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FERREIRA, Emerson Benedito; LOPES, Mário Marcos Lopes.

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RESENHA:
SANTOS NETO, José Leite dos (Org.). Um horizonte chamado Educação: Perspectivas e
caminhos. São Carlos: Pedro & João Editores, 2013.

Educação em pesquisas: diversos campos, um só saber

Emerson Benedito Ferreira1; Mário Marcos Lopes2

“Um horizonte chamado educação: perspectivas e caminhos”, organizado por José


Leite dos Santos Neto, é uma coletânea de artigos que versam sobre diversas temáticas, tendo
como eixo comum a educação, sem qualquer preocupação em ter definido um recorte
ideológico e estarem alinhados a determinados pressupostos teórico-metodológicos.
No capítulo 1 - Pedagogia Histórico‐Crítica e Educação do Campo: uma introdução
para uma possível aproximação,os autores José Leite dos Santos Neto e Ana Flavia Flores
discorrem sobre duas temáticas que atualmente tem se destacado no campo da educação: a
Pedagogia Histórico‐Crítica e a Educação do Campo. Os pesquisadores, procuram por meio
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da caracterização de cada uma delas, buscar uma aproximação que permita pensar na
aplicação desta pedagogia ao projeto pedagógico da escola do campo.
Por sua vez no capítulo 2 - A pedagogia histórico-crítica; a TV digital interativa e
aspossibilidades de aplicação na educação no campo, as autoras Carolina Moraes Gimenes e
Fabiana Gimenes apresentam alguns apontamentos sobre a pedagogia histórico‐crítica e a
aproxima das opções oferecidas pela TV digital interativa. As autoras indagam sobre uma
importante questão: Como atender a demanda da educação? Segundo a pesquisa apresentada,
sem medidas educacionais abrangentes – e nesse sentido não há como negar a abrangência da
televisão – a “sociedade da informação” não será transformada numa “sociedade do
conhecimento”, mais igualitária e participativa.
No capítulo 3 - O eu estilhaçado no espelho blindado? as redes sociais e o link com a
educação,a autora Ana Helena Ribeiro Garcia de Paiva Lopes aborda sobre a formação dos
indivíduos numa era de ascensão das tecnologias digitais na educação. A pesquisadora

1
Bolsista CNPq. Mestre e Doutorando em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). É
também advogado, Especialista em Direito Educacional e Filosofia da Educação.
2
Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pelo Centro Universitário de Araraquara. Especialista
na área educacional. Professor/Tutor do Centro Universitário Barão de Mauá; Faculdade de Educação São Luís e
Universidade Federal de São Paulo. Docente da Rede Estadual de Ensino.
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Educação em pesquisas: diversos campos, um só saber. Revista Gestão Universitária, Jun. de 2016
FERREIRA, Emerson Benedito; LOPES, Mário Marcos Lopes.
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focaliza três redes sociais, distintas em seus modos de exibição das publicações dos usuários,
e em alta no momento. Por fim, a autora, considera que se as redes sociais carregam a
fragilidade de ser os murais para a superexposição generalizada de indivíduos espetaculares,
está também nesses novos meios de comunicação a possibilidade de haver palco de atuação
da Educação crítica. Uma crítica formativa à espetacularização e à semi-formação do
indivíduo que se faz nas redes sociais utilizando como meios de expressão essas mesmas
redes sociais.
No texto do capítulo 4 -Processos Educativos em Práticas Sociais: Do drama de
Crianças Negras ao movimento caleidoscópico da Festa de Boi da Comunidade de Ovó II no
Estado da Bahia o autor Isaac Pimentel Guimarães apresenta os frutos de sua ação
investigativa que buscou compreender os processos educativos a partir da prática social de
crianças negras nos espaços de dentro e fora da Escola Municipal São Marcos, localizada na
Comunidade Ovó II/BA, bem como a relação de homens, mulheres, crianças, jovens e velhos
na tradicional manifestação cultural da Festa de Boi. Na visão do pesquisador os resultados do
presente trabalho colocam-se ao lado de outros que foram desenvolvidos com o objetivo de
explicitar, tornar visíveis raízes, africanas do jeito de ser, viver, pensar particularmente dos
negros, mas também de outros brasileiros.
2
Os autores Samila Bernardi do Vale e Luiz Bezerra Neto no capítulo 5 - A
reestruturação produtiva e seu impacto nas propostas deformação da Federação dos
Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo apresentamos resultados parciais
de pesquisa que investiga os mecanismos utilizados pela Federação frente às transformações
no campo empreendidas pelo capital e se há uma política de formação dos trabalhadores para
atender essa nova realidade no campo.
No capítulo 6 - Nos caminhos da escola do campo: projeto de educação campo do
município de Matão, SP” as autoras Adriana do Carmo de Jesus e Maria Cristina dos Santos
Bezerra apresentam os resultados parciais sobre a implantação do Projeto de educação do
campo no âmbito da Secretaria Municipal de Educação de Matão/SP, frente às transformações
no campo empreendidas pelo capital e se há uma política de formação dos trabalhadores para
atender essa nova realidade. As analise preliminares apontam que as equipes das escolas do
campo de Matão, demonstram interesse e comprometimento com a perspectiva de educação
do campo, além de certa preocupação em valorizar a realidade local dos alunos, entretanto, as
pesquisadoras ressaltam que os apontamentos elaborados são elementos insuficientes para
permitir a compreensão do Projeto de educação do campo do município de Matão em suas

