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Empreendedorismo e
Gestão para Professores
do Ensino Médio
Fundamentos do
Empreendedorismo
Volume
ORGANIZAÇÃO
Joysi Moraes
Sandra R. H. Mariano
Robson Moreira Cunha
A Coleção Empreendedorismo e Gestão para Professores do Ensino Médio é composta por 10 volumes.
Volume 1: Fundamentos do Empreendedorismo
Volume 2: Práticas e Processos de Gestão
Volume 3: Criatividade e Atitude Empreendedora
Volume 4: Práticas Pedagógicas para Educação Empreendedora
Volume 5: Modelagem de Negócios
Volume 6: Comunicação e Marketing Digital
Volume 7: Finanças e Viabilidade de Projetos
Volume 8: Elaboração de Produto Tecnológico Educacional
Volume 9: Design e Ofícios Artesanais na Educação
Volume 10: Ferramentas Digitais na Educação
ISBN: 978-65-87875-20-0
1. Empreendedorismo – Administração. I. Título. II. Série.
CDD: 658.4012
Conceituando o empreendedorismo
Meta:
Objetivos:
Ao final deste capítulo, você deverá ser capaz de:
reconhecer o processo de evolução do empreendedorismo ao
longo dos séculos, desde a Idade Média até os dias atuais;
identificar as principais características das escolas de pensamento
no campo do empreendedorismo;
caracterizar o empreendedorismo como um conceito
contemporâneo multifacetado.
Volume 1: Fundamentos do Empreendedorismo 99
1. Introdução
Vivemos em um mundo em contínuo processo de transformação.
A dinâmica da sociedade em que vivemos gera grandes mudanças
não só no ambiente de trabalho, mas em todos os aspectos de nossas
vidas. Por exemplo, em um passado nem tão distante, estávamos
acostumados a assistir a programas de televisão somente por meio das
emissoras de TV aberta, como Globo, Record, ou mesmo a extinta TV
Manchete. No entanto, para boa parte das pessoas, esse hábito sofreu
grandes transformações nos últimos anos. Hoje em dia, em vez de ligar
a TV e simplesmente assistir ao programa que está passando no canal
selecionado, podemos escolher entre a TV aberta, a programação da
TV a cabo, ou mesmo buscar uma série ou filme que nos agrade em
um dos populares serviços de streaming, como Netflix ou Globo Play.
Vejam como a simples e corriqueira atividade de se sentar no sofá para
assistir à TV vem mudando rapidamente.
Apesar das mudanças já ocorridas, novas mudanças ainda
são esperadas, enquanto muitas outras virão mesmo sem que
estejamos esperando por elas. Isso tem tudo a ver com a ideia de
empreendedorismo, cujo conceito, nesse mundo em constante
transformação, também vem sofrendo diversas modificações para se
ajustar às mudanças na sociedade, refletindo sua evolução ao longo
dos últimos séculos.
Neste capítulo, vamos fazer uma retrospectiva histórica para
possibilitar um entendimento mais amplo da evolução do conceito
do empreendedorismo e das principais visões existentes, desde a
publicação dos primeiros estudos acerca do tema até o que se pensa
Autores Coleção Empreendedorismo e Gestão para
Gabriel Marcuzzo Cavalheiro e Professores do Ensino Médio
Sandra R. H. Mariano
100 Capítulo 4: Conceituando o empreendedorismo
2. Evolução do conceito de
empreendedorismo
Na história da humanidade, há pouca dúvida quanto à associação
entre a figura do empreendedor e a do agente de mudança. Os tempos
mudaram, a mentalidade mudou, mas os empreendedores continuam
sendo associados à criação, inovação e risco, conceitos estes tão
antigos quanto a humanidade. No entanto, a busca pela definição de
empreendedor é, até hoje, um dos grandes desafios a serem resolvidos
pelo empreendedorismo como disciplina acadêmica, chegando a ser
comparada, de forma inusitada, à caça pelo Heffalump, um personagem
da história do Ursinho Pooh, como ilustra o trecho a seguir:
isso a seguir.
Séculos V a XV
Lento progresso tecnológico
Manufaturas artesanais
Trocas comerciais entre cidades e reinos
Tendo em vista o ritmo lento de progresso tecnológico da
humanidade até o final da Idade Média — período que ocorreu entre
os séculos V e XV — as atividades empreendedoras sofreram poucas
modificações. Em primeiro lugar, as trocas comerciais permaneceram
estáveis e as manufaturas mantiveram um caráter artesanal. Assim, ao
longo do período medieval, as atividades empreendedoras evoluíram
lentamente. O maior desafio era a realização de atividades comerciais
envolvendo diferentes cidades e reinos. Contudo, apesar do maior risco
e complexidade dessas transações, poucos registros foram guardados
para análise posterior. Por exemplo, mesmo com o intenso comércio
entre cidades-estados como Veneza, Genova e Pisa, não há relatos
de estudos buscando compreender e aperfeiçoar configurações de
iniciativas empreendedoras.
