Você está na página 1de 99

Ano 5 - Nº 9 - dezembro de 2020

Inovação na
Educação
Educação
infantil, de
jovens e
educação
empreendedora
VIA Revista
entrevista
Desafios e Martha Gabriel e
oportunidades do Lucia Dellagnelo
EaD no contexto
contemporâneo

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 1


Foto: ZMoerph / unsplash

expediente

Universidade Federal de Santa Catarina


Reitor: Prof. Ubaldo Cesar Balthazar

Departamento de Engenharia do Conhecimento


Chefe de depto: Prof. Gregório Jean Varvakis Rados
Saudações, caro leitor
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e
crescente tema. Assim, nesta edição, Gestão do Conhecimento (EGC)
Após abordarmos os conceitos de
o leitor terá acesso a conteúdos so- Coordenador: Prof. Roberto Carlos dos S. Pacheco
Smart Cities; Parques Científicos,
bre o conceito de educação inovado-
Tecnológicos e de Inovação; Núcle-
ra e cases de inovação na educação
os de Inovação Tecnológica (NITs);
de crianças, jovens e adultos a partir
Incubadoras; Inovação no governo;
da educação empreendedora. Além Grupo de Pesquisa em
Cidades Criativas; Pacto pela Inova-
disso, ganham destaque o evento Habitats de Inovação e Empreendedorismo
ção de Santa Catarina e Movimento
Educação Fora da Caixa, as entrevis- Corpo Docente: Araci Hack Catapan
Maker, na nona edição da VIA Revis-
tas exclusivas com Martha Gabriel e Clarissa Stefani Teixeira
ta, publicação institucional do grupo
Lucia Dellagnelo e as considerações Hans Michael Van Bellen
de pesquisa em Habitats de Inovação
sobre o ensino a distância (EaD) no Marcio Vieira de Souza
VIA Estação Conhecimento, da Uni-
contexto contemporâneo.
versidade Federal de Santa Catarina,
temos o prazer de apresentar a temá- Via Revista
Desejamos uma ótima leitura!
tica: inovação na educação. Projeto Gráfico: Mariana Barardi / Javier Venegas
Edição: Mariana Pessini Mezzaroba (SC 04235 JP)

O conteúdo da Revista tem o intuito Clarissa Stefani Teixeira, http://via.ufsc.br/

de mesclar textos informativos com Araci Hack Catapan


Professoras UFSC e líderes do
pesquisas acadêmicas sobre este ISSN 2525-6890
Grupo de Pesquisa CNPq

foto da capa: Freepik.com

2 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


SUMÁRIO
5 Conceito e
contextualização da
inovação na educação

11 Por quê a Finlândia


é um exemplo em
educação?
16 Educação infantil-
inovação na educação da
próxima geração

19 Ações inovadoras no ensino


fundamental e médio
40 Educação
empreendedora na
Universidade
48 Hack the UFSC:‌ ‌educação‌
‌empreendedora‌ ‌com‌ ‌foco‌ ‌em‌‌
cidadania

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 3


52 Inovação universitária é
necessária e urgente
63 RexLab aproxima
educação e tecnologia

65 Encontro Internacional
de Inovação na Educação

75 VIA Revista entrevista


Martha Gabriel

79 Desafios e oportunidades do
EaD no contexto contemporâneo
88 A ferramenta Cara de
Aprender - Cadap

91 Centro de Inovação
para a Educação Brasileira
(CIEB) tem contribuído para
um ensino mais inovador
94 Educação do futuro
4 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020
Foto: Gorynvd / Freepik

Inovação na educação como ação para o


ensino-aprendizagem

Conceito e contextualização
da inovação na educação
Por Clarissa Stefani Teixeira

A inovação tem sido um tópico de considerável


interesse no setor educacional há algum
tempo.
De fato, a inovação bem-sucedida depende da criatividade, conhecimento, habi- Rayse Kiane de Souza
lidades e talentos humanos que são nutridos e desenvolvidos, em grande parte,
através da educação (LOONEY, 2009). Especificamente na educação, as inovações
educacionais dependem de diversos fatores, mas, sobretudo, do contexto, dos pa-
drões culturais, do campo de conhecimento e da visão de educação dos atores
do processo (NUNES et al., 2015). A inovação não pode ser considerada como si-
nônimo de invenção ou ainda de implantação ou uso da tecnologia, porém, está
mais associada à inserção de algo novo em uma dada situação (SOUZA; TEIXEIRA;
SOUZA, 2018), assim segundo Ortega et al. (2007), a inovação deve promover uma
melhoria real e efetiva em uma determinada conjuntura.

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 5


Para Fullan (2007) a inovação de- Estas tendências se tornam mais de aprendizagem criativa, guias
pende de três fatores combinados: nítidas em meio ao contexto de dis- de educação mão na massa e até
o uso de novos materiais ou tecno- tanciamento social provocado pela material sobre a implementação do
logias, o uso de novas estratégias pandemia do novo coronavírus, novo ensino médio. Além disso, por
ou atividades e a mudança de cren- COVID-19. Em um cenário de es- exemplo, o Portal apresenta o Diá-
ças das partes interessadas, que colas fechadas e maior adoção do rio de Inovações - um espaço com
devem ser usados para desenvolver ensino à distância, inovar se torna relatos de educadores sobre como
novas abordagens pedagógicas. As uma necessidade. Porém, encon- estão inovando no dia a dia escolar.
tendências por trás do impulso à trar formas de motivar e engajar os Os temas versam sobre Currículo,
inovação na educação e na apren- alunos é um obstáculo. E um dos Empreendedorismo em Educação,
dizagem incluem (LOONEY, 2009): maiores desafios da implementa- Formação do Professor, Gestão da
ção da inovação na educação es- Educação, Metodologias, Perspec-
• Pressões sociais e econômicas
tão relacionados ao “como fazer” tiva do Aluno, Pesquisas e Debates,
para elevar os níveis de desem-
para melhorar o ensino e a apren- Políticas Públicas e Tecnologia e
penho e garantir maior equida-
dizagem (LOONEY, 2009). Assim, a Infraestrutura.
de nos resultados para todos
troca de experiências e relatos de
os estudantes; Para motivar outros professores
práticas se tornam imprescindíveis
neste processo e são fontes de a transformar suas realidades o
• Mudanças no trabalho, vida
inspiração. A exemplo disso cita- Porvir conta com um cadastro de
social e familiar;
práticas inovadoras! Que tal com-
-se o portal Porvir, uma plataforma
• Tecnologias que avançam rapi-
de conteúdos e mobilização sobre
partilhar suas experiências e espiar
damente; o que nossos professores estão fa-
inovações educacionais do Brasil.
Na plataforma é possível encontrar zendo? Acesse: https://porvir.org/
• Necessidade de motivar e en-
materiais gratuitos como e-books compartilhe-sua-experiencia-i-
volver os alunos.
novadora/

Foto:Davit85 / Freepik

6 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Foto: Freepik
Porvir é a principal
plataforma de
conteúdos e
mobilização
sobre inovações
educacionais do
Brasil
Desde 2012, o Porvir mapeia, produz
apenas ao uso de tecnologia. Mui-
e difunde referências para inspirar e
tos falam do impacto do trabalho
audiência e interação nas redes
apoiar transformações que garantam
de habilidades socioemocionais, do
sociais.
equidade e qualidade na educação a
trabalho com as famílias e também
todos os estudantes brasileiros. Professores com histórias publica-
com a comunidade do entorno à
escola. Para serem publicados, eles das sentem-se valorizados e são
Entre seus conteúdos, a seção Diário
devem promover o protagonismo convidados a fazer parte de um
de Inovações apresenta relatos de
do estudante, sem que o professor grupo fechado no Facebook para
projetos pedagógicos desenvolvidos
tenha que entregar respostas pron- troca de experiências. “Com isso
por professores de instituições pú-
tas e o aluno simplesmente memo- esperamos que as inovações e as
blicas e privadas, do ensino básico
rizá-las. práticas destacadas pelo Porvir
ao superior. Desde outubro de 2014
sejam compartilhadas mais fa-
já foram publicados mais de 280
Relatos como o do museu com cilmente e façam parte não só de
projetos de todo o país, que mostram
histórias pessoais dos alunos, do uma sala de aula, como de uma
como a inovação acontece em sala
caderno de elogios e também do escola e, quem sabe, de uma rede,
de aula e como é possível vencer o
pacotinhos enviados por profes- beneficiando o maior número pos-
modelo tradicional de ensino.
soras de educação infantil duran- sível de estudantes”, enfatiza Viní-
Essas práticas não estão ligadas te a pandemia alcançaram enorme cius de Oliveira, editor do Porvir.

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 7


Foto: https://porvir.org/

l
oa
ss
pe

Conheça todos os relatos aqui.


ivo
rqu
:A
to

Veja a série de relatos sobre projetos de vida


Fo

no ensino médio.

Além disso, ponto relevante quan-


do se fala em inovação se associa a
Vinícius de Oliveira - como avaliar o que é desenvolvido
Editor do Porvir zando giz? A inovação é algo rea- dentro e fora da sala de aula. Para
lizado de forma concreta que deve Looney (2009) a avaliação é vital
ser novo ou significativamente me- nestes processos de inovação. Os
Uma das grandes questões é en- lhorado e que, principalmente, gere
projetos inovadores precisam ava-
tender o que a inovação é na prá- valor. Esse valor é o que o professor liar sua eficácia e realizar adapta-
tica e, em âmbito educacional, precisa buscar, pois é ele que fará ções necessárias. Evidências sobre
essa necessidade não é diferente. sentido para a aprendizagem do o impacto de novas abordagens
Quando se fala em inovação, não aluno. A ação pedagógica deve ser também são essenciais para uma
se está falando em tecnologia. A estruturada em busca de potencia- disseminação bem-sucedida. No
inovação não é isso! Quem disse lizar o processo de ensino-aprendi- nível político, a avaliação garante
que não conseguimos inovar com zagem, respeitando o contexto e as que as escolas, enquanto exercem
dinâmicas que independem das necessidades dos alunos e gerando maior autonomia, ainda busquem
Tecnologias da Informação e Co- engajamento e reflexão não apenas cumprir os padrões definidos. Nu-
municação (TICs)? Quem disse para o conteúdo, mas para a reali- nes et al. (2015) definem alguns
que não conseguimos inovar utili- dade vivenciada.

8 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Foto: Movimento de Inovação na Educação
critérios para mensurar as inovações na educação, são
eles:
Outra fonte de inspiração é
o Movimento de Inovação
Impacto: a ação pedagógica inovadora deve gerar mu-
danças que resultem em melhorias reais para a educação. na Educação que apoia as
O impacto refere-se ao efeito gerado após a execução da organizações voltadas para a
prática educacional inovadora. Este deve ser significativo
e claramente percebido nos alunos e no seu desempenho.
educação básica brasileira que
inovam em seus projetos políticos
Contextualização: a prática educacional deve ser ela-
borada e executada considerando as características do lo- pedagógicos A realização é da
cal e das pessoas envolvidas no processo. A inovação só Cidade Escola Aprendiz, Ashoka
apresentará resultados satisfatórios se estiver contextua-
e Fundação Telefônica Vivo. No
lizada. A contextualização é um dos fatores mais determi-
nantes para o êxito de uma prática inovadora, e é um risco site do Movimento é possível
tentar importar práticas sem as devidas adaptações que
encontrar diversas iniciativas
respeitem as características culturais, sociais, históricas e
econômicas dos alunos e da escola. considerando sua natureza,
público, esfera, características,
Eficiência: a eficiência refere-se à racionalização dos re-
cursos (materiais, humanos, financeiros), de modo que se estado e rede.
obtenha o melhor resultado possível com a menor quanti-
dade de recursos. Ser eficiente na prática educacional ino-
vadora é empregar da melhor forma possível os recursos
disponíveis.

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 9


Aplicabilidade: possibilidade diferentes disciplinas, conteúdos dora que possibilita a identificação
de implementar a prática em outro e abordagens. Assim, a inovação dos dados da educação. Lançada
contexto fazendo as devidas con- pode ser considerada como trans- em 2012, o QEdu foi disponibilizado
textualizações. Inspirações são versal nas atividades didáticas. para dar vida aos dados e promo-
importantes, mas em inovação não ver melhores escolhas na educação
Inter-relacionamentos: A di-
se deve acreditar que tudo que é A ferramenta que apresenta dados
versidade de pessoas de fora da
realizado em outros ambientes, por essenciais da educação básica
escola envolvidas na prática inova-
outros professores, irá funcionar. brasileira e é uma forma de olhar
dora é enriquecedora. A inclusão de
Ademais, a aplicação da inovação a transformação da educação no
colaboradores e organizações além
deve ser considerada. A ação deve últimos anos. No portal estão dis-
da escola aumenta a complexidade
fazer sentido para a vida dos alu- poníveis para cada escola, cidade,
da prática, pois há potencialmen-
nos. Assim, o professor deve bus- estado e para o Brasil dados edu-
te mais conflitos e mais pessoas
car ao máximo fazer relações com cacionais, como a Prova Brasil, o
para gerenciar, porém incrementa
o cotidiano vivido e experimentado Censo Escolar, Ideb e Enem, todos
a capacidade da rede para resolver
pelos alunos e por suas famílias. obtidos de fontes oficiais do gover-
problemas multidimensionais, que
no (QEDU, 2020).
Engajamento: engajamento na não podem ser reduzidos às pers-
prática educacional inovadora é o pectivas particulares de indivíduos. Diante desta breve contextua-
envolvimento e a interação entre É com essa diversidade que é pos- lização, a edição “inovação na
os envolvidos: alunos, professores, sibilitada a inclusão de diferentes educação” visa apresentar ca-
servidores técnico-administrativos visões de mundo. ses, entrevistas e fundamentos
e direção da escola. Indivíduos de teórico-científicos sobre: educa-
Inclusão: a inclusão em práticas
ção empreendedora, gamificação,
fora da escola também podem par-
educacionais inovadoras refere-se
ticipar das atividades como forma educação digital, plataformas de
ao acolhimento de todos os alunos,
de promover um maior engajamen- aprendizagem, educação infan-
independentemente de cor, classe
to. O engajamento se reflete no til empreendedora e desafios para
social e condições físicas e psico-
empenho com o qual os envolvidos inovar na educação. Acompanhe no
lógicas.
participam da prática. material elaborado. Boa leitura!
A gestão educacional do Brasil
Intencionalidade: a inovação
conta com uma ferramenta inova-
não é um fim em si mesma, mas
sim uma forma de alcançar os ob- Referências:
jetivos da educação. A inovação
educacional deve ser orientada FULLAN, M. The New Meaning of Educational Change. Londres: Routledge, 2007.
para resultados, promovendo mu-
LOONEY, J. Assessment and Innovation in Education, OECD Education Working Papers.
danças significativas no contexto
Paris: OECD Publishing, 2009.
pedagógico e/ou escolar. Assim, a
intenção da inovação é que o alu- NUNES, C. S. et al. Critérios e indicadores de inovação na educação. In: TEIXEIRA, C. S.;
EHLERS, A.; SOUZA, M. V. Educação fora da caixa: tendência para a educação no século
no tenha ganhos no aprendizado e
XXI. Tendência para a educação no século XXI. Florianópolis: Bookess, 2015. p. 49-60.
tenha maior interesse pela aborda-
gem escolar. QEDU. Dados Disponíveis. 2020. Disponível em: https://www.qedu.org.br/sobre/dados-
disponiveis. Acesso em: 21 maio 2020.
Interdisciplinaridade: na prá-
SOUZA, R. K.; TEIXEIRA, C. S.; SOUZA, M. V. Inspiração para a Inovação na Educação. In:
tica educacional inovadora a inter- TEIXEIRA, C. S.; SOUZA, M. V. (org.). Educação fora da caixa: tendências internacionais
disciplinaridade pode estar presen- e perspectivas sobre a inovação na educação. tendências internacionais e perspectivas
sobre a inovação na educação. São Paulo: Blucher, 2018. p. 21-30.
te na busca por integração entre

10 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Foto: Pressphoto / Freepik
Raspberry Pi

Case sistema educacional inovador: Finlândia

Por quê a Finlândia é um


exemplo em educação?
Por Maria Eduarda Zanella

História e contexto
O sistema educacional da Finlândia é considerado um case de sucesso e por isso
traz a atenção de especialistas do mundo todo.

A educação é altamente valorizada no local e os cidadãos acreditam na relevância


da educação como impulsionadora do sucesso do país (FINFO, 2017). Bem como,
a Finlândia reconhece o valor de seus professores e confia no seu conhecimento e
comprometimento com seus alunos e comunidade (SAHLBERG, 2011).

Estratégias e políticas adotadas pelo país para a transformação


A necessidade em impulsionar a educação na Finlândia se deu devido ao proces-
so de independência do regime russo. O primeiro passo ocorreu após o decreto
de 1866, em que a educação organizada pela sociedade civil começou a se des-

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 11


Foto: Cdn News
vincular das atividades da igre- relação à continuação do ensino Estrutura escolar
ja (HALINEN; JARVINEN, 2008). médio. Dessa forma, o programa
Em 1921 o acesso à educação na contribui para altas taxas de gra- De acordo com documento divul-

Finlândia recebeu um impulso com duação do país e também auxilia os gado pelo Ministério das Relações

a lei que exigia educação obrigató- estudantes a se conectarem com o Exteriores da Finlândia, (2017),

ria para todos. mercado de trabalho. Educação na Finlândia, o siste-


ma educacional do país pode ser
Nas décadas de 1960 e 1970 inicia- A reforma escolar também trouxe exemplificado da seguinte forma:
ram-se as reformas na educação mudanças na formação dos pro-
que deram origem ao atual sistema, fessores, já que sob o novo sistema - Educação básica e pré-escola: a

o qual preza pelo acesso à educação era necessário aprender a diferen- educação escolar obrigatória ini-

de qualidade (HALINEN; JARVINEN, ciar instruções e oferecer métodos cia-se aos sete anos de idade com

2008). Em 1972, a Finlândia imple- de ensino alternativos. Com isso, a a educação básica, antes disso, a

mentou o “peruskoulu”, um período formação de professores foi refor- família pode escolher entre creches

obrigatório de nove anos, e assim mulada o que levou a um rigoroso municipais ou em grupos pequenos

a educação continuou avançando programa de formação de profes- na casa de um prestador de cuida-

com outras iniciativas englobadas sores que contribuiu para o suces- dos. Para isso ser possível os pais

(MORGAN, 2014). so na educação (MORGAN, 2014). têm direito a licenças parentais

Para Halinen e Jarvinen (2008) o longas. As crianças com seis anos


Morgan (2014) aponta o aconse- de idade frequentam a pré-escola,
desafio atual da Finlândia está em
lhamento e a orientação escolar para irem se adaptando ao ambien-
fortalecer o direito de todos os es-
com estratégias utilizadas na re- te escolar.
tudantes em possuir um aprendiza-
forma escolar. O aconselhamento
do de excelência, com apoio indivi- Os municípios têm a obrigação de
foi concebido para ajudar os alunos
dual, bons resultados acadêmicos e fornecer transporte das crianças
a terem escolhas apropriadas em
crescimento saudável.

12 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


para a escola. Outra iniciativa pre- exame nacional do ensino médio, nal básica é fornecida de diversas
sente é o almoço gratuito para to- que confere habilitação para estu- maneiras: em escolas técnicas, fa-
dos os estudantes, desde a creche dos em institutos de educação su- culdades populares, etc. A duração
até o ensino médio e as escolas perior. dos estudos é normalmente de 2 a 4
técnicas. A iniciativa foi implemen- anos. Em muitos municípios, os es-
No país, o exame nacional do ensi-
tada em 1948, sendo a Finlândia o tudantes podem fazer simultanea-
no médio é o único exame nacional
primeiro país a fornecer alimenta- mente o ensino médio e os estudos
que avalia as habilidades e a ma-
ção gratuitamente. profissionalizantes. Nesse caso, no
turidade de todos os estudantes a
final dos estudos combinados eles
- Ensino médio e cursos profissio- nível nacional. Testes padronizados
realizam o exame nacional do en-
nalizantes: após a conclusão da não são usados ​​na Finlândia para
sino médio e uma qualificação pro-
escola básica, o aluno tem a opção classificar alunos ou escolas, e nas
fissional.
de continuar os estudos no ensino escolas os professores costumam
médio ou em cursos profissiona- usar abordagem própria para dar - Universidade: depois de concluir
lizantes. Em ambos os casos, os feedbacks do processo de apren- o ensino médio, os alunos podem
alunos precisam adquirir os livros dizagem aos alunos (MORGAN, continuar estudando em uma uni-
e podem contar com o auxílio do 2014). versidade. Na maioria das áreas,
governo. No ensino médio além das completam primeiro o bacharela-
Os estudos profissionalizantes po-
matérias obrigatórias (matemática, do, que leva aproximadamente três
dem ter início diretamente após a
ciências...) os estudantes têm uma anos, e depois podem continuar em
escola básica, após a conclusão
liberdade de escolha e podem estu- um mestrado, concluído em dois
do ensino médio ou durante a vida
dar matérias optativas. Os estudos anos. Os que tenham completado
profissional. A educação profissio-
do ensino médio terminam com o um mestrado podem inscrever-se

Foto: Vasily Koloda / Unsplash

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 13


Foto: Alexis Brown / Unsplash

para obtenção de uma licenciatu- concluíram o curso de pedagogia do já nos primeiros anos na escola,
ra ou o doutorado. Os estudos no (SAHLBERG, 2011; FINFO, 2017). recebendo atenção que continua
ensino superior são gratuitos para com o desenvolvimento do aluno
A formação de professores trata-se
os cidadãos finlandeses e dos pa- (MORGAN, 2014). O apoio psicos-
de uma combinação de pesquisa,
íses membros da União Europeia/ social e de saúde é fornecido por
prática e reflexão. Dessa forma, as
Espaço Econômico Europeu. psicólogos escolares, pedagogos e
experiências de estágio compreen-
enfermeiras escolares, para forta-
dem cerca de 15 a 25% do tempo
lecer a capacidade de aprendizado
total de preparação dos professo-
Preparação dos professores dos alunos (HALINEN; JARVINEN,
res. Assim, a maior parte do estágio
2008).
A jornada para ser professor na é concluída dentro de escolas de
Finlândia não é fácil visto que o formação de professores adminis- O país possui sete escolas esta-
número de candidatos que se ins- tradas pelas universidades, sendo tais de necessidades especiais que
crevem é cinco vezes maior do que as universidades as únicas organi- atendem alunos com problemas de
o número aprovado (SAHLBERG, zações autorizadas a emitir licen- visão, audição e mobilidade grave-
2011). Os professores da escola ças para professores na Finlândia mente comprometidas, distúrbios
básica precisam ter mestrado, os (SAHLBERG, 2011). neurológicos, autismo e outras de-
professores do 1º ao 6º ano ensi- ficiências. Essas instituições for-
nam todas as matérias e possuem necem instruções, orientação, rea-
mestrado em educação, com ênfa- Educação inclusiva bilitação e serviços de apoio para
se nas habilidades pedagógicas. facilitar o aprendizado. As escolas
A Finlândia também é conhecida estatais têm um papel especial
Já do 7º a 9º anos da escola bá-
por seus métodos de ensino para como unidades de apoio e acon-
sica e no ensino médio, o ensino
alunos com necessidades espe- selhamento para administradores
é específico das matérias, sendo
ciais. O país preza na identificação municipais, escolas regulares e
ensinado por professores que pos-
e no apoio a todas crianças com ne- pais (HALINEN; JARVINEN, 2008).
suem mestrado na disciplina e que
cessidades especiais de aprendiza-

14 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Inovações tes que se complementam, o que, de ensino centrada no aluno e uma
isolando uma dessas partes, prova- equipe altamente treinada com for-
De acordo com o documento velmente não se obteria o mesmo ça de trabalho docente selecionada
Educação na Finlândia (2017), divul- sucesso. Logo, o autor lista resumi- dentre os melhores estudantes do
gado pelo Ministério das Relações damente componentes essenciais país (MORGAN, 2014). Além dis-
Exteriores o país está investindo como: professores altamente qua- so, parte do sucesso da educação
cada vez mais em inovações no lificados para todos os alunos; forte finlandesa refere-se aos valores
método de ensino. O currículo bási- apoio às necessidades dos alunos; sociais do país que enfatizam a
co nacional para a educação bási- programa gratuito de formação de igualdade, cooperação e um forte
ca, implementado em 2016, desta- professores; igualdade de oportuni- compromisso em fornecer progra-
ca o desenvolvimento de ambientes dades para todos os alunos; estra- mas de bem-estar para todos os
de aprendizagem. Nesse contexto, tégias de ensino inovadoras; pou- cidadãos.
aulas são ministradas ao ar livre, cas práticas de responsabilidade
com excursões a museus, visitas externa; uma cultura de confiança
a empresas de forma a incentivar para professores; programas for-
o ensino. Jogos e outros ambien- tes de intervenção precoce; apoio
tes virtuais também estão entre os social a crianças e famílias; liber-
ambientes de aprendizagem, além dade para os professores aplicarem

pik
da crescente importância da tec-

ree
padrões nacionais de maneiras di-

:F
nologia nas atividades diárias das

to
ferentes; forte apoio e cooperação

Fo
escolas. entre pais, professores, diretores,
Outra iniciativa é a educação bá- funcionários do governo e sindica-
sica em artes, que fornece aos tos de professores.
alunos habilidades para expres- O sistema educacional na Finlândia
sarem-se e para aprenderem mais tem um compromisso em satisfa-
sobre arte. Já o projeto “Escolas zer as necessidades de todos os
em Movimento” busca promover o alunos, além de uma abordagem
aumento de atividade física entre
as crianças em idade escolar e uma
redução do tempo que os alunos fi-
cam sentados, assim, o projeto as- Referências:
segura que todos os alunos tenham
pelo menos uma hora de atividade
HALINEN, I.; JARVINEN, R. Towards inclusive education: the case of Finland. Prospects:
física todos os dias. Quarterly Review of Comparative Education, v. 38, n. 1, p. 77-97, 2008.

