferenciação de produtos, foram identificados benefícios adicionais da integração
comercial, identificados como efeitos competição, escala e diversidade (KRUGMAN,
1979; HELPMAN; KRUGMAN, 1985). A abertura comercial propiciaria um aumento da
competição entre as empresas, que resulta em ganhos de eficiência técnica, bem como
de elevação da escala de produção. De um lado, em economias mais fechadas, as
empresas têm poucos incentivos para reduzir custos, criar novos produtos e processos de
produção e novas técnicas administrativas e, portanto, para elevar a produtividade. De
outro, economias mais protegidas tendem a limitar o mercado das empresas nacionais,
pelo seu viés anti-exportação, o que reduz a produção para escalas sub-ótimas. A maior
integração econômica permitiria, portanto, uma maior competição entre as empresas e
ganhos de escala. Além disso, regimes de comércio mais liberais permitem um acesso
a uma maior diversidade de produtos, insumos e bens de capital, elevando o bem-estar
dos consumidores e a eficiência dos produtores. Estes novos argumentos, associados à
crise da dívida externa de 1982 e do sucesso econômico obtido por alguns países do
sudoeste asiático, que adotaram políticas comerciais liberais já a partir da década de
1960, serviram de estímulo para estes países buscarem uma maior integração com o
resto do mundo.
Entretanto, a nova teoria do comércio internacional também identificou uma
nova razão para práticas protecionistas na presença de interações estratégicas entre as
empresas (BRANDER; SPENCER, 1985). Tais interações estratégicas entre empresas
ocorreriam quando a mudança do comportamento de uma empresa causasse uma
alteração do comportamento de outra (resposta estratégica). Ao alterar o
comportamento das empresas,políticas comerciais estratégicas poderiam influenciar
tanto no mercado doméstico quanto no internacional a relação estratégica entre as
empresas. Ao escolher uma tarifa ótima ou subsídio, o governo poderia afetar o jogo
estratégico entre as empresas para favorecer a empresa doméstica. Entretanto, a
possibilidade de retaliação por parte do governo de outro país, a grande quantidade de
informações necessárias para implementar adequadamente este tipo de políticas e a
influência de grupos de pressão para obter tais benefícios para seus setores, para citar
os mais comuns, tornaram este tipo de intervenção pouco recomendada pelos
economistas.
A partir do final da década de 1980, as novas teorias do crescimento econômico,
baseadas na endogeneização do progresso técnico [(ROMER, 1986; LUCAS, 1988),
forneceram novos argumentos em favor da abertura econômica. Primeiro, o comércio
de bens expandiria o fluxo de idéias e tecnologias, reduzindo o custo da inovação. Ao
mesmo tempo, pressionaria as empresas sem acesso a fontes tecnológicas externas a
investir em inovação. Assim, haveria uma expansão da base tecnológica dos países, o
que estimularia a produtividade e, por consequência, o crescimento. Segundo, o
comércio poderia elevar o tamanho do mercado induzindo os investimentos em
indústrias com retornos crescentes que não seriam viáveis em mercados menores, além
de permitir o acesso de agentes domésticos a bens de capital a um custo mais
acessível, removendo assim barreiras ao investimento e às exportações. Terceiro, a
abertura comercial criaria incentivos ou obrigaria (através de instituições multilaterais) a
adoção de políticas macroeconômicas e/ou regulatórias virtuosas, o que também
contribuiria para taxas de crescimento mais elevadas. Portanto, ao estimular a
produtividade, o investimento e políticas virtuosas, o comércio estimularia o
crescimento econômico.5

3.3 Sugestão de Sites

Site Oficial do Banco Central do Brasil: www.bcb.gov.br


Site Oficial do Ministério da Fazenda (Brasil): www.fazenda.gov.br
Site Oficial da Organização Mundial de Comércio: www.wto.org

3.4 Conceitos Importantes

Termos Básicos
Produto Nacional Bruto Consumo Autônomo
Produto Interno Bruto Propensão Marginal a Poupar
Produto Nacional Líquido Política Fiscal
Poupança Política Monetária
Depreciação Vantagens Absolutas
Lei Psicológica Fundamental Vantagens Comparativas
Propensão Marginal a Consumir

REFERÊNCIAS

ANDERSON, K.; H. NORHEIM “History, geography and regional integration”. In: K.


ANDERSON; BLACKHURST, R. (eds.), Regional Integration and the Global Trading
System. London: Harvester-Wheatsheaf, 1993, pp. 19-51.

BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia. 4. ed. São Paulo: Pearson, 2007.

BRANDER, J.; SPENCER, B. Export subsidies and market share rivalry. Journal of
International Economics, 18, 1985, pp. 83-100.

FROYEN, Richard T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 1999.

HELPMAN E.; KRUGMAN, P. Market Structure and Foreign Trade. Cambridge, MA: MIT
Press, 1985.

KRUGMAN, P. Increasing returns, monopolistic competition and international trade.


Journal of International Economics, 9, 1979, pp. 469-479.

KRUGMAN, P.; OBSTFELD, M. Economia Internacional: teoria e política. 5a Ed. São


Paulo: Makron Books. 2001.

KRUGMAN, Paul R. Introdução à economia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

LOPES João C.; ROSSETTI, José P. Economia Monetária, 8. ed. São Paulo: Atlas S/A:
2002.

LUCAS, Robert. On the mechanics of economic development. Journal of Monetary


Economics, 22, 1988, pp. 3-42.

MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Rio


de Janeiro: Campus, 2000.

MOCHON, Francisco; TROSTER, Roberto Luis. Introdução à Economia. São Paulo:


Makron Books, 2001.

ROMER, Paul. Increasing returns and long run growth. Journal of Political Economy, 94,
1986, pp. 1002-37.

SACHS, Jeffrey D.; LARRAIN, Felipe. Macroeconomia. São Paulo: Makron Books,
1995.

SMITH, Adam. A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua natureza e suas causas.
Vol. 1 e 2, São Paulo: Nova Cultural, 1996.

TAYLOR, John B. Principios de Macroeconomia; São Paulo: Ática, 2007.

VINER, Jacob. The Custom Union Issue. London: Carnegie Endowment for International
Peace, 1950.

