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COLEÇÃO

Empreendedorismo e
Gestão para Professores
do Ensino Médio

Fundamentos do
Empreendedorismo

Gabriel Marcuzzo Cavalheiro


Sandra R. H. Mariano

Volume

ORGANIZAÇÃO
Joysi Moraes
Sandra R. H. Mariano
Robson Moreira Cunha

Departamento de Empreendedorismo e Gestão


Universidade Federal Fluminense
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É proibida a reprodução total ou parcial desta obra,


por qualquer meio, sem prévia autorização da
Universidade Federal Fluminense.

Universidade Federal Fluminense Autores


Gabriel Marcuzzo Cavalheiro
Reitor Sandra R. H. Mariano
Antônio Claudio Lucas da Nóbrega
Organizadores
Vice-reitor Joysi Moraes
Fabio Barboza Passos Sandra R. H. Mariano
Diretor da Faculdade de Administração Robson Moreira Cunha
Martius Vicente Rodriguez y Rodriguez Coordenação de Desenvolvimento Instrucional
Chefe do Departamento de Empreendedorismo e Gestão Cristine Costa Barreto
Joysi Moraes Desenvolvimento Instrucional
Cristine Costa Barreto
Revisão Técnica
Daniella Munhoz da Costa Lima
Monica Garelli Machado
Revisão de Língua Portuguesa
Patrícia Sotello

Stephanie Lima de Castro

Yellow Carbo Design

A Coleção Empreendedorismo e Gestão para Professores do Ensino Médio é composta por 10 volumes.
Volume 1: Fundamentos do Empreendedorismo
Volume 2: Práticas e Processos de Gestão
Volume 3: Criatividade e Atitude Empreendedora
Volume 4: Práticas Pedagógicas para Educação Empreendedora
Volume 5: Modelagem de Negócios
Volume 6: Comunicação e Marketing Digital
Volume 7: Finanças e Viabilidade de Projetos
Volume 8: Elaboração de Produto Tecnológico Educacional
Volume 9: Design e Ofícios Artesanais na Educação
Volume 10: Ferramentas Digitais na Educação

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

C376f Cavalheiro, Gabriel Marcuzzo


Fundamentos de empreendedorismo / Gabriel Marcuzzo Cavalheiro,
Sandra R. H. Mariano ; organizadores: Joysi Moraes, Sandra R. H. Mariano,
Robson Moreira Cunha. – Niterói : Departamento de Empreendedorismo e
Gestão / Universidade Federal Fluminense, 2022.
248 p. : il. – (Coleção empreendedorismo e gestão para professores do
ensino médio ; 1)

ISBN: 978-65-87875-20-0
1. Empreendedorismo – Administração. I. Título. II. Série.
CDD: 658.4012

Bárbara Sotello CRB-7/7174


Capítulo 5:

Tipos de empreendedorismo

Meta:
Este capítulo aborda, primeiramente, o empreendedorismo como

empreendedorismo, a saber: o empresarial, o social e o corporativo


(também chamado de “intraempreendedorismo”).

Objetivos:

reconhecer o papel do empreendedorismo como um

identificar as principais características do empreendedorismo

identificar as principais características do empreendedorismo

identificar as principais características do intraempreendedorismo (ou


empreendedorismo corporativo).
Volume 1: Fundamentos do Empreendedorismo 135

1. Introdução
Você já percebeu que o termo “empreendedorismo” vem sendo cada
vez mais utilizado nos programas de televisão, filmes e, até mesmo, nas
conversas do dia a dia? Pois é, isso não é uma simples coincidência,
mas o reflexo da crescente importância do empreendedorismo no
mundo atual. Quase todos os dias, os jornais apresentam matérias,
tais como a de um empreendedor se destacando ao gerar empregos
com seu novo restaurante, aberto após a demissão de uma grande
empresa; ou a de um universitário prodígio, que ficou rico antes de se
formar, com a criação de um aplicativo revolucionário; e até mesmo
uma empreendedora que vem conquistando novos clientes para seu
salão de beleza em uma grande comunidade.
Até nas novelas o empreendedorismo tem seu espaço garantido
há muitos anos no imaginário popular brasileiro. Afinal, quem não se
lembra da empreendedora Maria da Paz, interpretada pela talentosa
Juliana Paes, na novela A dona do pedaço (2019)? A personagem era uma
bem-sucedida empreendedora dona de uma cadeia de confeitarias
chamada Bolos da Paz. A trama mostrava como uma empreendedora
apaixonada pela criação de receitas de bolo conseguiu transformar sua
paixão em um negócio capaz de fidelizar uma grande clientela.

Neste trailer (ou teasing) da novela A dona do


pedaço

e se tornou uma empreendedora de sucesso.


Fonte: YouTube

Outro exemplo bem mais antigo de empreendedorismo inspirando


as tramas noveleiras foi o da novela Vale tudo (1988-1989), filmada no
auge da crise inflacionária dos anos 1980. Nela, a renomada atriz Regina
Duarte interpretava a personagem Raquel Accioli, que durante a trama
lutou muito para expandir seu negócio de venda de salgados na praia
até chegar a se tornar dona de um badalado restaurante.

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136 Capítulo 5: Tipos de empreendedorismo

Ou seja, o empreendedorismo está mesmo por todos os lados e veio


para ficar! Por isso, é muito importante conhecer os diferentes tipos
de empreendedorismo para poder reconhecê-los em nossa sociedade.
Esta é uma capacidade chave para poder ensinar empreendedorismo,
assim como orientar empreendedores sobres os próximos passos para
seu negócio. E você, já parou para pensar quais são os principais tipos
de empreendedorismo?

