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Mateus 8:19-22

19. E chegando um escriba, disse-lhe; "Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores".

20. E disse-lhe Jesus: "As raposas têm covis e as aves do céu, pousos; mas o Filho do homem
não tem onde reclinar a cabeça".

21. Outro dos discípulos disse-lhe: "Senhor, deixa-me ir primeiro enterrar meu pai".

22. Porém Jesus disse-lhe: "Segue-me, e deixa os mortos enterrarem os seus próprios
mortos"./

Lucas 9:57-62

57. Enquanto estavam indo pela estrada, disse-lhe alguém: "Seguir-te-ei para onde quer que
fores".

58. Jesus disse-lhe: "As raposas têm covis e as aves do céu, pousos; mas o Filho do homem não
tem onde reclinar a cabeça".

59. A outro disse: "Segue-me". Ele, todavia, respondeu: "Deixa-me ir primeiro enterrar meu
pai".

60. Retrucou-lhe Jesus e disse: "Deixa os mortos enterrarem os seus próprios mortos; tu
porém vai, anuncia o reino de Deus".

61. Disse-lhe ainda outro: "Seguir-te-ei, Senhor; mas deixa-me primeiro despedir-me dos que
estão em minha casa".

62. Respondeu-lhe Jesus: "Ninguém que olhe para trás depois de ter posto a mão no arado, é
apto para o reino de Deus"./

O Evangelho segundo o Espiritismo > Capítulo 23 — Estranha moral > Deixar aos mortos o
cuidado de enterrar seus mortos.

8. Que podem significar estas palavras: “Deixa aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos”?
As considerações precedentes mostram, em primeiro lugar, que, nas circunstâncias em que
foram proferidas, não podiam conter censura àquele que considerava um dever de piedade
filial ir sepultar seu pai. Têm, no entanto, um sentido profundo, que só o conhecimento mais
completo da vida espiritual podia tornar perceptível.

A vida espiritual é, com efeito, a verdadeira vida, é a vida normal do Espírito, sendo-lhe
transitória e passageira a existência terrestre, espécie de morte, se comparada ao esplendor e
à atividade da outra. O corpo não passa de simples vestimenta grosseira que temporariamente
cobre o Espírito, verdadeiro grilhão que o prende à gleba terrena, do qual se sente ele feliz em
libertar-se. O respeito que aos mortos se consagra não é a matéria que o inspira; é, pela
lembrança, o Espírito ausente quem o infunde. Ele é análogo àquele que se vota aos objetos
que lhe pertenceram, que ele tocou e que as pessoas que lhe são afeiçoadas guardam como
relíquias. Era isso o que aquele homem não podia por si mesmo compreender. Jesus lho
ensina, dizendo: Não te preocupes com o corpo, pensa antes no Espírito; vai ensinar o reino de
Deus; vai dizer aos homens que a pátria deles não é a Terra, mas o céu, porquanto somente lá
transcorre a verdadeira vida./

Sabedoria do Evangelho – Volume 4 – Último Capítulo

DISCÍPULOS CONVIDADOS

Nesta lição, privativa de Mateus e Lucas, podemos aprender o modo como devemos encarar a
relação entre Mestre e discípulo.

O primeiro caso é de alguém (Mateus esclarece tratar-se de um escriba, profissão recrutada


entre os fariseus – acostumados ao luxo), que espontaneamente se propõe a seguir Jesus, para
onde quer que ele vá.

Qual seria sua intenção profunda? Jerônimo o acusa de "aproveitador": ut lucra ex operum
miraculis quaereret (Patrol. Lat. v. 26 c. 53), isto é, "procurava lucros dos milagres operados".
Mas isso é julgamento leviano e acusação graciosa. Duas hipóteses apresentam-se plausíveis;
ou ele pretendia realmente ser discípulo para progredir (e neste caso a resposta de Jesus não o
desanimaria); ou seu desejo era segui-lo para escrever as lições que ele dava, quer para seu
uso, quer para cedê-las a quem as desejasse, quer para levá-las aos fariseus, quer para
"empregar-se", mediante pagamento, para exercer sua profissão.

Os Padres da Igreja, ou seja, os primeiros teólogos que fundamentaram a fé cristã, perceberam


que essa passagem faz eco de uma outra muito conhecida, que é a do Jovem Rico (cf. Mateus
19,16-23). Muito provavelmente, assim como no caso do Jovem Rico, Jesus sabia que o
coração daquele escriba não desejava a radicalidade evangélica que o discipulado propõe e
por isso Ele teria respondido dessa forma dura, para deixar claro que o caminho não é feito de
luxo ou tranquilidade, mas de desafios e de desapego das coisas deste mundo. Já São Gregório
Magno (Papa e Doutor da Igreja – 590 d.C. até 604 d. C.) vê nas figuras da raposa e das aves
uma analogia da soberba humana, ou seja, em sentido moral a soberba tinha mais lugar no
coração daquele homem do que Jesus, tornando impossível que ao menos recostasse a cabeça
nele.