A educação na Finlândia conta com JAHNUKAINEN, M. Different Strategies, Different Outcomes? The History and Trends of the
um Centro de Inovação que fun- Inclusive and Special Education in Alberta (Canada) and in Finland. Scandinavian Journal
of Educational Research, v. 55, n. 5, p. 489-502, 2011.
ciona em conexão com a Agência
Nacional para a Educação, o qual Ministério das Relações Exteriores da Finlândia. Educação na Finlândia - A chave para
o sucesso da nação. 2017. Disponível em: <https://toolbox.finland.fi/life-society/finfo-
assegura que as melhores práticas
education-finland-key-nations-success/ >. Acesso em: 16 jun. 2020.
sejam disseminadas de forma efi-
ciente. MORGAN, H. Review of Research: The Education System in Finland: A Success Story Other
Countries Can Emulate. Childhood Education, v. 90, n. 6, p. 453-457, 2014.
Para Morgan (2014) o sucesso do
SAHLBERG, P. The Professional Educator Lessons from Finland. American Educator, v. 35,
sistema educacional finlandês está
n. 2, p. 34-38, 2011.
no resultado dos vários componen-

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 15


Foto: Anna Kolosyuk / Unsplash

Educação infantil

Inovação na educação da
próxima geração
Por Mariana Pessini Mezzaroba

Evidências científicas apontam que ao nascer


um bebê já está aprendendo e seguirá assim
por todos os anos de sua existência.
Neste contexto, é importante destacar que a aprendizagem de uma criança co-
meça muito antes do seu contato com a escola, pois desde seu nascimento ela
já observa e interage com o mundo do ponto de vista afetivo, social, físico e não
apenas intelectual.

A educação infantil compreende a faixa etária de zero a três anos em creches e


de quatro a cinco anos em pré-escolas. No Brasil, a BNCC (Base Nacional Comum
Curricular) determina que a educação infantil deve assegurar direitos de aprendi-
zagem e desenvolvimento para que as crianças possam: conviver, brincar, parti-
cipar, explorar, expressar e conhecer-se. Seguindo estas diretrizes, alguns bons e
inspiradores exemplos de educação infantil podem ser destacados pelo mundo.

16 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Foto: Divulgação PMF

Creche Hassis -
Florianópolis, Santa Green School - Bali, a curiosidade natural. O objetivo é
Catarina Indonésia fazer com que elas possam apren-
der através do canto, dança, arte,
A Creche Municipal Hassis é A missão da Green School é criar no contar de histórias, celebrações
a única do país com selo LEED uma comunidade global de alunos culturais, yoga/atenção plena, es-
(Leadership in Energy and para tornar o mundo sustentável. tudos ecológicos e excursão pelo
Environmental Design) de certifi- A escola, que possui unidades em campus. Outras atividades envol-
cação e orientação ambiental para Bali, Nova Zelândia, África do Sul e vem o “sujar as mãos”, seja lim-
edificações utilizado em 143 pa- Tulum educa alunos desde os três pando a rua ao redor da escola para
íses. O local atende cerca de 200 até os 18 anos de idade em salas de aumentar a conscientização sobre
crianças de zero à cinco anos. aulas circulares de bambu. reciclagem e redução de resíduos,
Painéis solares para geração de seja brincando na lama e experi-
No programa para os primeiros
energia elétrica e aquecimento da mentando a alegria de ficar sujo, ou
anos, as crianças são estimuladas
água, bosque com espécies nativas ainda colhendo ou comprando in-
por brincadeiras feitas com ma-
e árvores frutíferas, aproveitamento gredientes para depois cozinhar na
teriais reciclados que despertam
da água das chuvas, acessibilida- aula de culinária.
de e teto verde compõem a creche
Foto: Widi Green School Bali Widi

para proporcionar uma educação


voltada à preservação ambiental.

Nas salas de aula, os móveis foram


projetados de acordo com as ne-
cessidades de professores e crian-
ças. Há cabanas para brincadeiras,
mesas circulares, cadeiras baixas,
estantes para livros, brinquedos e
circuitos com escada e escorrega-
dor, tudo visando explorar o campo
cognitivo dos pequenos.

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 17


Vittra Telefonplan, Suécia tureza para dentro da escola, onde trabalhos práticos que incorporam
as crianças pudessem passear e música, dança e arte.
A escola bilíngue Vittra explorar. Um dos principais desta-
Telefonplan, aberta desde 2012, Assim, as crianças da Vittra
ques da escola é uma “árvore”, que
fica próxima à Estocolmo. O dife- Telefonplan aprendem a procurar
serve como um local de encontro
rencial é que não há salas de aula. espaços que atendam às suas ne-
para todos os alunos e une os ou-
Em vez disso, o designer dinamar- cessidades. Quando eles querem
tros elementos da escola.
quês Rosan Bosch criou um piso silêncio, eles podem encontrá-lo
colorido aberto, onde as crianças Como não há salas de aula desig- numa “caverna” tranquila, que per-
podem escalar uma montanha, nadas, muitos dos alunos traba- mite pensar e trabalhar em paz.
mergulhar em uma caverna e con- lham em laptops fornecidos pela Mas, quando querem ser um pou-
versar ao lado da árvore. escola. Mas, a tecnologia de ponta co mais ativos podem desfrutar do
não é tudo na escola. As crianças amplo espaço criativo que a escola
A ideia foi trazer elementos da na- têm total oportunidade de realizar proporciona.
Foto: Kim Wentd

18 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Foto: Gorynvd / Freepik

Educação de crianças e jovens

Ações inovadoras no ensino


fundamental e médio
Por Guilherme Paraol de Matos

De acordo com a Base Nacional Comum


Curricular (BNCC) o ensino fundamental é a eta-
pa mais longa do ensino básico e atende crian-
ças dos seis aos 14 anos. Mariana Pessini Mezzaroba

Esta etapa do ensino visa articular as experiências vividas na educação infantil


para o desenvolvimento dos alunos quanto às novas formas de relação com o
mundo, com possibilidade de ler e formular hipóteses sobre fenômenos, testá-los,
refutá-los e de elaborar conclusões, numa construção ativa de conhecimentos.

Já o ensino médio, a última etapa do ensino básico, pode compreender a educação


de jovens dos 15 aos 17 anos. Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais do
Ensino Médio, esta etapa do ensino deve trabalhar com o grande contingente de
adolescentes, jovens e adultos que se diferenciam por condições de existência e
perspectivas de futuro desiguais. Assim, o ensino médio deve ampliar as condi-

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 19


ções de inclusão social, possibili- às vocações, desejos e realidades teatro. O componente Tecnologia
tando acesso à ciência, tecnologia, de cada aluno; promover o desen- e Inovação é voltado para aprender
cultura e ao trabalho. volvimento intelectual, emocional, na prática a usar e a criar tecnolo-
social e cultural dos estudantes; gias para desenvolver seus próprios
Seguindo este contexto da edu-
reduzir a evasão escolar; melhorar projetos. Há temas como mídias di-
cação básica iremos apresentar
o clima nas escolas; e, fortalecer a gitais, cidadania digital, robótica e
alguns exemplos de ações inova-
ação dos professores e criar novos programação.
doras que buscam transformar a
vínculos com os alunos.
aprendizagem de crianças e jovens. Destaca-se que todas as discipli-
O Inova Educação possui três com- nas regulares são mantidas, mas
ponentes: Projeto de Vida, Eletivas para viabilizar o programa foi criada
Inova Educação (SP) e Tecnologia e Inovação. O Projeto uma nova matriz curricular. Assim,
de Vida são aulas que auxiliam os há mais aulas por dia (de seis para
O Inova Educação é um projeto estudantes a desenvolverem a ges- sete), com cinco novos projetos
criado pela Secretaria da Educação tão do próprio tempo, a organiza- por semana (dois para Projetos
do Estado de São Paulo com o ob- ção pessoal, compromisso com a de Vida, dois para Eletivas e um
jetivo de oferecer oportunidades comunidade e perspectivas para o para Tecnologia). O tempo de aula
para todos os estudantes do 6º ao futuro. O componente Eletivas cor- foi ajustado para 45 minutos e as
9º ano do ensino fundamental e responde a escolha de aulas para crianças ficam 5h15min por dia na
médio desenvolverem seu projeto cursar a cada semestre a partir do escola. O programa Inova Educação
de vida, por meio da escolha de ele- que é ofertado pela escola e alguns já conta com mais de 2 milhões de
tivas e do uso e criação de tecnolo- exemplos de aula são: empreen- alunos beneficiados em mais de 3,8
gias. O intuito do projeto é promo- dedorismo, educação financeira, mil escolas no Estado de São Paulo.
ver atividades educativas alinhadas economia criativa, olimpíadas e
Foto:Secretaria de Educação do Estado de São Paulo / Divulgação

Atividade do Movimento Inova

20 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Foto: Facebook Brooklyn STEAM Cente

xo
ve
Con
ola

Brooklyn STEAM Center


sc
kE
oo
eb
ac
:F
to
Fo

metodologias inovadoras sustenta- dores criativos (os residentes) e


das pela comunicação, pela lógica ambiente de aprendizado. Ainda, o
e pelo empreendedorismo. Atua, ConvexosLab presente no espaço
também, na união de mundos, onde Vila Flores, seleciona jovens que
a interação entre pessoas de dife- cursam o ensino médio para parti-
rentes realidades fortalece e amplia ciparem de um projeto direcionado
o desenvolvimento mútuo. A meto- ao autodesenvolvimento com foco
Escola Convexo - Vila Flores,
dologia utilizada é a Aprendizagem em propósito de vida e carreira.
Porto Alegre - RS
Baseada em Problemas (PBL). A
A Escola Convexo é uma iniciativa proposta é que os alunos escolham
na área da educação desenvolvida um problema real existente em sua Brooklyn STEAM Center
por não educadores que propõe escola e aprendam a investigar, a (NY)
aulas com metodologias inovado- tomar atitudes diante dos fatos, a
escolher caminhos e construir no- Uma escola que acredita em cons-
ras de comunicação, lógica e em-
vos conceitos para solucioná-lo, truir com a comunidade, não para
preendedorismo voltadas para a
tornando a aprendizagem muito a comunidade. Este é o lema da
transformação social. Seu objetivo
é gerar desenvolvimento sustentá- mais atrativa. escola Brooklyn STEAM Center,

vel educacional, social e econômico um centro inovador de carreira e


Um dos espaços onde a Escola
de comunidades carentes. Utiliza treinamento técnico para alunos
Convexo está presente é no
a educação e o empreendedoris- americanos do 11º e 12º ano (2º e
ConvexosLab no espaço Vila Flores
mo para envolver colaboradores de 3º ano do ensino médio brasileiro).
na cidade de Porto Alegre-RS. O
empresas, alunos do ensino funda- Na Brooklyn STEAM Center, os alu-
espaço Vila Flores abriga diversas nos se envolvem em um trabalho
mental, pais, professores e comuni-
funções: local para a realização de profissional de alta qualidade, de-
dade.
atividades socioculturais (coor- senvolvem redes industriais robus-
A Escola Convexo atua na potencia- denadas pela Associação Cultural tas e reais e exploram caminhos
lização de lideranças, alcançada por Vila Flores), espaço de trabalho de tangíveis para oportunidades eco-
meio técnicas de empoderamento e dezenas de artistas e empreende-

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 21


nômicas. Isso acontece dentro do por projetos, desempenho de pa-
ecossistema industrial do Brooklyn péis (dramatização), dinâmicas de
Navy Yard - um parque industrial grupo, leitura dirigida, visitas técni-
que abriga mais de 400 empresas cas, aulas práticas ou laboratoriais,
em indústrias de ponta, que abran- em ambientes virtuais etc. E, os
gem manufatura, tecnologia, ali- estudantes escolhem as Unidades
mentos, moda e mídia. A escola é Curriculares pelo assunto e pela
situada ao lado de empresas nas proposta de trabalho, que pode
quais os alunos podem realmente abranger mais de uma estratégia
trabalhar. Foto: Site Instituto Federal do Paraná
Campus Jacarezinho de ensino.

“Nossa ambição é que seja um mo-


ver com colegas de trabalho.
delo da próxima geração para es-
colas técnicas e de carreira aqui na IFPR Campus Jacarezinho Escola do Futuro -
cidade de Nova York”, disse David Florianópolis
O IFPR Campus Jacarezinho
Ehrenberg, presidente e diretor
faz parte da Rede Federal de A Escola do Futuro é um projeto
executivo da Brooklyn Navy Yard
Educação Profissional, Científica e criado pela Prefeitura Municipal de
Development Corporation, uma or-
Tecnológica e está situado na ci- Florianópolis que oferece um novo
ganização sem fins lucrativos (THE
dade de Jacarezinho - PR e seu en- conceito de ensino. Com uma pro-
NEW YORK TIMES, 2019).
sino médio ocorre de maneira con- posta interdisciplinar, integra cria-
O programa busca aumentar as comitante ao ensino técnico, assim tividade e pesquisa como forma
oportunidades de carreira e educa- o aluno conclui esta etapa da for- de estimular a aprendizagem e au-
ção técnica entre os alunos do en- mação curricular juntamente com tonomia de cada estudante. Além
sino médio do Brooklyn. Os alunos a habilitação profissional técnica. O das disciplinas tradicionais, a grade
passam metade do dia no centro instituto ganhou destaque, nacional curricular contempla multilingua-
aprendendo sobre design e enge- e internacionalmente desde 2015, gens como inglês, letramento di-
nharia; ciência da computação e pela implementação de um currícu- gital e a língua brasileira de sinais
tecnologia da informação; filme e lo inovador, fundamentado pela au- (Libras), que é uma disciplina obri-
mídia; tecnologia de construção; tonomia e protagonismo estudantil gatória.
e, artes culinárias e administração e na criatividade docente.
O letramento digital, por exemplo,
da hospitalidade. A escola também
O movimento de educação na ino- corresponde além do acesso à
ensina as chamadas habilidades
vação explica que as atividades de computador e internet, ao uso de
sociais como a importância de ser
ensino são denominadas Unidades dispositivos digitais para ler, escre-
pontual, responder e-mails e convi-
Curriculares (UC) com duração mí- ver e interpretar informações, códi-

nima de 1h30min por encontro, di- gos e sinais verbais e não verbais,

vidido em três encontros (manhã por meio de estudos transversais,

ou tarde) planejadas como fractais onde todas as disciplinas dialogam


Referências: holográficos, para representar uma entre si. As aulas são oferecidas em

parte e um todo. Em cada horário, tempo integral do 1º ao 5º ano com

THE NEW YORK TIMES. A School That existem várias opções de UC que o aulas de manhã e à tarde e, do 6º
Embraces a Trendy Model: The Start-
estudante pode escolher. A condu- ao 9º ano são ofertadas atividades
Up, 2019. Disponível em: https://www. diferenciadas no contraturno, como
nytimes.com/2019/02/10/nyregion/ ção da UC pode ocorrer por meio de
brooklyn-navy-yard-vocational-school. aula expositiva, debate, estudo de clube de leitura, robótica, ciências,
html Acesso em: 13 mai 2020.
caso, ensino com pesquisa, ensino música ou diferentes tipos de es-
portes.

22 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Foto: PMF/Divulgação

al
so
esp
ivo
rqu
:A
to
Fo
Escola do Futuro

Atualmente, a escola do futuro


Maurício Fernandes
possui duas unidades com espa-
Pereira - Secretário
ços físicos totalmente novos nos
bairros Ratones e Tapera. As uni-
Municipal de Educa-
dades possuem salas de aula e la- ção de Florianópolis
boratórios com ar-condicionado e
projetor, auditório, biblioteca, sala
“O conceito da Escola do Futuro é baseado num ensino
de expressão corporal, ginásio de
híbrido, que une uma proposta pedagógica inovadora,
esportes e quadra descoberta, pra-
ças de prática esportiva, refeitório metodologias ativas, com multiletramentos (aulas de Libras,
com nutricionista e climatização. Inglês, linguagem computacional e letramento digital)
A primeira unidade foi inaugura- e o estímulo ao desenvolvimento de novas habilidades
da no bairro Ratones e atende 580
como empreendedorismo, educação socioemocional e
estudantes e a segunda unidade
senso crítico. Neste sentido, a aprendizagem também
no bairro da Tapera atende até 520
estudantes, com várias disciplinas é ativa e estimula a resolução dos problemas atuais da
com aulas práticas e material didá- comunidade e do mundo. Para isso a escola possui sala
tico moderno. de aula ambiente para as diversas áreas do conhecimento,
Por tudo isso, a escola do futuro espaço maker, sala informatizada, laboratório de Ciências,
possui um modelo pedagógico de quadras poliesportivas e um currículo integrado voltado
referência nacional e pode ser con- para a construção de aprendizagens que façam sentido e
siderada a mais inovadora, boni-
significado ao mundo real dos estudantes”.
ta e completa escola municipal de
Santa Catarina e talvez do Brasil.

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 23


Foto: Ben Mullins / Unsplash

Relato sobre a implantação do Por Letícia Grigoletto dos Santos

modelo de aulas remotas na Diretora do Departamento


Pedagógico da SEDUC

rede estadual de educação do


Rio Grande do Sul
Após a instauração da pandemia por covid-19 e da
necessidade suspensão das atividades presen-
ciais das escolas do estado do RS, a partir de 23 de
março de 2020, para fins de prevenção ao contá-
gio do vírus, a necessidade de continuar a desen-
volver as atividade pertinentes à educação foram
desafiadoras e inquietantes.

24 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Num universo de 2.500 escolas, Os conteúdos abordados na capacitação em letramento
mais de 60 mil professores e mais digital incluíram:
de 800 mil alunos, precisava-se de
uma alternativa viável, segura, em
1. Sala de Aula com o Google Classroom - Visão geral
termos sanitários, e abrangente
2. Gestão da conta educacional com o Google Chrome +
para a manutenção das aulas na
rede estadual de educação.
Gmail
3. Aulas Síncronas com o Google Meet + Agenda +
Após um mês de envio de ativida- Jamboard
des impressas aos estudantes com
4. Primeiros passos no Google Sala de Aula
exercícios de fixação e revisão e
5. Explorando recursos do Google Sala de Aula
diante da insegurança e das incer-
6. Realizando Pesquisas com o Google Formulário
tezas sobre a possibilidade de re-
torno às aulas e o fim da pandemia,
7. Avaliações com o Google Formulários
iniciou-se um processo de organi- 8. Arquivos na Nuvem - Google Drive
zação de um projeto que utilizas- 9. Criando exercícios e materiais didáticos com o Google
se a tecnologia como alternativa Documentos
à manutenção das atividades roti- 10. Criando aulas incríveis com o Google Apresentações
neiramente desenvolvidas nas es- 11. Manipulando cálculos com o Google Planilhas
colas, aliadas ao grande desafio de 12. Explorando mais recursos do Google Documentos
organização de um ambiente virtual
13. Explorando mais recursos do Google Apresentações
de aprendizagem que contemplas-
14. Explorando mais recursos do Google Formulários
se os diversos cenários da rede, a
15. Explorando mais recursos do Google Classroom
capacitação de professores para o
uso de Tecnologias da Informação
16. Atividades gamificadas
e Comunicação (TICs), a integração 17. Aprendizagem Baseada em Problemas
de sistemas e a conceituação de 18. Sala de Aula Invertida
um novo modelo de ensino que ga- 19. TICs Educacionais - Recursos para Língua Portuguesa
rantisse o máximo aproveitamen- 20. TICs Educacionais - Recursos para Língua Estrangeira
to das aprendizagens decorrentes 21. TICs Educacionais - Recursos para Artes
dessa situação. 22. TICs Educacionais - Recursos para Educação Física
O projeto, em sua estrutura geral, 23. TICs Educacionais - Recursos para Ciências da
foi pensado levando em considera- Natureza, Química, Física e Biologia
ção cinco aspectos fundamentais: 24. TICs Educacionais - Recursos para História e
a necessidade de adequação das Geografia
matrizes de referência de cada ano/ 25. TICs Educacionais - Recursos para Matemática
série/etapa de ensino em virtude do 26. TICs Educacionais - Recursos para Alfabetização
ano atípico, a promoção de internet
27. Webinar de Práticas STEAM
patrocinada pelo governo do estado
28. Webinar de Práticas Pedagógicas do Ensino
para todos os estudantes e profes-
Fundamental 1
sores da rede estadual, a compra de
chromebooks para instrumentali- 29. Webinar de Práticas Pedagógicas do Ensino
zar os professores, a adequação do Fundamental 2
ambiente virtual de aprendizagem 30. Webinar de Práticas Pedagógicas do Ensino Médio
espalhando as turmas existentes

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 25


em cada escola de modo que todos gem, contemplando os 60 mil pro- Dentre os motivos que justificam
os alunos e professores tivessem fessores da rede, os profissionais a escola da plataforma Google
seus ambientes virtuais criados que atuam nas Coordenadorias For Education, em detrimento do
de forma automática e segura, e a Regionais de Educação (CREs) e os Moodle, pode-se enumerar:
capacitação dos professores tanto técnicos administrativos da SEDUC. A. facilidade de uso;
em metodologias ativas e ensino
híbrido quanto nas ferramentas da Além das aulas transmitidas ao B. facilidade de capacitação
plataforma Google for Education. vivo de segunda à sábado ao lon- dos professores;
go de três meses, houve também
C. curva de aprendizagem para
O Curso de Letramento Digital, ini- o suporte ou tutoria para todos os
os alunos e professores em
ciado no mês de julho de 2020, professores da rede, que se dá com
relação ao uso das ferra-
contemplou a produção de mate- atendimento por chat, funcionando
mentas;
rial didático (mais de 100 vídeo- de segunda à sexta-feira, das 8h às
-tutoriais criados exclusivamente 22h, para resolver dúvidas relacio- D. uso gratuito por parte dos
para o projeto, contemplando as nadas ao curso e as práticas peda- professores e estudantes;
principais tarefas realizadas pelos gógicas mesmo depois de acabar E. espaço ilimitado para pro-
professores ao planejar e ministrar o curso (até fevereiro/2021). Esse fessores e estudantes (na
aulas em ambiente remoto) e con- atendimento aborda as tecnologias nuvem);
dução pedagógica da capacitação, do GSuite do Google for Education e
a estruturação das 2.500 turmas é exclusivo para os professores da F. não necessidade de inves-
no ambiente virtual de aprendiza- rede. timentos em infraestrutura
para:

Foto: Freepik.com

26 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


a. servidores de hospedagem; qual já ocorreu por meio de lives a utilização da plataforma google
e vídeos publicados no Youtube, e sala de aula e ferramentas digitais
b. link de internet;
obteve mais de 400 mil visualiza- aplicadas à educação.
c. serviços de armazenamento ções. Contemplou também a am-
e backup na nuvem; O modelo de Ensino Híbrido, que
bientação dos professores e alunos
comporta a coexistência de ativi-
d. suporte 24 x 7 x 365; para realização do primeiro acesso
dades desenvolvidas presencial
e ativação da conta educacional
e. administração de servidor e e remotamente, ou seja, no qual o
@educar.rs.gov.br, o qual conse-
serviços; estudante aprende e desenvolve
guiu atingir, até o mês de setembro,
parte de suas atividades escolares
f. possibilidade de integração 98,2% dos professores e 78% dos
também por meio do ensino online,
com sistemas legados como alunos com conta ativada. Para
está alicerçado em uma concepção
o ISE; isso, foram criadas campanhas por
que possibilitou a implementação
meio de vídeo-tutoriais divulgados
g. recursos educacionais dis- de um projeto pedagógico que vem
no Youtube que obtiveram mais de
poníveis; atendendo às demandas atuais,
460 mil visualizações até 15 de se-
mas que pode e deve permanecer
h. mobilidade (possibilidade de tembro.
para além do momento de pande-
uso tanto em computadores
As Coordenadorias Regionais mia.
quanto em dispositivos mó-
de Educação, em parceria com
veis); Este modelo instiga o desenvolvi-
o Departamento Pedagógico e o
i. possibilidade de utilização mento de práticas pedagógicas em
Centro de Gestão e Inovação da
em diferentes sistemas ope- uma nova perspectiva ampliando
Secretaria de Estado da Educação,
racionais (Windows, Mac. as possibilidades de práticas do-
seguem promovendo interações
Linux, Chrome, Android, iOS). centes e discentes para além do
com as escolas e seus professores,
espaço geográfico e se apresenta
através de webconferências e we-
O projeto também contemplou a como uma oportunidade de avanço
binários, com intuito de fomentar e
sensibilização da comunidade es- da educação como um todo em um
fortalecer o engajamento tanto de
colar acerca do ensino remoto, o curto espaço de tempo. Sinal dos
alunos quanto de professores para
tempos!
Foto: Freepik.com

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 27


Foto: Ben Mullins / Unsplash

Maratona para geração de ideias criativas e


inovadoras para lidar com o Covid-19

DEATHON & IDEATHON KIDS


COVID-19
Por Márcio Roberto
Machado da Silva
A pandemia do Coronavírus (COVID-19) tem mexi- Diretor de Inovação
do muito com os hábitos da sociedade mundial, da ULBRA
desde os idosos - que foram os mais atingidos,
sofrendo severos efeitos em relação à saúde -,
até os mais novos, que também tiveram que
mudar seus hábitos de vida em decorrência
de todas as ações que se fizeram necessárias
para conter a pandemia.
Contudo, podemos aprender muita coisa! Percebemos que somos capazes de nos
reinventar, de nos adaptarmos muito rapidamente frente às situações mais adver-
sas possíveis, utilizando as tecnologias a nosso favor, encontrando formas alter-
nativas de trabalhar colaborativamente - pois somos plural e precisamos disso!

28 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


No início do período de isolamen- motivo e também uma ferramenta. na adaptação ao mercado di-
to social, inúmeros problemas se A união de pessoas com o mesmo gital;
apresentaram tanto para as pes- objetivo, buscando alternativas
b) Arquitetura & Design: ideias
soas quanto para as empresas. criativas para melhorar a qualidade
das áreas de arquitetura, de-
Enormes dificuldades impostas de vida das pessoas em meio a esta
sign e similares como, por
pelo repentino isolamento e pelo pandemia.
exemplo, o compartilhamento
iminente risco de severos prejuízos
Um evento online, gratuito, cola- dos espaços residenciais em
à saúde acabaram por gerar de-
borativo e interativo que objetiva “home offices”, que possam
mandas até então não existentes.
mobilizar pessoas para pensar, es- ajudar tanto empresas quanto
Neste mesmo período pode-se truturar e colocar em prática ideias pessoas na adaptação, aces-
constatar nas redes sociais o com- criativas e inovadoras para lidar sibilidade e ergonomia recon-
partilhamento de ideias interes- com a pandemia do vírus Covid-19 figurando e ressignificando
santes em diversas áreas, que ob- nas seguintes verticais: espaços;
jetivavam melhorar a qualidade de
a) Gestão & Marketing: ideias das c) Saúde & Bem estar: ideias das
vida das pessoas e das empresas,
áreas de gestão, marketing, áreas da saúde e bem estar
e assim minimizar os impactos da
serviços e similares como, por como, por exemplo, práticas,
pandemia.
exemplo, gestão de crise, pre- produtos ou serviços para pre-
Neste cenário surge o IDEATHON sença digital, gestão a distân- venção, fisioterapia, tratamen-
COVID-19 (http://ideathon.online): cia, dentre muitas outras, que to ou similares, que possam
um evento, uma provocação, um possam ajudar as empresas auxiliar no cuidado da saúde

Foto: Freepik.com

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 29


de forma ampla, tanto física dos participantes, fez-se necessá- dos demais participantes, ideias
quanto mental e espiritual; rio montar um time de mentores surgiram.
- profissionais voluntários expe-
d) Educação: ideias da área da Nesta fase, além de gerar novas
rientes que pudessem observar e
educação como produtos, ser- ideias, os participantes puderam
orientar as equipes no roteiro pro-
viços ou práticas pedagógicas curtir, seguir evoluções e sugerir
posto para desenvolvimento das
para EaD, metodologias para melhorias nas ideias dos demais
ideias, primando pelo foco e pela
engajamento, avaliação, etc, participantes, começando aí um
importância da experimentação.
que possam auxiliar tanto ins- engajamento e a formação das
tituições educacionais quanto Para captação destes mentores, equipes, por escolha de cada parti-
educadores, pais e até alunos. foi feito um formulário eletrônico cipante. Ou seja, cada participante
e compartilhado em alguns gru- teve que, até o final desta fase, en-
Enquanto começava a organização
pos de WhatsApp. Em menos de 30 trar em uma equipe ou formar a sua
da estrutura do evento, inspirado
dias já haviam cerca de 120 tutores própria equipe, que teve que ter no
pela dificuldade percebida em re-
devidamente credenciados, con- mínimo 4 pessoas e no máximo 6.
lação aos pais administrarem seus
templando diversas áreas (gestão,
filhos em casa, sem aula, compar- Depois desta fase, as equipes
marketing, tecnologia, finanças,
tilhando intensa e integralmente passaram a trabalhar em outro
mercado, recursos humanos, etc.) e
os espaços da casa e com muita ambiente colaborativo, o Google
conhecimentos técnicos das verti-
energia acumulada, surge também Classroom, onde foram realizadas
cais contempladas no evento.
a ideia de criar um evento seme- as mentorias e as equipes fizeram
lhante direcionado para crianças Como critérios de avaliação, o as entregas ou postagens das ati-
- o Ideathon Kids (http://ideathon. evento adotou: vidades/entregáveis de cada fase,
online/kids). semanalmente.
a) criatividade e inovação: grau
Ambos eventos inspiraram-se nas de ineditismo; Toda a interação com as equi-
maratonas de desenvolvimento de pes deu-se por meio do Google
b) impacto: quantidade de pesso-
software (hackathons) e nas ma- Classroom e algumas outras fer-
as impactadas diretamente;
ratonas de desenvolvimento de ramentas do pacote Google for
startups como o Startup Weekend, c) economicidade: valor econo- Education utilizando os recursos
porém, queríamos um evento mais mizado ou agregado pela ado- de colaboratividade do Google
aberto, que desse liberdade para ção da inovação. Documentos, Google Formulários,
os participantes apresentarem so- Google Apresentações, Google
luções que não necessariamente Planilhas e Gmail.
fossem software ou um negócio. O Ideathon contemplou uma fase O evento contou com uma grande
Além de provocar e produzir ideias inicial individual de geração de equipe de mentores (120 mentores)
inovadoras, o evento teve um ob- ideias, em uma plataforma espe- preparados para auxiliar as equi-
jetivo educacional de conduzir os cífica (Idebox) similar a uma rede pes na condução das atividades de
participantes, de forma pedagó- social, onde os inscritos foram es- cada fase, orientando, dando dicas,
gica, em uma trilha de desenvol- timulados a gerar ideias para a pro- questionando muito e tentando, por
vimento de ideias que passou por blemática do Covid-19 dentro de meio das mentorias, mostrar dife-
fases que vão desde a ideação, uma das verticais (gestão e marke- rentes caminhos e pontos de vista
validação, desenvolvimento até a ting, arquitetura e design, saúde e que pudessem auxiliar as equipes
prototipação e apresentação final. bem estar ou educação). E mesmo nas tomadas de decisões.
que o participante não tivesse ne-
Para auxiliar e monitorar o trabalho nhuma ideia, ao visualizar as ideias Os mentores foram apresentados

30 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Foto: Site Ideathon

por área de conhecimento/atuação, As avaliações foram disponibili- ideias, colaborar, curtir, seguir
com uma mini-biografia e a respec- zadas para todas as equipes e o ou acompanhar e inspirar-se;
tiva disponibilidade de agendamen- evento apresentou um ranking dos
b) Formação das Equipes: onde os
to. Cada equipe pode, em função de projetos, por categoria, ordenados
participantes formaram suas
suas necessidades, utilizando-se pela avaliação dos jurados.
equipes ou integraram-se a em
do ambiente virtual do evento, fa-
Com objetivo de proporcionar mo- equipes existentes;
zer agendamentos de reuniões de
mentos de inspiração, interação e
mentoria conforme surgiu necessi- c) Mapeamento do Problema:
sintonia entre os participantes, fo-
dade. onde as equipes pesquisaram a
ram organizadas diversas lives pré-
fundo, entenderam e detalharam
Até a data final de cada fase as -evento trazendo palestrantes com
muito bem o problema e o públi-
equipes revisaram e postaram as reconhecida experiência contem-
co-alvo;
atividades propostas no ambiente plando as verticais previstas para o
virtual. evento. d) Detalhamento da Solução: onde
as equipes propuseram varia-
A apresentação final foi por meio de A jornada ou trilha que cada equipe
ções, selecionaram a melhor e
vídeos previamente gravados que teve que seguir desde a criação da
definiram a proposta de valor;
foram apresentados em uma live ideia até a prototipação passou pe-
com todos os jurados. Após a apre- las seguintes etapas: e) Modelagem Sustentável: onde
sentação de cada vídeo, as equipes as equipes definiram e valida-
a) Geração de Ideias (ideação):
ficaram disponíveis online para res- ram um modelo de negócio que
onde os participantes foram
ponder os questionamentos dos ju- fosse sustentável e escalável;
estimulados a apresentar
rados, ao vivo.

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 31


Foto: Site Ideathon
f) Prototipação: onde as equipes mos de organização, pois tudo era O resultado final foram 10 equipes
prototiparam, criaram e de- novidade para os membros da co- finalistas, nominadas assim:
senvolveram versões mínimas missão organizadora, e o evento
1. Northing - descomplicando o
viáveis (MVP) da sua solução; ganhava, a cada dia, mais inscri-
marketing digital;
tos, chegando a 488 participantes
g) Testes e Validações Finais: 2. All Service;
e 120 mentores para administrar.
onde as equipes testaram as 3. Bus!ness Match;
Conseguimos construir um fra-
soluções e fizeram os ajustes 4. Compartillium;
mework de documentos e sistemas
necessários. 5. Hospital Virtual;
web para dar suporte ao evento
6. Mira de Negócios;
h) Apresentação Final: onde as sempre pensando em deixar como
7. Nosso RH Virtual;
equipes apresentaram suas legado a sistematização dos pro-
8. O Mentor;
ideias, produtos ou serviços cessos para que pudessem ser
9. On-Libras;
e passaram pela avaliação de utilizados por outras edições ou
10. Respirador Ventilação
uma banca. versões do Ideathon, criando um
Forçada.
conceito e uma metodologia de
Apesar de muito trabalho em ter- evento. As lives foram sempre transmitidas

32 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Foto: Site Ideathon
pelo Canal do Youtube e Facebook Grande do Sul, Santa Catarina e trapolou os limites geográficos da
do Ideathon (criado para o evento), Paraná e durante o evento já fize- cidade e até do estado.
e na final, como ambiente de apoio, ram a prospecção de investidores e
Percebemos que efetivamente a
os membros da comissão avaliado- clientes.
união dos participantes refletin-
ra (jurados) reuniram-se, em para-
O resultado final foi muito positivo. do sobre o mesmo tema ou pro-
lelo, durante a própria live de apre-
Pudemos colher diversos relatos blema, estimulados pelas lives de
sentação que estava ocorrendo no
dos participantes, dos mentores e pré-evento e potencializadas pela
Youtube, em uma sala do Google
dos jurados, além da comissão or- experiência dos próprios partici-
Meet criada especificamente para
ganizadora, externando que o even- pantes das equipes e pelos men-
este fim, e utilizaram-se de uma
to foi um diferencial sobretudo para tores, colaborou para a qualidade
Planilha compartilhada que especi-
o momento de isolamento social. das ideias, e o alcance que conse-
ficou os critérios e as avaliações de
guimos, mesmo sem investimento
cada jurado em tempo real. Ficam a experiência e os aprendi-
em marketing e contando só com
zados para próximas versões e as
Cabe relatar que a equipe vencedo- o compartilhamento voluntário das
conexões construídas.
ra, a Hospital Virtual, contava com pessoas, atendeu plenamente às
participantes que se conheceram Conseguimos promover uma in- expectativas da comissão organi-
durante o evento e moram no Rio tegração e um networking que ex- zadora do evento.

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 33


Práticas de professores inovadores
Os Beatles – seu tempo e chegar, mas modulou as etapas de sição, informações sobre o contex-
sua história sua sequência didática sobre os to das décadas de 1960 e 1970 e o
Professora: ARABELLE CALCIOLA- Beatles de acordo com a curiosida- engajamento político que a banda
RI de dos alunos do 4º ano, aguçada adotou foram acrescentadas por
Língua Estrangeira – 4º ano / Anos pelos materiais de qualidade leva- Arabelle e assim a turma entrou
Iniciais – Ensino Fundamental dos para a sala aula. A professora em contato com questões como
EMEB Maria Angélica Lorençon apresentou oito canções da célebre a segregação racial e a guerra do
Ensino fundamental – séries ini- banda inglesa, cada uma por meio Vietnã.
ciais de exercício de listening diferente, “Vi alunos emocionados ao térmi-
Jundiaí, São Paulo variando as estratégias. Em segui- no de vídeos com canções dos Be-
Arabelle colocou em prática a visão da, as letras não foram traduzidas, atles, interessados em entender o
de aprendizagem do idioma estran- aconteceram conversas sobre o que foi a segregação racial e com
geiro que prioriza a exposição dos que as crianças entenderam, cons- vontade de conhecer mais sobre
alunos à língua autêntica e viva. truindo a compreensão de maneira as músicas e as conquistas da
Ela sabia muito bem onde queria coletiva. A história de cada compo- banda.”

O vídeo sobre a ação pode ser acessado aqui.

34 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Argument(ação):
protagonismo juvenil

Professora: PATRÍCIA BARRETO


Língua Portuguesa – 3º ano / En-
sino Médio
Instituto Federal do Rio Grande do
Norte
Ensino Médio
Nova Cruz, Rio Grande do Norte
A professora Patrícia pediu aos
alunos dos 3ºs anos que registras-
sem, por meio de uma foto, um pro-
blema social da cidade onde vivem.
Em paralelo, trouxe para a sala de
aula imagens que representavam
O vídeo sobre a ação pode ser acessado aqui.
denúncias de questões sociais.
Pediu aos alunos para observá-las,
identificando temas e apresentan-
“Precisei conhecer mais sobre os
do justificativas para os diferentes
mentos e pensaram em soluções municípios dos estudantes e sobre
pontos de vista que vinham à tona.
para os problemas sociais apon- protagonismo juvenil para entender
Percebeu que os jovens falavam
tados. Também foram lidos e ana- de que maneira eu poderia utilizar o
dos temas de forma genérica e
lisados artigos de opinião escritos artigo de opinião como instrumento
superficial e por isso planejou es-
por estudantes para a Olimpíada de para empoderar sua voz de mora-
tratégias que tinham como foco
Língua Portuguesa de 2016. Termi- dor.”
a argumentação e a produção de
nada a produção escrita, os alunos
um artigo de opinião. Por meio de
prepararam um podcast para divul- Fonte: Prêmio educador nota 10.
um jogo criado pela professora, o
gar suas ideias e evidenciar o pro- Confira também no site outros
Argument(ação), as turmas apren-
tagonismo juvenil. exemplos motivadores!
deram diferentes tipos de argu-

Foto: Freepik.com

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 35


Educação Fiscal: ampliando zação. No ano seguinte o sonho se iniciativa popular e colocá-lo em
conhecimentos tornou maior: levar a educação fis- votação na Câmara de Vereadores
cal para todo o município de Bom para criação do Dia Municipal de
Professores: CAMILA AROSI e Retiro, na serra Catarinense. A par- Educação Fiscal. Com muito esfor-
DARLAN JUNCKES tir de pesquisas e observações, os ço, foram recolhidas mais de tre-
Projeto de Intervenção e Pesquisa professores problematizaram os zentas assinaturas para colocar o
– 2º ano / Ensino Médio estudantes com o intuito de desen- projeto em votação, aprovado pelo
EEM Valmir Omarques Nunes volver o olhar sobre os principais legislativo e sancionado pelo exe-
Ensino Médio Integral em Tempo motivos que levam a população a cutivo municipal em dezembro de
Integral - EMITI não acompanhar de maneira efeti- 2019.
Bom Retiro - Santa Catarina va o recolhimento de tributos e sua “O dia 1º de junho é considerado
Camila e Darlan abraçaram a idéia aplicação em serviços públicos. A agora oficialmente Dia Municipal
dos estudantes do Ensino Integral partir daí sentiu-se a necessidade da Educação Fiscal em Bom Reti-
em promover intervenção a partir de institucionalizar a educação fis- ro. Esta foi a primeira vez que um
da temática da educação fiscal. Em cal no município com a criação de projeto de iniciativa popular foi co-
2018, o projeto iniciou com ações uma data específica no calendário locado em votação na Câmara de
dentro do ambiente escolar com municipal, onde as principais insti- Vereadores. Nossos estudantes
cartazes, palestras e rodas de con- tuições da cidade promovam ações brilhavam os olhos ao ver um proje-
versa com estudantes e professo- de formação e conscientização dos to de sua autoria sendo explanado,
res sobre o correto recolhimento de cidadãos. Agora o desafio era ain- votado e aprovado”, concluíram os
tributos e a importância da fiscali- da maior: criar um projeto de lei de professores.

Participantes do projeto educação fiscal:


ampliando conhecimentos

36 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Células Motivadoras
Criativos da Escola em Santana do Cariri (CE): só em um grupo de apoio feito de jovem
2017, 79 alunos abandonaram as para jovem para incentivar que to-
2º ano / Ensino Médio aulas. dos continuem frequentando as
Escola Estadual Adrião do Vale Nu- Preocupadas com esta situação, aulas. Como resultado, o número
vens três alunas do 2º ano do Ensino de alunos evadidos caiu para 59,
Ensino Médio Médio decidiram agir: descobriram em 2018, e despencou para ape-
Santana do Cariri - Ceará os motivos da exclusão conversan- nas um caso no primeiro semestre
De acordo com o Censo Escolar do com os colegas que saíram do deste ano.
2018, o Brasil possui 2 milhões de colégio e promoveram uma grande
crianças e jovens fora da escola mobilização entre os demais es-
tudantes. O grupo passou a orga- Outros cases inspiradores
sendo que, desse total, cerca de 1,3
milhão são adolescentes entre 15 nizar visitas às casas dos alunos, podem ser acessados no site da

e 17 anos. Essa situação também rodas de conversa e palestras de Fundação Telefônica Vivo e no
era um problema presente na Esco- forma que, hoje, cada turma do co- site Respostas para o amanhã.
la Estadual Adrião do Vale Nuvens, légio têm uma “célula motivadora”,

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 37


Projeto Sanitarista Junior MUSA, comenta a comenta a presi-
dente da Companhia.