2. Empreendedorismo como forma de


realizar o projeto de vida
Conforme comentamos no capítulo anterior, o conceito de
empreendedorismo tem sido examinado por meio de diferentes
perspectivas teóricas que reconhecem as constantes mudanças
em nossa sociedade. Como resultado dessa grande abrangência, o
empreendedorismo deixou de ser uma iniciativa limitada somente
aos objetivos profissionais e passou a contemplar também objetivos
pessoais fortemente relacionados com um projeto de vida. Lembra
da personagem interpretada por Juliana Paes que citamos na seção
anterior? Ela amava criar receitas de bolo e, motivada por essa paixão,
conseguiu tornar-se dona de uma renomada cadeia de confeitarias.
Esse foi o modo que ela arranjou para realizar seu projeto de vida.
Mas há inúmeras outras formas de fazer isso. Cada vez mais,
os grandes problemas da sociedade, tais como pobreza, poluição,
aquecimento global, problemas na educação e saúde pública, afetam
diretamente nossas vidas. Portanto, uma mentalidade empreendedora
pode ajudar muito na construção de um grande projeto de vida que
relacione um conjunto de ações individuais com a busca de soluções
para a sociedade, ou seja, o empreendedorismo pode ajudar as pessoas
a tornarem-se agentes de transformação da sociedade.
Tendo em vista a grande diversidade das atividades empreendedoras,
o empreendedorismo ocupa seus espaços em todos os segmentos da
economia. Entretanto, segundo o Global Entrepreneurship Monitor
(GEM) é possível identificar algumas áreas de destaque em relação
às iniciativas de empreendedorismo no contexto brasileiro. A Tabela
5.1 lista a distribuição percentual das principais atividades dos
empreendedores no Brasil, de acordo com o gênero.

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Tabela 5.1:
acordo com o gênero

Atividades dos Empreendedores

Masculinos Femininos

Atividade CNAE % Atividade CNAE %

Cabeleireiros e outras atividades de


13,7 14,4

Restaurantes e outros
10,8 13,7

Restaurantes e outros
9,1 12,0
automotores

5,2 10,3
vestuário e acessórios vestuário e acessórios

Outras atividades 61,2 Outras atividades 49,5

Fonte:

3. Empreendedorismo empresarial
O empreendedorismo empresarial é tradicionalmente o tipo mais
visível de empreendedorismo. De um modo geral, é caracterizado pela
busca incessante pela prosperidade econômica, embora o sucesso
financeiro não seja certamente o único objetivo dos empreendedores
de sucesso, isto é, os benefícios resultantes do empreendedorismo
empresarial vão muito além da possibilidade de criação de
prosperidade econômica para o empreendedor. Na prática, tendo em
vista que a identificação de oportunidade está fortemente relacionada
com a existência de um problema, a criação de um empreendimento
geralmente pressupõe o desenvolvimento e a implementação de uma
solução para um problema existente na sociedade. Portanto, não é
coincidência que novos empreendimentos contribuam para aumentar
a qualidade de vida, promover a sustentabilidade e, o que é muito
importante, gerar novos empregos.
Como vimos, o empreendedorismo empresarial possui um escopo
extremamente amplo, comportando atividades em todos os setores
da economia, podendo também ser realizado em diferentes escalas

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138 Capítulo 5: Tipos de empreendedorismo

e compreendendo desde iniciativas de empreendedorismo individual


até os projetos mais complexos de infraestrutura e tecnologia
envolvendo vultosos investimentos e milhares de colaboradores em
países diferentes.
Em nosso país, é possível reconhecer um número muito grande de
casos de sucesso de empreendedorismo empresarial em diferentes
atividades. Para ilustrar a variedade e a amplitude desse tipo de
iniciativa empreendedora, selecionamos exemplos de casos de sucesso
de empreendedores brasileiros que merecem destaque.

3.1 PEBMED
A startup PEBMED foi fundada, em 2012, por alunos da Faculdade de
Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF), tendo se tornado
em poucos anos a principal plataforma de conteúdos médicos do Brasil.
Logo após a formatura, os três sócios fundadores, Pedro Gemal, Eduardo
Moura e Bruno Lagoeiro, optaram por se dedicar ao desenvolvimento da
startup. A empresa pode ser definida como uma startup digital brasileira
de tecnologia da saúde com sede na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.
Seu foco se concentra principalmente no fornecimento de informações
médicas e ferramentas educacionais para especialistas, médicos de
cuidados primários e outros profissionais de saúde.
A oportunidade para o desenvolvimento da startup foi identificada
durante a disciplina de Semiologia, no 5º período do curso de graduação
em Medicina, quando o então estudante Pedro percebeu a necessidade
constante de informação médica para auxiliar na tomada de decisões
clínicas. Ao mesmo tempo, o empreendedor também percebeu que os
médicos estavam dependendo de conteúdos disponíveis em volumosos
e pesados livros que geravam grande inconveniente para o transporte
no dia a dia. Assim, com o intuito de facilitar a vida dos profissionais de
saúde, foi desenvolvida uma primeira versão de um aplicativo chamado
“iSemiologia” para disponibilização de conteúdos de exames clínicos
voltados para atender às necessidades de outros alunos de medicina.
Reconhecendo o talento dos colegas de curso Eduardo e Bruno,
assim como a confiança e amizade existente, Pedro os convidou para
transformar o projeto em uma startup, cuja marca recebeu as iniciais
dos seus fundadores Pedro, Eduardo e Bruno — PEBMED.
A missão da empresa é mudar o panorama da saúde pelo uso
de tecnologias digitais. O principal produto da PEBMED é um
aplicativo chamado Whitebook, que se tornou o aplicativo médico

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líder em vendas no Brasil. Atualmente, um quarto dos estudantes


de medicina e médicos brasileiros usa esse aplicativo, em mais de
mil municípios. De acordo com a consultoria americana APP Annie, o
aplicativo Whitebook da PEBMED foi o décimo aplicativo com maior
faturamento no Brasil em 2020.

