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DISCIPLINA: PORTUGUÊS

Professor: Sofia Martinho


1º Ano – Curso Técnico de Manutenção Industrial
2021/2022
MÓDULO 1 – POESIA TROVADORESCA/FERNÃO LOPES
Ficha de Trabalho 9
Nome: Turma: N.º:

Leia com atenção o seguinte texto.

Ao fim da tarde de 29 de setembro de 1759, o céu obscureceu-se de repente na região do arquipélago


Juan Fernandez, a cerca de seiscentos quilómetros ao largo das costas do Chile. A tripulação do “Virgínia”
reuniu-se no convés para ver as pequenas chamas que apareciam no cimo dos mastros e vergas do navio.
Eram fogos de Santelmo, fenómeno devido à eletricidade atmosférica e
que anuncia uma violenta tempestade. O “Virgínia”, a bordo do qual
viajava Robinson, nada tinha felizmente a temer, nem mesmo do mais
violento temporal. Era uma galeota holandesa, um barco de formas
arredondadas e com mastros baixos, portanto, pesado e pouco rápido, mas
de extraordinária estabilidade mesmo em circunstâncias de mau tempo.
Assim, à noite, quando o capitão Van Dayssel viu que uma rabanada de
vento rebentara uma das velas como se fosse um balão, deu ordens aos
seus homens para arriarem as outras e se fecharem com ele no interior, à
espera que a tempestade passasse. O único perigo a recear vinha dos recifes ou bancos de areia, mas o
mapa não indicava nada do género, e tudo levava a crer que o “Virgínia” poderia navegar durante centenas
de quilómetros, debaixo da tempestade, sem encontrar obstáculos. Por isso, o capitão jogava
tranquilamente às cartas com Robinson, enquanto o temporal rugia lá fora. Estava-se em meados do
século XVIII, na época em que muitos europeus – principalmente ingleses – iam radicar-se na América, na
mira de fazerem fortuna. Robinson deixara em York a mulher e dois filhos, com o objetivo de explorar a
América do Sul e ver se conseguia organizar trocas comerciais proveitosas entre o seu país e o Chile.
Algumas semanas antes, o “Virgínia” contornava o continente americano dobrando heroicamente o
terrível cabo Hom, e rumava agora para Valparaíso, onde Robinson queria desembarcar.
— Não vos parece que esta tempestade vai atrasar muito a nossa chegada ao Chile? - perguntou ele ao
capitão, enquanto baralhava as cartas. O capitão olhou para ele com um sorrisinho irónico, ao mesmo
tempo que afagava um cálice de genebra, sua bebida preferida. Tinha muito mais experiência que
Robinson e troçava frequentemente da sua impaciência juvenil.
— Quando se empreende uma viagem como esta que estais fazendo, respondeu-lhe ele depois de tirar
uma fumaça do cachimbo, parte-se quando se quer mas chega-se quando Deus quer. Tirou depois a tampa
a um pequeno barril de madeira onde guardava o tabaco, e mergulhou nele o comprido cachimbo de
porcelana.
Desta maneira, fica protegido dos choques e impregna-se com o odor adocicado do tabaco.
Voltou a fechar o pequeno barril e encostou-se preguiçosamente para trás.

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3840-254 Gafanha da Boa Hora F(+351) 234 799 839 Wwww.epadrv.edu.pt
— Como estais vendo – disse ele – a vantagem das tempestades está em que nos libertam de
preocupações. Não há nada a fazer contra os elementos enfurecidos. Portanto, nada fazemos. Entregam-
no nas mãos do destino.
Nesse mesmo momento, a lanterna suspensa de uma corrente que iluminava a cabina descreveu um
arco de círculo, indo estilhaçar-se de encontro ao teto. Antes de tudo mergulhar em completa escuridão,
Robinson ainda teve tempo de ver o capitão deslizar de cabeça por cima da mesa. Levantou-se e dirigiu-se
para a porta. Uma forte corrente de ar fez-lhe compreender que já não havia porta. (…) Logo a seguir, uma
vaga gigantesca despenhou-se sobre o convés e varreu tudo o que nele se encontrava, homens e material.
Quando Robinson voltou a si, encontrava-se deitado, o rosto na areia. Uma onda rolou pelo areal molhado
e veio lamber-lhe os pés. Girando sobre si, deixou-se ficar de costas. Gaivotas negras e brancas volteavam
no céu, de novo azul após a tempestade.
Michel Tournier, Sexta-Feira ou a Vida Selvagem, trad. Emílio Campos Lima, 34ª Ed., Editorial Presença, 2008.

Michel Tournier é um escritor francês que nasceu em Paris no dia 19 de Dezembro de 1924. Julga o
valor das suas obras em função do inverso das idades dos seus leitores. É considerado um autor de
crianças, mas defende-se, dizendo: “eu não escrevo para as crianças, escrevo antes com um ideal de
brevidade, de clareza e de proximidade ao concreto”.

1. O excerto que acabou de ler corresponde ao início da obra de Michel Tournier, Sexta-Feira ou a Vida
Selvagem.

1.1. Retire do texto as expressões que localizem a acção:


a) no espaço _______________________________________________________________________
b) no tempo _______________________________________________________________________

2. Com que objetivo se reuniu a tripulação no convés?


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3. Caracterize o “Virgínia”. 
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4. Indique os motivos que levaram Robinson a empreender a viagem?


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5. Identifique as personagens do texto.
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6. O texto possui elementos que nos permitem caracterizar psicologicamente o capitão do “Virgínia”.
Partindo desses elementos, como o caracterizaria?
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7. Atribua um título sugestivo ao texto. ____________________________________________________

8. Identifique os recursos expressivos presentes nas frases seguintes:

a) “(…) como se de um balão se tratasse (…) ______________________________________________

b) “(…) lá fora rugia o temporal (…)” _____________________________________________________

9. Sublinhe no texto um exemplo de:


a) narração;
b) descrição;
c) diálogo.

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