A Companhia Integrada de De- Segundo Patrícia Almeida Barroso


sinar a legislação e dar condições
senvolvimento Agrícola de Santa Moreira - gestora da Supervisão de
para a adequação e só depois agir
Catarina (CIDASC) sempre se pre- Planejamento e Desenvolvimento
como fiscal”. Em 2011, Patrícia co-
ocupou com a questão da edu- de Pessoas – SEPLA da CIDASC,
menta que ao iniciar no trabalho na
cação. Segundo a presidente da no estado em 2011 havia problema
central em Florianópolis, com pla-
companhia Luciane de Cássia na comercialização de agrotóxi-
nejamento, começou a trabalhar
Surdi, o foco se associa as ações cos. Ela relembra que na época, em
na educação sanitária. Assim, um
de sanidade animal e vegetal, de Campos Novos, convidava todos os
Programa de Educação Sanitária
preservação da saúde pública e de comerciantes e responsáveis técni-
para a CIDASC foi idealizado. Um
promover o agronegócio e o desen- cos para fazer trabalho educativo
projeto nacional foi iniciado com
volvimento sustentável do estado. em cima da legislação dos agrotó-
foco em monitoramento de pesso-
Inicialmente, travava-se de edu- xicos e mostrar a maneira de cor-
as expostas a agrotóxicos e, cada
cação sanitária dentro do contex- rigir dando um prazo para reparar
estado, deveria fazer seu projeto de
to da defesa agropecuária com o os problemas e não ser necessário
monitoramento. Na ocasião, mais
produtor rural, desde a época que causar penalidade. Neste ínterim,
de três empresas públicas inicia-
Santa Catarina vacinava contra a conta que começou a haver uma
ram uma reflexão sobre o que mais
febre aftosa. Posteriormente, ou- discussão na empresa sobre edu-
fazer com a população exposta.
tras ações foram realizadas como cação sanitária que já era forte na
Assim, começou a nascer a semen-
orientação para notificação e sin- CIDASC. “O foco era fazer um con-
tinha do Sanitarista Junior, dentro
tomas de doenças. Neste contexto, traponto a postura do fiscal, pois
das escolas e dentro da vigilância
foram envolvidas muitas entidades além de fiscais somos sanitaristas,
sanitária. Desenvolvendo a visão
que representam a agricultura nos enfatiza. Não deveríamos apenas
sistêmica junto aos colegas surgiu
municípios, como as Comissões multar as pessoas, mas sim en-
a visão de escrever um livro sobre
Municipais de Saúde Animal – CO-

38 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


C
toda a defesa agropecuária, área Luciane de Cássia Surdi -

S
IDA
animal, vegetal e inspeção dando

oC
presidente CIDASC

çã
uma visão sistêmica da saúde hu-

lga
ivu
mana. Em dezembro de 2014 foi

D
to:
realizada a primeira capacitação

Fo
para apresentar o livro aos médi-
cos veterinários e aos agrônomos,
assim como lançar a ideia de como
fazer a abordagem junto as escolas
oportunidade da CIDASC contribuir,
municipais. “Desenvolvemos a me-
de forma inovadora, abordando co-
todologia e, em fevereiro de 2015,
nhecimentos especializados que
iniciamos os trabalhos de implan-
possam impactar na formação pro-
tação. Assim, foi publicada uma
fissional dos universitários e téc-
instrução de serviços e prefeitos
nicos agrícolas. A proposta é tra-
e secretários de educação foram As ações de educação da CIDASC
balhar com o chamado Sanitarista
apresentados ao projeto e, com buscam promover a mudança de
Acadêmico com cursos da medici-
aceite, se iniciou o trabalho com as atitude do produtor, a mudança de
na veterinária, zootecnia e agrono-
escolas com crianças a partir de comportamento das crianças fren-
mia passando orientações da defe-
nove anos”, enfatiza Moreira. te a qualquer problema sanitário.
sa agropecuária, fazendo com que
“Estamos trabalhando na preven-
No projeto, são capacitados pro- conheçam a legislação, as normati-
ção, melhorando e garantindo a
fessores, há um cronograma de vas e estimular o conhecimento das
aproximação do serviço oficial pú-
atividades onde os médicos vete- doenças de notificação obrigatórias
blico com o produtor, com os pro-
rinários e engenheiros agrônomos na área animal, e na área vegetal, os
fissionais, com crianças, famílias e
vão até as escolas. A metodologia cuidados com uso de agrotóxicos e
universitários, finaliza a presidente
é transversal e multidisciplinar, a legislação fitossanitária, enfatiza
da Companhia Luciane de Cássia
com palestras e atividades práticas Surdi.  Moreira complementa que a
Surdi.
dentro e fora da sala de aula, cul- CIDASC avança em termos de ino-
minando com um concurso cultural vação. Hoje são oito universidades
Fonte: Site CIDASC. Acesse para
e certificação do jovem sanitarista. e mais de 500 universitários com o
ver o material didático elaborado.
Hoje são mais de 200 escolas e 14 olhar sistêmico da defesa agrope-
mil crianças atendidas. cuária para dentro da prática aca-
dêmica.
Com entusiasmo, a presidente Sur-
di comenta que, com a iniciativa do
sanitarista Junior, o conhecimento
C
AS

vai para dentro das casas, envol-


CID
ão

ve as famílias, e fica na cabeça da


Patrícia Almeida

ulg

criança que cresce e fica conhe-


Barroso Moreira -
Div

cendo o que é o certo.


to:

gestora da Supervisão
Fo

Outro ponto observado, segundo de Planejamento e


Surdi, é a carência das universi- Desenvolvimento de
dades com vistas a defesa agro- Pessoas – SEPLA da
pecuária. Assim, observou-se na CIDASC

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 39


Foto: Priscilla Du Preez / Unsplash

Empreendedorismo na educação superior

Educação empreendedora
na Universidade
Por Rayse Kiane de Souza

Engajar os alunos dos diferentes níveis no pro-


cesso de aprendizagem é um desafio (PIVEC;
DZIABENKO; SCHINNERL, 2003), principalmente onde a apresentação de conte-
údos densos e complexos de maneira expositiva desestimulam os alunos (AL-
Guilherme Paraol de Matos
AZAWI; AL-FALITI; AL-BLUSHI, 2016). Em cursos superiores, por exemplo, autores
como Lacruz (2004) relatam o gap entre a formação e as expectativas de merca-
do. Outro problema apresentado é a dificuldade de relacionar os temas apresenta-
dos com a realidade dos alunos e apresentar exemplos práticos pelos professores
(KIKOT; FERNANDES; COSTA, 2015).

O formato tradicional do professor como agente ativo e o aluno como ouvinte


mostra sinais de estagnação a mais de uma década (ALVEZ; RUSSO, 2009). O
educador precisa encontrar meios de estimular os alunos a pensar e desenvolver
suas habilidades individuais, e não somente ser um transmissor de informação
(AMORIM et al., 2016).

40 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Métodos diferenciados de ensino e os jogos devem oferecer possibi- incluindo a criação de 11 jogos. Os
aprendizagem como a gamificação, lidades aos alunos para explorar jogos são desenvolvidos em três
a aprendizagem baseada em jogos reflexivamente fenômenos, testar vertentes principais: cidadania,
e a educação empreendedora são hipóteses e construir objetos (KIILI, inovação e empreendedorismo. Ao
formas de estimular e engajar os 2005). Os jogos possuem diver- todo são seis jogos na temática de
alunos, e fazer uma melhor cone- sos benefícios para o aprendizado. cidades, dois focados em empre-
xão entre o ensino e o mundo real. Geralmente estão mais próximos endedorismo, um em ecossiste-
de simular experiências da vida real mas de inovação, um de habitats
Para ilustrar este cenário são apre-
do que a mídia educacional mais de inovação, um de ecossistema de
sentados exemplos de inovações
tradicional. Assim, permitem que o inovação e um de propriedade inte-
na educação superior.
aluno mergulhe em um ambiente lectual.
simulado realista, sem o medo das
Nas aulas da graduação na
consequências da vida real, forne-
Aprendizagem baseada em Universidade Federal de Santa
cendo um excelente vínculo entre
jogos Catarina, Clarissa Stefani Teixeira,
teoria e prática (MANN, 2002).
professora da disciplina de habitats
Esta é uma abordagem próxima a O grupo de pesquisa VIA Estação de inovação, afirma que “quando os
aprendizagem baseada em proble- Conhecimento se apoia no desen- alunos apresentam contato com
mas, onde problemas e cenários es- volvimento de jogos para as diver- os jogos há maior disposição em
pecíficos são colocados dentro dos sas formações realizadas e para se conhecer e aprofundar em con-
jogos para os alunos se envolverem uso em sala de aula. Assim, desen- ceitos que muitas vezes poderiam
na temática (EBNER; HOLZINGER, volveu material para o uso de crian- ser passados de forma cansativa.
2007). Neste cenário educacional, ças, jovens, professores e adultos, Além disso, fica evidente que com
Foto: Acervo VIA

Jogo Winners by VIA

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 41


a dinâmica os alunos apresentam por uma gratificação, motivação sor; e, possibilita ao estudante es-
ganhos de conhecimento e real- para a ação e redução de estres- tabelecer relações, generalizações
mente apreendem. Ao mesmo tem- se (SEIXAS; GOMES; FILHO, 2016). e a atuações autônomas, ou seja,
po em que há competição entre as A gamificação pode ser uma boa um papel ativo na construção de
equipes, há diversão, curiosidade e aliada para conseguir o envolvi- aprendizagens. Assim, Mondo et
engajamento”. mento dos indivíduos em situações al. (2018) descrevem que a gami-
de não-lazer, como em tarefas difí- ficação é um recurso valioso que
Ao todo, o grupo VIA já aplicou
ceis e complexas (PATRICIO, 2017). envolve os principais aspectos li-
seus jogos com mais de 1100 par-
Martins et al. (2018) indicam as po- gados à capacidade empreende-
ticipantes, incluindo crianças do
tencialidades pedagógicas da ga- dora: criatividade, inovação, pla-
ensino fundamental e alunos da
mificação no ensino superior como: nejamento, definição de objetivos
graduação.
auxilia na facilitação da aprendi- claros e possibilidade de assumir
zagem pois desenvolve raciocínio, riscos (MONDO et al., 2018).
conhecimento prático, interação,
Gamificação Um exemplo de gamificação na
dinamicidade por meio da diversão,
educação é o jogo InsuOnline,
criatividade, reflexão, envolvimen-
A gamificação consiste na utili- desenvolvido pela Oniria Games
to; desenvolve diferentes tipos de
zação de elementos de jogos na for Health Brazil da Faculdade
conteúdo de aprendizagem; exige
realização de outras atividades Pequeno Príncipe de Londrina,
do professor a criação de espaços
com o objetivo de provocar emo- Paraná. O jogo foi criado para
de experimentação; engaja o estu-
ções associadas ao ato de jogar educar estudantes e médicos ge-
dante e atende a diferentes ritmos
(MCDONALD, 2017). Essas emo- neralistas sobre o uso de insulina
de aprender (metodologia ativa);
ções podem ser de satisfação no tratamento do diabetes. O Dr.
promove a interação aluno-profes-
Foto: Randy Fath / Unsplash

42 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Leandro Arthur Diehl, coordenador Dr. Leandro Arthur
do projeto de pesquisa e desenvol- Diehl - Coordenador
vimento do game comentou sobre do projeto de
o projeto.
pesquisa e

al
desenvolvimento do

so
“O InsuOnline surgiu como uma

es
game InsuOnline

p
opção de metodologia ativa - in-

ivo
rqu
terativa e lúdica - para reforçar a

:A
to
educação dos médicos sobre como

Fo
utilizar insulina no tratamento do
diabetes mellitus, especialmente
no contexto da Atenção Primária
à Saúde, onde é acompanhada a
maioria dos pacientes portadores
de diabetes em nosso país. Trata-
se de um jogo digital (serious game)
O jogo foi tema da tese de douto-
desenvolvido por meio de uma
rado do professor Leandro Diehl, da
parceria entre pesquisadores da Curso (TCC) Empreendedor faz
Universidade Estadual de Londrina.
Universidade Estadual de Londrina, parte do programa Educação
Na pesquisa, que incluiu 134 médi-
Universidade Estadual de Maringá Empreendedora desenvolvido pela
cos atuantes em Unidades Básicas
e Faculdades Pequeno Príncipe e Incubadora Pulsar vinculada à
de Saúde do Paraná e Santa
uma empresa privada da cidade Universidade Federal de Santa
Catarina, observou-se que o uso
de Londrina, a Oniria Software. O Maria (UFSM). O objetivo do pro-
do InsuOnline se associa a melhor
jogo é dirigido para médicos e es- grama é promover em parceria com
aprendizagem em comparação
tudantes de Medicina que desejam os cursos técnicos, de graduação
com um treinamento presencial
aprender de forma prática quando e pós-graduação atividades e mo-
“padrão” sobre o mesmo assunto,
e como prescrever insulina para delos de negócios, projetos ino-
o que demonstra sua efetividade
o tratamento do diabetes em pa- vadores, ensino e extensão sobre
como ferramenta de educação mé-
cientes com diabetes mellitus tipo empreendedorismo. O intuito é fo-
dica continuada sobre o tratamento
2. O jogador assume o papel de mentar o empreendedorismo e a in-
do diabetes. A iniciativa foi premia-
um médico que está começando a tegração das diversas áreas do co-
da como melhor projeto brasileiro
trabalhar numa Unidade Básica de nhecimento no âmbito acadêmico.
na Microsoft Imagine Cup de 2013.
Saúde, sob supervisão de um cole-
Os resultados desse estudo estão Uma das ações do programa é
ga mais experiente, e precisa aten-
publicados no Journal of Medical o TCC Empreendedor realiza-
der vários pacientes com diabetes
Internet Research (JMIR): https:// do em parceria com o curso de
e ajudá-los a obter um melhor con-
www.jmir.org/2017/3/e72/.” Administração da UFSM. A propos-
trole da sua doença, geralmente
ta do TCC Empreendedor é possibi-
por meio do início ou do ajuste de
litar aos alunos de nível técnico e de
insulina. Conforme o jogador vai
graduação o desenvolvimento de
aprendendo os fundamentos do EDUCAÇÃO
suas atividades de final de curso no
tratamento com insulina, ele vai EMPREENDEDORA
ambiente inovador das empresas
passando para fases progressi-
vamente mais difíceis, nas quais
Trabalho de Conclusão de presentes na Incubadora Pulsar.
Curso Empreendedor Neste ecossistema empreende-
precisa inclusive lidar com várias
dor os discentes ficam conectados
barreiras ao tratamento efetivo do O Trabalho de Conclusão de com empreendimentos de desen-
diabetes.”

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 43


Foto: Freepik

l
oa
ss
pe
ivo
rqu

volvimento de ciência e tecnolo-


:A

Silon Procath Júnior


to

gia, uma experiência importante


Fo

/ Coordenador de
para o profissional em formação.
Empreendedorismo
Silon Procath Júnior, coordenador
da AGITTEC
de Empreendedorismo da Agência
de Inovação e Transferência de
Tecnologia (AGITTEC) responsá-
vel pela Incubadora Pulsar comen-
um setor da mesma o que propicia
ta sobre o TCC Empreendedor.
grande crescimento profissional
“A importância do TCC Empreen- na velocidade e na escalabilidade
dedor se dá no fato da possibilida- inerentes as statups”, afirma Silon tro é ajudar estudantes e membros
de da aplicação prática dos conhe- Procath Júnior. da comunidade a adquirir as ferra-
cimentos obtidos no decorrer do mentas, desenvolver as habilidades
curso de graduação em seu sítio de e cultivar a mentalidade de um em-
aplicação. O TCC EMPREENDEDOR Cal Poly - Innovation preendedor para que possam criar
coloca o estudante na condição Sandbox valor econômico e social em todo o
real de atuação profissional dentro mundo. No CIE, estudantes e mem-
de uma startup, ou seja, ele aplica o O Cal Poly Center for Innovation bros da comunidade estão imersos
conhecimento em um negócio por- and Entrepreneurship (CIE) é um no processo empreendedor por
tador de futuro e, na maioria das centro de inovação e empreende- meio de programas práticos de ino-
vezes, é responsável por atividades dorismo localizado na Califórnia, vação focados em três áreas distin-
chaves da empresa e em mais de Estados Unidos. O objetivo do cen- tas: Aprender, Preparar e Lançar.

44 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


O projeto Innovation Sandbox é um
desses programas e pertence a área
Aprender. O innovation Sandbox é um
espaço de trabalho compartilhado para

oly
os alunos “brincarem” com as mais re-

lP
centes ferramentas de criação de pro-

Ca
CIE
tótipos/ideias, explorar novos assuntos,

ok
bo
desenvolver tecnologias e compartilhar

ce
:Fa
conhecimentos. O local é equipado com

to
uma variedade de recursos que po-

Fo
dem ser utilizados pelos alunos, com
equipamentos de ponta, programas
educacionais e mentores de todas as
disciplinas. A Innovation Sandbox per-
mite aos alunos da Cal Poly formular e
desenvolver suas ideias em um espaço
de trabalho colaborativo. Ao aplicar o
aprendizado da sala de aula com pesso-
as de diferentes áreas de conhecimento
e formação para um objetivo comum, o CIE Cal Poly
Innovation Sandbox incorpora a filosofia
do “Aprender Fazendo”, que define o Cal
Poly.
Foto: Facebook CIE Cal Poly

CIE Cal Poly

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 45


Projeto NORTEAR coorde- empresas de base tecnológica e Inovadores, que tem como objetivo
nado pelo LIPPE/UFSC desenvolvimento de modelos de o auxílio a empresas nascentes de
negócios. Além dessa geração de base tecnológica, sobre seus pro-
O Laboratório de Práticas e conhecimento aplicado, o laborató- cessos de aprendizagem empreen-
Pesquisas de Empreendedorismo rio tem objetivos voltados à difusão dedora e desenvolvimento do mo-
da UFSC (LIPPE/UFSC), coordena- desses conhecimentos por meio de delo de negócios. Esse apoio ocorre
do pelo Prof. Rogerio Lacerda (CSE/ extensão. por meio de reuniões periódicas in-
UFSC), realiza projetos de pesqui- dividualizadas com os empreende-
Um desses projetos de extensão é
sa e extensão voltados para o de- dores, que na sua maioria são gra-
o projeto NORTEAR. O Nortear é o
senvolvimento de conhecimento duandos da própria UFSC, mas não
projeto de Orientação de Negócios
científico sobre gestão de startups, exclusivo a eles.

l
l

oa
oa

ss
l

ss
oa

pe
pe
ss

ivo
pe

ivo

rqu
ivo

rqu
rqu

:A
:A

to
to
:A

Fo
Fo
to
Fo

João Piske - Theo Gomes - Rogerio Lacerda - Professor da


Fundador da Rentou Fundador da Hana Universidade Federal de Santa
Catarina.
“Quando tivemos a ideia da “Quando começamos a Hana, 4 O projeto também é um importan-
Rentou, não sabíamos por onde meses atrás, éramos 4 graduan- te instrumento de coleta de dados de
começar, não tinhamos nome dos em engenharia que não sa- pesquisa e elicitação de problemáticas
nem nada, apenas uma ideia e biam por onde começar. A mento- reais das startups, retroalimentando
alguns poucos estudos sobre ria do professor Rogerio nos trouxe interesses dos pesquisadores, inicia-
o mercado para saber se ti- a confiança e orientação necessá- ção científica, dissertações e teses,
nha concorrência. Começamos ria para explorar as diversas áreas cujos resultados podem ser aplicados
então com as mentorias, e foi do conhecimento requeridas para no cotidiano dos gestores de empresas
onde começamos a ter um nor- empreender. Um ótimo exemplo de base tecnológica. “Dessa maneira, o
te do que fazer. Foi através de da ajuda que estamos recebendo LIPPE mantém uma estreita relação de
diversos experimentos sugeri- ocorreu quando estávamos com interpenetrabilidade entre os proble-
dos pela equipe, que a ideia de pouco foco e tentando estruturar mas das empresas com os seus pro-
negócio de Rentou foi sendo nosso funil de vendas, a mento- jetos de pesquisa, como estudos sobre
validada. Mentorias após men- ria foi capaz de nos propiciar os experimentos de negócios, gestão de
torias, íamos aprendendo mais gatilhos e conhecimentos neces- incertezas, métodos ágeis de desen-
sobre o nosso negócio e íamos sários para elaborar nosso funil e volvimento, marketing em startups,
dando vida a ele”, comenta João processo comercial”, conclui Theo dentre outros”, explica o professor La-
Piske, fundador da Rentou. Gomes, fundador da Hana. cerda.

46 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Foto: Kelly Sikkema / Unsplash
Referências:

AL-AZAWI, R.; AL-FALITI, F.; AL-BLUSHI, M. Educational gamification vs. game based
learning: Comparative study. International Journal of Innovation, Management and
Technology, v. 7, n. 4, p. 132-136, 2016.

AMORIM, M. C. M. S. et al. Aprendizagem e Jogos: diálogo com alunos do ensino médio-


técnico. Educação & Realidade, v. 41, n. 1, p. 91-115, 2016.

ALVEZ, J. B.; RUSSO, R. M. Reflexão sobre o uso e o interesse dos jogos de empresas nas
principais instituições de ensino superior. Facesi em Revista, v. 1, n. 2, 2009.

CALPOLY. Innovation Sandbox. Dísponível em: https://cie.calpoly.edu/learn/innovation-


sandbox-2/. Acesso em: 18 mai 2020.

EBNER, M.; HOLZINGER, A. Successful implementation of user-centered game based


learning in higher education: An example from civil engineering. Computers & education,
v. 49, n. 3, p. 873-890, 2007.

KIKOT, T.; FERNANDES, S.; COSTA, G. Potencial da aprendizagem baseada-em-jogos:


Um caso de estudo na Universidade do Algarve. RISTI-Revista Ibérica de Sistemas e
Tecnologias de Informação, n. 16, p. 17-29, 2015.

KIILI, K. Digital game-based learning: Towards an experiential gaming model. The Internet
and higher education, v. 8, n. 1, p. 13-24, 2005.

MANN, B. D. et al. The development of an interactive game-based tool for learning surgical
management algorithms via computer. The American Journal of Surgery, v. 183, n. 3, p.
305-308, 2002.

MARTINS, Cristina; GIRAFFA, Lucia Maria Martins; ROSÁRIO LIMA, Valderez Marina.
Gamificação e seus potenciais como estratégia pedagógica no Ensino Superior. RENOTE-
Revista Novas Tecnologias na Educação, v. 16, n. 1, 2018.

PIVEC, M.; DZIABENKO, O.; SCHINNERL, I. Aspects of game-based learning. In: 3rd
International Conference on Knowledge Management, Graz, Austria. 2003. p. 216-225.

MONDO, André Borba; DEPINÉ, Ágatha; PEREIRA, Gabriela Slompo; TEIXEIRA, Clarissa
Stefani. Gamificação aplicada à educação empreendedora: uma revisão integrativa: uma
revisão integrativa. In: 3° CONGRESSO NACIONAL DE INOVAÇÃO E TECNOLOGIA - INOVA
2018, 3., 2018, São Bento do Sul. Anais [...] . São Bento do Sul: Inova, 2018.

MCDONALD, S. D. Enhanced Critical Thinking Skills through Problem-Solving Games in


Secondary Schools. Interdisciplinary Journal of E-Learning & Learning Objects, 2017.

PATRICIO, R. A gamified approach for engaging teams in corporate innovation and


entrepreneurship. World Journal of Science, Technology and Sustainable Development,
v.14, n.2/3, 254-262, 2017.

SEIXAS, L.; GOMES, A. S.; DE MELO FILHO, I. J. Effectiveness of gamification in the


engagement of students. Computers in Human Behavior, v.58, p. 48-63, 2016.

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 47


Foto: Acervo VIA Estação Conhecimento

Hack the UFSC: educação


empreendedora com foco
em cidadania Por Clarissa Stefani Teixeira

No VIA Estação Conhecimento o empreendedorismo é abordado com uma visão


que vai além seu tradicional viés empresarial e de negócios, considerando-o
uma habilidade para transformar ideias em ações, projetos, produtos e soluções,
gerando, com isso, impacto positivo na vida do indivíduo e da comunidade.

Ágatha Depiné

48 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


As atividades do VIA, dessa de inovação, mas também a propostas para tornar o campus
forma, buscam apoiar a educação capacidade de compreender e se universitário mais “inteligente”. O
empreendedora de universitários comprometer com a estruturação projeto, à época denominado Smart
relacionando o empreendedorismo de projetos pessoais, profissionais, UFSC, foi desenvolvido a partir
à situações cotidianas, à sociais e urbanos. da visão de smart city, ou cidade
problemas e espaços que fazem inteligente, um dos habitats de
No primeiro semestre letivo de 2017,
parte do dia-a-dia dos estudantes. inovação estudados na disciplina.
no âmbito da disciplina habitats de
Em sala de aula são abordados Esta tipologia urbana tem por base
inovação, ministrada em cursos de
conteúdos teóricos e os passos uma relevante combinação de
graduação da UFSC, os alunos foram
básicos para entrar no mundo do atitudes decisivas, independentes
desafiados com uma abordagem
empreendedorismo e dos habitats e conscientes de seus diferentes
interdisciplinar a desenvolver
Foto: Acervo VIA Estação Conhecimento

Hack the UFSC: placemaking universitário - 2019.

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 49


atores para transformar a cidade em
um ecossistema urbano inovador a
partir do uso da tecnologia (DEPINÉ,
et al., 2018).

O campus universitário Reitor


João David Ferreira Lima possui
uma estrutura análoga em muitos
aspectos ao urbano, permitindo o
exercício de reflexão do campus
sob esse conceito, sendo também
o lugar de constante encontro e
convivência dos alunos ao longo
dos anos de graduação. O campus
sede da universidade, no bairro
Trindade, Florianópolis, abriga os
órgãos administrativos centrais e
principais setores da UFSC, com
área superior a um milhão de
metros quadrados (UFSC, 2020).