Figura 5.1:

parte desses profissionais!


Fonte: Flickr

3.2 Cuponeria
A Cuponeria é uma startup digital brasileira com foco na distribuição
de cupons de desconto por meio de seu portal e aplicativo. O portal
“cuponeria.com.br” permite que grandes marcas disponibilizem cupons
de desconto, enquanto usuários podem usá-los em lojas físicas ou
on-line. A empresa pode ser considerada atualmente o maior site de
cupons gratuitos do Brasil. A startup foi fundada, em 2011, enquanto os
economistas Thiago Brandão e Nara Iachan ainda estavam na faculdade.
A oportunidade do negócio foi identificada enquanto Nara residia na
Argentina e, ao regressar ao Brasil, percebeu que os cupons de desconto
muito comuns no país vizinho ainda eram pouco utilizados por aqui.
Após a validação bem-sucedida de um protótipo do serviço, os sócios
fundadores convidaram o desenvolvedor Lionardo Nogueira para se
juntar à sociedade e apoiar o aperfeiçoamento da plataforma e do app.
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140 Capítulo 5: Tipos de empreendedorismo

Essencialmente, o modelo de negócios da Cuponeria envolve a


geração de receita por meio da emissão de cupons para alguns dos
principais varejistas brasileiros, assim como empresas de diversos
setores, incluindo companhias aéreas, redes de cinema, hotéis e
redes de fast-food. Assim, a Cuponeria emprega tecnologias de
internet e mobile para permitir que empresas distribuam cupons
de desconto sem a necessidade de imprimi-los fisicamente em jornais
ou em outros meios de comunicação, eliminando o inconveniente de
cortar o cupom e levá-lo à loja pelos compradores. Na prática, marcas
de consumo, lojas de varejo e usuários estão conectados por meio da
plataforma de cupons da Cuponeria, que permite a essas empresas
projetar e fazer upload de cupons eletrônicos, assim como participar
de várias campanhas de marketing envolvendo descontos on-line.
Além disso, a empresa também fornece dados históricos e em tempo
real para marcas de consumo e varejistas, incluindo o uso de cupons
e relatórios de vendas.
É dessa forma que a Cuponeria declara sua missão: “Conectamos
milhões de usuários de cupons a grandes marcas, para que possam
aumentar suas vendas e obter mais dados analíticos de seus
investimentos em marketing”. Desde sua fundação, a Cuponeria vem
alcançando um forte crescimento em termos de usuários registrados,
e também de cupons emitidos.

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Página de atividades Volume 1: Fundamentos do Empreendedorismo
141

ATIVIDADE 1

Relacionando problemas, soluções e


benefícios
Vimos que a aspiração típica do empreendedorismo empresarial é o
retorno financeiro, o lucro, mas não somente isso. Vimos também que,
geralmente, a identificação da oportunidade de negócios está associada
à resolução de um problema existente na sociedade. Tendo isso em
vista, e considerando os dois casos de êxito empresarial apresentados
— PEBMED e Cuponeria — indique, em ambos os casos: (i) qual foi
o problema constatado, (ii) qual foi a solução encontrada e (iii) qual
benefício essa solução trouxe para a sociedade.

Resposta comentada
Ao observar os diferentes segmentos econômicos de nossa
sociedade, sempre será possível identificar um grande número
de problemas. No entanto, enquanto muitos apenas reclamam,
os empreendedores buscam propor e implementar soluções.
Para os empreendedores empresariais, as soluções podem inclusive
se tornar negócios bastante rentáveis, além de geralmente trazer
benefícios para a sociedade como um todo. Analisemos, então,
os dois casos citados.
Para os fundadores da PEBMED, o problema estava relacionado
com o enorme inconveniente associado à necessidade de
transporte de volumosos e pesados livros por profissionais
de medicina (i). Tendo em vista o crescente número de ferramentas
para o desenvolvimento de aplicativos, os fundadores da PEBMED
desenvolveram um aplicativo para facilitar o acesso a uma
grande diversidade de conteúdos médicos pelo celular (ii). Com
isso, aprimoraram o desempenho por parte desses profissionais,
trazendo celeridade e refinamento na resolução dos problemas de
saúde em geral (iii).
Os fundadores da Cuponeria, por sua vez, perceberam que a
maioria das pessoas está sempre buscando descontos na compra
de produtos e serviços, enquanto as grandes marcas de consumo
e varejistas possuem interesse em atrair mais clientes. Porém, os
cupons que viabilizam esses descontos trazem a inconveniência
de terem que ser distribuídos e impressos em revistas, jornais etc.
por parte das empresas e recortados e transportados por parte dos

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clientes (i). Assim como a PEBMED, os fundadores da Cuponeria


utilizaram tecnologias digitais para facilitar o acesso aos cupons
de desconto pelo celular, atendendo aos interesses dos usuários
e também dos empresários donos de marcas de serviços, produtos e
varejo (ii). Isso trouxe benefícios aos consumidores, permitindo a
obtenção de descontos com maior facilidade, e às empresas, que,
com essa iniciativa, conseguiram atrair mais clientes e aumentar
as vendas (iii).