__________
3 O BACEN foi criado através da Lei nº 4595, de 31 de dezembro de 1964, e é responsável pela fiscalização e pela
supervisão do Sistema Financeiro Nacional (SFN).
4 Os termos de troca se referem à relação entre os preços de exportação e de importação de um país. Quanto maior for
essa relação, ou seja, quanto maior forem os preços de exportação em relação aos de importação, maior é o benefício do
país.
5 A maior parte dos benefícios e dos custos envolvidos em um processo de integração não-discriminatória descritos acima,
também é observada quando da formação de blocos econômicos. No entanto, a abertura preferencial se diferencia daquela,
pois cria a possibilidade do que se convencionou chamar criação ou desvio de comércio, termos originalmente cunhados
por Viner (1950). Desde então há um consenso de que os benefícios só superariam os custos caso a criação de comércio
superasse o desvio de comércio decorrente da liberalização comercial discriminatória.
CAPÍTULO 4
APLICAÇÃO DOS CONTEÚDOS ESTUDADOS – UMA BREVE ANÁLISE DA
ATUAL CONJUNTURA ECONÔMICA
Sérgio Leusin Júnior

O presente capítulo teve a pretensão de definir, qualificar e quantificar os principais indicadores econômicos do
país. Reconhecidamente, tais indicadores são fundamentais tanto para propiciar uma melhor compreensão da situação
presente e o delineamento das tendências de curto prazo da economia, quanto para subsidiar o processo decisório. O texto
trabalhou com os agrupamentos mais convencionais dos diferentes indicadores e, sempre que possível, especificou, para
cada um deles, aspectos como conceito, finalidade, metodologia de determinação e instituição produtora.

4.1 Agregados Econômicos e a Análise de Conj untura

A análise da evolução dos agregados econômicos constitui uma poderosa


ferramenta para a tomada de decisão de empresários, investidores e governos, assim
como é frequentemente empregada na elaboração de planejamentos estratégicos de
empresas para a análise do ambiente externo. Através da evolução de dados
econômicos e estatísticos, é possível verificar, por exemplo, em que grau e em que
setores uma crise econômica, ou uma política econômica, está impactando de maneira
mais significativa. Este exercício é importante, visto que períodos de recessão ou
expansão geram resultados muitas vezes contraditórios quando comparados com
diferentes setores da economia. Assim, a análise de conjuntura geralmente busca
acompanhar a evolução dos dados disponíveis para que seja possível construir um
diagnóstico, ou ainda, um prognóstico para o período em estudo.
O pano de fundo deste capítulo se inicia com a crise econômica internacional
que, no Brasil, começou no último trimestre de 2008, quando a quebra do banco norte-
americano Lehman Brothers gerou a interrupção do fluxo financeiro que irrigava o
crédito comercial internacional. De certa forma, a ocorrência desta crise, também
chamada de crise do Subprime, fornece importantes evidências empíricas da teoria
econômica. Assim, ao longo deste capítulo se buscará visualizar o impacto desta crise
em indicadores selecionados da economia brasileira e, sempre que possível, aplicar
conceitos que seguidamente são utilizados como pressupostos na ciência econômica.

4.2 A Seleção das Variáv eis

As primeiras dificuldades da análise econômica talvez sejam a seleção e o


tratamento dos inúmeros dados disponíveis. Sabe-se que os dados ou evidências
empíricas são essenciais para a compreensão de uma determinada conjuntura. Porém,
a quantidade de informações de nada servirá caso não se souber transformá-las
qualitativamente em conhecimento útil para a tomada de decisão.
Na próxima seção, será apresentada uma série de variáveis disponíveis nos
principais bancos de dados estatísticos e econômicos do Brasil. A ordem de
apresentação dos dados segue uma lógica usualmente utilizada em análises de
conjuntura econômica. Assim, as informações serão divididas em dois grupos que
abrangem a oferta e a demanda. A análise dos dados será realizada de maneira breve
e direta, buscando salientar os fatos econômicos mais significativos sem tratamentos
estatísticos ou econométricos, e dentro de uma perspectiva histórica. Cabe destacar que
o objetivo deste capítulo não é desenvolver um estudo definitivo da conjunção
econômica contemporânea, mas sim apresentar uma maneira de realizar análises de
ambientes econômicos, assim como buscar uma aplicação prática de conceitos
econômicos.
No grupo de dados que compõe a oferta, encontra-se a análise do desempenho
da economia brasileira no que tange à produção. Uma abordagem completa, como a
realizada pelo Banco Central do Brasil (Relatórios de Inflação)6, engloba os setores
industrial, agrícola e o comércio, além da apresentação da evolução do mercado de
trabalho, principalmente salários e rendimentos. Entretanto, nesta breve observação de
dados se buscará analisar o desempenho do setor industrial brasileiro. Para tanto, a
produção industrial será analisada através dos dados da Pesquisa Industrial Mensal
(Produção Física) do Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE e do
indicador de capacidade instalada disponibilizado pela Fundação Getúlio Vargas -
FGV.
Com relação à demanda, normalmente são analisados o consumo, os
investimentos, a execução orçamentária do governo e o hiato de recursos externos.
Nesta abordagem, será analisado o volume de vendas do comércio varejista brasileiro
fornecido pela Pesquisa Mensal do Comércio (PMC-IBGE) e indicadores de crédito.
Também serão analisados a evolução do mercado de trabalho e os indicadores de
inflação.
Outros dados indispensáveis em uma análise de conjuntura econômica são os
que dizem respeito à economia internacional, ao balanço de pagamentos e também à
inflação. Com as informações do grupo da oferta e demanda, é possível verificar as
condições do mercado interno. O balanço de pagamentos fornece esclarecimentos
sobre o ambiente externo e sua influência na economia doméstica. Finalmente, com a
evolução da inflação, é possível identificar se a economia está sofrendo choques
internos ou externos capazes de gerar ou alterar o comportamento dos preços no
período analisado.

4.3 Os dados da oferta

A produção de automóveis no Brasil

A partir do gráfico abaixo, é possível observar que em 2009 ocorreu uma queda
(-1,7%) na produção de veículos, visto que em 2008 a produção de automóveis foi de
3,21 milhões, valor que supera em 37 mil unidades a produção de 2009. Mesmo com o
cenário adverso observado em 2008, a produção de veículos foi a maior da história,
superando o antigo recorde observado em 2007. É interessante observar a nítida
desaceleração da produção de automóveis a partir de agosto de 2008, que se
intensifica em dezembro com uma queda na produção de 47,14% em relação ao mês
anterior, e um desempenho 53,77% inferior ao observado em dezembro 2007.
Com relação às vendas de automóveis, pode-se observar que a retração do
crédito ocorrida em função da falência do Lehman Brothers em setembro de 2008
gerou um impacto significativo, pois as vendas de automóveis sofreram forte queda em
outubro (-10,94%) e novembro (-25,66%), voltando a apresentar crescimento positivo
em dezembro (9,16%), principalmente devido às medidas do governo de garantir
liquidez no mercado e reduzir as alíquotas do IOF e IPI.

Figura 28 – Produção total de Autoveículos e Vendas de Autoveículos nas concessionárias (unidades) – Jan/08-Dez/09.
Fonte: ANFAVEA. Elaboração: Sérgio Leusin Jr.

