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Módulo I. Construção civil e meio ambiente.

Introdução.

A indústria da construção civil tem uma participação de,


aproximadamente, 40% na economia mundial, influenciando o meio
ambiente e a sociedade.

Como indústria abrangente e diversificada, tem o grande desafio de


introduzir melhorias e quebrar paradigmas, pois qualquer
modificação, por menor que seja, traz resultados muito
significativos.

A construção civil é uma atividade poluente e com um produto


final que consome muitos recursos naturais.

Seus maiores impactos abrangem a operação dos edifícios, que


consome mais de 40% de toda energia produzida no mundo. No
entanto, as fases de construção e reforma, produzem, anualmente,
cerca de 400 kg de entulho por habitante, equivalente a 40% de todo
resíduo criado por todas as atividades humanas.

A construção civil é uma indústria vital para a economia do país,


responsável pela criação de empregos e por uma alta demanda de
insumos e produtos. Apesar do seu papel de destaque no ramo
econômico, o setor da construção é um dos que mais causam
impactos ambientais.

Os impactos da construção civil no meio ambiente são inúmeros,


pois acontecem desde a extração das matérias-primas
necessárias, passando por todo o processo de construção e
continuando durante a utilização das edificações. Dessa forma, é
necessário conciliar o desenvolvimento da indústria da
construção e a preservação ambiental, para que exista o
crescimento sustentável.

Os insumos da construção civil e o meio ambiente.

Os insumos usados na construção civil são, em grande parte,


produzidos com alto consumo de energia e grande liberação de
gases de efeito estufa, a exemplo da produção de cimento, que gera
de 8% a 9% de todo o CO² emitido no Brasil. O setor é responsável,
ainda, pelo consumo de 66% de toda madeira extraída, gera 40% de
todo o resíduo na zona urbana, além de ser uma atividade causadora
de poeira, seja na extração de matéria prima, ou na obra.

Os desperdícios no setor também são grandes, como o de cimento,


cujas perdas médias são estimadas em 56%. Somente neste item,
se essas perdas fossem reduzidas para 6%, seria possível aumentar
em 50% a produção de edificações, mantendo-se constante o
consumo desse insumo. Claro que, na prática, não é tão simples
assim. Mas esta conta rápida serve para demonstrar o grande
potencial que a indústria da construção tem para reduzir impactos
ambientais.

Os principais impactos da construção civil no meio ambiente e


estratégias eficientes para mitigá-los.

Impactos da construção civil no meio ambiente

Estudar os impactos da construção civil no meio ambiente é


importante para todo profissional da área, principalmente por conta
das legislações e normas existentes. No Brasil, por exemplo, a Lei
n° 10.295, conhecida como lei da sustentabilidade, influencia
diretamente a construção civil. Conheça alguns aspectos que
merecem destaque.

Impactos positivos

A construção civil — apesar de ser um dos maiores vilões com


relação aos impactos ambientais — pode proporcionar alguns
impactos positivos, que estão ligados diretamente à sustentabilidade.
Existem dois grandes exemplos que podem ser citados: a
reciclagem e a geração de energia.

Diversas pesquisas acadêmicas utilizam resíduos, tanto da


construção civil quanto em outras indústrias, na composição dos
materiais utilizados nas obras. Por exemplo, os pneus podem ser
utilizados na fabricação dos ligantes asfálticos para a pavimentação
de estradas, e o plástico reciclado pode ser usado na composição de
argamassa.

Quanto à geração de energia, atualmente as construções


sustentáveis têm focado em consumir menos luz, além de gerar sua
própria energia por fontes renováveis. A vantagem disso é que
construções menores, como casas, geram mais energia do que
consomem, e podem passar a fornecê-la para a rede.

Impactos negativos

Há diversos impactos da construção civil no meio ambiente que


acabam sendo prejudiciais. Porém, a maioria deles tem soluções que
visam reduzir os danos causados. Entre os impactos negativos,
podemos citar:

• ruídos;
• emissão elevada de gás carbônico;
• desperdício de água;
• consumo alto de energia;
• geração de resíduos;
• impermeabilização do solo;
• Mudanças em depósitos hídricos naturais;
• Poluição e aquecimento global.

Ruídos.

Normalmente, os ruídos são associados somente com a etapa de


construção, porém, existem construções, como as estradas e
indústrias, que apresentam um alto nível de barulho, mesmo durante
o uso da edificação. Para reduzir esse impacto, é importante escolher
equipamentos com menor emissão de ruído, além de optar por
sistemas construtivos com isolamento acústico.