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4. Empreendedorismo social
O empreendedorismo social tem como principais características a
busca pela solução de problemas sociais e o foco na sustentabilidade
financeira do empreendimento a longo prazo, em vez da busca por
lucros. Nos últimos anos, o empreendedorismo social vem obtendo
crescente reconhecimento e visibilidade como um importante
instrumento de transformação da sociedade. Na prática, esse tipo de
empreendedorismo vem demonstrando resultados muito consistentes,
tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento
como o nosso. Embora não enfoque o desenvolvimento de tecnologias
complexas e sofisticadas, empreendedores sociais também são
confrontados com enormes desafios para buscar soluções criativas,
eficientes e viáveis para os grandes problemas que afligem a maior
parte da nossa população. Portanto, vale destacar que esse tipo de
empreendedorismo possui um enorme potencial de impacto positivo
em um país como o nosso, repleto de problemas sociais gigantescos,
que poderão ser encarados como oportunidades para iniciativas de
empreendedorismo social visando à transformação da comunidade.
Fundamentalmente, empreendedores sociais podem contribuir com
diversos benefícios para a sociedade, tais como a promoção do acesso
ao emprego, alimentação, energia e outros serviços críticos para pessoas
em condição de pobreza. Dessa forma, o Fórum Econômico Mundial es-
tima que mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo possam estar
sendo atualmente beneficiadas pelos resultados de projetos envolvendo
a parceria entre empreendedores sociais e grandes empresas.

O nome dele é William Henry Gates, mais conhecido

cofundador da Microsoft e figurar entre os homens mais

aplicáveis em grande escala, para resolver problemas

Fonte: encurtador.com.br/gsuD1

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144 Capítulo 5: Tipos de empreendedorismo

No entanto, apesar da sua inquestionável importância, um desafio


central dentro do empreendedorismo social é como medir o impacto
das iniciativas. Para isso, é importante destacar que o impacto social
pode ser gerado ao implementar inovações sociais voltadas para
avançar em relação aos objetivos de desenvolvimento sustentável
da Organização das Nações Unidas (ONU). Tais objetivos fornecem
uma excelente referência para a formulação de indicadores de
desempenho consistentes para mensurar o impacto de iniciativas
de empreendedorismo social.
Os desafios existentes geralmente demandam a cooperação entre
empresas, governos e cidadãos. Desse modo, para alcançar impacto
social é necessário romper barreiras setoriais por meio de colaborações
profundas para uma mudança transformativa. Como consequência
dessa interdependência, não é mera coincidência que projetos de
empreendedorismo social sejam geralmente realizados em parceria
entre empreendedores sociais e grandes empresas buscando ampliar
seu impacto social.
O impacto social positivo e sustentável pode ser obtido por meio
de um grande espectro de atividades. Entretanto, é preciso que os
indivíduos identifiquem corretamente os problemas a serem resolvidos
e também selecionem precisamente o segmento de atuação dentro de
um problema para maximizar o potencial de mudança positiva. Além
disso, também é muito importante aumentar o senso de urgência para
o estabelecimento de comprometimento e relações que possibilitem o
ganho de escala do impacto social.
Em geral, a realização de iniciativas de empreendedorismo social
demanda um conjunto de habilidades para lidar com os desafios
envolvidos. Portanto, empreendedores sociais devem possuir
habilidades como:
gerir uma complexa rede de contatos com diversos tipos de
stakeholders;
capacitar o público-alvo alcançando mudança de comportamento;
medir o impacto social;
desenvolver soluções em parcerias com stakeholders;
desenvolver soluções que ataquem a causa-raiz do problema
social;
elaborar um modelo financeiro para custear a missão do
empreendimento;
priorizar os retornos sociais e financeiros do projeto.

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O conceito de stakeholder foi proposto originalmente por Robert Freeman, no livro Strategic
Management: A Stakeholder Approach

o apoio dos stakeholders

4.1 Diferenciando empreendimentos voltados


para a base da pirâmide de empreendedorismo
social
Você já ouviu falar do Dr. Consulta? Trata-se de um serviço de
clínica popular, fundado em 2011, que oferece consultas, exames e
check-ups a preços acessíveis, parcelados em até 10 vezes, utilizando
equipamento de ponta, para pessoas que não possuem plano de
saúde, com agilidade na marcação de consulta e atendimento ao
paciente. É uma empresa que encontrou uma oportunidade e atende
a um público específico, tendo faturado mais de R$ 250 milhões
em 2018. Pode-se dizer que o Dr. Consulta é atualmente uma das
empresas que mais crescem no setor de serviços médicos em todo o
Brasil. Entretanto, o fundador da empresa, Thomaz Srougi, recebeu
o Prêmio Empreendedor Social 2019 no GSG Summit. Será que
Thomaz Srougi é mesmo um empreendedor social?
Uma questão relevante e controversa quando se fala de
empreendedorismo social refere-se à definição de qual a destinação
que deve ser dada ao lucro que a iniciativa eventualmente venha a
auferir. O ganhador do prêmio Nobel da Paz, Muhammad Yunus,
criador do Grameen Bank, ficou conhecido por oferecer microcrédito
para mulheres em Bangladesh. Para ele, o empreendedor social
não pode auferir lucro de sua iniciativa. Logo, segundo a visão de
Muhammad Yunus, o Dr. Consulta resolve um problema social
importante, pois oferece serviços médicos acessíveis à população de
menor renda, mas não é um empreendedorismo social. Esse é também
o nosso entendimento.
Em essência, o Dr. Consulta se refere a um empreendimento
empresarial que atende a população na chamada “base da pirâmide”.
Este conceito foi desenvolvido por Coimbatore Krishnarao Prahalad, em
associação com outros colegas, para definir as pessoas que sobrevivem
com menos de 2 dólares por dia, e que, portanto, formavam a base
da pirâmide — Botton of Pyramid (BOP) — termo que passou a ser
utilizado para classificar esse mercado consumidor.