Em 2009, o mercado de automóveis foi, em grande parte, sustentado pelos


incentivos fiscais do governo federal. Os dados sugerem que a política fiscal
expansionista do governo gerou resultados interessantes, visto que a queda na
produção (-1,7%) e venda (-0,01%) de autoveículos em 2009 foi apenas marginal,
podendo ser considerada como um cenário de estabilidade na produção e venda.
A partir das figuras 28 e 29, pode-se observar a interação das leis de oferta e
demanda. Quando a produção está acima das vendas, ocorre a formação de estoques
e, quando as vendas estão acima da produção, os estoques se reduzem. Entre julho e
novembro de 2008 (figura 26), por exemplo, as vendas parecem se situar em patamares
inferiores aos da produção, fato que fica evidenciado pela elevação dos estoques no
mesmo período, em destaque na figura 27.
A análise da oferta e demanda é particularmente importante para o setor
agrícola. A oferta agrícola não tem capacidade de responder rapidamente aos
incentivos da demanda, pois o ciclo de produção não pode ser acelerado, ou até
mesmo alterado, depois de iniciado. Já no setor industrial, existe a possibilidade de,
por exemplo, se ampliar o horário de produção, ou até mesmo utilizar maquinários
mais eficientes que irão resultar em uma produção maior. Na agricultura, além de não
ser possível alterar o ciclo de produção, existe uma importante variável que não é
controlável: o clima.
Desta forma, os estoques representam uma margem de segurança e, sempre que
estão abaixo de um nível considerado ótimo pelo mercado, pode ocorrer uma inflação
nos preços futuros, visto que os agentes podem criar expectativas de que não haverá
produção e estoques suficientes para atender à demanda futura. Isso se explica devido
ao fato de que quando a demanda está superior à produção, segundo a lei da oferta e
demanda, os preços devem subir.

Figura 29 – Estoque de Autoveículos (unidades).


Fonte: ANFAVEA. Elaboração: Sérgio Leusin Jr.

Os níveis da produção industrial

A Pesquisa Industrial Mensal (Produção Física) do IBGE produz indicadores de


curto prazo relativos ao comportamento do produto real das indústrias extrativa e de
transformação, tendo como unidade de coleta as empresas que possuem unidades
locais registradas no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica - CNPJ, e reconhecidas
como industriais pelo Cadastro Central de Empresas do IBGE.
As variações na produção física industrial por categorias de uso no ano de 2008
(tabela 6) é uma nítida fotografia do impacto da crise internacional do Subprime no
setor industrial brasileiro. Observa-se que nos dados deste ano em particular, para todas
as categorias de uso, a queda na produção física foi significativa.
Os bens de consumo duráveis são artigos de consumo de vida útil longa, como
automóveis, televisões, mobiliário e os principais eletrodomésticos. Já os bens de
consumo não duráveis são representados pelos artigos de vida útil mais curta, como
alimentação, vestuário e combustíveis (gasolina e álcool hidratado). Os bens de capital
e os bens intermediários são utilizados para a produção de outros bens. A diferença
entre eles é que os bens de capital não são inteiramente consumidos no processo
produtivo, como é o caso dos bens intermediários. Um lingote de aço (bem
intermediário) que será manufaturado em um torno mecânico (bem de capital) para
tornar-se um parafuso, por exemplo, será totalmente consumido ao final do processo. Já
o torno mecânico poderá ser utilizado em inúmeros processos até a sua depreciação
total. Grosso modo, pode-se dizer que os bens intermediários são as matérias-primas, e
os bens de capital são as máquinas utilizadas na produção de bens intermediários e
bens finais. A expansão da produção de bens de capital e intermediários é
condicionada ao crescimento do consumo. Assim, qualquer queda ou simples
nivelamento na procura por bens de consumo (duráveis, semi-duráveis e não duráveis)
implica em significativa queda na produção de bens de capital e bens intermediários.
Historicamente se observa que as indústrias que produzem bens duráveis são
mais afetadas pelas crises econômicas em comparação com as que se dedicam aos
bens semi-duráveis e não duráveis. Este fato é comprovado na crise de 2008, quando a
maior queda acumulada no ano foi para os bens duráveis (-46,9%)7, enquanto que a
menor redução (-5.5%) foi para os bens semi-duráveis e não duráveis.

Tabela 7 – Produção Física Industrial - Brasil 2008

Mês
Categorias de j an/08 fev /08 mar/08 abr/08 mai/08 j un/08 j ul/08 ago/08 set/08
uso

Bens de 173,83 179,44 183.64 187,33 175,42 190.78 192.15 191.75 195.17
capital
Bens 223,74 123,52 122,72 121,62 121,86 124,7 126,02 222,72 222,09
intermediários
Bens de 123,91 121,75 123,78 123,1 122.8 125,21 124,78 124,17 127,79
consumo
Bens de 17445 176.92 179,59 176,72 172,47 185,72 273,74 27542 177,92
consumo
duráv eis
Semi- 113,63 120,21 122,38 111,04 111,94 114,47 113,97 112,99 115,74
duráv eis e
não duráv eis
Fonte: IBGE – Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física.
Nota: Índice de base fixa mensal com ajuste sazonal (Base: média de 2002=100).

O ajuste realizado pela indústria de bens de capital e bens intermediários,


devido à crise, foi feito em grande parte nos meses de novembro e dezembro. A forte
restrição de liquidez (crédito) gerou uma queda abrupta do consumo de bens duráveis,
principalmente automóveis, fato que reverteu as expectativas dos empresários quanto à
trajetória da demanda futura, e fez com que a maioria dos planos de aumento de
capacidade produtiva (compra de novas máquinas) fosse cancelada ou, pelo menos,
adiada. Ou seja, como grande parte dos automóveis é vendida por meio de
financiamentos, e o principal canal de contágio da crise no Brasil foi via crédito, a
quedas nas vendas de bens duráveis, entre eles os automóveis, impactaram fortemente
as expectativas empresariais quanto aos níveis do consumo futuro, fazendo com que os
mesmos desistissem de apostar no crescimento da demanda que vinha ocorrendo até o
fim do segundo trimestre de 2008. O box a seguir retrata a realidade vivida pela
indústria brasileira, principalmente a automotiva, ao final do quarto trimestre de 2008.