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múltiplas dimensões, mas trata-se de um primeiro passo para o seu entendimento, rumo
superação dos déficits educacionais próprios da sociedade capitalista.
O capítulo 7 - As instituições educacionais e o disciplinamento dos corpos na
perspectiva foucaultiana, o autor Antonio Igor Barreto Pereira aborda, de forma objetiva, a
temática da disciplina escolar com o propósito de levantar discussões e alguns elementos para
a compreensão das possíveis ligações entre disciplina e escola e as implicações a partir disso,
com base nas ideias e fundamentos de Michel Foucault.
A avaliação em larga escala como política pública educacional:da educação básica
ao ensino superior é discutida no capítulo 8 pelas autoras Andréia Cunha Malheiros Santana e
Joelma dos Santos, que apresentam um recorte de duas pesquisas do Programa de
Pós‐Graduação em Educação da Universidade Federal de São Carlos, ambas com o objetivo
principal de discutir o papel das avaliações em larga escala, uma focando o ensino superior e a
outra a educação básica. Segundo as pesquisadoras, embora, as pesquisas ainda não estejam
concluídas, os seus resultados preliminares apontaram que as avaliações estudadas, SARESP
e ENADE, têm produzido o ranqueamento das instituições e estimulado a competição entre
elas.
No capítulo 9 –O trabalho do professor diante da expansão dos Institutos Federais de
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Educação, a autora Elen de Fátima Lago Barros Costa debate a expansão da educação
superior, da educação profissional e tecnológica como consequência desse novo modelo de
acumulação do capital. Segundo a pesquisadora, entender essas reformas é compreender as
mudanças ocorridas no espaço do trabalho docente e como as políticas colocadas em curso
são facilmente incorporadas ao cotidiano profissional dos educadores, sem resistência e
maiores reflexões. Em sua pesquisa aponta o surgimento de um processo de
profissionalização, internacionalização e mercantilização da Educação Superior, com
impactos essenciais no conteúdo do trabalho docente, rouba a autonomia científica e impõe
um novo modo de fazer científico.
O capítulo 10 - Meio ambiente escolar e bullying: educar o agressor oujudicializar
sua conduta? os autores Emerson Benedito Ferreira e Fernando Frachone Neves realizam um
exame substancial de um tipo de violência escolar que vem se disseminando no mundo
especialmente nos últimos anos denominada bullying. Na visão dos especialistas, em uma
época em que incluir está em evidência e é objeto de diferentes políticas públicas, projetos
antibullying devem ser fomentados em todas as instituições de ensino, de diferentes formas,
dimensões e linguagens.