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146 Capítulo 5: Tipos de empreendedorismo

Figura 5.2: Coimbatore Krishnarao


Prahalad (1941–2010).
Fonte: Wikimedia

Em nosso país, existem muitos outros empreendimentos, tais como


Dr. Consulta, que desenvolvem negócios bem-sucedidos, com fins
lucrativos e, ao mesmo tempo, voltados para servir à população na
base da pirâmide. Segundo o nosso entendimento, não são casos de
empreendedorismo social, mas vamos analisar mais detidamente esse
tipo peculiar de empreendimento? Para ilustrar essa possibilidade de
negócio, disponibilizamos dois casos a seguir:

4.1.1 Favelado Investidor


O empreendedor Murilo Duarte, de 25 anos, criado em
comunidade, formado em contabilidade e egresso de escola pública
em São Paulo, fundou um empreendimento digital de grande impacto
chamado Favelado Investidor. Essa iniciativa exemplifica muito bem
a compatibilidade de fins lucrativos com uma proposta concreta de
impacto social. Ou seja, trata-se de um negócio inclusivo, que une
lucro e inclusão social em suas atividades. Assim, essa iniciativa tem
como objetivo aproximar o mercado financeiro da maior parte dos
trabalhadores brasileiros. Para isso, Murilo gravou a série de vídeos “Do
zero aos R$ 100 mil” para demonstrar como uma pessoa que ganha
em torno de um salário mínimo pode ampliar seus rendimentos. Até
o momento, Murilo possui mais de 600 mil seguidores no perfil do

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Instagram e mais de 340 mil inscritos no canal do YouTube. Em 2020,


Murilo foi um dos empreendedores selecionados da edição brasileira
da Forbes Under 30, destacando os principais jovens empreendedores
brasileiros com idade abaixo de 30 anos.

4.1.2 Blend Edu


A empreendedora Thalita Gelenske, formada em Administração de
Empresas pela UERJ e mestre em Bens Culturais e Projetos Sociais pela
FGV, criou um empreendimento com foco na promoção da diversidade
em empresas. Ao observar a falta de representatividade na composição
da alta gestão de grandes empresas brasileiras, Thalita identificou a
necessidade e urgência de uma promoção de políticas de diversidade,
no âmbito corporativo. Com isso, a empreendedora criou a startup
Blend Edu para a prestação de consultorias voltadas para a criação e
o aperfeiçoamento de políticas de diversidade. Foi necessário investir
10 mil reais do próprio bolso para criar a startup com fins lucrativos.
Em menos de cinco anos de operações, a empresa Blend Edu vem
prestando consultorias em políticas de diversidades para grandes
empresas, como GE, Globo, 3M, TechnipFMC e Roche.

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148 Capítulo 5: Tipos de empreendedorismo Página de atividades

ATIVIDADE 2

Empreendedora social ou
empresarial, eis a questão
Analise o caso da NATH FINANÇAS e
identifique que tipo de empreendedora
ela é: social ou empresarial?
A influenciadora digital Nathália
Rodrigues, formada em Administra-
ção e moradora de Nova Iguaçu, criou
aos 20 anos o canal Nath Finanças. A
empreendedora produz em sua casa
vídeos com dicas e exemplos para evi-
tar gastos e endividamento excessi-
vos. A oportunidade para a iniciativa
surgiu ao constatar que mais de 65%
Fonte:
da população brasileira possui dívidas
e que o conhecimento sobre educa-
ção financeira é bastante limitado. Até
o momento, o Nath Finanças possui mais de 440 mil
seguidores no Instagram e mais de 500 mil no Twitter. Com o grande
engajamento dos seguidores, o canal passou a gerar lucros a partir
da monetização dos conteúdos. A empreendedora fechou parceria
para elaboração de conteúdos digitais com SERASA e possui uma
coluna no jornal EXTRA.

Resposta comentada
Embora os gastos e endividamento excessivo da parcela mais
pobre da população contribuam diretamente para o aumento
da pobreza, a produção de conteúdos produzidos pela Nathália
Rodrigues não pode ser considerada como empreendedorismo
social. Afinal, o canal Nath Finanças consegue combinar a geração
de um grande impacto social com a obtenção de lucros. Esse foi
o caminho encontrado pela empreendedora para fazer a diferença
na sociedade. Mais especificamente, o Nath Finanças refere-se a
um caso de empreendedorismo empresarial voltado para atender
a população na chamada “base da pirâmide”, conforme o conceito
proposto por Prahalad.