Impactos sonoros podem ser nitidamente percebidos durante as


obras, mas não se resumem a elas. A construção de uma casa de
shows, um estádio de futebol, um terminal de ônibus ou um shopping
são exemplos de edificações que podem causar ruídos durante seu
funcionamento e levar a perturbações nas vizinhanças diariamente.

É por isso que observar o Plano Diretor de uma cidade é tão


importante, visando entender as limitações de cada tipo de
construção e seus impactos ambientais locais.

Emissão de gás carbônico.


A emissão de gás carbônico está diretamente relacionada ao
aquecimento global e às mudanças climáticas. O principal culpado é
a produção de cimento, portanto, escolher materiais alternativos ou
reduzir a utilização desse material na construção são soluções
sustentáveis, que reduzem os impactos ambientais.

Desperdício de água.

O desperdício de água é muito comum, tanto na execução das obras


quanto na utilização, mas é facilmente contornável. Políticas de
reutilização de água da chuva e conscientização sobre o uso desse
recurso resultam em economias significativas.

Como é difícil de ser controlado e quantificado, esse é um dos


impactos ambientais mais sentidos nessa indústria. Devido a isso, as
edificações devem ser preparadas para a reutilização de água da
chuva, amenizando o desperdício hídrico que frequentemente
acontece.

Antes mesmo das obras ficarem prontas, é comum que haja um


grande uso de água para diversos serviços, como a limpeza do
canteiro, que comumente tem muita poeira e sujeira, e até para o
cuidado com a saúde dos trabalhadores.

Consumo elevado de energia.

A energia consumida na fase de execução das edificações é


extremamente elevada. Contudo, é possível optar por equipamentos
mais modernos, que apresentam menores consumos de energia.
Além disso, adotar projetos sustentáveis que aproveitam a luz
natural, por exemplo, auxiliam na diminuição desse impacto.

De forma isolada, uma única edificação não parece fazer diferença


no consumo de energia de um município. Mas se pensarmos em todo
um novo bairro, ou na evolução de uma cidade durante os anos,
podemos perceber que esse gasto aumenta consideravelmente com
a chegada de novas edificações.

Além disso, há muito desperdício de energia nos canteiros de obras,


com maquinário ligado enquanto não está sendo usado, por exemplo.
Um gestor preocupado com esses impactos ambientais pode obter
uma economia fundamental no final da construção, quando os
orçamentos costumam ficar apertados.

Geração de Resíduos.

Todo o processo construtivo apresenta geração de resíduos, muitos


deles não recicláveis. Os resíduos recicláveis podem ser separados
corretamente, e outros, como restos de tijolos, podem servir como
agregados na composição de argamassa.

Entre diversas atividades produtivas, o setor de construção civil é um


dos que mais geram resíduos. Isso, muitas vezes, está relacionado
à falta de processos adequados e aos materiais disponibilizados
para cada serviço. Um melhor gerenciamento nesse quesito, além
de representar um ganho para o meio ambiente, também gera
economia para a obra.

Uma das maneiras de conseguir isso é dar aos operários apenas a


quantia necessária de recursos para o seu trabalho, contando com
uma porcentagem de desperdício, que sempre existirá devido a
quebras e imperfeições. Além disso, é possível diminuir a geração de
resíduos com o uso de materiais reutilizáveis, como escoras
metálicas em vez de um escoramento de madeira, por exemplo.

Impermeabilização do solo.

A impermeabilização do solo é um grave problema, principalmente


nos grandes centros urbanos, uma vez que impede que a água
escoe, aumentando as chances de alagamento. Existem várias
soluções para esse problema, como a adoção de telhados verdes e
a utilização de asfaltos e concretos mais porosos, que permitem a
passagem da água.

Mudanças em depósitos hídricos naturais


O gasto hídrico também pode ser notado em obras hidráulicas que
não foram bem executadas e em tubulações que apresentam
problemas. Como os canos estão sempre embutidos em alvenaria ou
escondidos em mochetas, alguns vazamentos só são percebidos
pelo aumento na conta de água ou por complicações que podem
demorar a aparecer.
Além disso, dependendo da localização da obra, ela pode ser
responsável por afetar os lençóis aquáticos ou até a
impermeabilização do solo. É importante que esses lugares sejam
muito bem avaliados e que os impactos ambientais sejam os
menores possíveis, já que essas intervenções podem levar a
desastres.

Poluição
A construção civil pode ser responsável pelo crescimento da poluição
quando as leis e normas não são respeitadas e as edificações são
feitas sem o cuidado necessário com o meio ambiente. Um exemplo
são sistemas de tratamento de esgoto construídos de forma errada.
Além disso, o armazenamento incorreto de materiais pode acabar
poluindo o solo, a água e o ar.