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Abordando a mesma temática, o capítulo 11 - Do trote ao bullying: breves


apontamentos sobre a violência entre estudantes em tempos de sociedade administrada a
autora Deborah Christina Antunes traz um recorte de sua pesquisa de Mestrado e com a
colaboração de alguns teóricos compara os trotes universitários com a violência interpessoal
cotidiana entre alunos que, ao contrário do trote, não possui uma “desculpa”, ou uma
“motivação evidente”, para sua realização, trata‐se do que tem sido denominado, de bullying.
Segundo a pesquisadora compreender a violência entre os alunos, sejam criança ou jovens,
seja uma violência marcada temporalmente, seja expressada cotidianamente, torna‐se uma
questão primordial para os docentes.
O discurso do politicamente correto “custe o que custar (CQC)?”contempla o
capítulo 12 da obra. A autora Danielle Christiane da Silva Viveiros trata das polêmicas em
torno do “politicamente incorreto” produzidas nos discursos humorísticos. O humor sempre
teve espaço considerável nas relações humanas tendo uma importância relevante como
expressão da subjetividade. Sua presença é fato relatado e constante ao longo da história.
Porém, o que se observa é que o humor ácido, sarcástico, caricatural e grotesco, hoje, dá lugar
a um humorismo eufórico, light e politicamente correto.
No capítulo 13 – Saberes, experiências e desafios compartilhados por estudantes
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universitários em seus processos de socialização e de formação, os autores Maísa Aparecida
de Oliveira e Ana Cláudia Lopes Chequer Saraiva apresentam como foco de investigação o
ofício da discência na Universidade, com o objetivo de identificar quais papéis sociais são
atribuídos à discência pelos alunos oriundos de diversos cursos de graduação, buscando
caracterizar as modalidades de relações estabelecidas pelos universitários nos processos de
socialização e de formação no cotidiano da vida acadêmica. Os pesquisadores apontam que a
discência aparece associada às funções do aprender, do conhecer e do produzir limitadas às
demandas curriculares, cujo desempenho acadêmico tem como indicador o coeficiente de
rendimento, o que estimula a concorrência e a competição entre os alunos.
O capítulo 14 - O Programa Mais Educação: uma inovadora estratégia brasileira
para a qualidade na educação pública escolar?a autora Lívia Brassi Silvestrede Oliveiratem
o intuito de discorrer acerca Programa Mais Educação a partir de alguns documentos do
Ministério da Educação - MEC. Na análise da pesquisadora, os documentos do MEC mostram
uma visão de educação muito bonita, porém, a lógica neoliberal se mostra mais forte. As
escolas, segundo a autora, estão sendo responsabilizadas por proporcionar uma educação
limitadora, que coloca o educando como um ser inerte, que precisa alcançar um índice de

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desenvolvimento escolar adequado, sem, contudo, ter uma aprendizagem que direcione para a
formação humana, cidadã e científica.
A temática: Uma perspectiva social da matemática no contexto da escola e da rua é
aborda no capítulo 15 pela autora Daniela Netto Scatolin Costa discute a matemática como
uma prática social com foco no pressuposto de que a matemática escolar e a matemática da
rua são práticas distintas e, portanto, possuem diferentes significados. Segundo a autora, tal
discussão está pautada numa perspectiva sócio‐histórico‐cultural, na qual as práticas sociais e
culturais em que os sujeitos estão inseridos são as fontes relevantes de conhecimentos. De
acordo com a discussão proposta pela pesquisadora alicerçada na revisão da bibliografia
corrobora com a ideia de que os significados matemáticos não são únicos e nem universais,
levando a compreensão da matemática como diferentes práticas sociais.
Continuando com as discussões propostas na obra, o capítulo 16 - Educação infantil e
currículo: reflexões a partir de diálogos com as crianças das autoras Gabriela G. de C. Tebet,
Flávia Cristina Oliveira Murbachde Barros e Cícera M. Palmeira apresentam os resultados de
duas pesquisas realizadas durante os anos de 2007 e 2008, respectivamente nos municípios de
São Carlos (com crianças de 1 a 2 anos) e Ourinhos (com crianças de 4 a 6 anos). Segundo as
especialistas, ambas as pesquisas se propuseram a investigar como as crianças pensam o
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espaço da educação infantil e consideram que as falas das crianças que frequentam a educação
infantil trazem importantes contribuições para o debate acerca da questão curricular. Todos
têm conhecimentos a ser compartilhados, e todos têm o que dizer sobre a instituição em
questão ‐principalmente as crianças! Só nos cabe encontrar as formas de melhor dialogar e
aprender com elas.
No capítulo 17 - A matemática e a resolução de problemas nos anos iniciais do
Ensino Fundamental: algumas estratégias e intervenções de ensino, a autora Ana Carolina
Faustino discute de forma preliminar a indagação: “Quais estratégias e intervenções
pedagógicas de ensino possibilitam que os estudantes do 5ª ano do ensino fundamental,
busquem seus próprios caminhos e formas de pensar a matemática?”. A pesquisadora busca
identificar as práticas em sala de aula que envolvam resolução de problemas e verificar
estratégias e intervenções pedagógicas que façam os alunos buscarem seus próprios caminhos
e formas de pensar a matemática. A autora, ressalta a importância do educador escolher
situações problemas que propiciem que os estudantes tomem decisões.
O autor Alessandro Eleutério de Oliveira, no capítulo 18 - A educação escolar e a
nova meca da indústria cultural analisa as comunidades virtuais dedicadas à Educação
Escolar no sítio de relacionamentos Orkut, permitindo compreender como os professores e
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alunos percebem aspectos da condição humana contemporânea, em seu processo