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5. Intraempreendedorismo ou
Empreendedorismo Corporativo
Nossa vida em sociedade é caracterizada por grandes mudanças
e incertezas. Com isso, até mesmo as grandes empresas precisam
buscar constantemente oportunidades para manter o crescimento e
assegurar sua continuidade. Não são raros os casos de empresas que,
ao não se adaptarem, perderam seu espaço no mercado, chegando
até a desaparecer completamente do mapa. Exemplos de empresas
de diversos setores, como Mesbla, Blockbuster, Rede Manchete,
Gurgel e Varig, demostram que a falta de flexibilidade e agilidade para
se adaptar às mudanças no mercado podem levar ao fim de uma
grande corporação.
Embora o conceito de empreendedorismo corporativo esteja sujeito
a constantes transformações, em sua essência, o conceito envolve
atividades empreendedoras autorizadas pela alta gestão, as quais
recebam recursos designados para a geração de inovações. Portanto,
o empreendedorismo corporativo pode melhorar a competitividade de
uma empresa ao estimular o comportamento proativo e uma maior
aceitação dos riscos associados a inovações.
Também é importante ressaltar que nem todos os empreendedores
fundaram sua própria empresa. Esse é o caso dos intraempreendedores.
Essencialmente, o intraempreendedor é aquele colaborador de uma
empresa, ou um funcionário público, que apresenta uma forte atitude
empreendedora perante a realização de suas atividades de trabalho.
Para gerar bons resultados para sua organização, o
intraempreendedor deve conhecer muito bem a empresa na qual
trabalha para possibilitar a identificação de problemas. Além disso,
para poder gerar soluções de grande impacto, o intraempreendedor
deve buscar capacitações constantes de modo a atualizar seus
conhecimentos.
Selecionamos exemplos de duas empresas que tiveram grande
valorização de mercado nos últimos anos no Brasil. As ações da
Magazine Luiza valorizaram mais de 1.000% entre janeiro de 2018 e
janeiro de 2021, enquanto as ações da WEG tiveram uma valorização
de aproximadamente 400% no mesmo período. Ou seja, trata-se de
dois casos recentes de enorme sucesso corporativo brasileiro em
diferentes setores.

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150 Capítulo 5: Tipos de empreendedorismo

5.1 Magazine Luiza


O Magazine Luiza é, hoje em dia, uma das maiores empresas de
varejo do país. Para o ensino do empreendedorismo, o caso do
Magazine Luiza é bastante emblemático, pois se trata de um exemplo de
grande sucesso de transformação digital de uma empresa tradicional,
resultando em rápida e forte expansão. A empresa foi fundada, em
1957, pelo casal José Donato e Luiza Trajano Donato. Originalmente,
foi criada uma pequena loja de presentes na cidade de Franca, interior
de São Paulo. O sucesso do empreendimento possibilitou uma gradual
expansão pela abertura de filiais e da aquisição de concorrentes. No
início da década de 1990, Luiza Helena Trajano, sobrinha da fundadora,
assumiu a presidência da organização e se tornou uma das brasileiras
de maior destaque no cenário corporativo nacional. Em 2000, a
empresa criou um dos primeiros e-commerces entre os grandes
varejistas brasileiros. No entanto, o crescimento exponencial da
empresa começou a se tornar realidade, em 2015, quando o Magazine
Luiza iniciou um profundo processo de transformação digital chamado
de Magalu, alinhando seu e-commerce, aplicativos e lojas físicas.
A empresa identificou a oportunidade para customizar para o contexto
brasileiro um modelo de negócio inspirado no gigante digital americano
Amazon e conseguiu forte êxito na exploração dessa oportunidade.
A empresa conta atualmente com mais de 35 mil colaboradores e
opera 1.113 lojas físicas, localizadas em 819 cidades, de 21 estados
brasileiros. O Magazine Luiza também vem se destacando por liderar
iniciativas de empreendedorismo social voltadas para a inclusão digital
e promoção da diversidade.

essa palestra, proferida por essa lenda do

linearmente como a empresa fundada por sua

um empreendimento. Além de inspiradora,

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ATIVIDADE 3

Diferenciando o Empreendedorismo
do Intraempreendedorismo
Após a leitura do caso Magazine Luiza e sabendo que Luiza Helena
Trajano, sobrinha da fundadora, liderou um bem-sucedido processo
de crescimento de uma empresa familiar, podemos considerá-la como
empreendedora ou intraempreendedora? Justifique sua resposta.

Resposta comentada
Apesar da imagem da empresária Luiza Helena Trajano estar
fortemente ligada ao Magazine Luiza, a empresa foi fundada
pelos seus tios, José Donato e Luiza Trajano Donato. Portanto, a
conhecida empresária pode ser classificada como uma brilhante
intraempreendedora, pois trata-se de alguém que empreendeu
dentro de uma empresa que já existia e conduziu o forte
crescimento do Magazine Luiza, sobretudo, pela implementação
bem-sucedida do e-commerce. O exemplo de Luiza Helena Trajano
demonstra muito bem como os intraempreendedores podem
deixar um legado ainda maior e mais importante do que os próprios
empreendedores fundadores de uma empresa.

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152 Capítulo 5: Tipos de empreendedorismo

5.2 WEG
A empresa foi fundada, em 1961, na cidade de Jaraguá do Sul-SC,
tendo se tornado em um dos maiores fabricantes de equipamentos
elétricos do mundo. O nome da sua marca corresponde às iniciais dos
fundadores, Werner, Eggon e Geraldo. A WEG pode ser considerada
um dos principais cases de sucesso de empreendedorismo corporativo
brasileiro. Assim como o Magazine Luiza, nos últimos anos a WEG
buscou explorar novas oportunidades de mercado para expandir
fortemente suas operações. A empresa se dedicava originalmente à
fabricação de motores elétricos de baixa potência. Entretanto, com o
acúmulo de capacidade tecnológica de seus engenheiros, foi possível
expandir o escopo de atividades. Para isso, foi criado o CENTROWEG
para a capacitação de seus colaboradores. A partir dos anos 1990, a
WEG iniciou um bem-sucedido processo de internacionalização e, hoje,
conta com filiais em 36 países e fábricas em 12 deles. Com o esforço
contínuo para identificar novas oportunidades de mercado, a empresa
catarinense conta, atualmente, com um portfólio de mais de 1200
linhas de produtos, focando na expansão dos mercados de smart-grid,
energia eólica e equipamentos para veículos elétricos. No momento,
a WEG possui aproximadamente 32 mil colaboradores, sendo mais
de 3600 engenheiros. Seu sucesso vem impactando fortemente a
sociedade, contribuindo para a geração de empregos e iniciativas de
educação e sustentabilidade.