Para uma exploração


interdisciplinar da inteligência
urbana neste contexto, assim como
os desafios e potenciais existentes,
os alunos foram munidos de
ferramentas teóricas e práticas
para abordar o problema e o lugar.
A primeira etapa foi conduzir
os alunos ao entendimento do
conceito de cidade inteligente por
meio de aula expositivo-dialogada
e material de apoio como artigos
científicos e livros disponibilizados.
Ainda neste momento houve
uma sensibilização em relação
ao conceito de cidadania ativa,
Foto: Acervo VIA Estação Conhecimento

provocando os alunos a refletirem


sobre seu papel enquanto membros
da sociedade.

Sob orientação constante os


alunos desenvolveram diagnóstico
da situação do campus e de seu
entorno, mapeando problemas ou
pontos de melhoria em cada uma
das seis dimensões de cidade

50 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


inteligente citadas. A partir desse O Smart UFSC seguiu com Duas inovações ainda foram
diagnóstico, pequenos grupos frequência semestral nesse formato incluídas no projeto: um canvas
interdisciplinares trabalharam na até o início de 2019, quando o de identificação e priorização de
geração de soluções para resolver projeto passou por reformulação. problemas para ajudar a definir a
ou mitigar os problemas levantados. Após quatro edições, percebeu-se dor ou desafio na área trabalhada
No diagnóstico e na validação das a necessidade de adotar uma visão e a disponibilização de um pré-
soluções em desenvolvimento mais ampla e que não se limitasse mapeamento realizado pelo VIA
os alunos buscaram membros a uma única tipologia urbana sobre as dimensões trabalhadas
da comunidade. Cada grupo foi inovadora, mas à uma atitude na disciplina. Além disso, o projeto
direcionado a uma dimensão empreendedora e inovadora dos foi gamificado e ganhou elementos
da cidade inteligente, mas as alunos frente aos desafios urbanos de uma competição com prêmios e
atividades foram desenvolvidas contemporâneos. O projeto passou troféus.
colaborativamente ao longo de a ser denominado “Hack the UFSC: A cada semestre letivo são
duas semanas, de forma que o placemaking universitário”, com realizadas avaliações e melhorias
diálogo e trocas entre os grupos a proposta de criar projetos para nas disciplinas de graduação e
foram incentivados. Ideias e transformar o campus universitário pós-graduação visando alcançar a
soluções propostas pelos grupos e seu entorno num ambiente melhor melhor e mais afinada versão das
foram fundamentadas com e mais inclusivo, contribuindo propostas pedagógicas à turma,
dados e informações levantadas para o bem-estar das pessoas, ao contexto e aos objetivos de
ao longo da pesquisa e depois independentemente do uso de aprendizagem. Essa flexibilidade
passaram por validação junto aos tecnologia. e abertura à diferentes métodos
colegas e, quando possível, junto e recursos permitiu ao grupo
Esse trabalho se pautou num
à comunidade e outras partes desenvolver propostas únicas e
processo de criação colaborativa
interessadas. diferenciadas que atendem as
denominado placemaking, o
necessidades dos estudantes.
No semestre seguinte, ao iniciar a qual instiga os participantes a
Como resultado, foi percebido
segunda edição do Smart UFSC, reimaginarem e reinventarem
no contexto de graduação e
duas inovações foram inseridas os espaços considerando a
pós-graduação, o despertar da
no programa: um canvas de conexão entre as pessoas, o
capacidade empreendedora
solução criado pelo VIA (inspirado valor compartilhado entre elas, as
e suas capacidades pares,
no business model canvas), onde possibilidades de uso e a identidade
como a criatividade, a inovação
cada ideia pode ter sua viabilidade do local. Assim, a participação
e a capacidade de ação, em
e impacto analisados e, ainda, os da comunidade permanece no
diferentes alunos e com diferentes
jogos educativos da VIA sobre as centro de todo o processo e
direcionamentos.
tipologias urbanas inovadoras, define os modos de intervenção.
utilizados na primeira etapa do
projeto. Devido ao sucesso da
primeira edição, o Smart UFSC
conquistou mais espaço nos Referências:
semestres seguintes da disciplina
e, a partir da segunda edição, o DEPINÉ, Ágatha; AZEVEDO, Ingrid; GASPAR, Jadhi; VANZIN, Tarcísio. Cidade inteligente: a
transformação do espaço urbano pela tecnologia. In: DEPINÉ; Ágatha; TEIXEIRA, Clarissa.
período das atividades passou a
(Org.). Habitats de inovação: conceito e prática. 1ed. São Paulo: Perse, 2018.
ser de três semanas, permitindo
maior dedicação dos alunos e o UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Estrutura da UFSC. Disponível em:
<https://estrutura.ufsc.br/campi/campus-florianopolis/>. Acesso em: setembro de 2020.
aprofundamento das pesquisas e
propostas finais.

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 51


Foto: Freepik.com

Inovação na educação superior

Inovação na educação
universitária é necessária e Por Clarissa Stefani Teixeira

urgente
As iniciativas inovadoras em sala de aula ne-
cessitam de ampliação não apenas de esco-
po, tendo a inovação como prática transversal
em diversos conteúdos das diferentes áreas do
saber, mas também aplicando-a em diferentes
áreas do conhecimento (cursos) incluindo uma
visão interdisciplinar e que possibilite reflexões dos desafios re-
ais enfrentados no dia a dia conectado com o conteúdo programático. Inovar no
ensino superior requer o engajamento dos professores universitários e, este en-
gajamento perpassa algumas definições necessárias para a inclusão efetiva da
inovação em diferentes momentos do ensino, da pesquisa e da extensão.

52 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


A formação continuada to a fazer diferente no dia a dia da comunicação fazem com que haja
de professores para a sala de aula. Essa sala de aula não maior envolvimento do aluno com
inovação precisa necessariamente ser entre o ensino o que consequentemen-
quatro paredes dentro da universi- te impacta seu aprendizado, sua
Inovar não é tarefa fácil para os dade. Para efetivamente fazer a di- visão e tomada de decisão acerca
educadores e, no ensino superior, ferença a inovação precisa ser uma dos desafios. O direcionamento das
esse não é um desafio diferente. constante. Buscar práticas formati- práticas inovadoras busca que os
Costumamos ministrar aulas assim vas também é uma das formas de alunos possam descobrir, experi-
como fomos ensinados, ou seja, promover uma ação mais efetiva mentar e ver que são capazes de
replicamos muitas coisas por sim- e, entender que ao mesmo tem- criar soluções para problemas reais
plesmente não tentar fazer algo di- po que se ensina, se aprende. Não a serem enfrentados. Para tanto,
ferente. Ainda, não inovamos mui- mais enquadrados como os donos cabe ao professor planejar e estar
tas vezes por não conseguirmos do saber, a inovação permite que o em um processo iterativo de trocas
refletir como a didática adotada professor embarque em uma jorna- e de buscas de novos conhecimen-
está impactando no ensino-apren- da de transformação, onde inovar tos.
dizado em cada etapa da aula. é o meio para o conhecimento que
Logo, se permitir pensar um pouco está não apenas com o docente,
“fora da caixa” e assim efetivamen- mas também com os discentes e O professor como primeiro
te aplicar esses conhecimentos de- demais pessoas ao redor da univer- protagonista para a
pende de atitude e de uma decisão sidade e ainda longe dela.
inovação
- o fazer!
Na educação só se inova com o
Um dos principais atores no pro-
A geração de valor das práticas contato com os alunos, é uma tro-
cesso de inovação na educação
inovadoras no ensino superior per- ca. Estar atento aos feedbacks, ao
são os professores, já que condu-
mite que os alunos obtenham co- entrosamento dos alunos, ao brilho
zem a disseminação e aplicação do
nhecimentos de forma diferente, no olho com as ações propostas
conhecimento visando o desenvol-
que estes estejam engajados com faz parte do sucesso da inovação.
vimento de competências nos seus
atividades novas, antes não reali- Logo, estar capacitado para inovar
estudantes.
zadas, mas que na ação do ensino é preciso. Mesmo assim, não signi-
instiguem a curiosidade para querer fica que a ação é totalmente contro- As mudanças no contexto educa-
saber mais. Além do envolvimento lada. Há riscos! Há necessidade de cional dos últimos anos aceleradas
para a aquisição do conhecimento, se fazer uma verdadeira imersão, de pela disrupção provocada pela pan-
as práticas inovadoras permitem estar atento pois, propor algo dife- demia trouxe a tona as dificulda-
que os discentes adquiram habili- renciado que não se sabe o resulta- des dos professores em inovar em
dades para a vida e para suas fu- do final não significa que o proces- suas práticas, reforçando assim,
turas carreiras profissionais. Estas so não esteja mediado. E isso, pode a necessidade de uma formação
são diversas e permeiam não ape- ser o mais encantador e atrativo da continuada para inovar e intraem-
nas as hard skills consideradas no inovação. As boas surpresas em preender em suas instituições de
currículo, mas também soft skills permitir que os alunos se desen- educação.
almejadas para os chamados ta- volvam com processos inovadores,
“Muito mais que alterar currículos,
lentos do século XXI. que fomente a experiência, a prática
precisamos conduzir os nossos
mão na massa, a autonomia, a res-
Entretanto, como não há uma recei- professores a pensarem e agirem
ponsabilidade, pensamento crítico,
ta pronta para se inovar e como não de forma diferente. A cocriarem jun-
a persistência, a criatividade, a tes-
há um único caminho, é necessário to com seus colegas professores e
tagem, o levantamento de hipótese,
buscar inspiração e estar dispos- estudantes atividades formativas
a busca pautada em evidências e a

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 53


que atendam necessidades reais e Geraldo Campos -
ambientes reais, transformando o Professor, fundador
processo de ensino e aprendizagem e CEO do Sapienza

l
oa
em um constante exercício de agir,

ss
pe
aprender e construir, tendo plano de

ivo
fundo a prática da experimentação,

rqu
:A
da empatia e solidariedade, da cria-

to
Fo
ção e da reflexão”, afirma Geraldo
Campos, criador da metodologia
TCC Startup e consultor para ino-
vação e empreendedorismo em IES.

Conforme Campos, já existe um


trabalho junto a universidades bra-
sileiras e latino-americanas com a
formação de professores, para que
estes possam conhecer metodo-
logias, ferramentas e abordagens
para ensinar seus estudantes a ino-
varem e empreenderem, por meio
de modelos inovadores de aprendi-
zagem. O TCC Startup, por exemplo,
premiado pela ENDEAVOR Brasil em
2016 e implantado em mais de 30
universidades no Brasil é uma das
formações de professores que é de-
senvolvida.

“Uma outra atividade que desenvol-


vemos e que os professores utili-
zam muito é a capacitação para o
uso do Canvas do Professor. Uma
ferramenta que contribui para a
construção de planos de ensino
inovadores, sendo uma nova forma
de pensar e construir disciplinas,
aulas e propostas de atividades pe-
dagógicas”, enfatiza Campos.
Foto: Acervo VIA Estação Conhecimento

Segundo a professora Clarissa


Stefani Teixeira estas ferramentas
permitem que o professor se pla-
neje para elaborar as aulas e efe-
tivamente inserir a inovação em
sua prática pedagógica. Em 2018,
por exemplo, junto a Prefeitura
Municipal de Florianópolis - Santa

54 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Foto: Acervo VIA Estação Conhecimento
Catarina, o grupo VIA Estação Disciplinas focadas em pria coordenadoria desenvolver
Conhecimento capacitou mais de problemas reais: o caso da proposições de soluções para os
200 professores utilizando ferra- graduação em Engenharia desafios relatados. Assim, a cada
mentas inovadoras para discutir as trimestre os grupos de alunos de-
de Materiais
temáticas ligadas a cidades inteli- senvolveram soluções como: ma-
gentes. Para tanto, foi utilizado um A área de engenharia e gestão de peamento dos egressos e identifi-
Canvas que apresenta reflexões de conhecimento é disciplina obriga- cação de novos locais de estágio,
como a educação pode contribuir tória para alunos da Engenharia de entendimento das soft skills alme-
para a transformação das cidades. Materiais da Universidade Federal jadas pelas empresas empregado-
As ferramentas possibilitam que o de Santa Catarina. Como opção, ras dos engenheiros de materiais,
professor tenha seu planejamen- a disciplina durante quatro anos mapeamento georeferenciado dos
to prévio para que as ações sejam focou na resolução de problemas locais de estágio no Brasil e no
balizadas junto aos alunos. É uma reais da coordenadoria de estágios mundo, mapeamento georeferen-
forma de fazer com que o professor do curso, onde cada aluno deve ciado de locais para residência de
também planeje de forma diferente cumprir seis inserções em ambien- novos estagiários, mapeamento de
e inovadora. Que consiga planejar te real, totalizando seis trimestres laboratórios na universidade para
de forma mais ágil, mas ao mesmo de atividades. Concorrido e desa- abrir novos campos de estágio,
tempo com qualidade e foco. fiador, a proposição da disciplina organização da documentação de
foi, a partir de problemas relatados apoio ao estagiário, proposição de
pelos alunos do curso e pela pró- classificação para a candidatura

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 55


Clarissa Stefani
de vagas e seleção para a alocação
Teixeira -
da vaga pela coordenadoria. Além
professora da
da gestão do conhecimento da co-
disciplina.
ordenadoria, a disciplina buscou a

l
oa
explicitação dos conhecimentos

ss
pe
necessários para todas as fases

ivo
rqu
do estágio. Além disso, o desafio

:A
dos alunos em cada fase foi deixar

to
Fo
toda a documentação organizada
para que no trimestre seguinte no-
vos alunos seguissem suas práti-
cas sem perda de conhecimento.
Em 2019-3, para fechar o ciclo, os
alunos trabalharam com métodos
e técnicas de gestão do conhe-
cimento de forma a compartilhar
com o curso as soluções desenvol-
vidas nas fases anteriores. “A importância de desenvolver atividades que leve o aluno a
ter experiências reais com diferentes contextos e problemas
que são complexos, buscando resolvê-los, faz diferença na
aprendizagem. Outra ação importante é o feedback a cada
fase do processo. Os alunos precisam saber lidar com a
necessidade de se apresentar novas alternativas, de pensar
diferente, de pesquisar um pouco mais para se chegar em
l
oa
ss

uma solução mais próxima do ideal e alinhada com as


pe
ivo

expectativas do demandante. Claro que é desafiador fazer


rqu
:A
to

proposições que ainda não se tem a resposta. Mas esse é


Fo

o grande diferencial das aulas de Engenharia e Gestão do


Conhecimento, permitir que os alunos tenham uma imersão
e uma experimentação real, colocando a mão na massa e
sendo protagonista de seu processo de aprendizagem”.

“Meu último trimestre da faculdade me pegou de surpresa. Após quase 5 anos aprendendo conhecimentos técnicos
de engenharia, me deparei com um trimestre focado em gestão, inovação e tecnologia. Tive uma relação especial
com a matéria de gestão do conhecimento. Aprendi a coletar feedbacks, identificar padrões e criar processos, visan-
do resolver problemas de forma simples e eficaz. Hoje trabalho na área de sucesso do cliente em uma empresa de
tecnologia industrial, onde meu objetivo principal é gerir o sucesso dos nossos clientes e potenciar seus resultados,
o que só é possível, se bem compreendido seus problemas e processos. Não só aplico muito do meu aprendizado,
como tenho plena consciência que esta foi uma das disciplinas que mais agregou minha carreira profissional. Não
atoa, estou cogitando o mestrado em gestão do conhecimento na UFSC”.

Jordana Arruda, Engenheira de materiais - aluna na disciplina Gestão do Conhecimento cursada em 2018-1.

56 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


“A disciplina de habitats de inovação, possibilita ao aluno apreensão
do saber, primeiro em um nível conceitual, em relação aos diversos
al

atores de que se compõem os Ecossistemas de Inovação, dentre


sos
pe

esses, os habitats de inovação, categorizados não somente no Brasil,


o
uiv
Arq

mas também em nível mundial, e na prática, através de processos de


to:
Fo

ensino-aprendizagem inovadores, como a gameficação, oportunizar ao


aluno a capacidade de resolução de problemas práticos e geradores de
conhecimento”.

João Carlos De Pellegrin de Souza - Filosofia UFSC

A gamificação como tipologia vai compondo o chama- dem ser usados como apoio para
potencialização do do “Da VIA para o mundo” - jogo as respostas. As respostas devem
conhecimento do grupo VIA Estação Conhecimen- ser feitas de forma individual ou em
to. O jogo aborda os conceitos dos grupo, dependendo da indicação
A disciplina de habitats de inova- habitats, assim como exemplos da carta. O objetivo das ações é o
ção, ministrada para diversos cur- práticos nacionais e internacionais compartilhamento de conhecimen-
sos de graduação da Universidade que são abordados durante a dis- to que impacta não apenas a turma,
Federal de Santa Catarina, tem seus ciplina. Para a aplicação do jogo mas os amigos de suas redes so-
conteúdos totalmente gamifica- a turma é dividida em equipes, e a ciais com o compartilhamento de
dos. Durante a disciplina todas as cada turno um membro da equipe conhecimentos adquiridos e mate-
tipologias de habitats de inovação deverá responder ou executar uma riais como e-books, posts de blog
são apresentadas para os alunos, ação de uma carta aleatória. O jogo e outras matérias sobre habitats de
que de forma modular para cada conta com alguns recursos que po- inovação.
Foto:Acervo VIA Estação Conhecimento

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 57


Cristiane Dall’ Cortivo português, a aplicação de metodo-
Lebler - Professora da logias inovadoras para o ensino de
al
so

Universidade Federal de língua portuguesa e a transposi-


esp

ção didática desses conceitos para


Santa Catarina
ivo
rqu

uma situação concreta de ensino-


:A
to

-aprendizagem. Para a professora


Fo

Cristiane Dall’ Cortivo Lebler, “ativi-


dades como essas colaboram para
so de Letras-Português, jogos que o desenvolvimento de habilidades
tiveram o objetivo de ilustrar as re- importantes para os futuros do-
gras de funcionamento da língua centes, uma vez que articulam co-
portuguesa, especialmente aquelas nhecimentos de diferentes esferas
referentes aos níveis morfológico que constituem a sua formação, já
e sintático, articulados na chama- os inserindo em atividades que têm
da “morfossintaxe”. A proposta potencial de espelhar situações de
A gamificação na formação consistiu em, após um estudo de- sala de aula”.
de professores para a talhado das regras de flexão e deri-
Educação Básica vação das palavras, pesquisar, de-
senvolver e testar modos de tornar A pós-graduação como
Outro exemplo de inovação e do mais tangíveis essas regras, tendo espaço para a inovação no
uso da gamificação aconteceu na como público-alvo desses jogos ensino
formação de professores para a estudantes dos níveis fundamental
Educação Básica, na área de Letras. e médio. Essa atividade proporcio-
Por meio dessa metodologia, foram nou a pesquisa de conceitos-chave As aulas da disciplina de habitats de
produzidos, por estudantes do cur- para o estudo da morfossintaxe do inovação do Programa de Pós-Gra-
Foto:Acervo VIA Estação Conhecimento

58 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


duação em Engenharia e Gestão do periência onde discentes e profes- guma forma cria empatia e vivência
Conhecimento nasceram com prá- sores identificam situações reais e prática a todos os participantes.
ticas que vão além da sala de aula realizam proposições de melhoria
Em 2020, com a pandemia, a dis-
e possibilitam experimentar os para determinado território com
ciplina ganhou o Brasil e o exterior,
espaços de inovação e identificar ações imersivas e práticas colabo-
sendo realizada pela primeira vez
suas dificuldades e oportunidades. rativas.
em rede. Discentes de 36 cidades,
Assim, com base científica e práti-
Em 2018 a turma realizou imersão 12 estados brasileiros e três paí-
ca, a disciplina desde 2016, permite
no Distrito Criativo, localizado no ses estiveram reunidos de forma
a inserção dos alunos em diversos
centro de Florianópolis, estudando remota para discutir os principais
espaços de inovação fazendo uma
suas necessidades e fazendo pro- aspectos da cultura da inovação e
conexão com gestores e usuários.
posição de melhorias. Neste mes- do empreendedorismo para o de-
Desde 2018 a disciplina, por meio
mo ano, foi possível conhecer ainda senvolvimento de territórios com
da metodologia Ciclo VIA do grupo
diferentes realidades como o com- o apoio dos habitats de inovação.
VIA Estação Conhecimento, vem
plexo Vila Flores de Porto Alegre. Participaram da disciplina 20 es-
apresentando desafios de habitats
2019 o foco foi o Centro de Inova- pecialistas convidados que com-
de inovação com vistas a alterna-
ção da ACATE Sapiens Parque, tam- partilharam suas vivências com os
tivas de enfrentamento. A metodo-
bém localizado em Florianópolis. O discentes. Ao final da disciplina, 10
logia é composta por seis etapas,
ambiente que ainda não tinha ati- territórios receberam indicações de
sendo personas e atores, desafios,
vidades foi alvo de profunda análi- ações para seu desenvolvimento
soluções, stakeholders, proposição
se e proposição para sua ativação econômico e social.
e demo day. É pautada por aborda-
e conexão com o Parque no qual
gens combinadas das metodolo- A pesquisa como alavanca
está alocado. Cabe destacar que,
gias ativas de educação, baseadas para habilidades inovadoras
em ambos os anos, a disciplina foi
em lugar e em problemas, ambas
realizada dentro dos espaços de O grupo de pesquisa VIA Estação
com aprendizagem pautada na ex-
inovação mencionados o que de al- Conhecimento em suas ações de
Foto:Acervo VIA Estação Conhecimento

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 59


pesquisa oportuniza o contato com não universitário. Assim, o blog do a prática extensionista permite re-
o conhecimento científico em em- grupo é mantido com informações flexão do conhecimento gerado
preendedorismo e inovação. O pro- que buscam aproximar o conheci- e, ainda mais, permite que novos
fessor age como mediador para a mento científico de pessoas que conhecimento sejam adquiridos.
aquisição do conhecimento, dan- estão fora da universidade. Com ela, o grupo VIA Estação Co-
do suporte necessário e fazendo nhecimento vem desenvolvendo
as conexões que potencializam ações com diversas universidades
a formação e o desenvolvimento A prática da extensão como e demais atores do ecossistema,
de novas habilidades. Com ações oportunidade para aplicar e compartilhando suas metodologias
em rede, uma das práticas reali- e fomentando sensibilização para a
gerar novos conhecimentos
zadas ao longo dos últimos três cultura da inovação e do empreen-
anos é o contato com os objetivos A extensão é uma oportunidade de dedorismo. Nos últimos anos o gru-
de estudo do grupo, ou seja, com aplicação da teoria. Sem dúvidas po rodou o Brasil e o exterior para
os habitats de inovação. Assim, o
grupo desenvolve suas pesquisas
Foto:Acervo VIA Estação Conhecimento

ao mesmo tempo que utiliza os es-


paços de habitats de inovação de
Florianópolis para a promoção de
discussão acerca dos temas. Em
vez de estar dentro da universida-
de, o grupo vai até os espaços e faz
destes a grande arena para a dis-
cussão do que está sendo tópico
de estudo.