semiformativo pessoal. Segundo o pesquisador,ver e entender o abismo que separa as pessoas
em um mundo em que as relações sociais são cada vez mais reificadas, e os reflexos desse
processo na educação é fundamental em um momento em que estamos extremamente
“conectados”, mas talvez mais solitários – sob certos aspectos – do que jamais estivemos.
O capítulo 18 - No Brasil tudo se dá um jeito da autora Belissa do Pinho Jambersi
discorre sobre a formação patrimonial do Estado Brasileiro, tendo por base autores como:
Carvalho (1996), Faoro (2000) Leal (1975) e Schwartzman (1988). Segundo a especialista,
embora as obras tenham perspectivas teóricas diferentes, elas se intercruzam à medida que,
direta e/ou indiretamente, utilizam-se o conceito de patrimonialismo para explicar as bases de
formação do Estado Moderno brasileiro, cujo título do trabalho remete a uma expressão
popularmente conhecida para explicar a inconsistência política de Estado e Nação no Brasil.
Os Tabus em relação aos professores: a soberba intelectual como herdeira do chicote
é abordada no capítulo 18 pelo autor Marsiel Pacífico investiga e discuta de que forma são
engendradas representações aversivas dos alunos em relação aos seus professores, sobretudo
no que concerne à exposição de um comportamento de soberba intelectual dos mestres em
relação aos alunos. Segundo o pesquisador é necessário compreender as amarras sociais que o
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modelo social impõe à escola; diversos sentimentos primários nos tabus, derivam da
intencionalidade pedagógica da educação na sociedade capitalista, e os seus simulacros que
ecoam ideologicamente ainda com muito vigor, mesmo estando em contraposição à realidade
objetiva
No capítulo 19 - Tecnocracia neoliberal friedmaniana: implicações para a educação
o autor Flávio Reis dos Santos aborda os fundamentos tecnocráticos centrais que orientaram o
processo de reorganização econômica da sociedade capitalista assentados nas concepções
teóricas do economista estadunidense Milton Friedman, encontrando na educação o campo
fértil à formação de mão de obra especializada para atender as necessidades do mercado e
como lócus de reprodução das desigualdades sociais.
Por fim, fechando essa obra, no capítulo21 - A bacia hidrográfica como ferramenta
para educação ambiental, os autores Mario Marcos Lopes e Denilson Teixeira apresentam e
trazem à tona a discussão sobre a importância de articulação entre educação ambiental e bacia
hidrográfica, tornando‐se uma estratégia qualificadora da participação e do envolvimento da
sociedade no gerenciamento dos recursos naturais.
A infinidade de temáticas apresentadas na presente obra, levará o leitor a um
conhecimento geral de diversos assuntos, entretanto, necessitando caso desejar de um
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aprofundamento especifico sobre determinado tema. Alguns textos apresentam ainda,


pesquisas preliminares necessitando que o leitor busque os resultados conclusivos das
presentes investigações, seja por meio da leitura do trabalho cientifico dos autores
(dissertações ou teses) ou pela publicação de artigos científicos.
Em contrapartida, a leitura proporcionará um vasto conhecimento neste campo tão
abrangente é que a educação.

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