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ATIVIDADE 4

Rastreando oportunidades
Identifique oportunidades de intraempreendedorismo descobertas
pela empresa WEG ao longo de sua trajetória de crescimento. Pesquise
para buscar mais informações sobre as oportunidades.

Resposta comentada
A trajetória da empresa catarinense WEG revela o aproveitamento
de diversas oportunidades por meio do intraempreendedorismo.
Trata-se de uma empresa originalmente dedicada à fabricação
de motores de baixa potência. No entanto, ao monitorar a
demanda do mercado e reconhecer a evolução da capacidade
técnica de seus colaboradores, a empresa passou a buscar
novos desafios e, com isso, foi possível desenvolver produtos
e inovações para a atuação em novos mercados, como
, energia eólica e equipamentos para veículos elétricos.
Ou seja, cada novo mercado desbravado pode ser considerado
como uma iniciativa intraempreendedora realizada dentro da WEG.

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154 Capítulo 5: Tipos de empreendedorismo

Agora que já abordamos os principais tipos de empreendedorismo,


confira, na tabela a seguir, um resumo esquemático de suas
características essenciais, conforme abordamos neste capítulo.

Tabela 5.2: Características dos principais tipos de empreendedorismo

Tipo de
Foco Principal Recursos Foco Financeiro
Empreendedorismo

Desenvolvimento
Recursos próprios,
Empresarial dos sócios ou de Auferir lucros
para problemas
investidores
sociedade

Recursos próprios, Sustentabilidade


Social para problemas de parceiros ou de financeira para o
sociais doadores

Recursos fornecidos Gerar valor para a


e processos de uma

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ATIVIDADE 5

Identificando os diferentes tipos de


empreendedorismo
Depois de ter passado pelos diferentes tipos de empreendedorismo,
você saberia identificá-los? Seguem alguns casos de empreendimentos,
para que você avalie de qual tipo se trata.
1. Você já ouviu falar em hackathon? A palavra hackathon é formada
pela fusão das palavras inglesas hacker e marathon. A tradução
seria algo como “maratona de hackers” ou, ainda, “maratona
de programação”. Muitas empresas realizam eventos desse
tipo, internamente, com o intuito de promover inovações. São
eventos em que todos os funcionários da área de tecnologia
são convidados. Geralmente são eventos longos, que podem
se arrastar por dias. Frequentemente envolvem refrigerantes,
energéticos e muita fast-food — às vezes até bebidas alcoólicas.
O Facebook é uma empresa conhecida por promover muitos
eventos desse gênero e foi numa dessas oportunidades que foi
criado o famoso botão “curtir”, que se tornou praticamente o
símbolo dessa empresa bilionária.
2. Alberto Saraiva sonhava em ser médico. Ele morava no interior do
Paraná quando, aos 17 anos de idade, mudou-se para São Paulo,
juntamente com sua família, para tentar a carreira em Medicina.
Fazia cursinho de manhã e, à noite, estudava no terceiro ano do
ensino médio. Após três anos de tentativas, Alberto conseguiu
a tão sonhada aprovação no vestibular. Na mesma época,
seu pai comprou uma padaria — em estado precário, diga-
se de passagem —, com o intuito de prover o sustento de sua
família. Porém, dezenove dias depois, ocorreu uma tragédia: o
estabelecimento foi assaltado e seu pai assassinado. Pressionado
economicamente, Alberto assumiu o negócio do pai. Em menos
de dois anos, transformou a padaria num retumbante sucesso
e a vendeu. Daí em diante, Alberto foi abrindo novos negócios,
obtendo êxito, e vendendo-os logo em seguida. E foi galgando
dessa forma que Alberto chegou a abrir uma loja de comida
árabe chamada Habib’s. O resto é história. O Habib’s tornou-se
uma das mais lucrativas redes de fast-food do Brasil, com lojas
espalhadas por todo o país.

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3. Paul Buchheit é um programador de computadores que trabalha


numa empresa que é o sonho de qualquer profissional de sua
área: a Google. É um fato amplamente conhecido que a Google
destina uma parte significativa do tempo de trabalho de seus
funcionários para projetos pessoais — dizem que chega até
20% da carga horária. Pois bem, foi nesse contexto que Paul
desenvolveu o famigerado Gmail, que lançou uma série de
inovações, como uma busca impecavelmente precisa e um
tamanho de armazenamento de 1GB, muito superior a qualquer
e-mail da época.
4. Victoria Hale é uma cientista renomada que trabalhava numa
empresa farmacêutica. Ela estava incomodada com o fato de
os investimentos serem voltados quase exclusivamente para as
doenças com maior incidência nos países desenvolvidos, já que
visavam somente ao retorno financeiro. Os investimentos em
remédios para doenças comuns em países subdesenvolvidos não
eram realizados. Diante disso, ela tomou uma atitude extrema:
criou a One World Health, que se tornou a primeira empresa
farmacêutica sem fins lucrativos dos Estados Unidos. Hoje em dia
esta empresa permite que os medicamentos cheguem a pessoas
que não dispõem de poder econômico para obtê-los, salvando
milhares de vidas mundo afora.