O foco no contexto científico pos-


sibilita habilidades investigativas
que estão relacionadas com o pla-
nejamento, com o próprio processo
da investigação. A interpretação
de textos e sua “tradução” para as
práticas observadas nos contextos
de imersão também são adquiridas
com as atividades do grupo. A bus-
ca por entender as contradições
faz parte do processo de apren-
dizagem. As habilidades de apre-
sentação oral, tomada de decisão
baseada em evidências e liderança
também são trabalhadas com es-
tas imersões. Além disso, a reda-
ção do texto científico é buscado
na prática científica. O grupo tam-
bém oportuniza a escrita de textos
mais informativos, com uma lin-
guagem mais adequada ao público

60 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


disseminar suas práticas. Cidades lis, por exemplo, em duas edições ferentes parceiros do grupo. Faz a
como Santarém no Pará, Santana do concurso de desenho e redação mediação de diversas oficinas que
do Livramento, Santa Maria, Caxias com as temáticas de cidades inteli- levam o envolvimento da comuni-
do Sul e Porto Alegre no Rio Grande gentes e cidades criativas que cul- dade, diferentes stakeholders para
do Sul, Rivera no Uruguai, Blume- minaram na intervenção em uma a condução de soluções que be-
nau, Chapecó, Rio do Sul, São José, escola que com apoio de arquitetos, neficiem o cidadão e melhore sua
Florianópolis, Tubarão, Lages, São artistas, pais, professores e gestão qualidade de vida.
Bento do Sul, Rio Negrinho, Canoi- foi possível envolver os alunos e a
Mais recentemente, o grupo em
nhas, Balneário Camboriú em Santa comunidade para pintar o muro de
conjunto com a TV UFSC lançou um
Catarina, já tiveram alguma cone- uma escola. Além disso, nesta mes-
programa inédito chamado Estação
xão com o grupo. ma ação foram capacitados mais
de 400 professores das escolas de Conhecimento que busca abordar
Em Florianópolis, por meio da ex- temas associados à inovação e ao
Florianópolis. Ainda, com o público
tensão, o grupo realiza ações com empreendedorismo disseminando
escolar o grupo vem desenvolvendo
suas metodologias e recebe outras práticas e conceitos das diversas
ações com vistas a cidadania, em-
universidades e escolas para fazer tipologias de habitats de inovação.
preendedorismo e inovação e en-
rodadas de processo de inovação. Assim, com a extensão é oportu-
volve crianças e adolescentes para
Com a rota da inovação é possível nizado que os discentes, tanto da
desafios que necessitem mão na
também compartilhar experiências graduação quanto da pós, tenham
massa e colaboração consideran-
com diferentes atores do ecossis- uma visão compartilhada do mun-
do a realidade de cada indivíduo e
tema brasileiro e mostrar o que a do. A proposta do programa é usar
suas aspirações futuras.
universidade e Florianópolis apre- uma linguagem menos formal com
sentam de mais inovador. O grupo também organiza diversos exemplos para a comunidade, unin-
eventos de inovação, oportunizan- do conceitos teóricos acadêmicos
Por meio da extensão foi possível
do que universitários e comunidade e temáticas relacionadas à habitats
executar projetos em conjunto com
usufruam do conhecimento de di- de inovação.
a guarda municipal de Florianópo-
Foto:Acervo VIA Estação Conhecimento

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 61


Foto:Acervo VIA Estação Conhecimento

62 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Foto: stem.T4L / Unsplash

Para além dos muros da universidade

RexLab aproxima educação


e tecnologia Por Guilherme Paraol de Matos

O Laboratório de Experimentação Remota -


RexLab é reconhecido por atuar além dos muros
da universidade, aproximando ciência, tecnolo-
gia e sociedade, principalmente, pela inserção
e utilização da tecnologia na educação.

O laboratório estimula os jovens a se inserirem nas carreiras científico-tecnológi-


cas e busca integrar a educação científica ao processo educacional promovendo
a melhoria do ensino em todos os seus níveis. Localizado na Universidade Federal
de Santa Catarina, no Campus Araranguá, o RexLab criado pelo professor Dr. João
Bosco da Mota Alves é coordenado pelo professor Dr. Juarez Bento da Silva e

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 63


Juarez Bento da
pela coordenadora adjunta profes-
Silva,
sora Drª. Simone Meister Sommer
Coordenador
Bilessimo. Atualmente o laborató-
do RexLab
rio atua em uma rede de 12 univer-

l
oa
sidades em 5 diferentes países. O

ss
pe
professor Dr. Juarez Bento da Silva,

ivo
rqu
coordenador do RexLab comenta

:A
no quadro ao lado sobre o IntecEdu

to
Fo
e a atuação do laboratório como um
importante agente de inovação na
educação.

Os projetos desenvolvidos atual-


mente pelo laboratório são: i) GT-R-
ME: incentiva a integração de tec-
nologias no ensino da rede pública.
ii) VISIR: define, desenvolve e avalia
um conjunto de módulos educati- “O RExLab, foi fundado em 1997, e desde então tem se
vos que compõem laboratórios. iii) empenhado em contribuir para a inovação educacional.
TEIA: promove oficinas de empre- Todos os recursos desenvolvidos são disponibilizados
endedorismo e tecnologia para es- gratuitamente. Desenvolvemos desde 2008 um programa
tudantes de Escolas Públicas que de integração de tecnologia na educação, denominado
idealizam e desenvolvam soluções
InTecEdu. Este programa já capacitou mais de 400
de inovação social para benefício de
professores, em relação a integração de tecnologia em
sua própria escola ou da comunida-
planos de aulas. Atualmente 40 escolas de Educação
de. iv) História Ilustrada: Relatos
Básica, de SC e do RS, utilizam o ambiente virtual, e
da cultura e história Mbya Guarani
destas 236 docentes, 401 turmas e 8.495 alunos fazem
sob a ótica indígena: contribui para
uso dos recursos. Para apoiar as atividades práticas,
a preservação da história e cultura
são disponibilizados laboratórios remotos construídos
de tribos Guarani por meio da con-
no RexLab, a partir de uma plataforma aberta modular,
fecção de histórias em quadrinhos
desenvolvida no laboratório.”
sobre o cotidiano das aldeias. v) In-
TecEdu: integra tecnologia na Edu-
cação Básica.

Por meio do RexLab é possível


Conheça mais:
acessar vários laboratórios de ex-
perimentação remota, que possi-
Referências:
bilitam o compartilhamento de re- Site do RexLab:
https://rexlab.ufsc.br/
cursos para todos aqueles que não
REXLAB. Disponível em: https://rexlab.
possuem acesso ao laboratório físi- Laboratórios de experimentação ufsc.br/. Acesso em: 13 mai 2020.
co. Em 2017, o laboratório recebeu remota: http://relle.ufsc.br/labs

o Prêmio GOLC (Global Online Labo-


ratory Consortium) de melhor labo-
ratório controlado remotamente.

64 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Educação Fora da Caixa

Encontro Internacional de
Inovação na Educação
Por Rayse Kiane de Souza

Inovar em educação não é algo específico da


contemporaneidade.
Maria Eduarda Zanella
Muitos movimentos já foram responsáveis por mudanças na educação e nos seus
sistemas de ensino - a própria invenção da escola, no final da Idade Média, se
configurou, à época, como uma forma de inovar frente às práticas educacionais
vigentes. Esses modos de inventar e de reinventar a educação, seus processos,
formas e metodologias, entretanto, sempre estiveram ancorados às necessida-
des evidenciadas em cada época vivida pela sociedade. Nesse sentido, inovar em
educação significa olhar para o contexto social em que se está inserido, entender Cristiane Dall’ Cortivo Lebler
os problemas que se apresentam, buscar as respostas e as soluções, e, sobretudo,
ser propositivo.

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 65


Plenária principal no ConheCER / Encontro Internacional de Inovação na Educação 2019
Foto: Acervo VIA Estação Conhecimento

VI A
rvo
ce
:A
to
Fo
Estande VIA no III ConheCER
e Encontro Internacional de
Inovação na Educação 2019

Foi com esse espírito que a Univer- privado (gestores privados e em- gem, Gamificação e Tecnologias e
sidade Federal de Santa Catarina presas privadas de tecnologia) e a Realidade Virtual.
(Departamentos de Engenharia comunidade.
Essas duas publicações somam-se
do Conhecimento, Metodologia de
Durante os três dias do evento, re- a outras quatro já editadas dispo-
Ensino e Informática e Estatística,
alizado no Centro Sul, em Florianó- nibilizadas para pesquisadores e
grupo de pesquisa VIA Estação
polis, houve a participação de mais especialistas da área, produtos de
Conhecimento e grupo de pes- de 800 pessoas de diferentes es- edições anteriores do evento.
quisa Mídia e Conhecimento), em tados brasileiros. O evento não só
parceria com o Sebrae Santa Cata- discutiu a inovação na educação O primeiro dia de evento foi mar-
rina (Centro Sebrae de Referência em seus diferentes aspectos como cado pelas apresentações orais
em Educação Empreendedora) re- também inovou quanto ao seu for- dos trabalhos científicos. Os outros
alizaram, em outubro de 2019, o III mato e às atividades apresentadas dois dias contaram com palestras
Encontro Internacional de Inovação em sua programação: esta foi a pri- na plenária principal, oito salas te-
na Educação e o III ConheCER. meira edição com chamada públi- máticas, apresentação de pôste-
ca de trabalhos científicos. Foram res e a realização do MakerATTOn.
A ação teve como objetivo discu-
mais de 30 trabalhos apresentados Além disso, o Grupo VIA preparou
tir e compartilhar ideias e práticas
na forma de comunicação oral e de um espaço aconchegante com os
na educação de forma a aproxi-
pôsteres, que originaram duas pu- materiais, jogos, canvas, impres-
mar diferentes atores envolvidos
blicações – um livro, a 5ª edição da sora 3D da Minibot, peças da Atto,
com a temática, como a academia
obra Educação fora da caixa: ten- café e muito bate papo sobre inova-
(professores, pesquisadores e alu-
dência para a educação no século ção e educação. Com isso, os par-
nos de graduação e de outros ní-
XXI, e os seus anais, que reuniram ticipantes do evento puderam co-
veis como o técnico e o médio), o
vinte e sete artigos em torno dos nhecer um pouco mais do trabalho
mundo público (gestores públicos e
eixos Metodologias de Aprendiza- do grupo e conhecer os integrantes
profissionais da educação pública),
da equipe.

66 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Educação fora da caixa: Educação fora da caixa: Educação fora da caixa:
tendência para a educação tendência para a educação tendência para a educação
no século XXI - volume I no século XXI - volume II no século XXI - volume III

Clarissa Stefani Teixeira


TEIXEIRA | LEBLER | SOUZA

Cristiane Dall’ Cortivo Lebler


Marcio Vieira de Souza

organizadores
A educação é o tema central, absolutamente relevante e determinante para o
alcance de patamares de bem-estar superiores, culminando, em termos básicos,
com o aumento da capacidade de discernir entre as diversas alternativas de EDUCAÇÃO FORA DA CAIXA
escolha, ao dispor de cada um. Com o advento do uso intensivo da tecnologia,
coloca-se ao alcance de todos que a utilizam um mundo de oportunidades, tendências internacionais e perspectivas
mormente àqueles que optarem pelo seu amplo aproveitamento. Nesse diapasão,
a busca pela descoberta de alternativas metodológicas que favoreçam o processo
sobre a inovação na educação
de aprendizagem se revela apropriada e contemporânea. O esforço dos educadores
em produzir comportamentos cada vez mais avançados e adaptados às tendências
que devem sustentar a vida passa a ser um movimento de intermediação entre o
saber sabido e explicitado com os aparatos e artefatos tecnológicos disponíveis,
EDUCAÇÃO FORA DA CAIXA

alcançando os aprendentes em sua plenitude. [...]


A estabilidade é efêmera. Seus efeitos não podem se estender por períodos
prolongados, sob pena de onerar demasiadamente a retomada, seja de processos
produtivos ou qualquer atividade humana. É preferível e vital a criação de estados
transitórios de desconforto, que, quando provocados e aproveitados, rendem a
atualização e a valiosa contemporaneidade. É isso, elastecer a capacidade cognitiva,
transformá-la em habilidades e renovar permanentemente esse processo deve ser
o fator de alavancagem de bons resultados.
EDUCAÇÃO FORA DA CAIXA
Anacleto Angelo Ortigara
VOLUME 5
Doutor em Engenharia de Produção – UFSC COLEÇÃO MÍDIA, EDUCAÇÃO, INOVAÇÃO E CONHECIMENTO
 VOLUME 5

openaccess.blucher.com.br

Educação fora da caixa: Educação fora da caixa:


tendência para a educação no tendência para a educação no
século XXI - volume IV século XXI - volume V

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 67


Dinâmica de identificação de problemas e soluções
Foto: Divulgação do evento

Makeratton
O MakerATTOn é uma dinâmica de do que é cidade, o que as crian- Os alunos receberam máscaras de
sensibilização com crianças fun- ças gostam e não gostam na sua super heróis para tornar a atividade
damentada na solução de proble- cidade e quais soluções poderiam ainda mais lúdica e foram guiados
mas. Trabalha a identificação de ser propostas para os principais em nossa atividade pelo Canvas de
problemas e o desenvolvimento de problemas urbanos levantados por Problema-Solução do VIA! Dessa
protótipos rápidos para soluções eles. forma, cada grupo trabalhou com
com as peças de montar Atto Edu-
cacional. Essa experiência permite
o desenvolvimento das habilidades

Foto: Divulgação do evento


manuais, da capacidade de solu-
cionar problemas, da criatividade
e do tema trabalhado na dinâmica.

Durante o evento, o #teamVIA reali-


zou quatro MakerATTOns nos dois
dias de Encontro Internacional de
Inovação na Educação – Educação
Fora da Caixa e ConheCER. A ativi-
dade foi desenvolvida com turmas
de duas escolas de ensino básico
de Florianópolis. O MakerATTOn
iniciou-se com a contextualização

68 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


os problemas da cidade e de-
senvolveu uma solução, com o
auxílio do #teamVIA. A fase de
prototipagem da solução acon-
teceu com o kit educacional de
nossos parceiros da Atto Edu-
cacional. Os alunos apresen-
taram suas soluções para os
colegas e professores. Por fim,
todos os alunos receberam um

Foto: Divulgação do evento


chaveiro produzidos no nosso
#VIAMaker e um lanche para re-
por as energias!

#teamVIA

Foto: Divulgação do evento

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 69


Palestra no Encontro Internacional de Inovação na Educação 2017

to
en
ev
do
o
çã
lga
Foto: Divulgação do evento

ivu
:D
to
Fo
Roda de aprendizagem no
Encontro Nacional de Inovação
na Educação 2015

Um pouco da história…
O Encontro Internacional de Ino- Exposição
vação na Educação é um evento de soluções
to

bienal que ocorre em Florianópolis


n

educacionais no
ve
oe

desde 2015 e busca discutir ten-


Encontro Nacional
od

dências e mudanças necessárias


çã

de Inovação na
lga

à educação do futuro. Seu intuito


ivu

Educação 2015
:D

é promover a troca de experiências


to
Fo

entre educadores, pesquisadores,


gestores e empreendedores em
educação reconhecidos nacional e
internacionalmente.
ton

Em sua primeira edição, ainda em


ve
oe

como evento nacional, houve a pre-


od
çã
lga

sença de mais de 350 educadores


ivu
:D

que participaram de uma imersão


to
Fo

de um dia inteiro. O evento contou


com painéis, exposição de produ-
tos e soluções do setor e rodas de
compartilhamento. alunos, educadores e gestores, e
recebeu palestrantes de todo o
No ano de 2017, em sua segunda Brasil, além de uruguaios, cana-
edição, novamente o evento ocor- denses e pesquisadores brasileiros
reu em dois dias, teve a participa- atuantes na Inglaterra, se tornando
ção de mais de 300 pessoas, entre um evento internacional da área.

70 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


to
en
ev
do
o
çã
lga
Foto: Divulgação do evento

ivu
:D
to
Fo
Palestra no
Encontro Nacional
Exposição do Pronto 3D
de Inovação na
da UFSC no Encontro
Educação 2015
Internacional de Inovação na
Educação 2017

A edição de 2019 ampliou seu al-


cance e se consolidou como um
evento internacional de grande por-
Professor Márcio
te sobre o tema, trazendo boas re-
SC

Vieira de Souza,
UF

flexões sobre o futuro da inovação


m/

Universidade
co

na educação.
ge

Federal de Santa
t/A
uin

Para o professor da Universidade Catarina


ir Q

Federal de Santa Catarina e coorde-


:Ja
to

nador do grupo de pesquisa Mídia


Fo

e Conhecimento, Márcio Vieira de


Souza, o evento tem um papel im-
portante na discussão da cultura de
educação regional desde 2015. Po-
rém, essa iniciativa não se restringe
somente ao estado onde é realiza-
da, já que, a partir dela, a discussão
toma proporção nacional e interna-
cional, criando um movimento em
rede de articulação da inovação na
educação. Para o professor, o even- Para a professora Clarissa Stefani mesmo tempo em que professores,
to é um espaço de troca, de reflexão Teixeira, coordenadora do grupo de gestores públicos e privados, alu-
sistematizada, que ajuda diferentes pesquisa VIA Estação Conhecimen- nos, pesquisadores e empresários
atores da educação a pensarem e to, o Encontro Internacional de Ino- se misturam para compreender me-
a proporem novas soluções para o vação na Educação é uma oportu- lhor os desafios e necessidades da
momento atual da educação. nidade de trocas de experiência ao educação.

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 71


A professora do Departamento de
Metodologia de Ensino do Centro
de Ciências da Educação, Cristia-
ne Dall’ Cortivo Lebler, acredita que
eventos como esse têm importân-
cia fundamental para difundir e
potencializar práticas inovadoras
em educação. “Trata-se de uma
crença comum a de que inovar em

l a
so
educação é uma tarefa complexa,

es
Cristiane Dall’

op
já que muitos acabam relacionan-

uiv
Cortivo Lebler,

q
do a inovação ao uso das novas

:Ar
Departamento de

to
tecnologias. Na verdade, muitas

Fo
vezes, basta mudar o modo como Metodologia de
se planeja ou se executa determi- Ensino do Centro
nada atividade, incorporando ao de Ciências da
cotidiano, de forma gradual, novas Educação - UFSC
formas de ensinar e de aprender –
e a tecnologia nem sempre precisa
estar envolvida. Pode-se ministrar
isso, é indispensável que se invista nário que requer, cada vez mais, que
uma aula extremamente tradicional
em formação continuada, a fim de estejamos conectados a essa nova
usando toda a tecnologia disponí-
que os envolvidos nos processos geração de crianças e jovens e às
vel, assim como também é perfeita-
educativos permaneçam em cons- necessidades do mundo contem-
mente plausível inovar usando ape-
tante reflexão a respeito do papel porâneo”, finaliza Cristiane.
nas papel e lápis. Entretanto, para
que podem desempenhar nesse ce-
Foto:Acervo VIA Estação Conhecimento

72 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


SEBRAE
Sobre o futuro da educação Por Jefferson Reis Bueno,
Gerente de Inovação e
Empreendedorismo Sebrae
Santa Catarina

A educação tradicional vem passando por di-


versas mudanças sociais e tecnológicas. Isso
impacta o aprendizado dos alunos e, conse-
quentemente, a sua atuação em sociedade e
como esse aluno desenvolverá suas compe-
tências para o futuro. Mariana Marrara Vitarelli,
Coordenadora Estadual
Programa de Educação
Empreendedora Sebrae
O SEBRAE realiza pesquisas para identificar o futuro da educação e orientar seus
Santa Catarina
referenciais educacionais. Destacamos algumas características que acreditamos
ser as mais importantes que marcarão a educação do futuro:

Especialistas afirmam que vivemos a quarta revolução industrial, transformando a


forma como a sociedade se organiza e opera. As profissões valorizadas no futuro
terão alto nível de complexidade. Por outro lado, ganharão importância profissões
que exigem relações humanas. Em um mundo no qual a tecnologia dará conta de
grande parte das atividades operacionais, a educação terá também como foco
o aprimoramento de habilidades humanas. O desenvolvimento de competências
socioemocionais no ambiente escolar não apenas possibilitará um aprendizado
mais amplo, como terá impacto positivo em todas as frentes da vida futura dos
alunos.

Entende-se que a estrutura dos ambientes educativos do futuro será desenvolvida


para facilitar a colaboração entre os alunos, em atividades realizadas tanto nos
meios físicos como nos digitais. A interação acontecerá em situações próximas à
realidade do mercado, que se encaminha para uma organização por projetos. Para
instruir quem trabalhará nesse sistema, a educação seguirá o mesmo modelo com
metodologias de ensino que direcionam para experimentação e ambientes educa-
tivos que possibilitam a construção de protótipos. As atividades práticas interati-
vas terão espaço com o sistema de salas de aula invertida, tendência da educação
do futuro. Nesse modelo, o conteúdo teórico será acessado pelos alunos online,
em qualquer lugar e momento, e a parte prática acontecerá presencialmente, com
vivências, experiências e imersão no conhecimento pela cultura do “saber fazer”.

No novo contexto de ensino, o aluno terá autonomia para optar por métodos de
aprendizado que despertem maior interesse e desenvolvam o seu potencial. Os

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 73


professores atuarão como mento- Não só a tecnologia impacta a edu- individuais e coletivos. Desta forma,
res, apoiando a jornada educacio- cação, mas também o empreende- entende-se que o indivíduo neces-
nal de cada aluno e respeitando dorismo gera um grande impacto site se autoconhecer, buscar novas
individualidades. na mudanças de pessoas e proces- aprendizagens e fortalecer o espí-
sos. O tema deve ser introduzido rito de coletividade. Neste sentido,
Para isso acontecer, tecnologias
em ambientes educativos de todos a educação empreendedora atua
com base em Inteligência Artificial
os níveis de formação e constituir como transformadora do aluno,
funcionarão como suporte para
parte intrínseca da educação do incentivando-o a quebrar paradig-
automatizar tarefas rotineiras e
futuro, com relevância ainda maior mas e desenvolver competências e
possibilitar que o professor dirija
nas fases iniciais, pois é durante a comportamentos empreendedores.
atenção a interação com o aluno.
infância que são desenvolvidas as
Desta forma, estamos atentos às
principais crenças de um indivíduo,
discussões sobre o futuro da edu-
que refletem diretamente nas suas
Sobre o papel do cação e incluindo em nossos servi-
atitudes quando adulto. O empre-
empreendedorismo na ços soluções educacionais que vão
endedorismo representa um modo
ao encontro da educação do futuro.
educação de pensar e consiste em uma ati-
tude essencial a ser desenvolvida
A educação empreendedora é uma
e praticada. Ao incluir o empreen-
grande aliada ao projeto de edu- Sobre parcerias
dedorismo nas formações de crian-
cação do futuro que acreditamos.
ças e jovens, são formados profis-
O empreendedorismo consiste em Mudanças só ocorrem com a união
sionais que sabem planejar, criar
comportamentos que podem ser de esforços. As parcerias com a
metas e tomar decisões.
aprendidos pelos indivíduos para UFSC, mais precisamente VIA e
que possam aproveitar oportu- O SEBRAE lançou em 2013 o Pro- GPM&C, propiciam que o desenvol-
nidades, gerenciar situações de vimento científico sobre a educa-
grama Nacional de Educação
risco, melhorar processos e criar ção do futuro possa ser dissemi-
Empreendedora – PNEE que tem
empreendimentos empresariais ou nado pelo Brasil. A disseminação
como objetivo ampliar, promover e
sociais. deste conteúdo contribui com a
disseminar a educação empreen-
construção de políticas e esforços
O ensino do empreendedorismo dedora nas instituições de ensino
conjuntos de educação empreen-
corrobora para que competências de todo o país por meio da oferta de
dedora. Possibilitam ainda, intera-
socioemocionais possam ser de- conteúdos de empreendedorismo
gir com ações e projetos que ocor-
senvolvidas nos alunos. Além dis- nos currículos escolares nos três
rem dentro da universidade. Para o
so, esta educação empreendedora níveis de ensino: educação básica,
SEBRAE/SC, esta parceria propicia
propicia que a colaboração se evi- profissional e superior. A educação
ainda o repensar de ações e solu-
dencie em todos os aspectos da empreendedora proposta pelo Ser-
ções de educação empreendedora.
vida do cidadão. O empreendedo- viço de Apoio às Micro e Pequenas

rismo orienta para a organização Empresas é focada para objetivos

por projeto, seja para negócios ou


um projeto de vida do indivíduo. Fontes:
O que se busca com a educação
empreendedora é formar cidadãos Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Educação do
autônomos através da mudança de futuro: Avanços tecnológicos e mudanças sociais revolucionam as formas de aprender
mindset (comportamentos) exigi- e ensinar. Cuiabá: SEBRAE/MT, 2019. 22p 1.

das pelo novo contexto apresenta- Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Referenciais
do. Educacionais do Sebrae: versão 2015 – Brasília: Sebrae, 2015.