Velocidade reduzida

A crise financeira atinge todos os elos da cadeia produtiva do setor de


automóveis, um dos mais pujantes da economia brasileira

Nos últimos cinco anos, o setor automotivo foi um dos símbolos do


crescimento da economia brasileira. Entre 2003 e 2008, venderam-se mais carros
no Brasil do que em toda a década de 90. Mas esse setor pujante, que representa
6,5% do PIB e emprega 1,5 milhão de pessoas, agora treme sob o impacto da crise
financeira global. Em dois meses, as montadoras no Brasil viram o faturamento cair
15%, tiveram de dar férias a 45 000 funcionários e acumulam 80 000 veículos em
seus pátios e concessionárias. Elas cancelaram a produção de 400 000 carros, até
recentemente encomendados para o Natal. As montadoras, contudo, são apenas
um dos elos numa ampla cadeia produtiva. Para cada emprego criado em uma
delas, treze vagas são abertas em outras empresas. São ao todo quarenta tipos de
negócio, agrupados em seis grandes núcleos. As histórias que aparecem nestas
páginas são contadas por pessoas ligadas a cada uma das principais etapas da
produção – da fundição de aço e zinco para confeccionar peças para o motor às
montadoras, concessionárias e financeiras. Todos sentem o impacto da crise, em
maior ou menor grau. "De uma hora para outra, o segmento que ajudou a alavancar
o PIB brasileiro por tanto tempo viu-se pedindo ajuda", resume o especialista
Marcelo Cioffi.
A crise do setor automotivo brasileiro acontece em paralelo à derrocada das
três maiores montadoras dos Estados Unidos. A Ford, a General Motors e a
Chrysler registraram nos últimos meses queda de 30% nas vendas, demitiram 5 000
funcionários e suplicam ao governo um empréstimo de 34 bilhões de dólares para
evitar a falência, pedido que tramita no Congresso americano. Também no Brasil, o
governo federal e o do estado de São Paulo liberaram 8 bilhões de reais para
manter aquecido o mercado de automóveis. Mas é preciso diferenciar o que
acontece nos dois países. No mercado americano, a crise não é de hoje. O carro é
um bem de consumo universalizado nos Estados Unidos: há um automóvel nas ruas
para cada dois americanos. A demanda que surgiu nos últimos tempos foi por
modelos mais econômicos, mas as empresas locais não souberam explorar essa
oportunidade. Perderam espaço para as concorrentes coreanas e japonesas, que,
além de ser mais ágeis, produzem carros com custos até 40% menores. Em 2007, a
Toyota apresentou um lucro de 12% nos Estados Unidos, enquanto a GM teve
prejuízo de 2%. O Brasil vive um momento diverso. Aqui, apenas uma em cada oito
pessoas tem carro. Mesmo com a crise que se avolumou no último trimestre, o setor
automotivo deve registrar um crescimento de 8% neste ano. Isso ainda é
crescimento de encher os olhos, ainda que fique distante da média de 20% dos
anos recentes. No Brasil, a Ford e a GM são empresas rentáveis, que enviam
lucros à matriz. O setor automobilístico nacional não vive uma crise de identidade,
como acontece nos Estados Unidos, mas sofre com a contração do crédito, que foi
efeito imediato do desarranjo nas finanças mundiais. Os 8 bilhões de reais saídos
dos cofres públicos têm como finalidade irrigar o sistema de financiamento para a
compra de veículos.
No Brasil, cerca de 70% dos carros são vendidos por meio de financiamento.
Desde que a crise começou, bancos e financeiras ligados às concessionárias
ficaram mais cautelosos na concessão de crédito. Se antes não pediam
comprovação de renda para abrir um financiamento, hoje exigem que a prestação
não comprometa mais do que um quarto do salário mensal. "Estamos fugindo das
lojas situadas em bairros e cidades mais pobres", diz Sérgio Cipovicci, diretor do
setor responsável pelo financiamento de carros no banco HSBC. O resultado da
escolha dos clientes a dedo é que as vendas despencaram, principalmente as de
veículos populares. As linhas 1.0 caíram 20% e, pela primeira vez em treze anos,
representaram menos da metade de carros vendidos em outubro. "A dificuldade de
obter financiamento espanta primeiro a classe que mais depende dele para
comprar – e também a que mais produz vendas", afirma Letícia Costa, vice-
presidente da Booz & Company.
O freio brusco na concessão de crédito teve um efeito direto sobre as
montadoras e as concessionárias, que lidam com o consumidor final. Mas outras
empresas ligadas ao mercado automotivo não escaparam ilesas. Algumas tiveram
seus pedidos cancelados de uma hora para outra. "Trabalhávamos no ritmo máximo
de produção e agora estamos a passo de tartaruga", explica Devanir Brichesi,
dono de uma empresa de fundição de metais. Em outros casos, foi preciso alterar o
foco dos negócios. Hoje, metade da produção da Bridgestone Firestone, uma das
maiores fornecedoras de pneus do país, se destina diretamente aos clientes que
vão trocar o pneu do carro usado. "Antes, eles quase não faziam diferença no
nosso faturamento", diz um dos diretores da empresa. Especialistas acreditam que
as vendas poderão acelerar novamente caso as linhas de crédito sejam
desobstruídas. Por isso, empresas bem preparadas para enfrentar um período de
instabilidade não abandonaram a aposta no mercado brasileiro. A Magneti Marelli,
uma das maiores fabricantes de autopeças do mundo, acredita que o Brasil é o
país com o maior potencial, dos dezesseis onde atua. "Não vamos interromper
nossos planos de expandir os negócios por aqui", afirma o italiano Virgilio Cerutti,
presidente da empresa no país.

Fonte: Revista Veja, Edição 2090


10 de dezembro de 2008 Marcos Todeschini

Utilização da capacidade instalada

A forte queda ocorrida na produção, em virtude da crise, provocou um alto grau


de ociosidade na indústria brasileira. Um dos importantes indicadores do grau de
ociosidade das indústrias brasileiras é o Nível de Utilização da Capacidade Instalada
(NUCI) produzido pela FGV. Os indicadores de capacidade instalada são seguidamente
utilizados como proxy para o cálculo do PIB potencial 8, e para revelar a possibilidade e
capacidade de resposta das firmas às condições de mercado. Ele é mensurado em
percentuais e busca representar o nível de utilização média da capacidade instalada
das indústrias brasileiras.
A título de exercício didático, é apresentado abaixo o gráfico com as curvas da
capacidade instalada da indústria geral brasileira e também da indústria de produtos
farmacêuticos e veterinários. Novamente é possível observar a diferença no
comportamento da evolução dos dados para duas variáveis de um mesmo setor da
economia.

Figura 30 – Utilização da Capacidade Instalada - Ind. Geral e Ind. de Produtos Farmacêuticos e Veterinários (%).
Fonte: FGV. Elaboração: Sérgio Leusin Jr.

Observa-se que a indústria de produtos farmacêuticos e veterinários pouco foi


influenciada pela crise internacional se comparada ao restante das indústrias. Isso se dá
devido ao fato de que os bens produzidos pela indústria farmacêutica e veterinária
provavelmente são pouco sensíveis (inelásticos) a variações na renda, preços e
expectativas. Não é difícil acreditar nesta hipótese, visto que é improvável que um
indivíduo reduza ou deixe de consumir os remédios de que necessite em função de
uma crise. Provavelmente, o consumidor irá restringir ou adiar o consumo de bens
duráveis que normalmente são mais sensíveis a variações na renda, preços e
expectativas.

