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BOSI, Alfredo. Poesia e Resistência. In.: O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix, 1983. p.

141-192.

QUEM DÁ NOME AOS SERES? (p. 141)


Do mítico (Adão, o proto-nomeador) ao ideológico (a ideologia dominante, atual
nomeadora ).
 “O poder de nomear (...) é o fundamento da linguagem e, por extensão, o fundamento da
poesia.”
 “O poeta é o doador de sentido”.

 “Os discursos ideológicos e as faixas domesticadas do senso comum preenchem hoje o


imenso vazio deixado pelas mitologias. É a ideologia dominante que dá, hoje, nome e sentido às
coisas”. (p. 142)
 “A concorrência entre os nomeadores tem muitas faces históricas”.
 “A partir do século XIX, (...) o estilo capitalista e burguês de viver, pensar e dizer se expande
a ponto de dominar a Terra inteira”.
 “Furtou-se à vontade mitopoética aquele poder originário de nomear, de com-preender a
natureza e os homens, poder de suplência e de união.” => a reificação das “almas e objetos”
 “Sociedade de consumo é apenas um aspecto (...) dessa teia crescente de domínio e ilusão
que os espertos chamam “desenvolvimento” (...) e os tolos aceitam como ‘preço do progresso’”.
A poesia confronta-se com os interesses da indústria cultural, da propaganda e percebe-se
encurralada.
 “A arte terá passado de marginal a alcoviteira ou inglória colaboracionista?”

 “Na verdade, a resistência também cresceu junto com a ‘má positividade do sistema’”. (p.
143)
Origem da poesia-resistência.
O discurso cifrado da poesia como reação ao aprisionamento da palavra pelo sistema
capitalista-reificador, daí o uso da metalinguagem.
 “Essas formas estranhas pelas quais o poético sobrevive em um meio hostil ou surdo, não
constituem o ser da poesia, mas apenas o seu modo historicamente possível de existir no interior
do processo capitalista”. (!)
 “Se subtraem ao poeta o direito de dar nome as coisas, é justo que ele, agarrando-se à pele da
escrita, exiba, ao menos, sílabas secas, letras traços pontos se não o branco da página.”

 “(...) em toda grande poesia moderna, a partir do Pré-Romantismo, [há] uma forma de
resistência simbólica aos discursos dominantes”. (p. 144)
 “A resistência tem muitas faces. Ora propõe a recuperação do sentido comunitário perdido
(poesia mítica, poesia da natureza); ora a melodia dos afetos em plena defensiva (lirismo de
confissão [...]); ora a crítica direta ou velada da desordem estabelecida (vertente da sátira, da
paródia, do epos revolucionário, da utopia).” (p. 145)

UMA SÓ TOTALIDADE: FORMAS CONTRÁRIAS DE DIZÊ-LA


As máscaras da ideologia.
 “O papel mais saliente da ideologia é o de cristalizar as divisões da sociedade, fazendo-as
passar por naturais”.

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