Resposta comentada
E aí, o que achou? Encontrou alguma dificuldade ou conseguiu
identificar facilmente os tipos de empreendedorismo descritos?
Vamos ver como você foi:
Os casos (1) e (3), respectivamente, a criação do botão “Curtir”
do Facebook e o desenvolvimento do Gmail, são típicos casos
de intraempreendedorismo. O botão “Curtir” foi criado durante
uma hackathon promovida pelo Facebook e o Gmail foi fruto de
um projeto pessoal estimulado pelo Google, que é conhecido por
fomentar esse tipo de iniciativa em seus funcionários. Em ambos os
casos, as inovações surgiram de dentro das corporações.
O caso (2), que descreve brevemente a dura e bonita trajetória do
empresário Alberto Saraiva, fundador do Habib’s, é um caso de
empreendedorismo empresarial. É claro que Alberto tinha uma
série de motivações pessoais para levar à frente o seu negócio, mas
o propósito principal dessa rede de , como de qualquer
outra, é auferir lucro com as vendas de seus produtos.

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157

O caso (4), que mostra a linda história da cientista Victoria


Hale, que fundou a empresa farmacêutica One World Health
é incontestavelmente um caso de empreendedorismo social.
O impacto de seu empreendimento na sociedade é incrível:
salvou (e salva ainda) milhares de vidas! E tudo isso sem nenhum
fim lucrativo.

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Faça com seus estudantes!


Esta é uma proposta de atividade para ser desenvolvida com seus alunos. Ela é
composta de duas etapas.
A primeira é um dever de casa. Você deve indicar o seguinte link aos alunos: https://
brasil.un.org/pt-br/sdgs. Neste, eles encontrarão os 17 objetivos de desenvolvimento
sustentável promovidos pela Organização das Nações Unidas – ONU. Peça que cada
aluno escolha um desses objetivos e, mediante uma pesquisa, encontre o
empreendimento social mais criativo e inovador que o atenda — e que registre essas
informações numa folha de papel.
A segunda etapa consistirá numa dinâmica a ser realizada em sala de aula. Peça aos
alunos que relatem para o resto da turma os casos que selecionaram. Dessa forma,
todos terão contato com diferentes projetos fascinantes, que servirão como fonte de
inspiração. É claro que os relatos dos projetos mais célebres tenderão a se repetir,
mas isso não é nenhum problema: apenas enfatizará a relevância e a magnitude
de tais empreendimentos!

6. Conclusão
O empreendedorismo vem sendo realizado, em todo o mundo, em
escala cada vez maior e incluindo um número crescente de objetivos.
Com isso, torna-se necessário conhecer as características principais
dos tipos de empreendedorismo existentes. O empreendedorismo
empresarial possui o foco na exploração de uma oportunidade de negó-
cio e a criação de valor econômico, enquanto o empreendedorismo
social visa a contribuir para resolver os grandes problemas da humani-
dade. Outra variante importante é o intraempreendedorismo, isto é, as
atividades empreendedoras praticadas dentro da empresa, voltadas
para a inovação e com o incentivo da alta gestão.

7. Resumo
O empreendedorismo pode ser responsável não somente por
criar negócios de sucesso, como também por efetivar um projeto
de vida. Afinal, o empreendedor necessita buscar sua realização

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pessoal e compreender sua contribuição para resolver as


grandes questões da humanidade.
O empreendedorismo empresarial visa à prosperidade
econômica, embora não exclusivamente. Geralmente pressupõe
o desenvolvimento e a implementação de soluções para
problemas na sociedade. Ao criar um negócio de sucesso, o
empreendedor também contribui para gerar prosperidade
econômica, sobretudo pela geração de novos empregos.
O empreendedorismo social vem ganhando crescente
visibilidade, como um importante instrumento de transformação
da sociedade. Nesse tipo de empreendedorismo, o objetivo
prioritário é proporcionar uma contribuição para a resolução
de um problema social existente. O impacto de uma iniciativa
pode ser medido com o mapeamento para um ou mais dos 17
objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das
Nações Unidas (ONU).
O intraempreendedorismo (ou empreendedorismo corporativo)
envolve a realização de atividades empreendedoras por
colaboradores autorizados pela alta gestão e que contam com
recursos especialmente designados para a geração de inovações.

8. Leitura recomendada
FILGUEIRAS, M. L. Na raça: como Guilherme Benchimol criou a XP
e iniciou a maior revolução do mercado financeiro brasileiro. Rio
de Janeiro: Intrínseca, 2019.
A jornalista Maria Luíza Filgueiras narra a trajetória de
sucesso da XP, fundada pelo empreendedor carioca
Guilherme Benchimol, após uma demissão. O livro descreve
o início modesto da XP, em uma salinha em Porto Alegre, e
detalha seu processo de crescimento até se tornar uma das
principais empresas do mercado financeiro brasileiro.

9. Informações sobre o próximo


capítulo
No próximo capítulo, você conhecerá as diferentes etapas do
processo empreendedor. Até breve!

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160 Capítulo 5: Tipos de empreendedorismo

10. Referências
GEM Brasil. Empreendedorismo no Brasil – 2018. Disponível
em: https://www.gemconsortium.org/economy-profiles/brazil-2.
Acesso em: 7 fev. 2021.
ONU – Organização das Nações Unidas. Integrating the SDGs
Into Corporate Reporting: A Practical Guide. 2018. Disponível
em: https://www.unglobalcompact.org/library/5628. Acesso em:
15 mar. 2021.
SHANE, S.; VENKATARAMAN, S. The Promise of Entrepreneurship
as a Field of Research. The Academy of Management Review, v.
25, n. 1, p. 217-26, 2000.

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