4.4 Os dados da demanda

Crédito disponível na economia brasileira

Em dezembro de 2009, o volume total de operações de crédito do Sistema


Financeiro Nacional alcançou a marca história de 45% do PIB, superando, desta forma,
o patamar de concessão de crédito anterior ao aprofundamento da crise financeira
internacional em setembro de 2008. Analisando a política monetária dos últimos anos,
pode-se supor que a condução da política creditícia do Banco Central tem sido
orientada em sentido expansionista, visto que a distensão de mecanismos visando à
redução dos custos de intermediação financeira e a ampliação da oferta de crédito
favorecem para esse objetivo, assim como o decréscimo nos recolhimentos
compulsórios, além da diminuição da alíquota do IOF para pessoas físicas.
O crédito é um importante canal de transmissão da política monetária e foi
determinante para a retomada do crescimento econômico brasileiro no período
recente. Na figura abaixo, verifica-se a existência de três ondas que retratam a
significativa volatilidade que o crédito apresentou no Brasil desde 1990. A primeira
onda, compreendida entre 1990 e 1994, caracteriza-se por possuir movimentos de
contração e expansão do crédito. Esta dinâmica é decorrente dos planos de
estabilização frustrados que foram baseados em congelamentos de preços que,
somente por curtos períodos, controlavam a inflação. Este ambiente de incerteza criado
pela instabilidade dos preços repercute, invariavelmente, na redução da oferta e
demanda por crédito. Na segunda onda (1995 a 2002), nos anos que se seguiram à
estabilização da inflação (Plano Real), o crescimento do crédito foi interrompido
devido aos efeitos de recorrentes choques externos, como a crise do México (1995), da
Ásia (1997), da Rússia (1998), além da repetição dos episódios ocorridos nestes países
emergentes, desta vez no Brasil em 1999. A partir de 2003, teve início a terceira onda
da evolução do crédito no Brasil, que é caracterizada pelo mais longo ciclo
expansionista da história recente do país. O longo período de estabilidade e liquidez
internacional observado no período pós 2002 e as reformas no Sistema Financeiro
Nacional foram determinantes para o presente ciclo de expansão.

Figura 31 – Operações de crédito do sistema financeiro em relação ao PIB (Em %).


Fonte: BCB-DEPEC. Elaboração: Sérgio Leusin Jr.
Segue abaixo um box na qual o Banco Central apresenta a evolução recente do
nível de crédito disponível na economia brasileira. A análise deste indicador é de
fundamental importância, pois o consumo de diversos bens duráveis, como automóveis,
geladeiras e televisores é altamente correlacionado com o nível de crédito disponível
na economia.

II - Operações de crédito do sistema financeiro

As operações de crédito do sistema financeiro totalizaram R$1.410 bilhões


em dezembro, registrando crescimentos de 1,6% no mês e de 14,9% em doze
meses. Com esse resultado, o estoque total de empréstimos passou a representar
45% do PIB, ante 45,1% em novembro e 39,7% em dezembro de 2008. O
desempenho no ano configura significativa recuperação do mercado de crédito,
após a contração verificada no final de 2008 e início de 2009. A retomada das
contratações ocorreu primeiramente no crédito a pessoas físicas, que ao final do
ano se apresenta em condições semelhantes às observadas em 2007 e 2008, tanto
com respeito aos volumes negociados, quanto em relação às taxas de juros e de
inadimplência. As operações destinadas às empresas seguem em recuperação
gradual, registrando trajetórias favoráveis de redução de juros e de inadimplência,
requisitos fundamentais para o restabelecimento do seu ritmo de expansão.
A evolução dos empréstimos, em dezembro, foi sustentada pelo desempenho
das carteiras com recursos direcionados, impulsionadas pelo crescimento dos
financiamentos do BNDES e pela manutenção da trajetória expansionista do
crédito habitacional. O crédito a pessoas físicas apresentou desaceleração,
associada à disponibilidade adicional de recursos provenientes do décimo terceiro
salário, favorável à quitação de dívidas de curto prazo. No segmento de pessoas
jurídicas, a recuperação manteve-se em passo moderado, com continuidade da
retração nas operações referenciadas em moeda estrangeira.
O saldo de empréstimos e financiamentos com recursos livres,
correspondente a 67,6% do total de crédito do sistema financeiro, atingiu R$953,1
bilhões em dezembro, resultado de elevações de 0,8% no mês e de 9,4% no ano.
O desempenho mensal foi condicionado pelo aumento de 1,2% nos empréstimos
destinados a pessoas físicas, cujo saldo totalizou R$470,7 bilhões. As carteiras de
crédito das pessoas jurídicas cresceram 0,5% no mês, ao somar R$482,4 bilhões,
evolução condizente com o comportamento observado nos financiamentos
referenciados em recursos domésticos, que registraram alta de 1,1% no
período.

Fonte: BCB – (Nota para a imprensa 21/01/2010 - Política Monetária e


Operações de Crédito do Sistema Financeiro)

Devido ao incremento do volume de crédito disponível na economia brasileira


ao longo dos anos, é de se esperar que o número de consultas aos cadastros de
proteção ao crédito tenha seguido a mesma tendência. Ou seja, na medida em que o
acesso ao crédito é ampliado e facilitado, os comerciantes acabam utilizando um
número maior de vezes os instrumentos necessários para a concessão de crédito, como
as consultas aos cadastros especializados9 do SPC e Usecheque.
Sempre que possível, a obtenção das observações deve ser planejada
previamente. Para muitos casos, o número de observações e o intervalo de amostragem
são determinados segundo os objetivos do investigador. Caso o objetivo do pesquisador
seja comprovar a hipótese do parágrafo acima, o qual diz que o incremento do volume
de crédito na economia é um dos fatores que gerou a elevação do número de consultas
aos cadastros de proteção ao crédito, basta observar nas figuras 29 e 30 que esta
hipótese será aceita. Contudo, caso o objetivo seja identificar se realmente ocorreu a
noticiada hipótese de que o mercado brasileiro estava receoso quanto à possibilidade
de ocorrer uma onda de calote após a eclosão da crise do Subprime, é possível que
este fato não seja facilmente verificado através dos dados de consultas aos cadastros
especializados.

Figura 32 – Número de consultas ao SPC e Usecheque (dez/91-dez/09).


Fonte: BCB. Elaboração: Sérgio Leusin Jr.