Jesus limita-se a uma resposta que, no fundo, constitui uma recusa: ele não tem pousada fixa,
não dispõe de um leito. Como empenhar-se em despesas com alguém? Não tendo conforto
para si, não podia dispensá-lo a outrem. E o caso encerrou-se aí.

Mas o final é-nos desconhecido. Teria ele aceito as condições e acompanhado Jesus? Teria
desanimado e se retirado? Tratar-se-ia de um dos doze por exemplo, Judas Iscariotes, cujo
chamamento não aparece nos Evangelhos, e cujo ingresso no Colégio Apostólico talvez tenha
sido por espontânea vontade? O fato de só mais tarde aparecer o caso, depois de ter sido ele
citado como discípulo nada importa. Pode o evangelista só havê-lo recordado mais tarde e,
desejando que não fosse esquecida a resposta do Mestre, tê-la registrado mesmo fora da
ordem cronológica.

A segunda pessoa, aparentemente também muito decidida, desejava seguir Jesus, mas pediu
ao Mestre que permitisse que primeiro ele pudesse enterrar seus pais antes de iniciar a
vivência de sua vocação. A resposta de Jesus é um pouco desconcertante: Segue-me e deixa
que os mortos enterrem seus mortos. Percebam que esse segundo caso é diferente: trata-se
de um chamado positivo de Jesus: “segue-me"! O discípulo convocado ao serviço solicita um
adiamento: "deixa me primeiro enterrar meu pai". Que significado pode ter essa frase? Podia
tratar-se de um pai idoso, e o discípulo, querendo obedecer ao mandamento “honrar pai e
mãe", pede para atender ao pai, aguardando que ele passe para o outro lado da vida: sentir-
se-ia então livre para seguir o Mestre. Podia tratar-se, ainda, de um caso real, de morte
realmente ocorrida, e a espera para o sepultamento seria coisa de um a dois dias. Entretanto,
pela resposta de Jesus, parece mais viável a primeira hipótese; "deixa que os mortos
(encarnados) enterrem (cuidem) de seus mortos (encarnados); tu, porém, entrega-te à
pregação do reino de Deus". Teria ele ido? Ou teria preferido ficar com o pai? Também aqui os
evangelistas não esclarecem, deixando livre campo às especulações. Cirilo de Alexandria
(Patrol. Graeca- v- 8. c.1129) diz tratar-se do diácono Filipe (At. 6:5). Mas nenhuma prova aduz
dessa opinião, que talvez fosse resultante de uma tradição corrente no Egito. Ora, Filipe foi o
mistagogo do ministro da rainha Candace, da Etiópia (At 8:27), país limítrofe do Egito.

Em uma leitura rápida, sem levar em consideração os pormenores, parece que Jesus deixou
aquela pessoa tão cheia de boa vontade em um completo desamparo. Mas será que Jesus foi
rude ou inflexível? Por que Jesus não se compadeceu dos pais daquele jovem que talvez
fossem idosos e precisassem de cuidados especiais?

A chave para entender esse episódio pode estar no significado da expressão “enterrar os pais”.
Para aquele povo, cuidar dos pais até a morte e enterrá-los era um imperativo, como que um
dever que deveria ser levado a termo a todo custo (cf. Êxodo 20,2 e Deuteronômio 5,16). Isso
significa que esse homem não pediu para Jesus deixá-lo voltar e enterrar os pais que já tinham
falecido, mas na verdade estava solicitando permissão para esperar mais alguns inúmeros
anos, para só depois ir atrás de viver a própria vocação. Em outras palavras, foi um pedido de
adiamento do chamado de Deus a fim de resolver as coisas primeiro, mesmo sendo Deus capaz
de resolver todas as nossas coisas.

A resposta de Jesus quer ser clara ao afirmar que a vida verdadeira está em quem segue o
caminho do Evangelho. É Jesus quem venceu toda morte e é Ele quem pode dar vida em
plenitude, vida feliz, completa e realizada. Adiar isso seria como que preferir estar morto
espiritualmente, ou seja, estar apegado ao que é apenas mortal como já estivéssemos
“mortos”, e ironicamente, enterrando outros mortos.

O terceiro caso, apresentado apenas por Lucas, também parece ter sido a resposta a um
chamado do Mestre. Ele aceita a tarefa, mas quer despedir-se dos seus. A resposta é dura: "se
queres vir já, estás apto ao discipulato; mas se voltares os olhos para trás, não serves" (cfr.
Gên. 19:26 - E a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida numa estátua de sal). A
comparação com o lavrador procede: se quem guia o arado olha para trás, o sulco sai torto
(cfr. Filpenses 3:13-14 - Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa
faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão
diante de mim, Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo
Jesus).
Através de Jesus, o Cristo já manifestara as condições por Ele exigidas, para a aceitação de
Seus discípulos amados. Esse ensino é agora exemplificado com três casos específicos, a fim de
demonstrar a superioridade da união crística sobre três situações distintas e que, de modo
geral, são as mais aduzidas para recusar-se o passo decisivo: e isso porque são três situações
em que o homem tem a impressão de que se trata de três deveres fundamentais: o dever para
consigo mesmo, o dever para com os genitores e o dever para com os familiares.

