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1. Introdução
Segundo Bourdieu,
[...] o mundo social pode ser concebido como um espaço
multidimensional construído empiricamente pela identificação dos
principais fatores de diferenciação que são responsáveis por
diferenças observadas num dado universo social ou, em outras
palavras, pela descoberta dos poderes ou formas de capital que
podem vir a atuar, como azes de um jogo de cartas neste universo
específico que é a luta (ou competição) pela apropriação de bens
escassos [...] Os poderes sociais fundamentais são: em primeiro lugar
o capital econômico, com suas diversas formas; em segundo lugar o
capital cultural, ou melhor, informacional também em suas diversas
formas; em terceiro lugar, duas formas que estão altamente
correlacionadas: o capital social, que consiste em recursos baseados
em contatos e participação em grupos e o capital simbólico que é a
forma que os diferentes tipos de capital tomam uma vez que
percebidos e reconhecidos como legítimo (BOURDIEU, 1978, p.4).
É importante ressaltar que, para Bourdieu, não há, entretanto, uma relação
determinística entre classes reais e classes prováveis. Segundo Silva (1995,
p.31), “[...] o movimento de probabilidade para a realidade não é dado,
depende de outros princípios aglutinadores e formadores de identidades
grupais.”
Em seus estudos sobre Bourdieu, McCall (1992) argumenta que este define
que as origens (geográfica e posição da família na estrutura social), medida
pelo volume e composição do capital (econômico, social, cultural, simbólico), e
a trajetória de vida, ou seja, a metamorfose do capital inicial longo da vida,
como alguns dos diversos indicadores da posição de um indivíduo na estrutura
social. Porém, segundo a autora, é a ocupação a variável central organizadora
das posições dos indivíduos na estrutura social, ou seja, no espaço
multidimensional das formas de poder (McCALL, 1992).
2. Capitais de Bourdieu
Por isso, faz-se mister definir os conceitos dos diferentes tipos de capital para o
autor e como eles se equivalem a recursos de poder que se equiparam aos
recursos econômicos.
Capital social e cultural não são entendidos como capital econômico, mas têm
a capacidade de se converter em capital econômico, nos permitindo pensar em
riqueza como um conceito que extrapola a questão monetária (WULFF et al.,
2022).
Com isso, capital cultural e capital social podem ser definidos, então, como um
conjunto de disposições e atributos pessoais adquiridos ou herdados da vida
em sociedade, estando estes, intimamente relacionados ao habitus.
3. Gênero em Bourdieu
Isso significa dizer que a submissão das mulheres, apesar de na aparência, ser
uma determinação biológica, foi perpetuada e justificada ao longo da história,
até ser considerada um aspecto intrínseco ao ser feminino. Conforme
argumenta Burawoy,
1
“A interseccionalidade é uma conceituação do problema que busca capturar as
consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da subordinação.
Ela trata especificamente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe
e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as posições
relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras. Além disso, a interseccionalidade trata
da forma como ações e políticas específicas geram opressões que fluem ao longo de tais
eixos, constituindo aspectos dinâmicos ou ativos do desempoderamento” (CRENSHAW, 2002,
p.177).
Bourdieu exemplifica como as mulheres, diante da divisão sexual das
atividades produtivas, estão apenas (apesar de todos os avanços, resultados
da luta dos movimentos feministas) estendendo a função domiciliar que lhes foi
naturalizada, ou seja, a de contribuir com o valor simbólico, ao ambiente
profissional:
4. Capital e gênero
Essas variáveis são assim denominadas por adquirirem sua forma e valor
específicos como resultado do volume e composição do capital. Idade e
gênero, por exemplo, são considerados forças biológicas gerais que obtêm
especificidade da posição de classe social. Além disso, Bourdieu ainda atribui à
essas variáveis a condição acessória na mobilização de grupos, que também
seria determinada principalmente pelo capital. Ele afirma que "grupos
mobilizados com base em critérios secundários são provavelmente unidos
menos permanente e menos profundamente do que aqueles mobilizados com
base nos determinantes fundamentais de sua condição" (BOURDIEU, 2007,
p.107).
Nas obras de Bourdieu, gênero não aparece como uma forma de capital. O que
é intrigante, principalmente quando se aprofunda no relato de Bourdieu sobre
as formas específicas de capital incorporado ao capital cultural.
Segundo Bourdieu:
O capital cultural pode existir em três formas: no estado corporificado,
ou seja, na forma de disposições duradouras da mente e do corpo; no
estado objetivado, na forma de bens culturais (quadros, livros,
dicionários, instrumentos, máquinas etc.) [...] e no estado
institucionalizado, uma forma de objetificação resultando em coisas
como qualificações educacionais. (BOURDIEU, 1983, p.243)
Lovell (2000, p.25) menciona que "a feminilidade como capital cultural está
começando a ter uma moeda mais ampla de formas inesperadas". Além disso,
Skeggs (2004) discute que o conceito de capital pode ser retrabalhado para
que possamos ver o valor de uso das várias feminilidades que não são a
feminilidade de classe média-alta.
Com esta perspectiva, entende-se que o gênero pode ser interpretado como
uma forma de capital cultural, no seu aspecto incorporado, e ao ser
compreendido como tal, passa a explicar o fato da dominação masculina, em
conjunto com as diversas outras formas de dominação e da legitimação de uma
cultura distinta das demais, contribuir para desvaloração do aspecto feminino
na economia e nas diversas outras esferas sociais.
5. Contribuições e limitações
6. Considerações finais
Referências