Analisando a figura acima, observa-se que as variáveis (consultas ao SPC e


Usecheque) parecem oscilar com um elevado grau de correlação em todo o período
(dez/91-dez/09). Também é possível supor que os dados oscilam entre um mínimo, que
ocorre geralmente em janeiro ou fevereiro, e um máximo, que ocorre em dezembro.
Assim, pode-se afirmar que ocorre uma variação sazonal, cujo período aproximado é de
doze meses, fato que torna complexo observar movimentos fora de um padrão nesta
série de dados. Através do devido tratamento estatístico ou econométrico destes
indicadores, é provável que se possa demonstrar a existência de um movimento
preventivo por parte dos comerciantes, temerosos de uma possível onda de
inadimplência no período posterior à eclosão da crise do Subprime.

Pesquisa Mensal do comércio (PMC)


O indicador de demanda representado pela Pesquisa Mensal de Comércio (PMC)
do IBGE permite acompanhar o comportamento conjuntural do comércio varejista no
Brasil. A PMC investiga a receita bruta de revenda nas empresas formalmente
constituídas, com 20 ou mais pessoas ocupadas, e cuja atividade principal é o comércio
varejista.
No gráfico abaixo, é apresentada a evolução da variação acumulada em 12
meses10 no período compreendido entre novembro de 2002 e novembro de 2009 para
o Brasil e Rio Grande do Sul. Observa-se que em 2005 o comércio varejista gaúcho
apresenta um descolamento da trajetória do restante do país. Este fato se deve à maior
estiagem dos últimos 40 anos ocorrida no Rio Grande do Sul em 2005, que fez com
que a produção de soja, uma das principais culturas temporárias do estado, caísse de
5.541.714 toneladas em 2004 para 2.444.540 toneladas em 2005. Neste ano, o PIB
gaúcho caiu 2,8%, revelando seu alto grau de dependência do setor agropecuário na
estrutura produtiva da economia sulina.

Figura 33 – Volume de vendas no comércio varejista – nov/02-nov/09 (Var. % acumulada em 12 meses).


Fonte: IBGE. Elaboração: Sérgio Leusin Jr.

Os dados do gráfico acima sugerem que o varejo brasileiro foi impactado pelo
cenário internacional turbulento já em outubro de 2008. O volume de vendas
acumulado ano de 2008 (9,13% BR e 6,44% RS) apresentou um resultado semelhante
ao observado em 2007 (9,68% BR e 7,0% RS), ano considerado ótimo para o varejo
brasileiro. Já o resultado para o ano de 2009, acumulado em 12 meses até novembro 11
(5,29% BR e 1,63%), retrata bem a perda de fôlego da capacidade de consumo da
população brasileira e gaúcha durante os meses subsequentes à crise desencadeada
em setembro de 2008.
A série de gráficos apresentados abaixo busca explicitar novamente a diferença
de comportamentos entre variáveis de um mesmo setor da economia, assim como
ocorreu nos dados da produção industrial, no qual se observou uma significativa
diferença no comportamento dos dados da indústria de bens de consumo duráveis dos
bens de consumo não duráveis e semiduráveis.
Figura 34 – Volume de vendas no comércio varejista por tipo de atividade – Jan/08-Nov/09 (Var. % acumulada em 12 meses).
Fonte: IBGE. Elaboração: Sérgio Leusin Jr.

Na sequência de gráficos acima, algumas informações devem ser destacadas,


pois não é em qualquer variável econômica que a influência de crises é facilmente
perceptível. Analisando somente a evolução do volume de vendas do segmento
varejista de livros, jornais, revistas e papelaria, assim como do segmento de artigos
farmacêuticos, médicos, ortopédicos, perfumaria e cosméticos, é possível sugerir que
não houve crise para o setor varejista brasileiro. Outra informação possível de se
observar na sequência de gráficos é a evidente correlação existente entre o consumo
de dois bens complementares (veículos e combustíveis), visto que a persistente queda
do consumo de veículos e motocicletas gerou, com certa defasagem, uma
desaceleração nas vendas de combustíveis e lubrificantes.
Ao realizar análises sobre o consumo, é importante se ter noção de conceitos
econômicos básicos para a real compreensão da realidade econômica. A elasticidade é
um bom exemplo, pois certos produtos ou setores são inelásticos, ou seja, mesmo
ocorrendo variações na renda do consumidor, ou ainda, nos preços de bens
complementares ou substitutos, seu consumo (no caso do produto) ou produção (no
caso do setor) permanecem estáveis. Abaixo segue um box que usa o conceito de
elasticidade para auxiliar a análise econômica e criação de cenários futuros:

-RETROSPECTIVA: APÓS INÍCIO NEBULOSO, 2009 FECHA PROMISSOR AO


ALGODÃO

SAFRAS (23) - O mercado brasileiro de algodão iniciou 2009 com uma


perspectiva pessimista, que se estendeu até meados de setembro. Apesar das
temporadas anteriores não terem sido de preços firmes, a tendência parece ter sido
alterada. A reversão do quadro negativo internacional, bem como a desvalorização
do dólar frente a outras moedas internacionais, trouxe de volta uma perspectiva
positiva à fibra para a safra 2009/10.
Diferente de produtos que variam pouco com a situação econômica da
população - como o feijão e o arroz -, a fibra reage fortemente a mudanças das
condições (variáveis) fundamentais do mercado. Vestuário e tecidos são bens que,
em momentos de crise, tendem a ficar em segundo plano na cesta do consumidor.
A queda da demanda por parte da indústria em tempos de turbulência é
natural, devido ao comportamento racional do consumidor em relação a estes bens.
Com o retorno do cenário financeiro estável e a volta do crescimento das
economias mundiais, a procura volta a andar nos eixos, sendo previstos retrações
dos estoques mundiais. Tal perspectiva já foi sentida na China que, em função da
demanda interna aquecida, manteve condições especiais para a importação, a fim
de garantir o suprimento interno da fibra.
Com a crise financeira internacional deflagrada em meados de 2008, as
linhas de crédito encolheram e a demanda da indústria se retraiu, determinando a
queda de área do algodão em boa parte dos principais produtores mundiais. No
Brasil não foi diferente. Em 2008/09, a queda da área atingiu 20%. Para esta
temporada, a tendência menos pessimista aponta para uma estabilidade da área.
O Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE) espera mais uma
temporada de recuo, estimado em 7%. A fraqueza da pluma da temporada passada
até mesmo sentenciou o desaparecimento do plantio em algumas áreas, como no
Paraná. Contudo, passada a tempestade trazida pela crise, os tempos são de
bonança e as receitas com a fibra começam a se aproximar dos custos.
A produtividade esperada para a temporada 2009/10 tende a ser superior a
2008/09, pois projeta-se um clima mais favorável. Na temporada passada, muitos
dos principais estados produtores sofreram com o excesso de umidade, que
comprometeu boa parte dos baixeiros das plantas. O setor, que apostou pouco em
adensado em 2008/09, aponta para um 2009/10 com alargamento deste tipo de
algodão, a fim de reduzir custos com insumos. Embora não seja a panacéia, este
tipo de cultivo pode ser encarado como um nicho de mercado, com um pouco mais
de sujeira, porém com bom HVI.
A combinação de forte revés da demanda, a quarta redução consecutiva da
produção mundial e a desvalorização do dólar já estão fornecendo fundamentos
altistas para o primeiro semestre de 2010. Este resultado está refletido no bom
desempenho dos contratos futuros de Nova York.
Essa maior procura também foi verificada no mercado brasileiro, impactando
fortemente nos preços. Embora acredita-se que a oferta interna seja suficiente,
muitos compradores voltaram com mais força ao mercado entre outubro e dezembro,
para garantir estoques e continuar a produção no período de entressafra.
O consumo de algodão, bastante afetado no curto prazo com a crise, agora
será beneficiado pela característica de ser uma das commodities que tem a
recuperação mais rápida quando a economia mostra sinais de estabilização e
reaquecimento.
Assim, após temporadas duras ao produtor, 2009/10 promete preços médios
mais convidativos. Além disso, mais um ano de recuo das exportações norte-
americanas pode propiciar que o algodão brasileiro se aproveite desta brecha no
market share mundial.

