Você está na página 1de 6

PORTUGUÊS 8º

ANO – NOVEMBRO

ESCOLA_______________________________________________ DATA ____/ ____/ 20___

NOME_____________________________________________________ Nº_____ TURMA______

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Lê o excerto de A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho, de Mário de Carvalho. Em


caso de necessidade, consulta as notas.

A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho

Os automobilistas que nessa manhã de setembro entravam em Lisboa pela Avenida


Gago Coutinho, direitos ao Areeiro, começaram por apanhar um grande susto, e, por
instantes, foi, em toda aquela área, em estridente 1 rumor de motores desmultiplicados,
travões aplicados a fundo, e uma sarabanda2 de buzinas ensurdecedora. Tudo isto de
5 mistura com retinir3 de metais, relinchos de cavalos e imprecações 4 guturais5 em alta
grita6.
É que, nessa ocasião mesma, a tropa do almóada 7 Ibn-el-Muftar, composta de
berberes8, azenegues8 e árabes em número para cima de dez mil, vinha sorrateira 9 pelo
valado10, quase à beira do esteiro 11 de rio que ali então desembocava, com o propósito de
10 pôr cerco às muralhas de Lixbuna12, um ano atrás assediada e tomada por hordas13 de
nazarenos14 odiosos.
Viu-se de repente o exército envolvido por milhares de carros de metal, de cores
faiscantes, no meio de um fragor 15 estrondoso – que veio substituir o suave pipilar dos
pássaros e o doce zunido dos moscardos – e flanqueado 16 por paredes descomunais que
15 por toda a parte se erguiam, cobertas de janelas brilhantes. Assustaram-se os beduínos 17,
volteando assarapantados18 os cavalos, no estreito espaço de manobra que lhes era
deixado, e Ali-ben-Yussuf, lugar-tenente de Muftar, homem piedoso e temente a Deus,
quis ali mesmo apear-se para orar, depois de ter alçado as mãos ao céu e bradado que Alá
era grande.
20 De que Alá era grande estava o chefe da tropa convencido, mas não lhe pareceu o
momento oportuno para louvaminhas19, que a situação requeria antes soluções práticas e
muito tato. Travou os desígnios do adjunto com um gesto brutal, levantou bem alto o
pendão verde e bradou uma ordem que foi repetida, de esquadrão em esquadrão, até
chegar à derradeira retaguarda, já muito próxima da Rotunda da Encarnação: – Que
25 ninguém se mexesse!
E el-Muftar, cofiando 20 a barbicha afilada21, e dando um jeito ao turbante, considerava,
com ar perspicaz, o pandemónio em volta: – Teriam tombado todos no inferno corânico 22?
Teriam feito algum agravo23 a Alá? Seriam antes vítimas de um passe da feitiçaria cristã?
Ou tratar-se-ia de uma partida de jinns24 encabriolados?
Mário de Carvalho, A inaudita guerra da Avenida Gago Coutinho e outras histórias. LeYa, 2009, pp. 25-27.

©Edições ASA | 2019-2020 – Carla Marques | Ana Paula Neves


Página 1
PORTUGUÊS 8º
ANO – NOVEMBRO
1
estridente: agudo. 2 sarabanda: música. 3 retinir: ecoar. 4 imprecações: súplicas ou pragas. 5 gutural: que sai da
garganta. 6 grita: gritaria. 7 almóada: muçulmanos. 8 berberes e azenegues: povos nómadas do Norte de África.
9
sorrateiro: às escondidas, discretamente. 10 valado: vala pouco profunda. 11 esteiro: braço de rio.
12
Lixbuna: Lisboa. 13 hordas: bandos indisciplinados. 14 nazarenos: cristãos. 15 fragor: estrondo. 16 flanqueado:
acompanhado de lado. 17 beduínos: árabes do deserto. 18 assarapantado: assustado. 19 louvaminhas: louvores
excessivos. 20 cofiando: afagando com a mão. 21 adelgaçada: tornada mais fina. 22 corânico: relativo ao Alcorão.
23
agravo: ofensa. 24 jiins: demónios.

1. Descreve os sons referidos no início do texto e justifica-os.


_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________

2. Refere, por palavras tuas, o que fazia a tropa de Ibn-el-Muftar e quais as suas intenções
antes de se encontrar no meio dos carros em plena Avenida Gago Coutinho.
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________

3. Associa cada frase da coluna A a um elemento da coluna B, de acordo com o texto.


Escreve, em cada quadrado da coluna A, a letra correspondente da coluna B.

Coluna A Coluna B
A. Os homens que se encontravam no final
1. Estuário do rio
do batalhão estavam perto desse local.
2. Avenida Gago
B. Os automobilistas envolvidos no incidente
Coutinho
dirigiam-se para lá.
3. Rotunda da
C. Neste espaço teve lugar toda a confusão.
Encarnação
D. As tropas aproximavam-se da cidade,
4. Areeiro
passando perto daquele local.

4. Assinala com X a opção que completa a afirmação.


4.1. Nas linhas 12 a 14, o narrador usa uma antítese entre um ruído assustador e o som do
canto das aves para

(A) mostrar que o espaço onde estava a tropa de Muftar tinha contrastes.
(B) indicar a semelhança entre os vários espaços onde esteve a tropa de Muftar.
(C) realçar a diferença entre os espaços onde esteve a tropa de Ibn-el-Muftar.
(D) destacar o contraste entre o rio e as muralhas para onde ia a tropa de Muftar.