Nesse período (séculos V a XV), o termo “empreendedor” era
utilizado de forma bastante genérica para identificar administradores
de grandes projetos.
Nos séculos subsequentes, as atividades empreendedoras se
expandiram por meio da intensificação da produção de conhecimento
experimental e o surgimento de grandes oportunidades comerciais.
Século XVI
Responsabilidade e coordenação de operações militares
No século XVI, o conceito de “empreendedor” estava fortemente
associado aos empreendimentos militares, tais como manobras
de ataque e defesa. Dessa forma, o termo “entrepreneur”, na sua
origem francesa, era utilizado no contexto de atividades militares
para identificar um indivíduo que “tomava a responsabilidade e
coordenava uma operação militar”.
Século XVII
Execução de obras públicas
No século XVII, o termo passou a descrever um indivíduo cuja
atividade implicava tomar riscos elevados associados a empreendimento
envolvendo contratos de obras públicas com o governante. Nesse
período, o termo “empreendedor” não era aplicado para mercadores ou
artesãos, mas sim para os encarregados da execução de obras públicas,
incluindo infraestrutura de uso civil, como pontes, ruas e aquedutos, assim
como fortificações militares. Com isso, o termo estava frequentemente
associado a quatro domínios: política, guerra, justiça e dinheiro.
Século XVIII
Criação e condução de empreendimentos
No século XVIII foram encontrados textos empregando o termo
“empreendedor” para descrever um indivíduo que “criava e conduzia
empreendimentos”, o que pode ser considerado uma abordagem mais
próxima do seu sentido atual.
Século XIX
Tomada de risco em qualquer tipo de empreendimento
No século XIX o termo “empreendedor” passou a ser aplicado de
forma mais ampla, incluindo indivíduos que assumem risco em qualquer
tipo de empreendimento. Ou seja, o empreendedor passou a incluir
não apenas o empresário dedicado a fornecer serviços para o governo,
mas também todos os empresários com foco em vender seus produtos
e serviços para pessoas ou empresas.
ATIVIDADE 1
Resposta comentada
E então? Independentemente de ter acertado ou não, em qual século
você gostaria mais de empreender? Na Idade Média, você seria o
artesão que faria o equipamento para o torneio de cavaleiros, em
pequena escala, e, no melhor cenário, poderia vender equipamentos
para as cidades vizinhas. Já avançando para o século XVI, lá estaria
você, estrategicamente coordenando uma operação militar de
tomada de uma fortaleza ocupada pelo exército inimigo! Chegando
ao século XVII, seu problema seria gerir uma obra pública, e tentar
ganhar um contrato com o governante para construir uma série de
pontes de madeira que resistissem às enchentes, ao mesmo tempo
atendendo às expectativas do exigente rei enquanto salvava seu
pescoço. Mais interessante e seguro seria empreender no século
ATIVIDADE 2
Resposta comentada
A saga do empreendedor Andrew Carnegie é caracterizada por
um atento olhar para um mundo em transformação. Por viver no
século XIX, Carnegie percebeu muito rapidamente que tecnologias
disruptivas como ferrovias e grandes máquinas a vapor poderiam
mudar rapidamente o mundo. No entanto, a implementação em
grande escala dessas tecnologias causaria um aumento explosivo
na demanda por aço. Portanto, mesmo reconhecendo os grandes
riscos e necessidade de grandes investimentos associados à criação
de novas siderúrgicas, Carnegie conseguiu costurar acordos com
sócios e investidores para atender à demanda crescente.
Resposta comentada
Os empreendedores Andrew Carnegie e John Rockfeller
alcançaram um gigantesco sucesso em suas atividades
empresariais. Entretanto, apesar de atuarem em setores diferentes,
optaram por destinar grande parte de suas fortunas para causas
sociais. Afinal, o que motivou essa atitude na fase final da vida dos
dois empreendedores? Certamente, cada um possuía uma visão
de mundo própria, porém, os grandes volumes de investimentos
associados à filantropia indicam uma preocupação em comum
com a situação econômica e social de grande parte da população.