Fonte: Retrospectiva do Algodão - Agência Safras


Rafael Pentiado Poerschke (Analista de Mercado)
Rodrigo Ramos (Jornalista)

4.5 Indicadores do mercado de trabalho

Abaixo é apresentada a evolução da taxa de desemprego do Brasil, representada


pelas seis maiores regiões metropolitanas do país. Esta taxa é a relação entre o
número de pessoas desocupadas (procurando trabalho) e o número de pessoas
economicamente ativas. A População Economicamente Ativa (PEA) compreende o
potencial de mão-de-obra com que pode contar o setor produtivo, isto é, a soma da
população ocupada e da população desocupada. Ou seja, quando se fala que a taxa
de desemprego está em 10%, por exemplo, significa dizer que um décimo da PEA está
desocupada.
A PEA de dezembro de 2009 para as regiões metropolitanas de Recife, Salvador,
Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre estava constituída por um
universo de 23,4 milhões de brasileiros e indicava para este mês uma taxa de
desemprego de 6,8%, significando que aproximadamente 1,5 milhão de pessoas destas
regiões metropolitanas estavam em condições de trabalhar, estavam procurando
emprego, mas não tiveram sucesso.
Figura 35 – Taxa de desemprego - Brasil – Nov/02-Nov/09 (Em %).
Fonte: IBGE. Elaboração: Sergio Leusin Jr.

A crise financeira internacional parece não ter afetado o mercado de trabalho no


Brasil em 2009 e 2008. A taxa de desemprego caiu de 7,45% em 2007 para 6,79% em
2008. Já em 2009, a taxa permaneceu praticamente igual (6,8%) à de 2008, apesar de
uma elevação da PEA, ou seja, o número de ocupados cresceu acima do número de
pessoas que passaram a fazer parte do mercado de trabalho. É importante salientar que
a taxa apresentada em 2008 e 2009 foi a menor desde 2002, quando o instituto
começou a utilizar novos parâmetros de medição.

4.6 Indicadores de inflação

A inflação é o processo de alta generalizada e contínua no nível geral de preços


dos bens e serviços negociados em um país e que se traduz na gradativa redução do
poder de compra da moeda nacional. Normalmente, a inflação ocorre em função de
desequilíbrios no mercado de certos bens, refletindo um excesso de demanda em
relação à oferta, dados os preços correntes estabelecidos, ou ainda, devido a choques
externos. O cálculo da inflação é efetuado com base em índices de preços que
quantificam o preço médio de um conjunto de bens e serviços comprados pelos
consumidores. No Brasil os principais indicadores de inflação são o IGP-M e IGP-DI,
calculados pela FGV e o INPC, e o IPCA, calculado pelo IBGE.
A diferença entre os índices está nos produtos que são incluídos na pesquisa, no
público que é afetado pela variação dos seus preços, e no período de medição dos
valores. O IGP-M registra a inflação de preços variados, desde matérias-primas agrícolas
e industriais até bens e serviços finais. Ele é muito usado para reajustar preços de
aluguéis e de tarifas públicas como a energia elétrica. A diferença entre o IGP-M e o
IGP-DI está no período de coleta, enquanto o primeiro é medido do dia 21 de um mês
ao dia 20 do mês seguinte, o segundo é mensurado entre os dias 1° e 30 do mês de
referência.
A população-objetivo do INPC abrange as famílias com rendimentos mensais
compreendidos entre 1 e 6 salários mínimos, cujo chefe é assalariado em sua ocupação
principal e residente nas áreas urbanas das 11 regiões metropolitanas pesquisadas
(Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo,
Curitiba, Porto Alegre, Brasília e Goiânia). O IPCA serve de referência às famílias com
rendimentos mensais compreendidos entre 1 e 40 salários mínimos, para qualquer
fonte de rendimento, e residentes nas áreas urbanas das regiões metropolitanas
utilizadas pelo INPC. O IPCA é utilizado pelo Banco Central do Brasil para o
acompanhamento dos objetivos estabelecidos no sistema de metas de inflação. A meta
de inflação está fixada em 4,5%.
Abaixo, é apresentada a evolução de indicadores de inflação desde o primeiro
ano após o Plano Real até 2009. Antes do Plano Real, o salário do trabalhador
chegava ao final do mês com seu poder de compra significativamente comprometido,
pois os preços dos bens e serviços haviam crescido absurdamente. Até então, um dos
remédios muito utilizados para combater a inflação era a indexação. Contudo, a
utilização deste instrumento acabou por tornar-se um elemento realimentador da
inflação, pois a inclusão de mecanismos de reposição automática na formação de
preços e salários tornava todo o processo um inútil caminhar em círculos devido à
antecipação desta dinâmica pelos agentes econômicos.

Tabela 8 – Indicadores de Inflação – (Variação percentual acumulada em 12 me

Período 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
INPC 21,98 9,12 4,34 2,49 8,43 5,27 9,44 14,74 10,38 6,13 5,05
IPCA 22,41 9,56 5,22 1,65 5,94 5,97 7,67 12,53 9,30 7,60 5,69
IGP-DI 14,77 9,34 7,48 1,70 18,98 9,81 10,40 26,41 7,67 12,14 1,22
IGP-M 15,24 9,20 7,74 178 20,10 9,95 10,38 25,31 8,21 12,41 1,21
Fonte: IBGE e FGV.