Por outro lado, o setor pode contribuir para a diminuição desses


impactos ambientais com a criação de sistemas de tratamento de
esgoto. Ou, de maneira mais indireta, com a construção de parques,
por exemplo.

Aquecimento global
O segmento pode ter impacto direto sobre o aquecimento global,
grande preocupação mundial. Principalmente devido a legislações e
práticas que ainda não preveem, por exemplo, o replantio de
árvores para minimizar os danos gerados durante uma obra.

Apesar disso, muitas empresas já têm adotado medidas e


repaginado seus projetos para que contenham mais áreas verdes,
como uma forma de melhorar o bem-estar ambiental e atrair
clientes. Em certas edificações, esses locais podem ser vistos no
último pavimento, de modo que as corporações conseguem
beneficiar a natureza otimizando o espaço da construção.

O que fazer para a redução dos impactos?

Para seguirmos no caminho que nos levará a soluções realmente


eficazes, devemos contemplar três pontos:

a) viabilidade econômica para os investidores,


b) atendimento das necessidades dos usuários e
c) produção com técnicas que reduzam os riscos de acidentes
no canteiro e doenças do trabalho.
As possibilidades de intervenção para a redução dos impactos são
distintas em cada fase – desde a concepção, passando pelo
projeto, até a construção, uso e manutenção. É de grande
importância levar isso em consideração. Cerca de 80% do custo de
uma edificação está na fase de uso e manutenção. Portanto, detalhes
na concepção e projeto terão grandes impactos nos custos futuros
de operação e manutenção de um prédio.

Num primeiro momento, não é necessário investir em novas


tecnologias, nem mudar as práticas atuais. Basta alterar a cultura
organizacional, visando reduzir as perdas e a geração de entulho.
Embora isso não dependa de grandes investimentos, as novas
regras levam algum tempo para serem absorvida por todos
envolvidos.

Entre as soluções simples de serem adotadas estão a redução do


consumo de energia e água, aumento da absorção da água de
chuva, redução do volume de lixo e/ou reciclagem, facilidade de
limpeza e manutenção, utilização de materiais reciclados,
aumento da durabilidade do edifício e a possibilidade de
modernização ao término de sua vida útil.

O consumo de energia.

Para reduzir o consumo de energia, na fase de concepção e projeto,


deve-se buscar o aproveitamento da luz solar. Porém, é importante
prever o uso de brises ou outros elementos de sombreamento da
fachada, para prevenir a incidência direta do sol. Outra providência é
utilizar ventilação natural, a fim de reduzir o uso de ar condicionado.
As luminárias e lâmpadas de alta eficiência também geram grande
economia. E os sistemas de aquecimento solar para a água tornam-
se cada vez mais acessíveis, resultando em grande economia na
fase de uso das edificações.

Reaproveitamento da água.

O reaproveitamento de águas cinzas já é realidade, embora ainda


haja grande resistência. O mercado dispõe de estações de
tratamento de alta eficiência, possibilitando o reuso de águas
servidas. A reutilização da água da chuva e da condensação de ar
condicionado, além da irrigação automatizada, estão entre as outras
soluções que economizam. Metais, torneiras e bacias sanitárias, com
dispositivos de redução de vazão, são utilizados, cada vez com mais
freqüência, em diversas obras.

Outra recomendação é especificar materiais de acabamento, de


pisos e paredes, de fácil manutenção e limpeza. Materiais muito
porosos e com facilidade de manchar, necessitarão de mais água pra
sua limpeza. Enfim, as possibilidades são inúmeras, basta fazer o
básico bem feito, com controle e dedicação, que os bons resultados
irão aparecer. Temos muito a fazer ainda, mas, se começarmos pelas
soluções mais simples, alcançaremos bons resultados, com retorno
financeiro aos investidores e usuários, estimulando sempre o ciclo de
melhoria.

E assim, por diante.

Considerações finais.

Edificações mais sustentáveis são fundamentais para a


sociedade, para o crescimento da indústria da construção e para
a conservação do meio ambiente. Se o setor se dedicar a essas
melhorias e combater desperdícios, pode evoluir muito, gerando
economia, bem-estar e saúde.

Os impactos ambientais gerados pela construção civil são inevitáveis


para a continuidade do desenvolvimento das cidades. No entanto, o
setor pode atuar como um agente transformador quando segue
políticas para redução de mudanças prejudiciais ao meio ambiente.
Afinal, ainda há muita margem para diminuir os desperdícios e
melhorar o reaproveitamento de materiais.

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