Com isso, os empreendedores buscaram utilizar seus recursos
para maximizar seu legado de realizações. Como vimos acima,
Carnegie priorizou iniciativas na área da educação, enquanto
Rockfeller enfatizou a melhoria da saúde pública. Mesmo não
gerando lucro, essas iniciativas de grande escala geraram enormes
desafios operacionais para se tornarem realidade, pois envolviam
a escolha das melhores regiões e a seleção de profissionais
qualificados para conduzir as atividades das instituições com
eficiência e eficácia. Essas iniciativas, assim como as corporações
fundadas por esses empreendedores, deixaram registrados
para sempre os nomes deles na história da humanidade.
1
GEORGE, N. M.; PARIDA, V.; LAHTI, T.; WINCENT, J. A systematic literature review of
entrepreneurial opportunity recognition: insights on influencing factors. International
Entrepreneurship Management Journal, n. 12, p. 309–350, 2016.
2
ALVAREZ, S.; BARNEY, J. B. Discovery And Creation: Alternative Theories of Entrepreneurial
Action. Strategic Entrepreneurship Journal, v. 3, n. 6, p. 11–26, 2007.
Reconhecimento de Oportunidade
Análise Exploração
Descoberta de Oportunidade
Criação de Oportunidade
3
MORRIS, M.; KURATKO, D. F. What entrepreneurs create?: Understanding four types of venture.
Cheltenham, UK: Edward Elgar Publishing, 2020.
4. O empreendedorismo como
conceito contemporâneo
multifacetado
Nos últimos anos, o conceito de empreendedorismo ganhou
muita visibilidade, tanto no meio acadêmico, com a elaboração de um
crescente número de pesquisas com objetivos variados, assim como
na política, tendo em vista que passou a ser um importante item na
formulação de políticas públicas em todos os níveis de governo. Desse
modo, o empreendedorismo deixou de ser apenas o processo de
coordenação de recursos escassos no processo de abertura de novas
empresas e passou a ser também reconhecido como um conjunto
de atitudes, comportamentos e competências capazes de formar
uma cultura própria, cada vez mais desejável para o progresso e
bem-estar da sociedade.
Assim, o empreendedorismo vem sendo fortemente influenciado
por mudanças políticas, econômicas e tecnológicas. Em um mundo
de grande complexidade e dinamismo, cada vez mais, o processo
empreendedor demanda uma abordagem multidisciplinar, envolvendo
pesquisas sobre oportunidades, redes de acesso às informações,
requisitos legais e regulatórios e perfis pessoais. Ao mesmo tempo, para
causar impacto positivo e transformar a comunidade, o empreendedor
necessita compreender o conceito de valor para cada grupo de pessoas
que são afetadas pelo empreendimento. Com isso, novas concepções
teóricas sobre empreendedorismo devem ser capazes de combinar
ATIVIDADE 3
Conceituando empreendedorismo
hoje
Muitas vezes o ato de empreender é visto como somente a criação de
um novo CNPJ. No entanto, esta é certamente uma visão muito simplista
e equivocada. Embora o empreendedorismo venha ganhando bastante
visibilidade na mídia e, até mesmo, em políticas públicas em níveis
municipal, estadual e federal, pensadores vêm buscando compreender
esse fenômeno e suas implicações há alguns séculos. Reflita sobre
quais são os sentidos do termo empreendedor atualmente.
Se quiser, utilize o espaço a seguir para fazer anotações e esquemas
mentais e organizar sua cabeça. Depois disso, convide seus colegas (ou
até seus alunos!) para compartilharem as ideias deles e construírem
juntos uma nuvem de palavras desta atividade. Assim vamos, juntos,
conhecendo o significado do termo “empreendedorismo” para nosso
grupo. Basta acessar o link https://inovaeh.sead.ufscar.br/wp-content/
uploads/2019/04/Tutorial-WordArt.pdf e aprender como se faz!
Resposta comentada
Como começamos a conversar, logo no início deste capítulo, a
definição de empreendedor é, até hoje, um dos grandes problemas
a serem resolvidos pelo empreendedorismo. Portanto, embora
esta atividade não tenha uma resposta única, esperamos que
tudo o que discutimos tenha ajudado você a enxergar diferentes
perspectivas do empreendedor, de forma a tentarmos adotar uma
significação para o empreendedorismo nos dias de hoje. Suas
ideias acerca do significado de empreendedorismo podem ter
passado por aspectos associados a políticas públicas, à criação de
novas empresas, a um conjunto de atitudes, comportamentos e
competências, a uma cultura própria, ou a mudanças econômicas
e tecnológicas. Não importa o que você rascunhou no espaço
aí de cima, tenho certeza de que você levou em consideração
uma abordagem multidisciplinar, oportunidades, acesso às
informações, riscos, incertezas e perfis pessoais. Como dissemos
antes, “Os tempos mudaram, a mentalidade mudou, mas
empreendedores são associados à criação, inovação, risco, sendo
tão antigos quanto a humanidade em si.” E esse pensamento não
poderia ser mais atual!