Em 1995, ainda se observa a inflação em patamares elevados, mas com uma


tendência de queda que se observou até 1998. O ano de 1999 foi um período de
transição para a economia brasileira. Em janeiro, chegava ao ápice a grave crise
cambial iniciada após a eclosão da crise russa, ocasionando no Brasil a desvalorização
do real e o abandono do regime de câmbio administrado. Devido a este
acontecimento, em junho de 1999, o Banco Central instituiu o regime de política
monetária de metas para a inflação. Este sistema trouxe mais racionalidade e
transparência à condução da política monetária, estimulando o debate sobre temas
relacionados às causas da inflação, assim como evidenciando os benefícios gerados
pela adoção de uma postura preventiva por parte da autoridade monetária.
Pelo sistema de metas de inflação, que tem como referência o IPCA, o Banco
Central tem por objetivo fazer com que a inflação fique a mais próxima possível do
centro da meta. Em 2008 e 2009, a meta central de inflação foi de 4,5%, com intervalo
de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Deste modo, o IPCA
pode oscilar entre 2,50% e 6,50% sem que a meta seja formalmente descumprida. Em
2008, o IPCA acumulado foi de 5,9%, percentual que, embora esteja dentro do
intervalo, ainda está acima da meta central de 4,5%. Nos últimos 7 anos, o IPCA
apresentou dois movimentos diferentes. Entre 2002 e 2006, se observa uma redução
sistemática do índice, passando de 12,53% no acumulado do ano em 2002 para 3,14%
em 2006. Ocorre a reversão desta tendência de queda do índice com a elevação
observada em 2007 (4,46%) e em 2008 (5,90%). No ano de 2007 e até meados de
2008, se observava um forte impacto dos preços dos alimentos e do petróleo sobre a
inflação brasileira. A partir da eclosão da crise, as perspectivas de crescimento mundial
se reduziram, fazendo com que o descompasso entre oferta e demanda mundiais de
alimentos e petróleo, principalmente no mercado futuro, se reduzisse. Este movimento
de reversão de expectativas, ao lado da forte desaceleração econômica global,
reduziram a pressão destes itens sobre a inflação, fato que pode ser evidenciado pela
desaceleração sistemática de todos os índices em 2009.

4.7 Indicação de Sites

Site Oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: www.ibge.gov.br


Site Oficial do Banco Central do Brasil: www.bcb.gov.br
Site Oficial do Ministério da Fazenda (Brasil): www.fazenda.gov.br

4.8 Conceitos Importantes

Termos Básicos
Bens de consumo duráveis Recolhimentos compulsórios
Bens de consumo não duráveis Política Monetária
Bens de capital Política Fiscal
Bens intermediários Sazonalidade
Bens Complementares

REFERÊNCIAS

FGV. Fundação Getúlio Vargas. Instituto Brasileiro de Economia. Disponível em:


<http://www.fgv.br/>. Acesso em: 29 dez. 2009.

Retrospectiva: após inicio nebuloso, 2009 fecha promissor ao algodão. Disponível em:
<http://www.safras.com.br>. Acesso em: 29 dez. 2009.

Operações de credito do Sistema Financeiro. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/>.


Acesso em: 29 jan. 2010.
Velocidade Reduzida. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/101208/p_158.shtml>.
Acesso em: 29 dez. 2009.

__________
6 O Relatório de Inflação é uma publicação trimestral do Banco Central do Brasil, que tem como objetivo avaliar o
desempenho do regime de metas para a inflação e delinear um cenário prospectivo sobre o comportamento dos preços,
explicitando as condições das economias nacional e internacional que orientaram as decisões do Comitê de Política
Monetária (Copom) com relação à condução da política monetária.
7 Para se obter as variações percentuais acumuladas com índices de base fixa deve-se:=(t/t-1)-1)*100.
8 PIB Potencial é a quantidade máxima de bens e serviços finais que uma economia é capaz de produzir considerando que
todos os seus fatores produtivos estão sendo utilizados à plena capacidade. Ele não indica o limite de crescimento de uma
economia, mas a sua capacidade de crescer sem gerar pressão inflacionária no longo prazo.
9 Muitas vezes chamados de Cadastros Negativos, eles mostram o perfil do consumidor e a presença de dívidas não pagas
em seu nome. São utilizados para proteger os comerciantes dos maus pagadores.
10 A utilização do volume acumulado em 12 meses é particularmente interessante, pois permite analisar uma importante
proxy da demanda agregada entre períodos diferentes sem preocupar-se com deflacionamentos necessários em função da
evolução dos preços.
11 Última informação disponível (01/02/2009).
SOBRE OS AUTORES

ANDRÉ FILIPE ZAGO DE AZEVEDO


Doutor em Economia pela University of Sussex (Reino Unido). Mestre em Economia
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bacharel em Ciências
Econômicas pela UFRGS. Professor do Programa de Pós-Graduação em Economia da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).

ANGÉLICA MASSUQUETTI
Doutora em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Mestre em Economia Rural pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bacharel em Ciências Econômicas pela
UFRGS. Professora do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade do
Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).

GISELE SPRICIGO (org.)


Doutora em Economia do Desenvolvimento (UFRGS). Mestre em Desenvolvimento
Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bacharel em Ciências
Econômicas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).

MÁRCIO ELOIR SCHWEIG


Mestre em Economia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Bacharel em
Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professor e
Coordenador do Curso de Comércio Exterior da UNISINOS.

RAQUEL NEGRISOLI FERNANDEZ CABRAL (org.)


Mestre em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo (USP). Bacharel em
Ciências Econômicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professora tutora da
Escola de Negócios da educação à distância da Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(UNISINOS).

SÉRGIO LEUSIN JÚNIOR


Mestre em Economia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).
Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Professor e Coordenador do Curso de Ciências Econômicas da UNISINOS.

TIAGO WICKSTROM ALVES


Doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Mestre em Economia Rural pela UFRGS. Bacharel em Ciências Econômicas pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professor do Programa de Pós-
Graduação em Economia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS

Reitor: Pe. Marcelo Fernandes de Aquino, SJ


Vice-reitor: Pe. José Ivo Follmann, SJ
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P957 Economia introdutória: Princípios de economia e de análise de conjuntura


[recurso eletrônico] / Gisele Spricigo, Raquel Negrisoli Fernandez Cabral
(orgs.). – 2. ed. – São Leopoldo : Ed. UNISINOS, 2016.
1 recurso online – (EaD)

ISBN 978-85-7431-747-2

1. Economia. 2. Microeconomia. 3. Macroeconomia. I. Spricigo, Gisele.


II. Cabral, Raquel Negrisoli Fernandez. III. Série.

CDD 330
CDU 330
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Bibliotecária: Carla Maria Goulart de Moraes – CRB 10/1252)

Coleção EAD
Editor: Carlos Alberto Gianotti
Acompanhamento editorial: Jaqueline Fagundes Freitas
Revisão: Wilson Chagas Junior
Editoração: Guilherme Hockmüller

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livro, para uso não individual, mesmo para fins didáticos, sem autorização escrita do
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