74 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Foto: Divulgação pessoal

VIA Revista Entrevista

Martha Gabriel fala sobre


educação em tempos de
transformação digital Por Mariana Pessini Mezzaroba

Considerada uma das principais pensadoras di-


gitais no Brasil, autora de best sellers, inclusive
os livros Finalistas do Prêmio Jabuti:
“Educ@r: a (r)evolução digital na educação” (2013) e “Você, Eu e os Robôs: trans-
formação digital da humanidade”, Martha Gabriel concedeu a VIA Revista uma
entrevista exclusiva durante sua passagem por Florianópolis durante o Encontro
Internacional de Educação na Inovação, 2019.. Segundo ela, cada vez mais é ne-
cessário repensar o papel dos professores e dos alunos durante o processo de
aprendizagem. Confira na entrevista!

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 75


“A educação tem que ser completamente
diferente do que ela foi, e não é só em
questão de metodologias, mas em questão
de que habilidades desenvolver”

VIA Revista: Como garantir mais abundantemente do que qual- de ser acelerada, está trazendo se-
a inclusão digital na educa- quer professor pode saber. Assim, res digitais que estão substituindo
ção? hoje o papel do professor é muito atividades do nosso cérebro – as
mais crítico e importante do que era atividades repetitivas mentais es-
no passado, porque nesse cenário tão sendo substituídas por má-
Martha Gabriel: Essa é uma
complexo, a informação é muito quinas. Uma das coisas que falo é
pergunta bem difícil. Para você ga-
mais abundante e ampla, e assim, que a tecnologia não elimina pro-
rantir a inclusão digital você teria
precisamos de alguém que ajude o fissões, ela substitui as atividades
que ter infraestrutura, e isso não
estudante a navegar neste cenário e transforma as profissões. Nesse
é uma coisa que conseguimos no
de acordo com as características contexto, a educação tem que ser
Brasil inteiro de forma igual. O que
de cada criança, de cada cenário completamente diferente do que ela
sabemos, no entanto, é que mes-
específico e das habilidades rela- foi, e não é só em questão de me-
mo nas classes mais pobres da
cionadas com o local onde se está. todologias, mas em questão de que
população, as classes C, D e E as
As especificidades, hoje, são muito habilidades desenvolver. Há alguns
pessoas têm um celular em algum
importantes para a educação ade- anos, eu acreditava que uma habili-
grau e sabem usar o Wi-Fi. Então,
quada. dade interessante para criança era
quanto mais baixa classe ou mais
aprender a programar, hoje, essa
necessitada é a escola, mais criati-
vos os professores têm que ser. Se
O sistema educacional habilidade é válida apenas como

você tiver criatividade, você con- brasileiro de hoje prepara exercício de lógica. As habilidades
crianças e jovens para o que precisamos atualmente estão
segue incluir o digital utilizando as
futuro? muito mais relacionadas com o hu-
Foto: Georgie Cobbs / Unsplash

ferramentas que você já tem dispo-


Este é um desafio muito grande. mano, como pensamento crítico,
nível. Temos ambientes que já ofe-
Estamos entrando num cenário ex- resolução de problemas comple-
recem isso. No dia a dia, a criança
tremamente acelerado, o que já é xos, sensibilidade humana e filoso-
está acostumada a fazer isso por
uma dificuldade porque não temos fia - coisas que normalmente não
conta própria e o professor vai ter
tempo de reorganizar as estrutu- temos nas escolas. Eu defendo que
que articular isso com muito mais
ras físicas. Pela primeira vez na a principal habilidade que precisa-
propriedade, do que um professor
história, também, estamos crian- mos para o futuro, não só no Brasil,
de uma escola particular que tem
do seres digitais no planeta, que mas no mundo inteiro, e que não
todos os recursos do mundo. É por
passam a conviver e atuar com a é ou é pouco ensinada, é o pensa-
isso que a capacitação do profes-
gente – inteligência artificial, robôs, mento crítico. É necessário enten-
sor nesse cenário é essencial, mui-
assistentes, etc. Se pensarmos nas der o que está acontecendo e para
to mais como um catalisador, um
revoluções tecnológicas anteriores, isso precisamos nos educar, pois
tutor, um fomentador, um estrate-
elas afetaram os músculos huma- não nascemos com pensamento
gista do que como um passador
nos, ou seja, substituímos algo crítico. Há mais de um século nas
de conteúdo. Não precisamos mais
que fazíamos fisicamente por uma escolas temos gramática, mas para
de um passador de conteúdo, pois
máquina. A revolução agora, além o pensamento crítico precisamos
o conteúdo está disponível muito

76 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


também de lógica, argumentação, “O que precisamos na era digital é aprender
retórica para conseguir avaliar o
que está acontecendo. Esse con-
a ser humanos de novo”.
texto, deveria ser o mais valorizado
nas escolas hoje, porém não temos
um currículo voltado para isso. A
transformação precisa ser muito
profunda e não temos tempo, por
isso a escola está perdendo espaço
na educação e o que está ganhando
espaço são as escolas ou institui-
ções alternativas, onde você come- possível articular e fazer de experi-
ça a aprender essas coisas de for- Quais são as tendências mentos nessa área é muito bacana
mas mais livres, ou menos formais. para a educação? porque o futuro é móvel. A segunda
Das tendências que estão ligadas categoria é data economy - eco-
Como aplicar essas ações com a tecnologia no livro “Você, nomia dos dados. O documentário
na prática de maneira Eu e os Robôs”, eu separo as me- “The great hack” (Netflix) aborda
imediata? gatendências ligadas com gran- muito bem como dados hoje são
O pensamento crítico pode ser de- des ondas de transformação que valiosos, perigosos e mostra que
senvolvido com casos de estudo. precisamos prestar atenção. São podemos ser manipulados, mesmo
Por exemplo, mostrar o que está cinco categorias, a primeira é mo- que tenhamos pensamento crítico.
acontecendo e pedir o que os alu- bile - móvel. Somos móveis, as Precisamos de um acordo social
nos opinem e justifiquem, levando crianças são móveis e queremos para isso, não é à toa que temos
assim a um exercício saudável de fazer as coisas “on the go”, tanto a Lei Geral de Proteção de Dados
argumentação. Lembro que, em que desenvolvemos cada vez mais no Brasil, pois com dados conse-
alguns dos cursos que fiz nos Es- uma alma digital, articulando cada guimos ganhar inteligência. Quem
tados Unidos, eu era obrigada a ar- vez mais nossas experiências no manipula dados consegue ter van-
gumentar a favor de uma coisa que digital e não nos importando tanto tagem competitiva com relação aos
não concordava para fazer exercí- com as coisas materiais. Portanto, outros e consegue manipular os
cio de contrapontos - isso é uma as habilidades que precisamos de- outros. Tudo que está relacionado
maneira de você enxergar e respei- senvolver têm que estar alinhadas com dados: Inteligência Artificial,
tar o ponto do outro, entender que com isso. As atividades que são de- robótica, blockchain, as principais
o outro tem uma outra maneira de senvolvidas na escola precisam ser tecnologias que temos hoje estão
pensar, que ele pode ver ângulos contínuas, não só naquele momen- relacionadas em algum grau com
que você não vê. Existem exercícios to em sala de aula. Isso não é difícil dados, sem dados não se tem in-
muito simples para você desen- de fazer, é mais uma mudança de teligência. A terceira categoria é o
volver o pensamento crítico, mas mentalidade do que de tecnologia. real time - tempo real. Essa catego-
não adianta só isso. O pensamento O mobile traz consigo tecnologias ria é uma mina de bombas contra o
crítico é a primeira habilidade para como internet das coisas – pode- pensamento crítico porque te colo-
que você possa desenvolver as de- -se usar Arduino com experimentos ca no imediatismo, e você perde os
mais habilidades do futuro: saber para as crianças para praticar IoT. O momentos de atenção e foco. Por
usar a criatividade, criar simbiose Arduíno é tecnologia acessível para isso, a meditação está tão em voga.
com a tecnologia e ter adaptabili- você poder conectar coisas: uma O tempo real é responsável pela
dade, trabalhando estes pontos em lâmpada daqui com um pensamen- experiência das pessoas, é neces-
conjunto. to lá, por exemplo. Tudo que for sário entender que estamos num

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 77


Foto: Tim Mossholder / Unsplash

l
a
so
es
p
ivo
qu
:Ar
to
Fo
tempo que é diferente dos tempos são. Precisamos ter uma educação sabemos o que é e como aplicar a
do passado e que precisamos de- para que se tenha uma reflexão ética, porque não fomos educados
safiar esse tempo. A quarta cate- centrada no ser humano, porque no adequadamente para a ética do dia
goria é o social. O ser humano é so- final das contas a sociedade do fu- a dia. Completando o que nos tor-
cial por natureza, assim, tudo que turo, para onde estamos indo, a so- na humanos, a empatia é essencial,
pudermos articular de tecnologias ciedade 5.0, é centrada no humano. pois nos faz “sentir” pelo outro – no
sociais e, nesse processo, ensinar Se “aniquilarmos” o ser humano no entanto, estamos perdendo a em-
ética, moral, interação, inclusive o caminho, não faz o menor sentido patia também: estudos mostram
básico de pensar no outro, respei- desenvolver tecnologia. Precisa- que quanto mais tecnologia nos
to, etc é o social. Temos no social mos dar uma parada, pois estamos media, menos empático ficamos. A
a base da humanidade para conse- com muitos sinais de que não es- tecnologia fica no meio e não per-
guir ter resultados e sucesso (pelo tamos bem para resgatarmos jus- cebemos o outro, cujos sentimen-
menos por enquanto). A quinta ca- tamente o fator humano. Então, tos se tornam distantes. Para mim,
tegoria é a sustentabilidade. É mui- o que precisamos na era digital é são essas as cinco grandes ondas
to importante que seja ensinada aprender a ser humanos de novo. que devemos prestar atenção. Pre-
nas escolas. Vejo que as novas ge- Precisamos voltar a desenvolver as cisamos continuar prestando aten-
rações vêm muito mais preparadas características que essencialmen- ção nelas, pois as tecnologias não
para enxergar que esse é um tema te nos separam da máquina (pelo param, mudando constantemente
relevante, mas a sustentabilida- menos, por enquanto), que são a nossas vidas, acentuando seus im-
de mais gritante agora não é mais ética, a empatia e a emoção. Esta- pactos, e quem estiver mais prepa-
apenas a do meio ambiente, cida- mos nos anestesiando, perdendo rado e prestando atenção aos ce-
des, empresas, mas, principalmen- a emoção em meio ao excesso de nários futuros, deverá ter melhores
te a do ser humano, pois estamos informação e tecnologia – muito resultados. A função da educação é
completamente desequilibrados volume, pouca qualidade. Ficamos garantir esse preparo.
vivendo com ansiedade e depres- perdidos em nossas ações pois não

78 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Foto: Priscilla Du Preez / Unsplash

Desafios e oportunidades
do EaD no contexto Por Rayse Kiane de Souza

contemporâneo
Guilherme Paraol de Matos

Coronavírus e a educação à distância


A pandemia do novo coronavírus transformou o modo de viver das pessoas devido
a impossibilidade de interações e atividades presenciais em grupo. O isolamento
social afetou fortemente a educação devido ao afastamento dos alunos da sala de
aula. Segundo a UNESCO, a pandemia chegou a provocar o afastamento de 90%
dos estudantes do mundo, totalizando 1,6 bilhão de alunos. No Brasil são quase
53 milhões de estudantes afetados pela quarentena (EXAME, 2020). Confira os
números atualizados pela UNESCO.

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 79


Uma forma de manter a aprendi-
zagem mesmo com a quarentena
foi a utilização do ensino remoto.
As instituições de ensino estão
disponibilizando aulas online, en-
vio de conteúdos por aplicativo,
videoconferências e uso de mídias
sociais, como forma de interação
com os alunos. Nas instituições
de ensino superior, o Ministério da
Educação (MEC), permitiu por meio
da Portaria 343/2020, a substi-

sh
pla
tuição das aulas presenciais por

ns
/U
aulas em meios digitais enquanto

on
durar a situação de pandemia.

he
utc
cC
Vale a pena destacar que o ensi-

nM
no remoto utiliza ferramentas e

aro
:Sh
características do EaD, porém não

to
Fo
pode ser assim considerado neste
momento, pois o que está acon-
tecendo é uma adaptação do en-
sino presencial para o remoto, e desenvolvidos para dar suporte ao cial e informal interativa com baixo
não uma total reformulação para processo de aprendizagem, sendo custo e oferecida em larga escala
o EaD, onde as estruturas dos cur- um espaço para veicular conteúdos (MATTAR, 2013).
sos, conteúdos, infraestruturas e e permitir interação entre os atores
Desta forma, a EaD se tornou uma
os profissionais envolvidos são do processo educativo (PEREIRA;
importante aliada para continui-
específicos para esta modalidade. SCHMITT; DIAS, 2007).
dade das aulas no ensino superior
Porém, é importante entendermos
Nesse período, a utilização de pla- e as instituições de ensino foram
neste momento o funcionamento,
taformas massivas de aprendiza- obrigadas a se adaptarem para
oportunidades e desafios do EaD
gem, conhecidas como MOOC’s ofertar essa modalidade de ensi-
para melhor nos adaptarmos a mo-
(Massive Open Online Courses, em no. Para Oliveira Pinto (2020), esse
dalidade para enfrentarmos este
português cursos abertos online cenário pode representar à quebra
momento.
massivos) também se tornou uma do preconceito em relação às aulas
As principais características da EaD importante aliada da aprendizagem virtuais e seu potencial para o de-
estão relacionadas ao fato de seus online. Os MOOC’s são espaços di- senvolvimento do aprendizado. O
autores estarem separados geo- gitais construídos pelo envolvimen- desafio, no entanto, é transformar a
graficamente, ser vinculada a uma to ativo dos alunos, que autoorga- modalidade EAD em uma referência
instituição educacional e mediada nizam sua participação em função de qualidade. A tecnologia é uma
pelas TIC (tecnologias da infor- de seus objetivos de aprendizagem, aliada nesse processo, permitindo
mação e comunicação) (BASTOS, conhecimento prévios e interesses que essa forma de ensino e apren-
2003). Com isto possui uma grande comuns (MACAULEY et al., 2010). dizagem seja um grande potencial
dependência do acesso a internet e Possuem pouca estrutura, com- para ampliar o acesso à educação.
de ambientes virtuais de aprendi- parados a outros cursos online,
Portanto, o ensino à distância con-
zagem (AVA). AVAs são softwares possibilitando aprendizagem so-
fere a possibilidade de estudo e

80 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


pesquisa contínuo mesmo em pe- to. Isto demonstra não somente a Para o professor da Universidade
ríodo de isolamento social e evita necessidade do conhecimento téc- Federal de Santa Catarina Márcio
aglomerações (CAMACHO et al., nico e do acesso a internet para a Vieira de Souza, coordenador
2020). Porém, de algum modo, de- implementação mais ampla do EaD, do grupo de pesquisa Mídia e
monstra um momento privilegiado mas também a criação do hábito e Conhecimento, este é um momento
de reconhecimento das fragilidades da cultura para esta forma de ensi- de importância histórica. Que será
e das potencialidades enquanto co- no. De fato, segundo dados do IBGE dividido em antes e depois como as
munidade educativa (CASTAMAN; cerca de 30% das pessoas ainda grandes guerras. As relações entre
RODRIGUES, 2020). A pesquisa re- não têm conexão com a internet em mercado, estado e a sociedade civil
alizada por Castaman e Rodrigues casa e cerca de 97% utilizam o ce- precisarão mudar para repensar a
(2020) durante o período da pande- lular, que muitas vezes impossibi- educação e suas tecnologias. Para
mia no Brasil, mostrou que 48% dos lita o uso de plataforma de ensino.
alunos pesquisados dos Institutos Isso aumenta a desigualdade esco-
Federais de Ensino não utilizam a lar, uma vez que, a falta de recursos Professor Márcio Vieira
internet como ferramenta de apren- tecnológicos dificulta a adoção em de Souza, Universidade
dizagem, pois mesmo que os estu- larga escala do ensino a distância Federal de Santa Catarina
dantes sejam iniciados no uso das na rede pública, enquanto que, es-
TICs, muitos acessam apenas as colas com condições financeiras
redes sociais para o entretenimen- oferecem aulas online.

SC
UF
m/
co
ge
t/A
uin
ir Q
:Ja
to
Fo
Foto: Feliphe Schiarolli / Unsplash

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 81


o professor é preciso inovar de Referências:
fato na educação, e não somente
seguir modismos ou novidades. A
AVELINO, W. F.; MENDES, J. G. A REALIDADE DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA A PARTIR DA
tecnologia não pode ficar de fora, COVID-19. Boletim de Conjuntura (BOCA), v. 2, n. 5, p. 56-62, 2020.
mas também é preciso alfabetizar
BASTOS, LEM. Avaliação do e-learning corporativo no Brasil. 2003. 2003. Tese de
tecnologicamente os envolvidos no
Doutorado. Dissertação (Mestrado)–Universidade Federal da Bahia. Salvador/BA.
processo.
CAMACHO, A. C. L. F. et al. Tutoring in distance education in times of COVID-19: relevant
Para Avelino e Mendes (2020) os guidelines. Research, Society and Development, v. 9, n. 5, p. 30953151, 2020.
responsáveis educacionais tentam
CASTAMAN, A. S.; RODRIGUES, R. A. Distance Education in the COVID crisis-19: an
manter as aulas mesmo em meio experience report. Research, Society and Development, v. 9, n. 6, p. 180963699, 2020.
a pandemia, e veem a tecnologia
EXAME. Um Dia da Educação sem aulas para a maioria dos estudantes. 2020. Disponível
como uma aliada neste processo.
em: https://exame.abril.com.br/mundo/um-dia-da-educacao-sem-aulas-para-a-
Porém, como menciona também o maioria-dos-estudantes/. Acesso em: 18 mai 2020.
professor Márcio Vieira de Souza,
IBGE. PNAD Contínua TIC 2018: Internet chega a 79,1% dos domicílios do país. Disponível
não é necessário somente saber
em: encurtador.com.br/ilEU4. Acesso em: 18 mai 2020.
utilizar a tecnologia, é necessário
saber como usá-la de forma dialéti- MATTAR, J. Aprendizagem em ambientes virtuais: teorias, conectivismo e MOOCs. São
Paulo: Teccogs-Puc/Sp, v. 7, p. 21-40, 2013.
ca e em prol da educação, é neces-
sário que todos os envolvidos no MCAULEY, A. et al. The MOOC model for digital practice. 2010.
processo sejam alfabetizados tec-
OLIVEIRA PINTO. Como e por que criar ofertas de Ensino a Distância (EAD) para captar
nologicamente. Além disso, muitos
mais alunos?.2020 Disponível em: https://blog.lyceum.com.br/como-e-por-que-criar-
alunos no país não possuem co- ofertas-de-ensino-a-distancia-ead/. Acesso em: 18 mai 2020.
nexão à internet e o conhecimento
PEREIRA, A. T. C.s; SCHMITT, V.; DIAS, M. R. A. C. Ambientes virtuais de aprendizagem.
de aplicativos educacionais, desta AVA-Ambientes Virtuais de Aprendizagem em Diferentes Contextos. Rio de Janeiro:
forma a tentativa não atingirá as Editora Ciência Moderna Ltda, p. 4-22, 2007.
metas ou a qualidade do ensino,
UNESCO. COVID-19 Educational Disruption and Response. Disponível em: https://
que o país tanto carece (AVELINO; en.unesco.org/covid19/educationresponse. Acesso em: 18 mai 2020.
MENDES, 2020, p. 58).
Foto: Avel Chuklanov/Unsplash

82 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Foto: Freepik.com

Educação virtual, ensino


online, aprendizagem Por Araci Hack Catapan
Professora/pesquisadora

ubíqua: (convite à discussão)


de mídia e conhecimento
PPGEGC/UFSC

O conflito entre ciência, consciência, espiritualidade e tecnologia se acentua com


a crise do COVID-19. A aproximação entre ciência e espiritualidade, o bóson de
higgs de Gleiser é o próximo vórtice entre filosofia e tecnologia, rompendo para-
digmas.

Nikola Tesla em 1926, afirmou “Quando a tecnologia sem fio for perfeitamente
aplicável, a Terra inteira será convertida em um imenso cérebro, o que, de fato é,
com todas as coisas, sendo partículas de um todo real e rítmico”.

Nesse contexto paradoxal, o código digital de comunicação, requer um olhar mais


criterioso. O que nos constitui como pessoa, grupo, nação é o modo de comunica-

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 83


ção. Quando ocorre uma alteração de saber, de apreender e de fazer. da visão inteligência artificial e a
no código de comunicação, essa Na www, hoje, encontra-se quase conexão com todos, a espécie hu-
alteração implica em nosso modo tudo. Na celeridade da transforma- mana ascende a outras dimensões
de ser, saber, aprender e agir. Foi ção pode-se perceber, em um rápi- de relacionamentos, que alteram o
assim com as descobertas, citando do passeio, as transformações que modelo mental, e não só de quem
apenas as mais recentes, a escrita, foram se somando: e-mail, internet, está conectado na internet, mas de
a imprensa, o telégrafo, o telefone, simulação, realidade 3D, realidade todos os conectados como espécie.
o rádio, a televisão e a internet. A aumentada, Internet das coisas,
Castells destaca a comunicação
comunicação digital e online en- indústria 4.0, Inteligência artifi-
como o maior poder, acima da eco-
curta distância entre as pessoas, e cial, big data, redes sociais, e-gov,
nomia, da política, da religião, por-
se dá em tempo e espaço simultâ- e-commerce, telemedicina, etc.
que todas essas dimensões se sus-
neo.
Da produção material da existência, tentam ou se fragilizam pelo modo
Dessa mudança radical do analó- para essa conexão possível entre de comunicação. Em uma outra
gico para o digital, um algoritmo actantes humanos e não humanos, visão, bem recente, defendida por
transformou nosso modo de ser, elevaram-se em potencial as for- Sheldrake, este fala da comunica-
mas de interação. Percebe-se que ção sutil por ressonância mórfica,
Foto: Acervo VIA Estação Conhecimento

84 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Foto: Freepik.com

que conecta todos em um grande e educação que avançou bastante, “Tecnologia só é em si”,
cérebro, o da inteligência transge- e que foi tomado pelo fenômeno
racional. COVID-19. Esse fenômeno tem três
quando Foucault falou
impactos essenciais, na saúde - e isso gerou uma polêmica
Nesse cenário, qual é o desafio para
quando olhamos para a saúde, saú-
os processos educacionais? muito grande. O que é em
de é vida, é tudo; na economia - a
O desafio é como fomos aprenden- implicação está em diversos seto- si? Técnica é algo fora
do em cada dimensão dessas, na- res, para alguns, restrição e para de mim e é neutra. “Em
turalmente, e hoje são concomitan- outros, impulsão; e, na comunica-
ção digital, esta tem sido a infovia
si” é o meu logo, o meu
tes os processos analógicos e os
processos digitais. que responde a quase todas as conhecimento, a minha
nossas necessidades básicas.
O processo virtual não exclui o ana-
intenção, o meu enten-
lógico, pelo contrário, dimensiona- O modo de interação virtual teve dimento, o que eu faço
-o, potencializa-o. um impulso de 10 a 20 anos nesse
período. Coisas prospectadas para
com ela. Isso é tecnolo-
Quando se pensa assim, não se daqui 10 anos ou um pouco mais, gia, em intenção, e logo
pode abstrair de uma visão de es- já estão em ato e em ação, aqui e
treita conexão, uma conexão plena, () conhecimento.”
agora, tanto para área da saúde, da
estamos todos conectados siste- economia, da produção de negócio
micamente. Porém, não basta es- e de serviços.
tarmos conectados, precisamos
saber como nos relacionamentos Então como pensar a educação e
nessa conexão. ensino nesse cenário?