5. Conclusão
Conforme observado, o empreendedorismo é um fenômeno
complexo e, portanto, bastante desafiador para ser conceituado.
Trata-se de um fenômeno muito antigo e presente nas mais diversas
culturas, mas que vem sofrendo constante evolução. No entanto,
até o século XIX, esse fenômeno era completamente ignorado
por pensadores. Isso começou a mudar com os estudos pioneiros
do francês Richard Cantillon, que passou a buscar compreender
o empreendedorismo.
A construção histórica ajuda a explicar o caráter heterogêneo,
fragmentado e multifacetado do empreendedorismo, uma vez que
parte considerável dos pesquisadores tomou emprestado teorias
dos campos da economia, psicologia e sociologia e as adaptaram ao
estudo de diversos fenômenos relacionados ao empreendedorismo.
Contemporaneamente, a maior parte das pesquisas do campo
do empreendedorismo vem sendo conduzidas por professores e
pesquisadores da área de administração. Entretanto, com a crescente
importância do empreendedorismo, pesquisadores de outros
campos do saber, como a educação, por exemplo, têm passado a
realizar pesquisas na área, reforçando, assim, o caráter multifacetado
do empreendedorismo.
6. Resumo
O empreendedorismo é um fenômeno muito antigo, refletido
principalmente em atividades de produção artesanal de roupas,
calçados, ferramentas e outros objetos de uso diário. No entanto,
o empreendedorismo foi ignorado como objeto de estudo por
muitos séculos.
O termo “empreendedorismo” sofreu mudanças profundas ao
longo dos séculos. No século XVI, o termo era associado a operações
militares. Já no século XVII, passou a descrever as atividades de um
indivíduo exposto a riscos ao firmar contratos com o governante.
Somente nos séculos XVIII e XIX, passou a possuir um sentido próximo
ao atual com foco na criação e condução de empreendimentos.
A escola de pensamento econômico buscou identificar os principais
riscos associados à atividade empreendedora. Nessa perspectiva,
7. Leitura recomendada
CORREA, C. Sonho grande: como Jorge Paulo Lemann, Marcel
Telles e Beto Sicupira revolucionaram o capitalismo brasileiro e
conquistaram o mundo. Rio de Janeiro: Sextante, 2013.
A escritora Cristiane Correa descreve como os empreendedores
Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira
desenvolveram, ao longo de quatro décadas, um bem-sucedido
modelo de negócio voltado para a aquisição e, posteriormente,
para a reestruturação de grandes corporações.
9. Referências
ALVAREZ, S. A.; BARNEY, J. B. Discovery And Creation: Alternative
Theories of Entrepreneurial Action. Strategic Entrepreneurship
Journal, v. 3, n. 6, p. 11-26, 2007. Disponível em: https://www.
effectuation.org/wp-content/uploads/2017/05/Alvarez_et_al-
2007-Strategic_Entrepreneurship_Journal-1.pdf. Acesso em: 3
mar. 2022.
AMABILE, T. Creativity in context: update to social psychology of
creativity. Colorado, US: Westview Press, 1996.
CANTILLON, R. Ensaio sobre a natureza do comércio em geral.
Tradução: Fani Goldfarb Figueira. Curitiba: Segesta, 2002.
GEORGE, N. M.; PARIDA, V.; LAHTI, T.; WINCENT, J. A systematic
literature review of entrepreneurial opportunity recognition:
insights on influencing factors. International Entrepreneurship
Management Journal, n. 12, p. 309-350, 2016. Disponível em:
https://econpapers.repec.org/article/sprintemj/v_3a12_3ay_3a2
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em: 3 mar. 2022.
KENT, C. A. Entrepreneurship education: current developments,
future directions. Praeger: Westport, 1990.
KILBY, P. Entrepreneurship and economic development.
Detroit: Free Press, 1971.
KNIGHT, F. Risk, uncertainty and profit. Eastford: Martino Fine
Books, 1921.
LÉVESQUE, B. Empreendedor coletivo e economia social: outra
forma de empreender. Revista Virtual de Gestão de Iniciativas
Sociais, v. 1, p. 44-64, 2004.
MCCLELLAND, D. C. Characteristics of successful entrepreneurs.
The Journal of Creative Behavior, v. 21, n. 3, p. 219-233, 1987.