Cristo anula os três: o dever máximo diz respeito ao Espírito eterno, não à matéria transitória.

Por conseguinte, o ensino é dirigido para esclarecer que nem as obrigações para com o próprio
corpo, nem para com os pais, nem para com esposa e filhos devem afastar o candidato do
caminho espiritual. O exemplo dado é o vivido pela personagem humana Jesus, que não tinha
"uma pedra sequer para repousar a cabeça". E a lição prossegue com duas regras básicas: os
vivos no Espírito não devem preocupar-se com os mortos na carne, isto é, os que vivem na
individualidade, não podem prender-se a laços puramente carnais e sanguíneos (corpo físico e
duplo etérico), mas à família espiritual divina (cfr. Efésios 2:19 - Assim que já não sois
estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus). Dirá ainda
que é mister amá-lo mais que ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos (cfr. Luc. 14:26 ou Mat. 10:37,
vol. 3.º) para ser digno de dizer-se Seu discípulo.

Claro, portanto, o ensinamento, no plano místico.

No campo das iniciações, encontramos nesta lição três condições indispensáveis para a
dedicação ao Caminho. São três das provas essenciais a superar quando se tem que passar
para um novo degrau evolutivo. A modificação da mente com transmentação requer
desapego. Não é bem o caso do abandono ou de fuga, mas de não se prender, de não inverter
a ordem dos valores, de não julgar mais importante o que é menos importante.

Além disso, o pretendente ao novo degrau evolutivo espiritual deve saber que não pode dar
importância ao físico próprio, nem ao alheio; que os profanos com seus hábitos, crenças,
convencionalismos e preconceitos devem ser deixados a homenagear-se entre si; e que,
finalmente, uma vez passado o novo degrau não pode mais voltar atrás! Esse é um passo
decisivo: dado à frente, não há recuo possível. Mister, pois, meditar bem, examinar-se, medir
as próprias forças, antes de arriscar-se. Uma queda depois, uma desistência, um "olhar para
trás" saudoso, podem trazer consequências graves que talvez durem séculos.

Daí o provérbio latino corruptio optimi; pessima: " a queda do melhor, é a pior".

Cuidado portanto: não alimentar pretensões que não correspondam às possibilidades; não
buscar provas acima das forças reais, não dar passos maiores que as pernas; "não pôr o chapéu
onde a mão não alcança" ...

Deixe-se de lado a vaidade, o desejo de "parecer" aos outros mais do que se é realmente, de
enganar-se a si mesmo, julgando-se gigante quem ainda é pigmeu. Comedimento justo é
melhor que desabalada corrida, arriscando-se a quedas fragorosas. A estrada do Espírito é
árdua, íngreme, estreita, pavimentada de pedras pontiagudas e ladeadas de espinheiros: é
preciso coragem e decisão inabalável, com prévio conhecimento das próprias capacidades./

Livro Fonte Viva – Emmanuel/Chico Xavier


ACORDA E AJUDA

Jesus não recomendou ao aprendiz deixasse “aos cadáveres o cuidado de enterrar os


cadáveres” e sim conferisse “aos mortos o cuidado de enterrar os seus mortos”.

Há, em verdade, grande diferença.

O cadáver é carne sem vida, enquanto um morto é alguém que se ausenta da vida.

Há muita gente que perambula nas sombras da morte sem morrer.

Trânsfugas da evolução, cerram-se entre as paredes da própria mente, cristalizados no


egoísmo ou na vaidade, negando-se a partilhar a experiência comum.

Mergulham-se em sepulcros de ouro, de vício, de amargura e ilusão.

Se vitimados pela tentação da riqueza, moram em túmulos de cifrões; se derrotados pelos


hábitos perniciosos, encarceram-se em grades de sombra; se prostrados pelo desalento,
dormem no pranto da bancarrota moral, e, se atormentados pelas mentiras com que
envolvem a si mesmos, residem sob as lápides, dificilmente permeáveis, dos enganos fatais.

Aprende a participar da luta coletiva.

Sai, cada dia, de ti mesmo, e busca sentir a dor do vizinho, a necessidade do próximo, as
angústias de teu irmão e ajuda quanto possas.

Não te galvanizes na esfera do próprio "eu".

Desperta e vive com todos, por todos e para todos, porque ninguém respira tão somente para
si.

Em qualquer parte do Universo, somos usufrutuários do esforço e do sacrifício de milhões de


existências.

Cedamos algo de nós mesmos, em favor dos outros, pelo muito que os outros fazem por nós.

Recordemos, desse modo, o ensinamento do Cristo.

Se encontrares algum cadáver, dá-lhe a bênção da sepultura, na relação das tuas obras de
caridade, mas, em se tratando da jornada espiritual, deixa sempre "aos mortos o cuidado de
enterrar os seus mortos".//

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