5. Ali-ben-Yussuf tinha intenção de fazer o quê? O que o levou a não o fazer?


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

©Edições ASA | 2019-2020 – Carla Marques | Ana Paula Neves


Página 2
PORTUGUÊS 8º
ANO – NOVEMBRO
6. No texto são usadas expressões como “carros de metal” (l. 12) e “paredes descomunais […]
cobertas de janelas brilhantes” (ll. 14-15).
6.1.Indica a que se referem e justifica estes termos atendendo a que a tropa de Muftar vem
de outro século.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

©Edições ASA | 2019-2020 – Carla Marques | Ana Paula Neves


Página 3
PORTUGUÊS 8º
ANO – NOVEMBRO

ESCRITA

Imagina que viajavas num dos carros que se encontravam naquele dia na Avenida Gago
Coutinho.
Escreve uma página de diário, com um mínimo de 150 e um máximo de 220 palavras, na
qual relates o que sucedeu.
O teu texto deve integrar informações sobre:
‒ o local para onde te dirigias;
‒ o que aconteceu;
‒ reação ao sucedido;
‒ resolução da situação;
‒ reflexão sobre o acontecimento.

COTAÇÃO DO TESTE

Item
Grupo
Cotação (em pontos) Total
Compreensão do
1.1. 1.2. 1.3. 1.4
Oral
3 3 3 3 12

Leitura 1. 2.1 2.2 3.1


3 3 3 3 12

1. 2. 3. 4.1 5. 6.1
Educação
Literária
5 5 2 4 5 5 26

1. 2.1. 2.2. 3. 4.
Gramática
6 3 3 6 2 20
(6 x 1) (3 x 2) (2 x 1)
Item único
Escrita 30
Total 100

©Edições ASA | 2019-2020 – Carla Marques | Ana Paula Neves


Página 4
PORTUGUÊS 8º
ANO – NOVEMBRO

PROPOSTAS DE CORREÇÃO

COMPREENSÃO DO ORAL
1.1. (B)
1.2. (C)
1.3. (A)
1.4. (B)

LEITURA
1. (D) – (A) – (C) – (E) – (B)
2.1. (D)
2.2. (B)
3. (C), (A), (D)

EDUCAÇÃO LITERÁRIA
1. Naquele momento, ouviram-se sons de motores, de travagens e de buzinas (próprios de um engarrafamento de
trânsito) e ainda sons de metais das armas da tropa, relinchos de cavalos e gritos dos berberes. Todos estes
barulhos se deveram ao susto que tanto os automobilistas como os cavaleiros ou a tropa a pé apanharam ao
encontrarem-se frente a frente.
2. A tropa aproximava-se de Lixbuna, de forma sorrateira e discreta, vinda pelo lado do rio, pois pretendia fazer um
cerco às muralhas da cidade que fora tomada pelos nazarenos (cristãos) um ano antes.
3. A – 3; B – 4; C – 2; D – 1
4.1. (C)
5. Yussuf pretendia rezar a Alá, mas não chegou a fazê-lo porque Ibn-el-Muftar o impediu, fazendo um gesto
violento.
6.1. As expressões referem-se aos automóveis e aos prédios, respetivamente. Estas expressões são usadas porque
representam a forma como os homens de Muftar, vindos de outro século, perceberam a nova realidade em que,
de repente, se encontraram.

GRAMÁTICA
1. Nome – A; Adjetivo – E; Pronome – B; Conjunção – F; Preposição – C; Advérbio - D
2.1. (C)
2.2. (B)
3. a) puder; b) pudesse; c) pôde
4. a) de que; b) a que

ESCRITA
Lisboa, 24 de abril de 2002

Querido Diário,

Hoje aconteceu a situação mais extraordinária de que tenho memória.


Ia para a escola com a minha mãe, quando, ao chegar à Avenida Gago Coutinho, vimos, como por magia, um
grupo enorme de soldados árabes. Vinham armados, a cavalo e com roupas estranhas. Eles pareciam assustados e
perdidos. A confusão foi enorme. Gerou-se um engarrafamento gigantesco. As pessoas travavam a fundo,
buzinavam e gritavam. Ninguém conseguia andar e os soldados andavam à roda, perdidos. Era um exército que não
tinha fim. Eu e a minha mãe, inicialmente, achámos que era um golpe publicitário e rimos, mas depois começámos a
ficar nervosos porque ela ia chegar atrasada ao trabalho e eu à escola. Acho que esse era o problema da maioria das
pessoas que ali estava.
De repente, tal como tinham aparecido os soldados, desapareceram. Ninguém percebeu o que tinha
acontecido. Parecia que tínhamos vivido uma viagem no tempo.
Todos os dias podem trazer uma surpresa completamente inesperada. Temos de estar sempre disponíveis
para a novidade. Talvez viver seja isso mesmo!

©Edições ASA | 2019-2020 – Carla Marques | Ana Paula Neves


Página 5
PORTUGUÊS 8º
ANO – NOVEMBRO
(179 palavras)

©Edições ASA | 2019-2020 – Carla Marques | Ana Paula Neves


Página 6

Você também pode gostar