Recentemente, registra-se um novo Educação a distância? educação


marco de regulação de tecnologia remota? Educação virtual e ensino

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 85


remoto? Educação virtual e ensino organizações sociais, como fa- doxal. Pois o Novo nunca é normal,
online? mília, trabalho, religião, política, novo é novo. Normal é o que já é
entretenimento e aqueles que se costume e já está normatizado. É
Polêmica de nominação não resol-
dão formalmente organizados em preciso ter cuidado em não pensar
ve, apenas indica que não se co-
instituições de ensino. A oferta de a educação e ensino espelhado na
nhece de fato a natureza das coi-
ensino formal, intencional, siste- normatização anterior, e é isso que
sas.
maticamente organizado para uma está emperrando o movimento. É
A cibercultura é uma outra forma devida certificação e, por dentro preciso ter coragem para ver além,
de estar e ser no mundo, em que deste, imanente, um processo edu- para o novo de fato. O novo já está
a comunicação se dá em espaço cacional para a vida (já que o prin- aí, basta olhar um pouco, trocar as
e tempo simultâneo, ou seja, no cipal ameaça é a morte). Seria esse lentes, o novo já está operando em
modo virtual. Olhar para a edu- o tempo para deixar de prospectar e todos e em cada um de nós, de uma
cação como processo formal de realizar, de fato, uma aprendizagem forma ou outra. Em alguns, como
ensino, neste caso, talvez pos- disruptiva? resistência e protesto, em outros,
sa se tornar tempo para um salto com aderência e sim, indo com o
Disruptiva quer dizer suplantan-
quântico. Distinguir, nos proces- movimento que não tem reversão. A
do o que já existe com algo novo
sos educacionais, aqueles que se provocação é pensar um processo
realmente. Essa discussão que se
dão naturalmente nas diversas de educação e ensino disruptivo e
nomina de “o novo normal” é para-
uma aprendizagem ubíqua.
Foto: Marvin Meyer / Unsplash

86 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


No cenário atual, estudos nacio- Prigogine, o mestre do caos, já dis- gens, e isto reverbera em N’ dimen-
nais e internacionais, continuam se em 1997, em uma conferência sões de cognição.
afirmando o professor é essencial em São Paulo, na qual estavam
Este é um leitor que se move rapi-
para o sucesso da aprendizagem do mais de 500 jovens, “...vocês são
damente em diferentes operações
estudante, e nisso a maioria con- privilegiados, pois têm muitas opor-
mentais, mas não se move super-
corda. Porém, uma pesquisa rápida tunidades à sua frente...o desafio é
ficialmente como muitos pensam.
do jornal o Estadão, com professo- saber fazer escolhas. Para fazer es-
Jovens e adolescentes, principal-
res, a alguns dias atrás, mostra que colhas, é preciso saber, conhecer, e
mente entre 12 e 30 anos, respon-
83% dos professores declaram que reconhecer... e essa é a missão das
dem de forma diferente.
não estão preparados para trabalhar instituições de educação e ensino...
nesse modo de comunicação; 55% Ensinar-lhes a escolher”. A questão é a que eles respondem?
dos professores declaram que nun-
No modo de comunicação célere Não respondem segundo nosso
ca tinham tido qualquer experiência
que se enfrenta hoje, esta escolha modelo mental (convencional) que
de ensino nesse modo virtual. O que
tem que ser muito rápida. Ela é ins- responde a palavras, frases, textos,
isso significa? O que isso revela?
tantânea e esse exercício vai trans- o leitor imersivo responde à essên-
Será que ainda não alcançamos a formando o modo de ler o mundo cia de um todo. Abstrae de sinais de
tecnologia em si? de apreender as situações e os fa- signos com uma celeridade incrível,
tos e de assumir as coisas. e responde ineditamente à ques-
Mostra que nós os professores, es-
tão. Parecem atingir uma prontidão
tamos imersos em um estado de No momento, estudos e pesquisas
cognitiva baseada na economia da
alheamento a respeito do que ocorre nessa área apontam dois tipos de
atenção. Com uma rápida atenção,
no mundo dos nossos estudantes, leitor.
o seu modelo mental abstraí o es-
no mundo da comunicação de modo
O leitor imersivo aquele que realiza sencial, atinge o essencial. Opera
geral. E agora temos um desafio dire-
uma aprendizagem ubíqua, o leitor melhor com signos, com sinais com
to em nossa mesa, e de nossa mesa
touch. Este navega nas redes so- uma linguagem mais imagética e
para dentro das famílias, porque o
ciais, salta de uma informação para sinestésica do que com palavras.
endereço da escola mudou para a
outra, realiza uma leitura superfi- Para fazer essa leitura, é preciso
residência do estudante, e lá não en-
cial, quando acontece. O leitor das ter um modelo mental muito há-
contro somente meu aluno encontro
redes sociais, na maioria, não quer bil. Então não é mais um raciocínio
toda a sua família. “Educamos para a
ler nada, só quer se fazer ouvir, fa- pelo cognitivismo, conexionismo,
vida, para a sociedade” E agora pro-
lar a sua posição, não quer ouvir o ou pelo construtivismo da epige-
fessor?
contraponto. A maioria está soter- nética de Piaget, mais parece com
Educação virtual, ensino online e rada de informações e apenas acei- a mensageiria de Serres, ou com o
aprendizagem ubíqua - para essa ta o que lhes dizem e segue com ... sentido da enação de Thompson.
ação é necessária uma certa orga- E esse é um dos desafios das redes
Como podemos nos organizar para
nização, um modo de comunicação sociais, algo a ser estudado.
retornar a um cenário inédito, que
que requer uma determinada pos-
O leitor imersivo ou ubíquo, aque- está apenas no mundo das possi-
tura. Trata-se de reconhecer como,
le que navega na hipermobilidade bilidades? Se não temos uma refe-
nesse modo virtual, o conhecimento
das ferramentas, na hipermobilida- rência que nos mostre em que es-
transita e se transforma, é fluídico,
de de diversos espaços e tempos, tado retornaremos, após esta crise?
dinâmico, nômade, atemporal, a es-
simultaneamente, os espaços do Podemos prospectar em um campo
pacial, topológico. Essa avalanche
seu próprio corpo e os espaços das totalmente novo?
atropela estudantes, professores e
informações nas diversas lingua-
pais e requer contínuas descobertas.

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 87


Foto: Freepik.com

Tecnologia para a Educação

A ferramenta Cara de
Aprender - Cadap Por Guilherme Paraol de Matos

A ferramenta Cara de Aprender - Cadap foi de-


senvolvida a partir da tese de doutorado de
Carla Marina Paxiúba, intitulada Modelo Concei-
tual para Trabalhar Emoções e Aprendizagem
utilizando Expressões Faciais.
O estudo foi desenvolvido no programa de pós-graduação em Sociedade, Natureza
e Desenvolvimento da Universidade Federal do Oeste do Pará, sob a orientação do
professor Dr. Celson Pantoja Lima.

88 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


A ferramenta CADAP utiliza con-
Pesquisadora
ceitos de computação afetiva para
Carla Paxiúba
oferecer o suporte computacional
necessário para utilização do mo-

l a
so
delo. O software captura as expres-

es
op
sões faciais dos estudantes duran-

uiv
te as aulas e as classifica em sete

q
:Ar
to
tipos distintos de emoções: alegria,

Fo
tristeza, surpresa, medo, desgosto,
desprezo e raiva. A captura pode
ser feita em intervalos de tempo
pré-definidos ou durante toda a
aula. Ao final, o software disponi-
biliza um relatório por aluno com
as emoções que predominaram a
cada instante. A captura também
pode ser feita durante as atividades
de avaliação de desempenho dos
estudantes, de acordo com a mo-
“Há um consenso na literatura sobre a influência das
dalidade de avaliação empregada
(PAXIÚBA, 2019). emoções no processo de aprendizagem. Porém, não é

O software ajuda a fazer correla-


tarefa trivial para o professor saber qual a reação emo-
ções entre as expressões faciais cional de cada aluno em uma sala de aula. Com o avan-
dos estudantes, as emoções, e
ço dos recursos tecnológicos e a possibilidade de utili-
a aprendizagem dos conteúdos.
Assim, contribui para o processo zar reconhecimento de emoções a partir de expressões
de aprendizagem ao possibilitar o faciais, surge a proposta da ferramenta CADAP que é
estudo das relações entre as emo-
ções do aluno, os dispositivos de
uma ferramenta digital que tem por objetivo reconhecer
aprendizagem, os conteúdos utili- as emoções dos alunos, a partir das expressões faciais
zados e o desempenho dos alunos.
capturadas, durante a aula, por meio da câmara do ce-
O modelo de aprendizagem basea-
do nas emoções traz o aluno para o lular ou notebook. Com isso queremos promover uma
centro do processo de ensino, uti- melhoria na educação, pois sabendo o que o aluno sen-
lizando suas emoções, seu perfil e
estilo de aprender (PAXIÚBA, 2019).
tiu ao assistir as aulas o professor poderá ajustar sua
metodologia, sua forma de apresentar e avaliar o aluno,
Foto: Acervo VIA Estação Conhecimento
Carla Paxiúba comentou sobre a
ferramenta:
trazendo o aluno e suas emoções para o centro do pro-
cesso de aprendizagem”.

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 89


“O Projeto ACACIA, no âmbito do qual a ferramenta com-
putacional CAdAP foi desenvolvida, envolveu 11 países da
Europa e da América Latina e foi financiado pelo progra-
ma Erasmus+, da União Europeia. O ACACIA tratou de um
al

tema muito particular e atual, que é a garantia de acesso ao


so
es

Ensino Superior por todas as comunidades em eminente


p
ivo

risco de exclusão do mesmo. Neste contexto nossa con-


rqu
:A

tribuição foi, além do CAdAP, apoiar o braçø tecnológico


to
Fo

do projeto sobre temas ligados à gestão do conhecimento,


às ontologias e as tecnologias educacionais de combate à
exclusão. O resultado foi muito bom, Carla desenvolveu a
melhor tese do programa de doutoramento PPGSND/UFO-
PA, em apenas três anos e meio, com muitas publicações
relevantes e premiações em eventos de inovação.”

Referências:
Dr. Celson Pantoja Lima , PAXIÚBA, Carla Marina Costa. Um modelo conceitual para
professor na UFOPA trabalhar emoções e aprendizagem utilizando expressões
faciais. 2019. 235 f. Tese (Doutorado) - Curso de Programa de
Pós-graduação em Sociedade, Natureza e Desenvolvimento,
Universidade Federal do Oeste do Pará, Santarém, 2019.
Foto: Freepik.com

90 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Foto: Divulgação pessoal

Lucia Dellagnelo, Diretora do


Centro de Inovação para a
Educação Brasileira (CIEB)

Tecnologia para aprendizagem

Centro de Inovação para a


Educação Brasileira (CIEB) Por Mariana Pessini Mezzaroba

tem contribuído para um


ensino mais inovador
Lucia Dellagnelo é graduada em Psicologia pela Universidade Federal de
Santa Catarina, é doutora em educação pela Universidade de Harvard, nos
Estados Unidos. Foi secretária de Desenvolvimento Econômico Sustentável em
Santa Catarina, seu estado natal, onde criou o Cluster de Inovação na Educação.
Tornou-se referência internacional em tecnologias educacionais a ponto de o MEC
condecorá-la com a Ordem Nacional do Mérito Educativo, em 2018. Atualmente é
diretora-presidente do CIEB.

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 91


Foto: Annie Spratt / Unsplash

tecnologia, desenvolvimento de
competências digitais de gestores e
professores, recursos educacionais
digitais de qualidade e infraestrutu-
ra adequada. “Precisamos de uma
política de tecnologia educacional
abrangente e de investimentos para
promover a cultura de inovação e o
uso de tecnologia nas escolas bra-
sileiras”, enumera.

Porém, existem desafios concei-


tuais relacionados ao modelo de
ensino e aprendizagem, em que as
escolas públicas ainda estão ope-
rando em um modelo industrial
tentando educar crianças e jovens
como em uma linha de produção,
onde o professor transmite o máxi-
mo de conteúdo para os alunos.

“Com a aprovação da Base Na-


cional Comum Curricular (BNCC)
avançamos no sentido de identifi-
car as competências e habilidades
básicas centrais que todos os es-
tudantes devem desenvolver. Ago-
ra precisamos transformar as me-
todologias e práticas pedagógicas
para que sejam efetivas na promo-
ção destas competências”, enfatiza
Com uma visão de que a tecnologia volvimento de políticas públicas, Dellagnelo.
pode gerar qualidade, equidade e conceitos e protótipos de ferra-
contemporaneidade para a educa- mentas para articulação dos atores Desta forma, as práticas pedagógi-

do ecossistema do ensino básico. cas inovadoras propõem um novo


ção, o Centro de Inovação para a
papel para o professor, que passa
Educação Brasileira (CIEB) realiza
Nesta edição, a VIA Revista realizou de transmissor de conhecimento
diversos estudos que defendem o
uma breve entrevista sobre diver- para mediador da aprendizagem,
uso das Tecnologias da Informação
sos tópicos com a diretora presi- o que implica em um novo modelo
e da Comunicação (TICs) como for-
dente do CIEB, Lucia Dellagnelo. de formação inicial e continuada de
ma de realizar uma transformação
Segundo ela, para que a tecnologia professores que privilegie a criati-
sistêmica nos processos de apren-
possa ter impacto na qualidade da vidade, a autonomia e a habilidade
dizagem. Criado em 2016, o CIEB é
educação são necessárias ações de utilizar novos recursos didáticos
uma associação sem fins lucrati-
que contemplem pelo menos qua- para a aprendizagem. Conforme
vos que visa promover a cultura de
tro dimensões: visão clara dos ob- Dellagnelo, a principal motivação
inovação na educação pública bra-
jetivos pedagógicos para o uso da para gestores e professores inova-
sileira, atuando no apoio ao desen-
rem deve ser promover a aprendi-

92 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


zagem dos estudantes, sendo esta “A inovação não deve ser vista como
uma responsabilidade profissional.
um fim em si mesmo, mas como meio
Segundo ela, é necessário criar com
de garantir a aprendizagem para todos,
urgência um Sistema Nacional de
Educação com uma visão clara e de independente de características pessoais,
médio e longo prazo para a educa- culturais ou econômicas”.
ção brasileira. “Os países que avan-
çaram na qualidade e equidade da
Além disso, o regime de colabora- expressa em seu currículo e práti-
educação são aqueles que esta-
ção entre o Ministério da Educação, cas pedagógicas, com equipe com
beleceram políticas educacionais
estados e municípios que deveria competências digitais, um conjunto
consistentes, metas e monitora-
funcionar para articular as ações de recursos educacionais digitais
ram seus resultados”, comenta. As
das políticas educacionais, não alinhados ao seu currículo e com
políticas públicas educacionais no
está sendo efetivo. “Não há ‘bala equipamentos e conectividade ade-
Brasil ainda estão pautadas em um
de prata’ na educação, e sim esfor- quada.
modelo de escolarização do século
ços articulados da União, estados
passado que privilegia transmissão “Acreditamos que só assim é pos-
e municípios bem implementados
de conhecimentos, o cumprimento sível formar cidadãos preparados
e com financiamento adequado”,
de ritos e procedimentos, e não a para viver no século 21 de maneira
pondera.
aprendizagem efetiva de todos os ativa e produtiva”, finaliza.
estudantes. De acordo com Dellag- Neste contexto exposto, a missão
nelo, essas políticas são fragmen- no CIEB é transformar as escolas
tadas, sofrem descontinuidade e públicas brasileiras em Escolas Co- Quer conhecer mais as
não há parâmetros de monitora- nectadas, isto é, escolas como uma ações do CIEB?
mento e avaliação de resultados. visão clara do uso da tecnologia
Foto: Javier Quesada / Unsplash

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 93


Foto: Baim Hanif / Unsplash

Educação do futuro
Por Soraia Shutel,
Pesquisadora, educadora,
consultora e empreendedora

Holografia, inteligência artificial, robôs que subs-


tituem professores, telas flutuantes, absorção
de conteúdos e aprendizagem por chips im-
plantados no cérebro...
Um cenário futurista que paira no imaginário coletivo sobre a educação do futuro,
cada vez mais tecnológica e que aumenta a capacidade cognitiva humana.

Em contrapartida, temos a realidade, com os desafios de engajamento de alu-


nos, desmotivação dos professores, desconexão entre realidade e prática, além
do aumento das problemáticas emocionais e déficit de atenção. E, para comple-
xificar ainda mais, deparamo-nos com a vulnerabilidade humana diante de uma

94 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


Foto: Aaron Burden / Unsplash

pandemia, que diluiu nossos plane- fica transmitir signos, informações, Portanto, ser educador vai muito
jamentos e fez compreender nossa pode ter bons resultados no EAD. além de ensinar conteúdos, até por-
ausência completa de controle. que as informações hoje estão dis-
Todavia, o que nos diferencia como
poníveis gratuitamente na Internet.
A crise pandêmica de 2020 traz à seres humanos é justamente a ca-
Ser educador é em primeiro lugar
tona a importância da tecnologia pacidade de nos relacionar, criar
saber enxergar o valor intrínseco de
nos processos de aprendizagem, vínculos e aprender na experiência
cada pessoa para então auxiliar a
mas, ao mesmo tempo, desvela o social. Para tanto, o modelo híbrido
conduzir essa potência na história.
insubstituível papel das relações de educação será o novo normal da
humanas na educação. A crise so- educação, conectando o ensino a E eis a insubstituível função do
cial que vivemos rompeu paradig- distância ao presencial. educador, que nenhuma tecnologia
mas na forma de ensinar e abriu será capaz de realizar. O educador,
Educar vem da raiz latina ex duce-
portais de oportunidade sobre o através do amor que tem pelo hu-
re, que significa conduzir para fora.
método educacional, em especial mano, é ponte e mediador do aluno
Ou seja, educar é auxiliar a extrair o
de jovens e adultos objetivo deste e sua própria verdade, sendo este o
melhor de cada aluno para fora, as-
artigo. caminho da sabedoria.
sim como fazia Sócrates com seu
Evidenciou-se que o ensino de con- método maiêutico, que paria a ver- Uma das abordagens que con-
teúdos pode ser feito de modo efi- dade de dentro de seus aprendizes. tribuem neste processo de auto-
caz a distância, com apoio de plata- Apenas desta forma o aluno, que conhecimento é a Aprendizagem
formas educacionais, capilarizando significa sem luz, pode emanar sua Transformadora cuja função é de-
o alcance e economizando recursos luz autêntica, sua singularidade em senvolver seres humanos, missão
como tempo e deslocamento de to- seu meio social. máxima da educação.
dos os envolvidos. Claro, que são
Educação é o meio ativo no qual o A Aprendizagem Transformadora é
pré-requisitos uma boa rede de in-
aluno enxerga seu valor e encontra voltada para educação de jovens e
ternet e hardwares que possibilitem
as ferramentas para agir na socie- adultos (andragogia) e é constituí-
a qualidade de acesso às aulas. Ou
dade seu maior tesouro: sua pró- da pelos seguintes elementos:
seja, o ensino, cuja etimologia signi-
pria identidade.

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 95


1) Visão de ser humano 2) Ambiente de cia, quanto mais o aluno vivencia e
Aprendizagem se emociona, maior é sua capaci-
O humano é compreendido em sua dade de absorção do conteúdo no
integralidade, dotado das dimen- Os espaços de aprendizagem são longo prazo. Para tanto, realizam-
sões cognitiva, emocional, corpo- além de salas de aula. A cidade -se atividades (que forem viáveis
ral e espiritual. Portanto, não se vira o espaço de aprendizagem. ao grupo) por meio da gastronomia,
desenvolve apenas o cérebro, e Museus, apresentação de orques- das artes (pintura, cinema, teatro,
os instrumentos de avaliação vão tras, visitas a empresas, espaços escultura, literatura), marcenaria,
muito além de provas teóricas. O de natureza viram o palco para o perfumaria, plantar árvores, ou seja,
aluno é conduzido por experiências encontro do aluno consigo mes- ofícios ancestrais e que possibi-
para encontrar a si mesmo. mo. E quando realizadas em sala de litam a construção de sentido ao
aula, o formato em círculo contribui longo de toda jornada. A metáfora é
O autoconhecimento é central nes-
para as falas e dinâmicas de grupo. uma importante ferramenta, onde a
ta proposta educacional, sendo o
centro da tomada de decisão do atividade que pode aparentemente
aluno como escolhas de carreira, não ter conexão com a área fim de
empresariais etc. 3) Ferramentas de aprendizagem, gera um universo de
Aprendizagem sentido no aprendiz. Por exemplo,
compreender a gestão de um time
A experiência, o aprender pelo sentir
ao observar uma orquestra ou atra-
e pela emoção estão entre as ferra-
vés de uma atividade gastronômica
mentas de aprendizagem. Segundo
pode tornar-se uma experiência
recentes pesquisas da neurociên-
inesquecível para toda a vida.
Foto: Wonderlane / Unsplash

96 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


4) Perfil do Educador Soraia Schutel
É o facilitador e gestor de todas as
experiências. Auxilia que o conhe-

l
cimento emerja de cada aluno e do

a
so
es
grupo. Tem abertura a diversidade,

op
uiv
tem formação eclética em diversas

q
:Ar
áreas como por exemplo psicolo-

to
Fo
gia, filosofia, além da área de ensino
(se for engenharia, administração,
direito etc.). E, sobretudo, tem um
profundo amor pelo ser humano e
com humildade está a serviço do
grupo, aprendendo junto.

5) Perfil do aluno
É o protagonista do processo. Ao
vivenciar as experiências, co-cons- Especialista em carreira na Escola de Você, é Doutora em
trói o sentido do conhecimento
Administração pela Universidade Federal do Rio Grande
dentro do grupo. Para tanto os es-
paços de fala, em círculos, são fun- do Sul, empreendedora, consultora de empresas, coa-
damentais no processo, onde cada ch executiva e palestrante internacional. Pesquisadora
aluno traz sua contribuição e auxilia
na área de Aprendizagem Transformadora, Inovação na
a compor a “música da orquestra”.
educação de líderes e Desenvolvimento Sustentável.
Este método educacional pode
parecer romântico, ou inatingível, Especialista em Psicologia Social pela Universidade
todavia tem sido meu objeto de estatal de São Petersburgo-Rússia. Estudou em reno-
pesquisa internacional na última
década e implementado em diver-
madas instituições tais como HEC Montreal-Canadá,
sas iniciativas pelo mundo, como Schumacher College-Inglaterra, Harvard-EUA. Apresen-
Schumacher College na Inglaterra.
tou o quadro “Soraia, me dá uma luz” com orientação de
Além disso, é o método educacio-
nal da escola que cofundei, Sonata carreira para mulheres no programa Superpoderosas da
Brasil, que visa desenvolver lideran- Band. Viajou a trabalho, estudo e turismo para mais de
ças norteadas a gerar riqueza inte-
gral e que entenderam seus papeis
25 países. Poliglota, fluente em inglês, italiano e fran-
como pontes na construção de um cês. Co-fundadora e CEO da Sonata Brasil, empresa de-
mundo mais humano e sustentável.
dicada à formação de lideranças.
Sim, a educação do futuro será tec-
nológica, mas será sobretudo hu-
mana.

9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 97


Estação Conhecimento

98 VIA REVISTA 9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020


www.via.ufsc.br

@estacaovia @EstacaoVIA @estacaovia


9a EDIÇÃO | DEZEMBRO | 2020 VIA REVISTA 99

Você também pode gostar